Um gato… mas teimoso

João, não um João Ninguém, mas um honrado trabalhador, havia deixado sua casa e caminhado dois quarteirões quando viu no chão, encostado a um muro, um… gatinho. Um filhote, miando fracamente.

João não perdeu um segundo. Abaixou-se, acolheu o animalzinho com suas mãos rudes, e aninhou-o em seu peito. Logo os miados cessaram. A primavera estava entrando mas aquelas manhãs ainda eram frias. O que fazer agora? Já havia caminhado dois quarteirões em busca de chegar ao trabalho.

Voltou para casa. Acomodou o animalzinho em cima de uma velha poltrona, foi à cozinha, aqueceu um pouco de leite, colocou-o em um pires, e deixou-o no chão. Voltou à poltrona, pegou o gatinho e o colocou a frente do pires. O bichaninho serviu-se com sofreguidão.

E agora? João ligou para a casa de um irmão. Atendeu o sobrinho. Fabinho tinha 13 anos. “Um gatinho!”, reagiu ao ouvir o relato do tio. Em 20 minutos entrava pela porta da sala da casa de João, com uma sacola. Viu o bichinho no sofá, largou a sacola, pegou-o.

Acariciou-o um pouco, depois foi ao trabalho. Tirou da sacola uma caixa de papelão para sapatos e uma manta, dessas velhas e aconchegantes. Instalou o “berço” ao lado da poltrona. Depôs nele o beneficiado. Que, em menos de dez minutos, quando tio e sobrinho se distraíram, saiu da caixa, foi para a cozinha e desapareceu.

Os cuidadores demoraram um pouco para perceber a situação. Saíram para a cozinha. De lá para o quintal, que tinha uma porta, sempre mal encostada, para a rua. Saem por ela. Ora, olha lá o bichaninho se mandando…

Fabinho saiu correndo e agarrou o fugitivo. Provavelmente, em alguma outra casa, no dia anterior, as pessoas não haviam agido com tanta rapidez.

De volta ao lar, o gatinho não teve muito sossego. Começaram a surgir amigos de Fabinho que, sabendo de sua existência, queriam conhecê-lo. A campainha tocava. Mas em um desses toques João abriu a porta e deu com uma senhora, bem-vestida.

— Desculpe incomodar… Eu soube que o senhor achou um gatinho…

Era, sem dúvida, a dona dele. João, educadamente, pediu que entrasse. Ela entra e vê o bichinho em seu leito de papelão, onde Fabinho o havia colocado para descansar do assédio. Fabinho percebe a situação e fecha os olhos, angustiado. “Vai levar o bichinho”, sussurra para um dos amigos. João disfarça, mas também está mal.

— Onde vocês acharam o gatinho? – pergunta a senhora. – Estávamos muito aflitos, ele simplesmente desapareceu de casa.

Ouve espantada o que lhe contam. Arrisca: “Talvez ele tenha um pendor para fugas…”. E sorri. Isto descontrai o ambiente.

— E a senhora…? – pergunta Fabinho.

— Oh, não se preocupem. Não vou pedir de volta. Vejo que ele está muito bem cuidado neste novo lar.

João anima-se. “Sente-se, minha senhora, vou preparar um cafezinho.”

Segue-se uma animada conversa. A visitante conta que sua gata tinha tido quatro filhotes, um deles o … “Que nome vocês deram para ele?” Fabinho explica: “Ainda não pensamos. Com tudo o que aconteceu…”

Passaram, gostosamente, a propor nomes. Estavam fechando em Bebê, quando deram por si. Perceberam que Bebê, ou como viesse a se chamar, havia desaparecido! Onde…? Antissocial, enfiara-se embaixo da poltrona.

Este conto foi originalmente publicado no blog Vivendo e Escrevendo, em 15/5/2023.  

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