Más notícias do país de Dilma (103)

As más notícias se sucedem numa velocidade estonteante. Os jornais da sexta-feira passada, dia 7, trouxeram a informação de que uma das maiores agências de classificação de risco dos investimentos, a Standard & Poor’s, havia posto o Brasil em perspectiva negativa, devido à deterioração das contas públicas, do PIB fraco e da inflação alta.

Na mesma sexta, o IBGE divulgou que o IPCA, o índice oficial de inflação, fechara maio em 3,7%; no acumulado dos últimos 12 meses, a alta chegou a 6,50% exatamente no teto da meta estabelecida pelo governo, de 4,5%, com tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Desde março, quando atingiu 6,59%, a taxa em 12 meses está perto do teto da meta.

Crescimento pífio da economia, inflação alta, contas públicas deterioradas.

No sábado, a Folha de S. Paulo divulgou nova rodada de pesquisa do instituto Datafolha, mostrando que a popularidade da presidente Dilma Rousseff caiu pela primeira vez desde o início do governo, de 65% em março para 57% em junho. A popularidade caiu em todas as faixas etárias e de renda, em todas as regiões do país.

Pode não ser necessariamente uma má notícia para o Brasil, mas que é uma péssima notícia para o governo, não tem jeito de não se admitir.

Teve mais, nestes últimos sete dias. O Risco Brasil sobiu 25% em um mês e é o maior em um ano. Levantamento do jornal O Globo mostrou que os subsídios e incentivos dados pela atual administração vão retirar R$ 50 bilhões do próximo governo em seu primeiro ano. Reportagem de Sabrina Valle no Estadão mostrou que, ao contrário do que a Petrobrás vem alegando, a oferta de mais de US$ 1 bilhão pela refinaria de Pasadena, no Texas, foi negociada pela estatal desde o começo da transação.

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Diante de tanta má notícia, seria de se esperar que o governo emitisse sinais de que percebe que a condução da política econômica está errada, e de que está disposto a mudar. No Estadão, Rolf Kuntz, um dos mais bem preparados jornalistas da área econômica do país, chegou a listar cinco notícias positivas nas últimas semanas: sinais de ataque mais firme à inflação, com o Banco Central elevando os juros; a promessa de prioridade ao investimento; sinais, ainda que leves, de recuperação na indústria; melhora na balança comercial; e o início de uma pressão empresarial por mais e melhores acordos de comércio. No seu artigo, no entanto, o próprio jornalista mostrou que todas essas boas notícias devem ser vistas com muitas ressalvas.

No Globo, Carlos Alberto Sardenberg resumiu bem o que está pela frente: ou o governo escolhe um caminho à la Palocci, ou um caminho à la Cristina Kirchner.

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Pois um conjunto de outras notícias, todas dos últimos sete dias, dá as indicações de para onde Dilma Rousseff quer caminhar:

* o governo inventou uma nova agência, na área de agricultura, que vai dar emprego para mais 130 petistas, ao custo de R$ 1,3 bilhão por ano;

* o governo ampliou a dívida pública para injetar mais R$ 15 bilhões no BNDES; é apenas um primeiro aporte – o total esperado é de R$ 35 bilhões; como se sabe, novos aportes ao BNDES vão pressionar ainda mais a dívida pública e a inflação;

* na quarta-feira, dia 12, batendo bumbo como sempre para as câmaras de TV, Dilma Rousseff anunciou novo programa de estímulo ao consumo, o Minha Casa Melhor; financiamentos no valor total de R$ 18,7 bilhões serão oferecidos aos clientes do programa Minha Casa, Minha Vida para comprar móveis e eletrodomésticos. Poderão ser beneficiados 3,4 milhões de famílias, segundo estimativa oficial. Como sintetizou o Estadão em editorial, é mais um ato populista, eleitoreiro – e as contas públicas que se danem.

Pior ainda: na mesma cerimônia de bateção de bumbo, a presidente Dilma Rousseff esbravejou que tudo vai bem com as contas públicas, que a inflação está sob absoluto controle – e que o que há de errado no Brasil é quem diz que há problemas.

É fantástico, isso. Eles fazem as asneiras, as trapalhadas, as idiotices, e a culpa é nossa, de quem não aplaude o que eles fazem!

“Nós estamos bombando. Não há nada grave na economia. Passou a tempestade”, disse o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, segundo transcrito na coluna Panorama Político de O Globo.

É. O pior cego é mesmo aquele que não quer ver.

Talvez a pior das tantas más notícias da semana seja mesmo a de que a presidente acha que está tudo bem.

Aí vai a 103ª compilação de notícias e análises que comprovam a incompetência do lulo-petismo como um todo e do governo Dilma Rousseff em especial. Foram publicadas entre os dias 7 e 13 de junho.

O Brasil em baixa

* Agência de classificação de risco põe Brasil em perspectiva negativa por causa da piora fiscal, PIB fraco e inflação alta

“Uma combinação de fraco crescimento da economia, pressão inflacionária, política fiscal expansionista e perda de credibilidade na política econômica brasileira levaram ontem (6/6) a agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) a colocar a nota dos títulos da dívida brasileira em perspectiva negativa, o primeiro passo para cortá-la. É a primeira vez que isso acontece desde 2002, quando a expectativa de vitória de Lula nas eleições provocou forte turbulência no mercado financeiro e o dólar chegou próximo dos R$ 4.

O Brasil tem atualmente classificação de risco (o chamado rating) de ‘BBB’ pela S&P, o chamado ‘grau de investimento’, referência usada pelo mercado para avaliar se o país é seguro para investir. ‘O crescimento da economia do Brasil tem sido baixo e a resposta do governo tem sido uma política fiscal mais expansiva, com deterioração do superávit primário. O problema é que o investimento privado não está se desenvolvendo e a melhora no primeiro trimestre veio de uma base baixa de comparação. A estratégia do governo não tem funcionado e cria incertezas daqui para frente’, disse Sebastián Briozzo, diretor responsável pelo rating do Brasil na S&P, em entrevista ao Globo.

“Em comunicado ontem (6/6), a S&P afirmou que o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país) deve crescer 2,5% neste ano, no que seria ‘seu terceiro ano de crescimento econômico modesto’. A agência culpou os atrasos no estímulo ao investimento privado – especialmente na área de infraestrutura – pelo baixo crescimento. A agência não descarta a hipótese de um rebaixamento num prazo de até dois anos.

“‘Nós poderíamos rebaixar o rating de crédito do país nos próximos dois anos se continuar o crescimento econômico lento, os fundamentos fiscais e externos mais fracos e a perda de credibilidade na política econômica’, informou. Ainda assim, a agência ponderou que também pode revisar a perspectiva para ‘estável’ caso perceba iniciativas do governo capazes de gerar maior confiança no setor privado e, portanto, maior crescimento.

“A decisão provocou um efeito cascata sobre as notas de risco das empresas brasileiras. Ontem, a S&P também colocou em perspectiva negativa o rating das estatais Petrobras e a Eletrobras. Em maio, a petro6leira levantou US$ 11 bilhões no mercado internacional de dívida, na maior operações de uma empresa de país emergente da história.

“O Brasil conquistou o grau de investimento cinco anos atrás. E foi a própria S&P quem concedeu o status ao país. Desta vez, ela também colocou o rating em moeda local (classificado como ‘A-’) em perspectiva negativa. Além da S&P, o Brasil tem nota de grau de investimento por Fitch e Moody’s.” (Bruno Villas Boas, Daniel Haidar, Martha Beck, Cássia Almeida, O Globo, 7/6/2013.)

* Revista Economist parte para a gozação e pede que Dilma mantenha Mantega

“A Economist recorreu à ironia ao fazer um balanço conjuntural da economia brasileira, reacendendo a controvérsia, ocorrida em dezembro passado quando sugeriu que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, fosse demitido. Segundo a publicação britânica, o pedido, com ampla repercussão na imprensa brasileira, teria justamente levado Dilma Rousseff, por obstinação, a manter o ministro no cargo. Insinuando que a presidente segue na direção inversa às sugestões da revista, a Economist sugere agora que a presidente o mantenha na Fazenda: ‘Conclamos que a presidente mantenha-no a qualquer custo: ele é um sucesso’.

“Segundo a Economist, pressionado pela crise global, o governo abandonou o caminho virtuoso do controle fiscal, cortes de gastos, controle da inflação, ao apoiar uma saída da crise por meio do estímulo ao consumo. O resultado, após o esgotamento da política de incentivos, foi um crescimento baixo e inflação alta.

Já o site da CNN, na série de reportagens sobre o país, questiona se o Brasil tem fôlego para ser o “B” dos Brics, devido ao pífio crescimento previsto para este ano.” (O Globo, 7/6/2013.)

* Agência piora perspectiva para 11 bancos brasileiros; ações da Petrobrás e Eletrobrás caem

“Um dia depois de a agência de classificação de risco Standard & Poor”s (S&P) colocar em perspectiva negativa a nota dos títulos da dívida brasileira, os efeitos da medida atingiram estatais e bancos e já ameaçam prejudicar a retomada da captação de empresas brasileiras no exterior. Petrobras e Eletrobras, que já tinham tido sua nota colocada sob revisão na quinta-feira, registraram queda acentuada de suas ações em Wall Street, os ADRs. Os papéis da Eletrobras tombaram 5,93% e os da Petrobras, 3,31%.

“Ontem (7/6), foi a vez de a agência ameaçar o corte da nota de 11 instituições financeiras, incluindo gigantes como Banco do Brasil, Bradesco, Itaú Unibanco, Santander Brasil e BNDES. Em comunicado, disse que a probabilidade de rebaixar a nota das instituições seria de 33% nos próximos dois anos, a mesma dos títulos brasileiros. Para especialistas, a revisão deve encarecer o custo de captações de bancos e empresas no exterior e limitar a oferta de recursos usados para emprestar a clientes ou investir em novos projetos. Estão na fila para acessar o mercado externo nas próximas semanas Caixa Econômica Federal (CEF), Banco do Brasil, BNDES e Odebrecht Óleo e Gás.

“No comunicado, a agência colocou em perspectiva negativa a nota de risco do Banco do Nordeste, Citibank, Itaú BBA, HSBC Brasil, Allianz Global Brasil e BM&FBovespa. Das 11 instituição, dez têm nota de risco ‘BBB’ na S&P, a mesma dos títulos soberanos brasileiros, classificados como ‘grau de investimento’. Exceção é a BM&FBovespa, com nota ‘BBB+’.

“Ao ameaçar o corte da classificação de risco do Brasil, a S&P citou fatores como o fraco crescimento da economia, pressão inflacionária, política fiscal expansionista e perda de credibilidade da política econômica. O movimento negativo ocorre num cenário de recuperação da economia americana, o que pode levar o Federal Reserve (Fed, banco central americano) a reduzir estímulos, com a redução do programa de recompra de títulos públicos, os chamados tresuries .

“Flavia Cattan Naslausky, diretora de Renda Fixa para América Latina do Royal Bank of Scotland, avalia que há risco real de o Brasil perder o grau de investimento. ‘O próximo ano tem eleições, é um ano perdido em termos de mudança de política econômica. O cenário mais otimista é que, após as eleições, vai ter uma correria no governo para não perder o grau de investimento’, diz Flavia, que já citava no ano passado a hipótese de revisão do rating do país.” (Bruno Villzs Bôas e Daniel Haidar, O Globo, 8/6/2013.)

* Várias más notícias reforçam os sinais dados por outros indicadores que vêm piorando há um bom tempo

“Foi uma semana ruim para a economia brasileira. O Banco Central reconheceu que a inflação está alta e deve subir mais os juros; a S&P colocou a nota do país em viés negativo; o IPCA voltou ao limite da meta.

“As notícias reforçam sinais dados por outros indicadores que vêm piorando há um bom tempo. O PIB desacelerou, a balança comercial encolheu, as taxas de poupança e de investimento caíram.

“A bolsa não reage e continua longe do recorde de 73 mil pontos. Caiu ontem a 51 mil. A indústria continua 1,8% abaixo de maio de 2011. O déficit em conta corrente chegou a 3% do PIB e já não é mais inteiramente financiado pelo Investimento Estrangeiro. Voltamos a depender de capital especulativo.

“Vários setores ficaram muito tempo travados. Aconteceu com o petróleo e ainda acontece com a mineração. O setor de energia mudou o marco regulatório em tempo recorde e gerou insegurança.

“O estímulo ao consumo elevou as dívidas, e a inadimplência subiu no melhor momento do mercado de trabalho. A inflação tem tirado o ímpeto do consumo. Não são poucos os sinais de que algo está fora do lugar.

