Este é o oitavo apanhado, no período de pouco mais de um mês, de notícias e análises que comprovam que o governo Dilma Rousseff é incompetente.
É, certamente, um trabalho que tem falhas. Devo estar deixando escapar algumas notícias. Talvez muitas.
Mesmo assim, é impressionante o número de demonstrações de que a tal propalada capacidade gerencial e Dilma Rousseff jamais passou de uma invenção de marketing, um conto da carochinha, conversa pra boi dormir. O número, e a abrangência dos temas, são estarrecedores.
Oito apanhados, reuniões de notícias publicadas pela imprensa entre 20 de abril e 2 de junho – apenas 42 dias. É assustador.
Não me detive muito no tema mais falado no país desde o domingo, 15 de maio, em que a Folha de S. Paulo informou que o patrimônio do ministro Antonio Palocci aumentou 20 vezes no período de quatro anos. Toda essa questão – o enriquecimento brutal em si, a falta de explicação convincente para ele, o silêncio do ministro – é extremamente grave. A não ser que sejam dadas explicações cabais, pesa sobre o mais importante ministro do atual governo uma seriíssima suspeita de tráfico de influência, de mistura entre o público e o privado – de imoralidade no trato com a coisa pública, em suma. Mas a questão Palocci só entrou aqui neste oitavo apanhado no que ela indica a incapacidade gerencial da presidente.
As indicações de incompetência vêm de todos os lados, em todas as frentes.
* O governo é irresponsável no combate à inflação
Diz o Estadão, em matéria com o título “Sob Dilma, BC muda e tenta estimular crescimento, além de vigiar a inflação”: “A preocupação do governo em não frear demais o ritmo de crescimento da economia em 2011 está no cerne da decisão do BC em adiar para 2012 a convergência da inflação para o centro da meta de 4,5%. Dilma deixou claro, logo no início da sua administração, que estava comprometida com o controle da inflação, mas sem sacrificar o maior crescimento econômico obtido no segundo mandato do governo anterior. Apesar de ter autonomia operacional, o presidente do BC, Alexandre Tombini, e sua equipe estão mais sintonizados com esse objetivo. Aliás, o nome dele foi escolhido exatamente pela avaliação de que Tombini trabalharia nessa direção. Apesar de muitas vezes usar algumas expressões ‘rabugentas’ típicas de banqueiros centrais – como a clássica ‘um pouco mais de inflação não aumenta o crescimento’ -, a prática mostra que o BC acredita que não deve derrubar a atividade econômica para manter a inflação na meta.” (Estadão, 29/5/2011.)
Ou seja: danou-se. Venceu mesmo no governo a tese de que que alguma inflação é aceitável. E vamos que vamos, rumo à destruição da mais importante conquista do país nas últimas muitas décadas – o controle da inflação, obtido a partir do Plano Real. Vamos que vamos, rumo ao brejo.
* Dilma ignora o que seja política
“A presidente repete Fernando Collor, que assumiu a chefia da Nação, em 1990, com ares imperiais e assim se manteve até que o Congresso lhe mostrasse com quantos paus se faz uma canoa. (…) Ignora a política e acredita que mandando seus líderes transmitirem recados sobre o quanto está irritada com esta ou aquela conduta obterá automaticamente obediência. Mesmo depois da intervenção de Lula, não dá mostras de boa vontade em aprender. Defendeu Palocci dizendo que a oposição ‘faz política’ como se isso fosse atividade menor, quando é na política que se movem as democracias.” (Dora Kramer, Estadão, 29/5/2011.)
* O governo não consegue ter articulação política
“O fato de a presidente Dilma ter ficado surpresa, no almoço com senadores do PT, com a informação de que há uma proposta em tramitação no Congresso para restringir as medidas provisórias mostra o caos da articulação política do governo. A matéria já foi até aprovada na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, com o apoio do líder do governo, Romero Jucá (PDMB-RR).” Jucá se defende: “Eu pedi posição do governo o tempo todo sobre isso e não recebi. Procurei a Secretaria de Relações Institucionais e a Casa Civil”. (Panorama Político, O Globo, 28/5/2011.)
