Nunca, ao longo de 106 semanas, houve tanta má notícia no Brasil como nesta última. Esta compilação aqui das notícias e análises que comprovam a incompetência do lulo-petismo como um todo e do governo de Dilma Rousseff em especial, a 106ª, é a maior de todas que já publiquei.
Segundo o Word, são 47 páginas.
Durante três semanas do mês passado, milhões de pessoas foram às ruas para protestar. Foram protestos difusos, sem uma causa específica – mas, entre outros pontos, protestou-se basicamente contra a forma com o País vem sendo administrado. Pedia-se mais atenção aos transportes coletivos, à saúde, à educação; protestava-se contra os gastos excessivos com os estádios de futebol, contra a corrupção.
Como resposta a tanta indignação, o governo: a) encenou uma fala de dez minutos da presidente em rede nacional de rádio e TV; b) montou uma reunião da presidente com governadores e prefeitos em que só ela falou; c) promoveu uma reunião da presidente com seu ministério; três dos 39 ministros não apareceram; no meio da reunião, a presidente fez um discurso como se estivesse em palanque eleitoral; e d) apresentou a farsa de uma proposta de Constituinte exclusiva sobre reforma política, voltou atrás e apresentou a farsa de uma proposta de plebiscito dedicado ao tema.
Como marketing, foi uma beleza. Em vez de discutir transportes, saúde, educação, gastos excessivos com coisas supérfluas, corrupção, o País discutiu reforma política.
Nos sete dias entre a sexta-feira, 28 de junho, e a quinta, 4 de julho, as manchetes de O Estado de S. Paulo e O Globo trataram de reforma política em cinco deles. (Os dois únicos dias em que o assunto não foi manchete foram o sábado, dia em que se noticiou a primeira prisão de um deputado federal desde 1974, e a quinta-feira, em que o tema principal foi o golpe no Egito.)
Cortina de fumaça é isso aí. Se o governo tivesse a competência do seu marqueteiro, estaríamos no melhor dos mundos.
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Mas a verdade é que as manchetes não chegaram a esconder os problemas. O próprio golpe do plebiscito ajudou a deixar ainda mais clara, nítida, evidente, cristalina, a incompetência do governo Dilma Rousseff. Em editorial, o Estadão concordou com a descrição de que “o governo está feito uma barata tonta”.
“A presidente Dilma Rousseff simplesmente não está à altura da situação que tem o dever de enfrentar”, sintetizou J. R. Guzzo na Veja. “Não sabe o que fazer, o que acha que sabe está errado, e, seja lá o que resolva, ou diga que está resolvendo. não vai ser obedecida na hora da execução. O momento exige a grandeza, a inteligência e os valores pessoais de um estadista. Dilma não tem essas qualidades.”
Dora Kramer, no Estadão, fez outra síntese perfeita: “Pelas propostas até agora apresentadas ficou claro que o governo só tinha uma agenda: navegar na onda da popularidade da dupla Dilma/Lula com o único objetivo de vencer eleições por apreço ao poder pelo poder.”
Sobre uma das encenações marqueteiras da semana, Dora Kramer também foi direto ao ponto: “A presidente da República registra uma queda de popularidade abrupta e tão profunda como nunca antes se viu neste País e sua reação é convocar uma reunião ministerial. ‘Para mostrar que o Brasil não está parado.’ Espetáculo síntese da estrutura mastodôntica de ineficiência inequívoca, de irrelevância administrativa.”
Em reportagem que mostra que o governo tem 984.330 servidores nos 39 ministérios, ao custo anual de R$ 611 bilhões (!),Chico de Gois e Juliana Castro, em O Globo, fizeram definição exata: “É como se um paquiderme tentasse voar ou correr e seu peso o impedisse de avançar. Assim é o governo federal e sua gigantesca máquina administrativa.”
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Como esta compilação está tão excepcionalmente longa, vou dividi-la em duas partes. Aí vai a primeira. As notícias e análises foram publicadas entre 28 de junho e 4 de julho.
Na Parte Dois vão diversas más notícias que mostram como o governo está levando a economia do país para o mais profundo brejo. Quem tiver estômago e/ou paciência para dar uma olhada pode clicar aqui.
O governo desorientado, desnorteado
* Disseram que o governo “está feito uma barata tonta”. É uma descrição apropriada.
“Depois de falar sem interrupções (a presidente Dilma, em reunião com sindicalistas) durante 35 minutos – quando exortou os ouvintes a suspender a greve geral marcada para 11 de julho contra a inflação alta e o crescimento baixo -, deu os trâmites por findos, sem mais aquela, assim que os inscritos para falar opinaram sobre a situação nacional. Diante dos jornalistas, o presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva, a acusou de ter feito uma reunião para discorrer sobre os seus ‘planos mirabolantes’. Acrescentou que ‘saímos daqui como sempre saímos, sem encaminhamento das nossas reivindicações’. Até aí, nada de mais: ele joga para a sua arquibancada. Mas o fato é que o defensor de Dilma, o presidente da CUT, Vagner Freitas, foi menos do que convincente ao retrucar que o encontro se destinara a tratar das demandas da rua e não da agenda sindicalista.
“A verdade, quem diria, foi enunciada pelo mais radical dos presentes, o presidente do PSTU e coordenador do CSP-Conlutas, José Maria de Almeida. O plebiscito de Dilma, apontou, ‘é para desviar a atenção da crise de seu governo’. Tanto é manobra diversionista que o tema da reforma política foi mencionado por apenas 1% dos participantes dos protestos, em pesquisa do Datafolha na Avenida Paulista. (Contra a corrupção foram 50%; contra o aumento das passagens, 32%; e por transporte melhor, 19%.) E tanto o governo está em crise que, para citar uns poucos exemplos, o PT não para de falar mal de sua condutora pelas costas; o PMDB está ‘por aqui’ com o tratamento que ela lhe dispensa e que culminou com o anúncio da Constituinte exclusiva sem consulta prévia ao vice (e constitucionalista) Michel Temer; e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ficou nu – e só – diante de seus inimigos numa audiência, anteontem, na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara.
“Estavam presentes apenas 6 dos seu 36 membros titulares, o que deu margem ao sarcasmo do deputado Rodrigo Maia, tão logo Mantega se acomodou. ‘Ou o ministro está muito fraco ou os deputados já foram embora’, fustigou. Depois de sua exposição previsivelmente otimista sobre ‘a nova matriz econômica’, Mantega foi praticamente esfoliado pela oposição, que não se guardou de pedir a sua cabeça. ‘O ministro sofre de um surto psicótico’, investiu ainda Maia. ‘A crise de confiança (no governo) se chama Guido Mantega e equipe econômica.’ O seu companheiro de partido, Mendonça Filho, desdenhou da exposição do ministro chamando-a de ‘ficção científica’. Juntou-se a eles, entre outros, o tucano Duarte Nogueira, para diagnosticar que o governo ‘está feito uma barata tonta’. É uma descrição apropriada.” (Editorial, Estadão, 28/6/2013.)
* “O povo acordou. Já Dilma e seu governo ainda parecem entorpecidos pela ilusão de que tudo ia pelo melhor dos mundos”
“Já era esperado que as manifestações que sacudiram o País – e ainda continuam a fazê-lo em menor intensidade – levassem a uma queda tanto do índice de aprovação do desempenho da presidente Dilma Rousseff como dos que se mostram dispostos a votar por sua reeleição em 2014. O que surpreendeu e assustou foi o tamanho da queda, registrada na última pesquisa do Datafolha. Em apenas três semanas, a porcentagem dos que consideram seu governo ótimo ou bom despencou de 57% para 30%. Uma perda de 27 pontos – a maior registrada por aquele instituto desde que o ex-presidente Collor, em 1990, congelou a poupança – em tão pouco tempo realmente impressiona.
