Más notícias do país de Dilma volume 160 – e chega!

Foi uma campanha eleitoral cheia de surpresas, de grandes mudanças, marcada pela tragédia absurda da morte de Eduardo Campos, e que chega ao dia definitivo, o dia do segundo turno, sem que nenhum dos dois lados possa se considerar vitorioso. Será, com toda a certeza, a eleição mais disputada até o último voto de todas as que vieram após a redemocratização do país.

Foi também – de longe – a campanha eleitoral mais baixa, mais suja desde o fim da ditadura militar.

Fernando Collor de Mello botar Miriam Cordeiro na propaganda do rádio e TV para acusar Lula de ter querido pagar um aborto, baixaria das baixarias na campanha presidencial de 1989, e Marta Suplicy insinuar na propaganda dita gratuita que seu adversário na eleição para a Prefeitura de São Paulo de 2008 era homossexual – essas duas baixarias grotescas, patéticas, horripilantes, foram suplantadas pela quantidade de baixarias, mentiras, ilusionismos, manipulações de dados com que Dilma Rousseff, o PT e seu marqueteiro João Santana nos brindaram.

Destruíram Marina Silva, que durante tanto tempo foi companheira deles. Transformaram Marina Silva em aliada de banqueiro-que-toma-a-comida-do-prato-do-povo, que-tira-as-crianças-da-escola. Colaram em Marina Silva a bala de prata de “neoliberal” – a maior parte dos eleitores de Dilma não sabe o que é isso, mas o competente João Santana os faz crer que é o bicho-papão, cão, o danado, o diabo em pessoa.

A partir dos resultados do primeiro turno, voltaram suas baterias de podridão contra Aécio. Aécio é cheirador de cocaína (como se Lula fosse o sujeito mais sóbrio do universo…), bate em mulher…

Para descontruir o adversário, o PT mente, e não precisa de prova alguma. Só exige prova quando a denúncia é contra ele.

Em geral, o PT vai de Goebbels: mentira tantas vezes repetida vira verdade. Dilma repetiu tantas vezes que FHC quebrou o Brasil três vezes que é provável que ela mesma acredite nessa insanidade.

É até provável que muito petista de fato acredite hoje que Fernando Henrique Cardoso fez a inflação estourar, e Lula a derrubou.

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Ao longo de 159 semanas, me dei ao trabalho de compilar textos publicados basicamente nos dois melhores dos três grandes jornais do país, o Estadão e O Globo, demonstrando e comprovando os malefícios e a incompetência do lulo-petismo como um todo e do governo Dilma Rousseff em especial.

Já nem consigo me lembrar exatamente por que me propus a fazer esse trabalho insano, que muitas vezes descrevi como murro em ponta de faca.

Acho que entendi que era um dever cívico. Usar a arma à minha disposição para combater um governo incompetente, perverso, desagregador, que tudo faz para criar a cizânia, o ódio entre os brasileiros. Se eu tinha um site, e tempo suficiente para juntar em compilações semanais notícias e artigos, então deveria dedicar algumas horas a esse exercício de dar murro em ponta de faca.

Isso acabou me exaurindo.

Na verdade, me exauri faz um bom tempo. Mas tentava me convencer a chegar até dezembro de 2014. Usava para mim mesmo a piada do português que veio nadando de Lisboa até o Rio de Janeiro, e, ao enxergar o Pão de Açúcar, dizia, ô pá, estou muito cansado, vou voltar.

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Escrevo esta abertura nos primeiros minutos do domingo, 26 de outubro, o dia do segundo turno. O dia do segundo turno em que a diferença entre o candidato do PT e o do PSDB é a menor nos últimos 12 anos.

É impossível saber qual será o resultado das urnas. Um exame das mais recentes pesquisas dos quatro institutos dá empate técnico.

O que dá para dizer é o seguinte:

Se o PT ganhar, vai ter ganhado por pouco, e por muita, muita, muita mentira. Sairá diminuído – como já saiu diminuído na eleição para a Câmara dos Deputados.

Se Aécio Neves – que hoje não é só PSDB, e sim uma união de várias forças que querem o PT fora do poder – ganhar, enfrentará uma oposição dos diabos.

O PT é competente pacas como oposição. A competência que o PT tem para, quando está no poder, roubar, corromper, mentir, ele tem para ser contra.

Se conseguirmos mudar o país nas urnas hoje, se o Dias Toffoli (PT-SP) não tentar ganhar no tapetão para o partido dele, o PT vai fazer mais diabo do que fez na campanha.

De qualquer maneira, o Más notícias do país de Dilma pára por aqui.

Deu.

Pára com acento, porque o 50 Anos de Textos não reconhece esse desacordo ortográfico.

Esta edição especial, de número 160 – e última – do Más notícias do país de Dilma traz uma compilação de notícias e análises que comprovam os malefícios e a incompetência do lulo-petismo como um todo e do governo Dilma Rousseff em especial publicadas apenas e tão somente nos dias 24 e 25 de outubro.

Os escândalos na Petrobrás: eles sabiam de tudo

* O doleiro Alberto Youssef afirma em depoimento à Polícia Federal que o ex e a atual presidente da República não só conheciam como também usavam o esquema de corrupção na Petrobrás

zzzzxveja2A Carta ao Leitor desta edição termina com uma observação altamente relevante a respeito do dever jornalístico de publicar a reportagem a seguir às vésperas da votação em segundo turno das eleições presidenciais: ‘Basta imaginar a temeridade que seria não publicá-la para avaliar a gravidade e a necessidade do cumprimento desse dever’. Veja não publica reportagens com a intenção de diminuir ou aumentar as chances de vitória desse ou daquele candidato. Veja publica fatos com o objetivo de aumentar o grau de informação de seus leitores sobre eventos relevantes, que, como se sabe, não escolhem o momento para acontecer. Os episódios narrados nesta reportagem foram relatados por seu autor, o doleiro Alberto Youssef, e anexados a seu processo de delação premiada. Cedo ou tarde os depoimentos de Youssef virão a público em seu trajeto na Justiça rumo ao Supremo Tribunal Federal (STF), foro adequado para o julgamento de parlamentares e autoridades citados por ele e contra os quais garantiu às autoridades ter provas. Só então se poderá ter certeza jurídica de que as pessoas acusadas são ou não culpadas.

