Falta confiança – no governo, na economia, no futuro. Sobram insatisfação e pessimismo.
Pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgada no dia 29 de maio mostrou que o Índice Nacional de Expectativa do Consumidor (Inec) caiu 1% em maio ante abril e atingiu o menor nível desde março de 2009. Na comparação com maio de 2013, houve uma queda de 5,7%.
Sondagem do Comércio da Fundação Getúlio Vargas referente ao trimestre março/maio mostrou queda nos indicadores de confiança. Simultaneamente, foi divulgada a Sondagem da Construção, que indicou forte abatimento do ânimo dos empresários.
Levantamento feito entre os dias 10 e 30 de abril pelo Pew Research Center, um dos mais importantes institutos de pesquisa dos Estados Unidos, divulgada no dia 3 de junho, mostrou que 72% dos brasileiros se dizem insatisfeitos com a situação do país, e 85% apontam a escalada dos preços como preocupação central, superando temas como criminalidade (83%) e corrupção (78%).
“Há 12 meses, 55% estavam insatisfeitos, pouco acima dos 50% de 2010, último ano do governo Lula e início da série histórica”, escreveu Flávia Barbosa em O Globo. “A economia tem papel central no mau humor corrente. Dois terços (67%) dos 1.003 entrevistados no Brasil com mais de 18 anos consideram a situação econômica ruim, após quatro anos seguidos em que a percepção positiva foi amplamente dominante.”
Dora Kramer comentou no Estadão: “A pesquisa do instituto americano Pew Research Center traduz em números e ajuda a organizar um pouco o raciocínio sobre os humores da sociedade brasileira que passou da euforia algo míope – para não dizer abobalhada – para um estado de mau humor à deriva. É sempre salutar o despertar de consciências, mas, como aponta a responsável pela pesquisa, Juliana Horowitz, chama atenção a mudança tão radical. Segundo ela, nos 82 países pesquisados desde 2010, oscilações semelhantes só foram observadas naqueles abatidos por graves crises ou rupturas institucionais.”
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Também nos sete últimos dias, o IBGE divulgou os números do PIB do primeiro trimestre deste ano. O crescimento da economia brasileira foi de apenas 0,2%.
Durante o governo Dilma, a média anual de crescimento do PIB foi de 2,01%. Em toda a história do Brasil república, de 1889 para cá, crescimento menor do que na era Dilma só foi registrado duas vezes, durante os governos Floriano Peixoto (1891 a 1894) e Fernando Collor de Mello (1990-1992).
Perguntada recentemente por jornalistas estrangeiros por que o Brasil cresce tão pouco, a presidente Dilma Rousseff respondeu: “Não sei”.
Uma leitora do Estadão, Myriam Macedo, escreveu no Fórum dos Leitores: “Se ela, que deveria saber, não sabe, está mais do que na hora de passar a bola para quem sabe, não? Mudança já”.
É isso. Claro como água da fonte.
Aí vai a 143ª compilação semanal de notícias e análises que comprovam os malefícios e a incompetência do lulo-petismo como um todo e do governo Dilma Rousseff em especial. Foram publicadas entre os dias 30 de maio e 5 de junho.
O decreto que muda o sistema de governo
* Jurista contesta decreto que determina criação de “conselhos de políticas públicas”
“Num ano eleitoral, a presidente Dilma Rousseff editou decreto que obriga os órgãos do governo a promover consultas populares sobre grandes temas, antes de definir a política a ser adotada e anunciada pelo governo. O decreto 8243/2014 cria a Política Nacional de Participação Social (PNPS) e diz que o objetivo é ‘consolidar a participação social como método de governo’. A decisão provocou polêmica e foi recebida com críticas por juristas e parlamentares.
“Na prática, a proposta obriga órgãos da administração direta e indireta a criar estruturas a título de participação social, como ‘conselho de políticas públicas’ e ‘comissão de políticas públicas’. Até mesmo as agências reguladoras terão que cumprir as novas regras. De acordo com o texto, os órgãos serão obrigados a considerar esses colegiados durante ‘a formulação, a execução, o monitoramento e a avaliação de seus programas e políticas públicas’. Na prática, ministérios e demais órgãos serão obrigados a criar conselhos, realizar conferências ou mesmo promover mesas de diálogo. Esse tipo de mecanismo pode engessar ainda mais o governo. Os órgãos terão que promover relatórios anuais para mostrar que estão cumprindo a determinação e prestar contas.
“A decisão da presidente Dilma de tentar criar um modelo de participação social via decreto foi vista como um exagero, passando por cima inclusive da Constituição. Para o jurista Carlos Velloso, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, há risco de enfraquecimento do Poder Legislativo como fórum de representação da sociedade e de discussão de grandes temas, além do engessamento das decisões do governo. Um tema polêmico pode demorar devido à exigência de se ouvir diversos representantes da sociedade, por exemplo.
“— Isso é um exagero. E utilizar decreto é exagero demais. Acredito que essa discussão só poderia ser feita por lei, ou até por meio da Constituição. A Constituição estabelece os casos em que pode haver consulta popular. E isso acaba deixando o Legislativo no corner — disse Velloso.
“O deputado Miro Teixeira (PROS-RJ) considera que a medida pode ‘travar a administração pública’:
“— Em geral, esses conselhos populares não são populares, porque são nomeados pelos governantes. Em tempos de dificuldades, é que surgem essas ações (nos governos).
“O diretor de Participação Social da Secretaria Geral da Presidência, Pedro Pontual, defende o decreto e rebate críticas de que as normas possam engessar o governo ou mesmo tenham viés esquerdista. Ele disse que esse tipo de consulta já é utilizada, por meio das conferências. Ele citou as discussões do Plano Brasil Sem Miséria, alegando que elas não ‘atrasaram’ o lançamento do programa:
“— A Constituição garante o direito do cidadão de participar. O que o governo quer é que a participação social vire um método de governo. As políticas públicas que passam pelo processo social saem do governo com mais qualidade. Todas as políticas deverão ter alguma interlocução com a sociedade.
“Questionado sobre as críticas de que o governo se baseia em práticas do governo do presidente venezuelano Hugo Chávez, ele reagiu:
“— Isso não engessa o governo e não tem nada a ver (com política chavista). É a institucionalidade da democracia, é uma relação de soma.” (Christiane Jungblut, O Globo, 30/5/2014.)
* Presidente decretou um aumento exponencial da burocracia
‘Com uma assinatura, Dilma Rousseff autorizou um aumento exponencial da burocracia. Ela determinou em decreto (nº 8.243), publicado na segunda-feira, a criação de ‘instâncias e mecanismos de participação social’. Eles terão poder efetivo ‘no processo decisório’ e também ‘na gestão’ de políticas públicas. O objetivo, segundo o texto, é ampliar o espaço para a ‘democracia representativa, participativa e direta’.
“Em plena campanha pela reeleição, a presidente-candidata abre as portas, explicitamente, de ‘todos os órgãos e entidades da administração pública federal direta e indireta’ — ou seja, dos ministérios e das agências federais, autarquias e empresas públicas controladas pela União —, para a atuação dos grupos de pressão e dos chamados movimentos sociais. Sejam ‘institucionalizados ou não’, assim como ‘suas redes e suas organizações’.
“Pelo decreto, a curto prazo devem ser instituídos na estrutura do governo federal oito organismos (entre conselhos, comissões e fóruns) vinculados à Secretaria Geral da Presidência, sob comando do paranaense Gilberto Carvalho, de 70 anos, ex-seminarista e diplomado em Filosofia, que há três décadas é um dos principais assessores do ex-presidente Lula.
“Há 12 anos, Carvalho coordena o relacionamento da Presidência com sindicatos e organizações não-governamentais. Esse decreto presidencial é, em parte, uma tentativa do secretário-geral de encontrar meios para cooptar frações sindicais e grupos que, na esteira das manifestações de rua de 2013, passaram a ser protagonistas de protestos de rua nos maiores colégios eleitorais.
“Nos últimos dez meses Carvalho realizou uma série de viagens para reuniões com ativistas, em todos os estados. Raramente viu-se bem-sucedido na defesa do governo. Há três semanas, foi hostilizado no Rio. Não perdeu a fleuma mesmo quando, sob aplausos da plateia, um ativista depositou na mesa, diante dele, um rolo de papel higiênico.
“Dilma, com o decreto, estabelece uma confusão política: em plena campanha, volta a levantar a bandeira da ‘democracia direta’ — algo que propôs no ano passado em resposta às manifestações de rua, sob a forma de uma Constituinte exclusiva, mas o Congresso engavetou. Apresenta a idéia, agora, com a moldura de fato consumado na estrutura de decisão e gestão do governo.
“A despeito do efeito no debate político-eleitoral, a consequência imediata e visível será um aumento da burocracia — inclusive com a expansão do espírito ‘assembleísta’ nos complexos processos decisório e operacional das políticas públicas.
“Desde o ano passado, o governo demonstra se sentir acuado pelos protestos contra a má qualidade gerencial dos serviços públicos de Saúde, Transportes, Educação e Segurança Pública. A criação de novos conselhos, comissões e fóruns nesses setores tende a dificultar ainda mais a tomada de decisões e o gerenciamento de iniciativas nessas áreas.
“Na Saúde, por exemplo, o governo federal mantém 1.358 organismos com poder de decidir sobre a política setorial e determinar os meios de sua execução — informa o Sistema de Organização e Inovação Institucional do Governo Federal (Siorg), que mapeia a estrutura federal. Em Transportes, qualquer decisão passa por 1.024 instâncias. Na Educação, existem 1.036 áreas de gestão e, na Segurança Pública, há 2.375 segmentos operacionais. Isso apenas no âmbito federal.
“Essa teia burocrática não admite processos simples. Uma iniciativa no setor de Água, por exemplo, envolve nada menos que 134 órgãos federais. Leis, portarias e normas setoriais até impõem agilidade ao sistema, mas a vida real é outra: o prazo legal para emissão de uma licença ambiental é de 30 dias, mas a concessão pode levar mais de um ano.
“Esse enredo burocrático, que pode ficar ainda muito mais complicado, está bem retratado na atual dificuldade de reuniões da presidente da República. Dilma não consegue reunir todo seu ministério. Porque, se resolver convocar seus 39 ministros, dando a cada um um tempo cronometrado de 15 minutos para análise de qualquer decisão governamental, ela passaria mais de nove horas apenas ouvindo. Sem intervalo.” (José Casado, O Globo, 30/5/2014.)
* “O decreto agride a democracia representativa”
“A democracia representativa, com a escolha dos representantes da sociedade pelo voto direto, bem como a independência entre os Poderes, é alvo prioritário do autoritarismo político. A desmontagem do regime representativo costuma começar pela criação de mecanismos de ‘democracia direta’, para reduzir o peso do Congresso na condução do país.
“É por este ângulo que deve ser analisado o surpreendente decreto nº 8.243, baixado na sexta-feira da semana passada pela presidente Dilma, para criar a ‘Política Nacional de Participação Social — PNPS’. O objetivo é subtrair espaço do Legislativo por meio de comissões, conselhos, ouvidorias, ‘mesas de diálogo’, conferências nacionais, várias novas instâncias a serem criadas junto à administração direta e até estatais, sempre em nome da participação social. Sintomático que a PNPS esteja subordinada ao ministro secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, representante dos ditos ‘movimentos sociais’ no Planalto. Há várias surpresas no ousado ato. A primeira, rever o regime de democracia representativa por decreto.
“Mecanismos de participação do cidadão em decisões de governo são um tema em debate no mundo, para se aperfeiçoar a democracia representativa. Plebiscitos e referendos têm sido usados com frequência em democracias maduras como a americana. Os próprios avanços tecnológicos no mundo digital são ferramenta importante para aproximar a sociedade do Estado. Mas não se avança nesta direção por decreto, algo como um golpe de Estado na base da canetada.
“Outra surpresa, até pela ousadia, é que o decreto formaliza em lei a estratégia antiga de aparelhamento da máquina pública por aliados político-ideológicos do PT. Pois não é difícil imaginar os critérios pelos quais serão escolhidos os representantes da ‘sociedade civil’ para participar de comissões, fóruns, mesas etc. Um dos resultados desta infiltração de partidos e grupos no Estado tem sido, cabe lembrar, casos de corrupção e desmandos, como os denunciados na Petrobrás.
“O sentido autoritário do decreto denuncia sua origem. Ele sai dos mesmos laboratórios petistas que engendraram a ‘Assembléia constituinte exclusiva’ a fim de fazer a reforma política — atalho para se mudar a Constituição ao bel-prazer de minorias militantes —, surge das mesmas cabeças que tentaram controlar o conteúdo da produção audiovisual do país via Ancinav, bem como patrulhar os jornalistas profissionais por meio de um conselho paraestatal. Tem a mesma origem dos idealizadores da ‘regulação da mídia’.
“Além de tudo, a PNPS tornará ainda mais impenetrável a burocracia pública, já uma enorme barreira à retomada de investimentos. Ou seja, também na economia, o decreto vai na contramão de tudo o que o país necessita.
“O assunto precisa ser discutido com urgência no Congresso e levado ao Supremo pelo Ministério Público e/ou instituições da sociedade.” (Editorial, O Globo, 31/5/2014.)
* Além de fortalecer a má burocracia, o decreto cria um poder paralelo na forma de núcleos selecionados segundo critério ideológico
“Na medida em que a campanha ganha corpo, a presidente Dilma Rousseff encampa gradualmente teses do PT que a comprometem com o aprofundamento de erros em um eventual segundo mandato, caso logre a reeleição.
“Em alguns casos, como o do controle da mídia, dissimulado por uma sombria tese de regulação, a adesão presidencial é um recuo em relação ao princípio que exaltara de incondicional defesa da liberdade de expressão.
“A reafirmação das convicções no campo econômico que levaram à inflação e à estagnação, de que é prova recorrente o número recente do PIB (0,2%), consolida a perspectiva de um segundo mandato agravado nas relações com Legislativo e mercado, com reflexos nos investimentos, cuja escassez paralisou o crescimento.
“A fonte é sempre a mesma, as conferências plenárias do PT, cujo modelo de governo escorado exclusivamente no assistencialismo deu sinais irrefutáveis de esgotamento e expôs a incapacidade de reciclagem do partido.
“O PT, que pagou com o mensalão a ousadia de promover com recursos públicos um sistema de cooptação que lhe permitisse governar sem contestação, insiste na via autoritária para implantar um regime sem respaldo da maioria da sociedade.
“Mas nada reflete com mais nitidez o vezo autoritário do que o recente decreto que cria a Política Nacional de Participação Popular, um sofisma para a instalação de conselhos populares, cópia do modelo plebiscitário bolivariano, marginalizando o sistema representativo que tem no Congresso sua legitimidade.
“Ele chega na seqüência de propostas como a Assembléia Constituinte exclusiva, que também tenta contornar o Poder Legislativo para impor as reformas políticas da cartilha petista.
“O pretexto de que a fórmula se respalda na insatisfação popular com a classe política é mero oportunismo que não disfarça o gene autoritário que a inspira.
“Além de fortalecer a má burocracia, seu mal menor, o decreto é um retrocesso. Cria um poder paralelo na forma de núcleos selecionados segundo critério ideológico, como atesta a previsão de vinculação de seus integrantes a ONGs e sindicatos, subordinados ao ministro Gilberto Carvalho, que vê a liderança sobre os movimentos sociais escorrer pelos dedos.
“O jurista Hélio Bicudo, presidente da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, considera que o decreto enfraquece a democracia e engessa governo e sociedade (O Globo, 31/5/2014).
“Fundador do PT, hoje um de seus maiores críticos, Bicudo reflete com rara legitimidade a distância que separa o ideário do nascimento do partido e sua realidade pós-poder.” (João Bosco Rabello, Estadão, 1º/6/2014.)
* O decreto de Dilma reforma toda a administração federal e cria uma estrutura burocrática como convém aos que querem se eternizar no poder
“Com licença de Hayek, podemos dizer que o Decreto 8.243 escancarou as portas para o caminho da servidão. É preciso ir devagar na sua análise para que aqueles que não creem em fantasmas, e só os veem quando aparecem com um porrete e um .45 nas mãos, acreditem neles.
“O decreto ampara-se na Constituição: é competência exclusiva do presidente da República expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução, e dispor, mediante decreto, sobre a organização e o funcionamento da administração federal. O D8243 não é, no rigor constitucional, uma lei. Na prática administrativa característica dos regimes totalitários, é uma ‘norma’ que, como toda norma da administração, deve ser cumprida. Não é isso o que acontece com as instruções normativas que a Receita baixa?
“O problema está quando seus autores abusam dessa prerrogativa, confiantes na passividade dos ofendidos. O D8243, a pretexto de organizar o funcionamento da administração, avança sem se deter em quaisquer limites, dividindo o Brasil em duas grandes massas de indivíduos, uns destinados a participar da administração e a auxiliar a produzir políticas públicas, outros que devem reger suas atitudes segundo as normas baixadas pelos novos órgãos da ‘democracia participativa e direta’.
“A divisão da sociedade brasileira em dois grandes segmentos está clara no artigo 2.º, que define o que seja a sociedade civil: ‘Para os fins deste decreto, considera-se: I – Sociedade civil – o cidadão, os coletivos, os movimentos sociais institucionalizados ou não institucionalizados, suas redes e suas organizações’. Donde se segue que:
“- A administração federal está obrigada, desde o dia 23 de maio, a só permitir a colaboração de movimentos sociais, sejam institucionalizados, sejam não institucionalizados. Mas o que se entende por ‘institucionalizado’ não se sabe, nem se decretou – seguramente não serão as associações civis que têm estatutos registrados em cartório. Na medida em que os sindicatos, os institutos, as Ordens (OAB, por exemplo), as associações profissionais, os partidos políticos (com o perdão de Gramsci), etc., não são organizações de movimentos sociais, não pertencem aos grupos sociais que podem legalmente assessorar a administração federal – não pertencem à sociedade dita civil. A menos que estejam incluídos na palavra ‘coletivos’ – mas ônibus são ‘coletivos’…
“- A referência a que o ‘cidadão’ está entre os que compõem a ‘sociedade civil’, afora ser uma estultice, pois não se compreende ‘sociedade’ sem ‘indivíduo’ nem ‘Estado democrático’ sem ‘cidadão’, só encontra explicação caso permita que particulares ‘membros da sociedade civil’, indivíduos, possam participar enquanto tal do ‘diálogo entre a sociedade civil e o governo para promover a participação no processo decisório e na gestão de políticas públicas’ – note-se: ‘participação no processo decisório’. Assim, eles serão representantes da ‘sociedade civil’ que passam a integrar a administração federal. Há no D8243 evidente abuso da prerrogativa de ‘dispor, mediante decreto, sobre a organização e funcionamento da administração federal’ na medida em que alguém do governo escolherá os ‘cidadãos’ e os ‘movimentos sociais’ que decidem sobre políticas públicas. Quem? Quais? O decreto cuida disso – aliás, cuida de tudo, como se verá.