“Aquilo que Dilma e seus aliados parecem não ter percebido é que, se nem todas as insatisfações que levaram às manifestações foram ainda identificadas, entre elas dificilmente deixarão de estar o mau desempenho da economia – com a inflação crescente assustando principalmente as camadas de baixa renda, as mais prejudicadas por ela – e as difíceis relações entre a presidente e sua vasta e heterogênea base de sustentação no Congresso. Esses dois ingredientes, que já seriam suficientes para provocar mal-estar, para não dizer crise, foram potencializados pela ira das ruas.
“Descontente em especial com a má qualidade dos serviços pelos quais paga caro e com a corrupção que continua a correr solta, e há muito tempo, o povo acordou e está dando seu recado de forma em geral ordeira. Já Dilma e seu governo ainda parecem entorpecidos pela ilusão de que tudo ia pelo melhor dos mundos. Embora se dizendo disposta a ouvir a voz das ruas, a presidente não deu mostras até agora de ter entendido, como deveria, o seu recado. As medidas de natureza administrativa e econômica anunciadas para aplacar a ira dos manifestantes são quase todas requentadas e pouco animadoras. O mesmo se pode dizer das destinadas a combater a corrupção, que não tocaram, nem de leve, em áreas sombrias de seu governo, que voltaram a ser ocupadas pelos correligionários dos que delas foram afastados pela faxina promovida no início de seu mandato.
“É tudo isso – mais a constatação de que a presidente não está à altura do cargo – que está por trás do tombo de Dilma na apreciação do povo. E, como a queda diz respeito à eleição de 2014, na qual Dilma está abertamente empenhada, seus efeitos desorientam ainda mais a já desorientada presidente. No cenário em geral considerado mais provável da sucessão – tendo como candidatos Dilma, Marina Silva, Aécio Neves e Eduardo Campos -, a presidente perdeu 21 pontos em relação à última pesquisa, caindo de 51% para 30% na preferência dos ouvidos pelo Datafolha.
“Assustados com o futuro, que começa a ficar incerto, seus aliados – até mesmo o PT – tomam precauções, pedem mudanças no governo e na articulação política e insinuam possíveis rompimentos. O próprio líder no PT no Senado, Wellington Dias (PT-PI), foi tão direto quanto possível para alguém em sua posição. Lembrando os exemplos dos ex-presidentes Fernando Henrique e Lula, que estavam bem colocados antes de se candidatarem à reeleição, afirmou que, ‘se ela (Dilma) estiver bem posicionada em 2014, será a nossa candidata. Isso é o que estamos sentindo nas reuniões do PT’. Senão… Isso explica os movimentos ainda velados de ‘Volta Lula’.
“De imediato, Dilma tem de enfrentar o descontentamento de sua base aliada no Congresso – que já existia e cresceu com o susto das manifestações e sua queda nas pesquisas – com o desempenho dos ministros da Fazenda, Guido Mantega, da encarregada da articulação política, Ideli Salvatti, e da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. Já é notória a incapacidade das duas ministras na articulação da base parlamentar, que se soma à falta de aptidão da presidente para os entendimentos políticos.
“A presidente pode se enganar mais uma vez, se achar, como dá mostras, que vai melhorar sua situação a curto prazo, agarrando-se ao plebiscito da reforma política, porque ele tem a simpatia de 68% da população. Em vez disso, deveria ouvir a advertência – não sem uma dose de ironia involuntária – de seu aliado Carlos Luppi, presidente do PDT, afastado por ela do governo: ‘Quando o navio naufraga, os ratos saltam’.” (Editorial, Estadão, 2/7/2013.)
* “Nunca, possivelmente, o Brasil esteve sob o comando de gente tão soberba quanto Lula, Dilma e os barões do PT”
“Um caderno de anotações sobre os fatos que vêm acontecendo no Brasil durante as três últimas semanas poderia conter, com bastante precisão e dentro da ‘margem de erro’ tão útil aos institutos de pesquisa, o registro das seguintes realidades:
“A presidente Dilma Rousseff simplesmente não está à altura da situação que tem o dever de enfrentar. Não sabe o que fazer, o que acha que sabe está errado, e, seja lá o que resolva, ou diga que está resolvendo. não vai ser obedecida na hora da execução. O momento exige a grandeza, a inteligência e os valores pessoais de um estadista. Dilma não tem essas qualidades. O autor deste artigo também não sabe o que deveria ser feito — para dizer a verdade, não tem a menor ideia a respeito. Em compensação, ele não é presidente da República.
“A mais comentada de todas as propostas que a presidente anunciou para enfrentar a crise foi um misterioso plebiscito, do qual jamais havia falado antes, para aprovar uma nova Assembleia Constituinte destinada exclusivamente a fazer uma ‘profunda reforma política’. Não houve, também aqui, a mínima preocupação em pensar antes de falar, para ver se existiria alguma ligação entre essa ideia e a possibilidade real de executá-la dentro das leis vigentes. Não existia, é claro. Resultado: a proposta de Dilma morreu em 24 horas, afogada num coro de gargalhadas. A hipótese otimista é que o governo esteja a viver, mais uma vez, um surto agudo de desordem mental e descontrole sobre seus próprios atos. A pessimista é que o PT, sob o comando do ex-presidente Lula. esteja querendo empurrar Dilma para uma aventura golpista.
“A única ‘reforma política’ que o PT quer fazer, como se sabe há anos, é a seguinte: tirar do eleitor brasileiro o direito de escolher os deputados nos quais quer votar, obrigando a todos a votar numa ‘lista fechada’ e composta exclusivamente de nomes que os donos dos partidos escolherem; ‘financiamento público’ para as campanhas, ou seja, sacar dinheiro do Tesouro Nacional e entregá-lo diretamente aos políticos nos anos eleitorais. Além dos milhões que já recebem pelo ‘caixa dois’ das empresas privadas (e que o próprio Lula. numa ‘entrevista’ armada durante o mensalão. considerou algo perfeitamente normal), receberiam também dinheiro que vem direto do contribuinte.
“A ‘reforma’ Lula-PT não propõe nenhuma mudança, uma única que seja. em nada daquilo que a população realmente quer que mude. e que tem sido um dos alvos principais da ira das ruas: o fim de qualquer dos privilégios grotescos dos parlamentares, como carro privado para cada um, casa de graça, verbas que podem gastar como quiserem, e que acabam sistematicamente no próprio bolso ou no de sua família. Podem faltar quanto quiserem. Vendem ou alugam seus assentos a ‘suplentes’. A reforma petista mantém o absurdo sistema eleitoral que nega ao cidadão brasileiro o direito universal de ‘um homem, um voto’. Recusa o voto distrital, adotado em todas as democracias verdadeiras do mundo. Nada disso: num ambiente de catástrofe, em que até uma criança de 10 anos sabe que o povo tem pelos políticos uma mistura de asco, desprezo e ódio, o PT quer dar ainda mais dinheiro a eles.