“Na última terça-feira (21/10), o doleiro Alberto Youssef entrou na sala de interrogatórios da Polícia Federal em Curitiba para prestar mais um depoimento em seu processo de delação premiada. Como faz desde o dia 29 de setembro, sentou-se ao lado de seu advogado, colocou os braços sobre a mesa, olhou para a câmera posicionada à sua frente e se pôs à disposição das autoridades para contar tudo o que fez, viu e ouviu enquanto comandou um esquema de lavagem de dinheiro suspeito de movimentar 10 bilhões de reais. A temporada na cadeia produziu mudanças profundas em Youssef. Encarcerado des­de março, o doleiro está bem mais magro, tem o rosto pálido, a cabeça raspada e não cultiva mais a barba. O estado de espírito também é outro. Antes afeito às sombras e ao silêncio, Youssef mostra desassombro para denunciar, apontar e distribuir responsabilidades na camarilha que assaltou durante quase uma década os cofres da Petrobrás. Com a autoridade de quem atuava como o banco clandestino do esquema, ele adicionou novos personagens à trama criminosa, que agora atinge o topo da República.

“Comparsa de Youssef na pilhagem da maior empresa brasileira, o ex-diretor Paulo Roberto Costa já declarara aos policiais e procuradores que nos governos do PT a estatal foi usada para financiar as campanhas do partido e comprar a fidelidade de legendas aliadas. Parte da lista de corrompidos já veio a público. Faltava clarear o lado dos corruptores. Na ter­ça-feira, Youssef apre­sentou o pon­­to até agora mais ‘estarrecedor’ — para usar uma expressão cara à pre­sidente Dilma Rous­seff — de sua delação premiada. Perguntado sobre o nível de comprometimento de autoridades no esquema de corrupção na Petrobrás, o doleiro foi taxativo:

“— O Planalto sabia de tudo!

“— Mas quem no Planalto? — perguntou o delegado.

“— Lula e Dilma — respondeu o doleiro.

“Para conseguir os benefícios de um acordo de delação premiada, o criminoso atrai para si o ônus da prova. É de seu interesse, portanto, que não falsifique os fatos. Essa é a regra que Youssef aceitou. O doleiro não apresentou — e nem lhe foram pedidas — provas do que disse. Por enquanto, nesta fase do processo, o que mais interessa aos delegados é ter certeza de que o de­poente atuou diretamente ou pelo menos presenciou ilegalidades. Ou seja, querem estar certos de que não lidam com um fabulador ou alguém interessado apenas em ganhar tempo for­necendo pistas falsas e fazendo acu­sações ao léu. Youssef está se saindo bem e, a exemplo do que se passou com Paulo Roberto Costa, o ex-diretor da Petrobrás, tudo indica que seu processo de delação premiada será homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Na semana passada, ele aumentou de cerca de trinta para cinquenta o número de políticos e autoridades que se valiam da corrupção na Petrobrás para financiar suas campanhas eleitorais. Aos investigadores, Youssef detalhou seu papel de caixa do esquema, sua rotina de visitas aos gabinetes poderosos no Executivo e no Legislativo para tratar, em bom português, das operações de lavagem de dinheiro sujo obtido em transações tenebrosas na estatal. Cabia a ele expatriar e trazer de volta o dinheiro quando os envolvidos precisassem.

“Uma vez feito o acordo, Youssef terá de entregar o que prometeu na fa­se atual da investigação. Ele já con­tou que pagava em nome do PT mesadas de 100 000 a 150 000 reais a ­parlamentares aliados ao partido no Congresso. Citou nominalmente a ex-mi­nistra da Casa Civil Gleisi Hoff­mann, a quem ele teria repassado 1 mi­lhão de reais em 2010. Youssef disse que o dinheiro foi entregue em um shopping de Curitiba. A senadora ne­gou ter sido beneficiada.

“Entre as muitas outras histórias consideradas convincentes pelos investigadores e que ajudam a determinar a alta posição do doleiro no esquema — e, consequentemente, sua relevância pa­ra a investigação —, estão lembranças de discussões telefônicas entre Lula e o ex-deputado José Janene, à época líder do PP, sobre a nomeação de operadores do partido para cargos estratégicos do governo. Youssef relatou um episódio ocorrido, segundo ele, no fim do governo Lula. De acordo com o doleiro, ele foi convocado pelo então presidente da Petrobrás, Sergio Gabrielli, para acalmar uma empresa de publicidade que ameaçava explodir o esquema de corrupção na estatal. A empresa quei­xa­va-­se de que, depois de pagar de forma antecipada a propina aos políticos, tive­ra seu contrato rescindido. Homem da confiança de Lula, Gabrielli, segundo o doleiro, determinou a Youssef que captasse 1 milhão de reais entre as empreiteiras que participavam do petrolão a fim de comprar o silêncio da empresa de publicidade. E assim foi feito.

“Gabrielli poderia ter realizado toda essa manobra sem que Lula soubesse? O fato de ter ocorrido no governo Dilma é uma prova de que ela estava conivente com as lambanças da turma da estatal? Obviamente, não se pode condenar Lula e Dilma com base apenas nessa narrativa. Não é disso que se trata. Youssef simplesmente convenceu os investigadores de que tem condições de obter provas do que afirmou a respeito de a operação não poder ter existido sem o conhecimento de Lula e Dilma — seja pelos valores envolvidos, seja pelo contato constante de Paulo Roberto Costa com ambos, seja pelas operações de câmbio que fazia em favor de aliados do PT e de tesoureiros do partido, seja, principalmente, pelo fato de que altos cargos da Petrobrás envolvidos no esquema mudavam de dono a partir de ordens do Planalto.

“Os policiais estão impressionados com a fartura de detalhes narrados por Youssef com base, por enquanto, em sua memória. ‘O Vaccari está enterrado’, comentou um dos interrogadores, referindo-se ao que o do­leiro já narrou sobre sua parceria com o tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto. O doleiro se comprometeu a mostrar documentos que comprovam pelo menos dois pagamentos a Vaccari. O dinheiro, desviado dos cofres da Petrobrás, teria sido repassado a partir de transações simuladas entre clientes do banco clandestino de Youssef e uma empresa de fachada criada por Vaccari. O doleiro preso disse que as provas desses e de outros pagamentos estão guardadas em um arquivo com mais de 10 000 notas fiscais que serão apresentadas por ele como evidências. Nesse tesouro do crime organizado, segundo Youssef, está a prova de uma das revelações mais extraordinárias prometidas por ele, sobre a qual já falou aos investigadores: o número das contas secretas do PT que ele operava em nome do partido em paraísos fiscais. Youssef se comprometeu a ajudar a PF a localizar as datas e os valores das operações que teria feito por instrução da cúpula do PT.

