Flagelação masoquista

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Não se procure nos filhos o que muito admirámos nos pais. Era o que eu devia ter pensado, quando o filho de Buñuel veio ilustrar o ciclo que dedicávamos ao pai recentemente morto. E seja como for, nem eu, nem ninguém pensou coisa nenhuma, de esgazeados que ficámos com a plenitude e a pele Channel de Carole Bouquet, a outra «ilustração» da retrospectiva em que meia Lisboa viu religiosamente os filmes do bispo do ateísmo chamado Buñuel. Continue lendo “Flagelação masoquista”

Banhos turcos

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Cinco da tarde é uma bela hora para se cortar o cabelo, pensou Frank Capra, a 10 de Março de 1933. Foi, portanto, cortar o cabelo, sacudindo a chatice das reuniões entre um comité da Academia de Hollywood e um comité de trabalhadores dos estúdios para discutir cortes salariais, à conta do fecho por vários dias de todos os bancos americanos, ditado pelo Emergency Bank Act de Roosevelt, moratória que faria estremecer de felicidade Costa e Centeno. Continue lendo “Banhos turcos”

Eisenstein à Gomes de Sá

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Vou já falar de bacalhau, mas começo com uma afirmação séria: a obra cinematográfica de Eisenstein fez-se sob o signo da encomenda. Os cineastas americanos do seu tempo, dos anos 20 aos 40, recebiam encomendas de produtores como Zukor, Thalberg, Jack Warner ou Samuel Goldwyn. Eisenstein trabalhou muito com um produtor chamado Josef Estaline. Continue lendo “Eisenstein à Gomes de Sá”

A tenra inclinação de Chaplin

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Já digo quem é, mas apanhei-o a falar e não o quero interromper: “Ela era uma grande e bela mulher com uns vinte e dois anos muito bem construídos. Tinha umas abóbadas superiores imensamente expansivas que o décolleté muito profundo do vestido de Verão tornava aliciantes e que, enquanto a conduzia a casa, desencadearam a minha mais libidinosa curiosidade…Continue lendo “A tenra inclinação de Chaplin”

Uma cama perversa

Já sabemos que isto com a América não vai lá com paninhos quentes. Bem pode a inspirada França inventar o cinema que a invenção acaba no colo americano.

Eu jurarei sempre pelos irmãos Lumière, mas Thomas Edison reclama, com tanto vasto descaramento como razão, ter sido o primeiro. Continue lendo “Uma cama perversa”

Salazar meets Estaline

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Quando se pronuncia solenemente a palavra censura quem mama são sempre os mesmos. Primeiro, os nossos censores fascistas que tanto cortavam beijos como a nua palavra liberdade, mas se deixaram enganar pelas maminhas da Romy Schneider, que desabrocharam, antes do 25 de Abril, quando o velho ecrã do Tivoli acolheu A Piscina. A seguir, recrimina-se o torpe bando americano, organizado numa Legião da Decência, que ajudou Hollywood a fazer o Código Hays. Um dos seus membros resumiu, em aforismo que tem um je ne sais pas quoi de Sigmund Freud, a filosofia da coisa: “Pagam-nos para termos mentes sujas.” Continue lendo “Salazar meets Estaline”

It’s beyond my control

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Na crónica passada falei de Dangerous Liaisons, de Stephen Frears, e da tumultuosa paixão que Michelle Pfeiffer e John Malkovich mantiveram durante o filme. Ele era o perverso e corruptor Visconde de Valmont, ela era a virtuosa e finalmente corrompida Madame de Tourvel, personagens roubadas ao romance de Laclos. Continue lendo “It’s beyond my control”

A invenção do cinema americano

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“Se não podes destruir um monopólio, junta-te a ele: se não te podes juntar a ele, destrói-o.” O lema é de Adolph Zukor, judeu húngaro que chegou à América com 15 anos, órfão e 40 dólares cosidos ao forro de um fato que lhe tinham dito para nunca despir na viagem. Chegou, tirou a roupa e tomou um banho. A banheira tinha água corrente. Não se espantou: “Eu estava preparado para milagres.” Continue lendo “A invenção do cinema americano”