“O economista Mário Mesquita, ex-diretor do BC e sócio do banco de investimentos Brasil Plural, avalia que, de tudo, a política fiscal foi a que mais perdeu credibilidade. Mesquita lembra que hoje é preciso expurgar números para se saber qual é o superávit primário e explica que a dívida líquida deixou de ser referência: ‘Houve abalos ao tripé macroeconômico sem que se tenha colocado nada no lugar. Enquanto a dívida líquida descontava as reservas, era uma coisa. Agora, descontam-se empréstimos a entidades públicas. Começou em 2010. O governo vai usar bônus do pré-sal para ajudar no primário. Vamos queimar poupança para financiar gasto corrente. As contas estaduais, pouco a pouco, estão perdendo as amarras.’

“Pelo lado positivo, ele cita que melhoraram as reservas cambiais, a taxa de desemprego, e a confiança dos consumidores tem se sustentado. Mas, no conjunto, há muito mais indicadores que ficaram piores nos últimos anos. ‘A política monetária deu sinais de que está preocupada com a credibilidade. Mas, no lado fiscal, ainda não há nenhuma indicação disso.’” (Álvaro Gribel e Valéria Maniero, O Globo, 8/6/2013.)

* Risco Brasil sobe 25% em um mês e é o maior em um ano

“O aumento da desconfiança internacional com o Brasil começa a aparecer nos números. Diante do desconforto com a economia nacional, que culminou na recente piora da perspectiva da avaliação brasileira, o risco país passou a crescer rapidamente nas últimas semanas. Levantamento feito pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, mostra que o índice que mede a desconfiança internacional com o Brasil voltou à casa dos 200 pontos-base e está no maior patamar desde junho de 2012.

“Calculado pelo banco JP Morgan, o índice Embi+ mostra a diferença de rentabilidade entre os papéis da dívida de um país na comparação com os Estados Unidos. Quanto pior a desconfiança dos investidores com um emissor, maior será o juro exigido para emprestar e, por isso, mais elevado será o risco país.

“No caso brasileiro, o indicador está em clara tendência de alta. Passou de 173 pontos-base em 30 de abril para 202 em 31 de maio, 210 em 6 de junho (data do anúncio da mudança de perspectiva pela Standard & Poor’s) e 218 na sexta-feira. Esse é o maior patamar desde 28 de junho de 2012, quando o índice fechou o dia aos 219 pontos.

“Apenas na quinta-feira, o risco Brasil subiu 2,4%. No acumulado da semana passada, a alta é de 8% e a subida alcança 25% no acumulado de 30 dias. Em pouco mais de seis meses de 2013, a alta atinge 47%.

“O movimento de piora do risco país não é exclusividade brasileira. Outros emergentes têm movimento idêntico. No acumulado de 30 dias até a quinta-feira, o risco subiu 45% para a Colômbia, 35% para o Peru, 31% para a África do Sul, 26% para o México e 19% para a Rússia.

“Economistas dizem que a principal razão para esse movimento é global e está relacionado à perspectiva de mudança da política monetária dos EUA. Após anos de dinheiro fácil e juros baixíssimos, a abundância de dinheiro ao redor do planeta fez com que as taxas caíssem nos principais mercados internacionais – isso ajudou na tendência de queda do risco país pelo planeta nos últimos anos.” (Fernando Nakagawa, Estadão, 11/6/2013.) 

A inflação alta

* IPCA sobe 0,37% em maio e volta a bater no teto da meta

“Com forte desaceleração nos preços dos alimentos, a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA, usado nas metas do governo) fechou maio em 0,37%, informou ontem (7/6) o IBGE. O resultado veio dentro das expectativas do mercado e bem abaixo dos 0,55% de abril. Foi ainda a menor taxa desde junho de ano passado. Mas, no acumulado dos últimos 12 meses, a alta chegou a 6,50% exatamente no teto da meta estabelecida pelo governo para este ano, que é de 4,5%, com tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Desde março, quando atingiu 6,59%, a taxa em 12 meses está perto do teto da meta.

E analistas prevêem novo estouro este mês, quando a inflação em 12 meses deve chegar a 6,70%, o pico neste tipo de comparação. ‘A inflação dos últimos doze meses ficou no mesmo nível de abril, porque trocamos o IPCA de maio deste ano (0,37%) por um muito semelhante, o de maio do ano passado (0,36%). Agora, vamos substituir a taxa de 0,08%, de junho do ano passado, por uma que ainda está por vir’, explica Eulina Nunes do Santos, coordenadora de Índice de Preços do IBGE.

“Para junho, a previsão dos analistas do mercado é de um IPCA em torno de 0,30%. O mês começa pressionado por aumentos de tarifas públicas, como ônibus urbanos no Rio (7,27%), transporte público em São Paulo (6,75%) e água e esgoto em Belo Horizonte (5,25%). ‘Ônibus do Rio e São Paulo têm peso muito grande. Esses aumentos eram para janeiro e foram adiados, mas vão pesar agora, porque não tem como esconder a inflação. Puxa para lá, puxa para cá, mas uma hora ela aparece’, diz Luiz Roberto Cunha, professor da PUC-Rio.

“O reajuste dos transportes públicos nas duas maiores capitais do país foi adiado após negociação do governo federal com as prefeituras. O objetivo era não pressionar a inflação no início do ano.” (Nice de Paula e Renata Cabral, O Globo, 8/6/2013.)

* A inflação está no gargalo da garrafa e vai saltar desse nível nos próximos meses

“Se prosseguir na venda de ilusões, o governo Dilma dirá, como tem dito, que a inflação de maio (0,37%) foi mais baixa do que a de abril (0,55%); que a alta dos alimentos desacelerou com força e que, por isso, estamos melhorando e tal.

“No entanto, a inflação em 12 meses (6,5%) está no gargalo da garrafa e vai saltar para cima desse nível pelo menos nos próximos três meses. Os efeitos da desoneração da cesta básica já não atuarão sobre a inflação e há os reajustes da condução que começam a pesar.

“Embora um pouco mais contida, a alta continua espalhada demais, na medida em que 63% dos itens que compõem a cesta do custo de vida apresentaram elevação em maio. Enfim, como aponta o Banco Central, a inflação segue resistente, dizimando o poder aquisitivo.

“Se estiver realmente empenhado em virar esse jogo agora adverso, o primeiro passo é admitir a deterioração da economia e tratar de colocar a composição nos trilhos.

“Sempre há aqueles que argumentam que o setor fiscal (contas públicas) está melhor do que em tantos países modelos do mundo; que os juros básicos estão elevados demais quando se comparam com os praticados lá fora e, por isso, teriam de cair; que o Brasil estoca respeitável volume em reservas, de US$ 374 bilhões; e que, embora venha decepcionando, a atividade econômica avança mais do que na maioria dos países ricos, há cinco anos mergulhados na estagnação.

“A atual combinação de políticas vem produzindo fiascos sucessivos quando comparados com os objetivos propostos: crescimento do PIB provavelmente na casa de 2% neste ano, em vez de 4% a 4,5% ao ano; inflação para além dos 6% ao ano, em vez do limite de 4,5%; derrubada do superávit primário (sobra de arrecadação para pagamento da dívida) em vez dos 3,1% do PIB; e rombo crescente nas contas externas (saldo nas Transações Correntes) em vez da relativa estabilidade.

“As depredações de quinta-feira (6/7) na Avenida Paulista em protestos contra a alta das tarifas da condução e o anúncio da perspectiva de rebaixamento da qualidade dos títulos de dívida do Brasil pela Standard & Poor’s são parte do mesmo quadro deteriorado que, felizmente, está longe do que acontece na Argentina, mas que, infelizmente, por lá começou também assim.

“Por enquanto, apenas o Banco Central mudou de comportamento, antes complacente demais. O resto da administração Dilma parece paralisado, em parte porque não aprendeu a livrar-se dos mata-burros ideológicos e, pelos quatro cantos, vê a ação conspiratória dos neoliberais e ‘da finança internacional’ e, em parte, porque não sabe ainda o que fazer.

“Até que ponto o aperto da política monetária (política de juros) será capaz de conter a inflação? Se o Banco Central ficar sozinho na empreitada, poderá alcançar algum sucesso, mas terá de puxar os juros sabe-se lá para que alturas. Falta saber se o governo está disposto a calibrar sua política fiscal nessa direção.” (Celso Ming, Estadão, 8/6/2013.)

De mal a pior

* Governo amplia dívida para injetar mais bilhões de reais no BNDES

“O governo federal começou ontem (6/6) a engordar o caixa do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Por meio de medida provisória, autorizou um aporte de R$ 15 bilhões, que o Tesouro Nacional vai bancar vendendo papéis no mercado para levantar o dinheiro. Ou seja, aumentará a dívida pública para reforçar os cofres do BNDES.

“Ao mesmo tempo, segundo apurou o Estado, a equipe econômica e o Palácio do Planalto estudam, nos bastidores, uma nova injeção de recursos no BNDES no segundo semestre, que pode oscilar entre R$ 15 bilhões e R$ 20 bilhões.

“A operação de ontem é distinta das que o Tesouro fez desde 2009, em resposta à crise. Por meio de capitalizações, como a realizada ontem, o governo melhora o balanço do BNDES, preparando a instituição para regras internacionais de controle de capital mais rígidas que entrarão em vigor no ano que vem, conhecidas como ‘Basileia 3’.

“Já os empréstimos diretos do Tesouro ao BNDES servem para ‘dar musculatura’ ao banco, como afirmou uma fonte do governo. Ou seja: aumenta a capacidade de empréstimo da instituição para estimular a economia e financiar investimentos. Principal agente de crédito de longo prazo no País, o BNDES ganhará importância no segundo semestre, com os leilões de aeroportos, rodovias, ferrovias, portos e petróleo e gás.

“As injeções de títulos públicos do Tesouro no BNDES têm sido prática recorrente nos últimos anos, mas o governo tenta reduzir os volumes. Foram R$ 100 bilhões transferidos em 2009, seguidos de R$ 80 bilhões em 2010, outros R$ 55 bilhões em 2011 e, finalmente, R$ 45 bilhões no ano passado. Todas essas operações se refletiram no aumento da dívida pública federal, mas, por se constituírem em empréstimos, esse dinheiro vai retornar ao Tesouro quando o BNDES iniciar a amortização.” (João Villaverde e Lu Aiko Otta, Estadão, 7/6/2013.)

* Novo aporte no BNDES vai pressionar ainda mais a dívida pública e a inflação

“A MP n° 618, de 5 de junho de 2013,traz uma autorização para novos aportes de recursos fiscais no BNDES, que terão origem na expansão da dívida pública federal, no valor de R$ 15 bilhões, Também há outro montante de endividamento no mesmo valor autorizado para o fim de aumento do capital social da Valec – Engenharia, Construções e Ferrovias S/A, o que significa, em última, instância, que a dívida pública está autorizada a aumentar, novamente, e em um momento em que o Banco Central está a implementar aumento na taxa básica de juros com o objetivo de conter pressões inflacionárias» : A medida é, nesse sentido, contraditória, e reforça que as políticas macroeconômicas do atual governo, no campo fiscal, não se moveram em ‘um milímetro’ sequer,

“Além disso, a MP n.° 618 traz outras mudanças que estão passando despercebidas até o momento, A primeira delas envolve a Caixa Econômica Federal e a segunda, as contas públicas municipais. O artigo 5º da referida MP autoriza a União substituir créditos que foram por ela adquiridos da Caixa, decorrentes de operações desse banco público com o FGTS, por novos créditos, com correção, no caso da substituição, pela taxa Selic, desde a data da aquisição, descontados os recebimentos ocorridos no período. Essa ação sugere que pode haver buracos muito maiores, nas contas públicas, do que as estatísticas oficiais estão a apontar, ou não haveria necessidade de autorizar a ‘troca de créditos’.

“Quanto à mudança referente às contas municipais, o artigo 6º da MP autoriza que ‘as receitas provenientes da outorga onerosa do direito de construir e de alteração de uso, das operações urbanas consorciadas e da transferência do direito de construir’ sejam excluídas do cálculo da Receita Líquida Real (RLR). Isso significa que o serviço da dívida municipal com a União, que hoje  é calculado em porcentagem da RLR, ao passar a não contemplar essas receitas, deixará eventuais fluxos futuros associados a essas rubricas livres do compromisso com o pagamento da dívida.