“O D8243 reforma toda a administração federal, criando estrutura burocrática como convém aos que pretendem eternizar-se no poder. Há os ‘conselhos de políticas públicas’, que decidem sobre as políticas públicas e sua gestão. Depois, as ‘comissões de políticas públicas’, em que a ‘sociedade civil’ e o ‘governo’ dialogarão sobre ‘objetivo específico’ dado pelo tema determinado para discussão. Segue-se a ‘conferência nacional’, para debater, formular e avaliar ‘temas específicos de interesse público’. Note-se que essa ‘conferência’ não cuida apenas de políticas públicas federais: poderá ‘contemplar etapas estaduais, distrital (sic), municipais ou regionais para propor diretrizes e ações acerca do tema tratado’. Há uma ‘Ouvidoria’, que cuidará também dos ‘elogios às políticas e aos serviços púbicos prestados sob qualquer forma ou regime…’. E há, finalmente, a ‘mesa de diálogo, mecanismo de debate e negociação com a participação de setores da sociedade civil (não mais ‘movimentos sociais’) e do governo diretamente envolvidos no intuito de prevenir, mediar e solucionar conflitos sociais’.
“Convém prestar atenção às finalidades das ‘mesas de diálogo’, que devem ‘prevenir, mediar e solucionar conflitos sociais’. A Justiça do Trabalho pode dizer adeus a uma de suas funções; os conflitos entre índios e proprietários de terra não irão mais à Justiça, mas passarão pela ‘mesa’ que os resolverá, da mesma maneira que qualquer outro ‘conflito social’. Criou-se uma ‘Justiça’ paralela.
“Depois da ‘mesa’ temos o ‘fórum interconselhos’, que permitirá o ‘diálogo entre representantes de conselhos e comissões de políticas públicas… formulando recomendações para aprimorar sua intersetorialidade e transversalidade’ (arre!). Num arroubo de fato participativo, abre-se ‘consulta pública’ de ‘caráter consultivo’ a qualquer interessado disposto a se manifestar ‘por escrito’…
“A ‘consulta pública’ é, pois, o consolo que se dá aos cidadãos que não pertencem aos ‘movimentos sociais’ – se souberem escrever! Ao contrário dos participantes em debates – que são orais – nos conselhos, comissões, conferências, mesas e no fórum, que não precisam ser alfabetizados…
“Pelo D8243, um secretário-geral se preocupará com dar aparência democrático-formal às decisões do governo. Eis o primeiro-ministro do governo democrático-participativo. Ninguém mais conveniente ao cargo que o secretário-geral da Presidência da República.” (Oliveiros S. Ferreira, Estadão, 4/6/2014.)
A Copa de Lula e Dilma
* No Rio, a presidente inaugura obras que ainda não estão prontas
Às vésperas da Copa do Mundo, a presidente Dilma Rousseff inaugurou ontem (1º/6) no Rio duas das mais importantes obras prometidas para o Mundial: a ampliação do terminal 2 do Aeroporto Internacional Tom Jobim e o BRT Transcarioca (Barra-Galeão). Ambas, no entanto, ainda estão inacabadas, sem data para conclusão, embora constassem do programa de compromissos do governo brasileiro para o evento.
“No aeroporto, Dilma Rousseff visitou o setor 2 de desembarque e descerrou uma placa alusiva à inauguração. Na verdade, o trecho que ela visitou já estava aberto ao público desde janeiro. Os tapumes, decorados com fotos do Rio, escondiam as escadas rolantes paradas que dão acesso ao piso inferior. Apenas as obras do embarque da zona restrita a autoridades e três esteiras de bagagem foram concluídas.
“A reforma do Tom Jobim é parte de um plano de revitalização com custo de R$ 355 milhões, iniciado em 2008. Também não foram concluídas as obras do terminal 1, entregues apenas no setor A, por causa de uma sucessão de atrasos. Dados disponíveis no Portal da Transparência da Copa — site mantido pela União — confirmam que as datas não foram cumpridas. As obras nas pistas e nos pátios foram finalizadas em março deste ano, com cinco meses de atraso. O prazo original para as intervenções no terminal visitado pela presidente era abril de 2011. Já no terminal 1, a data prevista inicialmente era setembro de 2012.
“Em Madureira, Dilma Rousseff afirmou que as obras de infra-estrutura que estão sendo feitas não são para a Copa, mas para o Brasil:
“— Diziam que a Copa não teria legado e inauguramos o terminal 2 do Galeão. Não estamos inaugurando aeroporto para a Copa, mas sim para todos os brasileiros. Antigamente, avião era transporte de elite. Era. Passamos de 33 milhões de passageiros/ano para 133 milhões de passageiros/ano, porque muita gente que não podia passou a poder viajar de avião. Acusam a gente de transformar aeroporto em uma grande rodoviária. Mas isso não tem mal nenhum Nós transformamos o aeroporto numa grande rodoviária, porque não tem mal nenhum em rodoviária. É um aeroporto de qualidade, porque o povo brasileiro merece o que há de melhor — disse Dilma.
“A presidente também circulou por várias estações do corredor do BRT Transcarioca (Barra-Galeão) que ainda estão sem data para ser abertas porque o prazo original previsto para a conclusão dos projetos não foi cumprido. Ainda segundo o Portal da Transparência, o BRT deveria estar concluído em fevereiro de 2013. Das 47 estações planejadas, apenas 22 estarão em operação durante a Copa e, mesmo assim, em horários predeterminados. A implantação do sistema precisa ser gradual para o usuário se acostumar às mudanças, já que o Transcarioca prevê alterações de itinerários e cortes de linhas de ônibus que devem ser implantados em pelo menos três meses.
“A presidente fez elogios ao corredor viário:
“— O BRT é um presente para o Rio de Janeiro. Só as coisas grandes deste país deram samba. Não adianta dizer que há 49 anos atrás alguém pensou. O que importa é que alguém realizou.
“Na maioria das estações, no entanto, os equipamentos de bilhetagem eletrônica e sinalização que são fornecidos pelo Rio Ônibus sequer foram instalados. Do Tom Jobim até Madureira, a presidente passou por 20 estações. Destas, apenas as duas que atendem ao aeroporto e a Vicente de Carvalho serão abertas ao público na próxima quarta-feira, num serviço semiexpresso até o Terminal Alvorada, na Barra, das 5h às 23h. Hoje, entram em operação, fora do horário do rush (das 10h às 15h), as estações entre Alvorada e Largo do Tanque (Jacarepaguá). A estação inaugurada com samba em Madureira, que fará conexão com a rede ferroviária, ainda não tem data para abrir.
“E mesmo antes da entrada em operação já há previsão de mais obras. Na última sexta-feira (30/5), a prefeitura abriu licitação de R$ 3 milhões para construir uma nova passarela de pedestres que ligará duas estações da Taquara próximo a conjuntos habitacionais.. O pedido foi feito por moradores da região ao subprefeito da Barra, Alex Costa. A nova passarela deve ficar pronta no início de 2015.
“O município havia prometido entregar para a inauguração ao menos a infra-estrutura do corredor viário prevista no projeto. Mas o relógio venceu a corrida contra o tempo em alguns trechos do BRT. No Terminal do Fundão, os operários conseguiram concluir apenas no sábado a implantação da infra-estrutura da estação, mas os vidros não foram instalados. Ao longo de várias estações da Zona Norte, era possível ver entulho acumulado. Ontem, em Madureira, na Avenida Ministro Edgard Romero, defeitos na pista do BRT eram reparados a duas horas da chegada de Dilma.
“A prefeitura argumenta que o objetivo foi atingido, pois o turista que desembarcar no Tom Jobim poderá chegar ao Maracanã ou à Zona Sul fazendo baldeação na estação do Metrô em Vicente de Carvalho. Ontem, o prefeito Eduardo Paes fazia referência a um atraso de três meses na conclusão do projeto. E lembrou que o conceito do BRT Transcarioca surgiu em 1965, num plano urbanístico desenvolvido na gestão do ex-governador Carlos Lacerda.
“— O que são três meses para quem esperou 49 anos?— disse o prefeito.
“Ainda em Madureira, a presidente Dilma Rouseff assinou convênio para um empréstimo de R$ 2,7 bilhões do BNDES à prefeitura do Rio. Os recursos serão usados para concluir projetos de mobilidade urbana dos Jogos Olímpicos de 2016, incluindo o lote zero do Transoeste (Alvorada—Jardim Oceânico), a interligação do BRT Transolímpico com o BRT Transbrasil; as obras de duplicação da Avendia Salvador Allende; de ampliação do Elevado do Joá; de construção da ciclovia da Avenida Niemeyer; de interligação do túnel da via expressa do Porto com o mergulhão da Praça Quinze, no Centro; e de urbanização do entorno do Engenhão. A prefeitura entrará com R$ 301 milhões.
“Ao fim do evento, cerca de 50 manifestantes se concentraram em frente à Estação de Madureira. Eles protestaram contra os gastos da Copa. Junto ao grupo, estavam representantes do Sindicato Estadual dos Professores, que aproveitaram para reivindicar verbas para a educação.
“Em Manguinhos, na Zona Norte, a presidente também inaugurou um conjunto habitacional construído no terreno da antiga fábrica da CCPL. As chaves que ela entregou aos moradores eram simbólicas, já que os 564 apartamentos, prontos desde março, só serão ocupados a partir do dia 9. Ainda faltam equipamentos de combate a incêndio e o certificado de habite-se, que a Secretaria estadual de Obras espera para esta semana. O conjunto é na verdade a primeira fase do projeto original de 25 blocos, com custo total de R$ 110 milhões.” (Luiz Ernesto Magalhães e Alexandre Rodrigues, O Globo, 2/6/2014.)
* Somente seis dos 12 estádios da Copa terão redes wi-fi
“Os torcedores que forem assistir a abertura da Copa do Mundo no próximo dia 12, na arena São Paulo, poderão demorar um pouco mais de tempo para conseguir enviar suas fotos para as redes sociais, do que normalmente acontece. A principal razão, segundo o presidente-executivo do SindiTelebrasil, Eduardo Levy, é porque não foi instalada uma rede Wi-Fi neste estádio, o que reforçaria as transmissões de dados. Mas ele garantiu que os torcedores conseguirão tirar as fotos normalmente, ‘pode demorar um pouco mais naqueles (estádios) que não tem a rede Wi-Fi’, mas todos conseguirão. Levy explicou que as empresas de telecomunicações não conseguiram fechar contratos para a instalação de rede Wi-Fi em seis estádios, o que reduz a capacidade de conexões simultâneas de dados.
“Enquanto o Maracanã, no Rio, contará com uma rede com capacidade de conexões simultâneas de 48 mil dados, ao mesmo tempo; na Arena Pernambuco, em Recife, ela será de 10 mil conexões. Os outros três estádios que não fecharam contratos com as empresas de telecomunicações foram o Mineirão, de Belo Horizonte; o Castelão, de Fortaleza; e a Arena da Baixada, em Curitiba.
“Dois estádios, o Itaquerão e na Arena da Baixada, não vão ter uma boa cobertura em locais de deslocamento de torcedores, disse Eduardo Levy, porque houve uma demora na entrega das obras. Mas explicou que mesmo nestes estádios as empresas estão fazendo um reforço nos sinais externos para tentar melhorar este quadro. Enquanto o tempo necessário para a implantação dos equipamentos é de 150 dias, em Curitiba as empresas tiveram 71 dias e em São Paulo, 62 dias.
“- Nestes dois estádios privilegiamos onde o torcedor estiver assistindo o jogo – disse ele.
“Eduardo Levy disse que as operadoras – Claro, Oi, Nextel, Tim e Vivo – completaram nesta semana a instalação da rede de telecomunicações dentro dos 12 estádios da Copa. Foram instalados equipamentos, 164 mil metros de redes de fibras óticas e 3.724 antenas e serão oferecidos de 2G, 3G e 4G. Além de 1.014 antenas de Wi-Fi para reforçar as transmissões de dados. Segundo ele, as empresas investiram R$ 212 milhões na rede indoor e R$ 14 milhões em Wi-Fi.” (Mônica Tavares, O Globo, 4/6/2014.)
O crescimento pífio
* Com queda no consumo das famílias e nos investimentos, economia cresce só 0,2% no 1º trimestre
“A economia brasileira ficou estagnada no primeiro trimestre. O crescimento de 0,2% frente ao fim do ano passado é uma síntese dos números da atividade econômica que mostram a incapacidade do país de avançar com mais força. Especialistas alertam que o país entrou numa espécie de armadilha que o impede de crescer, com problemas para produzir e consumir neste ano e no próximo. O consumo das famílias caiu 0,1%. É a primeira vez que isso acontece desde o terceiro trimestre de 2011 (-0,3%).
“A inflação e o crédito mais difícil provocaram a queda. O investimento, capaz de fazer o país crescer mais, andou para trás pelo terceiro trimestre seguido. A queda no início do ano foi de 2,1%, afetada pela importação e produção menores de máquinas e equipamentos e pelo encolhimento da construção civil. O recuo deste setor foi um dos principais impactos para o desempenho baixo do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país), informou nesta sexta-feira o IBGE.
“— Quem puxou para baixo (o PIB) foi o investimento — afirmou Rebeca Palis, gerente de Contas Nacionais Trimestrais do IBGE.
“Fazer o PIB avançar com mais força não será possível sem dor, segundo o economista-chefe do ABC Brasil, Luis Otávio Leal. O investimento e a poupança ficaram menores neste início de 2014. A taxa de poupança, a fatia que o país economiza do PIB, caiu ao menor patamar em 14 anos, para 12,7%. A taxa de investimento recuou de 18,2%, para 17,7%.
“— Não existe tratamento indolor: ou o ajuste é mais rápido, com recessão, mas a economia acelera depois, ou o ajuste é mais devagar e o crescimento fica baixo por mais tempo.
“O professor da PUC-SP Antonio Corrêa de Lacerda afirma que, ao contrário das décadas de 1980 e 1990, o quadro hoje é de menos dependência externa, mais autonomia em energia, desemprego baixo e reservas internacionais elevadas.
“— É um baixo crescimento, mas resistente.
“Nos últimos quatro trimestres, a taxa está em 2,5%, a mesma de 2013, outra indicação de que a economia ficou parada no início do ano. Os setores que ajudaram a deixar o PIB no positivo foram agropecuária (3,6%) e serviços (0,4%). Na comparação com o início de 2013, a expansão foi de 1,9%. No primeiro trimestre, o PIB somou R$ 1, 2 trilhão.
“Para a economista Monica de Bolle, da Galanto Consultoria, o PIB preocupa pela composição, com queda no consumo das famílias, investimentos e exportações (-3,3%).
“— É um quadro desalentador, que vem de um panorama de incertezas.
“Sob o impacto das restrições das vendas para a Argentina, do aumento de custos da energia elétrica e da alta dos juros, a indústria recuou 0,8% no primeiro trimestre, frente ao trimestre anterior, a terceira queda seguida. Na comparação com o primeiro trimestre de 2013, houve alta de 0,8%.
“A retração industrial foi puxada pela queda de 0,8% da indústria de transformação e de 2,3% da construção civil. Na ponta oposta, a produção de serviços públicos — que inclui eletricidade, gás e água — despontou com alta de 1,4%, a segunda maior taxa. A indústria extrativa também se salvou, com alta de 0,5%.
“— Juntas, indústria de transformação e construção civil têm peso de 72% na indústria. Isso explica a queda da indústria — diz a gerente de Contas Trimestrais do IBGE, Rebeca Palis.
“Diante do terceiro trimestre seguido de recuo, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) afirma que ‘a indústria nacional está em recessão’. O fenômeno, argumenta, é reflexo da crise da indústria de transformação, que sofre com baixa competitividade.
“Se houve queda da indústria, por outro lado o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) foi beneficiado pelo acúmulo de estoques, segundo o economista-chefe do ABC Brasil, Luis Otavio de Souza Leal. O impacto foi de 1,1 ponto percentual, o maior desde o quarto trimestre de 2009, quando tinha sido de 1,5 ponto percentual.
“— Sem o acúmulo de estoques, o resultado do PIB seria negativo em 0,9%. Há casos em que esse acúmulo é positivo, quando as empresas estão se preparando para uma melhora na economia, mas agora não é o caso. As sondagens mostram queda da confiança dos consumidores e dos empresários para níveis de 2009 — diz Leal.
“Esse acúmulo gera uma preocupação com a economia daqui para a frente: antes de voltar a produzir em ritmo mais forte, a indústria terá que eliminar esses estoques.
“Na avaliação da coordenadora técnica do Boletim Macro do Ibre/FGV, Silvia Matos, a recuperação da indústria ainda tem poucas chances de ocorrer no segundo trimestre. Ela cita, entre as razões, poucos dias úteis, por causa da Copa do Mundo, e a pouca disposição do empresariado em investir.
“— O PIB vai depender da dinâmica da indústria. Ela está indo mal. Já se esperava uma desaceleração do crescimento este ano por causa dos juros altos e da inflação, mas houve a questão energética, as exportações caíram, veio um choque de alimentos que mostrou uma inflação ainda mais resistente — afirma Silvia.
“No setor externo, o que se viu foi um avanço de 2,8% das exportações frente ao primeiro trimestre de 2013 e uma alta de 1,4% das importações. Assim, a contribuição externa para o PIB foi de 0,1 ponto percentual. Nos três primeiros meses do ano, o déficit externo de bens e serviços foi de R$ 46,6 bilhões.
“Nas exportações, os destaques foram os produtos agropecuários, que também representaram o lado mais positivo do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre. A agropecuária cresceu 2,8% frente ao primeiro trimestre de 2013 e 3,6% em relação ao quarto trimestre. Principal cultura no país, a soja teve aumento de 6,3% na quantidade produzida.
“A despeito dos números positivos, há quem não veja um cenário tão brilhante assim, como é o caso de José Roberto Caio, que planta milho, mandioca, laranja e feijão na região leste de São Paulo. Ele diz que, embora tenha registrado lucro no primeiro trimestre, a falta de chuva prejudicou a safra.
“— Não acredito no resultado do PIB agrícola divulgado pelo governo. Parece propaganda, porque ninguém está tão bem quanto os dados mostram — afirma Caio, que estima que só conseguiu entregar aos clientes 60% do que produz normalmente.” (Cássia Almeida, Lucianne Carneiro, Renan Setti, com Clarice Spitz e Luciano Abreu, O Globo, 31/5/2014.)
* Crescimento menor do que no governo Dilma, só com Collor e Floriano Peixoto
“Apesar da ajuda que obteve com a revisão do Produto Interno Bruto (PIB) de 2013, com a inclusão de novos dados industriais, a média de crescimento da economia na gestão de Dilma Rousseff é a pior desde o governo Collor e fica na lanterna do ranking de todos os presidentes do país.
“A revisão elevou a média anual de crescimento do PIB de Dilma de 2,0% para 2,1%, segundo cálculos do professor Reinaldo Gonçalves, da UFRJ. Mas o resultado da petista é inferior à média dos oito anos de Lula (4,0%), dos oito anos de Fernando Henrique Cardoso (2,3%) e dos dois anos de Itamar Franco (5,0%).
“Só supera o resultado de Collor, cuja média de seus dois anos ficou em recessão de 1,3% no período. O resultado também é menor que a média da história republicana no Brasil: 4,4% ao ano, em média, desde Deodoro da Fonseca, em 1889.
“Com 2,1% no acumulado na nova série do IBGE, Dilma empata com o governo de Venceslau Brás (1914-1918) em 27º na lista dos 30 mandatos presidenciais do país, segundo o professor. Ela só superaria o resultado de Collor e Floriano Peixoto (que governou de 1891 a 1894 e registrou, em média queda do PIB de 7,5% por ano de seu mandato).
“Levando em conta a previsão da pesquisa Focus para 2014, com a qual o Banco Central apura as expectativas dos agentes do mercado econômico, o resultado de Dilma não melhora muito.
“Se o país realmente crescer 1,63% neste ano como os economistas estimam, a média de Dilma ficará em 2,0%. E, com esse resultado, ela não altera posições no ranking econômico dos presidentes recentes e deixaria de empatar com Floriano Peixoto, ficando sozinha na 28ª posição da lista de 30 mandatos presidenciais.
“Mas alguns economistas esperam que o PIB suba neste ano apenas 1%, o que pode diminuir a média da petista — sem, contudo, levar a média para a recessão, ou seja, sem ser ‘ultrapassada’ por Collor.” (Henrique Gomes Batista, O Globo, 31/5/2014.)
* Mais uma pérola medíocre de crescimento do PIB – e o governo desfila as desculpas esfarrapadas de sempre
“Nada muito diferente do que já se esperava. A presidente Dilma obteve mais uma pérola medíocre de crescimento do PIB. Não consegue entregar o prometido, nem em avanço da atividade econômica nem em investimento.
“Mesmo levando em conta a revisão positiva do avanço do PIB de 2013 (de 2,3% para 2,5%) e da indústria, que cresceu no último trimestre do ano passado mais do que havia sido anunciado (1,7%, em vez de 1,3%), o desempenho fortemente insatisfatório deste início do ano, de um crescimento de apenas 0,2% sobre o último trimestre, é frustrante, especialmente quando se levam em conta outros parâmetros fracos, como a queda do consumo das famílias sobre o trimestre anterior, de 0,1%, e a queda do investimento (Formação Bruta do Capital Fixo), de 2,1%.
“O governo desfila as desculpas esfarrapadas de sempre: o mau desempenho da economia brasileira é, segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, consequência da estagnação da economia internacional e do repique inflacionário que corroeu o poder aquisitivo. Mas, ministro, a crise externa começou em 2007 e não é fato novo que explique mais este fiasco. E a inflação em 12 meses está praticamente no mesmo nível desde o início do governo Dilma.
“Chegamos ao ponto em que causa e consequência se compõem para produzir resultados medíocres. O desempenho sufocante da economia derruba a confiança tanto do empresário como do consumidor; e o baixo nível de confiança, por sua vez, também derruba o investimento, a produção e a disposição de mudar. É um quadro básico que reforça o repeteco fraco para os três trimestres seguintes de 2014, ao contrário do que também disse Mantega.
“A aposta do governo é de que a Copa acabará por reativar o consumo e de que a inflação recuará, fatores que acabarão por reativar o consumo e o PIB. São hipóteses frágeis de que nem o ministro parece convencido.
“A Copa vai reduzir a atividade com mais feriados. As instituições ligadas ao comércio já avisaram que, em frente da TV, o consumidor não se sente estimulado a puxar pelo cartão de crédito. De mais a mais, a inflação mensal pode recuar em alguma coisa, mas, medida em 12 meses, deverá estourar o teto da meta, possivelmente já em junho e por lá ficar nos meses seguintes.
“O momento é de economia tão devagar como antes, quase parando. O gráfico que mostra o mergulho acentuado da poupança e do investimento ao longo do governo Dilma explica muita coisa (veja o Confira): se a semeadura é cada vez menor, a produção também será. São fatores que solapam capacidade de crescimento econômico.
“Não há nenhum elemento novo nas telas de radar que pareça capaz de virar o jogo ainda este ano e de resgatar a confiança perdida com esse mau desempenho. É uma situação ruim que tende a se acentuar com a falta de resposta do governo e com as incertezas trazidas pela própria campanha eleitoral.” (Celso Ming, Estadão, 31/5/2014.)
* Baixa taxa de poupança e muitas incertezas reduzem as chance de aumento do investimento
“O IBGE confirmou ontem (30/5) a frieza da economia com a divulgação de alta de apenas 0,2% no PIB do primeiro trimestre. O ano até aqui está sendo fraco, com muitas incertezas tirando o ânimo do empresário para investir e do consumidor para consumir. Mesmo sendo ano de Copa do Mundo no Brasil, ainda não deu para sentir o efeito positivo na atividade econômica.
“Não é só nos números macroeconômicos que se percebe a perda de fôlego do país. Quando se olha no micro, numa conversa com uma empresa, por exemplo, se tem noção mais clara desse divórcio entre o potencial de crescimento e a conjuntura. Um exemplo: apenas 2% dos lares brasileiros possuem lava-louças, somente a metade tem lava-roupas e 60% ainda estão equipadas com geladeiras convencionais, que precisam descongelar. O espaço para vendas é enorme, principalmente no Nordeste e Centro-Oeste. Mesmo assim, a Whirlpool, dona das marcas Brastemp e Consul, e a Electrolux anunciaram férias coletivas esta semana.
“Em conversa com a coluna, a Whirlpool afirmou que mantém a projeção de investir R$ 500 milhões este ano e lançar 180 novos produtos, 10% a mais que em 2013. Mas enfrenta o baixo crescimento do PIB, o aumento menor do poder de compra, a inflação alta e o encarecimento do crédito. No primeiro trimestre, a empresa teve queda de 5% nas vendas de eletrodomésticos, sobre o mesmo período de 2013. A chegada da Copa do Mundo e os feriados do mês de junho ajudaram a tomar a decisão de interromper parte da produção.
“— A parada na fábrica de Manaus sempre acontece nesta época do ano, mas a de Rio Claro, no interior de São Paulo, não. Ela fabrica geladeiras e fogões e houve uma redução de demanda de 15% este ano, maior do que havíamos projetado. Além da desaceleração econômica, há o efeito Copa do Mundo, que favorece a compra de outros eletrodomésticos e provoca feriados — explicou o presidente da empresa, Enrico Zito.
“As previsões de vendas da companhia para o ano variam de queda de 3% a alta 3%. É a incerteza da economia, e está difícil pensar 2015 também. Há muita dúvida sobre o custo da energia. Zito estima que o aumento mínimo deve ser de 20%. A boa notícia é que a empresa ouve meteorologistas que asseguram que o próximo verão será chuvoso.
“— Energia elétrica é uma incógnita para o futuro. Isso se soma a vários outros tipos de custos em alta para a indústria, como salários, serviços dos mais variados tipos, combustíveis, fretes, e ainda há a pressão residual do câmbio, que se desvalorizou muito nos últimos dois anos. O repasse é feito de forma gradual. Não há aumento de produtividade que compense isso tudo — disse.
“O quadro é o mesmo em outras empresas. Os empresários veem um enorme potencial de crescimento, mas acham que o curto prazo está difícil. Não é por acaso que dois dos principais índices que medem a confiança estão em baixa. O Índice de Confiança da Indústria (ICI), medido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em pesquisa com mais de 2.500 empresas, caiu para 48 pontos em maio, o nível mais baixo dos últimos cinco anos. Índice semelhante, apurado pela FGV, caiu a 91,2 pontos, o menor número desde junho de 2009.
“O crescimento do PIB foi pequeno no primeiro trimestre. Mas pior do que o 0,2% de alta é a taxa de poupança baixa demais: 12,7% do PIB é muito pouco e não sustenta o necessário aumento da taxa de investimento. Nos dados micro, em visitas às empresas, se vê o que informam os índices dos institutos. Há baixa expectativa em que o país possa, a curto prazo, retomar um crescimento vigoroso do PIB.” (Míriam Leitão, O Globo, 31/5/2014.)
* O fiasco do “modelo” dura mais de três anos, mas o governo continua alegando inocência
“Com o desastre econômico do primeiro trimestre, uma expansão miserável de 0,2% combinada com inflação alta e enorme rombo comercial, a presidente-gerente Dilma Rousseff completou três anos e três meses de fracasso econômico registrado oficialmente. O fracasso continua, como confirmam vários indicadores parciais, e continuará nos próximos meses, porque a indústria permanece emperrada e o ambiente econômico é de baixa produtividade. Mas o ministro da Fazenda, Guido Mantega, parece desconhecer a história dos últimos três anos e um quarto. Em criativa entrevista, ele atribuiu o baixo crescimento brasileiro no primeiro trimestre a fatores externos e a problemas ocasionais. A lista inclui a instabilidade cambial, a recuperação ainda lenta das economias do mundo rico e a inflação elevada principalmente por causa dos alimentos. Culpa dos gringos, portanto, e isso vale igualmente para o judeu Simão, também conhecido como São Pedro, supervisor e distribuidor das chuvas e trovoadas.
“No triste cenário das contas nacionais divulgadas nesta sexta-feira (30/5), só se salva a produção agropecuária, com crescimento de 3,6% no trimestre e de 4,8% no acumulado de um ano. Os detalhes mais feios são o investimento em queda e o péssimo desempenho da indústria. Em sua pitoresca entrevista, o ministro da Fazenda atribuiu o baixo investimento à situação dos estoques e ao leve recuo – queda de 0,1% – do consumo das famílias, causado em grande parte pela alta do custo da alimentação. A explicação pode ser instigante, mas deixa em total escuridão o fiasco econômico dos últimos anos, quando o consumo, tanto das famílias quanto do governo, cresceu rapidamente.
“O investimento em máquinas, equipamentos, construções civis e obras públicas – a chamada formação bruta de capital fixo – caiu, como proporção do produto interno bruto (PIB), durante toda a gestão da presidente Dilma Rousseff.
“No primeiro trimestre de 2011, quando o governo estava recém-instalado, essa proporção chegou a 19,5%. Caiu seguidamente a partir daí, até 17,7% nos primeiros três meses de 2014. Durante esse período o consumo das famílias aumentou velozmente, sustentado pela expansão da renda e do crédito, mas nem por isso os empresários investiram muito mais.
Além disso, o governo foi incapaz de ir muito além da retórica e das bravatas quando se tratou de executar as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Nem as obras da Copa avançaram no ritmo necessário, apesar do risco de um papelão internacional.
“A estagnação da indústria reflete o baixo nível de investimentos, tanto privados quanto públicos, e a consequente perda de poder de competição. Por três trimestres consecutivos a produção industrial tem sido menor que nos três meses anteriores. Encolheu 0,1% no período julho-setembro, diminuiu 0,2% no trimestre final de 2013 e 0,8% no primeiro deste ano. Não há como culpar as potências estrangeiras ou celestiais por esse desempenho.
“O conjunto da economia brasileira é cada vez menos produtivo, embora alguns segmentos, como o agronegócio, e algumas empresas importantes, como a Embraer, continuem sendo exemplos internacionais de competitividade.
“O baixo crescimento do PIB, apenas 0,2% no trimestre e 2,5% em 12 meses, reflete essa perda de vigor, associada tanto à insuficiência do investimento em capital fixo quanto à escassez crescente de pessoal qualificado. Não por acaso, o País apareceu em 54.º lugar, numa lista de 60 países, na última classificação de competitividade elaborada pelo International Institute for Management Development (IMD), da Suíça.
“O baixo desempenho da economia, especialmente da indústria, tem tudo a ver com a piora das contas externas. O efeito mais evidente é a erosão do saldo comercial. No primeiro trimestre, período de referência das contas nacionais atualizadas, o País acumulou um déficit de US$ 6,1 bilhões no comércio de mercadorias. O resultado melhorou um pouco desde abril, mas na penúltima semana de maio o buraco ainda era de US$ 5,9 bilhões. O Banco Central (BC) continua projetando um saldo de US$ 8 bilhões para o ano, muito pequeno para as necessidades brasileiras. No mercado, a mediana das projeções coletadas em 23 de maio na pesquisa semanal do BC indicava um superávit de apenas US$ 3 bilhões.
Estranhamente, os deuses parecem ter poupado outros países dos males atribuídos pelo ministro da Fazenda ao quadro externo. Outras economias continuaram crescendo mais que a brasileira e com inflação menor, apesar de sujeitas à instabilidade dos mercados financeiros e a outros problemas internacionais. A inflação no Brasil tem permanecido muito acima da meta oficial, 4,5%, e a maior parte das projeções ainda aponta um resultado final em torno de 6% para 2o14. Até agora, o recuo de alguns preços no atacado pouco afetou o varejo e os consumidores continuam sujeitos a taxas mensais de inflação superiores a 0,5%. O ritmo poderá diminuir nos próximos meses, mas, por enquanto, as estimativas indicam um repique nos quatro ou cinco meses finais de 2014.
“O aperto monetário, interrompido pelo BC na quarta-feira, pode ter produzido algum efeito, mas o desajuste das contas do governo ainda alimenta um excesso de demanda. Na quinta-feira o Tesouro anunciou um superávit primário de R$ 26,7 bilhões nos primeiros quatro meses. Quase um terço desse total, R$ 9,2 bilhões, ou 31%, correspondeu a receita de concessões e dividendos. As concessões renderam 207,4% mais que no período de janeiro a abril do ano passado. Os dividendos foram 716,4% maiores que os do primeiro quadrimestre de 2013. Chamar isso de arrecadação normal e recorrente sem ficar corado vale pelo menos um Oscar de ator coadjuvante. A economia vai mal, mas a arte cênica brasileira ainda será reconhecida. Há mais valores entre o céu e a terra do sonham os críticos da política econômica.” (Rolf Kuntz, Estadão,31/5/2104.)
* PIB do trimestre comprova que o país continuará perdendo o jogo pore falta de eficiência e capacidade produtiva
“A economia brasileira vai continuar anêmica, sem fôlego para crescer como outros emergentes e sem força, ainda por um bom tempo, para enfrentar os principais competidores. O Brasil seguirá perdendo o jogo por falta de eficiência e de capacidade produtiva.
“Esta é a pior notícia embutida nas contas nacionais do primeiro trimestre, balanço de um desempenho abaixo de pífio, com crescimento de apenas 0,2% em relação aos três meses finais de 2013. Projetada para um ano, essa taxa corresponde a pouco mais de 0,8%, em termos acumulados, mas até esse resultado já parece acima das possibilidades, segundo alguns analistas. Mas o detalhe mais negativo é outro: o País permanece condenado a crescer muito menos do que poderia, se fosse governado com alguma competência, porque a taxa de investimento produtivo, já muito baixa nos últimos anos, voltou a cair.
“Nos primeiros três meses deste ano o governo e o setor privado investiram em máquinas, equipamentos, instalações e obras de infra-estrutura apenas 17,7% do Produto Interno Bruto (PIB). Essa proporção, um ano antes, era de 18,2%. Em outros emergentes essa proporção raramente fica abaixo de 24% e em muitos casos passa de 30%. Na China, tem superado os 40%.
“Uma comparação mais completa, e até mais negativa para o Brasil, deveria incluir os números e a qualidade da mão de obra disponível. Não basta gastar mais em educação e promover a multiplicação de vagas de grau superior, se a formação é ruim nos cursos fundamental e médio e a maior parte das faculdades produz mais diplomas do que competências.
“O investimento em queda e a indústria estagnada são os detalhes mais assustadores do quadro divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com os novos números do Produto Interno Bruto. A taxa de investimento chegou a 19,5% no primeiro trimestre de 2011, quando a presidente Dilma Rousseff ainda se acomodava no gabinete principal do Palácio do Planalto. Caiu, a partir daí, para 18,8%, nos primeiros três meses de 2012; para 18,2%, um ano depois; e para 17,7%, no trimestre inicial de 2014.
“A queda comprova mais uma vez o fracasso, nada surpreendente, da estratégia seguida neste governo e em parte implantada no governo anterior. Falhou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O plano de concessões de infra-estrutura, mal concebido e mal executado, demorou a deslanchar e pouco avançou. Os financiamentos com recursos federais privilegiaram grandes empresas do próprio governo e grupos selecionados para tornar-se campeões. Os estímulos fiscais beneficiaram indústrias selecionadas e favoreceram muito mais o consumo do que a produção. O sistema tributário, irracional e absurdamente oneroso, permaneceu quase intacto.
“Enquanto isso, o governo continuou gastando, intervindo na economia de forma desastrada e perdendo credibilidade.
“O péssimo desempenho da indústria, com recuo de 0,8% nos primeiros três meses e crescimento de apenas 2,1% em quatro trimestres, também mostra a falência de um estilo de política econômica. O protecionismo foi incapaz de impedir a conquista de fatias crescentes do mercado interno pelos produtores estrangeiros. Além disso, seria inútil como instrumento de competitividade para os fabricantes nacionais atuarem no mercado externo. Isso foi sempre óbvio. Mas o governo, com apoio de parte do empresariado, preferiu reeditar um modelo defensável, há décadas, quando ainda tinha sentido falar de indústria nascente.
“Mais uma vez a agropecuária impediu um desastre maior. Sua produção no primeiro trimestre foi 3,6% maior que nos três últimos meses do ano passado. Em 12 meses, o crescimento acumulado chegou a 4,8%, enquanto a expansão do PIB total continuou em 2,5%, a mesma taxa de 2013. Este é o número revisto. O dado anterior (2,3%) foi revisto depois de atualizada a pesquisa do setor industrial. Essa atualização pouco afetou o quadro geral do ano passado e as perspectivas deste ano. A estatística melhorou, mas a política é tão ruim.” (Editorial, Estadão, 31/5/2014.)
* O PIB demonstra que consolidou-se a estagnação do investimento
‘O PIB do primeiro trimestre não foi apenas um número ruim. Foram vários. Na opinião do economista José Roberto Mendonça de Barros, o pior é a ‘consolidação da estagnação no investimento’. Foi exatamente esse olhar por dentro dos dados que fez a pesquisa Focus reduzir a projeção de crescimento deste ano para 1,5%. José Roberto está, desde março, prevendo 1,3%.
“O curioso é que não era para ser assim. Os dados contrariam uma tendência: de que o PIB cresce mais em ano de eleição e Copa do Mundo.
“— Confirma-se que este será um ano ruim para os negócios. A Copa poderia aumentar o crescimento, mas o efeito feriado — ou seja, a soma dos feriados que vão suspender produção e vendas durante os jogos — está derrubando os dados.
“Alguns economistas já falam em PIB negativo no segundo trimestre. José Roberto diz que não há certeza.
“— Será, sem duvida, um número ruim, e pode até ser negativo.
“Com os três trimestres de retração no investimento, é difícil apostar em crescimento maior a curto prazo. A indústria continua em recessão, também com a terceira taxa negativa, puxada pelas indústrias de transformação e de construção (vejam os gráficos).
“O governo tem divulgado números de liberação de crédito do BNDES e exibiu taxas de alta de investimento no primeiro semestre de 2013 falando que haveria um boom de investimentos no país. Na verdade, os dados mostravam apenas a renovação da frota de caminhões, provocada por um fenômeno muito pontual.
“A redução da taxa de poupança para o inacreditável número de 12,7% do PIB, combinada com um déficit em conta-corrente próximo de 4%, lança sombras sobre os próximos trimestres. O país não tem acumulado capital para financiar seus investimentos e já está tomando recursos demais no exterior.