* O governo é incompetente até para fazer uma foto posada
Cá pra nós, hein: se era para fazer toda aquela encenação na Base Aérea de Brasília, na segunda-feira, 30 de maio, para demonstrar que a presidente e o vice estão bem, mesmo depois da rispidez das discussões da semana anterior, em função do racha na base na votação do Código Florestal, os dois bem que poderiam ter se esforçado um pouco mais na atuação, no gestual, não? E, já que os atores são ruins, então seria melhor não distribuir aquela foto oficial feita para a primeira página dos jornais no dia seguinte, não é mesmo?
Eta incompetência.
“A fotografia oficial, feita pelo Palácio à medida para a ocasião, não disfarçou o mal-estar, que continua.” (O Globo, na primeira página, sob o título “Reconciliação chapa-branca”, 31/5/2011.)
“Para assessores, a foto mostraria pacificação na base aliada, mas foi uma despedida protocolar.” (Estadão, na primeira página, sob o título “Imagem protocolar”, 321/5/2011.)
“Mal-estar era visível até no silêncio dos dois, na passagem do cargo na Base Aérea.” (O Globo, 31/5/2011.)
“Em lugar do registro de um caloroso abraço (…), o que o aparato de comunicação do Palácio acabou oferencendo foi a imagem patética de duas figuras que mal se tocavam, sem um vestígio de sorriso, numa expressão corporal perfeitamente adequada, afinal, à verdade que desejavam escamotear.” (Editorial, Estadão, 1º/6/2011.)
* De socialistas a especialistas em capitalismo
“(Há) uma disputa dentro do PT. O antigo partido socialista hoje é o partido das grandes corporações. Daí o número de consultores petistas. De uma hora para outra, todos viraram especialistas em capitalismo.” (Marco Antonio Villa, historiador, no Globo, 31/5/2011.)
* O ministro da Deseducação insiste
Parece aquela piada da mãe orgulhosa vendo o filho na parada militar: “Olha lá o meu filho, é o único que está marchando direito, o resto todo está marchando errado”.
Depois que 99% da imprensa, dos educadores, criticaram duramente o tal livro Por Uma Vida Melhor, o que diz que é certo falar os livro, nós pega os peixe, e que quem fala errado corre o risco de ser “vítima de preconceito linguístico”, o ministro Fernando Haddad, ou Ferrando Errad, fez a defesa do livro, em audiência na Comissão de Educação do Senado. Segundo ele, há um “viés fascista” nos ataques à obra. (Estadão e Globo, 1º/6/2011.)
Há aí um viés de estupidez do ministro Errad.
* Apesar de tudo, contra tudo, o governo insiste na insanidade de Belo Monte (1)
Para manter de pé o projeto de construir a hidrelétrica no Rio Xingu, o governo forçou a Vale, empresa privada, a entrar no consórcio. Mas nem isso é suficiente:
“Houve uma sucessão enorme de problemas nas obras do PAC desde que o governo começou, mas no caso da Usina de Belo Monte está em curso um fenômeno estranho: o consórcio que ganhou a concorrência está se desfazendo aos poucos. Primeiro saiu a Bertin que, a propósito, tem um problema por semana com seus credores. O Estado de S. Paulo publicou semana passada que estão para sair do consórcio a Galvão Engenharia, Serveng, Cetenco, Contern, Mendes Júnior e J. Maluccelli. O consórcio montado no Planalto, por interferência direta do governo passado, está se desmontando como um castelo de cartas. Essa debandada mostra que a entrada da Vale não foi por qualquer avaliação sólida da viabilidade econômico-financeira do empreendimento, mas a primeira demonstração de que a empresa segue ordens do Planalto. Mas a Vale não foi o suficiente. Agora, outros terão de entrar para salvar o consórcio.” (Míriam Leitão, O Globo, 29/5/2011.)
