Mickey, o rato que já não anda por aí

zzmickey

Anda por aí um Rato com o nome dele. Mic­key Roo­ney nas­ceu atrás de um palco, nos bas­ti­do­res de um tea­tro. A mãe era bai­la­rina, ou melhor, e se não for­mos dos que têm a mania de andar sem­pre em pon­tas, era corista. O pai, um Homem Banana, cómico que, se que­ria que o público se risse, tinha de dar o corpo ao mani­festo. Mic­key, aos 17 meses de idade, já estava em cima de um palco, a fazer o mundo bater pal­mas e sol­tar gar­ga­lha­das. Até já não se aguen­tar de pé, foi um palco de que nunca mais saiu.

E minto. Saiu oito vezes. Para se casar. Terá saído outras tan­tas, para se divor­ciar. Roo­ney tinha um metro e cin­quenta e sete de altura. Tal­vez mais meio cen­tí­me­tro que não era, de cer­teza, o meio cen­tí­me­tro que fazia a dife­rença. Actor-criança de Hollywood, tal como Shir­ley Tem­ple e Judy Gar­land, Roo­ney foi um caso esma­ga­dor de sucesso. Número um de box office de 1939 a 41. De um sucesso des­ses não há saída limpa.

Mic­key locupletou-se com esse sucesso, casando-se com as mulhe­res mais belas da Cri­a­ção. Estreou-se, Deus seja aben­ço­ado, com Ava Gard­ner. Dois anos depois, num bar, após sete (ou dezas­sete) bour­bons bem avi­a­dos, pediu a mão, logo a aper­tando, a uma Miss Ala­bama. Fize­ram qua­tro filhos e adeus. Mic­key era um velo­cís­simo rato matri­mo­nial e seis horas depois de ter assi­nado o divór­cio de Miss Ala­bama já dava o nó com Martha Vic­kers, de quem não se esquece quem tenha visto o Big Sleep onde era a irmã nin­fo­ma­níaca de Lau­ren Bacall. Con­ti­nuar é repetir-me. Oito casa­men­tos, nove filhos e não se casou com a mulher que mais amou, Judy Gar­land, seu par de meia dúzia de fil­mes, alguns diri­gi­dos pelo genial Busby Ber­ke­ley. Vejam Babes in Arms: está lá o amor deles. É um amor MGM, celes­tial, fra­ter­nal, um incu­rá­vel amor bebé.

Mas o que eu que­ria dizer é que o metro e cin­quenta e sete de Mic­key era puro talento. Can­tava, dan­çava, podia falar como uma metra­lha­dora, fazer mímica, ser menino eterno. Vejam por favor – até pode ser no You­tube – o Mid­sum­mer Night’s Dre­ams em que Max Rhei­nhardt fez dele Puck, o duende, o jogral, que jorra vita­li­dade sobre o mais oní­rico, eva­nes­cente e funam­bú­lico Sha­kes­pe­are do cinema. Rhei­nhardt disse que ele era assom­broso. Lau­rence Oli­vier e Mar­lon Brando jura­ram que era o melhor actor do cinema. Deve ser ver­dade, por­que até Walt Dis­ney lhe rou­bou o nome para o dar a um Rato que anda por aí.

Este artigo foi originalmente publicado no semanário português O Expresso.

manuel.s.phonseca@gmail.com

Manuel S. Fonseca escreve de acordo com a antiga ortografia.

Na foto, Mickey Rooney e a primeira de suas oito mulheres, Ava Gardner.

Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *