Más notícias do país de Dilma (104)

Acho que o melhor texto que li sobre os acontecimentos dos últimos dias nas ruas das cidades brasileiras foi a coluna de Antonio Prata na Folha de S. Paulo da quarta, dia 19: “Sejamos francos, companheiros: ninguém tá entendendo nada. Nem a imprensa nem os políticos nem os manifestantes”.

Foi tudo muito rápido, cresceu depressa demais, ficou sem qualquer tipo de controle. E não adiantou absolutamente nada prefeituras do país afora e os governos de dois dos principais Estados, São Paulo e Rio de Janeiro, terem voltado atrás no aumento das tarifas dos transportes coletivos: nesta quinta-feira, 20, um dia após São Paulo e Rio terem anunciado que haviam cedido, as manifestações foram ainda em maior número, com mais gente, mais descontrole e mais violência, vandalismo, depredações.

Obviamente, não dá para dizer que isso que está acontecendo é culpa de Dilma Rousseff ou dos dez anos e meio de PT no poder. Parte da responsabilidade deve ser, sim, ou certamente é – embora a rigor ninguém esteja entendendo nada, como bem disse Antonio Prata.

Os parágrafos acima estão aí apenas porque não teria qualquer sentido eu vir com minha compilação semanal de notícias e análises publicadas pelos jornais nos últimos sete dias sem ao menos citar as manifestações que tomaram conta do país.

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Na mesma semana em que o Brasil viveu as maiores manifestações de rua desde a época do fora Collor (e as mais violentas e generalizadas país afora de que tenho notícia ao longo de toda a História), continuaram a pipocar as más notícias do país de Dilma.

Segundo o entendimento da presidente, Cristiane Bonfanti e Lucianne Carneiro são “terroristas”. Como, segundo Dilma, a economia vai muito bem e a inflação está sob rigoroso controle, e que o que existe é ‘estardalhaço e terrorismo informativo’ sobre a situação econômica do País, as repórteres Cristiane e Lucianne são terroristas, já que publicaram em O Globo reportagens em que diversas pessoas comuns falam da inflação em alta e dos preços descontrolados. (Trechos da reportagem seguem mais abaixo.)

Conforme lembrou editorial do Estadão, devem ser considerados terroristas também o Banco Central, que divulgou sua pesquisa semanal com cerca de cem instituições do mercado financeiro e do setor de consultoria, em que os economistas aumentaram suas projeções de inflação, agora estimada em 5,83%, e reduziram as do crescimento econômico (2,49%), da produção da indústria (2,5%) e do saldo comercial (reduzido para pífios US$ 6,55 bilhões).

“Outros focos devem estar nas entidades representativas da indústria, em organizações acadêmicas, como a Fundação Getúlio Vargas (FGV), e até no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), fontes de informações pouco animadoras sobre a evolução dos preços, a recuperação da atividade, o emprego industrial e a disposição dos empresários de se arriscar em novos investimentos.”

A presidente não anda numa boa fase, tadinha. No sábado, 15 de junho, enfrentou estrepitosas vaias na abertura da Copa das Confederações, no estádio Mané Garrincha, em Brasília. Na quarta, 19, viu a divulgação pelo Ibope de pesquisa mostrando que a aprovação do governo caiu oito pontos, de 63% em março para 55% agora em junho. A pesquisa veio confirmar os números divulgados poucos dias antes pelo Datafolha.

Na terça, 18, fez um discurso à turma de formandos do Instituto Rio Branco, nossos futuros diplomatas, em que, como escreveu o Estadão em editorial, “passou longe dos fatos tanto quanto da gramática e da sintaxe”.

E, para culminar, na mesma terça prestou-se a um papel lastimável, absolutamente indigno da para uma pessoa que ocupa o lugar de primeira mandatária de uma nação, qualquer nação: em flagrante atentado contra a liturgia do cargo, tomou um avião na capital federal e veio a São Paulo ouvir conselhos de seu marqueteiro nº 2, João Santana, e de seu marqueteiro mór, o número 1, o homem que a inventou, Luiz Inácio Lula da Silva.

Não consta que tenha ficado vermelha de vergonha.

Aí vai a 104ª compilação de notícias e análises que comprovam a incompetência do lulo-petismo como um todo e do governo Dilma Rousseff em especial. Foram publicadas entre os dias 14 e 20 de junho.

Inflação

* Preço de alimentos volta a subir; IGP-10 teve alta de 0,63%, acima das previsões

“A inflação de junho voltou a surpreender o mercado. A expectativa era de alta de 0,36% a 0,57%, segundo projeção de economistas ouvidos pelo Broadccisty serviço em tempo real da Agência Estado. Mas o IGP-10, índice Gerai de Preços da Fundação Getúlio Vargas, trouxe alta superior as estimativas, de 0,63%, após deflação de 0,09% em maio.

“Os alimentos voltaram a ficar mais caros no atacado e o reajuste de salários na construção civil em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Brasília contribuíram para elevar o indicador.

“Em evento no Rio de Janeiro, a presidente Dilma Rousseff minimizou declarações recentes sobre a perda de controle da inflação pelo governo. ‘Hoje ela está sob controle. Ontem ela estava sob controle e ela continuará sob controle’, disse a presidente, para, em seguida, afirmar que não deve ser dado ‘ouvidos aos que jogam no quanto pior, melhor’.

“A leitura dos dados do IGP-10, no entanto, não apontam nesse sentido, E a expectativa é que, seguindo movimento no atacado, a variação dos preços dos alimentos avance ainda mais no curto prazo no varejo e atue como mais uma fonte de corrosão do orçamento das famílias.” (Fernanda Nunes, Estadão, 15/6/2013.)

* “O estoque de ‘bondades’ (à custa dos contribuintes) tenderá a ser menor. Conter a inflação é tarefa cada vez mais árdua”

“O IGP-10, primeira prévia do Índice Geral de Preços de junho, calculado pela Fundação Getúlio Vargas, subiu 0,63%, marcando a volta da inflação de alimentos. É uma notícia desanimadora para o governo, que contava com deflação para amoldar o índice oficial (IPCA), e para o consumidor, que pagará a conta na feira ou no supermercado.

“Na composição do IGP os preços no atacado – industriais e agropecuários – têm peso maior (60%). Os agropecuários haviam caído 2,8%, no IGP-10 de maio, contribuindo para a deflação de 0,09%. Agora, com aumento de 0,57%, os agropecuários são o principal fator da retomada inflacionária, secundados pelo Índice Nacional da Construção Civil (INCC), com alta de 2,48% contra 0,79%, em maio.

“Soja em grão (+9,61%), farelo de soja (+14,12%), batata inglesa (+16,16%), leite in natura (+3,71%) e minério de ferro (+1,33%) lideraram as altas do Índice de Preços ao Produtor Amplo, segundo a FGV. Para o consumidor, os itens que mais subiram foram mamão papaia (+28,36%) e leite longa vida (+3,40%). Os aumentos tiveram mais impacto no índice do que as quedas dos preços no atacado de tomate, laranja e aves, e, para o consumidor, de laranja, pera, alface e cebola. No INCC, a pressão veio do reajuste de salários de ajudantes especializados, serventes, carpinteiros, pedreiros e bombeiros.

“A inflação no atacado antecipa o que ocorrerá nas semanas ou meses seguintes com a inflação ao consumidor: os comerciantes repassam os preços aos compradores finais. Por isso, a inflação no atacado que vinha sendo comemorada enquanto dava sinais de queda, até maio, agora causa dor de cabeça.

“Nos últimos 12 meses, o IGP-10 atingiu 6,17%. É ligeiramente inferior ao IGP-10 de maio por um fator sazonal: em junho de 2012, o índice subiu 0,73%, acima do indicador divulgado na sexta-feira.

“O governo já gastou bastante munição para aplacar os preços, nos últimos meses. Reduziu tributos e mudou as regras de renovação das concessões elétricas, além de adiar os reajustes das passagens de ônibus, que já não haviam sido reajustadas pelo ex-prefeito Kassab, em São Paulo, no ano eleitoral de 2012.

“O estoque de ‘bondades’ (à custa dos contribuintes) tenderá a ser menor, pois o juro básico teve de ser ajustado, a cotação do dólar subiu e os preços dos derivados de petróleo continuam baixos. Conter a inflação é tarefa cada vez mais árdua.” (Editorial, Estadão, 16/6/2013.)

* Consumidores sentem no bolso inflação de até 40% em 12 meses

“Escaldados com a memória da desordem financeira que a inflação do passado causou em suas vidas, os brasileiros estão sentindo de novo o peso da alta de preços de bens e serviços. A percepção dos consumidores, muitas vezes, é de que os reajustes vão muito além dos registrados pelos índices oficiais. Enquanto a inflação média chegou a 6,5% no acumulado em 12 meses completados em maio, famílias ouvidas pelo Globo relataram que suas despesas mensais subiram até 40% no mesmo período.

Marcelo e Natássia Coutinho formam, com a filha de 2 anos, uma típica família de classe média. Obrigado a almoçar fora de casa durante a semana, o psicólogo viu subir de R$ 20 para R$ 30 o valor médio do prato. A família também percebeu alta de 25% nas compras de supermercado. Com gasolina, o gasto do casal saltou de R$ 960 para R$ 1.120 por mês.

No total, a inflação dos Coutinho é de 23% em 12 meses. ‘O que a gente tem feito é aumentar o controle, trocando a marca dos produtos para poupar’, afirmou Coutinho, que economiza para ir uma vez por ano aos EUA fazer compras por lá.