“Depois da homologação da delação premiada, que parece assegurada pelo que ele disse até a semana passada, Youssef terá de apresentar à Justiça mais do que versões de episódios públicos envolvendo a presidente. Pela posição-chave de Youssef no esquema, os investigadores estão con­fiantes em que ele produzirá as provas necessárias para a investigação prosseguir. Na semana que vem, Alberto Youssef terá a oportunidade de relatar um episódio ocorrido em março deste ano, poucos dias antes de ser preso. Youssef dirá que um integrante da coordenação da campanha presidencial do PT que ele conhecia pelo nome de ‘Felipe’ lhe telefonou para marcar um encontro pessoal e adiantou o assunto: repatriar 20 milhões de reais que seriam usados na campanha presidencial de Dilma Rousseff. Depois de verificar a origem do telefonema, Youssef marcou o encontro que nunca se concretizou por ele ter se tornado hóspede da Polícia Federal em Curitiba. Procurados, os defensores do doleiro não quiseram comentar as revelações de Youssef, justificando que o processo corre em segredo de Justiça. Pelo que já contou e pelo que promete ainda entregar aos investigadores, Youssef está materializando sua ameaça velada feita dias atrás de que iria ‘chocar o país’.” (Robson Bonin, Veja, nas bancas a partir de 24/’10/2014.)

* CVM quer relatório de apuração da Petrobrás

“A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), xerife do mercado financeiro brasileiro, exigiu que a Petrobrás remeta à autarquia o relatório final de sua investigação interna sobre as denúncias surgidas na Operação Lava-Jato, da Polícia Federal. O pedido consta do processo administrativo aberto pelo órgão na segunda-feira para apurar supostas irregularidades na estatal.

“A abertura do processo, de número RJ-2014-12.184, foi requerida na segunda-feira pela Superintendência de Relações com Empresas (SEP) da CVM. A apuração tem caráter preliminar e, caso se identifiquem irregularidades, dará origem a processo administrativo sancionador, que pode resultar em punições para a companhia.

“Em nota, a estatal afirmou que o caso encontra-se no ‘início da fase investigatória’.

“‘A Petrobrás teve acesso hoje aos autos do processo RJ-2014-12184 e verificou que este se encontra no início da fase investigatória. A Companhia está à disposição para colaborar com as investigações da CVM.’

“Antes de abrir o processo administrativo, a CVM encaminhou dois ofícios ao diretor de relações com investidores da Petrobrás, Almir Barbassa, — um no dia 10 de outubro e outro no dia 16 — solicitando esclarecimentos sobre as denúncias feitas pelo ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa e pelo doleiro Alberto Youssef e noticiadas na imprensa.

“O órgão não ficou satisfeito com os esclarecimentos prestados pela empresa em resposta ao primeiro ofício, uma vez que a companhia disse apenas que estava acompanhando as investigações e colaborando com as autoridades. Por isso a CVM pediu, no dia 16, que a companhia deixasse ‘claro quais providências internas (…) adotou ou pretende adotar a respeito’ das denúncias.

“Em resposta a esse segundo ofício, a Petrobrás esclareceu que pedira informações sobre os crimes denunciados na Lava-Jato, que constituiu comissões internas para averiguar indícios de irregularidades na empresa. É o resultado dessas comissões internas que a CVM quer ter acesso.

“Na semana passada, a consultoria política Arko Advice havia divulgado que a Petrobrás é alvo de investigação semelhante nos Estados Unidos. A SEC, porém, não informa quais empresas estão sob investigação. A estatal possui recibos de ações (ADRs, American Depositary Receipts) negociados na Bolsa de Nova York, e por isso está submetida também às leis do mercado acionário americano.

“A investigação seria preliminar e contaria com 28 advogados e analistas da SEC e do Departamento de Justiça dos EUA. A depender do resultado da apuração, a Petrobrás responderia não apenas por irregularidades no mercado acionário, mas também criminalmente, além de estar passível de cobrança de multas — as leis americanas preveem punições à corrupção, mesmo que ocorrida fora do país.” (Rennan Setti, O Globo, 24/10/2014.)

Uma campanha de mentiras e baixarias

* “Martelando empulhações de tão baixo nível, Dilma pode até ter enganado vasto contingente de eleitores menos informados, mas à custa de insanável perda de respeito entre parcelas mais esclarecidas do eleitorado”

“Muito ainda será dito e escrito sobre a tumultuada evolução da campanha presidencial de 2014, que agora chega ao fim. Mas, com o benefício da visão retrospectiva, é preciso que, nas análises do que de fato ocorreu, seja dada importância adequada à situação delicada em que se encontrava a presidente Dilma no início da campanha.

“O desafio da reeleição, que há alguns anos parecia trivial, havia se tornado muito mais difícil. Ao final de quatro anos de crescimento medíocre, a economia entrara num quadro claro de estagflação, com crescimento zero e inflação acima do teto de tolerância da meta. Na esteira de intermináveis desmandos, improvisações e manipulações do registro das contas públicas, o descrédito em que caíra a condução da política econômica parecia irremediável. E o governo nem mesmo conseguia articular uma narrativa minimamente respeitável de como pretendia superar as dificuldades com que se defrontava a economia.

“Não bastasse esse flanco frágil do lamentável desempenho da economia, o projeto da reeleição, visto da perspectiva do início da campanha, parecia também altamente vulnerável à evolução das investigações sobre o grande esquema de corrupção que aflorara na Petrobrás. Afinal, não se tratava de mais um escândalo qualquer. Mas de irregularidades de proporções gigantescas, com alegado desvio sistemático de recursos para dezenas de parlamentares da base aliada, em uma empresa estatal com a qual a presidente teve longo e estreito envolvimento.

“Tendo sido nomeada presidente do Conselho de Administração da Petrobrás no início do primeiro governo Lula, Dilma Rousseff permaneceu ocupando essa posição mesmo depois de ter deixado a pasta de Minas e Energia e passado a responder pela Casa Civil. Lá ficou por mais de sete anos, até se candidatar a presidente em 2010.

“De início, o Planalto ainda alimentava a fantasia de que seria possível conduzir a campanha de 2014 deixando de lado esses dois temas espinhosos: o desempenho da economia e a corrupção na Petrobrás. Com Pronatec, Mais Especialidades, Banda Larga para Todos, Segurança Integrada e assemelhados, João Santana teria material farto para dar corpo à campanha eleitoral.

“Mas esse temário escapista mostrou-se inviável. Desde o primeiro turno, a candidata oficial vem tendo de lidar com os dois temas embaraçosos que, a todo custo, tentou evitar. E, tendo sido arrastada para um debate em que tem plena consciência da extensão da sua vulnerabilidade, Dilma Rousseff passou a exibir seu pior lado. Partiu para a negação peremptória de aspectos incontestáveis da realidade que hoje vive o país e para inescrupulosa distorção dos fatos, empenhada em lamentável campanha de desinformação do eleitor.

