Há artistas que nos comovem pela beleza do que fazem; outros, pela coerência com que vivem. Maria Bonomi reúne as duas dimensões. Sua retrospectiva A arte de amar, a arte de resistir, em cartaz no Paço Imperial, no Rio de Janeiro, é mais do que uma celebração de seus 80 anos de trajetória artística — é um manifesto sobre a força transformadora da arte e sobre a dignidade de quem nunca se afastou das grandes causas humanas. Continue lendo “Maria Bonomi, a arte de resistir”
Entre a “mexicanização” e a “bukelização” do Brasil
A ação no Complexo da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, que resultou em 121 mortes, revelou o ponto a que o Brasil chegou em sua crise de segurança pública. A operação foi aprovada pela maioria da população — especialmente os que vivem em áreas nas quais o crime organizado explora as pessoas, viola direitos humanos e instala sua ditadura por meio da violência. Vinte e oito milhões de brasileiros — 19% da população — vivem nesta situação, à margem do Estado Democrático de Direito. Continue lendo “Entre a “mexicanização” e a “bukelização” do Brasil”
Lula aposta no “nós contra eles”
Lula prepara a reeleição com uma roupagem completamente diferente da usada há quatro anos quando adotou o discurso da Frente Ampla. O discurso da moderação e da defesa da democracia foi sua peça de resistência. Graças a ele, Lula se elegeu presidente com uma diferença estreitíssima de votos. O fiel da balança foram os votos do eleitorado de centro, refratário ao radicalismo de Bolsonaro. Continue lendo “Lula aposta no “nós contra eles””
Correios: um colapso anunciado
Houve um tempo em que os Correios eram sinônimo de integração nacional, quando a estatal desempenhava papel estratégico ao garantir a universalidade do serviço postal. Mas isso pertence a uma era que já pode ser considerada como a pré-história das comunicações a pré-história das comunicações, quando telegramas, cartas e remessas eram a principal forma de contato entre as pessoas. Hoje, a estatal vive uma crise agônica, acumulando déficits ano após ano. Continue lendo “Correios: um colapso anunciado”
A esquerda e o Prêmio Nobel da Paz
A escolha de María Corina Machado para o Nobel da Paz de 2025 tem um grande significado. Cassada, perseguida e banida da vida política pelo regime de Nicolás Maduro, a líder venezuelana representa a persistência da luta democrática em condições extremas. Sua indicação rompeu o silêncio internacional em torno da repressão na Venezuela — um silêncio muitas vezes alimentado por alianças ideológicas e conveniências diplomáticas. Continue lendo “A esquerda e o Prêmio Nobel da Paz”
Oriente Médio: uma nova chance para a paz
Há 30 anos, a paz batia à porta de israelenses e palestinos com a conclusão do Acordo de Oslo, fruto de negociações conduzidas secretamente na Noruega. Para a história, ficou a imagem do aperto de mão entre Yasser Arafat, líder da Organização para a Libertação da Palestina, e Yitzhak Rabin, primeiro-ministro de Israel, nos jardins da Casa Branca, sob o olhar de Bill Clinton. Os dois seriam agraciados com o Prêmio Nobel da Paz de 1994 como símbolos de uma reconciliação. Continue lendo “Oriente Médio: uma nova chance para a paz”
Ao Direito o que é do Direito
O ministro Edson Fachin assumiu a presidência do Supremo Tribunal Federal em meio a enormes expectativas. Com seu estilo discreto, Fachin toma para si a missão de restaurar a autocontenção do Supremo e de reafirmar valores como moderação, transparência, separação de poderes e decisões colegiadas. Tempos de comedimento e austeridade se anunciam. Emblemática a sua recusa de realizar a festa de posse, tradicionalmente financiada por lobby de associações de juízes. Continue lendo “Ao Direito o que é do Direito”
A sentença que encerra um ciclo
Pela primeira vez, a Justiça brasileira levou ao banco dos réus e condenou generais de quatro estrelas e um ex-presidente da República por tentativa de golpe. Um feito inédito, com profundo significado histórico. Mais do que isso: o Brasil está virando uma página de sua história, que atribuía às Forças Armadas o papel de tutora e guardiã moral da Nação. Continue lendo “A sentença que encerra um ciclo”
A política está nos reels e no TikTok