“Diante da alta dos preços, a publicitária Brina Martins adiou para o ano que vem a matrícula do filho de 2 anos na escola. Com a nova lei do empregado doméstico, cuja regulamentação ainda vai passar pelos plenários do Senado e da Câmara, pensou até em demitir a babá, mas fez as contas e decidiu manter a despesa. Sua inflação, bem acima dos 6,5% oficiais do IPCA, chega a 40%. ‘ A minha impressão é de que tudo aumentou. É como se o meu poder de compra tivesse sofrido um revés’, disse Brina, que agora pensa duas vezes antes de levar para casa, por exemplo, uma peça de vestuário.

“Dependendo da família, os gastos com serviços de beleza e produtos de estética também explodiram. A advogada Ivoneide Carvalho vai ao salão duas vezes por semana para fazer as unhas e tratar o cabelo. Em um ano, disse que a conta subiu de R$ 300 para R$ 500. Com a compra de outros artigos, como cremes e maquiagem, a despesa passou de R$ 400 para R$ 500. Ela também adquire medicamentos para problemas como pressão alta e observou que, nas compras na farmácia, houve uma alta de 13%. (…)

“O economista da FGV André Braz explicou que o consumidor enxerga inflação mais alta que os índices oficiais porque os produtos básicos, dos quais ele não pode abrir mão, como alimentos, estão mais caros. Esse grupo sacrifica sobretudo as famílias mais pobres.

Braz ressaltou que as famílias com renda mensal de até dois salários mínimos e meio destinam 30% do orçamento à alimentação, que ficou 13,5% mais cara em 12 meses e 101,65% em uma década. ‘Se os alimentos são os vilões da inflação, e o pobre compromete 30% da renda com eles, com certeza a percepção da alta de preços está ali. Isso também depende da composição da família — se tem criança, idoso — e do nível de renda. Cada um percebe a inflação de forma diferente.” (Cristiane Bonfanti, O Globo, 16/6/2013.)

* Jovens que não viveram a inflação elevada começam a conviver com a percepção de alta de prços

“Eles não têm lembranças de máquinas remarcadoras, carrinhos cheios nos supermercados no dia de pagamento de salário para estocar alimentos ou malabarismos para juntar dinheiro para comprar produtos que subiam de preço literalmente todos os dias. Mas esses jovens de 20 e poucos anos começam hoje a lidar com uma percepção nova em sua vida: a da inflação. Quando nasceram, o Plano Real já tinha conseguido garantir uma certa estabilidade nos preços da economia brasileira. Mas, agora, veem assustados o aumento de custos com gastos cotidianos, como em bares e restaurantes e em serviços como cabeleireiro e academia de ginástica.

Alguns já adaptam sua rotina para enfrentar altas de preços que pesam no orçamento. ‘Passei a beber mais em casa com os amigos ou a ir a bares mais em conta. Quem não viveu a inflação não tem muita noção do que é, mas tenho percebido alta de preços em bares e restaurantes. Além disso, também vou ao supermercado às vezes com minha mãe e vejo os preços mais altos’, diz Yuri Habibe, de 24 anos.

“Recém-formado em Economia, ele até agora tinha um conhecimento apenas teórico sobre inflação, das aulas de Economia Brasileira e Macroeconomia da UFRJ. Agora, confere a sensação fora da sala de aula.

“No Centro da cidade, onde estagiava há até pouco tempo, percebeu restaurantes aumentando o preço do quilo da comida a cada três meses. E passou a diversificar suas opções para o almoço. Realidade muito diferente das memórias que têm da infância, quando os preços pouco mudavam. ‘Não tenho memória dos preços aumentando. Minha mãe conta que o dinheiro se desvalorizava muito rápido. Aqui no Rio, tivemos uma primeira alta de preços depois que a cidade foi escolhida para sediar as Olimpíadas. Agora, mais recentemente, percebi uma nova onda de inflação, até das coisas mais básicas’, afirma a jovem Luna Freitas, também de 24 anos.

“Ela notou preços mais altos desde o supermercado até o salão de beleza, a academia de ginástica e o estacionamento, serviços com peso no orçamento da classe média. Fazer a unha passou de R$ 10 para R$ 12 este ano, enquanto uma escova no cabelo que faz de três em três meses pulou de R$ 178 para R$ 190. Outro dia, deixou de comprar uvas sem caroço no supermercado porque achou exagerado os R$ 16 que cobravam pelo quilo. Sua família também reduziu as idas a restaurantes e agora come mais em casa.

“Mas Luna também sofre com a alta de preços por outro lado: ela é designer de moda e dona de uma marca de acessórios. Seu custo maior aparece nos tecidos e aviamentos e, principalmente, na costureira que finaliza suas peças. Há duas semanas, ela decidiu deixar a profissional que trabalhava para ela de Nilópolis e contratar outras em Lambari, em Minas Gerais, a 330 quilômetros do Rio: ‘Não posso repassar o custo maior para meus clientes e qualquer aumento reduz minha margem de lucro. Por isso, tenho trocado tecidos por similares mais baratos e decidi mudar de costureira. Mesmo tendo que pagar combustível até Lambari vai sair mais barato.’

“Professor de Economia da PUC-Rio, Luiz Roberto Cunha é responsável por explicar o que é indexação e inflação nos cursos de economia brasileira para jovens que já nasceram num Brasil de inflação controlada. ‘Mesmo os alunos da Economia não têm idéia do que aconteceu ou da desorganização que a inflação trazia para a vida das pessoas, é uma realidade muito distante. Esses jovens começam agora a ter alguma percepção de alta de preços. Outro dia, um aluno comentou dos blogs que protestam contra preços altos em restaurantes, por exemplo’, diz Cunha.

“Mãe de Laura, de 2 anos, e casada há quatro anos com Herick Santa Cruz, Danyara Santa Cruz, de 26 anos, percebe que a conta do supermercado ficou mais alta. ‘Pagamos muito mais hoje pela mesma quantidade que comprávamos antes. É a primeira vez na minha vida que vivo um momento de alta de preços’, diz Danyara, trabalhadora autônoma.

“O estudante de Direito João Luiz Jardim tinha 3 anos quando o Plano Real entrou em vigor. Não tem, portanto, qualquer memória de grandes compras no supermercado, por exemplo. ‘Já ouvi muito as pessoas contarem que os preços aumentavam quase 100% em um único mês. Devia ser uma experiência assustadora’, afirma ele.

“De uns tempos para cá, tem percebido um aumento maior dos preços, principalmente de lanches fora de casa, restaurantes e boates. Por enquanto, não mudou hábitos, mas está gastando mais para consumir as mesmas coisas: ‘Uma pizza que pedíamos em casa por cerca de R$ 30 agora não sai por R$ 50. Um açaí com um sanduíche natural que era menos de R$ 10 agora custa pelo menos R$ 15.’” (Lucianne Carneiro, O Globo, 16/6/2013.)

* O problema não é o reajuste das tarifas, é a inflação, que exigiu o reajuste

“Se foi mesmo sincera quando, ao elogiar as manifestações e suas reivindicações por mudanças, garantiu que fará essas mudanças, a presidente Dilma tem de começar a mudar o diagnóstico e o tratamento que vinha dando à inflação.

“Embora não se saiba onde e como vão desembocar, os protestos começaram com a revolta com o reajuste de R$ 0,20 nas tarifas da condução cobradas em São Paulo.

“Ora, o problema não é o reajuste, revogado nesta quarta-feira. É a inflação, que exigiu o reajuste. Ela vem corroendo o poder aquisitivo e em algum lugar do bolso do consumidor teve mesmo de começar a pressionar.

“Um eventual recuo dos administradores na cobrança desse reajuste, como já aconteceu em São Paulo e em outras sete capitais, não resolve o problema central. Vai continuar faltando salário antes de chegar o fim do mês.

“Até agora, o governo Dilma fez uma avaliação arrogante da inflação. Ignorou sua importância e seus estragos. Atribuiu o problema a causas externas (choques de oferta produzidos pelas secas nos Estados Unidos em 2012) ou a fenômenos temporários internos. A partir desse diagnóstico, não havia o que fazer. Era esperar pelo refluxo espontâneo da inflação. Durante meses, o Banco Central fez o mesmo jogo. Mas, desde abril, passou a admitir que a inflação tem causas internas relevantes. Entre elas, os gastos excessivos do setor público (política fiscal expansionista), consumo acima da capacidade de oferta da economia e mercado de trabalho excessivamente aquecido, que vinha proporcionando pagamento de salários acima da expansão da produtividade do trabalho.

“Traído no compromisso quebrado pelo governo de manter uma política orçamentária responsável, a partir de abril o Banco Central se sentiu liberado para acionar sua política monetária (alta dos juros) até então teimosamente mantida a serviço do arranjo voluntarista de política econômica que vem produzindo as conhecidas distorções. Já se vê que uma política de juros mais restritiva desacompanhada de uma política fiscal responsável pode pouco contra a inflação.

“Depois de muita vacilação e uma tentativa de sacramentar a adoção de uma política fiscal que denominou de anticíclica (que implica mais despesas agora), o ministro da Fazenda, Guido Mantega, admitiu que entregará ao final deste ano um superávit primário (sobra de arrecadação para pagamento da dívida) correspondente a 2,3% do PIB. Mas ninguém sabe, provavelmente nem ele, como conseguirá esse resultado nem se será suficiente.