“O benefício é direto para o município de São Paulo, que enfrenta uma situação fiscal  limite, de fato, do ponto de vista do espaço orçamentário para investir. Entretanto, em lugar de alterar a regra de indexação da dívida dos Estados e municípios com a União, o governo acena com esse paliativo, inserido de maneira quase ‘alienígena’ no meio da MP n.° 618, com o objetivo estrito de beneficiar a capital paulista.

“Em suma, trata-se de mais uma ação fiscal expansionista, no seu conjunto, em particular pelas emissões autorizadas para o BNDES e a Valec, o que pressionará a dívida pública, a política fiscal e a inflação, além de promover desordem nas regras do jogo fiscal federativo.” (Felipe Salto, economista, Estadão, 7/6/2013.)

* Governo inventa uma nova agência, que vai dar emprego para mais 130 petistas ao custo de R$ 1,3 bilhão por ano

“O governo lançou ontem (6/6) o Plano Safra 2013/2014 para a Agricultura Familiar, que contará com R$ 21 bilhões. O montante é 288% maior do que o volume disponibilizado na safra de 2003/2004, a primeira do governo do ex-presidente Lula. Naquele ano, o setor contou com créditos de R$ 5,4 bilhões. No evento, a presidente Dilma Rousseff assinou o projeto de lei que cria a Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater). Segundo previsão do ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas, a agência terá 130 funcionários, e o orçamento para 2014 será de R$ 1,3 bilhão. O Congresso ainda terá de aprovar a nova estrutura.

“Vargas disse que a agência seguirá o modelo da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex). Será um serviço social autônomo, pessoa jurídica de direito privado sem fins lucrativos, de interesse coletivo e de utilidade pública.

“A agência vai credenciar as entidades públicas e privadas de assistência técnica e extensão rural, qualificar técnicos e serviços, além de monitorar os resultados. O órgão atuará em parceria com a Embrapa, responsável pela pesquisa agropecuária. O presidente do órgão, Maurício Lopes, reconheceu que há grande carência de técnicos no campo e que a Embrapa ajudará a formar multiplicadores do conhecimento que o órgão acumula.” (O Globo, 7/6/2013.)

* “A farra fiscal é cada vez maior; é inútil o governo rejeitar as avaliações de agências de classificação de risco

“O ministro da Fazenda, Guido Mantega, respondeu com mais uma de suas bravatas à agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P), um dia depois de rebaixada a perspectiva do Brasil de estável para negativa. Segundo ele, a agência terá de mudar sua avaliação para um viés de alta, se isso depender da perspectiva econômica do País. A economia brasileira, argumentou, teve um ‘desempenho razoável’ no primeiro trimestre e há sinais de crescimento maior no segundo.

“É um arrazoado estranho. Depois de dois anos de estagnação, seria necessária uma expansão muito superior a 0,6% num trimestre para caracterizar uma evolução ‘razoável’. Se o Produto Interno Bruto (PIB) crescer 3% neste ano, a expansão no triênio terá ficado em pífios 2,2% ao ano.

“Além disso, o ministro Mantega descartou muito facilmente outros pontos. Ao adotar o viés de baixa, os avaliadores levaram em conta o risco de uma piora das contas públicas, já comprometidas pela combinação de excesso de gastos com desonerações mal planejadas. Somaram a isso a preocupação com o rápido aumento das operações dos bancos públicos e com o seu risco de crédito. Além disso, a justificativa da agência menciona também o baixo nível de investimentos e a fraqueza das exportações.

“O anúncio da S&P coincidiu com a divulgação de duas más notícias sobre as contas públicas. Autorizado pela Medida Provisória (MP) 618, o Tesouro Nacional deverá repassar mais R$ 15 bilhões ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e uma quantia igual à Valec.

“Esse dinheiro será levantado com mais endividamento, por meio da colocação de títulos federais no mercado. A transferência será feita por meio de um empréstimo sem prazo de vencimento. O governo poderá disfarçar outros efeitos, contabilmente, mas o impacto sobre a dívida bruta do Tesouro será evidente, e esse é o ponto mais relevante para os credores e demais agentes do mercado.

“Além disso, o BNDES terá um desconto da dívida acumulada com o Tesouro desde 1997. A maior parte dessa dívida corresponde a transferências ligadas ao Programa de Sustentação de Investimentos, instituído em 2009 como instrumento de ação contra a crise. O governo deveria ter encerrado esse programa em poucos meses, mas decidiu renová-lo mais de uma vez. Entre 2009 e 2012 o Tesouro transferiu para o banco R$ 280 bilhões. A MP ainda autorizou o BNDES a descasar ativos e passivos de operações em dólares.

“A outra má notícia reforça as expectativas de um mau resultado fiscal neste ano. O governo só conseguirá fechar suas contas – mesmo abatendo R$ 45 bilhões de investimentos e desonerações da meta fiscal – com a inclusão do bônus de assinatura das licitações do pré-sal na receita do Tesouro. A receita de concessões, inicialmente estimada em R$ 3,3 bilhões, foi revista em maio para R$ 15,6 bilhões, mas poderá ser maior, segundo fontes do Executivo.

“O governo deverá usar, portanto, além dos truques já conhecidos, a contabilização de uma receita meramente eventual, sem perspectiva de repetição nos próximos anos. Mas a maior parte da gastança financiada pelo Tesouro deverá ser permanente.

“A bagunça fiscal permanece, é indisfarçável e é inútil o governo rejeitar as avaliações de agências de classificação de risco ou de quaisquer outras entidades. Agências como a S&P têm o poder especial de prejudicar governos e países com suas opiniões negativas, certas ou erradas, mas esse é o menor problema. Muito mais grave, com ou sem classificação negativa, é o dano causado pelo manejo irresponsável das finanças públicas.

“O Banco Central voltou a acentuar, na quinta-feira passada (6/6), a importância da política fiscal para o combate à inflação e para a preservação da confiança. Sem isso, ninguém poderá contar com estabilidade de preços nem com os investimentos indispensáveis ao País. A inflação em 12 meses continua no limite da margem de tolerância (6,5%), e os investimentos ainda estão longe do nível mínimo desejável. Nenhum desses indicadores vai melhorar com a farra fiscal.” (Editorial, Estadão, 9/6/2013.)

* Isto, sim, é herança maldita: subsídios e incentivos retiram R$ 50 bilhões do próximo governo em seu primeiro ano

“Os incentivos dados pelo governo da presidente Dilma Rousseff para turbinar a economia — ainda sem muito efeito — vão custar caro para o próximo governo. As sucessivas desonerações e repasses para o BNDES têm impacto sobre as arrecadação para além de 2014 e, segundo especialistas, quando combinados com despesas elevadas, podem se transformar numa herança indesejada. Cálculos feitos pelo GLOBO, com base nas principais renúncias fiscais e nos custos com o BNDES, mostram que o novo governo deixará de contar com cerca de R$ 50 bilhões em seu primeiro ano. Assim, a piora nas contas públicas, um dos motivos citados pela agência de classificação de riscos S&P para pôr a avaliação do Brasil em perspectiva negativa, tende a se acentuar.

“No caso da desoneração da folha de pagamento de mais de 50 setores e produtos, embora oficialmente tenha data para acabar (dezembro de 2014), tem caráter permanente, segundo o próprio ministro da Fazenda, Guido Mantega. A medida gera renúncia anual acima de R$ 20 bilhões. Há ainda o impacto de ações como a redução de tributos sobre a cesta básica, de R$ 7,3 bilhões por ano; sobre tarifas de transporte público, de R$ 1,2 bilhão; o aumento das faixas de enquadramento das empresas no Simples, mais R$ 5,3 bilhões; e mudanças na regra do regime do lucro presumido, de R$ 1 bilhão. Juntas, as medidas representam renúncia de R$ 34,8 bilhões, sendo que o número pode ficar maior considerando que o governo também vem utilizando tributos regulatórios como o IPI e o IOF para calibrar o mercado e adotando incentivos temporários com reflexo nas contas de 2015, como o Reporto e o Plano Nacional de Banda Larga.

“Os especialistas reconhecem que os incentivos têm um papel importante para dar mais competitividade à indústria nacional e elevar os investimentos, mas alegam que o governo age de maneira errática — reduzindo tributos temporariamente e depois prorrogando, como fez com o setor automotivo. E não atua na contenção de despesas. O resultado disso aparece no superávit fiscal primário (economia para o pagamento de juros da dívida pública), que vem sendo cumprido com manobras como a antecipação de dividendos de estatais: ‘Não sei o real valor do superávit primário, pois a cada ano o governo tem feito maquiagem contábil. É como se eu vendesse os meus salários pra mim mesmo e, com o resultado, vou gastar, normalmente em bobagem, isso é uma artimanha’, afirma o economista Joaquim Elói Cirne de Toledo.

“’O ( resultado) fiscal é a grande preocupação para o futuro. E os incentivos do governo não têm conseguido fazer a economia reagir’, disse Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.

“Outra conta salgada vem de subsídios a operações do BNDES. Em 2012, o valor chegou a R$ 12,7 bilhões e, diz o economista Mansueto Almeida, do Ipea, deve se manter alto. O dinheiro do Tesouro é captado no mercado com juro maior que o cobrado pelo banco de fomento. Isso gera um custo e o Tesouro acaba pagando essa diferença. Ou seja, arca com a equalização de parte dos empréstimos do banco.

“Almeida lembra que, em 2009, só R$ 44 bilhões em empréstimos do BNDES eram passíveis de equalização pelo Tesouro. Já este ano o montante é de R$ 320 bilhões. A preocupação com isso já levou o Ministério da Fazenda a editar uma portaria no final do ano passado na qual os subsídios apurados em 2013 e 2014 só precisam ser ressarcidos ao BNDES em 2015. ‘Isso significa que boa parte dessa despesa está sendo postergada para o próximo governo, que vai assumir num cenário de superávit primário menor, despesas correntes elevadas e baixa arrecadação. Ele praticamente não terá espaço fiscal’, explica Almeida.

“Felipe Salto, da Tendências Consultoria, estima que o custo com os subsídios do BNDES ficará em torno de R$ 15 bilhões para os próximos anos: ‘A herança será o desequilíbrio fiscal.’

“A política fiscal pode prejudicar a redução da dívida. A meta de superávit primário deste ano é de R$ 155,9 bilhões (3,2% do PIB), mas o governo adiantou que abaterá R$ 45 bilhões do total e propôs esforço menor de estados e municípios.

“Para Cirne de Toledo, como o governo está economizando menos, a relação entre dívida e PIB pode parar de cair este ano e até subir em 2014. O mercado é mais otimista: projeta estabilização desse indicador a partir de 2016. ‘Nunca vi uma deterioração tão grande das instituições e das contas públicas. A Lei de Responsabilidade Fiscal, na prática, não serve mais para nada’, disse a professora da UFRJ, Margarida Gutierrez. ‘A situação pode piorar. O governo propôs uma Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) acabando com metas de superávit de estados e municípios. O país desistiu de ter política fiscal efetiva.’” (Martha Beck e Henrique Gomes Batista, O Globo, 9/6/2013.)

* Déficit externo do Brasil cresce e preocupa especialistas

“A dificuldade fiscal não será o único problema que o próximo governo herdará do atual. Segundo especialistas ouvidos pelo GLOBO, outro desafio em 2015 será administrar contas externas menos favoráveis e uma inflação em alta. Naquela época, o déficit em transações correntes variou de 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 1997 a 3,9% no ano seguinte. Agora, está em 3,04% do PIB.

“O economista Joaquim Elói Cirne de Toledo diz que a situação externa está se aproximando dos níveis vividos no fim do primeiro mandato de Fernando Henrique, que foi obrigado, no início de 1999, a fazer uma maxidesvalorização do real, pondo fim à estratégia de conter a alta dos preços no país com uma âncora cambial. ‘A situação agora é melhor porque temos mais reservas, mas o discurso é o mesmo. Na época de FH, o governo dizia que o déficit externo de até 2,5% do PIB não era problemático, depois de até 3% e depois acima disso. Deu no que deu’, afirma Toledo.

“Agora, o forte aumento das importações e a remessa de lucros e dividendos para o exterior têm feito com que o saldo em transações correntes piore praticamente todos os meses. A expectativa do mercado é que o resultado fechado do ano seja um déficit de cerca de 3% do Produto Interno Bruto (PIB).

“Segundo ele, o governo alega que o Investimento Estrangeiro Direto (IED) compensa o déficit em conta corrente, mas não é bem assim. Esses recursos de hoje vão virar remessas de lucros e dividendos no futuro, que é um dos pontos que mais prejudicam as contas externas atualmente.