A política contemporânea já não é encenada apenas nos palanques, nos plenários ou nos telejornais. A proliferação dos vídeos curtos, em formato vertical, sinaliza uma transformação estrutural na mediação entre representantes e representados. É uma linguagem concebida para o celular — para ocupar a palma da mão e infiltrar-se na intimidade da nossa rotina. Assistimos ao político no ônibus, na fila do banco, durante as refeições — e, muitas vezes, no exato instante em que ele publica sua mensagem. Continue lendo “A política está nos reels e no TikTok”
Emanoel Araújo, o legado que resiste e inspira
Neste 7 de setembro, completam-se três anos da morte de Emanoel Araújo, artista, curador e fundador do Museu Afro Brasil. Sua ausência ainda ressoa, mas sua obra segue viva, inspirando novas gerações e lembrando-nos do poder transformador da cultura. Continue lendo “Emanoel Araújo, o legado que resiste e inspira”
Fim de um ciclo na esquerda latino-americana
Depois de 20 anos termina o poder do Movimento ao Socialismo (MAS) de Evo Morales. Pela primeira vez em duas décadas a esquerda ficará de fora da disputa da presidência da Bolívia, na qual o segundo turno será disputado entre um candidato de centro-direita e outro de direita. A simbologia da derrota transcende as fronteiras da Bolívia. Representa uma espécie de pá de cal em um projeto que galvanizou corações e mentes na América do Sul e levou a esquerda a subir no poder na Venezuela, Equador, Argentina, Bolívia e Brasil, conhecido como bolivarianismo e chamado por seu fundador, Hugo Chàvez, de “socialismo do século XXI”. Continue lendo “Fim de um ciclo na esquerda latino-americana”
A crise semiterminal do bolsonarismo
Até recentemente Jair Bolsonaro era a grande liderança do campo da direita e o bolsonarismo sua principal força orgânica, capaz de encher as ruas com multidões. Esse capital político é coisa do passado. Hoje, está encurralado em um labirinto de crises judiciais, fragmentação interna e rejeição popular. A imagem do mito — como seus seguidores o aclamavam — foi substituída pela de um político que só pensa em seus interesses pessoais e nos de seu clã. Os brasileiros percebem isso, como revelou a última pesquisa Quaest, na qual sete em cada dez entrevistados avaliam que Eduardo Bolsonaro defende os interesses do pai e da família, e não os do Brasil. Continue lendo “A crise semiterminal do bolsonarismo”
Brasil e Estados Unidos: dois séculos de aproximação e o risco de ruptura
As relações entre Brasil e Estados Unidos atravessaram mais de dois séculos, combinando afinidades ideológicas, interesses estratégicos, trocas econômicas e culturais — mas também períodos de distanciamento, desconfiança e, mais recentemente, choques abertos. Desde o século XIX, a convivência entre as duas maiores potências do continente oscilou entre o pragmatismo diplomático e o idealismo político, sem nunca romper de modo irreversível. A história, no entanto, mostra que essa durabilidade não é garantida: parcerias sólidas também se corroem quando faltam previsibilidade, reciprocidade e visão estratégica. Continue lendo “Brasil e Estados Unidos: dois séculos de aproximação e o risco de ruptura”
O Brasil em um mundo em transição
Ao longo do século XX os Estados Unidos foram o principal parceiro do Brasil, do ponto de vista comercial e geopolítico. Essa relação se acentuou após a II Guerra Mundial, da qual os EUA saíram como a principal potência econômica e militar do planeta. Nossas relações, apesar da assimetria de poder entre as duas nações, foi por décadas funcional: o Brasil buscava desenvolvimento econômico, segurança e inserção internacional; os EUA queriam estabilidade política e aliados firmes. Continue lendo “O Brasil em um mundo em transição”
Trump e a transição geopolítica
Desde o fim da II Guerra Mundial, os Estados Unidos assumiram um papel sem paralelo na história contemporânea: o de arquitetos e garantidores de uma ordem internacional baseada em instituições multilaterais, economia de mercado, segurança coletiva e valores liberais. Não se tratava apenas de poder militar ou hegemonia econômica — embora ambos fossem expressivos. Tratava-se, sobretudo, da capacidade de oferecer ao mundo um projeto, uma promessa de estabilidade e progresso. Continue lendo “Trump e a transição geopolítica”