“A percepção geral é a de que a política fiscal do governo Dilma é uma bagunça. E este é um fator adicional que tira a credibilidade da política econômica e trabalha contra a virada.

“A inflação sofre agora os ataques de outro fator: o da disparada das cotações do dólar no câmbio interno. É o que vai encarecer ainda mais os produtos importados e as dívidas em moeda estrangeira, numa proporção incerta, mas que provavelmente não será inferior a 0,5 ponto porcentual de inflação ao ano para cada alta de 10% na cotação do dólar.

“Enfim, falta saber o que mudará na condução da política econômica do governo Dilma. E se de fato mudará.” (Celso Ming, Estadão, 20/7/2013.)

Confiança e credibilidade em queda

* Risco-Brasil sobe 37% e volta a assustar

“A recente crise nos mercados, causada pela deterioração na expectativa dos investidores internacionais em relação ao país, trouxe o risco-Brasil de volta ao foco dos investidores. O índice subiu 37% de 1º de maio até agora, de 170 para 226 pontos centesimais, voltando ao patamar de setembro de 2011. No último dia 12 de junho, o risco-Brasil era superior ao risco da Colômbia (208 pontos), do México (180), do Peru (194), da China (196) e do Chile (177). Todos estes emergentes tiveram um salto na avaliação do risco de seus papeis.

“O risco-Brasil (Embi+) já foi um dos indicadores mais acompanhados da economia no país. Ele mostra a diferença entre os juros pagos pelos títulos americanos e brasileiros, ou seja, quanto mais alto, pior, porque mostra que os investidores estão desconfiados da capacidade de o governo honrar suas dívidas. Os Estados Unidos são considerados risco zero de calote. Por exemplo, se os EUA estivessem pagando 1% ao ano, com o risco a 233 pontos centesimais significa que o Brasil estaria pagando 3,33% ao ano.

“Nos últimos anos, o índice perdeu importância, com o bom desempenho da economia brasileira. Já os Credit Default Swaps (CDS), outro indicador que mostra desconfiança de investidores estrangeiros, também subiram. Os CDS, geralmente negociados no mercado de renda fixa, são uma espécie de seguro contra calote contratado por investidores. Os papéis com vencimento em cinco anos subiram 70 pontos (de 1º de maio a 11 de junho), saindo de 109,9 para 178,7 pontos centesimais, avanço de 62%. Já os de 10 anos passaram no mesmo período de 153 para 233 pontos, alta de 52%, patamar visto pela última vez em setembro de 2011.” (Sérgio Vieira, O Globo, 14/6/2013.)

* Uma série de erros velhos ao longo dos últimos 30 meses, apesar dos alertas

“Os últimos 30 meses foram marcados por erros antigos sendo novamente cometidos na economia brasileira. Juros caíram com inflação acima da meta; empresas escolhidas receberam crédito subsidiado; reajustes de preços foram adiados a pedido da Fazenda. Estatísticas de gastos públicos receberam maquiagem; o real foi desvalorizado para proteger a indústria e os efeitos sobre a inflação foram minimizados.

“A lista é longa e não termina aqui. O incentivo ao consumo foi colocado em primeiro plano, como se fosse suficiente para estimular investimentos. Bancos públicos sofreram pressão para conceder crédito, se expondo a riscos com aportes bilionários do Tesouro. A crise internacional foi subestimada, marcos regulatórios foram alterados a toque de caixa, medidas econômicas passaram a ser anunciadas em cadeia nacional de televisão, como uma benesse do governo à população.

“Muitos economistas emitiram alertas sobre esses equívocos. O PIB baixo, a inflação novamente elevada, a ameaça de rebaixamento da nota do país e, principalmente, a queda da popularidade da presidente aumentaram a sensibilidade do governo às críticas. O Banco Central deu meia-volta na política monetária e voltou a subir os juros, de forma unânime, endurecendo o discurso. Começou a reverter a situação, mas o custo foi alto: as expectativas para o IPCA fugiram do centro da meta de 4,5% para um período de 24 meses à frente.

“Na política fiscal, tudo é ainda ambíguo. No mesmo dia em que volta a falar de austeridade, o governo anuncia uma nova emissão de dívida para injetar dinheiro na Caixa e estimular o consumo. A despesa do governo com juros caiu de 5,69% do PIB, em agosto de 2011, para 4,81%, em abril deste ano, por causa da redução da Selic. Mas, ainda assim, o déficit nominal subiu, de 2% para 2,92%, no mesmo período.

“As declarações do ministro Guido Mantega são um flanco aberto na credibilidade da política econômica. Disse na quarta-feira que a inflação está caindo de forma consistente, mas, na verdade, está em alta no acumulado de 12 meses e, em junho, deve estourar o teto da meta pela décima vez no governo Dilma. Ainda é possível mudar o rumo, mas é inevitável a constatação de que muito tempo foi perdido.” (Álvaro Gribel e Valeria Maniero, O Globo, 14/6/2013.)

* Não há atualmente ameaça maior do que a manutenção de uma política econômica que não deu certo

“Diante das evidências, com crescimento muito aquém do projetado, inflação em patamar no teto da meta (6,5%) e caminhando em trajetória perigosa, enfraquecimento das exportações etc., o governo precisa ouvir as críticas gabaritadas, em vez de continuar acreditando que descobriu a fórmula mágica capaz de fazer com que o país fique alheio ao que acontece no mundo. A credibilidade da economia brasileira está arranhada, e já há no cenário de algumas agências internacionais de risco a perspectiva de rebaixamento do conceito do país, em função dos equívocos da política econômica nos últimos anos, lastreada em incentivos ao consumo, um deles gastos públicos sem freio.

“É bom que o governo esteja mesmo atento a essas críticas, pois ainda há tempo hábil e condições para se corrigir a rota, evitando-se que o arranhão infeccione e se transforme em grave ferida, de cura bem mais difícil. Ao pisar no acelerador das despesas de custeio, o governo comprometeu as condições que possibilitaram uma considerável redução nas taxas básicas de juros, não só uma aspiração como uma necessidade para o bom desempenho da economia brasileira no futuro. O superávit primário encolheu e, pior, a sua fórmula de cálculo passou a ser feita por meio de uma ‘contabilidade criativa’, para inflar artificialmente o resultado.

“O governo abusou de emissões de títulos, basicamente para capitalizar instituições financeiras públicas, o que tem elevado progressivamente a dívida bruta, próxima dos 60% do PIB, índice preocupante, e em alta constante. Tal iniciativa vinha sendo considerada inofensiva pelas autoridades fazendárias porque a contabilidade permite que tais emissões sejam registradas também como crédito, de modo que pouco alterariam o endividamento líquido federal. Porém, parte do dinheiro tem voltado ao Tesouro em manobras contábeis, para embonecar o superávit primário. Na prática, o que se viu é que essa política enfraquece a qualidade das finanças públicas, o que se reflete nas apostas quanto à trajetória do câmbio, da inflação, das taxas de juros e do Produto Interno Bruto. O câmbio, em fase de desvalorização do real, é mais uma ajuda à inflação, o que também obriga o Planalto a rever a política econômica.

“O professor Delfim Netto, em entrevista ao O Estado de S. Paulo, recomendou que, nesse quadro, o governo se comprometa com a eliminação do déficit público nominal — já proposta por Antonio Palocci, na Fazenda, e considerada uma idéia ‘rudimentar’ pela então chefe da Casa Civil Dilma Rousseff. Tal ajuste terá de vir de uma recuperação do superávit primário, sem ‘contabilidade criativa’. E sem aumento da já elevada carga tributária. O equilíbrio precisará ser obtido pelo corte de despesas. Politicamente, essa opção era considerada inviável, porque ameaçaria a reeleição da presidente Dilma. Mas hoje não deve haver ameaça maior do que a manutenção de uma política econômica que deu errado.” (Editorial, O Globo, 14/6/2013.)

* Revista The Economist mostra como o Brasil está dilapidando uma herança

“Como dilapidar uma herança. Assim se inicia o editorial da última edição do semanário britânico The Economist. Narra a triste história de um país latino-americano que, há vinte anos, fez uma dolorosa arrumação da casa. Um profundo ajuste macroeconômico possibilitou que, alguns anos mais tarde, usufruísse da extraordinária bonança externa, finda em 2011. A herança dilapidada assim, sem mais nem menos, lembra a história de Costa, ‘cidadão digno’, ‘um dos mais estimados de Itaguaí’, que herdara de D. João V vultosa quantia. Uma renda que bastaria para viver ‘até o fim do mundo’. Costa não soube administrar sua sorte. Gastou toda a herança em investimentos duvidosos e acabou internado na Casa Verde pelo Alienista de Machado de Assis.

“Não se sabe se a herança que o Brasil recebeu de Fernando Henrique Cardoso, cultivada pelo ex-presidente Lula no seu primeiro mandato, daria para viver ‘até o fim do mundo’. Mas, decerto, se tivesse sido preservada com mais diligência pelo Lula do segundo mandato e, sobretudo, por sua sucessora, o País não estaria hoje ‘atolado no lamaçal’, como disse a matéria da revista britânica. Tampouco se defrontaria com uma reavaliação negativa da agência de risco Standard & Poor’s, que elevou o Brasil ao nirvana do grau de investimento em 2008, rebaixou os EUA em 2011 e acaba de dar um tom otimista à recuperação do país de Obama.