“Para Toledo, o déficit externo pode levar a uma crise cambial, que vai causar forte desvalorização do real. Já o professor Armando Castelar, do Ibre/FGV e da UFRJ, destaca que uma eventual queda da moeda brasileira poderia ser, em parte, compensada por uma desvalorização da dívida pública indexada ao dólar. Por outro lado, prevê que o aumento do envio de lucros e dividendos deve se intensificar e vai piorar as contas externas, que sofre ainda com o aumento das importações. Mas ele não acredita em uma crise cambial na magnitude da vivida no início de 1999.

“O presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e Globalização Econômica (Sobeet), Luis Afonso Lima, diz que além do aumento da remessa de lucros, os investimentos estrangeiros diretos no país não são de qualidade, pois muitas vezes são recursos que apenas não foram até o momento remetidos às matrizes estrangeiras no exterior ou são empréstimos intercompanhias, que não geram, necessariamente, mais competitividade e capacidade produtiva.

“Ele faz um alerta sobre as contas externas brasileiras: ‘Estaremos em uma saia justa em breve por três motivos: maior pressão para a valorização do dólar com a recuperação dos EUA, mais remessas de lucros e queda no preços das commodities.” (Martha Beck e Henrique Gomes Batista, O Globo, 9/6/2013.)

* Aposta em “campeões nacionais” – essa estatização travestida de financiamento de grandes empresas – afeta contas do BNDES

“A venda da Seara pela Marfrig para a JBS, as mudanças na diretoria da Oi e os problemas enfrentados por empresas como Petrobras, Eletrobras e o Grupo EBX, de Eike Batista, já causam um efeito colateral: a piora das contas do BNDES. O banco de fomento, nos últimos anos, optou por priorizar a concessão de empréstimos e a participação acionária em grandes grupos empresariais, para criar os chamados ‘vencedores nacionais’, companhias que passariam a ter porte global. Só que, em momentos de baixa nas ações e menor lucratividade, o banco acaba afetado por estar muito exposto a poucas indústrias.

Além da queda no lucro do banco, essa situação tem impacto no próprio valor do patrimônio da instituição, reduzindo sua capacidade de conceder novos empréstimos. ‘À medida que a economia vai desacelerando, e os ‘campeões’ já não estavam indo bem, com o banco muito exposto a essas empresas, o cenário não é muito bom’, afirma Sergio Lazzarini, do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), autor de ‘Capitalismo de Laços’, livro em que aborda as ligações entre governo e grandes empresas privadas.

“Lazzarini explica que se, no passado, o banco lucrava com os dividendos das empresas nas quais tem participação, essa tendência mudou. Com a economia desacelerando, a perspectiva é lucros menores nas empresas que compõem a carteira do BNDESPar. O braço de participações do BNDES, que sempre respondeu por pelo menos 40% do lucro do banco, viu sua fatia nos ganhos encolher para 3,7% no ano passado.

“O economista Sergio Vale, da MB Associados, prefere chamar a participação via BNDESPar de ‘estatização travestida de financiamento’. ‘Não vejo com bons olhos esse excesso de participação do governo na governança das empresas. A maior parte delas não resultou em nenhum avanço significativo para o país. Pelo contrário, no caso das empresas X (do Grupo EBX, como OGX, LLX e MMX), corre-se um risco maior pelo montante de endividamento a que chegaram essas empresas’, afirmou.

“O lucro líquido do BNDESPar caiu de R$ 4,252 bilhões em 2011 para R$ 298 milhões em 2012, queda de 93,1%. Segundo o próprio balanço da instituição, de um lado, dividendos e juros sobre capital próprio encolheram. Vale, Valepar e Petrobras tinham contribuído com R$ 2,806 bilhões em 2011, por exemplo. Essa contribuição caiu para R$ 1,559 bilhão no ano passado.

“Além disso, há o impacto da perda de valor de mercado dessas empresas na Bolsa de Valores. Segundo o relatório do BNDESPar, houve ‘ajuste de avaliação patrimonial negativo no montante de R$ 2,956 bilhões, decorrente da desvalorização do valor das ações de algumas companhias acompanhando o momento instável do mercado de capitais internacionais’.” (Henrique Gomes Batista, Clarice Spitz, Bruno Villas Bôas e Lucianne Carneiro, O Globo, 11/6/2013.)

Mais demagogia eleitoreira

* Dinheiro do Tesouro para a compra de móveis e eletrodomésticos. Mais um ato populista, eleitoreiro – e as contas públicas que se danem

“O Tesouro terá de subsidiar o novo programa de estímulo ao consumo, o Minha Casa Melhor, lançado ontem (12/6) pela presidente Dilma Rousseff. Financiamentos no valor total de R$ 18,7 bilhões serão oferecidos aos clientes do programa Minha Casa, Minha Vida para comprar móveis e eletrodomésticos. Poderão ser beneficiados 3,4 milhões de famílias, segundo estimativa oficial. Não há relação entre a nova iniciativa e a queda de popularidade da presidente, garantiu o ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro. ‘Estou muito entusiasmada’, disse a empresária Luiza Trajano, presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Varejo. O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, qualificou o programa como ‘positivo’. Ninguém esclareceu, no entanto, se novos incentivos ao consumo contribuirão para aumentar a produtividade, a capacidade de oferta e o poder de competição da indústria, apontados por analistas nacionais e estrangeiros como principais obstáculos ao crescimento do setor e à exportação de bens manufaturados.

“Está prevista, por enquanto, a transferência de R$ 8 bilhões para capitalização da Caixa Econômica. O Banco do Brasil também participará do financiamento aos consumidores, mas apenas como correspondente. O repasse à Caixa será realizado por meio de um instrumento híbrido de capital e dívida, o mesmo usado há poucos dias para a concessão de R$ 15 bilhões, sem prazo de restituição, ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

“O novo programa envolverá, portanto, mais compromissos para o Tesouro, apesar das dúvidas cada vez mais inquietantes sobre a capacidade do governo de alcançar um resultado fiscal razoável neste ano. Também há dúvidas sobre a origem real dos recursos, porque dinheiro do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) tem sido usado há alguns anos, sem muita cerimônia, para custear despesas de responsabilidade de outras fontes.

“Desde março do ano passado o Tesouro deixou de transferir ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço cerca de R$ 4 bilhões relativos aos 10% adicionais recolhidos por demissões sem justa causa. Além disso, o governo tem deixado de cobrir sua parte nos subsídios a famílias de baixa renda participantes do Minha Casa, Minha Vida.

“Mas a presidente Dilma Rousseff mostrou-se, no lançamento do programa, tranquila em relação aos fundamentos da economia. Segundo ela, é importante as pessoas terem uma visão do futuro condizente com a realidade atual. ‘E a situação real’, acrescentou, ‘é de inflação sob controle e contas públicas sob controle.’ Não é esse o cenário apontado pelos principais indicadores divulgados no dia a dia. A inflação é alta e resistente, admitiram os dirigentes do Banco Central, há poucos dias, ao justificar a nova elevação de juros. Negam descontrole, mas ampliaram de 0,25% para 0,5% a elevação da taxa básica, num inequívoco sinal de preocupação. Além disso, qualificaram como expansionista a política fiscal e chamaram a atenção para a importância do cumprimento integral da política fixada para as contas públicas, com superávit primário de 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB).

“Facilitar o acesso da clientela do Minha Casa, Minha Vida a novos móveis, aparelhos de TV, geladeiras, fogões, lavadoras e computadores seria muito mais meritório se essa política produzisse efeitos de longo alcance.

“Tal como foi desenhada, beneficiará alguns setores da indústria e do comércio, mas ficará longe de oferecer uma perspectiva de médio prazo aos empresários, de aumentar sua segurança para o investimento produtivo e de criar condições duradouras para a geração de empregos. Consumirá recursos públicos, no entanto, e tornará mais difícil o retorno a uma política fiscal responsável, condição importante para a expansão econômica segura e para a estabilidade de preços. Valerá por um ano e, com a aproximação das eleições, talvez seja prorrogada.

“É mais um ato populista. Atrairá alguns aplausos, mas de nenhum modo reforçará a abalada credibilidade do governo.

Preços em alta, popularidade em queda

* Mais da metade da população acredita que a inflação vai aumentar; popularidade da presidente cai 8 pontos

“A percepção do aumento da inflação saiu das ruas para as pesquisas dos institutos de opinião. Levantamentos do Instituto Datafolha e do instituto MDA, encomendado pela Confederação Nacional do Transporte, mostram que a população brasileira percebeu aumentos de preços e vê ‘impacto alto’ da inflação na renda das famílias. O movimento acabou se refletindo em queda da popularidade da presidente Dilma Rousseff. Pelo Datafolha, o recuo foi de 65%, em março, para 57%, em junho. Já o MDA aponta redução de 56,6%, em julho de 2012, para 54,2% agora.

“Em pesquisa realizada nos dias 6 e 7 de junho, o Instituto Datafolha apontou que 80% dos entrevistados sentiram aumento de preço dos alimentos. A percepção de preços mais elevados também ocorreu para produtos de limpeza (64%) e itens de higiene pessoal (65%).

“Já na pesquisa do MDA, divulgada ontem (11/6), 36,7% afirmam que o impacto da inflação na renda familiar é alta. Outros 36,6% avaliam esse item como moderado, e 18,6% percebem a inflação com impacto baixo na renda. ‘Os dados da pesquisa convergem para uma percepção de perda do poder de compra, preocupação com a inflação e maior insegurança com a estabilidade do emprego. Isso fez com que uma parcela significativa da população deixasse de apoiar a Dilma neste momento. A questão agora é saber se o recuo de popularidade é momentâneo ou o início de um processo de queda’, afirma o diretor geral do Datafolha, Mauro Paulino.

“Os dados da pesquisa do Datafolha mostram ainda que mais da metade da população (51%) acredita que a inflação vai aumentar, ante 45% em março, e 36% têm expectativa de elevação do desemprego, índice que era de 31% em março. O poder de compra também é motivo de preocupação: 27% vêem piora, contra taxa de 18% em março.

“A expectativa da situação econômica do entrevistado também registrou menor otimismo. A perspectiva de melhora é compartilhada por 56% dos entrevistados, ante 68% em março. A taxa dos que acreditam que a situação ficará como está aumentou de 24% em março para 32% em junho. ‘A crise chegou ao bolso do brasileiro”, afirma Paulino.

“Ele explica que há uma correlação direta entre a economia e a popularidade do governo federal, tanto no Brasil como em outros países. Quando a economia vai bem, a popularidade costuma estar em alta. Se o cenário econômico vai mal, a popularidade sofre.

“Na avaliação de Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Global Partners, o aumento dos gastos com alimentos é a principal razão para essa percepção maior do impacto da inflação entre a população. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), inflação oficial no país, acumula alta de 6,5% nos doze meses encerrados em maio, segundo o IBGE. A inflação de alimentos, no entanto, é mais do que o dobro no período, de 13,53%.

“O mercado financeiro, por sua vez, pouco alterou as projeções para a inflação desde o início do ano. Pelo último Boletim Focus, a inflação pelo IPCA deve ser de 5,80% em 2013 e 5,80% em 2014. No primeiro relatório do ano, as projeções eram de 5,73% e 5,49%, respectivamente. ‘O mercado já via claramente uma inflação forte, mas a população continuava a consumir. Só quando viu que estava gastando mais com alimentos e tinha perda de poder aquisitivo é que começou a se preocupar com a inflação. E claramente se juntou a essa preocupação a disparada do dólar’, aponta Velho.

“’Temos uma inflação consistentemente perto do teto da meta e isso não é apenas em alimentos. Há uma difusão’, avalia Jankiel Santos, economista chefe do BES Investimento.

“Para o presidente do Instituto Vox Populi, Marcos Coimbra, questões econômicas como um todo contribuíram para a queda de popularidade de Dilma, e não apenas a inflação, além de aspectos políticos: ‘No primeiro semestre, o governo foi questionado por uma série de razões, não só pela inflação. Teve baixo crescimento, problemas de infraestrutura, dificuldade de escoamento de safra, boatos sobre Bolsa Família, crises com partidos. Foram muitos fatores de desgaste.’” (Lucianne Carneiro, O Globo, 12/6/2013.)

Sob pressão, Dilma vai mudar?

* Não está dando certo. E aí? Eles vão atrás de um plano B?

“Na última campanha presidencial, o País foi conclamado pela candidata vitoriosa a escolher entre ‘o Brasil que dava errado e o Brasil que está dando certo’. Passados pouco mais de 30 meses, o problema central do governo eleito em 2010 passou a ser evitar que se dissemine no eleitorado o sentimento de que o Brasil não está dando certo.

