Maria Helena

Boa noite, minha minina.

A voz rouca, com sotaque e carinhosa, do outro lado da linha do telefone – sim, falávamos, falávamos muito ao telefone, sem essa de zap ou outro meio, apenas atentas aos minutos e ao custo dos interurbanos – já era um alento. Significava que ela estava com vontade de falar mesmo já sendo até um pouco mais tarde na noite. Continue lendo “Maria Helena”

Não tem que ser tudo essa porcaria

Foi por puro acaso que aconteceu de eu ver toda a apresentação das oito finalistas de skate na Olimpíada de Tóquio, nesta segunda-feira, 26 de julho. Foi também por puro, absoluto acaso – o iPod fica sempre no modo shuffle, randômico – que, umas poucas horas depois de ter ficado conhecendo esse encanto, essa coisa linda que é a garotinha Layssa Leal, ouvi a canção do Secos & Molhados que admiro desde muito antes de Layssa nascer, mas fazia anos que não ouvia. Continue lendo “Não tem que ser tudo essa porcaria”

O Brasil de Bolsonaro, não!

Estava pronto para começar a escrever um suelto sobre a garotinha Rayssa Leal e uma canção dos Secos & Molhados, e fui dizer isso para a Mary na sala no momento em que ela via a cerimônia do pódio em que a bandeira brasileira subia em Tóquio, junto com duas bandeiras da Grã-Bretanha, a Union Jack, pela prata de Fernando Scheffer. Continue lendo “O Brasil de Bolsonaro, não!”

Uma bela obra no lugar errado

Ninguém negará que Paulo Mendes da Rocha foi um dos mais expressivos nomes de nossa arquitetura, com excelência reconhecida em todo o mundo. Seu falecimento, há poucos dias, representou sem dúvida uma grande perda. Diante disso, como um jornalista, um repórter, desses que correm atrás de notícias cotidianas, fará para apresentar um senão a uma das obras dele? Continue lendo “Uma bela obra no lugar errado”

Lie, o caráter perfeito

Tive o privilégio, a sorte grande maior que ganhar na Loteria, de trabalhar em algumas das redações mais alegres, mais aparentemente bagunçadas, caóticas – e também mais criativas – de que se tem notícia no Brasil. A do Jornal da Tarde ao longo de todos os anos 70 e metade dos 80, a da revista Afinal criada por Fernando Mitre, a da nova Agência Estado reinventada no final dos anos 80 por Rodrigo Mesquita e uma penca de gente extraordinária, a da revista Marie Claire sob a direção de Regina Lemos, possivelmente a redação mais democrática que já houve. Continue lendo “Lie, o caráter perfeito”

Saudade de Piazzolla, do Brasil…

Houve um tempo, ali pela primeira metade dos anos 1970, o Brasil mergulhado no pior momento da ditadura militar, a Argentina ainda em um de seus períodos democráticos pré novo golpe de 1976, em que Astor Piazzolla parecia arroz de festa aqui. Houve um mês em que vi Astor Piazzola no Teatro Municipal e no Bosque da Biologia da USP. Continue lendo “Saudade de Piazzolla, do Brasil…”

A solidão e os eternos amantes

É fascinante que Georges Moustaki tenha escrito uma canção chamada “Ma Solitude” e Barbara, uma canção chamada “La Solitude”.

E é fascinante que tenham os dois cantado a solidão como se ela fosse uma presença forte, grudenta, pegajosa. Como se fosse uma companheira, uma amante. Continue lendo “A solidão e os eternos amantes”

Um problema que os outros não têm

No dia em que completávamos 2 meses inteiros de quarentena, o exato dia em que caiu o segundo ministro da Saúde do Brasil em meio à pandemia, um dia depois que Carlos Alberto Sardenberg escreveu em O Globo que o Brasil tem – além da crise sanitária e da crise econômica – um problema que nenhum outro país do mundo tem, que se chama Bolsonaro, choveu dentro do meu apartamento. Continue lendo “Um problema que os outros não têm”