“O consumo das famílias caiu 0,1%, o primeiro recuo desde 2009. Isso mostra que está esgotado o modelo de crescimento dos últimos anos, segundo José Roberto.
“— Será inevitável e difícil o ajuste. O mais do mesmo não vai dar, independentemente do resultado da eleição. Nós estamos vendo uma pá de cal numa forma de crescimento que se esgotou completamente.
“Na avaliação de José Roberto Mendonça de Barros, de todos os setores, o único que vai bem, apesar de o número não ter sido brilhante, é a agropecuária.
“— Se tirar açúcar e álcool, o setor vai bem. Na revisão, o PIB agrícola de 2013 foi a 7,3%. No primeiro trimestre de 2014, foi 2,8%. A seca foi concentrada em janeiro e fevereiro, quando a safra estava garantida. O café reduziu produção, mas o preço vai bem. No resto, o conjunto vai bem. O setor que aposta na melhora tecnológica como centro do negócio é o único segmento que tem um aumento de produtividade que compensa os problemas de infra-estrutura que o país tem.
“A principal causa da crise do álcool é a opção pelo subsídio à gasolina:
“— É inacreditável o que fizeram com o etanol, depois de todo o esforço nacional para desenvolver o setor.
“Além da incerteza nessa área, a crise elétrica de uma forma geral é outro fator que inibe investimentos. O empresário preferiu cortar custos, arquivar investimentos e garantir um bom lucro.
“Ontem (2/6), o governo divulgou a balança comercial de maio, que teve superávit de US$ 700 milhões. O problema é que no acumulado do ano ainda há déficit de US$ 4,9 bi. Nos últimos 12 meses, o superávit é de apenas US$ 3 bi, contra US$ 7,7 bilhões e US$ 27,5 bi dos mesmos períodos de 2013 e 2012. O saldo sumiu.” (Míriam Leitão, O Globo, 3/6/2014.)
Falta confiança
* Pessimismo dos brasileiros com o rumo da economia aumentou ainda mais em maio
“Os brasileiros ficaram ainda mais pessimistas com o rumo da economia brasileira no próximo semestre e consideram que passam hoje por uma situação mais difícil do que há três meses. É o que aponta pesquisa divulgada ontem (29/5) pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).O Índice Nacional de Expectativa do Consumidor (Inec) caiu 1% em maio ante abril e atingiu o menor nível desde março de 2009. Na comparação com maio de 2013, houve uma queda de 5,7%.
“O índice de expectativa de inflação foi o único que apresentou melhora, com alta de 2,9%. Isso significa que, em comparação com o mês passado, cresceu o porcentual de consumidores que esperam queda da inflação nos próximos seis meses. Ainda assim, segundo a CNI, o índice está abaixo da média histórica.
“‘Considerando nível de renda e de educação, conseguimos notar que é bem generalizada a preocupação com inflação e desemprego’, disse Marcelo Azevedo, economista da CNI. Em relação a maio de 2013, por outro lado, houve queda de 7,4%.
“Azevedo acredita que ainda é cedo para avaliar se a diminuição da preocupação com a inflação se tornará uma tendência.’ O resultado pode ter refletido uma acomodação depois de ver os preços crescendo nos últimos meses.’
“A perspectiva de desemprego piorou 1,6% na comparação com abril e 11,8% ante maio do ano passado. Ou seja, mais brasileiros esperam deterioração no mercado de trabalho nos próximos seis meses.’ Isso vem com as notícias sobre a situação do País. Como a economia não dá boas noticias, as pessoas atribuem mais preocupação ao emprego, e isso vem o correndo nos últimos meses’, disse Azevedo. Em relação
à expectativa de renda pessoal, a piora foi de 0,4% ante abril e de 4,7% na comparação com maio do ano passado.
“A pesquisa foi feita pela CNI, em parceira com o Ibope Inteligência. Foram ouvidas, de acordo com a entidade, 2.002 pessoas entre os dias 15 e 19 de maio em 140 municípios brasileiros.” (Laís Alegretti, Estadão, 30/5/2014.)
* Cresce o pessimismo no comércio e na construção
“Greves, manifestações – às vezes violentas – nas ruas e os feriados decretados pelas autoridades para dias de Copa do Mundo ajudaram a empurrar ainda mais para baixo os indicadores de confiança do comércio, já bastante afetados pela perda de dinamismo da atividade econômica, a elevação dos juros e a redução do poder de compra dos consumidores decorrente da inflação e da queda do salário real. É o que transparece na Sondagem do Comércio da Fundação Getúlio Vargas referente ao trimestre março/maio, divulgada simultaneamente com a Sondagem da Construção, que indicou forte abatimento do ânimo dos empresários.
“As duas sondagens são uma ducha fria na pretensão oficial de alcançar alguma recuperação da economia neste trimestre, transferindo-se as expectativas para o segundo semestre, quando serão realizadas as eleições gerais.
“Mas o que há, em especial, nos setores de atividade que produzem bens de maior valor, que apresentam declínio surpreendente, é justamente uma crise de confiança. No comércio, o índice de expectativas caiu 2,6 pontos entre os trimestres encerrados em abril e em maio.
“Na construção, o índice trimestral de expectativas caiu 7,7% em abril e ainda mais, 114%, em maio. Na comparação mensal, a queda passou de 12^2%, em abril, para 13,4%, em maio.
“A desconfiança é maior no segmento de obras de Infra-estrutura para engenharia elétrica e telecomunicações, o que se explica pela crise por que passa a área de eletricidade. Na comparação mensal, esse segmento cai desde janeiro.
“Já na Sondagem do Comércio, a desconfiança é predominante no segmento de veículos, motos e peças, onde o indicador de situação atual registrou 98,1 pontos, numa escala em que 100 pontos é o termo médio, abaixo do qual a situação é negativa. A queda foi de 16,9%em relação ao mesmo trimestre de 2013. Na comparação entre os mesmos meses de 2013 e 2014, houve queda nos demais setores (varejo restrito, material para construção, varejo ampliado e atacado) , mas o índice ainda está no campo positivo.
“Esgotados os instrumentos de estímulo ao consumo, sem que o varejo dê sinais de retomada, a desconfiança no setor da construção revela que nem os programas voltados para as faixas de menor renda, como o Minha Casa, bastam para infundir ânimo nas quase 700 empresas ouvidas no levantamento.” (Editorial, Estadão, 31/5/2014.)
* Estudo da FGV-Ibre mostra uma piora das perspectivas em diferentes setores e relaciona esse pessimismo aos resultados finais da economia
“A queda forte e generalizada em maio dos índices que medem a confiança de consumidores e de empresários da indústria, do comércio, de serviços e da construção, que respondem por 60% da economia, indica um desempenho ainda pior do Produto Interno Bruto (PIB) neste trimestre, com risco de atingir um resultado negativo.
“Entre janeiro e março, a economia cresceu apenas 0,2% em relação ao 4º trimestre se 2013, descontado o comportamento típico do período, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“‘Há uma piora na percepção da conjuntura captada pelos índices de confiança que pode se transformar numa desaceleração ainda maior do PIB, que cresceu só 0,2% no 1º trimestre. Isso significa que podemos ter resultado negativo no PIB do 2º ou do 3º trimestres, na comparação com período imediatamente anterior’, afirma Aloisio Campelo, superintendente de Ciclos Econômicos do Instituto Brasileiro de Economia, responsável pelos índices de confiança da FGV.
“Para chegar a essa conclusão, Campelo observou num período de quase dez anos uma forte correlação entre o comportamento da confiança dos empresários da indústria, comércio, serviços e construção e o resultado efetivo do PIB.
“Isto é, constatou que, quando a confiança aumenta em relação ao trimestre anterior, descontados os efeitos sazonais, a economia cresce e vice-versa.
“Em 22 trimestres acompanhados desde o 3º trimestre de 2008, Campelo observa que o PIB e a confiança não seguiram a mesma direção em apenas um trimestre, o segundo de 2013, quando a confiança caiu e o PIB se acelerou.
“Mas, no trimestre seguinte, o PIB recuou e seguiu a confiança, afetada pelas manifestações de junho de 2013.
“Naquela ocasião, o descasamento ocorreu porque a economia ainda recebia estímulos ao consumo e havia crescimento por causa da aceleração da atividade no final do trimestre anterior.
“Neste segundo trimestre, no entanto, a economia herdou a desaceleração do final do 1º trimestre, os estímulos ao consumo estão sendo retirados e os juros ao consumidor estão em rota ascendente.
“‘A queda dos indicadores de confiança em abril e maio e a perspectiva negativa para este mês, por causa das paralisações com a Copa, vão ter um impacto bastante negativa no PIB do 2º trimestre’, diz o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale.
“Após o fraco resultado do 1º trimestre, ele reduziu de 1,2% para 0,8% a taxa de crescimento do PIB do 2º trimestre em relação a igual período de 2013. No 1º trimestre, o PIB cresceu 1,9% ante o mesmo período de 2013.
“Assim como Campelo, Vale considera os índices de confiança um indicador antecedente do PIB.
“Nas suas contas, a confiança do consumidor e dos empresários do comércio, da indústria, do setor de serviços e da construção civil caiu 10% entre janeiro e maio. ‘Como a confiança tem forte relação com o PIB, este será mais fraco no segundo trimestre.’
“Também para o assessor econômico da Fecomércio- SP, Altamiro Carvalho, a queda de 25% da confiança do consumidor em maio em relação a mesmo mês de 2013, indica um segundo trimestre bem mais fraco, afetado principalmente pelo baixo desempenho do comércio.
“‘O varejo teve problemas em abril e maio. Temos quase certeza’. Em 2013, o PIB do 2.º trimestre cresceu 1,6% em relação ao trimestre anterior. Para Carvalho, o resultado deste ano deve ficar entre 0,4% e 0,6%.” (Márcia De Chiara, Estadão, 2/6/2014.)
* Pesquisa mostra que 72% dos brasileiros estão insatisfeitos com a situação do país
“O sentimento de frustração avançou consideravelmente entre os brasileiros no último ano, marcado por protestos generalizados, inflação em alta e baixo crescimento. Não tem precedentes nos anos recentes e contaminou negativamente a avaliação da população sobre os rumos do país, as condições da economia, o governo da presidente Dilma Rousseff e a Copa do Mundo, revela levantamento feito, entre os dias 10 e 30 de abril, pelo Pew Research Center, um dos mais importantes institutos de pesquisa dos Estados Unidos. Segundo a sondagem, divulgada ontem (3/6), 72% dos brasileiros se dizem insatisfeitos com a situação do país, e 85% apontam a escalada dos preços como preocupação central, superando temas como criminalidade (83%) e corrupção (78%).
“Há 12 meses, 55% estavam insatisfeitos, pouco acima dos 50% de 2010, último ano do governo Lula e início da série histórica. A economia tem papel central no mau humor corrente. Dois terços (67%) dos 1.003 entrevistados no Brasil com mais de 18 anos consideram a situação econômica ruim, após quatro anos seguidos em que a percepção positiva foi amplamente dominante.
“Em 2010, consideravam boa a situação da economia 62% dos brasileiros, percentual que chegou a 65% em 2012 e era de 59% no ano passado. Em abril, apenas 32% dos pesquisados estavam satisfeitos com os rumos econômicos. Mas 63% acreditam que as condições vão melhorar nos próximos 12 meses.
“— Se pegamos desde 2010, as avaliações sobre a situação geral do país e a economia não estavam alinhadas. A opinião sobre a economia deu uma guinada e certamente é o fator que alimentou o rápido pessimismo dos brasileiros — afirma a principal analista da pesquisa, Juliana Horowitz.
“Depois da inflação, criminalidade e saúde (83%) e corrupção no meio político (78%) aparecem como principais desafios para os brasileiros. A falta de oportunidades de emprego (72%), o hiato entre pobres e ricos (68%) e a baixa qualidade das escolas (64%) completam a lista.
“— Esses problemas sempre estiveram presentes. O que chama a atenção é que o nível atual de frustração que os brasileiros expressam não tem paralelo em anos recentes — afirma Juliana, acrescentando que tamanho descontentamento, acumulado de forma tão rápida, só foi captado recentemente pelo Pew em países que passaram por revoluções, como o Egito.
“Para Paulo Sotero, diretor do Instituto Brasil do Wilson Center, think tank sediado em Washington, o resultado aponta um quadro difícil para a reeleição de Dilma. Ele lembra que a economia brasileira terminou o primeiro trimestre estagnada (expansão de 0,2%) e pode estar em recessão.
“— Terminado o futebol, as pessoas voltarão à realidade, e a inflação, particularmente, é um tema essencial nas eleições brasileiras — avalia Sotero.
“Curiosamente, a melhor avaliação da presidente é na condução da economia. Ainda assim, 63% desaprovam sua gestão econômica, frente a 34% que a chancelam. Os números pioram para o governo Dilma nos outros oito temas consultados: pobreza (65% de desaprovação), preparação da Copa do Mundo (67%), educação e política externa (71%), transporte público (76%), saúde e criminalidade (85%) e corrupção (86%).
“De forma geral, o país está dividido sobre Dilma: 52% acham a influência de sua Presidência negativa para o Brasil, ao passo que 48% a consideram positiva. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2010, recebeu a boa nota de 84% dos entrevistados. Brasileiros de maior renda e mais escolarizados desaprovam a presidente de forma mais contundente, mas mesmo nas classes de menor poder aquisitivo e educação a avaliação negativa se sobrepõe.
“A sondagem, porém, revela que Dilma é, pessoalmente, mais apreciada que seus dois principais adversários este ano. Perguntados se tinham uma visão favorável ou desfavorável da presidente, 51% escolheram a avaliação positiva.
“No caso do presidenciável do PSDB, Aécio Neves, 27% o vêem favoravelmente, contra 53% negativamente. Em relação a Eduardo Campos, do PSB, 24% têm visão favorável e 47%, desfavorável. Porém, um em cada cinco entrevistados ainda não tem opinião formada sobre Aécio, e um a cada quatro, sobre Campos.
“Lula, o político mais bem avaliado da sondagem (66% de visão favorável), apresenta-se como grande cabo eleitoral, assim como o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim
Barbosa, que anunciou sua aposentadoria e é bem-visto por 60%. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, sobre o qual 67% dos entrevistados têm visão negativa, recebe a pior avaliação.
“Vários dos problemas que mais atormentam os brasileiros estiveram no centro das manifestações que tomaram as ruas do país no último no. No entanto, o levantamento do Pew mostra fadiga com o movimento: 47% consideram os protestos uma boa coisa, por terem jogado os holofotes sobre deficiências relevantes do país, enquanto 48% acham que eles foram nocivos.
“O impacto da Copa do Mundo, um dos catalisadores da insatisfação nas ruas, é considerado negativo por 61% dos entrevistados, devido aos recursos públicos que o evento dragou e que poderiam ter sido investidos em serviços públicos. Apenas 34% afirmam que o Mundial será benéfico, por girar a economia e criar empregos.
“O efeito da Copa para a imagem do Brasil perante o mundo não é uma unanimidade. Quase quatro em cada dez pessoas ouvidas (39%) acham que o impacto será negativo, enquanto 35% avaliam que será positivo e 23%, nulo.
“Os brasileiros também acreditam que o Brasil deveria ser mais respeitado internacionalmente, opinião de 76% dos entrevistados. Porém, menos pessoas afirmam que o Brasil é ou se tornará uma das nações mais poderosas do mundo: o percentual combinado, que era de 77% em 2010, caiu a 59% este ano.
“O Pew Research Center realiza pesquisas de sentimento em 82 países relevantes para os EUA, a fim de avaliar questões domésticas e temas de interesse americano. O Brasil, por exemplo, integrará levantamento sobre classe média no mundo emergente, a ser divulgado em setembro.” (Flávia Barbosa, O Globo, 4/6/2014.)
* “Para que o poder perdure é preciso entregar o prometido e, da maneira como as coisas foram conduzidas desde o início, era evidente que a conta chegaria”
“A pesquisa do instituto americano Pew Research Center traduz em números e ajuda a organizar um pouco o raciocínio sobre os humores da sociedade brasileira que passou da euforia algo míope – para não dizer abobalhada – para um estado de mau humor à deriva.
“É sempre salutar o despertar de consciências, mas, como aponta a responsável pela pesquisa, Juliana Horowitz, chama atenção a mudança tão radical. Segundo ela, nos 82 países pesquisados desde 2010, oscilações semelhantes só foram observadas naqueles abatidos por graves crises ou rupturas institucionais.
“‘Antes’ (dos protestos de junho de 2013 ou do quê?) não havia nada de errado, estava tudo na mais santa paz; agora o clima é de véspera de fim do mundo.
“Ainda que pipocassem escândalos de corrupção por todos os lados e que a cúpula do partido do governo estivesse denunciada e prestes a ser julgada por comprar maioria no Congresso, este mesmo governo foi reeleito e ainda ganhou o direito a mais um período dando ao então presidente o cheque em branco pedido por ele para a eleição da sucessora.
“Os números sobre o desempenho do governo são de impressionar: 86% desaprovam o combate à corrupção, 85% estão insatisfeitos com a situação de insegurança pública, 85% repudiam o serviço de saúde, 76% desaprovam o sistema de transportes, 71% não concordam com a política externa, 71% acham ruim a educação, 67% estão contra as preparações para a Copa do Mundo, 65% revoltam-se com a pobreza e 63% estão em desacordo com a situação da economia.
“Justamente a economia, o item apontado como o grande vilão da insatisfação, o fator ao qual se atribuiu o agrado ou desagrado em relação a um governo, é o que tem o índice menos alto. No entanto, é o setor que mais se deteriorou. Os outros já vinham devidamente degradados. Mesmo no tempo da euforia com o consumo desenfreado, do Brasil que dava lições aos Estados Unidos e à União Europeia, do ilusionismo dos sucessivos PACs cujas obras atrasadas ou não iniciadas não serviram de sinais de alerta para a incapacidade objetiva de fazer acontecer de maneira decente uma Copa e uma Olimpíada.
“Era evidente que a farra não duraria para sempre. A situação externa não explica tudo, porque países em desenvolvimento como o Brasil saíram-se muito melhor nesse período porque fizeram outras escolhas. As ações aqui foram todas referidas no imediatismo da conquista da unanimidade com fins da obtenção de hegemonia política, social e cultural.
“Para ganhar eleições, vende-se otimismo. Mas, para que o poder perdure é preciso entregar o prometido e, da maneira como as coisas foram conduzidas desde o início, era evidente que a conta chegaria.
“Não viu quem não quis ou quem achou que a bonança é eterna e não tem preço. Um palpite para o motivo da irritabilidade à deriva? A retirada do palco de Lula como exímio animador de plateias. Levou a maioria na conversa até quando era evidente o vazio, quando não a enganação, da conversa. Saiu de cena o ilusionismo e o País se viu no convívio diário com a realidade.
“E o produtor daquela euforia extrema, o homem das metáforas futebolísticas, o líder das massas, a alegria do povo, o presidente que trouxe a Copa para o Brasil onde estará nos jogos do Mundial, inclusive na abertura no estádio de seu Corinthians do coração? Segundo ele, em casa, vendo tudo pela televisão.