“Isso já havia ficado claro, no primeiro turno, quando a candidata se permitiu alardear que conceder independência ao Banco Central era ‘tirar do presidente da República e do Congresso Nacional, eleitos pelo povo, as decisões sobre a política econômica do país, para entregá-las aos bancos’. Agora, sem ter o que dizer sobre como pretende superar a estagnação da economia e combater a inflação, passou a denunciar que a proposta, aventada pela oposição, de reduzir a meta de inflação, aos poucos, para 3% ao ano, exigiria que a taxa de desemprego fosse elevada a 15%.

“Martelando empulhações de tão baixo nível, Dilma pode até ter enganado vasto contingente de eleitores menos informados, mas à custa de insanável perda de respeito entre parcelas mais esclarecidas do eleitorado.

“O mesmo discurso escapista e mistificador vem marcando a maneira como a candidata tem tentado se defender das notícias negativas que emanam da Petrobrás. Em vez de se autocongratular por seu inabalável compromisso com o combate à corrupção e pelos feitos da ‘sua’ Polícia Federal, Dilma precisa explicar como um esquema de corrupção dessas dimensões pôde prosperar por tantos anos na Petrobrás sem que o Conselho de Administração, por ela presidido com suposta mão de ferro, sequer tivesse tomado conhecimento de sua existência.” (Rogério Furquim Werneck, economista, Estadão e O Globo, 24/10/2014.)

* “Se forem vitoriosos depois do assalto à Petrobrás, os petistas logo estariam sonhando com o assalto aos céus”

“A campanha chega ao fim com o grande debate de hoje. Alguns temas ficaram de fora. Do Rio Piracicaba à nascente do São Francisco, na Serra da Canastra, encontrei vestígios da grande seca, talvez a maior dos últimos 50 anos no Sudeste. Ignoro o que os candidatos pretendem fazer a respeito. Não falam em recuperação de rios, fortalecimento dos comitês de bacia, nada que lembre uma política de recursos hídricos. Apenas se culpam.

“Não sei se todos têm a sensação de que há uma distância entre o País dos debates e o da vida real. Creio que a distância às vezes é ampliada pelo próprio debate, que deveria encurtá-la.

“Jean Piaget escreveu muito sobre inteligência infantil. Ele descrevia um tipo de linguagem que prevalece numa faixa de idade: a linguagem egocêntrica. Nela não importa necessariamente fazer sentido, muito menos comunicar-se com o outro.

“Apesar dos debates sem mediação, foi impossível estabelecer um fio da meada. Dilma comportou-se como se fosse uma candidata da oposição em Minas Gerais. Após o debate no SBT sua memória falhou em alguns momentos. Depois de tropeçar na palavra inequívoca, ela capitulou em mobilidade urbana, pediu um pouco de água, sentou-se para descansar. O que se passa no cérebro de Dilma, como se articulam nela uma camada do córtex com uma região do hipocampo, criando ou embotando a memória, é uma análise que farei depois de pesquisar o tema.

“Dilma está se transformando numa equilibrista que entra em cena mesmo sem ter completado o período de formação. No caso da Petrobrás, a opção do governo era negar as denúncias: são apenas vazamentos clandestinos. No campo do feminismo, Dilma projetou imagem dura ao ironizar o choro de Marina Silva, bombardeada pelas mentiras do PT: o cargo de presidente não é para coitadinhas, afirmou.

“Quando soube que um ex-dirigente do PSDB, Sérgio Guerra, também foi acusado de receber propinas no escândalo da Petrobrás, Dilma passou a acreditar nas denúncias. E afirmou: houve desvios. O fluxo de denúncias não acabara. Depois de Sérgio Guerra, aparecia em cena o nome de Gleisi Hoffman, ex-chefe da Casa Civil no governo Dilma. Nesse caso, a presidente voltou a duvidar e pedir precauções. Ficou evidente que as denúncias valem quando envolvem o adversário, mas são levianas e perigosas quando envolvem o governo.

“Depois do piripaco de Dilma, Lula e outros insinuaram que Aécio agride mulheres e isso pode ter influenciado a performance dela. Marina tinha de apanhar sem choro, pois a ‘Presidência não é para coitadinhos’.

“O escândalo da Petrobrás, embora possa ter envolvido gente da oposição, é de principal responsabilidade do governo. A empresa está sendo investigada nos EUA. Lá, por exemplo, a lei é clara e responsabiliza também os dirigentes da empresa, mesmo que não tenham tocado no dinheiro.

“O choro da Marina massacrada é fraqueza; a crise de Dilma, uma consequência do machismo. Eles reinventam o mundo à sua maneira. Passada a eleição, em vez de ficar remexendo a essência macunaímica do PT, talvez fosse necessária uma avaliação mais profunda de como uma experiência histórica termina na porta da delegacia.

“Análises sobre a trajetória da esquerda no século passado ocuparam grandes historiadores. Tony Judt dedicou parte de seu trabalho aos intelectuais franceses e seus equívocos. No caso europeu, as hesitações diante do stalinismo conduzem um dos fios da meada. Aqui, no Brasil, não creio que o stalinismo tenha o mesmo peso. O fio da meada é a relação com a ditadura cubana, a admiração por um regime falido e o silêncio inquietante sobre seus crimes.

“A trajetória da esquerda brasileira no governo mudou. Goulart foi derrubado pelos militares que alegavam combater a subversão e a corrupção. A corrupção era algo mais simbólico no seu discurso. Envoltos na guerra fria, os militares queriam, principalmente, derrotar o comunismo. Essa passagem de uma resistência à ditadura militar, o trânsito das páginas políticas para as policiais, essa mudança de ala nas penitenciárias é uma guinada na história da esquerda.

“Tanto se falou em Goebbels, o homem da comunicação de Hitler, que a tática de repetir a mentira passou a ser até elogiada por alguns. O encontro da tática do PT com Goebbels não é acidental. Assim como o encontro das Farc com o tráfico de drogas também não o foi.

“Quando desaparecem os objetivos estratégicos, quando o único alento é ganhar o poder, desaparece também a fronteira entre política e crime. Não te prendem mais em quartéis, mas na delegacia da esquina; já não se ergue o punho cerrado pelo futuro da humanidade, mas para garantir o banho de sol; não se comemoram grandes viradas históricas, mas o ingresso no regime de prisão albergue.