“Enquanto chafurda no lodo de medidas que desarticularam as contas públicas brasileiras, motivo para que até os interlocutores mais próximos da presidente a critiquem duramente, o real se enfraquece. Há muito não se discutia o impacto de desvalorizações do câmbio, provenientes de problemas externos e internos, sobre a inflação. Afinal, faz pouco tempo, a moeda brasileira ganhava força e era, inclusive, vista como uma possível candidata, num futuro distante, ao nobre posto de moeda de reserva internacional, ao lado do iuane dos chineses. Não mais.

“O câmbio e a inflação sempre foram os eternos sintomas de nossos desequilíbrios. Deixaram de sê-lo por um breve período – de 2008 a meados de 2011. Durante esse tempo, vivemos uma situação inédita no País: fomos capazes de reduzir os juros em resposta a um cenário externo adverso. No passado não era assim. Antes de 2008, sempre que enfrentávamos um forte contravento internacional, éramos forçados a elevar os juros para impedir que a desvalorização da moeda ocasionada pela saída de recursos do País prejudicasse demais a estabilidade de preços.

“Dito de outro modo, país sólido é aquele que pode usar a política monetária – e, em certas circunstâncias, também a política fiscal – para evitar que um choque externo tenha fortes repercussões sobre a atividade, sem se preocupar com os estragos inflacionários do câmbio. Ou seja, país sólido é aquele que pode reduzir os juros quando enfrenta esse tipo de problema. Não é à toa que o Brasil é incansavelmente comparado ao México e ao Chile. Tanto um quanto outro têm sofrido com o fortalecimento global do dólar. Mas o México reduziu os juros em abril e manteve a taxa em maio, enquanto o Chile tem deixado os juros estáveis, porém acumula um espaço considerável para diminuí-los. A inflação por lá é de apenas 1% – dois pontos porcentuais abaixo da meta de inflação.

“Se país sólido é aquele que pode reduzir os juros quando sua moeda se enfraquece, porque tem um quadro fiscal que ajuda a ancorar os efeitos inflacionários da desvalorização, o que é o Brasil de Dilma e de Guido Mantega? Decerto não é o país do déficit nominal nulo, que a presidente julga ser ‘rudimentar’. É o país da infra-estrutura que não sai do papel, das contas externas que se deterioram, do fiscal em estado de degradação, do crescimento que não deslancha. E, também, da inflação que não cede, do real que se desvaloriza, mesmo com a remoção dos controles de capital, e da bolsa que cai.

“Talvez tudo isso force nossas autoridades a mudar de rumo. Talvez não. Afinal, diz o ditado: ‘Desgraça pouca é bobagem’.” (Monica B. de Bolle, Estadão, 14/6/2013.)

* O governo meteu o país em uma enorme enrascada macroeconômica, e não será fácil recuperar a herança desperdiçada.

“O que mais me chamou a atenção no comentado artigo em que a revista britânica The Economist (edição de 9/6) fez ácida crítica à política econômica brasileira não foram as ironias dirigidas ao ministro Mantega, e sim o sugestivo subtítulo da matéria: Como desperdiçar uma herança – e como ela pode ser facilmente recuperada, em tradução livre. Concordo com a primeira parte desse enunciado (o desperdício da herança), mas não creio que seja tarefa fácil a sua recuperação.

“O presidente Lula, ao assumir seu primeiro mandato, em 2003, recebeu um país com reformas econômicas profundas, a maior parte implantada no governo FHC. A hiperinflação havia sido banida pelo Plano Real, a economia estava mais aberta e competitiva e estatais ineficientes haviam sido privatizadas. O Banco Central contava com ampla autonomia e operava, desde 1999, sob o então moderno regime de metas inflacionárias e com taxas flutuantes de câmbio. O chamado tripé macroeconômico completava-se com metas fiscais claras, regidas pela Lei de Responsabilidade Fiscal.

“Apesar desses fatores favoráveis, Lula assumiu a Presidência tendo que enfrentar dois sérios problemas: dada a sua origem política, necessitava conquistar a confiança dos agentes econômicos e urgia debelar um surto inflacionário que se instaurou exatamente pelo receio de que o governo petista cumprisse o ideário historicamente defendido pelo partido. Houve fuga para ativos reais e megadepreciação do real, com inevitável impacto inflacionário.

“Mas Lula surpreendeu positivamente, não só por manter todos os pilares macroeconômicos estabelecidos no governo FHC, mas também por prosseguir com reformas microeconômicas, com destaque às que propiciaram o crescimento do mercado de crédito doméstico e a reorganização do Sistema Financeiro de Habitação. O setor imobiliário, então semiparalisado, ganhou significativo impulso. O surto inflacionário foi debelado graças à redução de gastos públicos, em 2003, e à ampla liberdade dada ao Banco Central para gerir a política monetária.

“Em decorrência do forte crescimento global, especialmente da China, as commodities valorizaram-se, o que provocou expressiva melhora da nossa relação de trocas. Em outras palavras, cada unidade de produto exportado pelo Brasil podia comprar cada vez mais bens produzidos no exterior.

“Mas foi exatamente nesse ponto que a herança começou a ser desperdiçada. A maior capacidade para importar bens e serviços e o forte influxo de capitais externos serviram principalmente para financiar o crescimento acelerado do consumo e dos gastos públicos, não para expandir investimentos, melhorar a infra-estrutura, a qualidade do ensino e outras ações para elevar a produtividade.

“Em resposta à crise financeira global iniciada em 2008, o governo empreendeu um bem-sucedido programa contracíclico de expansão monetária e fiscal, mas a rápida retomada do crescimento chinês que voltou a jogar para cima os preços das commodities, a queda espetacular das taxas internacionais de juros e a continuidade dos estímulos internos quando os mesmos já não eram mais necessários fizeram com que a demanda doméstica voltasse a crescer fortemente, em claro descompasso com a capacidade de expansão da oferta.

“A miopia econômica do governo, especialmente na gestão Dilma Rousseff, impediu-o de ver que o declínio do crescimento se devia a restrições de oferta, especialmente pela superocupação da força de trabalho e pelo caos da infra-estrutura. Abusaram dos estímulos à demanda e elevou-se fortemente o comprometimento de renda das famílias com dívidas, daí o crescimento da inadimplência.

“As metas de superávit primário foram virtualmente abandonadas sob a alegação de que o importante era controlar a relação dívida líquida/PIB. Discordo. O conceito de dívida líquida não é um bom indicador da qualidade da política fiscal. Mas, mesmo que fosse, é fácil mostrar que, dados o pífio crescimento econômico, o alto custo implícito de financiamento dessa dívida líquida (14% ao ano) e a forte queda do superávit primário (o verdadeiro, não o contábil), mesmo esse indicador possui tendência ascendente.

“A pressa em elevar o crescimento e conter a inflação sem custo político levou o governo a reintroduzir o controle de preços, a restringir a autonomia do Banco Central, a retomar políticas protecionistas e a distribuir benesses a setores escolhidos à custa do erário. Apesar disso, a inflação galopa e o déficit externo explode.

“A credibilidade da atual política econômica cai perigosamente. Artigos como o da revista The Economist aqui citado proliferam na imprensa internacional especializada. Após a perspectiva negativa dada pela Standard & Poor’s (S&P) para o risco soberano, não se pode descartar uma sequência de rebaixamentos dessas classificações. E as condições favoráveis da economia mundial estão se invertendo: a era de commodities supervalorizadas e de juros norte-americanos baixos começa a ficar para trás.

“O pessimismo doméstico é ainda maior. Não é por pouco. As margens operacionais das empresas, de quase todos os setores, estão deprimidas, principalmente pelos custos salariais e pela ineficiência da infra-estrutura. As expectativas inflacionárias deterioram-se significativamente e só agora parece que foi devolvida ao Banco Central alguma autonomia para agir.

“Por exemplo, mesmo o necessário e inadiável aumento do juro básico, dado o atraso com que foi iniciado e as distorções introduzidas pelos equívocos da política econômica, pode resultar em efeitos colaterais indesejados. O governo forçou a redução dos spreads bancários, apesar do crescimento da inadimplência. Agora os bancos começam a elevar os juros do crédito para recuperar margens. Se a isso se somar o repasse do aumento do custo de capitação imposto pelo aperto monetário, pode ocorrer um novo – e perigoso – surto de inadimplência.

“Enfim, o Brasil está metido em uma enorme enrascada macroeconômica. Ao contrário do que pensa a revista The Economist, não será fácil recuperar a herança desperdiçada.” (Claudio Adilson Gonçalez, economista, Estadão, 17/6/2013.)

* Investidores estrangeiros tiram US$ 5,1 bilhões da Bovespa

“A expectativa pela próxima reunião do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) – marcada para amanhã e apontada como a mais importante do ano – aprofundou a saída de recursos de investidores estrangeiros da Bolsa e contribuiu para nova escalada do dólar. Nos 13 primeiros dias do mês, os estrangeiros sacaram US$ 5,1 bilhões, segundo balanço da própria BM&FBovespa. De acordo com levantamento da corretora Renascença, este é o maior volume de retirada de recursos desde julho de 2008, quando, em 30 dias, os investidores estrangeiros tiraram US$ 7,6 bilhões do pregão. Num dia de nervosismo no mercado, o Ibovespa, índice de referência da Bolsa, fechou em queda de 0,49%, aos 49.088 pontos. No mercado de câmbio, mesmo com uma nova intervenção do Banco Central, o dólar comercial fechou em alta de 0,83%, a R$ 2,166, a maior cotação desde abril de 2009. Na máxima do dia, a moeda americana chegou a ser negociada a R$ 2,178.