“A fim de não correr o risco de ser alvo do mau humor à deriva nos estádios aonde o brasileiro ‘vai a pé, descalço e de jumento’.” (Dora Kramer, Estadão, 4/6/2014.)
Tudo errado na condução da economia
* O governo culpa fatores externos. É uma alegação sem sentido
“A sucessão de resultados medíocres do PIB e de inflação alta demais (à altura dos 6,0% ao ano) ao longo do governo Dilma não pode ser atribuída à crise global, como dizem as autoridades de Brasília.
“Esta é, em si mesma, uma alegação incoerente. Se a situação externa tivesse tanta influência, como quer fazer crer o governo, a inflação também estaria em torno de zero, como lá.
“As frustrações não têm explicação senão a má condução da economia, num cenário externo desfavorável, é verdade, mas marcado por escolhas equivocadas de política econômica.
“A desarrumação começou ainda em 2011, quando o governo Dilma pretendeu ativar o avanço econômico com uma política fiscal frouxa, destinada a aumentar o consumo, derrubada acentuada dos juros (até abril de 2013), acompanhada de uma política de desvalorização da moeda (alta do dólar).
“A justificativa para esse arranjo foi a de que se precisou montar uma política econômica contracíclica mais desonerações fiscais para enfrentar a estagnação externa. Mas os pressupostos da manobra revelaram-se igualmente equivocados. Ficou claro que não basta estimular o consumo com mais despesas públicas e juros artificialmente achatados num quadro de baixa competitividade da indústria. O aumento da demanda foi alimentado com mais importações e, apesar do bom desempenho do setor agrícola, provocou deterioração nas contas externas. O mergulho extemporâneo dos juros, acompanhado de uma política de desvalorização do real, além de não ampliar o mercado externo para o setor produtivo, causou mais inflação. Para evitar a escalada desastrosa dos preços, o governo optou pelo represamento dos preços administrados (tarifas de energia, dos combustíveis e dos transportes urbanos). E a reviravolta da política de juros não foi suficiente para segurar a inflação.
“Tudo isso junto derrubou a confiança tanto do setor produtivo como do consumidor. O Tesouro está esgotado porque gastou em excesso e renunciou demais à arrecadação de impostos. Não consegue manter seu foco anticíclico quando mais precisa dele para reativar a economia.
“O governo Dilma descobriu tarde que a ênfase no consumo, sem acionamento do investimento, produziria a derrapada que hoje se vê na economia. A política de abertura às concessões de serviços públicos também não deslancha, por falhas de gerenciamento do mesmo tipo das que causaram atraso e desperdício nas obras da Copa do Mundo.
“Como ocorreu com o Tesouro, o avanço ao patrimônio das joias da coroa, como Petrobrás e Eletrobrás, sacrificou a capacidade de investimento dessas empresas e derrubou setores promissores da economia, como o do etanol e o da produção de energia alternativa.
“Há quem argumente que a economia precisa só de certos ajustes. Não é verdade. Além de uma forte recalibragem nos fundamentos para que voltem a dar sustentabilidade ao crescimento, a economia precisa de reformas. E isso, por sua vez, exige uma custosa transferência de contas a pagar para toda a sociedade.” (Celso Ming, Estadão, 1º/6/2014.)
* O governo continua improvisando, usando os mesmos remédios que não deram certo. A indústria continua desanimada
“Consumo fraco, estoques elevados, forte desconfiança em relação ao futuro, por uma série de incertezas sobre os preços de energia e combustíveis. A indústria tem razões de sobra para pisar no freio da produção. Até o real mais fraco, que ajudaria nas exportações e conteria as importações, parou de cair porque o governo teme os seus efeitos sobre a inflação elevada.
“A desolação do setor industrial ficou mais evidente com a queda de 0,3% em abril, que vem depois de uma retração de 0,5% em março. Em fevereiro, foi uma alta pequena, de 0,2%. O único mês bom do ano foi janeiro. Pela queda das vendas de veículos em maio, anunciada pela Fenabrave esta semana, de 5,74%, já há quem aposte em nova retração industrial no mês, que seria a terceira consecutiva.
“‘Para maio, a redução acentuada da confiança do empresário industrial e os altos estoques apontam para nova queda (da indústria)’, escreveu o analista Rodrigo Miyamoto, do Itaú Unibanco.
“Os números industriais estão conseguindo o que parecia difícil: piorar. Não apenas pela queda de 0,3%, mas porque o detalhamento do que foi divulgado pelo IBGE mostra outros pontos mais preocupantes. A produção, em abril, foi 2,8% menor do que a de setembro de 2008, mês da quebra do Lehman Brothers. Seis anos depois do início da crise internacional, a política industrial não conseguiu sequer recuperar o que foi perdido, apesar dos bilhões gastos para incentivá-la.
“No acumulado do ano, a indústria encolheu 1,2%. Os bens de capital colheram os piores números. Caíram 4,8%, puxados pela redução da produção de caminhões. Os dados confirmam a análise de que a alta das estatísticas de investimento do início do ano passado foi um caso isolado e provocado pela produção de caminhões. Com a mudança da tecnologia de motores para usar o diesel mais limpo, as vendas de caminhões pararam por um tempo e foram retomadas fortemente no começo do ano passado. Como esse item está em investimento, a taxa deu um salto. O governo comemorou falando em retomada do crescimento, mas vários analistas alertaram que era pontual e restrito a esse produto. Se houve alta de 7,3% na produção de equipamento para transporte de janeiro a abril de 2013, agora, há queda de 10,3%, segundo os dados do IBGE.
“O Departamento de Estudos Econômicos do Bradesco chamou atenção para o resultado negativo dos insumos da construção civil. Esse fato e a queda dos bens de capital podem levar a novo encolhimento dos investimentos no PIB do segundo trimestre, entre 1% e 2%. Se isso acontecer, será a quarta queda seguida.
“Enquanto isso, o Ministério da Fazenda continua andando em círculos. Depois de elevar o IOF em captações externas, para conter a entrada de dólares no país, e defender a desvalorização do real como salvação da indústria, o ministro Guido Mantega, ontem, suspendeu a medida. Agora só haverá imposto nas captações de curto prazo. É uma forma de atrair mais capital estrangeiro, mesmo numa época em que o real está caindo. O empresário exportador que investiu pensando no ganho cambial está sendo pego no contrapé.
“Sobre o aumento do IPI, também há sinais de reviravolta. O imposto que tinha alíquota de 7% para a venda de veículos caiu para 3% e seria integralmente reposto a partir de julho. Com a fraqueza das vendas, Mantega fala ‘avaliar a situação’ para definir o aumento.
“O governo continua improvisando na política industrial e usando os mesmos remédios: incentivos localizados e redução temporária de impostos para alguns produtos. Até agora não deu certo, como mostraram os números que o IBGE divulgou ontem. A indústria continua desanimada.” (Míriam Leitão, O Globo, 5/6/2014.)
* Espantoso: a presidente confessa que não sabe por que a economia cresce tão pouco
“Ao ser perguntada por jornalistas estrangeiros recentemente por que o país cresce tão pouco em seu governo, a presidente Dilma deu uma resposta espantosa, mas coerente com a atual situação: ‘Não sei’. É preocupante que ela não saiba, mas a resposta confirma a impressão generalizada de que temos à frente do governo uma pessoa incapaz de dar resposta à crise em que o país está instalado.
“O governo da presidente Dilma, com a previsão de que o crescimento do PIB este ano será em torno de 1%, terá o pior desempenho econômico da história republicana, com exceção de dois que tiveram crescimento negativo. O professor Reinaldo Gonçalves, da Faculdade de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, fez um ranking dos governos brasileiros com base apenas na avaliação econômica desde Deodoro da Fonseca.
“Ele classifica os que tiveram crescimento do PIB abaixo de 2,3% como os piores: além dos governos com queda do PIB durante os mandatos, Collor (- 1,3%) e Floriano Peixoto (-7,5%), compõem a lista Venceslau Brás (2,1%) e Dilma Rousseff (2,0%), isso quando a previsão de crescimento era de 2,1%-2,2% em 2013-14.
“Em termos de comparação, governos ‘medíocres’ foram aqueles que tiveram crescimento do PIB entre 2,3% (Fernando Henrique) e 3,1% (Campos Salles). Entre eles estão Afonso Pena (2,5%) e João Figueiredo (2,4%). A taxa média anual de crescimento do PIB brasileiro é de 4,5% no período republicano, a taxa de crescimento médio anual do PIB mundial é 3,5%.
“Para o governo Dilma chegar à classe ‘medíocre’, seria necessário que as taxas de crescimento médio anual do PIB fossem maiores do que 2,8% em 2013-14, impossível de se concretizar diante do crescimento pífio de 2,5% ano passado e previsão pior ainda este ano.
“É por isso que os candidatos de oposição estão comparando a performance do governo Dilma às piores da República. Ontem o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos disse que o crescimento econômico do país é o pior ‘desde Deodoro da Fonseca’, o que, sendo uma quase-verdade, já basta para a luta política pela presidência da República.
“A pesquisa do Pew Research Center dos Estado Unidos que mostra que 86% dos brasileiros consideram que a inflação é a principal causa do mau-humor generalizado no país, que resiste até mesmo a uma Copa do Mundo, toca no ponto fulcral de nossa situação.
“O governo, em busca de melhorar o crescimento a qualquer custo, aceitou um pouco mais de inflação e acabou sendo atingido por sua negligência. Se a presidente Dilma não está convencida ainda de que uma das principais razões para o país não crescer é a inflação estabilizada em níveis altos que deveriam ser inadmissíveis, estamos bem parados.
“A resiliência da popularidade da presidente Dilma, que ainda é vista com bons olhos pela maioria da população, é um ponto fora da curva nesse cenário brasileiro atual, mas é muito difícil afirmar-se que esse ponto se manterá até a eleição como uma exceção, enquanto os níveis das demais facetas da administração federal permanecem no negativo.
“Não sendo uma política carismática, a presidente Dilma dificilmente conseguirá manter essa distância da realidade, e necessariamente será tragada pelo ambiente negativo que domina o país. O fato de não poder ir a um estádio de futebol com temor de ser vaiada é significativo de clima, mesmo numa festa como a Copa do Mundo.
“O perigo de despertar na multidão um sentimento negativo é tão grande que nem o ex-presidente Lula se arrisca a colocar a cabeça fora d´água, ele que gosta tanto de futebol e foi o maior responsável pela existência do Itaquerão.
“Nem mesmo a torcida do seu Corinthians pode garantir que passe imune às críticas sobre a organização do mundial de futebol, cuja desorganização começou em seu governo, responsável ao mesmo tempo pela glória de ter trazido o campeonato para o Brasil, e ter conseguido transformá-la em um ônus para os governos petistas, sem o bônus que tanto buscaram.” (Merval Pereira, O Globo, 5/6/2014.)
Falta competência
* Atraso de seis grandes obras faz o país perder R$ 28 bilhões
“Por incompetência administrativa, negligência, desconhecimento da realidade ou pura má-fé, obras bilionárias de grande importância para a atividade produtiva e para a vida da população começam com grande atraso ou só terminam muito depois do prazo previsto. Algumas nem saem do papel. Essa prática, constatada no governo Lula e intensificada na gestão Dilma, resulta em custos adicionais que muitas vezes superam o orçamento original – e a demora na conclusão das obras, ao retardar os benefícios esperados, impõe custos adicionais ao País.
“Num estudo envolvendo apenas seis grandes obras atrasadas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) – que serviu eficazmente ao ex-presidente Lula para transformar Dilma Rousseff em sua sucessora e está servindo a ela como instrumento para tentar obter mais um mandato –, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) constatou que, se elas tivessem sido concluídas de acordo com o cronograma oficial, teriam propiciado melhores condições para o sistema produtivo, que teria gerado uma produção adicional de R$ 28 bilhões. Visto por outro ângulo, este é o valor que o País já ‘perdeu’ por conta do atraso. É uma quantia próxima da que se estima gastar para a realização da Copa do Mundo.
“Entre as obras examinadas, a de maior custo é a transposição do Rio São Francisco, projeto megalômano anunciado pelo ex-presidente Lula ainda em seu primeiro mandato, cujo lançamento foi feito em 2005, quando não havia ainda um projeto detalhado. Tornou-se um exemplo de mau planejamento, pois não se baseou em informações mais precisas nem num projeto suficientemente completo para permitir a execução da obra sem necessidade de grandes alterações que implicassem atrasos e revisões substanciais de custo.
“O resultado é o que se vê. Houve grande atraso na obra, que deveria estar concluída parcialmente em 2010 e inteiramente em 2011, mas só deverá ser entregue em 2015, de acordo com a promessa mais recente do governo. O contrato da obra foi refeito várias vezes, tendo havido até sua divisão em 14 subcontratos, o que tornou inviável seu controle administrativo e financeiro.
“Só por conta do atraso de cinco anos, a CNI estimou as perdas em R$ 11,7 bilhões. É o valor do que poderia ter sido produzido pela agropecuária local com o uso de irrigação, que estaria disponível desde 2010, caso a obra estivesse pronta na data prevista.
“Destaque-se que as perdas estimadas pela CNI referem-se a apenas meia dúzia de obras do PAC – as de maior orçamento, reconheça-se. Pode-se imaginar o que o País está perdendo com os atrasos de todas as obras do PAC, que acabou sendo um programa de natureza muito mais política do que de infra-estrutura. O atraso sistemático tem propiciado correções dos contratos, o que facilita o desvio de recursos.
“Obras de mobilidade urbana, anunciadas com estardalhaço pelo governo Dilma em 2011 como necessárias para melhorar a vida da população nas grandes cidades – e que, adicionalmente, facilitariam a circulação de pessoas durante a realização da Copa do Mundo –, estão em situação ainda pior. Reportagem do jornal Valor (26/5), baseada em dados obtidos por meio da Lei de Acesso à informação, mostrou que não falta dinheiro para essas obras. Falta competência – e em praticamente todos os níveis da administração.
“De R$ 12,4 bilhões que o governo Dilma havia assegurado em abril de 2012 para Estados e municípios, a fundo perdido, para obras como metrô e corredores de ônibus, apenas R$ 479 milhões, ou pífios 3,9%, foram sacados. O programa de mobilidade urbana então anunciado totalizava R$ 37,6 bilhões (sendo R$ 13,9 bilhões financiados por instituições federais a juros altamente subsidiados e R$ 11,3 bilhões de responsabilidade de governos estaduais ou prefeituras responsáveis pela obras, além do dinheiro federal oferecido a fundo perdido).
“Nem mesmo as manifestações de rua exigindo transportes mais eficientes e mais baratos foram suficientes para as autoridades retirarem esses projetos do papel.” (Editorial, Estadão, 31/5/2014.)
A inflação
* Apostar na redução dos desajustes nos próximos meses é certamente arriscado. Mas o Copom resolveu arriscar
“A inflação continua longe da meta de 4,5%, mesmo com o recuo nas últimas semanas, mas o Banco Central (BC) resolveu pagar para ver e manteve em 11% a taxa básica de juros, a Selic. Foi um lance de risco, embora sem surpresa para o mercado. Os sintomas de fraqueza da economia devem ter sido levados em conta, assim como os sinais de arrefecimento de alguns grupos de preços, especialmente da alimentação. A nota divulgada na quarta-feira à noite, bem menos explícita, menciona ‘a evolução do cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação’. Se essa explicação for mais que uma formalidade, a tradução deve mesmo corresponder àqueles fatores, com peso possivelmente maior para os indícios de anemia econômica. A acomodação da política monetária, depois de nove altas da Selic, atende pelo menos em parte ao interesse eleitoral da presidente Dilma Rousseff. Mas será este o momento de interromper o combate à alta de preços?
“A resposta deve ter sido complicada. A decisão foi unânime, de acordo com a informação oficial, mas a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) durou cerca de quatro horas. O resultado só saiu perto das 9 da noite, mais tarde que de costume. A conquista da unanimidade exigiu, tudo indica, um enorme esforço de convencimento. Mas um sinal de insegurança foi mantido no comunicado: ‘O Copom decidiu, por unanimidade, neste momento, manter a taxa Selic em 11% a.a., sem viés’. A expressão ‘neste momento’ foi o detalhe mais citado pelos analistas do mercado financeiro, ao comentar a nota.
“Menos de 24 horas depois de encerrada a reunião do Copom, mais uma pesquisa confirmou o arrefecimento – pelo menos temporário – das pressões inflacionárias. O Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M)caiu 0,13% em maio, depois de ter subido 0,78% em abril, segundo informou a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Os preços por atacado recuaram 0,65% e esse foi o principal determinante do resultado geral. Mas a boa notícia é muito limitada.
“A evolução do índice de preços ao consumidor, o segundo maior componente do IGP-M, foi muito menos favorável, embora também tenha aumentado menos que no mês anterior. A variação passou de 0,82% em abril para 0,68% neste mês, graças à elevação menor dos preços da alimentação, do vestuário e dos transportes.
“O alerta parece claro: os preços no varejo vêm acompanhando muito de longe o recuo dos preços no atacado. Além disso, uma taxa mensal de 0,68% está muito longe de corresponder aos objetivos da política de combate à inflação. Acumulada em 12 meses, essa taxa resultaria em 8,47%. Algo parecido tem ocorrido com o indicador usado como referência oficial para a política de metas, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O IPCA-15, prévia do resultado de maio, subiu 0,58%, bem menos que no mês anterior (0,78%). Mas um aumento de 0,58% ao mês, acumulado em 12 meses, corresponderia a 7,19%, um número muito acima da meta e até do limite da margem de tolerância, de 6,5%. Analistas do mercado têm projetado taxas menores para os próximos meses, mas com repique a partir de agosto.
“Segundo as avaliações mais otimistas, o recuo da inflação será mais amplo e mais duradouro do que isso. O arrefecimento dos preços, de acordo com essas avaliações, já mostra o efeito dos aumentos de juros desde abril do ano passado. Esse efeito seria visível na menor expansão do consumo e na desaceleração do setor de serviços.
“Pode ser, mas o entusiasmo dos consumidores ainda tem sustentado aumentos de preços bem acima do alvo da política monetária. O crédito ainda cresce, embora menos velozmente que nos anos anteriores, e o desajuste das contas federais continua alimentando a demanda.
“Ao mesmo tempo, a oferta industrial permanece em marcha lenta, por falta de investimento produtivo nos últimos anos. Isto deve aparecer mais claramente na divulgação, hoje, do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre.
“Apostar na redução desses desajustes nos próximos meses é certamente arriscado. O Copom resolveu arriscar. Terá disposição para recuar, se for preciso, antes das eleições?” (Editorial, Estadão, 30/5/2014.)
* O Banco Central não pode baixar a guarda. Tem de manter-se pronto para novas investidas contra os preços com a única arma de que dispõe
“O Banco Central não parece convencido de que o ciclo de alta dos juros básicos (Selic) tenha chegado ao limite de 11,0% ao ano, como o Copom deixou transparecer quarta-feira (28/5).
“Isso ficou intencionalmente exposto no comunicado divulgado após a reunião presidida por Alexandre Tombini: ‘neste momento’, os juros ficam onde estão.
“O comportamento dos preços nos próximos meses estará sujeito a tensões de qualidades diferentes. A primeira delas é a tendência à queda mensal da inflação. Até outubro, esperam-se números mais baixos do que o 0,67% registrado em abril.
