Os tacos do piso que cobriam as salas, na Delegacia de Homicídios, estalavam à medida que se andava neles. Muitos estavam soltos. Na sala de Maurício Castilho, o barulhinho irritante não cessava. O delegado andava de um lado para o outro.
Quando os Repórteres Usavam Revólveres (3)
O que acontece na sala de imprensa? A barulheira das máquinas de escrever cessou. Foi-se o burburinho das conversas cruzadas sobre as cabeças. Os olhares desfocam as laudas; transferem-se para a porta. Aqui, emoldurada pelos batentes, está uma deusa.
(Para ler o capítulo anterior, clique aqui.) Continue lendo “Quando os Repórteres Usavam Revólveres (3)”
O capitalismo não respeita nem a mãe
Neste Mês das Mães, dê para a sua uma tampa de privada. A Folha de sexta-feira, 22, trazia sobrecapa com propaganda de uma loja de materiais para construção. Destaque: “Mês das Mães. Ofertas incríveis para surpreender sua mãe”. E vinham os materiais à venda, com fotos. Continue lendo “O capitalismo não respeita nem a mãe”
Quando os Repórteres Usavam Revólveres (2)
Um filete de sangue escorreu sob a porta de um apartamento, num prédio muito falado no bas-fonds. O risco vermelho avançou cinco centímetros pelo corredor do terceiro andar. Era um sinal tão pequeno que demorou muito para ser notado.
(Para ler o capítulo anterior, clique aqui.) Continue lendo “Quando os Repórteres Usavam Revólveres (2)”
Quando os Repórteres Usavam Revólveres (1)
Rago está muito à vontade, neste fim de noite. As pernas cruzadas em cima da mesa. O corpo, jogado de tal forma para trás que a cadeira, sob impacto, apoia-se em dois pés. A única luz acesa coa claridade para um jornal, que tem à frente dos olhos. Manchete velha: SANGUE NA BOCA DO LIXO. A esta hora havia sangue novo em outra parte da cidade. Sabia muito bem disso. Continue lendo “Quando os Repórteres Usavam Revólveres (1)”
Curtas – curta!
Saudades do tempo em que governar era abrir estradas. Hoje, governar é distribuir cargos. (Se esta é uma observação batida, favor teclar del.) Continue lendo “Curtas – curta!”
Matar ou Morrer, Sem Lei e Sem Alma
(Som de banjo.) Kid Cunha, o perigoso, o tiro mais rápido do Centro Oeste, não faz perguntas. Atira. Abateu o homem que ousou cruzar seu caminho, um imprudente china chamado Glia, com tiros que ricochetearam por todos os lados. Uma bala nada perdida feriu de morte a dona do saloon, e provocou baixas nos frequentadores mais próximos, os que mamavam no balcão. Continue lendo “Matar ou Morrer, Sem Lei e Sem Alma”
Frases brilhantes
Catando livro velho para ler, dei com O Melhor do Mau Humor, “antologia de citações venenosas”, do Ruy Castro, de 1989. Achei que, mesmo para quem já leu, valia a pena recordar algumas pérolas. Aí vão.
Fatos reais no país surreal
Cena de trânsito. Entrei na travessa, vi a van escolar chegando. A motorista poderia ter dado um tempo para eu passar. Mas, não. Veio pra cima. Continue lendo “Fatos reais no país surreal”
Disponibilizaram um equipamento. Peremptoriamente
Se, além da minha mulher, alguém achar que me tornei um velho implicante, posso, com certas ressalvas, dar razão. Um velho implicante jornalista, pior ainda. Mas veja este release que recebi (entre dezenas de outros que chegam por e-mail). Continue lendo “Disponibilizaram um equipamento. Peremptoriamente”
Velhos lobos do mar
Até hoje não sei bem como vim parar no Refúgio dos Velhos Camaradas. Buscava apenas um lugar para descansar minha velhice longe das tormentas da cidade. O lugar pareceu simpático; acho que o nome me atraiu. Apenas dois prédios, um voltado para o outro. Continue lendo “Velhos lobos do mar”
Self-service vipíssimo
No self-service de Dalgas Frisch, bem-te-vi come arroz cozido na hora, com sal a gosto. Tico-tico prefere alpiste, e dispensa o pão (que afinal é comida de pardal). E sabiá fica no arroz, mas não rejeita uma boa fruta. Continue lendo “Self-service vipíssimo”
Assim na padaria como no céu
O peito de peru na chapa ganhou os ares! Ainda deve haver padarias de bairro em que o freguês, com dinheiro curto, achega-se ao balcão e pede o sanduíche. O balconista repete a ordem ao chapeiro, vibrante: “Sai um peito de peru na chapa”. Continue lendo “Assim na padaria como no céu”
Volume morto
Em benefício do fígado e do bolso, a lei seca baixou aqui em casa nas segundas e terças. No resto da semana, tomamos os drinques regimentais, em um happy hour tardio. Continue lendo “Volume morto”
O mistério do sofá
Nem Freud explica o sofá. É verdade que o negócio dele era divã. Mas a moderna psicanálise poderia pelo menos nos dizer por que mulheres gostam tanto de sofá. Continue lendo “O mistério do sofá”