“A presidente disse que ‘está ouvindo’ os indignados que foram às ruas. Mas não está. Se estivesse, não existiria, em primeiro lugar, o inferno que é a vida diária de milhões de brasileiros, a quem o governo ignora; porque dá o Bolsa Família, anuncia vitórias imaginárias e acha que governar é fazer truques de marquetagem, convenceu-se de que o povo está muito bem atendido. Escutando os protestos? Ainda em março, Dilma recusou uma suíte de 80 metros quadrados num hotel de luxo da África do Sul, por achar que era pequena demais. A culpa, é claro, foi passada ao Itamaraty. Mas, quando o fato se tornou conhecido, a presidente não disse nenhuma palavra de desculpa, nem mandou o Itamaraty tomar alguma providência para que um fato assim não se repita. Foi adotada uma única medida: de agora em diante o governo não vai mais revelar nenhum dado das viagens presidenciais.
“Ao longo de vinte dias, Dilma, seus 39 ministros e os mais de 20.000 altos funcionários de ‘livre nomeação’ do governo não vieram com uma única ideia que pudesse merecer o nome de ideia. Suas propostas demoraram até a semana passada para aparecer — e, quando enfim vieram, anunciaram coisas desconectadas com a realidade ou entre si próprias, pequenas na concepção e nos objetivos, incompreensíveis ou apenas tolas. Foram tirando ao acaso de uma sacola, e jogando em cima do público, as miudezas que passaram por seu circuito mental nestes dias de ira: mudar a distribuição de royalties do petróleo, importar 10.000 médicos estrangeiros, punir a ‘corrupção dolosa’ como ‘crime hediondo’ (Dilma, pelo jeito, imagina que possa haver algum tipo de corrupção não dolosa), dar ‘mais recursos’ para isso ou aquilo, melhorar a ‘mobilidade urbana’. É puro PAC.
“No jogo jogado, tudo isso quer dizer três vezes zero. Numa hora dessas eles vêm falar em royalties, assunto técnico que exigirá meses ou anos para ser reformulado? Importação de médicos? Só agora descobriram que faltam médicos no serviço público por causa da miséria que lhes pagam? Só depois que o povo foi para a rua perceberam que a corrupção é um crime abominável? Se os que mais roubam estão dentro da máquina do governo, como acreditar num mínimo de sinceridade nesse palavrório todo? A presidente e seu entorno anunciaram medidas que só o Congresso pode aprovar. Outras dependem do Judiciário, ou de estados e prefeituras. O que sobra é o fim do resto.
“Os números apresentados até agora não fazem nenhum sentido. Falou-se em aplicar ‘50 bilhões’ de reais em obras de ‘mobilidade urbana’. Que raio quer dizer isso? Parece que se trata de melhorar o transporte em metrô, trens e ônibus — mas não existe a mais remota informação concreta sobre como fazer isso na prática, nem onde, nem quando. Não é uma providência de verdade; é apenas uma cifra chutada e um amontoado de dúvidas. O trem-bala. por exemplo — será que entra nessa conta? Há algum projeto de engenharia pronto para alguma obra a ser feita? Alguém no governo sabe dizer onde estão os tais ‘50 bilhões’? Não é surpresa que um grupinho de garotos do Movimento Passe Livre tenha saído de um encontro com Dilma dizendo que ela é ‘completamente despreparada’ no assunto. Os números citados para a saúde são igualmente desconexos: 7 bilhões de reais para ‘20.000’ unidades de atendimento médico. Quais unidades? Onde? Esses ‘7 bilhões’, se existissem, equivaleriam a 20% do que se estima que será gasto nas obras para a Copa de 2014. Dá para entender? É a fé cega na incapacidade do povo brasileiro em fazer contas.
“A marca mais notável da defesa que o governo fez de si próprio, durante estes dias de revolta, é que não há uma defesa. Pedem que o povo reconheça as ‘transformações’ que fizeram no país. Quais? Após dez anos de governo popular do PT, o Brasil está em 85° lugar no IDH — subiu apenas 5% em todo esse tempo, e teve crescimento praticamente nulo durante os anos Dilma. Isso ocorreu num período de dramáticos avanços na renda de todos os países pobres: apenas entre 2005 e 2011, 500 milhões de pessoas saíram da pobreza em todo o mundo. O governo do petismo transformou o Brasil num país com 50 000 assassinatos por ano, e onde 75% da população não é capaz de entender plenamente o que lê. A rede pública de saúde foi transformada num monstro em que o cidadão pode esperar seis meses, ou um ano, por um exame clínico, e pacientes aguardam atendimento jogados no chão de hospitais, como se vivessem num país em guerra. A transformação do sistema portuário criou um Brasil que não consegue embarcar o que produz nem desembarcar o que compra lá fora. Conseguiram, até, transformar o significado da palavra ‘corrupção’, ao venderem a ideia de que qualquer denúncia contra a roubalheira do governo é ‘moralismo’ — ou seja, o erro é denunciar o erro.
“As ruas iradas de junho deixaram à vista de todos um fato que muita gente já sabe, mas quase nunca é mencionado: o ex-presidente Lula é um homem sem coragem. Líderes corajosos jamais se escondem nas horas de dificuldade brava. Ao contrário, vão para a frente, tomam posição nos lugares mais arriscados, e assumem a luta em defesa do que acreditam. Não ficam escondidos da população, fazendo seus pequenos cálculos para descobrir o lucro ou prejuízo que teriam ao aceitar suas responsabilidades — pensam, apenas, no seu dever moral, nos seus princípios e nos seus valores. Coragem é isso — e isso Lula não foi capaz de mostrar. Onde está ele? Na hora em que o Brasil mais precisou de uma liderança em sua história recente, o homem sumiu. Vive dizendo que não há no mundo ninguém que saiba, como ele. subir no carro de som ou no palanque e ‘virar’ qualquer situação de massas. Na hora de agir, trancou-se na segurança do seu esconderijo. E a ‘negociação’ — na qual também se julga um ás incomparável —, onde foi parar? Para quem tem certeza de que negociou ‘a paz no Oriente Médio’, Lula teria de estar desde os primeiros momentos tratando de montar algum tipo de negociação. Na vida real, limitou-se a cochichar com subalternos, dar palpite e falar mal dos outros. Lula sempre fez questão de achar ‘inimigos’. Pois achou, agora, todos os que poderia querer.
“Ficou claro que o governo está errando há dez anos na avaliação que faz da imprensa livre. Confundiram tudo: acharam que a internet, com a sua audiência sem limites, estava anulando jornais e revistas, quando na verdade tem feito exatamente o contrário: reproduz o que sai na imprensa para milhões de pessoas que não leram o noticiário escrito. E agora? A internet mostrou-se um multiplicador incontrolável do conteúdo da imprensa, e a mais poderosa alavanca de notícias que jamais se viu no país. Vídeos amadores, diversos deles falados em inglês com legendas em português e dirigidos aos internautas do mundo todo, apresentaram denúncias devastadoras e bem articuladas sobre a insânia governamental que levou o povo à rua. Em apenas uma semana, de 14 a 21 de junho, um desses vídeos, entre dezenas de outros, teve mais de 1.3 milhão de visualizações. Todas as informações que estão ali foram tiradas da imprensa livre. O governo não entendeu nada. Mas desta vez não teve como mentir: não conseguiu dizer que as manifestações eram invenção da ‘imprensa de direita’.