“A transformação de uma força política num compacto muro de cinismo, o trânsito de idéias, aparentemente, generosas para a delinquência intelectual – tudo isso configura uma fascinante matéria de estudo.

“Não sei se teria a isenção para cumprir a tarefa: ela mexe comigo, com a história pessoal, com as ilusões que me moveram no século passado. Mas alguém escreverá a história do nosso passado imperfeito, como Tony Judt fez com a intelectualidade francesa do pós-guerra.

“No continente já estamos no socialismo do século 21. Em Caracas não se racionam mais os produtos básicos com cadernetas, mas com as impressões digitais. De Cuba para a Venezuela houve um salto tecnológico no interior do mesmo atraso.

“Mas a sedução do modelo ainda não foi abalada na esquerda brasileira. O verdadeiro século 21, de certa forma, não chegou. Quem sabe, domingo?

“Um exame profundo dessa longa trajetória histórica pode começar, se o PT perder. Se vencer, será preciso concentrar a energia na vigilância cotidiana e preservar alguma esperança no Brasil.

“Vitoriosos depois do assalto à Petrobrás, os petistas logo estariam sonhando com o assalto aos céus.” (Fernando Gabeira, Estadão, 24/10/2014.)

* Nesta eleição, eliminou-se a separação entre papéis de candidata e presidente. Na verdade, a presidente deixou de ser presidente para ser candidata 24 horas por dia, sete dias por semana

“Na última segunda-feira (20/10) a repórter Tânia Monteiro fez as contas: há exatos 31 dias a presidente Dilma Rousseff não pisava no Palácio do Planalto. Hoje faz 35 e há muito mais tempo que isso não se tem notícia de um ato dela que não seja como candidata à reeleição.

“O mais grave é que não parece fazer falta. Ou pior: só vamos saber disso depois da eleição, quando o País voltar a funcionar – se é que voltará – ao ritmo normal. Quando, por exemplo, o governo liberar os números sobre economia, desempenho do ensino público, desmatamento e pobreza no País, cuja divulgação foi adiada para não afetar a votação da presidente, considerando indicações de que os resultados seriam negativos.

Já os dados positivos sobre o baixo índice de desemprego não sofreram adiamento; foram divulgados ontem. Problema algum não fosse o fato apontado pela Folha de S. Paulo de que as outras estatísticas tinham datas previstas para serem conhecidas entre os meses de agosto e outubro. Ficaram para novembro.

“Às diversas peculiaridades da presente campanha eleitoral é de se acrescentar a eliminação por completo da separação entre as agendas da presidente e da candidata. Até a eleição passada, ainda havia alguma preocupação em se manter as aparências. Agora não. Dilma Rousseff ultimamente só foi vista em dependências oficiais ou no exercício da função presidencial quando lhe interessou o uso da prerrogativa. Por exemplo, para dar entrevistas no Palácio da Alvorada, cenário a ela favorável, ou para usar a tribuna da ONU como palanque.

“Sem falar em toda a estrutura que deve cercar um chefe de nação. Agora, quando o postulante se afasta completamente de suas funções e passa apenas a se dedicar à campanha em tempo integral, a coisa muda de figura. Está tudo desregulado e em contraposição aos preceitos da impessoalidade, da transparência e da probidade exigidos de todo funcionário público, a começar por aquele que preside a República.

“Seria esse tipo de coisa defeito do instituto da reeleição? Não necessariamente. Mas é um dado que poderia ser ponto de partida para se pensar em instituir a obrigatoriedade do afastamento temporário aos postulantes de um novo mandato, como ocorre em caso de desincompatibilização seis meses antes para disputa de cargos diferentes.” (Dora Kramer, Estadão, 24/10/2014.)

* Tomados de assalto, os órgãos do Estado deixam de divulgar números que prejudicariam a campanha da presidente-candidata

“A sonegação começou pelos dados mais recentes sobre a desigualdade de renda no País, apurados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), vinculado ao Ministério do Planejamento. Em sintonia com os interesses eleitorais da presidente Dilma Rousseff, a cúpula do órgão adiou para depois do segundo turno a divulgação dos números que contrariam a propaganda da candidata sobre a queda continuada da diferença de rendimentos entre os mais ricos e os mais pobres. Em protesto contra a censura, que fere frontalmente o direito de acesso dos brasileiros a informações de natureza pública, um dos diretores da entidade, Herton Ellery Araújo, pediu exoneração do seu cargo. Foi seguido pelo vice-coordenador da sua área, Marcelo Medeiros.

“Segundo o titular do instituto, Sergei Soares, o trancamento não teria sido ordenado pelo governo. ‘Foi uma decisão nossa.’ É muito possível: no Estado enfeudado pelo PT, servidor esperto é o que se antecipa ao que sabe ser a vontade do amo. O amo é conhecido por sua paranoia, embora nas atuais circunstâncias o temor é bem capaz de ter fundamento. O risco real e presente de Dilma ser derrotada no tira-teima de depois de amanhã pelo tucano Aécio Neves decerto pôs o seu apparat em alerta máximo para impedir que, levada à disputa, qualquer novidade adversa ao seu projeto de poder possa tirar votos, por poucos que sejam, de sua porta-estandarte. Eis por que, à mordaça no Ipea, outras foram aplicadas em setores tão diversos como o Ministério da Educação e da Receita Federal, de que se falará adiante.

“O caso do instituto merece ser visto bem de perto por dois motivos que se entrelaçam: a importância dos seus levantamentos sobre o perfil social da população e, nesse estudo específico, pela inovação que permitiu aos seus pesquisadores chegar a verdades inconvenientes para a retórica petista. O primeiro ponto é óbvio: o padrão de distribuição da riqueza nacional neste país que padece para descalçar as botas de chumbo da histórica e vergonhosa desigualdade que nos caracteriza está no centro das atenções desde a redemocratização, a ponto de ter sido uma das preocupações dominantes dos constituintes de 1988. Já a citada inovação, que consistiu em incorporar informações do Fisco aos dados convencionais, fez o Ipea concluir que a desigualdade não só é mais alta do que estimava, como ainda se estabilizou entre 2006 e 2012, segundo o pesquisador Marcelo Medeiros, citado pelo jornal Valor.