“No início deste ano, já não havia dúvida de que o desempenho econômico do primeiro triênio do governo Dilma estava fadado a ser muito medíocre. E, como essa perspectiva havia deixado o PT bem apreensivo, o lançamento da campanha presidencial foi antecipado, para conter o ceticismo do partido sobre o projeto da reeleição. Em entrevista ao Globo (28/4), o senador Jorge Viana, prócer inequívoco do PT, confirmou que a antecipação da campanha, patrocinada por Lula, em fevereiro, havia sido ‘um movimento interno para o PT. Como alguns levantavam dúvidas, ele disse que ela era candidata. Com isso liberou a presidente para ficar livre, leve e solta para governar’. Se, de fato, era essa a intenção, o efeito tranquilizador sobre o PT durou pouco.

“O País chega ao final do primeiro semestre com um quadro inflacionário preocupante e perspectivas de expansão da economia cada vez mais desalentadoras. O desempenho do nível de atividade no primeiro trimestre reforçou as previsões de mais um ano de crescimento pífio. A mediana das últimas expectativas de mercado coletadas pelo Banco Central já aponta para uma taxa de expansão do PIB de menos de 2,8% em 2013. O que deixaria a taxa média anual de crescimento do primeiro triênio do governo Dilma em pouco mais que 2,1%.

“É natural que o PT esteja de novo alvoroçado e apreensivo com os riscos da reeleição. Há meses, o partido ainda alimentava a fantasia de que, em 2014, poderia tentar vender ao eleitorado um pacote fechado de 12 anos de governo petista, em que o desempenho sofrível dos quatro anos de Dilma estivesse compensado pelo desempenho dos oito anos de Lula. Mas já percebeu que isso não será tão fácil. Há poucos dias, o próprio presidente do PT reconheceu que o legado de Lula será ‘insuficiente para garantir a reeleição’.

“Na verdade, não é só o PT que vem acalentando a idéia de um plano B. A antecipação da campanha presidencial vem obrigando toda a base aliada – governadores, senadores e deputados – a antecipar seu reposicionamento para as eleições de 2014. E é a incerteza sobre o projeto da reeleição que explica boa parte das notórias dificuldades que a presidente vem enfrentando para manter a base aliada sob controle.

“Em longa entrevista publicada em livro sobre os dez anos de Presidência petista (http://www.flacso.org.br/dez_anos_governos_pos_neoliberais/archivos/10_ANOS_GOVERNOS.pdf), Lula relata de forma muito franca as dificuldades que teve de enfrentar para levar à frente a ideia de lançar Dilma Rousseff como candidata a presidente. ‘Eu sei o que eu aguentei de amigos meus, amigos mesmo, não eram adversários, dizendo: Lula, mas não dá. Ela não tem experiência, ela não é do ramo. Lula, pelo amor de Deus.’ É fácil imaginar, tendo em vista o que se viu nos últimos 30 meses, a pressão que esses mesmos interlocutores estarão fazendo, agora, para que o projeto da reeleição ceda lugar a um plano B.

“Em meio ao clima de desconfiança que vem marcando as relações do Planalto com o PT e a base aliada, a presidente, em atitude defensiva, vem tentando recuar para um círculo mais restrito de auxiliares, com quem teve oportunidade de construir relações mais sólidas. Bem ilustra esse recuo a crescente ascendência que vem tendo o secretário do Tesouro, Arno Augustin, sobre a presidente, graças à confiança mútua desenvolvida entre eles desde a época em que foram ambos secretários do governo Olívio Dutra, no Rio Grande do Sul. Nesse caso específico, é fácil perceber que o recuo da presidente para um círculo mais restrito de auxiliares não é sem custo. Implica grave perda adicional de racionalidade na condução da política econômica.” (Rogério L. Furquim Werneck, economista, O Globo e Estadão, 7/6/2013.)

* “Cinco boas novas, mas com muitas ressalvas”

“Junho começou com cinco notícias positivas – ataque mais firme à inflação, promessa de prioridade ao investimento, sinais de recuperação na indústria, melhora na balança comercial e pressão empresarial por mais e melhores acordos de comércio. Apesar disso, a Standard & Poor’s mudou de estável para negativa a perspectiva do País, alegando baixo crescimento e gasto público excessivo. Convém conferir as novidades positivas.

“1) O Banco Central (BC) aumentou os juros, aparentemente com a concordância da presidente Dilma Rousseff. O novo aumento foi o dobro do anterior. O aperto pode ajudar a restabelecer a imagem de uma política autônoma e baseada em critérios técnicos. A noção de autonomia operacional do BC havia sido prejudicada nos últimos dois anos. A recuperação, se ocorrer, provavelmente ainda levará algum tempo, mas a primeira providência foi tomada.

“Mas pode-se perguntar se o novo aperto, iniciado em abril, é justificável, quando o consumo das famílias parece estagnado. Afinal, cresceu no primeiro trimestre apenas 0,1% em relação aos três meses finais de 2012. Esse argumento é enganador.

“Entre janeiro e março o consumo das famílias foi 2,1% maior do que havia sido um ano antes, enquanto a produção industrial foi 1,4% menor. O consumo do governo superou por 1,6% o de janeiro a março de 2012. Bastariam esses dados para mostrar um grave desequilíbrio entre oferta e demanda no mercado interno.

“A diferença resultou em aumentos de preços e de importações. Além disso, a expansão trimestral do consumo privado foi a 39.º consecutiva, impulsionada pela expansão da massa de salários e do crédito. Em vista da demanda, a ação do BC é plenamente defensável. Mas a eficácia será prejudicada se a política fiscal continuar expansionista. A perspectiva é de mais um ano sem realização integral do superávit primário e de novas transferências do Tesouro às estatais – como os novos aportes de R$ 15 bilhões para o BNDES e R$ 15 bilhões para a Valec.

“2) A cúpula federal resolveu, segundo informação da última semana, atribuir ao investimento a função de motor principal do crescimento. Para isso será necessário, entre outras providências, apressar a execução do programa de concessões na área de infraestrutura, anunciado em agosto de 2012 e até agora empacado.

“A revisão da estratégia, se for real, resultará do mero reconhecimento de um fato bem visível: embora ainda supere a capacidade interna de oferta, o consumo perdeu dinamismo. Seu papel como estimulante do crescimento esgotou-se – e provavelmente já estava esgotado em 2012. Além disso, o descompasso entre consumo e produção industrial era evidente há mais tempo, mas o governo desprezou esse dado.

“A expansão do investimento dependerá tanto do governo quanto do setor privado. Do lado governamental, a tarefa só será cumprida se a administração de programas e projetos melhorar consideravelmente. Há muitos anos o governo mal consegue desembolsar 50% ou 60% das verbas orçamentárias previstas para investimento.

“Entre as estatais, a Petrobrás tem sido responsável por uma fatia entre 80% e 90% do total investido. Mas também suas operações ficam menos bonitas quando examinadas de perto. Basta lembrar a queda de produção, o aumento da importação de combustíveis e lubrificantes e o mau negócio da Refinaria Abreu e Lima. Daí o programa de desinvestimentos.

“3) A produção industrial em abril foi 1,8% maior que em março e 8,4% superior à de um ano antes. De janeiro a abril, ficou 1,6% acima da registrada nos primeiros quatro meses de 2012. Em 12 meses, no entanto, ainda foi 1,6% menor que no período anterior. A melhor parte dessa notícia é a evolução do setor de bens de capital. Em abril os fabricantes de máquinas e equipamentos produziram 3,2% mais do que em março e 24,4% mais do que um ano antes. Mas ainda houve uma queda de 4,4% no acumulado em 12 meses. O setor ainda nem se recuperou do tombo de 2012. A continuidade da recuperação dependerá da confiança dos empresários e, em proporção menor, das possibilidades de exportar. Somando-se os projetos públicos e privados, o investimento continuará, quase certamente, abaixo de 20% do PIB, uma miséria.

“4) Há sinais de melhora na balança comercial, com superávit de US$ 760 milhões em maio, mas o acumulado no ano ainda foi um déficit de US$ 5,4 bilhões. Este resultado e o desempenho da indústria, ruim em 2012 e ainda em lenta melhora, estão claramente vinculados. É cedo para afirmar se o saldo continuará a crescer. De toda forma, o superávit de US$ 15 bilhões previsto pelo BC só será alcançado com um saldo mensal de US$ 2,9 bilhões até o fim do ano. Acredite quem quiser.

“5) Setores da indústria começam a discutir e até a cobrar do governo medidas para uma inserção mais ampla do Brasil nos acordos bilaterais e interregionais de comércio. Reagem, finalmente, a eventos como a formação da Aliança do Pacífico, integrada por Chile, Peru, Colômbia e México, e às negociações das Parcerias Transpacífico e Transatlântica, ambas com participação dos Estados Unidos e de grandes e médias potências comerciais. Acordos parciais de comércio já aumentavam antes da interrupção da Rodada Doha e depois passaram a multiplicar-se mais velozmente, enquanto o Brasil continuou preso a um Mercosul estagnado e a alguns pactos pouco relevantes.

“Para o Brasil, um resultado comercial relativamente modesto neste ano significará um déficit maior em transações correntes, provavelmente superior a 3% do PIB. Não será um desastre, mas a tendência é preocupante. Se o Banco Central continuar disposto a combater a inflação, os riscos à frente poderão ser menores, mas o aperto monetário dificilmente compensará o previsível desarranjo fiscal. O governo parece ter percebido o custo político da inflação, mas ainda se mostra disposto a pagar caro, por outros meios, pela reeleição.” (Rolf Kuntz, Estadão, 8/6/2013.)

* Alguma coisinha mudou. Mas não está claro que o governo esteja decidido a enveredar em direção a uma política econômica mais segura

“Algo mudou na política econômica. Mas será suficiente? O momento pede um choque positivo na economia. Ele virá? Afinal, o que já mudou?

“Apesar de ainda estar sozinho nessa cruzada, o Banco Central, antes tão leniente com a inflação, agora decidiu partir para o ataque.

“Na semana passada, o governo zerou o IOF cobrado na entrada de dólares para aplicações em renda fixa. Por trás da decisão, há uma mudança do jogo. Antes, a enxurrada de dólares Brasil adentro era vista com suspeita porque, em muitos casos, vinha ligada à especulação com juros que, de quebra, provocavam a valorização do real (baixa do dólar) que derrubou a indústria. Agora, os dólares são bem-vindos porque vêm ajudar a cobrir o rombo das contas externas.

“O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciara, há duas semanas, que mudou a ênfase. Antes, a principal preocupação da política econômica foi puxar o consumo para que a produção e o investimento fossem atrás e, assim, houvesse mais crescimento. Mudou, anunciou Mantega, o alvo do governo; a prioridade deixou de ser o consumo das famílias e passou a ser o investimento.

“Pergunta: Esses indícios mostram que o governo Dilma está disposto a uma política fiscal mais responsável e menos baseada em transferências de renda; a uma política monetária (política de juros) mais restritiva; e a propiciar maior equilíbrio nas contas externas?

“O melhor que a presidente Dilma poderia fazer seria divulgar sua própria Carta ao Povo Brasileiro, a declaração solene assinada em 2002 pelo presidente Lula, em que se comprometeu a dar solidez aos fundamentos da economia, especialmente, por meio de uma política fiscal responsável e uma política de juros comprometida com o combate à inflação.

“Embora venha tomando decisões de cunho mais ortodoxo, ainda não está claro que o governo esteja decidido a enveredar em direção a uma política econômica mais segura. O maior objetivo da presidente Dilma é chegar a outubro de 2014 com grande folga nas preferências eleitorais. Por enquanto, a percepção do governo é de que o caminho mais curto é evitar sacrifícios e esperar que a retomada dos investimentos produza frutos.

“No entanto, a prioridade aos investimentos e uma política monetária mais apertada não entregam resultados imediatos. Provavelmente, não antes das eleições, como pretendido.

“Também conspira contra isso uma política econômica de resultados pífios e perigosos, como os apresentados até aqui: crescimento econômico medíocre; inflação no teto da meta que corrói o poder aquisitivo e um rombo alarmante nas contas externas (déficit em transações correntes de 3,0% do PIB).

“Por isso, se puder, o governo tentará evitar o uso de corretivos de custos sociais e políticos mais altos. Acionará os bombeiros onde houver foco de incêndio e procurará restabelecer um mínimo de confiança. E deixará para 2015 a aplicação de eventuais terapias de choque.