“Além das incertezas sobre os rumos da inflação e do crescimento da economia no Brasil, investidores estão atentos a qualquer sinalização do Fed sobre a manutenção ou redução de seu programa de estímulo à economia. Dependendo da decisão, ela pode acelerar o movimento de fuga de capitais das chamadas economias emergentes. ‘Essa aceleração da retirada de recursos de estrangeiros da Bovespa mostra um aumento da preocupação com a possibilidade de o Fed reduzir o programa de estímulo à economia, que despeja US$ 85 bilhões por mês, através da compra de títulos’, analisa Márcio Cardoso, sócio-diretor do Easyinvest/Título Corretora.

“Boa parte do dinheiro que sai de países emergentes vai em direção aos títulos americanos. O juro dos papéis de dez anos está subindo nas últimas semanas e ontem bateu em 2,17% ao ano. ‘Com a melhora da economia americana, a lógica é que o programa de estímulo seja reduzido e os juros subam um pouco. Por isso, os investidores estão tirando recursos de países emergentes como o Brasil’, diz Maurício Nakahodo, consultor de pesquisas econômicas do Banco Tokyo-Mitsubishi, em São Paulo.” (João Sorima Neto, Lucianne Carneiro e Clarice Spitz, O Globo, 18/6/2013.)

* Diante das incertezas sobre a economia do país, brasileiros enviaram US$ 8,5 bilhões para fora do país este ano

“As remessas de dólares por brasileiros para a compra de ativos no exterior (como imóveis, ações e outros bens) alcançaram um volume recorde entre janeiro e abril deste ano. De acordo com a Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), que compilou os dados do Banco Central, os brasileiros enviaram US$ 8,45 bilhões para aquisições fora do país nos quatro primeiros meses do ano.

“Foi o maior volume remetido no período de toda a série histórica do BC, iniciada em 1995. E quatro vezes maior que as transferências de dólares em igual período de 2012 (US$ 1,88 bilhão). ‘É um volume expressivo, que não foi investido em títulos de bancos, mas em ativos reais, como imóveis e ações. E que certamente ajudou no enfraquecimento do real diante da moeda americana’, disse Luis Afonso Lima, presidente da Sobeet.

“Em momentos de incertezas, como o que passa a economia brasileira, é comum que pessoas com recursos disponíveis procurem proteção em ativos fora do país, mais seguros, explicou o economista João Medeiros, diretor da Pionner Corretora de Câmbio. A isso, continuou ele, soma-se o fato de que os ativos, como imóveis, continuarem muito atraentes em mercados como Estados Unidos e Europa.” (Ronaldo D’Ercole, O Globo, 18/6/2013.)

Mais medidas erradas na economia

* Na contramão do que é preciso, governo lança novo programa para turbinar o consumo

“O lançamento do Minha Casa Melhor, uma extensão do Minha Casa Minha Vida, pode fazer sentido do ponto de vista eleitoral, mas causa novos ruídos na percepção do futuro da economia, que já não era das melhores.

“No momento em que há consenso entre o ministro Guido Mantega e analistas econômicos sobre a importância de se incentivar os investimentos, o Planalto lança um programa em sentido contrário, para turbinar ainda mais o consumo. Como se o país não estivesse com um problema sério de inflação. Não faz sentido.” (Opinião, O Globo, 14/6/2013.)

* Novo truque contábil reduz os compromissos financeiros de prefeituras endividadas, como as administradas por Haddad e outros petistas

“Embora pareça tratar-se de necessário aperfeiçoamento de normas de contabilidade pública, como o justificou o governo, o dispositivo inserido na Medida Provisória (MP) n.º 618 que permite às prefeituras excluir do cálculo da receita líquida os recursos obtidos com operações urbanas tem objetivos políticos e parece ter sido elaborado sob medida para beneficiar administrações petistas.

“É uma espécie de truque contábil para reduzir os compromissos financeiros de prefeituras endividadas, mas com volume expressivo de recursos gerados por autorizações para construir. A Prefeitura paulistana, chefiada pelo petista Fernando Haddad, está nessa situação.

“O fato de o dispositivo estar incluído numa MP que, na essência, trata de um assunto muito diferente – a injeção de R$ 30 bilhões no BNDES e na estatal Valec – já o torna intrigante.

“É como se, ao inseri-lo entre providências tipicamente financeiras envolvendo empresas estatais, o governo quisesse evitar que o assunto fosse tratado separadamente e com destaque. É curioso, no entanto, que, mesmo preenchendo apenas um entre os dez artigos da MP 618, esse dispositivo tenha merecido longa justificativa do governo.

“Ao permitir que as prefeituras excluam do cálculo das receitas líquidas reais correntes os recursos obtidos com a emissão de autorizações para construir – com a justificativa de que eles não têm a mesma natureza de impostos ou taxas -, a MP tem uma consequência sobre as finanças municipais que vai muito além da simples redução contábil da arrecadação.

“Embora valha para todos os municípios, o dispositivo cai como uma luva para prefeituras altamente endividadas, como é o caso da de São Paulo. Essas prefeituras são obrigadas a amortizar sua dívida anualmente de acordo com sua receita corrente líquida. Inovando a contabilidade pública, a MP reduz a base de cálculo do valor das prestações que as prefeituras devem pagar ao Tesouro Nacional, como previsto na rolagem das dívidas dos Estados e prefeituras em 2000.

“Neste ano, a Prefeitura paulistana não emitiu nenhum papel ligado à autorização para construir, mas tem um estoque de cerca de R$ 5 bilhões de autorizações concedidas no passado – convém destacar que, pela MP, a nova regra se aplica a títulos já emitidos. A dívida do Município de São Paulo com o Tesouro Nacional supera R$ 53 bilhões. Ela é corrigida pelo Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), calculado pela Fundação Getúlio Vargas, acrescida de juros de 9% ao ano. Deixando de contabilizar esses recursos como correntes, a Prefeitura de São Paulo poderá economizar até R$ 650 milhões nas prestações que tem de recolher ao Tesouro.

“Como disse o secretário municipal de Finanças, Marcos de Barros Cruz, ‘é uma economia eventual para todos os municípios que emitem esses títulos’. Sim, mas nenhum está tão endividado como São Paulo.

“Além disso, o dispositivo tende a estimular outras prefeituras que porventura ainda não tenham recorrido a essa forma de amealhar recursos a fazê-lo, o que, se não for controlado, pode dar origem a uma farra de autorizações para construir. Ou seja, a MP pode estar estimulando a emissão de títulos similares por todas as prefeituras, especialmente das grandes cidades

“Mas esse não parece ser o único efeito danoso da MP para a austeridade das finanças públicas. Como noticiou o Estado (11/6), o artigo que beneficia as prefeituras provocou imediata reação no Congresso. Relator da lei complementar que altera todos os contratos de refinanciamento de dívidas entre o Tesouro e os Estados e municípios, o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), já afirmou que vai apresentar uma emenda à MP 618.

“Cunha entende que, ‘se a justificativa deles é porque a receita é financeira, os royalties e participações especiais também são’. Em um cálculo por alto, o deputado estima que, se a prefeitura do Rio de Janeiro conseguir abater essas receitas dos débitos ao Tesouro, teria uma poupança entre R$ 3 bilhões e R$ 4 bilhões.” (Editorial, Estadão, 15/6/2013.)

* Em vez de mudar o tipo de política que não está dando certo, o governo resolveu continuar como estava. Resultado: vai piorar mais

“Surpreendido pelas derrapadas seguidas na área econômica, o governo Dilma foi chamado a optar entre uma vigorosa correção de rumos e a manutenção, com um ou outro ajuste, do mesmo arranjo de políticas que prevaleceram até aqui.

“Pelas indicações que chegam de Brasília, a decisão parece ter sido a mais fácil: manter e, até mesmo, aprofundar a combinação de políticas que provocaram as distorções já conhecidas: crescimento teimosamente baixo, inflação alta e renitente, desequilíbrio nas contas externas e uma indústria enfraquecida.

“Duas parecem ter sido as razões que levaram o governo a decidir-se por deixar tudo como está. A primeira foi evitar passar mais um recibo público pelo fracasso de sua política econômica. A outra foi o entendimento de que uma terapia com base no aumento da responsabilidade fiscal (controle mais rígido das despesas públicas) e no reforço do investimento podia não produzir os efeitos desejados a tempo de lhe dar proveito nas próximas eleições.

“Daí o lançamento na semana passada de um programa (‘Minha Casa Melhor’), com R$ 18,7 bilhões em recursos públicos destinados a financiar, a juros subsidiados, aparelhos domésticos e móveis. Trata-se de um novo pacote designado a reforçar o consumo, a despeito das juras feitas pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que coisas assim não se repetiriam.

“Sobra o Banco Central para enfrentar sozinho a disparada dos preços e tentar recuperar a capacidade de conduzir as expectativas. Na edição de ontem (17/6) do jornal Valor Econômico, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, avisou que não há limites para a alta dos juros, dando a entender que está disposto a fazer o que tem de ser feito, mesmo sem contar com a colaboração das políticas a cargo de outras áreas do governo. Como os efeitos da política monetária levam entre seis e nove meses para aparecer, é provável que até as vésperas das eleições toda a alta dos juros promovida pelo Banco Central também não terá produzido o efeito desejado de debelar a inflação.