“O Ipea sustenta que a legislação eleitoral proíbe que se tornem públicos, entre outros, dados capazes de influir nas decisões de voto. Trata-se de uma patranha. O fato é que, dentro da perversa lógica petista de que as informações em posse do Estado devem servir a seus ocupantes – ou para ser divulgadas com espalhafato, quando positivas, ou para ser trancafiadas, quando potencialmente perturbadoras para as perspectivas eleitorais da chefe deles todos -, faz sentido, por exemplo, o arrocho do resultado da arrecadação federal em setembro. Por manter a tendência minguante dos números anteriores, é mais uma prova da crônica situação enfermiça da economia, provocada não pela retração das atividades em escala internacional, como alega a presidente, mas pela incompetência e os zigue-zagues de seu governo.

“Para um governo que também quer fazer crer que faz tudo e mais alguma coisa pela educação fundamental no País, melhor deixar guardados os últimos resultados do Ideb – a aferição em âmbito nacional, a cada dois anos, com mais de 7 milhões de estudantes, dos conhecimentos de português e matemática do alunado do ensino básico. O exame mais recente data de agosto de 2013. Responsável pela prova, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (Inep), do Ministério da Educação, nega a intenção de escamotear a verdade: a publicação estaria demorando porque os dados do exame precisam ser apresentados de forma tal a facilitar a sua compreensão pelas escolas. Se essa alegação pretende ser sofisticada, a da Receita para a não divulgação da arrecadação de setembro é de um cinismo atroz: os servidores responsáveis por dar publicidade aos números estão absorvidos esta semana com atividades de planejamento.” (Editorial, Estadão, 24/10/2014.)

O modelo econômico de Dilma acabou

* “Se vencer, a candidata terá de mudar de rumo ou o país vai piorar. Nada há no receituário de Dilma que nos tire da crise em que o Brasil está”

“Chega-se ao fim do segundo turno e a presidente da República que concorre à reeleição nada disse sobre seu programa na área econômica. O silêncio foi deliberado. Não podia falar o que vai fazer porque teria de admitir o quadro lamentável na economia: inflação alta, crescimento zero, recessão na indústria, superávit primário quase desaparecido, aumento da dívida.

“Não é o fim do mundo, mas será o fim de um modelo. Se for reeleita a presidente terá de mudar o rumo da economia ou vai aprofundar a crise. A situação chegou no ponto em que está por escolhas feitas pela equipe econômica sob direta supervisão de Dilma. Ela não delegou o tema, cada decisão tomada foi baseada em suas convicções na economia.

“O modelo está num beco sem saída. Incentivar mais o consumo com as famílias endividadas não será possível até porque as próprias pessoas estão preocupadas em quitar suas dívidas. O país é mais sensato que seu governo.

“Dar mais subsídios a setores específicos perdeu o efeito de elevar o consumo e tem diminuído a arrecadação. O governo terá de pedir para mudar a lei do orçamento porque não cumprirá a meta fiscal do ano. Mesmo com descontos e as falsidades contábeis, não há possibilidade de chegar a R$ 81 bilhões de superávit do governo federal quem conseguiu economizar apenas R$ 300 milhões até agosto.

“Proteger setores industriais com barreiras ao comércio nos levará a mais isolamento. Quem mostra que estamos isolados e não nos integramos às cadeias internacionais de comércio é a própria Organização Mundial de Comércio, dirigida por um brasileiro. Esse equívoco é mais velho que o governo Dilma, mas nele se aprofundou a idéia de que elevando-se impostos sobre produtos importados a indústria cresceria. Ela encolheu.

“O comércio internacional está com déficit no ano. Os preços das commodities estão caindo. O valor da soja só subirá num cenário de queda da produção brasileira. O minério de ferro está com cotação bem mais baixa.

“A economia está em recessão e quem diz isso não é o mal-afamado FMI, mas o IBGE. No primeiro trimestre o crescimento foi de menos 0,2%, no segundo trimestre foi de menos 0,6%. Tudo o que se pode torcer é por um segundo semestre melhor do que o primeiro que leve o PIB a fechar em torno de zero.

“A inflação está alta demais, por tempo demais, para ser efeito de um choque, um evento isolado. É o resultado do descuido e da escolha ideológica pela inflação. Foi o que a presidente mostrou nos debates: ela acredita que derrubar a inflação levará a desemprego. Não viu o quanto a teoria econômica avançou nos últimos 40 anos, não olhou os exemplos virtuosos, não entendeu o que aconteceu na hiperinflação brasileira.

“No desemprego, a escolha da campanha foi exibir os números de um índice que está condenado a desaparecer. A desocupação só está em 4,9% na Pesquisa Mensal de Emprego, que é feita apenas em seis capitais e por isso vai ser substituída pela Pnad Contínua, amostra de 3.500 municípios, que tem registrado um desemprego quase dois pontos percentuais maior.

“As crenças econômicas da presidente e do seu grupo de assessores estão erradas. E por isso estão tendo um resultado desastroso. Não é culpa da conjuntura internacional. A crise que Lula definiu como ‘marolinha’ era aguda e perigosa. Levou o Brasil à recessão em 2009. Hoje, a economia mundial está em transição para um novo patamar de crescimento. Existem riscos, mas não são de colapso iminente da economia americana, como em 2008-2009. A Europa está crescendo pouco e teme a deflação, mas não se fala em implosão do euro. A previsão de crescimento da Alemanha está com viés de baixa, agora de 1,5% para 1,2%. A nossa previsão é de zero.

“A estagflação brasileira foi feita aqui dentro e o mundo em descompasso não vai nos acudir. Não haverá uma onda boa, como o boom de commodities que alavancou o primeiro governo Lula.

“Se vencer, a candidata terá de mudar de rumo ou o país vai piorar. Nada há no receituário da presidente Dilma que nos tire da crise em que o Brasil está. E ela não nos governou nos últimos meses: fez campanha em que escondeu seu programa, falsificou o pensamento alheio, e adiou os números ruins e as más notícias para depois das urnas.” (Míriam Leitão, O Globo, 24/10/2014.)

Desemprego baixo sem aumento de vagas

* O baixo nível de desemprego acontece devido à redução de interessados em procurar ocupação

“O desemprego continua em níveis historicamente baixos. Como mostraram nesta quinta-feira os levantamentos do IBGE, em setembro foi de apenas 4,9% da força de trabalho.

“O gráfico abaixo mostra que esta não é uma situação episódica. O baixíssimo nível do desemprego se repete mês após mês e vai confirmando um quadro de pleno-emprego ou de algo muito próximo disso.

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“Este continua sendo um dado surpreendente nessa paisagem de crescimento econômico insignificante por quatro anos consecutivos.

“Como já se sabe há meses, o baixo nível de desemprego não acontece por aumento dos postos de trabalho, mas por redução de interessados em procurar ocupação. Os especialistas em Economia do Trabalho vêm queimando massa cerebral para entender por que isso acontece no Brasil. O debate se estende, com balanço de mais hipóteses do que de conclusões.