“O risco é de que essa estratégia meia-boca não aguente o tranco que vem aí. O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) prepara o desarme de sua política monetária expansionista; os capitais que antes fugiam tendem a procurar ancoragem lá mesmo nos Estados Unidos ou a voar para lá e, assim, fica bem mais difícil garantir financiamento para um rombo externo crescente.” (Celso Ming, Estadão, 9/6/2013.)

* “O voluntarista governo Dilma não está levando a sério os princípios republicanos que pedem austeridade e transparência”

“Em entrevista publicada no Estadão de sábado (8/6), o ex-ministro Delfim Netto advertiu para a inadiável necessidade de arrumar as contas públicas. Sem ajuda da política fiscal, disse ele, o Banco Central será obrigado a puxar os juros básicos para dois dígitos.

“A condução da política fiscal (receitas e despesas do governo) está em deterioração. É o que o Banco Central vem denunciando há meses quando escreve em seus documentos que ‘a política fiscal é expansionista’.

“No final de 2012, a Fazenda recorreu a truques contábeis para fingir que cumpriu suas metas e, neste ano, além de aumentar as despesas mais do que o avanço do PIB, vai antecipando artificialmente as receitas e adiando o que pode as despesas. Além disso, o Tesouro assume compromissos de impacto pouco transparentes sobre as contas públicas, como a derrubada dos juros cobrados nas generosas e pouco explicadas transferências ao BNDES.

“Por declarações do secretário do Tesouro, Arno Augustin, já sabemos que o governo não se sente obrigado a cumprir à risca a Lei de Diretrizes Orçamentárias. Está determinado a operar o fole do Tesouro supostamente como instrumento de políticas anticíclicas, que nunca vão nas duas direções, mas sempre na de maiores despesas.

“A combinação de políticas econômicas do governo Dilma fracassou. Produziu um crescimento econômico pífio, uma inflação que agora vai perfurando o teto dos 6,5% em doze meses, um rombo crescente nas contas externas e uma indústria cada vez mais atacada pela osteoporose econômica.

“Para uma decisiva correção de rumos, não basta a reconversão do Banco Central a sua função original de guardião da moeda, da qual estava afastado. Seus dirigentes acreditaram nas juras das autoridades do Ministério da Fazenda de que praticariam uma política fiscal responsável capaz de garantir um superávit primário (sobra de arrecadação para pagamento da dívida) de 3,1% do PIB, ou de R$ 155,9 bilhões neste ano. Vai ser preciso que o Tesouro faça a sua parte.

“Quanto mais austeridade obtiver na condução de sua política fiscal, mais autonomia o governo reconquistará para cumprir seus objetivos. Terá mais fôlego para conduzir sua política social; terá mais espaço para reduzir os juros (ou não aumentá-los); mais recursos sobrarão para o investimento público; e mais folga terá para conduzir uma política cambial mais adequada para os interesses do sistema produtivo.

“Uma das razões pelas quais a agência de classificação de risco Standard & Poor’s avisou que o Brasil está para perder o grau de investimento para seus títulos é essa deterioração da administração fiscal. E a perda do grau de investimento implica alta dos juros cobrados não só pelos títulos públicos, mas também pelas dívidas do setor privado.

“O voluntarista governo Dilma não está levando a sério os princípios republicanos que pedem austeridade e, sobretudo, transparência na condução dos recursos que são de toda a Nação e não instrumento de experimentação dos governantes da hora. A forte perda de apoio político que a presidente Dilma vai amargando tem a ver com tudo isso.” (Celso Ming, Estadão, 11/6/2013.)

* Perdido, incapaz de trocar o populismo, o fisiologismo e o voluntarismo por uma política econômica digna desse nome, o governo improvisa

“A melhor imagem de um governo perdido é a fotografia da presidente Dilma Rousseff publicada nesse domingo (9/6) no caderno de Economia e Negócios do Estado. Cabisbaixa, com a face apoiada na mão direita, olhar vago e expressão de desalento, sua figura é a ilustração perfeita para a principal cobertura econômica da edição – uma entrevista com um ministro da Fazenda acuado pelos fiascos e uma coleção de notícias e comentários sobre os tropeços federais. ‘O governo perdeu o rumo’, sintetiza o título de um artigo do economista José Roberto Mendonça de Barros. A equipe econômica, informa outro texto, desistiu de anunciar metas ou previsões de crescimento, exportação, arrecadação, inflação e até de prazos para concessões de serviços de infraestrutura.

“Apesar dos fracassos, tudo vai bem, recitam os funcionários mais importantes, mas o ministro Guido Mantega, entrevistado, recusou-se a formular uma nova previsão para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, alegando o temor de ser ‘linchado em praça pública’, se o número final apurado for diferente do projetado. Com um pouco mais de ousadia, a secretária de Comércio Exterior, Tatiana Prazeres, havia reiterado no começo do mês a expectativa de exportações em ‘patamar elevado, semelhante aos de 2011 e 2012’.

“Mas o valor exportado em 2012 foi inferior ao de 2011 e o deste ano, até maio, ficou abaixo do de um ano antes. Na melhor hipótese, portanto, repete-se o número de dois anos atrás?

“Também no domingo, O Globo destacou a herança fiscal prevista para o próximo governo: subsídios ao BNDES e incentivos fiscais devem retirar R$ 50 bilhões do próximo governo em seu primeiro ano. A desordem nas contas públicas, lembra a reportagem, foi uma das razões alegadas pela agência Standard & Poor’s para impor um viés de baixa à perspectiva econômica do Brasil – tema inicial da entrevista do ministro Mantega ao Estado. No mesmo dia, reportagem da Folha de S.Paulo vinculou à perda de popularidade e aos riscos eleitorais a mudança de política ensaiada pelo governo com a elevação dos juros básicos e a decisão de retorno ao câmbio flutuante.

“A coincidência dos temas está longe de ser uma casualidade e tampouco resulta de uma conspiração da imprensa burguesa contra a reeleição da presidente. A cúpula do governo, segundo informaram fontes federais há mais de uma semana, percebeu o custo político da inflação elevada e resistente e decidiu aceitar o aperto mais forte da política monetária.

“Essa mesma cúpula notou, com certeza, os sinais de mudança no mercado financeiro internacional e decidiu facilitar o ingresso de capital – um ato preventivo, em face do risco de um déficit crescente nas transações do Brasil com o exterior.

“O governo, portanto, tem noção dos fracassos, fareja perigos e até encontra justificativas para ensaiar mudanças políticas sem admitir os erros, mas, apesar disso, continua incapaz de encontrar um novo rumo. Sua política fiscal permanece desastrosa. A gastança prejudica a eficácia da política monetária e dificulta o combate à inflação. A alta de preços, na versão oficial, perde impulso e em breve o problema terminará. Mas os fatos contrariam essa versão, porque desajuste real é muito mais grave que um choque de preços de efeito passageiro.

“Incapaz de trocar o populismo, o fisiologismo e o voluntarismo por uma política econômica digna desse nome, o governo insiste na improvisação já denunciada até por alguns de seus técnicos. As desonerações devem chegar a R$ 72,1 bilhões neste ano e a R$ 91,5 bilhões em 2014, disse ontem o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland. Na semana passada, medida provisória sobre transferências ao BNDES já havia prenunciado mais buracos no Tesouro. De improvisação em improvisação, o governo continua desmontando os fundamentos da economia e compondo uma herança maldita para o próximo governo. Chega a parecer estranho a presidente insistir nessa política e ainda pretender a reeleição. Ou será apenas mais um desatino?” (Editorial, Estadão, 11/6/2013.)

* Dilma teria que escolher uma saída ‘tipo Palocci’ ou ‘tipo Cristina’. Alguém tem dúvida de qual ela prefere?

“A presidente Dilma tem uma saída tão simples quanto eficiente para escapar da confusão em que se meteu: basta chamar o Palocci, nomeá-lo chefão de toda a área econômica e dizer, na posse, que ele tem plena liberdade para aplicar um poderoso ajuste nas contas públicas. Sou capaz de apostar uma garrafa de vinho (selecionada pelo Renato Machado) que o risco Brasil e os juros cairiam no mesmo dia.

“Não seria um gesto assim tão fora de propósito. Na verdade, Dilma estaria simplesmente repetindo o que fez seu mentor, Lula, no começo do primeiro mandato, em 2003. Lembram-se? Palocci, então ministro da Fazenda, produziu um superávit primário maior que o obtido no governo de FHC. O Banco Central, com Henrique Meirelles, elevou a taxa básica de juros, tudo isso criando as bases para um bom ambiente macroeconômico.

“Verdade que deram uma enorme sorte. O mundo desandou a crescer e a China multiplicou por 40 suas importações do Brasil. Mas se a casa aqui não estivesse em ordem teria sido impossível aproveitar a bonança externa. Como, aliás, a presidente Dilma não aproveitou a enxurrada de capitais e o bom momento dos emergentes nos últimos anos – mamata que está acabando.

“Mas sabemos das dificuldades. Começa que a presidente Dilma não admite haver problemas em sua política econômica. Ainda ontem voltou a dizer que está tudo em ordem, inflação controlada, país crescendo e tudo o mais.

“Deve ser, entretanto, só da boca para fora. Não é possível que não estejam vendo os dados que mostram PIB para baixo e preços para cima, mais o dólar escalando e o aumento do déficit externo. Não é possível que acreditem mesmo nas lambanças contábeis que fazem as contas públicas parecerem equilibradas.

“Notícias de debates dentro do governo têm vazado para os jornalistas. Enfim, é evidente mesmo para os economistas mais próximos do governo que algo precisa ser feito. E algo mais profundo do que, por exemplo, a simples retirada do IOF para aplicações estrangeiras em títulos do governo – estimulando aquilo que antes chamavam de especulação.

“Esse algo só pode ser um forte ajuste nas contas públicas – ou seja, corte severo de gastos – anunciado com credibilidade. Daí a necessidade do Palocci. Ele já fez isso, já propôs uma política de longo prazo para zerar o déficit geral do governo e tem a confiança do mercado.

“Ocorre que essas virtudes transformam-se, dentro do governo Dilma, em pecados neoliberais. A própria presidente já detonou essas ideias de ajuste. Ela precisaria, portanto, mudar de ponto de vista. Não seria necessário ajoelhar no confessionário, pedir perdão e mudar por convicção. Basta a necessidade, como foi, aliás, no caso de Lula no primeiro mandato. Até hoje ele não gosta de ter assinado a Carta ao Povo Brasileiro, nem de ter deixado Palocci fazer o que fez. Mas foi flexível diante das circunstâncias.

“É certo, por outro lado, que Lula nunca foi de ter algo como uma doutrina, um pensamento econômico. Dançava no vai da valsa.

“Já Dilma, economista formada, tem convicções – que se mostram equivocadas. Para ela, mudar é mais difícil.

“Outro problema é que Palocci está com a reputação abalada. O mercado, os agentes econômicos continuam tendo saudades dele. Já no ambiente político, a rejeição é óbvia.

“Mas esse obstáculo também poderia ser driblado. Não pode o Palocci? Pois arranjem um ‘tipo Palocci’. E já estando com a mão na massa, poderiam buscar também um ‘tipo Meirelles’ para o Banco Central.

“Não vamos aqui citar nomes, até para não queimá-los, mas o perfil está dado: experiência, capacidade comprovada na gestão pública, credibilidade no ambiente econômico e a convicção sincera de que a variável-chave no Brasil de hoje é um superávit primário enorme, caminhando para até 5% do PIB, de modo a zerar o déficit público, medido sem truques, é claro.

“Complementos: uma alta forte na taxa básica de juros para derrubar as expectativas inflacionárias; ampla privatização de infraestrutura; reformas micro para tornar o ambiente de negócios mais favorável ao empreendedor privado. Mas só precisaria anunciar mesmo o tal ajuste fiscal.

“Neoliberal! – gritam. Pois é, mas a alternativa desenvolvimentista de Dilma – juros para baixo, dólar para cima e gasto público acelerado – deu em inflação alta e crescimento baixo. Se nada for mudado, daqui a pouco vem mais desemprego e mais inflação, como na Argentina.

“A escolha, pois, se dá entre ‘tipo Cristina’ e ‘tipo Palocci’.” (Carlos Alberto Sardenberg, O Globo, 13/6/2013.)