“Os descontentes de junho mostraram mais uma vez. como a Bíblia nos diz em Provérbios 16:18, que ‘a soberba vem antes da queda’. Nunca, possivelmente, o Brasil esteve sob o comando de gente tão soberba quanto Lula. Dilma e os barões do PT, e tão à vontade em exibir sua arrogância. Estão levando, agora, o susto de suas vidas, ao descobrirem que marquetagem, demagogia e exploração da ignorância não são mais suficientes para desviar a atenção do povo para o desastre permanente que causam ao país. Espantam-se que o povo faça contas — e se sinta roubado com uma Copa do Mundo que pode acabar custando até 35 bilhões de reais, mais do que as últimas três somadas. Espantam-se que as suas esperanças de livrar da cadeia, com velhacaria jurídica, os mensaleiros mais graúdos estejam desabando. Espantam-se ao saber que muita gente está cada vez mais cheia de gastar cinco horas diárias para ir ao trabalho e voltar para casa. Desafiaram o ensinamento básico de Abraham Lincoln: ‘Pode-se enganar a todos durante algum tempo; pode-se enganar alguns durante todo o tempo; mas não se pode enganar a todos durante o tempo todo’. Estão colhendo o que semearam.” (J. R. Guzzo, Veja, 3/7/2013.)
* Dilma mistifica, recorre à má-fé. E, toscamente, se compara à Seleção. Logo ela, cujo time não ganha uma
“Deve datar da Grécia Antiga o golpe retórico que pretende desviar de seu curso natural o debate público que vinha deixando um dos participantes em má situação. A mistificação consiste em atribuir ao oponente intenções impopulares que em momento algum ele mencionara – para então desmenti-las com uma veemência comensurável com a falsa acusação. Pois foi a esse recurso de evidente má-fé que a presidente Dilma Rousseff apelou ao dar uma inusitada entrevista em meio à reunião ministerial de anteontem na Granja do Torto. O encontro visava, alegadamente, a mobilizar a equipe em torno dos cinco ‘pactos federativos’ que ela anunciara na semana passada como prova de ter ouvido e entendido as vozes da rua.
“Com estudado bom humor e cordialidade – para surpresa de ministros e jornalistas que conhecem a cara de poucos amigos e a rispidez com que ela costuma tratar os interlocutores -, Dilma enxertou na sua fala sobre a política de dispêndios da administração que dirige a advertência fulminante: ‘Cortar Bolsa Família jamais’. Por via das dúvidas, ou caso alguém não tivesse entendido direito, emendou: ‘Não esperem de mim reduzir gasto social. Não há hipótese disso’. Se um viajante recém-chegado de Marte topasse com tão assertivas palavras, não se poderia criticá-lo por imaginar que as oposições ou, quem sabe, até mesmo os brasileiros que em menos de um mês despojaram a presidente de 27 pontos de popularidade e de outros 21 na liderança das pesquisas eleitorais estão clamando por uma cirurgia no Bolsa Família.
“Ao tomar conhecimento do show de determinação no Torto, a parcela insuficientemente informada da sociedade – cuja participação na queda do prestígio e da intenção de voto na presidente, embora menos intensa do que a dos setores mais escolarizados e de maior renda, decerto foi especialmente dura de engolir para Dilma – talvez tenha sido levada a crer, a exemplo do imaginário extraterrestre, que ela resistia heroicamente a pressões subterrâneas das elites para passar a foice no orçamento social do Executivo. Está claro que a presidente, com essa enganação, desejava em primeiro lugar recuperar os pontos perdidos com os beneficiários cuja lealdade fraquejou nas últimas semanas. Nesse cenário, o fantasioso encolhimento do Bolsa Família faria as vezes do ‘inimigo externo’ a que se agarram governantes de todo tipo em tempos de crise para recobrar o apoio esgarçado.
“Ficasse nisso, a armação já teria sido de bom tamanho. Mas, pouco antes, Dilma já tinha achado oportuno dar uma indireta no governador tucano de São Paulo, Geraldo Alckmin, que na semana passada mandou cortar R$ 350 milhões em gastos de custeio do Estado e extinguiu uma das suas 26 Secretarias. ‘Eu não farei demagogia de cortar cargos que não ocupo. Se não ocupo, não gasto’, disse ela, demagogicamente, numa alusão aos postos não preenchidos no disforme corpanzil federal de 39 Ministérios e 22 mil ocupantes de cargos de confiança. ‘Eu tentarei olhar de onde e de que setor é possível fazer ajustes’, tentou prometer. A embromação presidencial é imitada no primeiro escalão. A área econômica – onde não há ‘mudança à vista’, assegurou Dilma – fez saber que prepara um bloqueio de até R$ 20 bilhões nas despesas governamentais, a se somar aos R$ 28 bilhões de fins de maio.
“Ocorre que o contingenciamento é imposição da Lei de Responsabilidade Fiscal: o que sai do erário deve se ajustar ao que nele entra. Com a arrecadação em baixa devido ao fraco nível da atividade econômica, o governo literalmente não faz mais que uma obrigação legal ao suspender gastos programados. Mas não passa pela cabeça de Mantega & Cia deixar de lado a ‘contabilidade criativa’ para fechar o exercício com superávit primário. Como já fizeram com o BNDES, tomarão dividendos antecipados da Caixa Econômica Federal, em troca de uma injeção de R$ 8 bilhões em títulos públicos. (No caso do Banco, foram R$ 15 bilhões.) E a presidente ainda se permite dizer que o seu governo ‘é padrão Felipão’. Além de ser uma tosca tentativa de se associar à conquista do tetra na Copa das Confederações, é uma ofensa ao grande treinador. A sua seleção acaba de golear a da Espanha, a melhor do mundo. O time de Dilma não ganha uma.” (Editorial, Estadão, 3/7/2013.)
* Ficou claro que o governo não tinha agenda alguma, a não ser o poder pelo poder
“Dos pactos ao plebiscito às carreiras, passando pela Constituinte exclusiva e uma reunião ministerial inócua, nada do que o governo federal disse ou fez nos últimos dias colou. Uma série de palpites infelizes descolados da realidade.
“Evidência de total falta de sintonia com o conteúdo do que diz o respeitável público e ausência de um diagnóstico (planejamento) sobre os problemas a serem resolvidos em ordem de prioridade conforme as necessidades reais do País. Em duas palavras: propaganda enganosa.
“Pode ser só uma primeira impressão, mas tudo indica que o artificialismo morreu como solução para situações difíceis, que feitiçarias marqueteiras não têm mais o mesmo efeito reparador e as velhas artimanhas estão com a validade vencida.
“Pelas propostas até agora apresentadas ficou claro que o governo só tinha uma agenda: navegar na onda da popularidade da dupla Dilma/Lula com o único objetivo de vencer eleições por apreço ao poder pelo poder.
“O Congresso não rejeita a realização de um plebiscito no molde proposto porque seja contra o princípio da consulta ao povo. Esta conclusão rudimentar é a que o Planalto gostaria que prevalecesse, mas não é isso que emerge do debate a respeito.
“As coisas são mais complexas que uma mera jogada de transferência de responsabilidades. Ao contrário, trata-se de usurpação ladina de prerrogativas. Inversão dolosa dos fatos.
“Ou a presidente e seus conselheiros não sabem que a função de convocar e definir a pauta do plebiscito é do Congresso? Ou desconhecem que uma consulta da complexidade da reforma política não se faz assim de estalo? Ou não notaram que a ira contra políticos não era motivada por regras eleitorais e sim pelo dar de ombros do Estado traduzido em desleixo administrativo e degradação moral?