“Essa determinação de Tombini, que apareceu um pouco tarde, mas ainda a tempo, não combina com o discurso da presidente Dilma de que os velhos do Restelo semeiam um pessimismo mórbido e que a inflação, que está ‘hoje sob total controle do governo’, logo mais refluirá.

“Não é bem assim. Há meses, o Banco Central vem advertindo que a inflação está alta demais (e não propriamente sob controle) e que o governo está gastando demasiadamente. Se este é o discurso dos ranhetas da hora, então o Banco Central também é um deles.

“Ao decidir por não corrigir radicalmente seu rumo, o governo Dilma está apostando que conseguirá administrar com sucesso suas atuais vantagens eleitorais. No entanto, a inflação em doze meses está no teto da meta (6,5%). É alta a probabilidade de que nos próximos três meses salte para acima desse nível. É uma situação que, por si só, tende a aprofundar a falta de confiança que hoje atinge a atividade econômica e a colocar em marcha forças ainda mais desestabilizadoras do que as que vêm surpreendendo a presidente Dilma. A disparada do dólar é um aviso.” (Celso Ming, Estadão, 18/6/2013.)

Prometem fazer agora o que passaram 20 anos condenando

* Agora que a credibilidade do Brasil está abalada, Dilma vai usar dinheiro das privatizações para abater a dívida pública

“Depois de passar vinte anos condenando, o governo Dilma agora vai usar o dinheiro que arrecadar com privatizações para pagar a dívida pública. Não há nada de mais, não é pecado mortal nem venial aplicar dinheiro da venda de concessões públicas no pagamento de juros da dívida. O mundo inteiro faz isso. É uma questão de identificar e eleger prioridades. Quando a dívida pública de um país está sob controle, é bem administrada e não ameaça a saúde da economia, ótimo – despeja-se todo o dinheiro da venda de ativos em investimentos produtivos que geram emprego, renda, riqueza, bem estar e progresso para a população e para o país.

“Obviamente esse não é o caso de Grécia, Portugal, Itália e Espanha, cujos governos assistiram passivos a suas dívidas multiplicarem, nada fizeram para contê-las e agora pedem socorro financeiro ao FMI e ao Banco Central Europeu, que os obrigam a impor trágicos sacrifícios à população, vender ativos, demitir funcionários, reduzir salários e aposentadorias, provocar depressão econômica, desemprego e empobrecimento e, assim, gerar condições para pagar suas gigantescas dívidas. A alternativa seria dar calote, decretar moratória unilateral, mas isso ninguém quer, a tragédia seria muito pior. Que o diga a Argentina, que enunciou moratória em 2001 e viu seu PIB desabar, o desemprego se espalhar e a população empobrecer a níveis jamais vistos em sua história. Mas o que acontece na Europa já foi passado no Brasil (nos anos 1980) e hoje deixou de ser pesadelo. É bem verdade que nossa dívida pública está acima da média dos países emergentes (a líquida em 35% do PIB e a bruta em 68%), mas longe, muito longe, do risco de crise, é perfeitamente administrável. Afinal, alguns dos países europeus têm dívidas que ultrapassam 100% do PIB. Então qual é o problema do Brasil? Por que Dilma, que tanto criticou o governo tucano por usar o dinheiro das privatizações para abater a dívida, agora faz o mesmo?

“Nessa questão, o problema número um do Brasil de hoje se chama credibilidade. É verdade que temos uma meta de superávit primário (economia nas contas públicas para pagar os juros da dívida), essencial para garantir ao mundo financeiro (onde nossas empresas tomam dinheiro emprestado) que temos plenas condições de pagar nossos débitos. Tudo bem, não fosse um relevante detalhe: em quase três anos, o governo Dilma só conseguiu cumprir o superávit com truques, feitiçarias, alquimias em que nem a criança mais ingênua e desinformada acreditaria. O que o ex-ministro Delfim Netto chamou de ‘esculhambação nas contas públicas’, em entrevista à Agência Estado.

“O que a nota de rebaixamento da agência Standard & Poor’s reflete é justamente a falta de confiança de que o Brasil vai continuar pagando o que deve no futuro sem criar problemas para a saúde de sua economia. Três fatores têm contribuído para isso: 1) os truques e as maquiagens minaram a credibilidade da equipe econômica de Dilma, mostraram que a intenção era enganar, dar um jeitinho (obviamente sem sucesso) e não equilibrar as contas públicas; 2) prestigiado pela presidente Dilma, o secretário do Tesouro, Arno Augustin, passou a defender abertamente a redução da meta fiscal; e 3) apesar do inchaço da inflação e da desvalorização do real, o governo não dá qualquer sinal de que vai ajustar seus gastos – muito pelo contrário, continua gastando mais do que pode.

“Por tudo isso, Dilma Rousseff recorre ao dinheiro que vai arrecadar com as privatizações de estradas, portos, ferrovias, aeroportos e áreas de exploração de petróleo. É dinheiro extra, fora do orçamento, que poderia ser investido em saúde, educação, saneamento, e vai servir para pagar a dívida porque agora virou prioridade reconquistar a confiança na meta fiscal. E de nada adianta fazer vazar promessas de que o governo vai perseguir o déficit nominal zero nem o ministro Mantega vir a público se comprometer com meta de 2,1% do PIB, se as ações do governo se dirigem para o lado contrário. Promessas e palavras o vento leva…” (Suely Caldas, Estadão, 16/6/2013.)

O governo insiste: está tudo ótimo, e o que há é “terrorismo” da imprensa

* A Poliana do Planalto em seu showroom de otimismo

“A fórmula é mais velha do que o Velho do Restelo. Quando as coisas vão mal e não há intenção efetiva, muito menos competência para endireitá-las, resta o surrado truque de fazer uma bondade para jogar areia nos olhos dos descontentes e fazer uma maldade para jogar nas costas alheias a culpa pelo descontentamento. Esses foram os movimentos que o preparador político da presidente Dilma Rousseff, o marqueteiro João Santana – o 40.º ministro do atual governo, como é chamado por quem sabe de sua importância junto à titular do Planalto -, a orientou a seguir para reerguer a popularidade abalada.

“Nisso, ela foi rápida. Três dias depois da publicação da pesquisa do Datafolha segundo a qual o nível de aprovação do governo caiu inéditos 8 pontos porcentuais e o favoritismo de Dilma para 2014 ficou 7 pontos menor, a presidente já estava a postos para lançar o eleitoreiro programa Minha Casa Melhor. Trata-se da linha de crédito oferecida aos beneficiários do Minha Casa, Minha Vida, à razão de R$ 5 mil por família, para a compra de móveis e eletrodomésticos. Os juros foram fixados em 5% ao ano. O prazo para a quitação do empréstimo será de 48 meses. Para atender a cerca de 3,4 milhões de famílias, o Tesouro deverá desembolsar R$ 18,7 bilhões, com impacto óbvio sobre as contas públicas.

“Montado em palácio o showroom do otimismo, conforme o roteiro traçado pelo marqueteiro da casa, Dilma deu especial atenção às mulheres – a parcela da população que se revelou, como seria de esperar, a mais insatisfeita com o governo por causa da carestia com que se defronta nas gôndolas do supermercado e nas barracas da feira. Caprichando no coloquial, a presidente celebrou a substituição do tanquinho, ‘que usa a energia braçal das mulheres’, pela ‘máquina de lavar roupa automática’. A troca, vai sem dizer, melhora a qualidade de vida das donas de casa. Mais difícil é explicar como isso pode poupá-las do desgastante encontro cotidiano com os preços remarcados.

‘A experiência própria é que lhes dirá – e a todos os brasileiros – de que valem as enfáticas juras da presidente sobre os rumos do custo de vida. ‘Não há a menor hipótese de que o meu governo não tenha uma política de controle e combate à inflação’, entoou. E caso alguém não tenha prestado atenção, repetiu: ‘Não há a menor hipótese’. Só que o ponto não é bem esse. A realidade – e aí já não se trata de hipóteses – é que aquilo que ela entende por política anti-inflacionária até agora tem sido incapaz de acuar o dragão. O Banco Central aumentou os juros, mas o descompasso entre o que deveria sair e o muito mais que sai dos cofres federais é um breve contra a estabilização dos preços.

“Mas, evidentemente, Dilma estava ali para levantar o astral dos pessimistas com a evolução de seus rendimentos e as perspectivas do mercado de trabalho – uma coisa e outra captadas pelas recentes sondagens de opinião – e não para falar honestamente dos problemas e temores do povo.

“Nessa hora é que entram em cena, no papel de inimigos do País, os críticos do governo. São os que ficam ‘azarando’, como o Velho do Restelo dos Lusíadas, de Camões, que ao ver zarparem os navios de Vasco da Gama, em busca do caminho das Índias, meneava a cabeça em desaprovação à ‘vã cobiça’. Ou, na paráfrase da presidente, profetizava que ‘não vai dar certo’. À parte a invocação do Velho do Restelo, ela nem sequer foi original. Lula já acusava os adversários de lançar ‘urucubacas’ contra o Brasil.

“O que desanima é constatar que esse palavrório desafiador (‘O Velho do Restelo não pode, não deve e, eu asseguro para vocês, não terá a última palavra no Brasil.’) e a estudada estridência do seu enunciado parecem tudo o que Dilma tem a dizer seja aos eleitores que dela se distanciaram, seja aos que não se deixam levar pela retórica poliana do Planalto. Entre esses se inclui pelo menos um dos interlocutores habituais da presidente. Ela não há de achar, por exemplo, que, aos 85 anos, o economista Delfim Netto seja um Velho do Restelo quando destoa publicamente da linha oficial.