* Apesar de tudo, contra tudo, o governo insiste na insanidade de Belo Monte (2)
“Há uma forma de se aprovar uma obra polêmica na democracia: com transparência e capacidade de convencimento. Infelizmente, não foi o que o Ibama escolheu para a usina de Belo Monte. Preferiu passar por cima de si mesmo, reduziu suas próprias exigências e aceitou o ‘parcialmente cumprido’ para condicionantes que ele mesmo havia estabelecido. As 40 condicionantes viraram 23. O presidente do Ibama, Curt Trennepohl, não explicou a química com que condensou exigências.” (Míriam Leitão, O Globo, 2/6/2011.)
* O governo não libera verba para prevenção contra desastres
“A despeito da avalanche de 1.643 pedidos de recursos para que Estados e municípios se preparem para enfrentar desastres naturais, o Ministério da Integração Nacional liberou até agora somente 0,61% do total do orçamento deste ano para este tipo de investimento. De acordo com dados tirados do Sistema Integrado de Execução Financeira do governo federal (Siafi) pela assessoria de orçamento do DEM, a pedido de O Globo, o governo limita-se ao pagamento dos restos a pagar de exercícios anteriores, que totalizaram até maio R$ 30,3 milhões.” (O Globo, 29/5/2011.)
* Ingerência do governo em empresas faz ações despencarem (1)
“O patrimônio dos trabalhadores que têm parte do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) em ações da Petrobras e da Vale encolheu R$ 1,6 bilhão este ano. Segundo especialistas, a ingerência do governo na administração das duas empresas nos últimos meses afugentou investidores e seria o principal motivo para a desvalorização dos papéis. De janeiro até o último dia 20, o patrimônio líquido dos fundos FGTS aplicado em ações da Petrobras diminuiu de R$ 5,5 bilhões para R$ 4,9 bilhões, uma queda de 10,5%. O da Vale encolheu de quase R$ 6 bilhões para R$ 5 bilhões, redução de 10,8%. O levantamento foi feito pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). “Não foi a única razão, mas a interferência política é o principal fator para a queda desses papéis”, afirma Pedro Galdi, analista chefe da corretora SLW. “No caso da Vale, a troca forçada do presidente da empresa gerou medo de mais ingerência do governo. Em relação à Petrobras, essa ingerência é escancarada.” (Estadão, 30/5/2011.)
* Ingerência do governo em empresas faz ações despencarem (2)
“Os fundos de investimento FGTS da Vale e da Petrobrás foram as piores aplicações de maio. No mês, a modalidade que investe nas ações da mineradora perdeu 3,44% e a que aplica na petrolífera recuou 5,25%. O mau desempenho das duas empresas também derrubou a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Em maio, a bolsa perdeu 2,29%.” (Estadão, 2/6/2011.)
* Aeroportos: falhas já infernizam, muito antes da Copa
“Com a superlotação e pouca infra-estrutura dos aeroportos de São Paulo, não é só o passageiro que sofre – amigos ou parentes que costumam deixar ou buscar alguém nos terminais são multados por estacionar em local proibido. Em Cumbica, em Guarulhos, Grande SP, e Congonhas, zona sul da capital, as Polícias Rodoviária Federal e Militar e a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) aplicam 76 multas por dia – 3 a cada hora. Só em Congonhas, as multas cresceram 31% em 2010 em comparação com 2009. As infrações são sempre as mesmas: estacionamento irregular em área de embarque e desembarque, parada em fila dupla, e, no caso de Cumbica, há quem deixe o carro no acostamento da estrada que leva até o aeroporto. A Rodovia Hélio Smidt tem 5 quilômetros e, de janeiro até a semana passada, já tinha aparecido na notificação de infração de 1.728 motoristas que pararam ali para esperar alguém que chegava de viagem.” (Estadão, 30/5/2011.)
* Aeroportos: reuniões, anúncios de intenção. E só
A Secretaria de Aviação Civil da Presidência da República anunciou na terça-feira, 31 de maio, que fará concessão dos aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília. O anúncio foi feito durante a reunião convocada pela presidente Dilma para discutir com governadores e prefeitos das cidades que sediarão a Copa de 2014 o andamento das obras para o evento. Em nota, o Planalto informa que continuam os estudos para a concessão de mais dois aeroportos: Confins e Galeão. O modelo definido para as concessões, ainda segundo a nota, é o de Sociedades de Propriedade Específico (SPE), a serem constituídas por investidores privados, com participação de até 49% da Infraero.” (Estadão, 1º/6/2011.)