“Bobagem achar que o governo não entendeu. Entendeu perfeitamente o nome do jogo. Até porque do contrário teríamos de admitir que o Brasil é governado há dez anos por um bando de tolos. São mesmo bem espertos. Mas, como reza o velho dito, a esperteza quando é muita vira bicho e come o dono. Pelo jeito, é o caso.
“O Congresso só tem uma maneira de desarmar o truque: fazendo a sua parte, trabalhando direito, atuando com autonomia, adotando critérios de decência, abrindo mão de privilégios.
“Quanto à reforma política, é colocar mãos e cabeças à obra para a elaboração de uma pauta voltada para o eleitor que depois seria chamado a referendo para aprovar ou rejeitar as mudanças. Nem tão devagar que pareça embromação nem tão depressa que dê margem a retrocessos. Para 2014 ou 2016. Importante é que valha a pena para sempre.” (Dora Kramer, Estadão, 4/7/2013.)
O golpe do plebiscito
* É escandaloso – e prova cabal de despreparo, oportunismo e irresponsabilidade – o que a presidente sugere ao País
“Bastou uma jornada de conversas com os líderes da base aliada e os presidentes da Câmara e do Senado – três sessões somando 11 horas – para a presidente Dilma Rousseff se deparar com a enrascada em que se enfiou ao propor a reforma política por plebiscito, a fim de se manter à tona depois do naufrágio da convocação, também por plebiscito, de uma Assembleia Constituinte para mudar, à revelia do Congresso, as regras do sistema eleitoral e da atividade política. Lançando às águas o Titanic saído dos estaleiros do Planalto, sem lastro político e muito menos jurídico, Dilma queria que se acreditasse que ela navegava no mesmo rumo da esquadra de protestos populares que percorre o País. A sua intenção primeira, na verdade, era efetuar uma manobra para desviar as atenções gerais do fracasso de seu governo em fazer o Estado servir ao povo – que é o que as manifestações exigem. A alternativa a que se agarrou, porém, é quase tão catastrófica quanto o disparate original.
“Na maratona de reuniões de anteontem (27/6), Dilma viu que o Congresso quer assumir o controle da consulta popular que, por ela, se concentraria no financiamento das campanhas e na fórmula de eleição de deputados. Só que os políticos destamparam um vespeiro ao incluir na agenda o fim da reeleição, a partir de 2018, com mandato único de cinco anos para presidente, governadores e prefeitos. Será um retrocesso, diga-se de imediato. Na soma algébrica de prós e contras, o Brasil saiu ganhando com a adoção, em 1995, do modelo que na prática confere um mandato de oito anos aos governantes, com um recall a meio caminho. O esquema favorece a continuidade administrativa sem privar o eleitor da chance de substituir os titulares que não tiverem correspondido às suas esperanças. Há ainda uma baciada de outras propostas que, se incluídas no plebiscito, o transformariam numa inviável lista de compras.
“Por exemplo, a extinção das coligações partidárias nas disputas para a Câmara Federal e os Legislativos estaduais e municipais; o fim do voto obrigatório; a adoção da cláusula de barreira para as siglas que não tiveram obtido determinada porcentagem de votos nas eleições parlamentares; a participação, nesses pleitos, de candidatos não filiados a partidos; e a coincidência dos mandatos em todas as esferas. A amplitude e a variedade dos dispositivos que podem compor o sistema político-eleitoral deixam claro outra coisa, além do absurdo de serem escolhidos mediante plebiscito, quanto mais não seja pelo risco de serem aprovados nas urnas quesitos conflitantes entre si. Demonstram que não é apenas a resistência interesseira dos congressistas que trava, entra ano, sai ano, a reforma política. Efetivamente, não é trivial construir consensos para a implantação de um conjunto presumivelmente articulado de normas dessa ordem de complexidade. Ainda mais quando falta clareza sobre o que, afinal de contas, se pretende com a mudança e faltam lideranças políticas aptas a dar um norte ao debate.
“Em face disso, chega a ser escandaloso – e prova cabal de despreparo, oportunismo e irresponsabilidade – que a mais alta autoridade do País queira que a consulta seja formatada, explicada e realizada a toque de caixa, para que os seus resultados possam virar lei até 5 de outubro próximo e, assim, valer para as eleições de 2o14. A menos, como o PT espertamente sugere, que se recorra à gambiarra de uma emenda constitucional que suspenderia a regra de ouro da anualidade para a entrada em vigor de alterações nos estatutos eleitorais. Na reunião com os líderes aliados, Dilma teve o dissabor de descobrir que o senador Ciro Nogueira, presidente do PP, concorda com o que a oposição defende desde a primeira hora: no lugar do plebiscito, o eleitorado seria chamado a julgar a reforma que o Congresso aprovar.
“Para a anfitriã, seria o fim do mundo se a maioria rejeitasse as suas decisões (a exemplo do que aconteceu com a proposta do desarmamento, no referendo de 2005). Na realidade, como já se observou, ela não quer dar o braço a torcer para não passar vergonha: seria o seu segundo recuo político em questão de dias. E a Nação que arque com os efeitos da aventura dilmista.” (Editorial, Estadão, 29/6/2013.)
* O plebiscito proposto por Dilma só interessa ao PT
“É claro que a reforma política é fundamental para avançarmos no processo democrático, e não é à toa que há anos buscam-se fórmulas para aperfeiçoar nosso sistema político-partidário, responsável principal pelas distorções na atividade política.
“Quando os manifestantes nas ruas dizem que não se sentem representados pelos partidos políticos, e criticam a defasagem entre representante e representado, estão falando principalmente da reforma política.
“Mas há apenas uma razão para que o tema tenha se tornado o centro dos debates: uma manobra diversionista do governo para tentar assumir o comando da situação, transferindo para o Congresso a maior parte da culpa pela situação que as manifestações criticam.
“O governo prefere apresentar o plebiscito sobre a reforma política como a solução para todos os males do país, e insistir em que as eventuais novas regras passem já a valer na eleição de 2014, mesmo sabendo que dificilmente haverá condições de ser realizado a tempo, se não pela dificuldade de se chegar a um consenso sobre sua montagem, no mínimo por questões de logística.
“ A presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ministra Carmem Lucia convocou para terça-feira (2/7) uma reunião com todos os presidentes dos tribunais regionais eleitorais (TREs) para começar a organizar a logística para um possível plebiscito.
“Ao mesmo tempo, a diretoria de tecnologia do TSE já começou a estudar qual a maneira mais rápida de montar uma consulta popular nas urnas eletrônicas. Só depois dessas reuniões o TSE terá condições de estimar o tempo previsto para implementar o plebiscito, e até mesmo sua viabilidade, já que o sistema binário (de sim ou não) pode não ser suficiente para a definição de temas tão complexos quanto o sistema eleitoral e partidário.
“Mas já há movimentos dentro do governo no sentido de que o prazo mínimo de um ano para mudanças nas regras eleitorais, definido pela Constituição, seja reduzido se assim o povo decidir no plebiscito. Ora, isso é uma tentativa de golpe antidemocrático que pode abrir caminho para outras decisões através de consultas populares, transformando-nos em um arremedo de república bolivariana. A questão certamente acabará no Supremo, por inconstitucional.
“A insistência na pressa tem boas razões. O sonho de consumo do PT seria mudar as regras do jogo com a aprovação das candidaturas em listas fechadas, em que o eleitor vota apenas na legenda, enquanto a direção partidária indica os candidatos eleitos.