“Mas que importa? Bem que ela avisou que, ‘na eleição, podemos fazer o diabo’. E, para Dilma, a eleição está em pleno curso.” (Editorial, Estadão, 14/6/2013.)

* Tadinha da presidente. Não contaram direito para ela quem é o Velho do Restelo, e ela ficou falando asneiras

“A presidente Dilma Rousseff converteu o Velho do Restelo, uma das grandes figuras camonianas, um homem de ‘saber só de experiências feito’, em um petista enrustido. Na descrição dilmiana, ‘esse velho ficava sentado na praia azarando’ e repetindo, diante de toda experiência nova, uma frase agourenta: ‘Não vai dar certo’. Era uma figura do contra, como os opositores da Constituição de 1988, do Proer (depois apontado ao mundo como exemplo pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva), do Plano Real, do pagamento da dívida pública e, naturalmente, da Lei de Responsabilidade Fiscal. Não se sabe se a presidente leu Os Lusíadas ou se apenas ouviu a história, resumida toscamente, quando passou pela praia do Restelo, em sua recente viagem a Portugal. Se leu, entendeu mal, reduzindo o enredo e uma grande figura às dimensões de uma visão chinfrim, injusta em relação ao poeta e àquela personagem.

“Camões descreve o velho com respeito e atribui-lhe um discurso bem articulado e com argumentos ponderáveis. A multidão está na praia para assistir ao início de mais uma expedição a um mundo quase desconhecido. A cena ganha movimento e vida com o destaque de algumas personagens, a mãe chorosa, a esposa desconsolada (‘nosso amor, nosso vão contentamento,/ quereis que com as velas leve o vento?’) e, finalmente, a figura de aparência veneranda, ‘postos em nós os olhos, meneando/ três vezes a cabeça, descontente,/ a voz pausada um pouco alevantando’. Não era um tolo nem um letrado, mas um homem ‘cum saber só de experiências feito’.

“A peroração do velho ocupa as dez estrofes finais – 80 versos, portanto – do quarto canto do poema. Em nenhum momento ele dá como certo um fim trágico para os navegantes, embora aponte os perigos e lamente ‘o desprezo da vida’. É outro o assunto da maior parte, a mais importante, de sua fala. Ele pergunta, em resumo, se vale a pena o esforço para conquistar mares e terras distantes e cheios de perigos em vez de proteger Portugal dos inimigos vizinhos e de explorar, mesmo com a guerra, as oportunidades mais próximas. ‘Não tens junto comtigo o Ismaelita/ com quem sempre terás guerras sobejas?’ Depois, referindo-se ao infiel: ‘Não tem cidades mil, terra infinita,/ se terras e riquezas mais desejas?’ É um raciocínio estratégico. Não seria mais vantajoso proteger o reino da ameaça próxima e, se fosse o caso de ampliar os domínios portugueses, tentar a conquista das ‘cidades mil’ e da ‘terra infinita’ dos seguidores do Alcorão? Essa alternativa atenderia também a quem desejasse a glória da guerra e da vitória contra um adversário de respeito: ‘Não he elle por armas esforçado, se queres por victórias ser louvado?’.

“Em sua versão do episódio, a presidente Dilma Rousseff menciona a fala do velho sobre a motivação da vã glória. Mas passa longe, mais uma vez, do significado da peroração. As primeiras palavras têm um tom moralista. ‘Ó glória de mandar! Ó vã cobiça desta vaidade a que chamamos fama! (…) Que mortes, que perigos, que tormentas/ que crueldades neles exp’rimentas!’ Mas o discurso logo incorpora outras preocupações: ‘Dura inquietação da alma e da vida,/ fonte de desemparos e adultérios,/ sagaz consumidora conhecida/ de fazendas, de reinos e de impérios! (…) Chamam-te fama e glória soberana,/ nomes com que se o povo néscio engana’.

“Em linguagem menos poética: fama e glória têm custos e esses custos podem ser – e são com frequência – muito elevados. Os versos mencionam ‘fazendas’ (patrimônio), ‘reinos e impérios’. Adiante, a argumentação é ampliada, com a referência ao perigo dos ismaelitas e às possibilidades de conquistas em áreas mais próximas. Ao discutir a aventura em mares e reinos longínquos, o velho confronta a iniciativa mais ambiciosa e arriscada com uma política alternativa, mais prudente em sua opinião. Não se trata de mero pessimismo ou de mania de ser do contra. Sem forçar a interpretação, pode-se descrever o discurso do velho como um exercício no campo das decisões estratégicas e da alocação de recursos. Com um saber derivado só da experiência, ele demonstra, no entanto, uma capacidade respeitável de refletir sobre os interesses do reino e sobre a necessidade de cálculo e de prudência. De nenhum modo Camões despreza esse tipo de sabedoria. No primeiro verso do canto quinto, a figura da praia ainda é lembrada como um ‘velho honrado’.

“Não há resposta direta ao discurso de advertência. A resposta indireta é o poema todo, como celebração da audácia e da glória dos navegadores, sintetizada na proeza de Vasco da Gama, e da grandeza de Portugal. Talvez os defensores da grande aventura marítima tivessem razão naquele momento. No longo prazo, no entanto, a história parece ter realçado a sabedoria do velho.

“No mínimo, teria sido prudente conciliar a ousadia dos descobrimentos e da conquista dos mares com a modernização e o fortalecimento econômico do próprio reino. A Inglaterra, núcleo da revolução industrial no século 18, continuou sendo a grande potência europeia depois de perder as 13 colônias americanas.

“Portugal perdeu o brilho muito antes da independência de suas últimas colônias na África. De certa forma, a história econômica portuguesa recomeçou com o ingresso na União Europeia e com o empuxo dos investimentos financiados pelo bloco.

“No Brasil, a prudência do Velho do Restelo teria recomendado a combinação, há muito tempo, de rigor fiscal, metas de inflação mais baixas, modernização institucional e maior atenção à produtividade. Até a crise, o governo petista preferiu ver o País subir com a maré da prosperidade global. Depois, limitou-se a remendos e continuou dedicado a objetivos eleitorais. Mas política séria daria trabalho. Como escreveu outro poeta, o italiano Cesare Pavese, ‘lavorare stanca’.” (Rolf Kuntz, Estadão, 15/6/2013.)

* Está tudo maravilhoso, a inflação está sob controle, e quem diz que não está faz ‘terrorismo informativo”, discursa Dilma

“Em discurso no Complexo Esportivo da Rocinha para o anúncio de obras em três favelas do Rio, a presidente Dilma Rousseff afirmou nesta sexta-feira, 14, que há ‘estardalhaço e terrorismo informativo’ sobre a situação econômica do País. No mesmo evento, atacou indiretamente a oposição ao dizer Que ‘não se fazia obra para as comunidades mais pobres’ no Brasil até 2003, início do governo Lula.

Foi o terceiro dia consecutivo em que Dilma volta suas declarações para críticos da política econômica. Na quinta-feira, em Curitiba, tratou-os como ‘vendedores do caos’. Um dia antes, em Brasília, havia comparado a oposição ao Velho do Restelo, personagem de Luís de Camões na obra Os Lusíadas considerado um pessimista.

“Ontem (14/6), Dilma preferiu passar ao largo dos protestos contra o custo do transporte público em várias capitais do País e voltar seu discurso ao noticiário sobre a retomada inflacionária. ‘Nós jamais deixaremos que a inflação volte. Hoje ela está sob controle, ontem ela estava e continuará sob controle’, discursou. E fez um pedido: ‘Peço a vocês que não deem ouvidos a esses que jogam sempre no quanto pior, melhor. Críticas, todo mundo tem de ter a humildade de aceitar. Mas terrorismo, não’.

“A presidente afirmou que, em meio à crise econômica que ‘talvez seja a mais grave desde 1929’, o Brasil apresenta hoje ‘a menor taxa de desemprego do mundo’. ‘Vocês têm visto na imprensa muita gente falando que o Brasil passa por um momento de dificuldades. Interessa a eles criar essa idéia’, discursou Dilma para uma plateia de políticos e, principalmente, moradores da Rocinha. ‘Não só o Brasil não está numa situação difícil como é um país extremamente sólido. Temos uma das menores relações entre dívida líquida e PIB. Não gastamos mais do que possuímos. Somos sérios em relação à política fiscal.’” (Felipe Werneck, Estadão, 15/6/2013.)

* O que de fato aterroriza a economia é o governo

“Continuam piorando as perspectivas da economia brasileira para este ano, segundo a pesquisa realizada semanalmente pelo Banco Central (BC) com cerca de cem instituições do mercado financeiro e do setor de consultoria. Os economistas aumentaram suas projeções de inflação, agora estimada em 5,83%, e reduziram as do crescimento econômico (2,49%), da produção da indústria (2,5%) e do saldo comercial (reduzido para pífios US$ 6,55 bilhões).

“Elevaram para US$ 73,66 bilhões, ao mesmo tempo, a previsão do buraco na conta corrente do balanço de pagamentos. Basta ler esses números para identificar um dos focos do terrorismo econômico denunciado pela presidente Dilma Rousseff. Um dos principais aliados desse foco é naturalmente o BC, responsável pela divulgação de tanto pessimismo.

“Outros focos devem estar nas entidades representativas da indústria, em organizações acadêmicas, como a Fundação Getúlio Vargas (FGV), e até no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), fontes de informações pouco animadoras sobre a evolução dos preços, a recuperação da atividade, o emprego industrial e a disposição dos empresários de se arriscar em novos investimentos.