“A variação do IGP-M deste mês sobre o mês anterior veio negativa (-0,13%) – veja o Confira -, refletindo significativa redução de preços no atacado que, em mais algumas semanas, deverá ser repassada também para o varejo (custo de vida). Essa desaceleração deverá ser acusada também pelo IPCA deste e dos próximos três ou quatro meses.
“Em contrapartida, a inflação medida em 12 meses deverá passar por bom período acima do teto da meta de inflação (acima de 6,5%), fator que, por si só, deve acionar movimentos defensivos em toda a economia, especialmente nos processos de indexação (correção automática de preços e valores), que, em princípio, deverão exigir contra-ataque por parte do Banco Central.
“A outra tensão é o forte achatamento dos preços administrados, que correspondem a cerca de um quarto dos preços da cesta de consumo. Entre eles estão as tarifas de energia elétrica, dos combustíveis (gasolina, óleo diesel e gás) e dos transportes urbanos. É uma situação que cria distorções não só na cadeia de preços, mas, também, em segmentos vitais da economia, como o da energia elétrica e do petróleo. É o que leva os empresários e demais agentes da economia a prever um ‘destampamento’, com impacto sobre toda a cadeia de produção e consumo, como o Banco Central avisou no Relatório de Inflação, de março.
“O economista Nelson Barbosa, que até junho do ano passado foi o número dois do Ministério da Fazenda, prevê para 2015 uma inflação de nada menos que 7,5%, como apontou na entrevista publicada na edição de ontem do Estadão. É substancialmente mais do que os 6,0% apontados pelas cerca de 100 instituições auscultadas semanalmente pelo Banco Central na sua Pesquisa Focus. Mas Barbosa, que até outro dia esteve lá, sabe o que está em jogo e sabe como as decisões são tomadas. Ele tem lá suas razões para apostar nesse esticão bem mais alto. A mensagem é a de que, em atenção a razões unicamente eleitorais, o governo fará de tudo para não mexer nos preços administrados antes de novembro. No entanto, como não podem seguir represados por muito mais tempo, quando começar, o processo de realinhamento produzirá estragos inevitáveis no custo de vida.
“Essas são as principais razões pelas quais o Banco Central não pode baixar a guarda. Tem de manter-se pronto para novas investidas contra os preços com a única arma de que dispõe, a política de juros – caso o governo continue com tão pouca disposição a fazer a sua parte nas administrações de suas despesas, como vem demonstrando.” (Celso Ming, Estadão, 30/5/2014.)
* “Quando a autoridade monetária perde credibilidade, as piores previsões podem parecer otimistas quando confrontadas, afinal, com os fatos”
“A inflação elevada vai continuar assombrando os brasileiros neste ano e no próximo e ninguém deve esperar novas medidas sérias contra a alta de preços, segundo as mais recentes projeções de instituições financeiras e consultorias coletadas pelo Banco Central (BC) em sua pesquisa Focus. A economia vai continuar em deterioração, com baixo crescimento e piora das contas públicas, de acordo com a pesquisa. Em resumo, o BC jogou a toalha, e nada, no quadro atual, indica a possibilidade de melhora. Em palavras, este é o significado dos números apresentados no boletim. A pesquisa foi realizada na sexta-feira. Dois dias antes o Comitê de Política Monetária (Copom) havia anunciado a manutenção da Selic, a taxa básica de juros, em 11%, depois de nove elevações.
“A reação dos economistas do mercado foi abandonar ou reduzir a expectativa de novas altas até dezembro. A mediana das projeções da Selic para o fim do ano caiu de 11,25% para 11%. A inflação projetada – também mediana das estimativas – continuou em 6,47%, muito próxima, portanto, do limite da margem de tolerância de 6,5%. O mercado já havia previsto uma redução das taxas mensais até o começo do segundo semestre e um repique a partir daí. Nada de novo, portanto, em relação a essa expectativa.
“Para o próximo ano, a inflação esperada subiu de forma quase imperceptível, de 6% para 6,01%. A Selic prevista ficou em 12%, como na semana anterior. Ainda se espera, portanto, algum movimento dos membros do Copom, mas muito discreto e insuficiente para derrubar a inflação para menos de 6%. Está pressuposta, naturalmente, a manutenção do quadro político.
“Nesse caso, continuará prevalecendo a tolerância à inflação. Segundo os números dos últimos cinco anos e alguns meses, o governo parece muito confortável com taxas anuais próximas de 6%. Nesse intervalo, só houve uma exceção: 5,9% em 2008, 4,31% em 2009, 5,91% em 2010, 6,5% em 2011, 5,84% em 2012 e 5,91% em 2013. A taxa de 6% acumulada em 12 meses foi superada várias vezes. Em abril, estava em 6,28%. Dentro do padrão atual de normalidade, nenhum ministro tem exibido grande preocupação quanto ao aumento de preços.
“A presidente Dilma Rousseff e seus principais auxiliares continuam rejeitando qualquer proposta de redução da meta, como se a consequência inevitável de uma política mais séria de combate à inflação fosse uma desastrosa mistura de recessão e de desemprego. A rejeição virou tópico da campanha eleitoral petista, como se uma inflação parecida com a dos últimos anos fosse garantia de crescimento econômico e de bem-estar para os brasileiros.
“Mas a meta oficial, de 4,5%, só vale formalmente. O alvo efetivo é, obviamente, muito maior. Só pode estar na vizinhança de 6%, como indica a experiência dos últimos quase cinco anos e meio. Autoridades falam e agem como se houvesse de fato um ‘teto da meta’ e qualquer número entre 4,5% e 6,5% estivesse ‘na meta’.
“Defender uma inflação tão alta como condição de crescimento econômico e de criação de empregos é desconhecer ou negar a experiência internacional. Dirigentes do BC, embora pouco dispostos a enfrentar a presidente da República, têm mencionado essa experiência e defendido taxas mais civilizadas de inflação como importantes para o planejamento de negócios e para a expansão da economia. Essa referência tem aparecido com frequência nas atas de reuniões do Copom.
“Até o ministro da Fazenda, Guido Mantega, acabou reconhecendo os males da alta de preços, ao comentar na sexta-feira passada o crescimento de apenas 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB). Segundo ele, a inflação foi uma das causas da redução do consumo no primeiro trimestre. Nem por isso ele mostrou disposição de apoiar uma política inflacionária mais digna desse nome.
“A expectativa de política mais frouxa, evidenciada na pesquisa Focus, é mais preocupante que as projeções de inflação. Quando a autoridade monetária perde credibilidade, as piores previsões podem parecer otimistas quando confrontadas, afinal, com os fatos.” (Editorial, Estadão, 3/6/2014.)
Números ruins da semana
* Balança comercial tem o pior resultado para o mês de maio desde 2002
“A balança comercial brasileira registrou em maio superávit de US$ 712 milhões, o mais baixo para o mês em 12 anos. O saldo é resultado de exportações de US$ 20,7 bilhões e importações de US$ 20 bilhões. Nos cinco primeiros meses de 2014, a balança acumula déficit de US$ 4,854 bilhões, resultado de exportações de US$ 90,064 bilhões e importações de US$ 94,918 bilhões. Os dados foram divulgados ontem pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
“O secretário de Comércio Exterior, Daniel Godinho, explicou que a queda nas exportações este ano é influenciada por itens importantes na pauta, como automóveis e autopeças, principalmente para a Argentina, que registrou recuo de 25,8% em maio:
“- A queda destes produtos está relacionada com a menor demanda argentina que tem reduzido importações e suas compras de todos os países.
“Mas o petróleo continua sendo o item de maior peso na balança comercial. Godinho avalia que o impacto será menor este ano do que foi em 2013, quando as transações comerciais do combustível resultaram em US$ 20 bilhões de déficit. Ele explicou que, até agora, as exportações foram maiores do que as importações, como previsto pelo governo.
“- A conta petróleo apresenta uma melhora, mas é fundamental ainda para explicar o resultado da balança. Nos demais produtos temos saldo comercial positivo, de US$ 2,7 bilhões.
“Godinho também destacou que o preço dos produtos básicos no mercado internacional está mais baixo do que no ano passado, o que influencia o resultado das exportações. Ele citou, por exemplo, o minério de ferro e a soja. No caso do minério de ferro, o preço teve queda média de 11% ante o ano passado, e um aumento de quantidade exportada de 8,5% que não compensou a balança do produto. Ele disse que a menor demanda no mercado internacional e também a maior oferta – principalmente do minério da Austrália – afetaram o preço do produto. Por outro lado, a soja teve um crescimento de 22% nos valores exportados, mas uma queda de preço de aproximadamente 4%.” (Mônica Tavares, Flávia Pierry e Rennan Setti, O Globo, 3/6/2014.)
* Indústria tem retração de 0,3% em abril
“A produção da indústria nacional registrou recuo de 0,3% em abril, na comparação com o mês anterior, segundo dados divulgados nesta quarta-feira (4) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Frente ao mesmo período de 2013, a indústria teve retração de 5,8%, a mais intensa desde setembro de 2009 (quando houve queda de 7,3%), influenciada fortemente pela redução de mais de 20% na produção de veículos. Nos quatro primeiros meses do ano, o setor acumula baixa de 1,2%. Em 12 meses, a alta acumulada é de 0,8%.
“‘O setor automobilístico, em função da redução de demanda, tem prejuízos em relação ao mercado internacional e dificuldade de exportação. De alguma forma, vem diminuindo o ritmo da produção industrial e, consequentemente, observa-se impacto nos bens de capital (caminhões) e bens duráveis (carros)’, explicou o gerente da pesquisa do IBGE, André Luiz Macedo.
“‘No resultado desse mês, além da diminuição no ritmo de produção, observa-se a influência do efeito calendário, uma vez que abril de 2014 teve dois dias úteis a menos do que igual mês do ano anterior’, disse o IBGE, em nota.
“Na análise das categorias de uso, a produção de bens de consumo duráveis (como os carros) caiu 1,6%; o de bens de capital (máquinas), 0,5%; e o de bens intermediários (matérias-primas), 0,2%. O segmento de bens de consumo semi e não duráveis (roupas, por exemplo) foi o único que apresentou avanço, de 0,4%.
“Em abril, em relação a março, a atividade fabril apresentou queda de 0,5%. De março para abril, caiu também a produção dos ramos de produtos de madeira (-3,2%), metalurgia (-2,7%), móveis (-2,3%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-1,6%), produtos de minerais não metálicos (-1,5%) e produtos de borracha e de material plástico (-0,9%).
Entre os setores que mostraram aumento na produção, estão os de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (4,9%); sabões, detergentes, produtos de limpeza, cosméticos, perfumaria e higiene pessoal (3,1%); e produtos alimentícios (2,6%).” (Anay Cury e Cristiane Cardoso, portal G1, 4/6/2014.)
Os escândalos da Petrobrás
* Em entrevista, ex-diretor piora a situação da estatal
“A convocação do ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa nas CPIs que investigam desvios na estatal ganhou força depois que ele — que ficou 59 dias presos por sua ligação com o doleiro Alberto Youssef — disse ontem (1º/6) em entrevista à Folha de S. Paulo que a obra da refinaria Abreu e Lima, em construção em Pernambuco, foi feita com base em uma ‘conta de padeiro’. Na entrevista, ele afirmou que o orçamento inicial da obra, de US$ 2,5 bilhões, foi feito sem embasamento técnico e que a ‘Petrobrás errou’. No final, essa refinaria, que deve ficar pronta em 2015, sairá por US$ 18,5 bilhões.
“O relator da CPI Mista da Petrobrás, deputado Marco Maia (PT-RS), afirmou hoje que Paulo Roberto da Costa será um dos primeiros a ser convocados para depor e dar explicações sobre sua atuação na empresa. Representante do PT, Maia disse que será ‘lamentável’ se a declaração de Costa for verdadeira.
“O ex-diretor da estatal foi preso por conta da Operação Lava-Jato, da Polícia Federal. Na entrevista, Costa negou que tenha havido superfaturamento nas obras. Segundo ele, a Petrobrás decidiu construir a refinaria sem um projeto definido. Ele, que confirmou ter sido indicado pelo PP na estatal, também criticou as apurações do Tribunal de Contas da União (TCU), que segundo ele, tratou das obras, onde passarão tranques de 100 mil toneladas, com os mesmos critérios das estradas, por onde passam, no máximo, caminhões com 30 toneladas.
“— É lamentável que um investimento deste tamanho tenha sido tratado de forma tão informal e sem tratamento técnico. Mas só saberemos se isso é verdade no curso da investigação. Ele deverá ser um dos primeiros a ser convocado. — disse Marco Maia, por mensagem.
“O presidente das duas CPIs da Petrobrás (do Senado e a Mista), senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), disse que já há requerimentos pedindo que ele seja ouvido. A CPI Mista da Petrobrás se reúne amanhã, pela primeira vez, para discutir o plano de trabalho.
“— Existem requerimentos para convocação de Paulo Roberto — disse Vital do Rêgo.
“A oposição decidiu centrar fogo na investigação sobre a refinaria de Pernambuco:
“— É inconcebível isso. Padeiro não erra nem conta. Se errasse, as padarias quebravam. A declaração aponta erro de oito vezes a estimativa original. Isso reforça a necessidade de abrir a caixa-preta da Petrobrás — disse o líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (DEM-PE).
“Antonio Imbassahy (BA), líder do PSDB na Câmara, ressaltou que a presidente Dilma Rousseff sabia dos detalhes desta obra:
“— Essa declaração chega a ser chocante.
“Procurada pelo Globo, a Petrobrás não comentou a entrevista. Costa também não deu entrevistas.” (Cristiane Jungblut, com Henrique Gomes Batista e Mônica Tavares, O Globo, 2/6/2014.)
* 80% dos funcionários da Petrobrás são terceirizados, inclusive em funções de concursados
“Ao defender a gestão da Petrobrás no embate com a oposição nas CPIs abertas no Congresso, o governo cita a realização de 18 concursos públicos desde 2003, que fizeram dobrar o quadro de efetivos da estatal nos mandatos de Lula e Dilma. O número de concursados saltou de 40 mil para 86 mil. No entanto, a participação desses concursados no total da força de trabalho da Petrobrás caiu de 25% para 20% nos últimos 12 anos. Isso porque, no mesmo período, houve uma explosão na contratação de terceirizados, que saltaram de 121 mil para 360 mil, um crescimento de quase 200%. Nos últimos 12 anos, entraram ‘pela janela’ sete vezes mais contratados indiretamente do que o total de concursados efetivados. Em 2002, ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), os concursados já eram apenas 25% dos empregados. A continuidade da política de terceirização reduziu essa participação ainda mais, para 20% do quadro de trabalhadores da Petrobrás. A contratação de terceirizados — que hoje formam 80% do quadro — não é ilegal, mas é proibida para as chamadas atividades-fim, relacionadas ao negócio principal da empresa, que são reservadas aos concursados, como determina o no artigo 37 da Constituição. São cargos como os de engenheiro, geólogo, economista, administrador, contador e até advogado, listados no plano de carreiras da estatal.
“Hoje, para cada funcionário de carreira há quatro terceirizados trabalhando em diferentes áreas da companhia e de suas subsidiárias, de áreas administrativas a plataformas de produção de petróleo no mar. Essa relação ficará ainda mais desfavorável para os concursados a partir deste mês, quando começam a deixar a Petrobrás os 8.300 funcionários efetivos que aderiram ao programa de demissão voluntária criado pela presidente da empresa, Graça Foster, para economizar cerca de R$ 13 bilhões até 2018. Ela indicou que pretende repor apenas 60% das vagas dos demissionários.
“A ocupação de vagas como estas por terceirizados é alvo de pelo menos 30 ações judiciais propostas por sindicatos e pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) desde a década passada. Em 2006, a estatal fez um acordo para regularizar a situação até 2010, que não foi cumprido. Os profissionais são admitidos como prestadores de serviços, contratados por empresas que, por sua vez, são contratadas pela Petrobrás por projetos de, em média, quatro anos. Em tese, prestadores de serviços nem deveriam trabalhar nas dependências da Petrobrás. Muito menos ter como chefes funcionários efetivos. Segundo o MPT, a empresa só deveria recorrer à contratação indireta para atividades complementares, como manutenção, vigilância, comunicação.
“Segundo a estatal, as empresas terceirizadas montam suas equipes sem subordinação à Petrobrás, mas de acordo com o projeto contratado. Não é o que dizem funcionários ouvidos pelo Globo sob a condição do anonimato. Eles reconhecem que a prática não é nova na estatal, mas vem aumentado nos últimos anos, levantando dúvidas sobre os critérios de escolha dos profissionais. Indicações até de parentes dos altos executivos e de políticos são comentadas nos corredores.
“Listas telefônicas da estatal obtidas pelo Globo mostram as equipes das gerências formadas tanto por funcionários efetivos quanto por terceirizados, que podem ser identificados pelo nome da empresa contratante no endereço de e-mail. Na Gerência Executiva de Programas de Investimentos da Diretoria de Gás e Energia, por exemplo, o gerente executivo, os cinco gerentes gerais e os 19 gerentes são concursados. Mas entre seus subordinados, efetivos e terceirizados se misturam. Na gerência de Energia, 21 dos 31 profissionais são terceirizados em posições como engenheiro, técnico em elétrica ou contabilista, também ocupadas por concursados.
“— Fiscalizar plataforma em alto-mar, por exemplo, é uma atividade de alto risco que só deveria ser exercida por concursados, que têm melhor treinamento. Mas as plataformas estão cheias de terceirizados — diz o procurador do Trabalho Marcelo Fernandes da Silva, que há dez anos investiga a escalada das contratações indiretas na empresa. — A prestação de um serviço deve ser feita de forma autônoma ou sob liderança das empresas contratadas. Se o profissional está subordinado a um gerente da Petrobrás, não é prestação de serviço. É mera intermediação de mão de obra.
“A existência de concursados e terceirizados trabalhando lado a lado é a principal evidência encontrada pelos procuradores do trabalho e por uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) realizada em 2010. Os auditores apontaram a dificuldade de diferenciar prestadores de serviço de caráter temporário dos terceirizados com funções permanentes, iguais às dos concursados. Foram encontrados funcionários com mais de 20 anos na Petrobrás com contratos indiretos. Isso só é possível porque eles mudam de empresa a cada fim de contrato, num sinal de que gerentes da Petrobrás fazem indicações para as prestadoras.
“A demanda crescente leva a estatal a firmar contratos bilionários com várias intermediárias. Uma das maiores é a Hope RH, que aparece na lista de supostos beneficiários do esquema investigado pela Polícia Federal na Operação Lava-Jato. A empresa aparecia em documentos do ex-diretor de Abastecimento, Paulo Roberto Costa, apreendidos quando ele foi preso. A Hope nega ter relações com ele.
“Enquanto a terceirização cresce, a Petrobrás deixa de convocar boa parte dos aprovados em seleções nos últimos anos, levando muitos à Justiça para prorrogar a validade de concursos e garantir a contratação. O MPT estima que mais da metade dos selecionados ainda não tenha sido chamada. A empresa disse já ter contratado 32.221 aprovados desde 2003, mas não informou o total de vagas oferecidas nos editais. O número de funcionários próprios subiu mais do que isso por causa da incorporação de funcionários de empresas adquiridas no Brasil e no exterior, como usinas termelétricas.