“Como o partido com maior apelo de legenda, o PT teoricamente seria o de maior votação. Mas, se as mudanças não acontecerem dentro do cronograma estabelecido pelo Palácio do Planalto, será fácil culpar o Congresso pela inviabilização da reforma política, ou o TSE.
“Já no 3 Congresso do PT em 2007 o documento final – que Reinaldo Azevedo, da Veja, desencavou – defende exatamente os pontos anunciados pela presidente Dilma em seu discurso diante dos governadores e prefeitos.
“Ela própria admitiu que gostaria que do plebiscito saíssem o voto em lista e o financiamento público de campanha. Até mesmo a Constituinte exclusiva, que acabou sendo abortada, está entre as reivindicações do PT desde 2007. ‘Para que isso seja possível, a reforma política deve assumir um estatuto de movimento e luta social, ganhando as ruas com um sentido de conquista e ampliação de direitos políticos e democráticos’, diz o documento do PT.
“Para os petistas, ‘a reforma política não pode ser um debate restrito ao Congresso Nacional, que já demonstrou incapaz de aprovar medidas que prejudiquem os interesses estabelecidos dos seus integrantes’. A ideia de levar a reforma para uma Constituinte exclusiva tem como objetivo impedir que ‘setores conservadores’ do Congresso introduzam medidas como o voto distrital e o voto facultativo, ‘de sentido claramente conservador’, segundo o PT.
“De acordo com o mesmo documento, ‘a implantação, no Brasil, do financiamento público exclusivo de campanhas, combinado com o voto em listas pré-ordenadas, permitirá contemplar a representação de gênero, raça e etnia’.
“Portanto, a presidente Dilma está fazendo nada menos que o jogo do seu partido político, com o agravante de ser candidata à presidência da República na eleição cujas regras pretende alterar.” (Merval Pereira, O Globo, 29/6/2013.)
* “Tiraram a constituinte de cena, mas deixaram o Brasil entretido no debate lunático sobre um plebiscito do crioulo doido”
“Os parasitas da nação estão em festa. Os efeitos dos protestos de rua estão tomando o melhor caminho possível (para eles): constituinte, plebiscito, pré-sal… Os parasitas estão gargalhando em seus gabinetes. Sempre souberam que embromariam a multidão, mas não esperavam que fosse assim tão fácil.Ao fim da primeira semana de manifestações, Dilma foi à TV. Nas ruas, os protestos contra o aumento das passagens de ônibus mostravam o óbvio: a volta da inflação enfim tirara os brasileiros de casa. O transporte era só o item mais visível da escalada de preços em todos os setores. A vida ficou mais apertada – e a paciência acabou. Como todos sabem (ou deveriam saber), o governo popular abandonou a meta de inflação para irrigar sua formidável máquina de duas dezenas de ministérios. Mas na TV, Dilma parecia uma porta-voz dos revoltosos.
“A presidente disse que os anseios das ruas eram os mesmos do seu governo. É preciso coragem para soltar um disparate desses sem gaguejar. O tal governo que anseia por mudanças governa o país há dez anos. E Dilma não deu uma palavra sobre gastos públicos – ou, em português, sobre a orgia orçamentária que seu partido preside no Estado brasileiro. Pregou a melhoria dos serviços públicos (supostamente os do Brasil), no momento em que seu governo bate mais um recorde de despesas – como sempre reduzindo os investimentos e aumentando o custeio (a verba dos companheiros). É preciso muita desinibição.
“O projeto parasitário é desinibido porque a opinião pública é trouxa. E o pronunciamento da presidente foi engolido pelos brasileiros, incapazes de relacionar a inflação e a queda dos serviços com a administração perdulária e inepta da grande gestora.
“Se o movimento que encanta o país fosse minimamente lúcido, cercaria o Palácio do Planalto depois desse pronunciamento. Poderia anunciar, pacificamente, que só sairia de lá com a extinção de pelo menos cinco ministérios inúteis, mantidos para alimentar correligionários. Ou com o compromisso da presidente de voltar a respeitar a meta de inflação. Ou denunciando o escândalo da ‘contabilidade criativa’, pelo qual o governo do PT passou a fraudar seu próprio balanço – seguindo a escola Kirchner-Chávez –, escondendo dívidas para poder gastar mais com cargos e propaganda.
“Será que os heróis das ruas não percebem que é isso o que mais infla o custo de vida (e as passagens de ônibus)?
“Não, não percebem. Uma líder do movimento declarou ao ‘Jornal Nacional’ que a próxima prioridade era a reforma agrária… Aí os parasitas estouraram o champanhe. Era a senha para mandarem Dilma tirar da cartola uma constituinte: reforma política! (mesmo balão de ensaio usado por Lula quando estourou o mensalão). E o truque colou. Tiraram a constituinte de cena, mas deixaram o Brasil entretido no debate lunático sobre um plebiscito do crioulo doido. De brinde, Dilma prometeu transformar a ‘corrupção dolosa’ em crime hediondo. Eles venceram de novo.
“Enquanto gritam por cidadania, educação, dinheiro do pré-sal e felicidade geral, os revoltosos urbanos estão absolvendo Rosemary Noronha – a protegida de Lula e Dilma na invasão fisiológica das agências reguladoras (responsáveis pelos serviços que a presidente promete melhorar…). Estão absolvendo as quadrilhas que dominaram o PAC – reveladas pela CPI do Cachoeira, que Dilma abafou e nenhum manifestante reclamou. Estão chancelando todos os denunciados na época da faxina imaginária que continuam dando as cartas no governo, como o ministro do Desenvolvimento Fernando Pimentel. Os revoltosos estão sancionando a sucção e cantando o Hino Nacional.
“Fica então uma sugestão de pergunta para o plebiscito: o Brasil prefere ser roubado por corrupção dolosa ou indolor?” (Guilherme Fiúza, O Globo, 29/6/2013.)
* Uma manobra do PT para ter a hegemonia do financiamento público de campanha
“Além da tentativa tosca de se apropriar da recente popularidade da seleção brasileira afirmando que seu governo ‘é padrão Felipão’, mesmo que não tenha ido ao Maracanã com receio das vaias, a presidente Dilma continua sem anunciar medida concreta que dependa diretamente do Executivo para mostrar que compreendeu os anseios das ruas.
“Só a reunião de seu megaministério ontem no Palácio do Planalto dá a exata noção da burocracia paquidérmica de um governo paralisado, inoperante. A ideia de realizar um plebiscito para definir reformas no nosso sistema partidário e eleitoral a ponto de alterar as regras do jogo já na eleição de 2014, que parecia um grande lance político, começou a subir no telhado ontem (1º/7), com uma série de movimentos da própria área governista. (…)
“A ideia da Constituinte exclusiva, que acabou sendo abandonada e substituída pelo plebiscito, parece ter sido uma tentativa mal sucedida de emparedar um Congresso que se ressente de apoio popular e levar adiante uma tentativa de alterar o jogo eleitoral para obter através do sistema de lista fechada uma representação partidária que dê ao PT e a seus aliados à esquerda uma hegemonia no Congresso.
“O plebiscito foi o que restou para dar início a uma democracia direta em que o partido no governo pode manipular as consultas até conseguir alterar o equilíbrio entre os poderes. Provavelmente o recuo do governo também em relação ao plebiscito deve-se à percepção dos demais partidos, inclusive os da base governista, de que o PT manobra para ter a hegemonia do financiamento público de campanha, que vem acoplado à proposta das listas fechadas. O PMDB é dos partidos que mais bombardeiam o plebiscito.” (Merval Pereira, O Globo, 2/7/2013.)