“Auxiliares próximos da presidente já identificaram uma crise de confiança. Evitam falar disso publicamente, mas já se esforçam para embelezar a imagem do governo. O BC elevou os juros básicos, intensificando e tornando mais sério o combate à inflação, e seu presidente, Alexandre Tombini, promete agir sem restrições para conter a alta de preços. Não basta, no entanto, restabelecer a confiança na política monetária, quando o lado fiscal permanece uma barafunda.

“O ministro da Fazenda promete alcançar a meta de superávit primário equivalente a 3,1% do PIB, enquanto o secretário do Tesouro desqualifica esse objetivo e o condiciona a uma estratégia de gastos anticíclicos. Mesmo a promessa do ministro pouco significa em termos de austeridade.

“O governo ainda se mostra disposto a abater investimentos e desonerações da meta fiscal e anuncia, além disso, a intenção de incluir na conta receitas de concessões e os bônus do leilão de blocos do pré-sal. Usará, portanto, receitas eventuais para ajeitar uma contabilidade formada, em um dos lados, por despesas permanentes cada vez maiores.

“Em 30 dias investidores de fora tiraram da Bovespa R$ 8 bilhões, reduzindo a R$ 3,4 bilhões o saldo de aplicações estrangeiras. A fuga de capitais tem afetado muitas economias emergentes e é motivada, na maior parte dos casos, pela perspectiva de uma política monetária menos folgada nos Estados Unidos e, portanto, de mudanças no mercado financeiro internacional.

“Mas fatores internos também minam a confiança no Brasil e isso é reconhecido sem dificuldade entre especialistas. A Standard & Poor’s já ameaçou rebaixar a classificação do Brasil. Há um sério risco de rebaixamento pelas agências de classificação até o começo de 2014, segundo informe do Banco Barclays divulgado em Nova York. O crescimento permanece baixo e a inflação continua alta, de acordo com o informe.

“Mesmo no governo poucas pessoas parecem levar a sério a conversa sobre terrorismo econômico. O problema de credibilidade é reconhecido, mas a única mudança relevante, até agora, foi a da política monetária. Demonstrando mais preocupação com as eleições, a presidente Dilma Rousseff lançou mais um programa de estímulo ao consumo, o Minha Casa Melhor, apesar do comprovado fracasso dessa estratégia nos últimos dois anos e meio.

“Os problemas de produção e de oferta, amplamente reconhecidos por especialistas como os mais importantes, continuam sendo atacados com ações desarticuladas, claramente improvisadas e de alcance limitado.

“Além disso, o ativismo do governo – de fato, hiperativismo -, apontado como um dos fatores de desconforto e desconfiança do empresariado, tanto nacional quanto estrangeiro, será mantido, como deixou claro a ministra chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. Eis aí uma promessa aterrorizante.” (Editorial, Estadão, 18/6/2013.)

Diplomacia equivocada, comércio externo em crise

* Em cerimônia, Dilma celebra dez anos de incompetência e equívocos diplomáticos

A presidente Dilma Rousseff celebrou dez anos de incompetência e equívocos diplomáticos em seu discurso à nova turma formada pelo Instituto Rio Branco. Seu pronunciamento, na terça-feira, se harmonizou perfeitamente com os erros de avaliação e as fantasias geopolíticas do terceiro-mundismo petista. Condenou de modo geral os acordos bilaterais de comércio como nocivos ao País, sem levar em conta o isolamento do Brasil enquanto no resto do mundo se multiplicam acertos comerciais de variadas configurações. Não está claro se foi mais uma falha de julgamento ou apenas mais um tropeço devido à desinformação. O desprezo pelos fatos ficou evidente em vários momentos. ‘O Brasil quer enfrentar as vicissitudes da globalização junto com seus parceiros sul-americanos’, afirmou. Segundo ela, essa idéia se expandiu por todo o continente. Os fatos mostram algo diferente. Terá a presidente esquecido a Aliança do Pacífico, formada por Chile, Peru, Colômbia e México, os acordos bilaterais de outros latino-americanos com países da América do Norte e da Europa e seus esforços de aproximação com a Ásia – tudo isso sem o Brasil?

“Diante do impasse da Rodada Doha, empacada há vários anos, a troca de preferências comerciais passou a depender de negociações bilaterais ou entre blocos. Parte importante do empresariado brasileiro passou a cobrar do governo, há pouco tempo, mais iniciativas para incluir o País nesse jogo. A alternativa pode ser extremamente custosa, até porque os maiores mercados, como os Estados Unidos, União Europeia, Japão e outros grandes países da Ásia estão envolvidos em múltiplas negociações. Mas o governo brasileiro continua rejeitando as evidências e mostra-se disposto a menosprezar as cobranças dos líderes da indústria.

“No mundo imaginário da diplomacia petista, é irrelevante saber se os parceiros escolhidos como prioritários atribuem prioridade ao Brasil. Segundo a presidente, a prioridade às relações Sul-Sul é marcada pelo ‘repúdio a todas as formas de domínio e opressão entre os países’. Essa orientação, acrescentou, explica a importância conferida à aproximação com grandes países emergentes, como Índia, China, Rússia e África do Sul – os Brics.

“Como provas do êxito dessa iniciativa, mencionou um acordo de contingenciamento de reservas e o projeto de formação de um banco de desenvolvimento. Esqueceu, como de costume, alguns detalhes: esses países dão prioridade ao comércio com o mundo rico, a Rússia tem dado preferência aos Estados Unidos e Europa como fornecedores de carne e a relação comercial do Brasil com a China é quase colonial. Nem vale a pena discutir em detalhe se todas essas potências de fato repudiam ‘todas as formas de domínio e de opressão’ entre países.

“A mesma fantasia explica a insistência do governo em manter o País amarrado a uma união aduaneira fracassada, o Mercosul, um bloco incapaz de funcionar como simples área de livre comércio. Se algum dos novos diplomatas desconhecer esse fato, será um digno sucessor dos condutores da política brasileira de comércio nos últimos dez anos. Nenhuma pessoa razoável e informada pode levar a sério uma união aduaneira com uma tarifa comum cheia de furos, com o comércio intrazona emperrado pelo protecionismo e sem acordos relevantes com parceiros de outras áreas.

“O governo brasileiro, segundo a presidente Dilma Rousseff, tem seguido a política Sul-Sul sem se afastar dos países desenvolvidos. Os fatos são muito diferentes. O Brasil tem perdido mercados nos Estados Unidos e na Europa. Outros países têm levado vantagem, porque dispõem de acesso preferencial, graças a acordos comerciais ou porque são simplesmente mais competitivos – e a incompetência governamental, no Brasil, prejudica também o poder de competição das empresas. A combinação de erros diplomáticos e de política econômica interna tem resultado igualmente na perda de participação nos mercados vizinhos. O discurso presidencial passou longe, é claro, de todos esses fatos, tanto quanto da gramática e da sintaxe.” (Editorial, Estadão, 19/6/2013.)

21 de junho de 2013

Outras compilações de provas da incompetência de Dilma e do governo:

Volume 85 – Notícias de 1º a 7/2.

Volume 86 – Notícias de 8 a 14/2.

Volume 87 – Notícias de 15 a 21/2.

Volume 88 – Notícias de 22 a 28/2.

Volume 89 – Notícias de 1º a 7/3.

Volume 90 – Notícias de 8 a 14/3.

Volume 91 – Notícias de 15 a 21/3

Volume 92 – Notícias de 22 a 28/3.

Volume 93 – Notícias de 29/3 e 4/4.

Volume 94 – Notícias de 5 a 11/4.

Volume 95 – Notícias de 12 a 18/4.

Volume 96 – Notícias de 19 a 25/4.

Volume 97 – Notícias de 26/4 a 2/5.

Volume 98 – Notícias de 3 a 9/5.

Volume 99 – Notícias de 10 a 16/5.

Volume 100: Notícias de 17 a 23/5.

Volume 101: Notícias de 24 a 30/5.

Volume 102: Notícias de 31/5 a 6/6.

Volume 103: Notícias de 7 a 13/6.

8 Comentários para “Más notícias do país de Dilma (104)”

  1. Neguinho tá na rua. Tem neguinho organizado, comportado, educado sendo chamado de manifestante pacífico. Tem neguinho vândalo, mal educado, chamados de baderneiros.Em 1963 um comício pelas reformas de base foi motivo para 20 anos de ditadura. Cuidado dona Dilma com os branquinhos, mauricinhos e oportunistas!

  2. Em 2012, os ricos ficaram mais ricos.

    O Brasil atingiu o décimo primeiro lugar em termos de população de HNWIs, com 165 mil em 2012, aumento de 0,2%. O patrimônio total aumentou para 4 trilhões de dólares, uma expansão de 3,7% em relação ao ano anterior. O resultado no estudo, diz Santos, está relacionado ao fraco desempenho do PIB brasileiro no ano passado, além da influência da performance da América Latina. “Temos instabilidades políticas em países chave da América Latina, como a Argentina, além do nosso próprio crescimento, tivemos um PIB medíocre, isso influencia no aumento desse patrimônio.”

    Um indivíduo de alta-net-worth ( HNWI ) é uma pessoa com um alto patrimônio líquido, não anda de ônibus, usa bons hospitais, boas escolas, come e bebe do melhor.

    Não faz manifestações por 20 centavos.

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