A tenebrosa transação

* Ministério Público abre investigação sobre a o escândalo da refinaria do Texas que valia US 42,5 milhões e foi comprada por R$ 1,18 bilhão

“O Ministério Público Federal no Estado do Rio de Janeiro (MPF) instaurou procedimento investigatório criminal para apurar possíveis infrações na compra da refinaria de Pasadena (Texas, EUA) pela Petrobras. A portaria fala em possível evasão de divisas e peculato, por indício de superfaturamento. A presidente da Petrobras, Graça Foster, foi intimada a depor.

“Também foram intimados dirigentes que estavam no comando da empresa na época em que o negócio foi feito: o ex-presidente José Sergio Gabrielli; o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, e o ex-diretor Internacional Nestor Cerveró.

“A portaria é assinada pelo procurador da República Orlando Monteiro Espíndola da Cunha. O procurador também pede uma série de documentos à companhia, incluindo os contratos com a Odebrecht Engenharia Industrial, que contemplam serviços em Pasadena e em nove países. A Petrobras revisou este ano para quase à metade o contrato fechado na gestão anterior por US$ 840 milhões. Serão apurados tanto o acordo com a Odebrecht quanto a aquisição de Pasadena por valor acima do de mercado, casos revelados pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado.

“O MPF diz que o fato de a Petrobras ter gasto US$ 1,18 bilhão para a compra de uma refinaria que, há oito anos, custou à ex-sócia US$ 42,5 milhões ‘revela possível compra superfaturada de ações pela Petrobras’. E que o teor da representação oferecida ao MPF neste ano pelo Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União relata ‘ocorrência de fatos capazes de configurar (possível) delito de evasão de divisas’.

“‘Se houve superfaturamento, tem de ser esclarecido, assim como o motivo’, disse Espíndola. ‘Em tese, dirigentes que participaram podem ter se beneficiado.’ A investigação pode gerar denúncia à Justiça Federal. Peculato é crime em que se enquadra desvio de recursos por funcionários públicos. Evasão de divisas é crime contra o sistema financeiro, passível de prisão.

“O episódio também é investigado, paralelamente, pela secretaria do TCU no Rio, e está sob relatoria do ministro José Jorge, em Brasília. O caso chegou ao ministro do TCU e ao Ministério Público após investigação e representação feita pelo procurador Marinus Marsico.

“Para ele, a transação em torno da refinaria foi ‘um fracasso retumbante’ e o melhor seria a estatal assumir o prejuízo, em vez de investir mais na refinaria. A presidente Graça Foster decidiu tentar, com investimento adicional, recuperar o valor da planta antes de vendê-la. ‘Continuo acompanhando o caso. Se for surpreendido com novos indícios, estudarei a viabilidade de interpor medida cautelar no TCU para que tal fato não ocorra, em defesa da União, principal acionista’, disse.” (Sabrina Valle, Estadão, 8/6/2013.)

* Sabe-se agora que a Petrobrás mentiu: desde o início a empresa ofereceu US$ 1 bilhão pela refinaria que valia US 42,5 milhões

“Ao contrário do que a Petrobrás vem alegando, a oferta de mais de US$ 1 bilhão pela refinaria de Pasadena, no Texas, foi negociada pela estatal desde o começo da transação. Em 2006, a diretoria da petroleira brasileira pagou US$ 360 milhões por metade da unidade de refino, comprada um ano antes por US$ 42,5 milhões pela ex-sócia, a belga Transcor/Astra. Em 2007, ofereceu mais US$ 700 milhões pela fatia restante de 50%.

“O negócio esbarrou no conselho de administração, presidido na época pela então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, e o processo ficou parado em arbitragem.

“A Petrobrás tem justificado ter pago tão caro – ao todo US$ 1,18 bilhão – pela refinaria por ter entrado em litígio com a ex-sócia em 2008. Em 2012, para encerrá-lo, precisou pagar mais US$ 820 milhões em acordo para pôr fim aos pleitos e adquirir os outros 50%.

“A Petrobrás também diz que os desentendimentos que levaram o caso à Justiça foram motivados pela crise de 2008, que alteraram o mercado de refino e fizeram as sócias se desentenderem sobre os planos de ampliar a refinaria. Diz que a ex-sócia não honrou seus compromissos e por isso tentou exigi-los judicialmente. Mas documentos da Petrobrás e da Transcor/Astra mostram que havia intenção de pagar mais de US$ 1 bilhão já em 2007, antes da crise.

“Uma carta do então diretor da área Internacional da Petrobrás, Nestor Cerveró, ao presidente do conselho da Transcor/Astra, Gilles Samyn, de 5 de dezembro de 2007, combina um pagamento de US$ 700 milhões pela Petrobrás, aos belgas, pelos 50% restantes da refinaria. A proposta foi aprovada em reunião de diretoria de 21 de fevereiro de 2008.

“Há quase um ano, quando o Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, começou a investigação sobre Pasadena, a Petrobrás respondeu aos questionamentos dizendo que, quando avaliou ‘a aquisição da refinaria, o cenário era de margens de refino crescentes, a demanda mundial também estava em crescimento e não havia previsões sobre a crise de 2008’. Ainda não havia o pré-sal. A companhia disse ainda que ‘em um cenário de crise, a natureza das companhias levou a distintos objetivos’. ‘Nosso sócio então requereu que a parte dele fosse adquirida (50%) e uma arbitragem internacional lhe conferiu este direito e fixou o valor a ser pago em 2009, o qual recentemente honramos.’ O negócio foi fechado na gestão do ex-presidente José Sergio Gabrielli. Consultada, a estatal preferiu não comentar.

“Segundo três fontes, a disputa foi para a arbitragem por decisão da Petrobrás, depois que o conselho conheceu detalhes do acordo com a Astra, que incluíam a oferta de US$ 700 milhões e condições vantajosas aos belgas. Dilma acompanhou o processo. O assunto foi tratado em duas reuniões de conselho, em março e abril de 2008.

“Uma fonte ligada ao processo diz que os belgas resolveram exercer seu direito de retirada por não concordar com o investimento para duplicar a refinaria e adaptá-la a processar o pesado óleo de Marlim, da Bacia de Campos. As obras estavam previstas quando Petrobrás e Astra se associaram. Mas o preço não havia sido combinado. Seria decidido depois de 90 dias, após a análise técnica.

“Segundo a mesma fonte, em 2007, o valor da ampliação foi apresentado: US$ 2 bilhões. Os belgas desistiram de participar e usaram as prerrogativas em contrato para deixar o negócio, o que lhe daria o direito de receber US$ 639 milhões.

“Três fontes dizem que Dilma teve papel preponderante na decisão do conselho de levar o caso à Justiça para reduzir o pagamento. Um dos argumentos seria que, depois da descoberta do pré-sal, não faria sentido investir pesadamente no exterior. Mas o contrato protegia os belgas e a Petrobrás perdeu os pleitos arbitrais. Acabou pagando US$ 820 milhões em acordo extrajudicial.” (Sabrina Valle, Estadão, 12/6/2013.)

Coisa de louco

* Funai demarca como área indígena terra que não tem índios – e índios paraguaios ocupam terras brasileiras

“Um relatório da Empresa Brasileira de Produção Agropecuária (Embrapa) põe em xeque dados usados pela Funai em estudos para a demarcação de terras indígenas nos municípios de Guaíra e Terra Roxa, no Paraná. O documento informa que não existem índios em pelo menos quatro áreas indicadas pela Funai como território indígena. A Embrapa também informou à Casa Civil da Presidência que índios vindos do Paraguai estariam ocupando terras no Paraná, em busca de demarcação de território próprio.

“As informações da Embrapa ajudaram a embasar a decisão do governo de mudar as regras de demarcação de terras indígenas. A partir de agora, por decisão do Planalto, serão abertas consultas à Embrapa, ao Incra e a outras áreas do governo antes da definição dos decretos de demarcação de áreas indígenas, que antes ficavam a cargo exclusivo da Funai.

“Guaíra e Terra Roxa são, hoje, palco de intensas disputas de terras entre índios e fazendeiros, e os conflitos são parecidos com os de Sidrolândia (MS), epicentro de uma das mais graves crises indígenas na História recente do país.

“Índios e fazendeiros medem força na Justiça Federal pela posse de 15 áreas em Guaíra e Terra Roxa, quatro delas em áreas urbanas. As duas cidades estão na faixa de fronteira com o Paraguai e próximas ao lago da hidrelétrica de Itaipu. Estudos preliminares da Funai, que dariam base a futuras demarcações, sustentam que as áreas em disputa pertencem aos índios. Mas o relatório encaminhado pela Embrapa à Casa Civil informa que em quatro áreas reivindicadas pela Funai como áreas indígenas não existem tribos.

“Em um quadro para exibição em Powerpoint, a Embrapa pergunta: ‘Hoje há indígenas no local?’. Na mesma página, o autor do documento responde que não existem índios em quatro áreas.

“No documento, a Embrapa informa, ainda, que dez áreas foram ocupadas por índios a partir de 2007. As conclusões da empresa ligada ao Ministério da Agricultura estão amparadas em imagens históricas de satélite. As imagens mostram o avanço da ocupação humana na região a cada ano. As áreas reivindicadas pelos índios estão cercadas de plantações.

“Os dados sobre a entrada de índios paraguaios em Guaíra e Terra Roxa foram levantadas por servidores da Embrapa em viagens à região, segundo uma fonte do Palácio do Planalto. Quando recebeu a informação, a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, teria dito que o país já tem problemas demais para resolver relacionados aos índios brasileiros, e que não seria justo se responsabilizar também por dificuldades dos índios de outro país.

“O prefeito de Guaíra, Fabian Vendruscolo (PT), reforçou a acusação sobre a suposta invasão de índios paraguaios. Segundo ele, índios começaram a chegar à região há menos de dez anos. Em 2006, 50 índios reivindicavam duas áreas na cidade. Agora, o município já tem 800 índios, que disputam posse de oito áreas. Guaíra e Terra Roxa são celeiros agrícolas e têm algumas das terras mais valorizadas do Paraná. ‘Em 2006, começaram a vir para cá índios de Mato Grosso do Sul, do Paraguai e de outras regiões do Paraná. A maioria dos índios vem de Mato Grosso do Sul. Mas muitos vêm do Paraguai. Nós somos da fronteira. Nós sabemos quais são os índios daqui e quais não são’, disse Vendruscolo.” (Jailton de Carvalho, O Globo, 8/6/2013.)

Da pátria de chuteiras à pátria de ferraduras

* O governo de hoje, tão parecido, em alguns pontos, com o de Garrastazu Médici

“O boato sobre o fim do Bolsa Família agitou a vida política do Brasil. Fomos obrigados a contemplar a importância dos boatos na política e alguns cronistas chegaram a sugerir livros sobre o tema. (…)

“O simples fato de usarmos tanto talento represado pela dependência à bolsa já seria um dínamo econômico. Como grande parte dos provedores, o PT, um provedor que usa dinheiro público, sempre se faz a pergunta crucial: ela gosta de mim ou do meu dinheiro? O que o leva a outra questão: a coalizão é mantida com grande estímulo de cargos e verbas; o eleitorado, com os laços criados pelo Bolsa Família.

“E tome propaganda para nos tranquilizar sobre um futuro incerto até para eles. A última campanha nos conclama a torcer pelo futebol brasileiro. O governo nos chama neste período de a Pátria de chuteiras, usando a frase de Nelson Rodrigues. Em 1970, criticávamos os generais por usarem o futebol, uma arte popular, a favor do governo. Escrevíamos panfletos lembrando que a ditadura nada tinha que ver com o talento dos jogadores. No final da Copa, no jogo contra a Itália, houve até quem tentasse – sem êxito, pois a emoção foi mais forte – torcer contra o Brasil. Algumas décadas depois, quem está usando o futebol a seu favor, associando-o à imagem do governo, explorando um talento que é uma dádiva nacional?

“Não estou pedindo a ninguém que coloque a mão na consciência e desfeche um processo acelerado de inclusão no mercado. A vertigem ainda é muito forte. O presidente do PT disse que o boato era um terrorismo eleitoral. Talvez o partido dominante tivesse se aterrorizado. A simples hipótese de perder aquela massa que recebe Bolsa Família é uma pequena antevisão do vazio que envolveu a mulher da Anistia Internacional quando seu preso foi solto.

“Curioso ver como os novos governantes cada vez mais se parecem com os antigos. Na escolha dos culpados de sempre, no sequestro do futebol e também na incômoda posição de quem se coloca como o indutor do progresso. Sua sobrevivência política depende mais do fechamento que da abertura da porta de saída, com o potencial de lançar milhares de novos atores do mundo do trabalho. Se fossem só um grupo de adolescentes, diria que estavam repetindo o que criticavam nos pais. Só quem vive assustado nos conclama a ser a Pátria de chuteiras. Nelson Rodrigues, creio, jamais formularia essa frase pensando num slogan oficial. Certamente, para ele, a Pátria de chuteiras, de tênis ou sandálias é fruto da espontaneidade popular. Como palavra de ordem oficial, só é possível uma Pátria de ferraduras.