* “A idéia de reforma política via plebiscito encobre as reclamações objetivas contra gastos públicos malfeitos, desperdícios, descaso com saúde e educação”
“Resultado de um lance de oportunismo de alas do PT embevecidas pela ‘democracia direta’ chavista, a Constituinte exclusiva, ideia afastada por flagrante ilegalidade ─ não pode haver constituinte para rever apenas partes da Carta ─, foi convertida em plebiscito. ‘Ao vislumbrar uma brecha na crise das manifestações de rua para contrabandear este antigo sonho do partido ─ oficialmente, desde 2007, segundo documentos internos do PT ─, a legenda desembocou numa consulta popular que o governo Dilma precisa viabilizar junto ao Congresso.
“A tarefa é impossível de ser cumprida, se a ideia for realizar uma consulta séria à população. Como o tema do plebiscito, a reforma política, não pode ser traduzido em perguntas simples e objetivas, exigência de qualquer sondagem popular, a presidente Dilma tem mais um problema sério sobre a mesa para resolver.
“E tudo isso para pretensamente atender a uma das reivindicações das ruas, afirmam o governo e o partido. Ora, num sentido bastante amplo, pode-se entender que as críticas aos políticos e governos em geral, feitas nas manifestações, podem ser atendidas por uma reforma política. ‘É duvidoso, porém. Mais ainda quando se sabe que, entre as mudanças arquitetadas por petistas, está o voto em lista fechada, em que os candidatos são escolhidos pelos caciques partidários, em barganhas nada transparentes, distantes do povo em nome do qual se pretende fazer as mudanças. Ironia pura.’E, enquanto o plebiscito vai tomando conta da agenda política, o governo finge não entender críticas reais feitas nas ruas: prioridades erradas nos gastos públicos, desperdícios, mais recursos para Educação e Saúde, por exemplo. É a tradução dos ataques aos estádios para a Copa e à baixa qualidade do sistema de transporte público urbano.
“Em vez de uma incerta e etérea reforma política, o Planalto deveria responder às manifestações com ações objetivas e certeiras. Como a suspensão do mirabolante e bilionário projeto do trem-bala entre Rio e São Paulo, com o último orçamento em mais de R$ 30 bilhões ─ cifras sempre revistas para cima ─, e a transferência do que houver de dinheiro público envolvido na empreitada para viabilizar projetos de trens suburbanos e metrôs nas duas regiões metropolitanas.” (Editorial, O Globo, 2/7/2013.)
* Aprendiz de feiticeira, Dilma não previu que a feitiçaria poderia desandar e se virar contra ela
“Da presidente Dilma Rousseff, na mensagem ao Congresso em que defende um plebiscito para a reforma política e sugere cinco temas para a consulta: ‘Argumentos que buscam imputar ao povo uma impossibilidade de compreensão da melhor forma de representação não podem prevalecer em um Estado Democrático de Direito como o nosso’.
“Da ata da reunião promovida pela presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Cármen Lúcia, com os 27 titulares dos tribunais regionais, em que a Corte estipulou um prazo de 70 dias para efetuar o plebiscito, a contar da decisão final do Congresso sobre o seu conteúdo: ‘A Justiça Eleitoral não está autorizada constitucional e legalmente a submeter ao eleitorado consulta sobre o tema que ele não possa responder ou sobre a qual não esteja prévia e suficientemente esclarecido’.
“É isso que está em jogo – e não o princípio abstrato invocado por Dilma. E o esclarecimento do eleitorado em relação a cada um dos quesitos e ao seu conjunto que o Legislativo concordar em submeter-lhe impede que os resultados da votação, a serem depois transformados em lei, vigorem já para as eleições de 2014. Segundo cláusula pétrea da Constituição, todas as normas e condições de um pleito precisam estar dadas um ano antes de sua realização – no caso, até 5 de outubro próximo. Não está claro se Dilma foi alertada para as realidades do calendário quando imaginou que o plebiscito poderia ser votado a tempo de produzir efeitos para a disputa do ano que vem. A rigor, tanto faz.
“Tendo embarcado na aventura da convocação, também por plebiscito, de uma ilegal Constituinte exclusiva para fazer a reforma, a presidente entendeu de adotar um plano B, soberbamente alheia aos seus perigos. O que ela queria, a todo custo, era desviar as atenções das queixas predominantes na escalada de protestos no País. As multidões foram às ruas contra o aumento das passagens de ônibus, a má qualidade dos serviços públicos essenciais, a começar do transporte coletivo, os gastos com a Copa e a corrupção. Apenas uma minúscula parcela dos manifestantes incluía a reforma política entre as suas prioridades. Ciente disso, Dilma agiu de má-fé.
“E acaba de repetir a dose com a jogada do plebiscito (e seus efeitos) para já. A menos que, à maneira do pai de família do conto ‘O plebiscito’, de Machado de Assis, ela ignorasse não o termo, como o personagem, mas os desdobramentos políticos da consulta a toque de caixa. O fato é que ela jogou a bomba do plebiscito no colo do Congresso para poder dizer, caso estoure, que fez a sua parte para mudar os costumes políticos brasileiros. É um equívoco comum. A corrupção não resulta dessas ou daquelas normas eleitorais e partidárias, mas da falta de escrúpulos dos beneficiários dos malfeitos. Afinal, são as pessoas que fazem as funções que exercem e não o contrário.
“Ainda que houvesse um nexo essencial entre o sistema político e os ilícitos que se cometem no seu bojo, não seria um plebiscito que o desfaria. Numa consulta como a sugerida pela presidente, por exemplo, passam de uma centena as combinações de respostas possíveis. A chance de vir daí um resultado congruente é mínima. Os próprios blocos parlamentares que orientariam os eleitores a votar de um modo ou de outro em cada quesito só a muito custo se formariam, dadas as inúmeras divergências sobre o conjunto. Dois partidos podem pregar o mesmo voto diante de uma questão e discordar em relação a outra.
“Já não bastassem, pois, os prazos irrealistas para a aprovação, pelo Legislativo, dos temas e alternativas do plebiscito, e para o ‘suficiente esclarecimento’ do eleitorado, como exige o TSE, só se pode ser pessimista acerca do seu desfecho. Isso, se sair o plebiscito à Dilma – ou qualquer outro. O clima é de revolta generalizada entre os aliados do governo. Com razão, denunciam que o modelo oferecido privilegia os interesses da presidente e, por extensão, do PT, ignorando o Congresso em geral e a base em particular. O PMDB já arrola as modalidades de retaliação a seu alcance – desde comandar a derrubada de vetos presidenciais até reavaliar o apoio à reeleição de Dilma.
“Aprendiz de feiticeira, ela não previu que a feitiçaria poderia desandar.” (Editorial, Estadão, 4/7/2013.)
5 de julho de 2013
Outras compilações de provas da incompetência de Dilma e do governo:
Volume 90 – Notícias de 8 a 14/3.
Volume 91 – Notícias de 15 a 21/3
Volume 92 – Notícias de 22 a 28/3.
Volume 93 – Notícias de 29/3 e 4/4.
Volume 94 – Notícias de 5 a 11/4.
Volume 95 – Notícias de 12 a 18/4.
Volume 96 – Notícias de 19 a 25/4.
Volume 97 – Notícias de 26/4 a 2/5.
Volume 98 – Notícias de 3 a 9/5.