“Segundo a Petrobrás, a estimativa de Graça de repor apenas 60% das vagas dos demissionários voluntários, feita em conversa com investidores, ainda é preliminar. Mesmo assim, o plano foi criticado pela Federação Única dos Petroleiros (FUP), representação sindical filiada à Central Única dos Trabalhadores (CUT). Líderes da FUP se reuniram com Graça na ultima sexta-feira para pedir reposição de 100% das vagas, mas ela não se comprometeu.
“Emanuel Cancella, dirigente do Sindipetro-RJ, órgão dissidente da FUP, diz que as terceirizações foram um dos motivos do racha entre os sindicatos do setor no governo Lula. Ex-dirigentes da FUP chegaram a assumir a gerência de recursos humanos, mas não frearam as contratações indiretas:
“— Essa foi uma das razões para a nossa saída da FUP. Em vez de acabar com a terceirização, os sindicalistas indicados pelo PT na Petrobrás fizeram pior do que no governo anterior. Vangloriam-se dos concursos, mas mudaram o plano de cargos e fizeram a terceirização crescer avassaladoramente.
“Em nota ao Globo, a Petrobrás afirmou que, entre os 360 mil funcionários contabilizados como terceirizados, cerca de 165 mil trabalham em obras com claro caráter temporário e afirmou que o grande número de prestadores de serviço se justifica pelo aumento do volume de investimentos da companhia, cuja média anual cresceu dez vezes na última década. O plano de investimentos de 2014 a 2018 vai aplicar US$ 220 bilhões na exploração do pré-sal e na conclusão de refinarias atrasadas, entre outros programas, para aumentar a produção de petróleo e de derivados. O Globo tentou contato com representantes da FUP, mas não obteve retorno.” (Alexandre Rodrigues, O Globo, 2/6/2014.)
* É a turma do funil às avessas: eles é que bebem e nós ficamos tontos
“Relator da comissão parlamentar mista de inquérito (CPMI) aberta (pelo menos em teoria) para investigar escândalos protagonizados pela maior empresa brasileira, a Petrobrás, o deputado Marco Maia (PT-RS) fez questão de avisar que a convocação do ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa para nela depor não tardará.
“Como é público e notório, Paulo Roberto Costa foi preso pela Polícia Federal quando tentava destruir provas que o comprometiam – no âmbito das investigações da Operação Lava Jato – na condição de parceiro do doleiro Alberto Youssef, acusado de ter ‘lavado’ R$ 10 bilhões. O doleiro continua preso, mas o ex-diretor da Petrobrás foi solto por obra e graça de despacho do ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki: este interrompeu sua depressão de 59 dias na cela, mas manteve presos os outros 11 que o juiz Sérgio Moro, do Paraná, mandara prender.
“Chegaram até a definir como ‘troco de pinga’ a eventual perda de US$ 1 bilhão (R$ 2,3 bilhões) na compra da refinaria da Astra Oil belga em Pasadena (Texas), pela qual a presidente da estatal, Graça Foster, reconhece pelo menos um prejuízo de US$ 530 milhões (R$ 1,2 bilhão). Mas a conta da refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco, uma associação em que os brasileiros entraram com a grana e os venezuelanos com saliva, é muito mais pesada. Há duas semanas, o jornal Valor Econômico teve acesso a atas de reuniões do Conselho de Administração da Petrobrás e de sua leitura concluiu que o plano básico de organização da refinaria foi aprovado pelos conselheiros em 30 de outubro de 2008, mas só em 14 de janeiro de 2010 eles conheceram o estudo de viabilidade da refinaria, cuja construção já tinha sido iniciada. E no ano anterior, lembrou o jornal, a estatal havia captado R$ 10,5 bilhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para o projeto, que, por esta e outras, viria a se tornar a obra mais onerosa do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
“Pelos cálculos do jornal, a aventura teria elevado o valor a ser gasto na benemerência ao compadre Hugo Chávez à bagatela de R$ 40 bilhões, dez vezes mais do que se previa no início do projeto (R$ 4 bilhões). A algum crítico renitente, como o autor destas linhas, ocorreria até concluir que a diferença não poderia caracterizar sequer um troco de vinho do Porto Taylor’s de mais de 150 anos, vendido a 2.500 (R$ 8 mil) a garrafa. Nenhuma definição, porém, será tão precisa quanto a dada pelo alto funcionário da Petrobrás encarregado da obra, Paulo Roberto Costa, que chamou o embrulho de ‘conta de padeiro’ em entrevista à Folha de S.Paulo. Será a estatal gerida como se fosse uma padaria?
“‘Conta de padeiro’ é um jargão que ainda não consta de dicionários e que significa cálculo feito às pressas, sem os devidos cuidados nem embasamento – neste caso específico, sem projeto algum que justificasse despesas de tal monta. Mas é provável que em próximas edições a expressão venha a ser incorporada ao ‘pai dos burros’. Ildo Sauer, um dos principais colaboradores na área energética do programa de governo de Lula e ex-diretor de Gás e Energia da Petrobrás, declarou-se perplexo com o uso da expressão, embora concorde com a evidência de que jamais o investimento na refinaria poderia ter passado de US$ 8 bilhões (R$ 19 bilhões), menos da metade do gasto ora previsto. A expressão, de acordo com Sauer, ofende ‘a história da Petrobrás, que sempre teve uma gestão profissional e técnica’ e ‘é uma desculpa grosseira para justificar o injustificável’.
“A oposição decidiu centrar fogo na investigação sobre Abreu e Lima e reclamou da comparação. ‘Padeiro não erra nem conta. Se errasse, as padarias quebravam’, disse o líder do DEM na Câmara dos Deputados, Mendonça Filho (PE), que insiste na abertura da ‘caixa de Pandora’ da Petrobrás, mas não desiste do meio menos adequado para fazê-lo.
“Seria a oposição deficiente em inteligência ou estaria interessada apenas nos holofotes postos no debate nos plenários do Congresso, controlados pelo governo, para compensar o triplo de tempo da aliança governista na propaganda eleitoral no rádio e na TV, aparecendo no noticiário de todo dia da CPMI? Há, contudo, coisas mais importantes a cuidar do que defender a sabedoria contábil dos donos de padaria ou a honra ameaçada da equipe técnica da estatal. Mais grave do que o tom zombeteiro da definição do suspeito-mor, preso para não destruir provas e solto por magnificência do julgador supremo, ou do que a afronta aos funcionários, que até agora não de nada reclamaram pela voz de seus líderes corporativos, é a declaração de Graça Foster. Questionada pelos repórteres ao sair da sede da Fundação Getúlio Vargas, no Rio, a presidente da Petrobrás parodiou o enigma da esfinge de Édipo Rei com uma sentença perturbadora e comprometedora: ‘Não é que eu não queira, eu não posso falar’.
“Quando o Valor Econômico revelou que a empresa que ela preside autorizou despesas de milhões de reais sem embasamento técnico, a estatal negou, em nota oficial, que seu conselho tenha aprovado em apenas 14 dias contratos sem licitação com as construtoras Galvão Engenharia e Queiroz Galvão. Sim, e daí? Agora a sra. Foster diz que não ‘pode’ falar sobre graves acusações que pesam sobre suas costas, feitas publicamente por seu ex-companheiro de diretoria, acusado de corrupção. Em vez de participar da inútil sabatina do ex-diretor ex-preso na CPMI, a oposição serviria melhor ao País se lembrasse à presidente da Petrobrás que ela tem satisfações a dar ao contribuinte, que sustenta sua empresa e paga seu salário, a respeito das estapafúrdias diferenças entre gastos previstos e despesas feitas, que não podem ser tidas como meros erros contábeis. A presidente da Petrobrás não deve agir como se estivesse servindo pinga no balcão de um boteco cujos clientes cantam A Turma do Funil ao contrário.” (José Nêumanne, Estadão, 4/6/2014.)
A burocracia que afugenta o empreendimento
* País cria todo tipo de dificuldade para quem quer abrir, manter e expandir uma empresa
“Manter a atividade empresarial – e expandi-la, se possível – sob o peso da excessiva burocracia que dificulta a vida das empresas e dos cidadãos continua sendo um ato de coragem e persistência. Embora já tenham sido bem piores para os brasileiros em geral, muitas exigências burocráticas ainda dificultam as atividades do empreendedor disposto a inovar e crescer, como mostrou reportagem publicada pelo caderno Estadão PME (28/5). O peso exagerado da burocracia continua a tolher o crescimento.
“A persistência desses problemas, que empurram o Brasil para os últimos lugares nas classificações dos países que mais favorecem a atividade produtiva, é uma prova da resistência das autoridades e também dos legisladores à modernização e simplificação das normas. Preso a mentalidades antigas, moldadas pela desconfiança que gera o excesso de controle e fiscalização e também a punição excessiva, o setor público não favorece o progresso.
“Desestimulados, por exigências às vezes absurdas, a desenvolver a produção no País, empreendedores brasileiros passam a produzir em outros países, para fugir dos custos excessivos que lhes reduzem a competitividade.
“Outros, para tentar cumprir com rigor as exigências legais, sobretudo as tributárias – o que nem sempre conseguem, dadas as frequentes mudanças na legislação -, mantêm imensos arquivos de licenças, comprovantes e outros documentos exigidos por lei. […]
“Estudos internacionais – como o relatório Doing Business publicado pelo Banco Mundial, com a colaboração de instituições de pesquisa de diversos países – colocam o Brasil nos últimos lugares entre cerca de 150 países no que se refere ao custo de administração dos tributos.
“Estima-se que uma empresa brasileira gasta em média 2,6 mil horas de trabalho por ano para manter-se em dia com suas obrigações tributárias. Na América Latina, que está longe de ser um modelo de ambiente favorável aos negócios, o gasto médio é bem menor, de 367 horas anuais.
“A abertura de uma empresa no Brasil, a despeito das simplificações ocorridas nos últimos anos, continua a ser uma novela na maior parte das regiões. Há 13 procedimentos diferentes que exigem o comparecimento do interessado a diferentes órgãos públicos, o que consome tempo de trabalho e retarda o processo. São necessários registros nos órgãos tributários dos três níveis de governo, obtenção de licença ambiental, autorização do Corpo de Bombeiros e da Vigilância Sanitária, além do alvará de funcionamento. (…)
“Há um número excessivo de leis, algumas complexas demais , e todas sujeitas a mudanças frequentes e com penalidades em muitos casos excessivamente duras. Tudo isso impõe custos adicionais à atividade produtiva, o que limita a capacidade de investimento e a competitividade. De um lado, a burocracia desestimula o crescimento, de outro, estimula a corrupção e a informalidade.” (Editorial, Estadão, 2/6/2014.)
O que o governo diz sobre o nível de emprego é bravata
* O desemprego é bem maior do que o governo tem alardeado
“O desemprego é bem maior do que o governo tem alardeado e mais uma vez dados oficiais desmentem as bravatas da presidente Dilma Rousseff e de seus ministros econômicos. A desocupação ficou em 7,1% no primeiro trimestre, bem acima da taxa estimada para os três meses finais do ano passado, de 6,2%, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), publicada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O cenário mostrado por este levantamento é bem pior que aquele apontado tradicionalmente pela pesquisa mensal do IBGE, realizada nas seis maiores regiões metropolitanas com visitas a cerca de 44 mil domicílios e entrevistas com 120 mil pessoas. A Pnad Contínua cobre 211.344 domicílios em 3.464 municípios.
“As primeiras informações sobre a Pnad Contínua indicaram resultados bem piores que aqueles habitualmente divulgados e sempre usados como trunfos políticos pelo governo. O IBGE anunciou há meses a intenção de regularizar a publicação dos novos dados, muito mais amplos e mais compatíveis com os padrões internacionais.
“A idéia foi mal recebida em Brasília e tentou-se frear a publicação, em manobra defendida no Congresso pela senadora Gleisi Hoffmann, ex-ministra da Casa Civil da Presidência da República. Técnicos do IBGE protestaram com greve e o relatório foi publicado. A idéia é manter as duas pesquisas durante algum tempo até a substituição da tradicional pela nova.
“A taxa de 7,1% supera os números estimados para o terceiro e o quarto trimestres do ano passado (6,9% e 6,2%), mas é mais baixa que a dos primeiros três meses de 2013, quando o desemprego chegou a 8%. Toda a série dos últimos dois anos mostra números mais altos que aqueles apontados pela pesquisa mensal nas seis maiores regiões metropolitanas. As maiores taxas de desemprego, segundo a Pnad Contínua, foram encontradas no Nordeste (9,3%) e no Norte (7,7%). As menores, no Sul (4,3%) e no Centro-Oeste (5,8%). A do Sudeste ficou em 7% no primeiro trimestre – número menor que o de um ano antes (7,6%), mas igual à média dos quatro trimestres de 2013.
“Com esses dados, a presidente Dilma Rousseff e seus ministros terão maior dificuldade para esnobar os países desenvolvidos e parte dos emergentes. Não poderão, por exemplo, contar bravatas em relação aos Estados Unidos, onde o desemprego chegou a 6,3% em abril. Desde o fim do ano passado a desocupação na economia americana já era menor que a brasileira, pelo menos segundo os números da Pnad Contínua.
“A presidente ainda poderá confrontar vantajosamente os dados brasileiros com os da União Europeia, onde o desemprego, segundo os últimos dados, ainda estava em 10,4%, apesar dos sinais de reativação econômica. Na zona do euro a taxa era de 11,7% em abril.
“Mas esses números são compostos e em boa parte refletem o quadro muito ruim de alguns países, como a Espanha, onde a proporção dos desocupados ainda passava de 25% nos últimos meses. A comparação fica menos vantajosa para o lado brasileiro, quando se examinam as porcentagens de vários outros países desenvolvidos.
“A Holanda, com uma taxa de 7,2%, praticamente empata com o Brasil. Mas o cenário do desemprego é sensivelmente menos grave na Dinamarca (6,5%), na República Checa (6,5%), na Alemanha (5,25%) e na Áustria (4,9%). No Japão, onde o desemprego é tradicionalmente menor que no Ocidente, a última pesquisa indicou 3,6% – embora a economia apenas tenha começado, muito lentamente, a sair da longa recessão.
“Também na América Latina, onde muitas economias têm crescido mais que a brasileira com inflação bem menor, o Brasil fica mal na comparação. Em outubro, sete países tinham desocupação inferior a 6% – Peru, Honduras, Chile, México, Panamá, Equador e Guatemala. O Uruguai praticamente empatava com o Brasil. Além do discurso triunfalista, todos esses dados destroem também o argumento petista sobre a inflação elevada: um combate mais sério à alta de preços, segundo a presidente, causaria desemprego. Os dados internacionais, como os do IBGE, a desmentem.” (Editorial, Estadão, 4/6/2014.)
* O governo se orgulhava da taxa de desemprego de 4,9%. Mas a taxa na verdade é de 7,1%
“Então, a taxa de desemprego no Brasil é de 7,1%, e não de 4,9% — número este que o governo apresenta como o seu maior trunfo.
“Ocorre que esses 4,9% — para abril — medem o desemprego apenas nas seis principais regiões metropolitanas. Trata-se da Pesquisa Mensal do IBGE, sempre considerada limitada.
“O outro número, o de 7,1%, refere-se ao primeiro trimestre deste ano e também foi apurado pelo IBGE, mas em uma nova pesquisa, a PNAD Contínua — com entrevistas em 3.500 municípios. É, pois, nacional.
“E esse novo número, está bom ou ruim?
“Escolha sua comparação:
“Na União Europeia, a taxa de desemprego está nos 12%. Na rica França e nos emergentes Índia e Turquia, também é muito alta, em torno de 10%.
“Mas é bem menor nas também ricas Inglaterra (6,8%) e Alemanha (6,7%). Nos EUA, o desemprego já caiu para 6,3%. Nos emergentes China e Coreia do Sul, é menor ainda, na faixa dos 4%.” (Carlos Alberto Sardenberg, O Globo, 5/6/2014.)
O governo Dilma acabou
* Os ministérios estão paralisados. E o governo Dilma ainda tem mais sete meses pela frente. Meses de paralisia econômica. Haja agonia
“O governo Dilma definha a olhos vistos. Caminha para um fim melancólico. Os agentes econômicos têm plena consciência de que não podem esperar nada de novo. Cada declaração do ministro da Fazenda é recebida com desdém. As previsões são desmentidas semanas depois. Os planos não passam de idéias ao vento. O governo caiu no descrédito. Os ministérios estão paralisados. O que se mantém é a rotina administrativa. O governo se arrasta como um jogador de futebol, em fim de carreira, aos 40 minutos do segundo tempo, em uma tarde ensolarada.
“Apesar do fracasso — e as pífias taxas de crescimento do PIB estão aí para que não haja nenhum desmentido —, Dilma é candidata à reeleição. São aquelas coisas que só acontecem no Brasil. Em qualquer lugar do mundo, após uma pálida gestão, o presidente abdicaria de concorrer. Não aqui. E, principalmente, tendo no governo a máquina petista que, hoje, só sobrevive como parasita do Estado.
“A permanência no poder é a essência do projeto petista. Todo o resto é absolutamente secundário. O partido necessita da estrutura estatal para financeiramente se manter e o mesmo se aplica às suas lideranças — além dos milhares de assessores.
“É nesta conjuntura que o partido tenta a todo custo manter o mesmo bloco que elegeu Dilma em 2010. E tem fracassado. Muitos dos companheiros de viagem já sentiram que os ventos estão soprando em sentido contrário. Estão procurando a oposição para manter o naco de poder que tiveram nos últimos 12 anos. O desafio para a oposição é como aproveitar esta divisão sem reproduzir a mesma forma de aliança que sempre condenou.
“Como o cenário político foi ficando desfavorável à permanência do petismo, era mais que esperada a constante presença de Lula como elemento motivador e agregador para as alianças. Sabe, como criador, que o fracasso eleitoral da criatura será também o seu. Mas o sentimento popular de enfado, de cansaço, também o atingiu. O encanto está sendo quebrado, tanto no Brasil como no exterior. Hoje suas viagens internacionais não têm mais o apelo do período presidencial. Viaja como lobista utilizando descaradamente a estrutura governamental e intermediando negócios nebulosos à custa do Erário.
“Se na campanha de 2010 era um presidente que pretendia eleger o sucessor, quatro anos depois a sua participação soa estranha, postiça. A tentativa de transferência do carisma fracassou. Isto explica por que Lula tem de trabalhar ativamente na campanha. Dilma deve ficar em um plano secundário quando o processo eleitoral efetivamente começar. Ela não tem o que apresentar. O figurino de faxineira, combatente da corrupção, foi esquecido. Na história da República, não houve um quadriênio com tantas acusações de ‘malfeitos’ e desvios bilionários, como o dela. O figurino de gerentona foi abandonado com a sucessão de ‘pibinhos’. O que restou? Nada.
“Lula está como gosta. É o centro das atenções. Acredita que pode novamente encarnar o personagem de Dom Sebastião. Em um país com uma pobre cultura democrática, não deve ser desprezada a sua participação nas eleições.