O lulo-petismo levou mais de oito anos para admitir a privatização dos aeroportos; e, por enquanto, tem feito reuniões e anúncios de intenção. Na prática, não há nada definido.
* Fifa e CBF lucram, e Brasil terá prejuízo com a Copa
“A Copa do Mundo de 2014 ameaça deixar um outro legado ao Brasil: dívidas. Pessoas familiarizadas com a dimensão financeira do Mundial admitiram ao Estado que estão surpresas com a explosão nos custos de obras para estádios e outros itens da preparação e alertam que algumas arenas levarão até 2030 para quitar suas dívidas. Fontes em Zurique calculam que sediar a Copa custaria ao País mais de R$ 23 bilhões, incluindo obras nos aeroportos e de mobilidade urbana. “As contas não fecham”, alerta um cartola envolvido na parte financeira da preparação para o evento. O iminente prejuízo do Mundial é uma conta que as esferas de governo (federal, estadual e municipal) irão bancar sozinhas: nem Fifa nem CBF terão os lucros ameaçados no torneio. (Estadão, 30/5/2011.)
* O governo tem cada aliado… (1)
“Monumento vivo ao mandonismo, ao fisiologismo, ao compadrio, ao nepotismo, ao tráfico de influência – a tudo, enfim, o que de pior existe na política brasileira -, o presidente do Senado, José Sarney, resolveu reescrever a História do Brasil, menosprezando a opinião pública e depreciando um dos mais edificantes momentos de mobilização cívica que a Nação viveu nos últimos tempos. Para Sarney, o afastamento de Fernando Collor da Presidência da República, em 1992, ‘não é marcante’, pois se trata de ‘apenas um acidente que não devia ter acontecido na História do Brasil’. (…) Esse episódio foi banido da galeria de eventos históricos do Congresso, reinaugurada na terça-feira por Sarney no ‘túnel do tempo, o amplo corredor que liga os gabinetes dos senadores ao plenário da Câmara Alta. No dia seguinte Sarney recuou, determinando a reinclusão do episódio na galeria. Mas nada apaga o despautério da véspera.” (Editorial, Estadão, 2/6/2011.)
* O governo tem cada aliado… (2)
“Na terça, veio mais uma chantagem, feita de forma explícita por um componente da mesma bancada (a evangélica), Anthony Garotinho (PR-RJ). Que haveria outras, não se tinha dúvidas. (…) Garotinho foi direto ao ponto: a convocação de Palocci é ‘um diamante que custa R$ 20 milhões’ — irônica referência ao suposto faturamento da firma de consultoria do ministro no ano passado. E, diante disso, novamente em troca da ajuda da bancada para manter o chefe da Casa Civil longe do Congresso, Garotinho quer a aprovação de uma emenda à Carta para criar o piso salarial a policiais e bombeiros. Uma aberração. Não só conceitualmente — não existe realidade uniforme nos estados — como do ponto de vista das finanças: custaria R$ 25 bilhões/ano aos erários estaduais. Desrespeitosa, impertinente, a pressão de Garotinho não pode ser admitida pelo Planalto. Já foi um erro aceitar a primeira chantagem. A segunda será suicídio.” (Editorial, O Globo, 2/6/2011.)
2 de junho de 2011
Para ler mais provas da incompetência de Dilma e do governo:
Volume 1 – Notícias de 20 a 27/4
Volume 2 – Notícias de 28/4 a 4/5
Volume 3 – Notícias de 4 a 6/5
Volume 4 – Notícias de 7 a 10/5
Volume 5 – Notícias de 10 a 17/5
Parabéns, vocês conseguem explicar a política nacional com tanto didatismo, que até o governo conseguiria entender.
Obrigada pela contribuição!