Volume 99 – Notícias de 10 a 16/5.
Volume 100: Notícias de 17 a 23/5.
Volume 101: Notícias de 24 a 30/5.
Volume 102: Notícias de 31/5 a 6/6.
Volume 103: Notícias de 7 a 13/6.
Volume 104: Notícias de 14 a 20/6.
O custo da festa. Por Carlos Brickmann
“A presidente Dilma Rousseff lançou a ideia do plebiscito, oposicionistas e governistas discutem se é democrático ou não, se há ou não golpismo na proposta, as redes sociais debatem o que deve ser votado. Há outra discussão paralela: plebiscito ou referendo?
O que foi pouquíssimo debatido (e este colunista encontrou um bom apanhado em um único jornal, O Estado de S.Paulo, cujo noticiário foi aproveitado em outros veículos que compram as informações) é a viabilidade técnica do plebiscito. Em quanto tempo é possível realizá-lo? Qual o custo do plebiscito?
De acordo com o Estadão, se tudo correr bem e houver colaboração geral, será possível realizar o plebiscito no início de setembro, com gastos de R$ 500 milhões. O custo é alto (as eleições municipais custaram ao Tesouro R$ 395 milhões) principalmente pela falta de tempo para um bom planejamento. “Quanto maior o planejamento, menor é o custo”, diz a ministra Carmen Lúcia, presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Outro fator a encarecer o eventual plebiscito é o vandalismo que tomou conta de várias passeatas, o que obrigará o TSE a reforçar a segurança com apoio de militares das três forças. E é provável que se tenha de gastar mais algum dinheiro com a propaganda das eleições: será preciso enfatizar que o voto é obrigatório e explicar as questões que serão votadas”.
Para um plebiscito sobre reforma política preocupa os gastos com uns milhôeszinhos, no entanto barganharam 1,5 bilhões para destruir e reconstruir o Maracanã.
A síndrome dos caminhoneiros
Por Carlos Castilho em 02/07/2013.
Quando os caminhoneiros bloqueiam estradas usando como justificativa reivindicações difusas, eu sinto um frio na espinha. Foi exatamente assim que há quase 40 anos começou a cair o governo de Salvador Allende, no Chile. A conjuntura daquela época, a que eu assisti como correspondente do extinto Jornal do Brasil, tem muitas semelhanças com a do Brasil atual.
Governos contestados pela oposição conservadora tornam-se vulneráveis pela fragmentação de sua sustentação política enquanto seus adversários criam um ambiente de intranquilidade social por conta de uma sucessão de protestos e atos geradores de instabilidade e insegurança.
Muita coisa mudou nestas quatro décadas, mas o bloqueio de estradas continua sendo uma arma politicamente letal. Ela corta a circulação de mercadorias em países vitalmente dependentes dos transportes terrestres. Hoje ainda mais dependentes porque aumentou também exponencialmente a circulação de pessoas. Com a desestabilização dos circuitos vitais de circulação de mercadorias vem o desabastecimento, a inevitável alta dos preços que retroalimenta a inflação e a especulação no consumo.
A incerteza social aguça as divisões entre os setores que apoiam o governo, uns apelando para a radicalização como forma de enfrentar as manobras oposicionistas e outros defendendo o realismo como estratégia mais adequada para tentar empurrar o problema para frente a espera de um “milagre político”. Quando o falecido Allende passou a ter que enfrentar a guerrilha dos esquerdistas do Movimento de Ação Popular Unitária (MAPU), a esquerda chilena colocou a cereja no bolo da direita.
Tanto quanto no Chile, em 1973, a presidente Dilma Rousseff não conta com a imprensa, é tolerada pelos segmentos empresariais, vista com desconfiança pelos militares e obrigada a lidar com um parlamento dividido. A grande diferença é que, na época de Allende, os parlamentares não eram tão impopulares quanto agora no Brasil.
O fato de os caminhoneiros brasileiros terem começado a bloquear estradas com uma pauta de reivindicações superdiversificada não pode ser visto como uma reedição do fenômeno chileno porque há diferenças notáveis. A principal delas é que não vivemos mais no ambiente polarizado da Guerra Fria, mas há também outras diferenças como o fato de o Brasil estar num momento de expansão econômica e de que existe uma instabilidade econômica mundial, ao contrário do que acontecia em 1973.
Mas o bloqueio de estradas mostra que existe uma estratégia em desenvolvimento visando minar as bases do governo ao anular o efeito do crescimento econômico por meio da revitalização do fenômeno da inflação e a geração de um clima de incerteza a partir da manipulação da percepção popular de protesto de rua que são mais contra um sistema do que contra um partido político. Ambas são estratégias políticas de alto risco.
As manifestações em todo o país brotaram de um sentimento de frustração com o sistema político do país, que gera a exclusão e uma multidão de cidadãos invisíveis. A presidente Dilma em nenhum momento foi hostilizada pelos milhões de pessoas que saíram às ruas mobilizadas pelas redes sociais. Mas a complexidade política inerente a um protesto que fugiu da rotina e de modelos preestabelecidos acabou sendo gradualmente submetida ao processo que os norte-americanos chamam de “reframing”, literalmente reenquadramento.
Não se trata de falsificar grosseiramente a realidade, mas de mudar o ângulo de percepção. A opinião de uma pessoa depende da forma como ela vê os fatos. Assim, uma mesma coisa pode ter significados diferentes para duas pessoas distintas e em contextos desiguais. E é justamente o que está acontecendo agora, como consequência do “reenquadramento” – influenciado pela imprensa – da agenda pública de debates gerada pela onda de manifestações que vai completar um mês.
Os jovens que deram o pontapé inicial no mais amplo movimento de protestos das últimas décadas criticam o sistema político materializado no Congresso Nacional e não se opõem frontalmente à proposta do plebiscito sobre reforma política porque a consulta sinaliza uma intenção de mudança – a ideia que uniu os milhares de manifestantes. Mas os setores conservadores não querem o plebiscito porque isso significaria um atalho entre o poder executivo federal e a opinião pública, privando os políticos de sua principal arma, a barganha eleitoral.
A mídia está abandonando o discurso da mudança e passando a bater na tecla da instabilidade econômica e da incerteza social, bem como na chatíssima discussão sobre entraves burocráticos ou filigranas jurídicas a propósito da realização de um plebiscito, ou de um referendo que pode acabar visando virando a uma consulta paralela simultânea às eleições presidenciais de 2014.
Este provavelmente será o “enquadramento” da crise no contexto oficial, aquele formado pelo lobby em torno da luta pelo poder. Mas diferentemente de 1973, hoje existe a internet e com ela um outro contexto formado por aqueles que recorrem às redes sociais para se informar e praticar o boca a boca virtual. Este “submundo” virtual mostrou a sua força ao detonar o estopim dos protestos de rua. Ele é difuso, imprevisível e fluido. Quase impossível de ser controlado – e por isso ele é a grande incógnita no processo político brasileiro.
O movimento dos caminhoneiros brasileiros assusta pela associação com lembranças de um passado triste e nos leva a ter que pensar em vez de agir com base na paixão. A grande preocupação é o que não conhecemos, como o poder político das redes sociais, em vez de repousarmos sobre aquilo que já sabemos, a dança dos políticos em torno do poder para garantir seus empregos.
Seria extremamente importante que a população brasileira não comparecesse aos estádios e boicotar por completo os jogos da Copa do Mundo. Melhor mensagem ao governo petista neste momento.