O Filhote. Capítulos X a XII

CAPÍTULO X – O GALO VOADOR

Certa vez Marcílio resolveu pegar um ovo e botar no meio dos que uma pata começara a chocar. Nem bem nasceu e foi rejeitado. Motivo havia: se recusava a atender aos quac-quac da mãe adotiva e a acompanhar os patinhos quando eles pulavam na água do riacho que corria atrás da casa. Colocado de lado, passou a ser criado por Marcílio e Idalina e, com o tempo, como que se transformou num membro da família. Continue lendo “O Filhote. Capítulos X a XII”

O Filhote. Capítulos VII a IX

CAPÍTULO VII – OLHARES CONSENTIDOS

No dia seguinte, ao visitar o local sem que ninguém suspeitasse deles, souberam do resultado: a locomotiva parou a poucos metros da ponte de ferro, mas ninguém morreu. Pior foi o que aconteceu com Francisco Colares, Diáz, apelidado de “Fraquito”, um espanhol baixinho e magrinho. Ele bateu com a testa no encosto de um dos bancos de madeira e por sorte não sofreu fratura craniana, apenas um longo corte que levou muitos pontos. Ele estava indo visitar a mulher, tia Matilde, irmã de dona Alice, mãe de “Quinzinho”, internada em Ribeirão Preto para se tratar de uma fratura na bacia resultado de uma queda na calçada da vasca onde lavava roupa. Ou seja, em vez de visita-la, “Fraquito” acabou lhe fazendo companhia no mesmo hospital. Continue lendo “O Filhote. Capítulos VII a IX”

O Filhote. Capítulos IV a VI

CAPÍTULO IV – A SURRA DE CHICOTE

Qualquer que fosse a gravidade das estripulias que o “bando” praticava, quase sempre tudo já estava esquecido no dia seguinte. Só que, então, voltavam a fazer de novo tudo o que estava proibido. Entretanto, um dia algo mudou suas vidas para sempre e elas nunca mais foram como antes. Mesmo porque, se alguém descobrisse os autores, eles certamente teriam ido parar no Juizado de Menores em Ribeirão Preto ou até mesmo sofrendo o pior: internados numa instituição de correção infanto-juvenil. Continue lendo “O Filhote. Capítulos IV a VI”

O Filhote. Capítulos I a III

CAPÍTULO I – UMA CANOA NA VOLTA DE CIMA

As gotas de orvalho ainda faziam cócegas nas folhas das samambaias quando o cortejo começou a descer o Mogi Guaçu. A canoeira formava procissão na direção da vila, rezadeiras dedilhando o rosário de contas e entoando um terço sem fim. Nas barrancas o silêncio era de pranto, que ia entristecendo mais e mais a cada piado do socó-boi, ave que não sabe cantar outra coisa que não a tristimania. Continue lendo “O Filhote. Capítulos I a III”

O penico

Em um ataque de saudosismo, o senhor Antunes resolveu criar um museu de antiguidades domésticas em sua casa. Pesou no gesto a memória de seus tempos de menino, em um casarão do interior paulista, para os lados de Sorocaba. Agora, bem instalado em uma casa soberba, na capital, pôs mãos à obra. Continue lendo “O penico”

Um personagem liberto do autor

O autor não responde por gestos e palavras do personagem desta história. Esse tipo tem hábitos de trato social e costumes muito diferentes daqueles de seu criador – minha modesta pessoa. Tenho-me por cidadão equilibrado, razoável, sobretudo educado. Aquele… tire suas conclusões, pelo episódio que segue. Continue lendo “Um personagem liberto do autor”

Quando os Repórteres Usavam Revólveres (6, e último)

Fúlvio, o escrivão, compreendeu a situação dos rapazes da sala de imprensa. Pediu dez minutos para tentar saber o que estava havendo. “Com cuidado, vocês sabem. Oficialmente não poderia fazer isso.”

(Para ler o capítulo anterior, clique aqui.) Continue lendo “Quando os Repórteres Usavam Revólveres (6, e último)”

Quando os Repórteres Usavam Revólveres (4)

Os tacos do piso que cobriam as salas, na Delegacia de Homicídios, estalavam à medida que se andava neles. Muitos estavam soltos. Na sala de Maurício Castilho, o barulhinho irritante não cessava. O delegado andava de um lado para o outro.

(Para ler o capítulo anterior, clique aqui.) 

Continue lendo “Quando os Repórteres Usavam Revólveres (4)”

Quando os Repórteres Usavam Revólveres (3)

O que acontece na sala de imprensa? A barulheira das máquinas de escrever cessou. Foi-se o burburinho das conversas cruzadas sobre as cabeças. Os olhares desfocam as laudas; transferem-se para a porta. Aqui, emoldurada pelos batentes, está uma deusa.

(Para ler o capítulo anterior, clique aqui.)  Continue lendo “Quando os Repórteres Usavam Revólveres (3)”

Quando os Repórteres Usavam Revólveres (2)

Um filete de sangue escorreu sob a porta de um apartamento, num prédio muito falado no bas-fonds. O risco vermelho avançou cinco centímetros pelo corredor do terceiro andar. Era um sinal tão pequeno que demorou muito para ser notado.

(Para ler o capítulo anterior, clique aqui.)  Continue lendo “Quando os Repórteres Usavam Revólveres (2)”

Quando os Repórteres Usavam Revólveres (1)

Rago está muito à vontade, neste fim de noite. As pernas cruzadas em cima da mesa. O corpo, jogado de tal forma para trás que a cadeira, sob impacto, apoia-se em dois pés. A única luz acesa coa claridade para um jornal, que tem à frente dos olhos. Manchete velha: SANGUE NA BOCA DO LIXO. A esta hora havia sangue novo em outra parte da cidade. Sabia muito bem disso. Continue lendo “Quando os Repórteres Usavam Revólveres (1)”

Velhos lobos do mar

Até hoje não sei bem como vim parar no Refúgio dos Velhos Camaradas. Buscava apenas um lugar para descansar minha velhice longe das tormentas da cidade. O lugar pareceu simpático; acho que o nome me atraiu. Apenas dois prédios, um voltado para o outro. Continue lendo “Velhos lobos do mar”