“A paralisia política tem reflexos diretos na gestão governamental. As principais obras públicas estão atrasadas. Boa parte delas, além do atraso, teve majorados seus custos. Em três anos e meio, Dilma não conseguiu entregar nenhuma obra importante de infra-estrutura. Isto em um país com os conhecidos problemas nesta área e que trazem sérios prejuízos à economia. Mas quando a ideologia se sobrepõe aos interesses nacionais não causa estranheza o investimento de US$ 1 bilhão na modernização e ampliação do porto de Mariel. Ou seja, a ironia da história é que a maior ação administrativa do governo Dilma não foi no Brasil, mas em Cuba.
“Os investimentos de longo prazo foram caindo, os gastos para o desenvolvimento de educação, ciência e tecnologia são inferiores às necessidades de um país com as nossas carências. Não há uma área no governo que tenha cumprido suas metas, se destacado pela eficiência e que o ministro — alguém lembra o nome de ao menos cinco deles? — tenha se transformado em referência, positiva, claro, pois negativa não faltam candidatos.
“O irresponsável namoro com o populismo econômico levou ao abandono das contas públicas, das metas de inflação e ao desequilíbrio das tarifas públicas. Basta ver o rombo produzido no setor elétrico. A ação governamental ficou pautada exclusivamente pela manutenção do PT no poder. As intervenções estatais impuseram uma lógica voluntarista e um estatismo fora de época. Basta citar as fabulosas injeções de capital — via Tesouro — para o BNDES e os generosos empréstimos (alguns, quase doações) ao grande capital. E a dívida pública, que está próxima dos R$ 2,5 trilhões?
“No campo externo as opções escolhidas pelo governo foram as piores possíveis. Mais uma vez foi a ideologia que deu o tom. Basta citar um exemplo: a opção preferencial pelo Mercosul. Enquanto isso, o eixo dinâmico da economia mundial está se transferindo para a região Ásia-Pacífico.
“Ainda não sabemos plenamente o significado para o país desta gestão. Mas quando comparamos os nossos índices de crescimento do PIB com os dos países emergentes ou nossos vizinhos da América Latina, o resultado é assustador. É possível estimar que no quadriênio Dilma a média sequer chegue a 2%. A média dos emergentes é de 5,2%, e da América Latina, de 3,2%. E o governo Dilma ainda tem mais sete meses pela frente. Meses de paralisia econômica. Haja agonia.” (Marco Antonio Villa, O Globo, 3/6/2014.)
As ligações perigosas do PT
* E os saques, invasões, depredações do MST não são “baderna”?
“Qual a diferença entre os saques, invasões, depredações e bloqueios patrocinados pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra sob o olhar complacente do governo do PT e os saques, invasões, depredações e bloqueios que o governo do PT promete reprimir com firmeza para evitar a ‘baderna’ (palavra da presidente) durante a Copa do Mundo?
“Do ponto de vista da legalidade, rigorosamente nenhuma. E foi isso que o presidente Luiz Inácio da Silva ao ganhar a eleição em 2002 não soube perceber: a lei vale para todos e, uma vez transgredida com autorização do Estado, mais cedo ou mais tarde, a barbárie se generaliza.
“Para recapitular: ao assumir a presidência, Lula nomeou Miguel Rosseto para o Ministério da Reforma Agrária. Era oriundo da MST do Rio Grande do Sul. Primeira providência do ministro foi tornar letra morta medida provisória de 2001 que modificava a lei 8.629 que por sua vez regulamentava o capítulo relativo à reforma agrária na Constituição.
“Dizia, em resumo, que invasores de terras produtivas estariam excluídos do programa de assentamentos e que a entidade, organização ou movimento que de qualquer forma auxiliasse, colaborasse, incentivasse, incitasse, induzisse ou participasse de invasões de imóveis rurais ou de bens públicos não receberia recursos de governo.
“Rosseto ignorou a MP e ainda a qualificou como ‘violência de Estado’. O dinheiro continuou sendo repassado. Lula, em cena inesquecível no mês de julho de 2003, recebeu o MST em seu gabinete no Palácio do Planalto e pôs na cabeça o boné do movimento. Isso enquanto militantes invadiam uma repartição pública em Alagoas e bloqueavam uma estrada em Minas Gerais.
“João Pedro Stédile saiu do encontro triunfante: ‘A reunião foi ótima, vai dar 5 a 0 contra o latifúndio no segundo semestre’. Realmente, a vitória foi de goleada, mas os perdedores não foram os latifundiários. Derrotados foram os cidadãos que apostam num país organizado e um governo que ao deixar uma minoria livre para transgredir acabou sem moral para convencer os que se acham no mesmo direito que a ordem é patrimônio da maioria.” (Dora Kramer, Estadão, 1º/6/2014.)
* O deputado do PT que foi preso por assalto e participou de reuniões com integrantes de organização criminosa
“Depois de ouvido por 19 integrantes da Executiva Estadual do Partido dos Trabalhadores (PT), o deputado estadual Luiz Moura teve sua filiação partidária suspensa e não poderá se candidatar à cadeira que ocupa na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo. Ele foi flagrado por investigadores da Polícia Civil paulista que, no curso de uma investigação sobre queima de ônibus na capital, invadiram uma reunião de representantes de cooperativas de coletivos. Segundo as autoridades, participavam do encontro pelo menos nove suspeitos de integrar a quadrilha Primeiro Comando da Capital (PCC) e um foragido da Justiça acusado de ter participado do assalto ao Banco Central em Fortaleza.
“Segundo o presidente estadual do PT em São Paulo, Emídio de Souza, a ordem no PT é não deixar mais ‘margem’ aos ataques da oposição. ‘Somos o partido que mais combateu a corrupção no País’, disse. ‘O PT não tem tolerância com coisa malfeita. Se envolver filiado nosso, não temos complacência com ninguém. Somos um partido, queremos um país melhor e temos de dar exemplo dentro de casa do país que queremos construir’, completou.
“Conforme reportagem do Estado, ‘a suspensão faz parte da nova orientação dada pela cúpula para casos que ponham em risco a imagem da sigla, principalmente em ano eleitoral’. A providência seguiu os trâmites obedecidos no caso do deputado federal André Vargas (PR), que foi instado a renunciar a sua cadeira na Câmara Federal, mas, não tendo aceitado a sugestão da direção nacional petista, teve sua filiação suspensa e, como Luiz Moura, ficou sem partido. Vargas, que era vice-presidente da Câmara, é um dos parlamentares envolvidos no esquema protagonizado pelo doleiro Alberto Youssef, acusado pela Polícia Federal (PF), na Operação Lava Jato, de haver ‘lavado’ R$ 10 bilhões de reais. ‘É a nova direção e nova situação. Não dá para o PT conviver com este tipo de coisa’, disse um dirigente petista em São Paulo citado, mas não identificado, na reportagem.
“Apesar de aparentemente branda, a punição aplicada pelo partido aos dois parlamentares acusados de crimes graves é efetiva. A renúncia aos mandatos os afastaria dos trabalhos parlamentares por apenas seis meses, pois eles teriam oportunidade de disputar e quase certamente conquistar mais um mandato de quatro anos. Já a suspensão da filiação, de acordo com a legislação vigente, os retirará do próximo pleito. E também livra seus companheiros do ônus de tentar justificar o injustificável em ambos os casos em disputas eleitorais difíceis como serão as de seus candidatos à Presidência, ao governo do Paraná e também ao segundo cargo mais ambicionado pelos líderes petistas: o desejado e nunca conquistado Palácio dos Bandeirantes. A adoção da ‘tolerância zero’ nesses casos retira do caminho de Dilma Rousseff, de Gleisi Hofmann e de Alexandre Padilha dois obstáculos de significativas dimensões a superar na campanha. De acordo com os repórteres do Estado Bruno Ribeiro, Ricardo Galhardo e Daiene Cardoso, ‘a decisão teve o aval de todas as correntes do partido e ocorreu após consulta ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva’.
“Oxalá essa nova postura seja adotada como definitiva no futuro, não sendo apenas uma decisão pragmática para aliviar o ônus de seus candidatos em eleições. Afinal, a atitude saneadora da elite petista não é coerente com a leniência que a levou a conviver com alguém com a folha corrida de seu militante. Pois foi essa mesma direção partidária que agora o condena que aceitou a filiação no PT de Luiz Moura, que assaltou supermercados no Paraná e em Santa Catarina, foi condenado, preso e não cumpriu toda a pena que deveria ter cumprido porque fugiu da cadeia. Ainda assim, teve a petulância de se declarar ‘ficha-limpa’ em discurso de defesa ante um plenário de colegas que não ousaram contestá-lo. Durante seus três anos e meio na Assembléia, os companheiros de partido conviveram e foram coniventes não só com seu passado, mas também com as atividades que passou a desenvolver. Negligência e complacência levaram o problema que ele criou ao ponto a que chegou.” (Editorial, Estadão, 4/6/2014.)
Insistindo em rever a Lei da Anistia
* Para o PT, anistia é só para um dos dois lados
“O PT perde o pelo, mas não perde o vício. Como se já não houvesse motivos de sobra para a insatisfação popular difusa e generalizada que se manifesta diariamente, e quase nunca pacificamente, nas ruas, o comando do partido volta a insistir em recolocar na agenda política uma questão já consensualmente resolvida pela sociedade brasileira, mas que tem alto potencial de incandescência emocional: a revogação da Lei da Anistia.
“Reunida na segunda-feira (26/5) em Brasília, a Executiva Nacional do partido definiu as diretrizes do programa de governo petista. E incluiu entre elas a reivindicação da punição dos crimes praticados por agentes do Estado – e apenas estes – durante a ditadura militar, sob o argumento de que isso ajudaria a ‘impedir a continuidade dessas práticas nas Forças Armadas e de Segurança, na Justiça e no sistema prisional, na criminalização dos movimentos sociais e na discriminação contra camadas populares’.
“O acento palanqueiro-populista desse argumento escancara a principal característica de uma retórica que apela irresponsavelmente à cizânia, à divisão da sociedade brasileira entre ‘nós’ e ‘eles’, os bons e os maus, e que inclui entre estes últimos aqueles que ‘criminalizam’ os movimentos sociais e ‘discriminam’ as ‘camadas populares’. Ou seja, todos os malvados que cometem o crime de não ser petistas.
“Essa retórica eleitoral lulo-petista encarna um espírito diametralmente oposto ao da conciliação nacional que permitiu, 35 anos atrás, a transição pacífica do regime ditatorial para o democrático que viria a possibilitar, quase um quarto de século depois, a eleição de um ex-metalúrgico à Presidência da República.
“O retorno dos militares ao quartel e a consequente devolução à sociedade civil de, entre outros direitos, o de escolher nas urnas seus governantes, foi uma conquista das forças políticas que, em nome dessa sociedade, se reuniram numa frente ampla que, ao cabo de duas décadas de resistência, teve a capacidade de negociar com os então detentores do poder uma transição pacífica para a democracia.
“Foi uma luta facilitada, é claro, pela evidência de que o regime militar, cada vez mais repudiado pela consciência democrática do povo brasileiro, cedo ou tarde acabaria se rendendo ao desfecho de um processo de ‘distensão lenta e gradual’ iniciado, sob pressão popular, já no governo do general Ernesto Geisel.
“Esse processo só não se desenvolveu mais ampla e rapidamente porque algumas lideranças da frente ampla resistiram o quanto puderam a uma negociação da qual foi peça decisiva a Lei da Anistia, proposta ao Congresso no segundo semestre de 1979 pelo último presidente-general.
“E não foi por mera coincidência que essas lideranças que não desejavam a conciliação, mas o confronto, Lula à frente, se tornaram pouco tempo depois as fundadoras do Partido dos Trabalhadores.
“Já seria lamentável se essa renovada disposição do PT de tentar retomar a discussão da Lei da Anistia, no ambiente pouco sereno e racional dos palanques, apenas denunciasse o apego oportunista ao velho vício do confronto maniqueísta que é a marca registrada de Lula.
“A tentativa é, porém, mais um atentado ao espírito democrático da sociedade brasileira, que o PT não hesita em sabotar em benefício de sua obsessão de permanecer no poder a qualquer custo.
“De acordo com o secretário-geral do PT, deputado Geraldo Magela (DF), a revogação da Lei da Anistia é necessária porque ‘o Brasil precisa se reencontrar com a verdade histórica’. Uma verdade que está sendo diligente e eficientemente perseguida pela Comissão Nacional da Verdade e também por aquelas de âmbito estadual ou municipal. Mas o PT não se satisfaz com a verdade. Quer castigar aqueles que não foram punidos porque a sociedade brasileira decidiu anistiá-los num pacto que permitiu a reconquista pacífica do regime democrático.
“Para o PT, anistia não vale para todos. Só vale para os que cometeram crimes na luta contra a ditadura.” (Editorial, Estadão, 1º/6/2014.)
6 de junho de 2014
Outras compilações de provas da incompetência de Dilma e do governo:
Volume 130: Notícias de 31\1 a 6\2\2014,
Volume 131: Notícias de 7 a 13/2/2014.
Volume 132: Notícias de 14 a 20/3/2014.
Volume 133 (Parte Um): Notícias de 21 a 27/3/2014.
Volume 133 (Parte Dois): Notícias de 21 a 27/3/2014.
Volume 134: Notícias de 28/3 a 3/4/2014.
Volume 135 (Parte Um): Notícias de 4 a 10/4/2014.
Volume 135 (Parte Dois): Notícias de 4 a 10/4/2014.
Volume 136 (Parte Um): Notícias de 11 a 17/4/2014.
Volume 136 (Parte Dois): Notícias de 11 a 17/4/2014.
Volume 137: Notícias de 18 a 24/4/2014.
Volume 138: Notícias de 25/4 a 1º/5/2014.
Volume 139: Notícias de 2 a 8/5/2014.
Volume 140: Notícias de 9 a 15/5/2014.
O VELHO COMPLEXO DE VIRA LATAS.
Por Luciano Martins Costa em 04/06/2014 na edição 801 do Observatório.
A imprensa brasileira reproduz, na quarta-feira (4/6), resultado de pesquisa feita pelo Pew Research Center, um dos mais conceituados centros de pesquisa dos Estados Unidos. Cada um dos três principais diários de circulação nacional priorizou um subtema do estudo, dividido em quatro campos: a Copa do Mundo, a situação econômica do país, a reputação dos principais líderes políticos e o lugar do Brasil no mundo.
As conclusões são tiradas a partir de 1.003 entrevistas diretas com pessoas acima de 18 anos, entre os dias 10 e 30 de abril deste ano, e a margem de erro é de 3,8 pontos porcentuais. A consulta tem alcance restrito e pontual, seus resultados foram claramente influenciados pelo auge das manifestações contra a Copa e pelo noticiário negativo sobre a economia, além das denúncias de corrupção na Petrobras. Possivelmente por considerar esses aspectos, o Estado de S. Paulo e a Folha de S. Paulo deram pouca importância a ela.
O Estado escolheu o pessimismo com relação à economia como ponto mais importante da pesquisa, afirmando que a expectativa dos brasileiros desabou no período de apenas um ano, a partir das manifestações iniciadas em junho de 2013. Curiosamente, o tradicional jornal paulista relaciona os protestos à situação econômica, expondo um aspecto contraditório do estudo, ao observar que 72% citaram a suposta falta de oportunidade de trabalho, quando os dados do período apontam um índice de desemprego inferior a 6%.
A Folha de S. Paulo, com um texto menor e de menos destaque, concentra sua abordagem no tema da Copa do Mundo, retratando a falta de informação da maioria dos entrevistados sobre a organização do evento, seus custos e a participação do poder público.
O Globo é o jornal que explora mais o resultado geral da pesquisa, com manchete principal e reportagem de página inteira, na qual apresenta um dado que distorce a compreensão do estudo. “Brasil: 72% de insatisfação”, diz o título.
É o complexo de vira-latas rosnando mais uma vez.
Uma visão negativa
Quem quiser conhecer os dados completos e a análise oficial deve acessar o site do Pew Research Center (ver aqui). Ainda assim, é preciso manter o senso crítico, pois mesmo o texto original contém pelo menos um erro primário e algumas avaliações questionáveis.
Por exemplo, no primeiro parágrafo pode-se ler que “o humor nacional do Brasil está amargo, após um ano em que mais de um milhão de pessoas tomaram as ruas das principais cidades do país para protestar contra a corrupção, a inflação crescente e a falta de investimentos do governo em serviços públicos como educação, saúde e transporte público, entre outras coisas”.
Ora, todo cidadão que acompanhou com razoável interesse os protestos iniciados em junho do ano passado sabe que inflação não foi uma das motivações das passeatas, que começaram com o tema dos transportes públicos e depois se fragmentaram em reivindicações específicas. O que houve foi muita notícia tendenciosa sobre variações de preços, o que mostra que os analistas do Pew Center foram condicionados pelo noticiário catastrofista da imprensa.
A pesquisa aponta uma queda geral na credibilidade das instituições, entre as quais o poder público (representado pelo governo), a polícia, os militares, e a imprensa – que caiu 12 pontos porcentuais em sua reputação. As lideranças religiosas foram as únicas que não perderam a confiança da população, ganhando 2 pontos porcentuais em relação a estudo semelhante feito em 2010.
Os jornais, evidentemente, passam ao largo da informação sobre a queda de sua própria credibilidade, embora se pudesse questionar esse dado, uma vez que se revela a forte influência do noticiário pessimista sobre o estado de ânimo da sociedade.
Outro aspecto interessante a se destacar é o fato de que a presidente Dilma Rousseff aparece com popularidade em declínio, embora conte com 51% de avaliações favoráveis, mas seus principais oponentes na disputa eleitoral são ainda mais rejeitados pela amostragem consultada: o senador Aécio Neves (PSDB) tem 53% de desaprovação, com 27% de simpatizantes, e o ex-governador Eduardo Campos é rejeitado por 47%, contra 24% de pessoas que o julgam favoravelmente.
Conclusão: o Estado e a Folha perceberam a irrelevância da pesquisa, e o Globo usa dados que retratam uma circunstância superada para justificar sua visão negativa da situação nacional.
CONTAGEM REGRESSIVA,
FALTAM APENAS 210 DIAS PARA O FIM DAS MÁS NTÍCIAS.
NOSSO MEDO É O CONTINUISMO COM A DILMA, NOSSO MEDO É O RETROCESSO COM AÉCIO.
Pior, se a Dilma ganhar o compilador do PIG vai para DUBLIN.
MEU PERSONAGEM DA SEMANA!
WILLIAN WAAK
Tem quatro livros publicados e já venceu duas vezes o Prêmio Esso de Jornalismo: pela cobertura da Guerra do Golfo (1991) e por ter revelado informações sobre a Intentona Comunista de 1935, até então mantidas sob sigilo nos arquivos da antiga KGB em Moscou (1993).
Desde 1996, trabalha para a TV Globo e voltou ao Brasil em 2000.
A Rede Record foi condenada pela Justiça a pagar 50.000 reais a William Waack por danos morais, por sugerir que ele fosse espião dos Estados Unidos em matéria do jornal R7, baseada em telegramas diplomáticos dos Estados Unidos vazados pelo WikiLeaks, onde William Waack é explicitamente referido como “informante”.