Carlinhos era o aluno mais admirado da classe, por sua ousada inventiva. Textos memoráveis, que ora irritavam sua professora (e o diretor da escola), ora os deixavam surpresos e felizes. Só tinha um problema: às vezes escorregava para o absurdo.
Visita
É você?, pergunta, desconfiada, admirada, irritada.
Sim.
Nossa! Tanto tempo. Continue lendo “Visita”
Coisas da Vida
O marido a deixou, sem nada. Sem dinheiro ou pensão do INSS. Foi-se, assim, sem aviso. De uma hora para outra. Ao mesmo tempo em que sofria a ida da filha mais velha para os Braços do Senhor. E, depois do marido, partia também a filha mais nova por carregar nas entranhas um câncer irrecuperável. Tudo acabou. Perdeu o ombro amigo, o colo do companheiro onde se lamentava ou chorava alegrias e os carinhos nas filhas desde sempre. Continue lendo “Coisas da Vida”
“A Arma”, de Fredric Brown
A sala estava calma na obscuridade do início da noite. O dr. James Graham, cientista chave de um projeto muito importante, estava na sua poltrona favorita, pensando. Estava tão silencioso que ele podia ouvir o virar das páginas no quarto próximo em que seu filho folheava um livro ilustrado. Continue lendo ““A Arma”, de Fredric Brown”
Caramba! Roubaram o celular
Quem passa pela Rua São Bento, onde começa a Avenida São João, no Centro de São Paulo, só precisa erguer os olhos para saber as horas. Ali, sob alto pedestal, está um antigo relógio público, com seu grande mostrador. Haverá, nos dias de hoje, quem se importe com ele? A resposta é sim! Ninguém é louco de tirar o celular do bolso para ver as horas e ser atacado por um trombadinha. Continue lendo “Caramba! Roubaram o celular”
Nas asas da Ponte Aérea
Veio no noticiário destes dias. O Aeroporto Santos Dumont, no centro do Rio, voltará a servir apenas à ponte aérea Rio São Paulo, como em sua origem; com uma exceção, Brasília. Mas nunca será como antes…
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Um gato… mas teimoso
João, não um João Ninguém, mas um honrado trabalhador, havia deixado sua casa e caminhado dois quarteirões quando viu no chão, encostado a um muro, um… gatinho. Um filhote, miando fracamente.
Uma praça…
Ah, o banco de praça… Cenas que atravessam os tempos. Lá estão os velhos, sentadinhos, vendo o tempo passar. Outros, piedosos, jogam alimentos aos pombos. Um casal de namorados, uma mãe com seus filhinhos…
Aprendiz de leitor
— Alô – atendo o telefone.
— Salve, grande Matias.
A voz de Tonico. O que poderá querer depois de tantos anos sem uma única palavra? Continue lendo “Aprendiz de leitor”
O telhado caiu
Augusto acordou assustado, sufocado pelos escombros do telhado que caíra. De tanto esperar pela queda, sonhou com ela, telhas e vigas desabando sobre ele, vigia inútil de um templo esquecido. Continue lendo “O telhado caiu”
Questão de flores e pinceladas
Um rapaz com gosto pelas criações da natureza, especialmente flores, que via como um adorno da Humanidade. Estava justamente em uma floricultura, quando uma moça muito bonita entrou. Num impulso, apanhou um buquê de flores e o ofereceu a ela. O que disse a agraciada? Continue lendo “Questão de flores e pinceladas”
O Filhote – Capítulos XXVIII até XXXI. Fim
CAPÍTULO XXVIII – “MESTRE CILÃO”, “PEDRO SOBRINHO” E “MÃO-DE-GANCHO”
Atrás de “Nhô Bá” e “Dito Nunes”, no meio de um trio seguia Marcílio dos Anjos, o “Mestre Cilão”. À sua direita, bem mais velho que ele, Pedro José de Oliveira, o lendário pescador e caçador “Pedro Sobrinho” e à sua esquerda José de Arimateia, o “Mão-de-Gancho”, conhecido por sua bondade com as crianças e famoso pelas pipas que construía para elas embora em uma das mãos, a direita, só lhe restassem o polegar e o mindinho. Continue lendo “O Filhote – Capítulos XXVIII até XXXI. Fim”
O Filhote – Capítulos XXV a XXVII
CAPÍTULO XXV – A SIMPATIA DE “NHÁ FLORINDA”
No dia seguinte a olaria amanheceu parada, ninguém teve ânimo para ir trabalhar. As famílias choravam a perda da menina-moça que cativava a todos pela sua graça, meiguice e simplicidade. Quem mais sofria eram as colegas, também oleiras como ela, e amigas inseparáveis. Amparada pelo filho, a mãe já não tinha mais lágrimas para derramar. Apenas contemplava com um fio de esperança o trabalho dos mergulhadores. Na velha ponte de ferro as pessoas se aglomeravam, esperando por notícias. E assim foi o tempo todo, céu fechado, a garoa mais parecendo um pranto com o qual a natureza ajudava a tornar ainda mais triste a cinzenta manhã daquela gente. Continue lendo “O Filhote – Capítulos XXV a XXVII”
O Filhote – Capítulos XXII a XXIV
CAPÍTULO XXII – TRAGÉDIA CAIPIRA
Embornal pendurado em um dos ombros, machado atravessado no outro, a gastura teimando em tomar conta do seu estômago, antes de entrar em casa ouviu a voz de sua mulher:
— Foge, “Jerê”, foge!!! É o “Jura”!!! Continue lendo “O Filhote – Capítulos XXII a XXIV”
O Filhote – Capítulos XIX a XXI
CAPÍTULO XIX – NASCE UMA DUPLA CAIPIRA
Os meses passaram e “Jura” se revelou um dos pescadores mais produtivos da turma de Jorge Sakamoto. Ganhou um bom dinheiro e assim que terminou a temporada de pesca já estava morando com a mulher na casinha que mandou construir na beira da estrada após a curva que ela fazia para os lados da vila. Era simples, mas tinha tudo o que “Dorvinha” queria: um bem cuidado jardim na frente, uma horta com tudo o que precisava, um pomar com fruteiras variadas e animais domésticos no quintal, como uma cabra com cria que dividia com ela o leite das tetas; galinhas e muitos ovos que ela recolhia dos ninhos no meio da manhã; patos, perus, galinhas d’angola e uma porca e seus leitões. Para ela era, enfim, o lar que sempre imaginou ter em sua vida de casada: bem cuidado e com fartura dentro de casa. Continue lendo “O Filhote – Capítulos XIX a XXI”