“Tentaram nos fazer tocar caxirolas. Não deu certo, o próprio ministro da Justiça condenou o artefato. A presidente Dilma até que tocou caxirola para a plateia no Planalto. Não sabia do perigo. Após queimar as mãos com um pequeno instrumento musical, saiu inaugurando estádios, dando pontapés iniciais. Com todo respeito à segunda mulher mais poderosa do mundo, se todo mundo chutar como ela, a Pátria de chuteiras vai para o buraco, assim como iria se todos fizessem embaixadas como o general Médici em 1970. De lá para cá, o marketing dominou a política, melhorou os penteados, mas continua o mesmo: escondendo o verdadeiro jogo.” (Fernando Gabeira, Estadão, 7/6/2013.)

Tempos estranhos

* Um governo que não pára de falar asneira e depois tenta desmentir

“Outro dia, um amigo comentou, desconfiado a propósito dos últimos acontecimentos, que o país está ‘meio estranho’. (…)

“Bastaria o caso da controvérsia causada pela declaração do ministro Gilberto Carvalho a um grupo de índios, revelando que a presidente havia dito que a ordem judicial de reintegração de posse da fazenda Buriti, em Mato Grosso do Sul, não deveria ter sido cumprida, para exemplificar os tempos estranhos que vivemos.

“Dilma, evidentemente, garantiu em público que o governo brasileiro cumpre as leis. Carvalho soltou uma nota dizendo que fora um equívoco dele, que queria apenas demonstrar o sentimento da presidente pela morte de um índio no conflito.

“Das duas, uma: ou Carvalho disse a verdade inconveniente, que não podia ser revelada, ou mentiu para os índios na tentativa de acalmá-los. Nas duas hipóteses, seria um auxiliar ineficiente, mas em Brasília acredita-se mais na primeira, o que desvenda mais uma vez a alma autoritária da presidente Dilma.

“E é essa índole autoritária que vem sendo posta à prova nestes tempos conturbados que vivemos. Quando afirmou, por exemplo, que não sacrificaria o desenvolvimento para conter a inflação, deixou no mercado a certeza de que aceitaria um pouquinho de inflação para aumentar o PIB, o que colocou todo mundo em alerta, com efeitos óbvios.

“Mais adiante, disse que o país não tinha meios de controlar a subida do dólar, e mais uma vez o mercado se alterou.

“A confusão em torno dos saques antecipados do Bolsa Família é mais um exemplo de como um governo descoordenado pode se machucar por conta própria. Diante do tumulto provocado por um suposto boato de que o programa iria acabar, Dilma disse que aquele era um ato ‘desumano’.

“O ex-presidente Lula lamentou a existência de pessoas ‘capazes de fazer tanto mal’ aos mais pobres. E a ministra Maria do Rosário apressou-se pelo Twitter a insinuar que a origem dos boatos era a oposição.

“Logo ficou claro que o erro fora cometido pela própria Caixa Econômica Federal, que liberou o pagamento do Bolsa Família sem obedecer ao calendário que ela própria estabelecera desde sempre.

“Com isso, pessoas que foram ao banco fazer outras transações descobriram que o dinheiro já estava lá, e começou o boca a boca sobre a liberação antecipada.

“Muitos entenderam que aquele era um sinal de que o programa iria acabar, outros acharam que era um bônus pelo Dia das Mães, o que marca bem o maternalismo que domina nossa política.

“Não se fala mais do tal call center do Rio de Janeiro que supostamente espalhara o boato. O presidente da Caixa teve de admitir o erro depois de tentar escondê-lo, e só o fez porque a ‘Folha de S. Paulo’ denunciou que os pagamentos haviam sido antecipados.

“Junto a essas trapalhadas, vêm as notícias ruins da economia, que resultam em advertência da agência Standard & Poor’s de que o grau de investimento que o Brasil ganhou no governo Lula pode ser cassado se nos próximos dois anos a economia continuar demonstrando tamanha fraqueza e, sobretudo, problemas de inconsistência como inflação alta e déficits.

“Já há quem mais uma vez sugira tirar o B do acrônimo Brics.

“Nenhum dos programas oficiais está com seu cronograma em dia, seja o PAC, seja o Telefone Para Todos, seja o Minha Casa Minha Vida, ou as obras para a Copa do Mundo. Ou a queda forçada dos juros, que agora está tendo que ser revertida, ou a redução do custo da energia elétrica, que não chega aos 20% prometidos na televisão.

“Todos têm a mesma característica: saem mais caro do que o anunciado e atingem menos pessoas. Simplesmente porque não correspondem a nenhum planejamento, são fruto de um voluntarismo que não se baseia na realidade.

“Algo assim como querer tirar da rota do avião presidencial as nuvens turbulentas.” (Merval Pereira, O Globo, 8/6/2013.)

E as más notícias não vêm apenas do governo Dilma

É preciso registrar: o Executivo não está sozinho no seu vigoroso esforço para destruir a economia brasileira e o que restava de responsabilidade fiscal.

Legislativo e Judiciário também fazem a sua parte.

Só para lembrar: tramita no Congresso Nacional projeto que abrirá as comportas para a criação de dezenas, centenas de novos municípios.

Ainda nestes últimos dias, o Congresso aprovou a polêmica (para dizer o mínimo) criação de quatro novos Tribunais Regionais Federais. Segundo estudo do Ipea, essa medida vai custar aos cofres públicos pelo menos R$ 922 milhões por ano, conforme reportagem de Juliana Castro no Globo de terça, dia 11 de junho.

A criação desses novos TRFs foi duramente criticada por Joaquim Barbosa, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a mais alta autoridade do Judiciário.

Mas o próprio Joaquim Barbosa negocia com presidentes de quatro tribunais superiores a alteração, por meio de resolução, dos limites de gastos com pessoal impostos pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Barbosa quer aumentar em R$ 74 milhões o teto para contratação de servidores pelo CNJ, o que praticamente triplicaria o valor atual, de R$ 41 milhões, conforme mostrou reportagem de Felipe Recondo e Fabio Fabrini no Estadão de terça, 11 de junho.

Na mesma terça, 11, o CNJ presidido por Barbosa derrubou a liminar que impedia o pagamento de auxílio-alimentação a magistrados e liberou, com isso, o gasto de mais de R$ 100 milhões em oito tribunais estaduais do País. Com a decisão, os tribunais podem pagar o benefício aos juízes imediatamente. Se depois o Supremo Tribunal Federal (STF) julgar o benefício inconstitucional, o dinheiro que tiver sido pago não poderá voltar aos cofres públicos, conforme informou reportagem de Felipe Recondo no Estadão.

Pobre Brasil.

14 de junho de 2013 

Outras compilações de provas da incompetência de Dilma e do governo:

Volume 85 – Notícias de 1º a 7/2.

Volume 86 – Notícias de 8 a 14/2.

Volume 87 – Notícias de 15 a 21/2.

Volume 88 – Notícias de 22 a 28/2.

Volume 89 – Notícias de 1º a 7/3.

Volume 90 – Notícias de 8 a 14/3.

Volume 91 – Notícias de 15 a 21/3

Volume 92 – Notícias de 22 a 28/3.

Volume 93 – Notícias de 29/3 e 4/4.

Volume 94 – Notícias de 5 a 11/4.

Volume 95 – Notícias de 12 a 18/4.

Volume 96 – Notícias de 19 a 25/4.

Volume 97 – Notícias de 26/4 a 2/5.

Volume 98 – Notícias de 3 a 9/5.

Volume 99 – Notícias de 10 a 16/5.

Volume 100: Notícias de 17 a 23/5.

Volume 101: Notícias de 24 a 30/5.

Volume 102: Notícias de 31/5 a 6/6.

9 Comentários para “Más notícias do país de Dilma (103)”

  1. O PT encarnando, sem reação, o papel de um governismo conservador e desatento às pressões sociais que, lá atrás, estiveram na origem do próprio partido.

    O fato é que existe uma nova dinâmica da informação, comandada em parte por jovens inconformados, que querem mudanças.

    Entretanto, os compromissos do governo Dilma contribuíram para alijar das redes sociais uma parcela significativa de seus apoiadores, que se encontram entre os excluídos digitais.

    Além disso, deu motivo para que militantes com poder de influência multiplicassem as críticas aos rumos da coalizão cada vez mais conservadora liderada pelo PT.

    Nem tudo, entretanto, se trata APENAS de um problema de comunicação.
    Ao abraçar as empresas de telefonia — sejam quais forem os motivos para isso — e engavetar um Plano Nacional de Banda Larga baseado na universalidade, no investimento público e no livre acesso em praças ou pontos de encontro de jovens, o governo Dilma fechou as portas para que milhões de seus apoiadores ingressassem no mundo digital, disseminando suas idéias e opiniões nas redes sociais. A culpa é de Paulo Bernardo?
    Ao abraçar os ruralistas — sejam quais forem os motivos para isso — e demolir a Funai, o governo Dilma se afastou dos indígenas, causando o desgosto de centenas de milhares de jovens internautas com grande capacidade de mobilização nas redes. A ironia suprema é que hoje a direita usa a causa indígena… para atacar um governo cujo partido principal de sustentação sempre teve compromisso histórico com os indígenas. Culpa da Gleisi Hoffmann?
    Ao abraçar os fundamentalistas — sejam quais forem os motivos para isso — e cancelar campanhas de esclarecimento sobre a AIDS, além de demonstrar ambiguidade na questão do Estatuto do Nascituro, o governo Dilma perde o apoio de outro tanto de jovens militantes políticos que também são militantes digitais capazes, articulados e influentes. Culpa do Alexandre Padilha?
    Ao abraçar Gulherme Afif Domingos, o vice-governador de Geraldo Alckmin, e torná-lo ministro — sejam quais forem as justificativas para isso –, além de prometer apoio federal para a repressão a um movimento social em São Paulo, o governo Dilma se distancia profundamente de sua própria base (a Juventude que faz parte das manifestações). Culpa de José Eduardo Cardozo?

  2. O PT encarnando, sem reação, o papel de um governismo conservador e desatento às pressões sociais que, lá atrás, estiveram na origem do próprio partido.

    O fato é que existe uma nova dinâmica da informação, comandada em parte por jovens inconformados, que querem mudanças.

    Entretanto, os compromissos do governo Dilma contribuíram para alijar das redes sociais uma parcela significativa de seus apoiadores, que se encontram entre os excluídos digitais.

    Além disso, deu motivo para que militantes com poder de influência multiplicassem as críticas aos rumos da coalizão cada vez mais conservadora liderada pelo PT.

    Nem tudo, entretanto, se trata APENAS de um problema de comunicação.
    Ao abraçar as empresas de telefonia — sejam quais forem os motivos para isso — e engavetar um Plano Nacional de Banda Larga baseado na universalidade, no investimento público e no livre acesso em praças ou pontos de encontro de jovens, o governo Dilma fechou as portas para que milhões de seus apoiadores ingressassem no mundo digital, disseminando suas idéias e opiniões nas redes sociais. A culpa é de Paulo Bernardo?
    Ao abraçar os ruralistas — sejam quais forem os motivos para isso — e demolir a Funai, o governo Dilma se afastou dos indígenas, causando o desgosto de centenas de milhares de jovens internautas com grande capacidade de mobilização nas redes. A ironia suprema é que hoje a direita usa a causa indígena… para atacar um governo cujo partido principal de sustentação sempre teve compromisso histórico com os indígenas. Culpa da Gleisi Hoffmann?
    Ao abraçar os fundamentalistas — sejam quais forem os motivos para isso — e cancelar campanhas de esclarecimento sobre a AIDS, além de demonstrar ambiguidade na questão do Estatuto do Nascituro, o governo Dilma perde o apoio de outro tanto de jovens militantes políticos que também são militantes digitais capazes, articulados e influentes. Culpa do Alexandre Padilha?
    Ao abraçar Gulherme Afif Domingos, o vice-governador de Geraldo Alckmin, e torná-lo ministro — sejam quais forem as justificativas para isso –, além de prometer apoio federal para a repressão a um movimento social em São Paulo, o governo Dilma se distancia profundamente de sua própria base (a Juventude que faz parte das manifestações). Culpa de José Eduardo Cardozo?

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