Caramba! Roubaram o celular

Quem passa pela Rua São Bento, onde começa a Avenida São João, no Centro de São Paulo, só precisa erguer os olhos para saber as horas. Ali, sob alto pedestal, está um antigo relógio público, com seu grande mostrador. Haverá, nos dias de hoje, quem se importe com ele? A resposta é sim! Ninguém é louco de tirar o celular do bolso para ver as horas e ser atacado por um trombadinha.

Ora, não é que o velho relógio inspirou, em um dos gênios da criatividade que ululam nas repartições públicas, uma idéia avassaladora? O lugar escolhido para sua execução foi o Viaduto do Chá. Os que por lá passavam logo começaram a notar a novidade. Em um ponto da calçada surgiu o que parecia ser uma base de concreto. E, efetivamente, era. Sobre ela foi assentado um corpo de plástico resistente, com metro e meio de altura por 60 centímetros de largura.

No alto da peça, destacava-se um grande mostrador de relógio. Embaixo, ao alcance da mão, uma tecla. Bastaria um toque, para a hora, minutos, segundos, surgirem na réplica informatizada do Mosteiro de São Bento. Na cerimônia de inauguração, o prefeito lançou, enfático: “Este é o nosso celular, que nenhum trombadinha roubará! Vamos espalhá-los pela cidade”.

À uma e meia da madrugada, uma caminhonete entrou no Viaduto do Chá e parou à frente da peça inaugurada. Então manobrou e deu nela duas trombadas, que a jogaram ao chão. Três rapazes desceram do veículo, apanharam-na e a colocaram na carroçaria. A caminhonete partiu.

Algo mais tarde, em um bairro da periferia, aqueles mesmo três jovens entraram em um bar, exultantes. O receptador da peça, dono da caminhonete, havia dado R$ 500 para cada um – o plástico resistente era valioso. Instalados em uma mesa, pediram cerveja. “Viva nóis”, disse um deles. E bateram os copos. Comemoravam o roubo do maior celular do mundo.

Esta crônica foi originalmente publicada no blog Vivendo e Escrevendo em 9/12/2023.

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