Locke é cinema em alta voz

Se nunca viram um filme em alta-voz, expe­ri­men­tem. Esque­çam o 3D, o Imax e cor­ram a ver Locke, pequena, monó­tona e exal­tante obra-prima. Em Under the Skin e Blue Ruin, os mais belos fil­mes de estreia do ano, os car­ros eram pro­ta­go­nis­tas, uma ope­rá­ria Ford Tran­sit com a que já sabem Scar­lett ao volante, um arrui­nado Pon­tiac que ter volante já era uma sorte. Continue lendo “Locke é cinema em alta voz”

O ouvido fino do meu pai

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Sean Con­nery pai ou Har­ri­son Ford filho guiam com estilo a moto e side­car de Indi­ana Jones. Deviam ver-te, pai, a ras­ga­res, na tua BSA, ao sol e à brisa dessa Angola que era e não era nossa. Levavas-me ao Liceu, ao Morro da Lua, à pesca ao Cacu­aco. E agora? Não sei por onde andas, pai. Continue lendo “O ouvido fino do meu pai”

O elogio da vingança

Está muito bem, deve­mos amar o pró­ximo como a nós mes­mos, prodigalizar-lhe fes­ti­nhas e ame­ni­da­des, mas uma sucu­lenta e farta vin­gança, senho­res! Olho por olho, dece­par um braço, ser­rar uma perna a um ini­migo, a um des­ses filhos da mãe que nos lixou a vida, que nos ati­rou os sonhos para a mais escusa das cata­cum­bas, oh meu Deus, isso reju­ve­nesce o mais aca­bado e põe um capi­toso cham­pa­nhe nas veias do mais diluído dos seres humanos. Continue lendo “O elogio da vingança”

Vi a Ford Transit de Scarlett Johansson em Telheiras

Film Review Under the Skin

Que John Fitz­ge­rald Ken­nedy não me venha per­gun­tar o que é que eu posso fazer por Scar­lett Johans­son. Sem­pre me per­gun­tei o que é que Scar­lett Johans­son pode­ria fazer por mim e Jonathan Gla­zer deu-me agora a resposta. Continue lendo “Vi a Ford Transit de Scarlett Johansson em Telheiras”

Detestava Hemingway e Huston sabe Deus

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John Ford detes­tava Hemingway e gos­tava razo­a­vel­mente da escrita com­plexa de Faulk­ner. O irlan­dês Liam O’ Flaherty era o seu escri­tor favo­rito. Era primo dele e Ford adaptou-lhe um romance de cora­gem e dela­ção, o The Infor­mer. Em Hemingway, o incó­modo vinha do lou­vor fácil a uma certa mito­lo­gia mas­cu­lina, estra­nha a Ford. Continue lendo “Detestava Hemingway e Huston sabe Deus”

O penico da rainha e a Cinemateca

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O pri­meiro a falar de peni­cos, e evo­cou o da Madame de Pom­pa­dour, foi Anto­ni­oni. Estava de visita à Cine­ma­teca. Luís de Pina, o direc­tor, colec­ci­o­nava mini­a­tu­ras. Mas o João Bénard lembrou-se de um, autên­tico, uma pre­ci­o­si­dade do Palá­cio da Pena, em Sin­tra. De louça por­tu­guesa, a rai­nha Dona Amé­lia guardava-o onde ainda hoje está, debaixo da cama. Par­ti­mos em roma­ria turística. Continue lendo “O penico da rainha e a Cinemateca”

Mickey, o rato que já não anda por aí

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Anda por aí um Rato com o nome dele. Mic­key Roo­ney nas­ceu atrás de um palco, nos bas­ti­do­res de um tea­tro. A mãe era bai­la­rina, ou melhor, e se não for­mos dos que têm a mania de andar sem­pre em pon­tas, era corista. O pai, um Homem Banana, cómico que, se que­ria que o público se risse, tinha de dar o corpo ao mani­festo. Continue lendo “Mickey, o rato que já não anda por aí”

A mulher nua

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Em con­vul­são meta­fí­sica ou embalo esté­tico, o cinema gosta da mulher nua. Fruto de minu­ci­osa inves­ti­ga­ção, deixo-vos uma lista de temas, situ­a­ções e luga­res que os fil­mes usa­ram como des­culpa para a despir. Continue lendo “A mulher nua”

Um calor selvagem nas bochechas

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Não gosto do amor fun­da­men­ta­lista ao cinema, não gosto do amor de xius e sibi­la­dos shhhs no escuro da sala, não gosto do espec­ta­dor erecto por ter um garfo espe­tado já se sabe onde, não gosto do espec­ta­dor com olhar devoto a babar meta­fí­sica a cada rac­cord, a cada trou­vaille de mise-en-scène.

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Tempestade sobre Lisboa

zzmanuel1

Não acho nada que Natal seja quando um homem qui­ser. Os Natais da minha infân­cia tinham data e mais data pas­sa­ram a ter quando vivi Natais ango­la­nos em cená­rio de catás­trofe. O con­flito, a vivên­cia extrema, enchem qual­quer Natal de estre­las tra­ce­jan­tes, de anjos desa­bri­ga­dos a que fal­tam as asas, às vezes uma perna ou um braço. Continue lendo “Tempestade sobre Lisboa”