Muito se fala – e muito ainda vai se dizer – de crises entre o Congresso e o Supremo Tribunal Federal, contendas que teriam origem na composição mais conservadora do Parlamento versus o progressismo da Corte maior. É mais do que isso. Além dos interesses econômicos, óbvios no caso do marco temporal para delimitação de terras indígenas, por trás do brio ferido da Câmara e do Senado com decisões recentes do STF está a ávida corrida da direita em dar fôlego às pautas de costumes que, com o ex Jair Bolsonaro abatido, teriam o condão de manter a tropa unida. Continue lendo “Por trás da crise com o Supremo”
Forças Armadas, o joio e o trigo
O ministro da Defesa, José Múcio, e o general Tomás Paiva, comandante do Exército, estabeleceram uma estratégia para estancar o atual desgaste das Forças Armadas. Ela consiste em separar a instituição da ação de indivíduos, mesmo os de alto coturno como o almirante e ex-comandante da Marinha Almir Garnier. Esse critério se aplicaria em relação aos novos fatos revelados na delação do tenente-coronel Mauro Cid, segundo a qual Bolsonaro promoveu uma reunião com a cadeia de comando das três Forças para discutir uma minuta de golpe. Continue lendo “Forças Armadas, o joio e o trigo”
Salve Rosa!
Pode até ter sido mais um atropelo da Suprema Corte ditado pela inoperância do Legislativo, mas o voto da ministra-presidente do STF Rosa Weber sobre a descriminalização do aborto é absolutamente irrepreensível. Nos argumentos quanto à constitucionalidade, na análise do mérito, no enfrentamento de uma questão que aflige milhões de mulheres e há décadas o país empurra com a barriga. Continue lendo “Salve Rosa!”
Por quê?
A Polícia Rodoviária Federal, que o governo passado transformou em força de repressão, tirou a vida de mais uma vítima inocente de seus desmandos nas rodovias do país.
Calote contratado
Cuba vive a sua maior crise econômica desde o “período especial” dos anos 1990. À época, o país entrou em colapso com o fim da União Soviética, de quem recebia – entre outros benefícios – petróleo bem abaixo dos preços internacionais. Sobreviveu graças ao petróleo venezuelano, fornecido por Hugo Chávez também com generosos subsídios. Essa torneira fechou com a interminável crise na Venezuela e com a queda brutal do turismo, principal fonte de divisas do país caribenho. Continue lendo “Calote contratado”
Outros atentados à democracia
Pode-se até discordar da dosimetria das penas, mas a condenação dos primeiros réus do 8 de janeiro foi precisa e didática. Prevaleceu o entendimento de que a democracia é valor supremo do país, não havendo, portanto, espaço para atentar contra ela. Ainda assim, nós na garganta impedem que se comemore. Firme na reação ao golpismo, o tripé institucional – Justiça, Executivo e Legislativo – tem falhado feio, minando a democracia que diz defender. Continue lendo “Outros atentados à democracia”
O destino bate à porta
Agora que o destino do ex-imbroxável clareou, no sentido de que as portas da Papuda já se abrem para recebê-lo em suas soturnas instalações, cabem algumas observações.
As lições do 11 de setembro chileno
Cinquenta anos depois do golpe de Pinochet, o Chile volta a ser um país dividido verticalmente. Como se a roda da História tivesse girado para trás, a extrema-direita faz uma releitura do trágico 11 de setembro de 1973, enaltecendo a figura d e Augusto Pinochet. Segundo sua versão, o ditador salvou o Chile de “uma ditadura marxista”. Na outra ponta a esquerda se nega a atender ao apelo do presidente Gabriel Boric de uma revisão crítica do governo da Unidade Popular liderado por Salvador Allende. Continue lendo “As lições do 11 de setembro chileno”
A vil moeda de Lula
Alguns chamam de pragmatismo ou realpolitik. Outros pegam até mais leve, tratando a prática como se o toma lá dá cá fosse um balé necessário à governabilidade. Balela. Ceder ministérios e até criá-los para satisfazer a sanha de políticos inescrupulosos na vã esperança de obter maioria parlamentar é compra de votos. Simples assim. Tão deletéria quanto os escandalosos mensalão, utilizado à larga no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ou orçamento secreto, sacramentado pelo ex Jair Bolsonaro. Continue lendo “A vil moeda de Lula”
Independência sem morte
Não há convocação para uma nova “festa da Selma”, senha utilizada nos grupos bolsonaristas para o 8 de janeiro, nem se tem notícia de caravanas seguindo para Brasília. Mas a movimentação entre os apoiadores do ex se intensifica com a proximidade do 7 de setembro. Ainda que divididos entre a ativação popular, com a assinatura “será gigantesco”, e o “fique em casa”, tentativa de esvaziar as comemorações da Independência, todo cuidado é pouco. Até porque essa turma já demonstrou a capacidade que tem de incendiar o país. Continue lendo “Independência sem morte”
Compadrio
Ainda é cedo para cravar que foi trágica. Mas não é cedo para dizer que foi um erro imperdoável, de tão inaceitável e inacreditável. A nomeação do advogado pessoal do presidente da República para a Suprema Corte já seria grave mesmo que fosse um progressista. O viés de compadrio é a última coisa que pode acontecer antes de se jogar uma instituição na Iata do lixo. Continue lendo “Compadrio”
O risco de virar coadjuvante
A ampliação do Brics não foi um bom negócio para o Brasil. O país saiu da última reunião do grupo menor do que entrou. Ao lado da Índia, nos enquadramos entre os perdedores com o ingresso de mais seis países no bloco. A China tem muito a comemorar. Deu um passo importante para transformar o Brics em uma plataforma antiocidental, sobretudo porque bancou o ingresso do Irã, país teocrático e profundamente antiamericano. Os chineses preparam o bote para aumentar sua influência, sobretudo na África. Continue lendo “O risco de virar coadjuvante”
Lula e a toga conservadora
A grita da esquerda em geral e de petistas em particular à postura do ministro Cristiano Zanin nas primeiras votações no Supremo – foi contra descriminalizar o uso pessoal da maconha e a equiparar homotransfobia a injúria racial -, não é apenas inócua, mas descabida, visto que as posições dele não deveriam causar qualquer surpresa. Inebriados com a indicação que o presidente Lula fez de seu advogado, progressistas nem deram bola para o pensamento retrógrado de Zanin, que ao ser sabatinado na Comissão de Constituição e Justiça do Senado não escondeu seu perfil tradicionalista, anti-drogas e anti-aborto. Agora, com o leite derramado, nem o choro salva. Continue lendo “Lula e a toga conservadora”
O telhado de vidro do PT
A questão dos direitos humanos sempre foi um tema sensível ao Partido dos Trabalhadores. Diversas vezes o PT denunciou violência policial cometida por governos aos quais fazia oposição. Assim procedeu no recente episódio do Guarujá, onde 16 pessoas foram mortas em ação policial. O ministro da Justiça, Flávio Dino, qualificou o episódio como “execução sumária”. Continue lendo “O telhado de vidro do PT”
Cidadão do mal
A omissão – e até estímulo – de integrantes da cúpula da Polícia Militar do Distrito Federal (PM-DF) diante dos ataques golpistas do dia 8 de janeiro; policiais que atiram para matar bandidos e inocentes; um pai que aponta sua arma para professoras acusando-as de promover ideologia de gênero. Os eventos, aparentemente desconexos, giram em torno da influência perversa do bolsonarismo na sociedade. Não só sobre os fardados, mas também dos que o ex costuma chamar de “cidadão de bem”. Continue lendo “Cidadão do mal”