“Não cabe aqui argumentar que o desânimo difundido no mercado de trabalho é responsável pelo desalento e pela desistência da procura de emprego. O IBGE mostra que essa fatia da força de trabalho está diminuindo, e não o contrário.

“Parte das explicações talvez esteja no fato de que mais jovens vêm adiando sua entrada no mercado de trabalho, porque têm de estudar e buscar mais qualificação. Isso só teria se tornado viável porque havia quem bancasse esse investimento na carreira profissional.

“Essa é a principal razão por que os estudiosos juntam à argumentação a ponderação de que isso só se tornou possível graças à maior transferência de recursos orçamentários para a população, por meio do programa Bolsa Família.

“É possível também que tenha ficado mais fácil e mais remunerador trabalhar pelo menos parcialmente por conta própria. O setor de serviços está em forte expansão. Até mesmo quem tem um emprego em tempo parcial pode estar aproveitando para esticar algumas horas semanais para um reforço no orçamento.

“Seria, por exemplo, o caso da empregada doméstica que aceita serviços adicionais de faxina; o do funcionário da companhia telefônica que aproveita suas visitas para se apresentar e executar serviços por fora; o professor que dá aulas particulares; ou o instrutor de academia que atua como personal trainer. São virações hoje facilitadas pelo uso generalizado do telefone celular. Essa gente não está à procura de emprego. Mas pode estar em condições de ajudar no sustento da parentada que, por sua vez, não sente a mesma premência de há alguns anos de procurar atividade remunerada.

“Nenhum desses fatores isolados deve ser tomado como explicação cabal e talvez haja outros ainda desconhecidos. É matéria para avaliação de quem se debruça sobre esse mercado.

“Níveis baixos de desemprego é situação desejada por qualquer administrador de políticas públicas. Mas não dá para ignorar seus efeitos colaterais ruins quando conjugados com reduzida produtividade da mão de obra. Como o Banco Central vem denunciando em praticamente todos os seus documentos, um mercado de trabalho pressionado, como o de agora, é fator de aumento de custos de produção e, portanto, de inflação.” (Celso Ming, Estadão, 24/10/2014.)

Erros na área da saúde

* O país perdeu 14.671 leitos de hospitais em quatro anos de governo Dilma

“Mais um estudo – desta vez do Conselho Federal de Medicina (CFM) – coloca em evidência a grave crise por que passa a rede pública de saúde. Ele mostra, com base em dados do Ministério da Saúde, que de julho de 2010 a julho de 2014 houve uma redução considerável de leitos de internação colocados à disposição da população pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O trabalho vem corroborar as conclusões de outros semelhantes, realizados recentemente, sobre essa tendência.

“O número de leitos do SUS caiu de 336,2 mil para 321,6 mil naquele período – uma redução de 14.671 -, e o Rio de Janeiro foi o Estado mais afetado. Ele perdeu 5.977 leitos, ou 40,7% do total, como mostra reportagem do jornal O Globo. O Ministério da Saúde não nega seus próprios números, como não poderia deixar de ser, mas tem uma visão muito diferente da do CFM sobre a questão. Alega que a necessidade de internação hospitalar diminuiu nos últimos anos, como consequência, entre outras coisas, de programas de prevenção de doenças e do Saúde da Família, e que ao mesmo tempo cresceu muito o número de outros tipos de leitos.

“Em ocasiões anteriores em que o problema foi levantado, as autoridades da área de saúde observaram que se deve levar em conta também a redução de leitos no setor de psiquiatria, justificada por terem surgido novas formas de tratamento que dispensam a internação.

“De fato, como o próprio CFM reconhece, os chamados leitos complementares saltaram de 24.244 para 27.148 nos quatro anos do estudo. Os leitos de observação passaram de 80.742 para 91.710 no período e, como faz questão de ressaltar o Ministério, os leitos de UTI, ditos de maior complexidade, aumentaram de 15.509 para 19.394, um crescimento de 25% nos últimos três anos.

“Uma coisa, porém, não exclui a outra. Do fato de a criação desses leitos ser uma necessidade não se deduz que ela justifique a eliminação de leitos de internação, e menos ainda na grande quantidade registrada. Tem razão, por isso, o vice-presidente do CFM, Mauro Ribeiro, quando recomenda não confundir as duas coisas. ‘Usam-se afirmações verdadeiras e justificativas falsas. Quando se coloca que há um aumento da tecnologia, medicações mais eficientes e tempo de internação menor do que há 20 anos, isso é verdadeiro. Mas usar isso para fechar leitos é justificativa falaciosa. Há filas para cirurgias eletivas e superlotação nos prontos-socorros’, afirma.

“Não são apenas a simples constatação que qualquer um pode fazer pessoalmente e as frequentes reportagens de jornais e televisões, estas com cenas particularmente chocantes, que comprovam a superlotação dos hospitais, com doentes atendidos nos corredores. Trabalhos técnicos de inegável seriedade fazem o mesmo.

“Um estudo do Tribunal de Contas da União, feito em 2013, em 116 hospitais distribuídos por todos os Estados e o Distrito Federal, que constitui uma amostra representativa do sistema público de saúde, mostrou que nele faltam leitos, profissionais de saúde, medicamentos e equipamentos. A maioria dos dirigentes das unidades avaliadas, 64%, disse existir superlotação nos setores de emergência. Não foram poucos os casos constatados de pacientes atendidos em corredores, em macas e até em cadeiras.

“A conclusões quase idênticas – algumas até mais chocantes – chegou um estudo posterior, feito por deputados da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, representantes do Conselho Federal de Medicina e do Ministério Público Federal em oito unidades de atendimento de urgência espalhadas pelo País. ‘Existem casos que são verdadeiros acampamentos de guerra. As pessoas são depositadas ali’, denunciou um dos membros do grupo, deputado Arnaldo Jordy (PPS-PA).

“É grave e preocupante, sim, a eliminação de 14.671 leitos hospitalares em quatro anos, porque, se eles pudessem ser compensados pelos milhares de outros criados corretamente, como pretende o Ministério da Saúde, a situação não seria essa mostrada por tais estudos.” (Editorial, Estadão, 24/10/2014.)

Erros na área do Ministério da Justiça

* Há dinheiro para melhorar a situação precaríssima dos presídios. O que falta é gestão

“A lamentável situação dos presídios brasileiros vem à tona em todas as eleições presidenciais. E não é por falta de dinheiro que a situação não melhora. Segundo a entidade não governamental Contas Abertas, o Fundo Penitenciário Nacional (Funpen) tem hoje mais de R$ 2 bilhões em caixa. O que falta é uma gestão competente.

“O Fundo, coordenado pelo Ministério da Justiça, foi criado em 1994 pela Lei Complementar 79. Criá-lo foi a solução encontrada para garantir os recursos necessários para viabilizar a modernização e o aprimoramento do Sistema Penitenciário Brasileiro. E os recursos foram chegando. Em 2000, o saldo do Funpen era de R$ 175,2 milhões. Em 2004, superou R$ 300 milhões. E, em 2011, passou de R$ 1 bilhão. E agora o saldo do Funpen alcança a cifra dos R$ 2 bilhões.

“O crescimento do saldo mostra que a lei complementar cumpriu parte da sua finalidade: já existem os recursos para viabilizar a modernização e o aprimoramento do Sistema Penitenciário Brasileiro. A maior parte desses recursos corresponde aos 3% do montante que a Caixa Econômica Federal arrecada com os seus concursos, sorteios e loterias, porcentual este que por lei deve ser destinado ao fundo. Mas o Funpen tem ainda outras fontes de receita: parte das custas judiciais recolhidas em favor da União, multas decorrentes de sentenças judiciais penais condenatórias com trânsito em julgado, etc. Ou seja, a idéia inicial de separar recursos para os presídios já é uma realidade.

“Falta agora o cumprimento da outra parte da lei: que os recursos sejam investidos na modernização e no aprimoramento do sistema penitenciário. No entanto, para este passo não basta ter lei; falta uma gestão pública competente, que seja capaz de definir com prudência quais investimentos serão feitos e executá-los com eficiência. E isso o governo de Dilma Rousseff não fez – e, pelo que se vê nos números do saldo do fundo, é uma constante de todo o período petista na administração pública federal.

“A atuação do governo federal em 2014 é mais um exemplo deste descaso com o sistema prisional, isto é, de descaso com os presos, com os agentes penitenciários, com toda a sociedade. No orçamento de 2014 da União, estava previsto que fossem gastos ao longo do ano R$ 494 milhões. No entanto, decorridos dez meses, apenas R$ 183,3 milhões foram executados, isto é, 37% da previsão. Uma das principais ações previstas para este ano, ‘Reestruturação e Modernização do Sistema Criminal e Penitenciário’, recebeu apenas 12,1% de um total de R$ 279 milhões. Significa dizer que a ação – que previa a melhoria dos sistemas prisionais estaduais, o fortalecimento da gestão penitenciária, a otimização da aplicação dos recursos destinados ao sistema prisional brasileiro, a redução do déficit carcerário nas Unidades Federativas e o fomento de ações que assegurem os direitos da mulher no Sistema Penal – ficará apenas na promessa, já que poderá contar somente com um pouco mais do que a décima parte prevista para sua implantação. Esse descaso com os objetivos propostos é reconhecido pelo próprio Ministério da Justiça, ao admitir que o repasse parcial das verbas previstas no Orçamento – o contingenciamento de verbas – impossibilita levar as ações previstas adiante.

“Nessa toada, os números do sistema carcerário brasileiro não surpreendem. Segundo o relatório publicado em junho pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o País tem hoje 563,5 mil presos, mas nos presídios há apenas 357 mil vagas, o que configura uma superlotação de 206 mil presos. E isso sem contar com os 373.991 mandados de prisão não cumpridos, de acordo com o CNJ.

“Os presídios não podem ser um aspecto esquecido – um aspecto invisível – da realidade social. Era de esperar outra atitude do governo federal, especialmente em 2014, ano que se iniciou com a publicação das cenas de barbárie no presídio de Pedrinhas (Maranhão). Era de esperar que a contínua afronta aos direitos humanos que se observa no sistema prisional brasileiro conduzisse a uma melhor gestão dos recursos a ele destinados.” (Editorial, Estadão, 24/10/2014.)

26 de outubro de 2014

Outras compilações de provas da incompetência de Dilma e do governo lulo-petista: 

Volume 140: Notícias de 9 a 15/5/2014.

Volume 141: Notícias de 16 a 22/5/2014.

Volume 142: Notícias de 23 e 29/5/2014.

Volume 143: Notícias de 30/5 a 5/6/2014. 

Volume 144: Notícias de 6 a 12/6/2014. 

Volume 145: Notícias de 13 a 19/6/2014.

Volume 146: Notícias de 20 a 26/6/2014.

Volume 147: Notícias de 27/6 a 3/7/2014.

Volume 148:  Notícias de 4 a 10/7/2014.

Volume 149: Notícias de 11 a 17/7/2014.

Volume 150: Notícias de 15 a 21/8/2014. 

Volume 151: Notícias de 22 a 28/8/2014.

Volume 152: Notícias de 29/8 a 4/9/2014.

Volume 153: Notícias de 5 a 11/9/2014.

Volume 154: Notícias de 12 a 18/9/2014.

Volume 155: Notícias de 19 a 25/9/2014.

Volume 156: Notícias de 26/9 a 2/10/2014.

Volume 157: Notícias de 3 a 9/10/2014. 

Volume 158: Notícias de 10 a 16/10/2014.

Volume 159: Notícias de 17 a 23/10/2014.

9 Comentários para “Más notícias do país de Dilma volume 160 – e chega!”

  1. CONTAGEM REGRESSIVA.
    FALTAM AINDA 67 DIAS PARA O FIM DAS MÁS NOTÍCIAS,

    O compilador jogou a toalha, não esperou o fim da partida.Quem sabe segunda feira 27/10/2015 poderá coroar o fim das más notícias? Só após a contagem dos votos e que saberemos se teremos mais quatro anos de más notícias.

  2. Realmente foi trabalho insano, pior que voltado para um grupo de tucanos convictos. 50anosdetextos abandonou a idéia inicial e se enveredou em caminho sem volta, as compilações do PIG(dois melhores jornais do país?) não foram suficientes para enterrar a democracia conseguida pelo povo as duras penas. Tardiamente o compilador descobriu as ruas e o povo no Largo do Batata, emocionou-se, talvez pela primeira vez viu de perto a militância, deixou ô jornalismo e virou povo, povão, de bandeira, slogans, palavras de ordem, 1…2…3…1000 queremos que o

  3. PT VÁ PARA PUTA QUE O PARIU!
    As eleições foram perdidas, qualquer um que ganhe, PT ou PSDB perdemos uma grande chance de escolher uma terceira via. Não faz mal, a luta continua, a esperança é Marina, que sabiamente clama: Vamos caminhar vovô!
    MARINA neles!

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