Steve Rowland já tinha as calças bem puxadas para baixo quando descobriu quem ela era. Steve estava de corpo curvado, a cintura das Levis a passar os joelhos, o rabo graciosa e expectantemente erguido, e soube então quem ela era. Continue lendo “Veste-me essas calças!”
O colonialismo caiu na lama
Caí. Foi a minha primeira queda dos 60 anos. Ainda ia no ar e já um coro impudico do passado me azucrinava os ouvidos com a velha frase que tanto cantei nos comícios do Lobito e de Luanda: o colonialismo caiu na lama. Continue lendo “O colonialismo caiu na lama”
Marxismo-Marilynismo
Ainda está vivo o moço que nos anos 60 foi entregar mercearias a um apartamento de Manhattan e a quem uma distraída mulher agarrada a um ruidoso aspirador disse: “Ponha aí.” De boca aberta, ele percebeu que era, e não podia ser, Marilyn Monroe. “É a Marilyn?”, perguntou-lhe. “Sim, às vezes sou eu. E tu quem és?” Continue lendo “Marxismo-Marilynismo”
A língua de Einstein
Temos presente a mais e o tempo, este tempo, é um cárcere. Sou inábil e inepto para o explicar, mas sei que a seta do tempo não existe. O passado está sempre a irromper no presente e o futuro já aconteceu. Acordam-nos pela manhã os nossos mortos e já dormimos há muito tempo com o amor que ainda nem conhecemos. Continue lendo “A língua de Einstein”
Quem matou o homem?
Foi a secretária que matou o homem. Ali, onde o homem moderno morreu, qualquer Tarzan morria. As políticas de género pós-modernas podem andar a gabar-se, agitando a desenfreada certidão de óbito, mas, digo eu, têm fraco killer instinct. Continue lendo “Quem matou o homem?”
O pecado e a mulher jovem
Raymond Chandler foi virgem até aos 32 anos. É sabido que o virgem tardio reverencia a mulher mais velha. Chandler entregou o seu puro ceptro a uma mulher de 50 anos. Raymond conhecia tudo da vida, a violência doméstica, a universidade, o poema, a guerra, o trabalho de contabilista, menos uma coisa, a mulher nua. Continue lendo “O pecado e a mulher jovem”
Os meus sentimentos
Queria dizer os meus sentimentos, como se dizia, de negro, na aldeia beirã onde nasci. E são tantos os sentimentos. De admiração e orgulho por João Lobo Antunes, que nunca conheci. Dele sei esse desfile de méritos e talento que os jornais voltaram agora a publicar e que, por felicidade, ele escutou em vida com o pudor que era sua natureza. Continue lendo “Os meus sentimentos”
Pílulas
Sou um fanático da pílula. E há pílulas de humor – frases ácidas, episódios insólitos – que, na sua concisão e surpresa, valem mais do que qualquer crónica. Vamos, então, às pílulas: Continue lendo “Pílulas”
O morto orgulhoso
Matou-o uma mesinha-de-cabeceira. A trivialidade de um facto destes põe-nos um esgar cínico nos lábios. Deixamos de querer a mesinha-de-cabeceira na nossa vida. Continue lendo “O morto orgulhoso”
O amor alemão
Não foi com passos de traição à pátria que Francis Coppola e George Lucas entraram no átrio do Hotel Lancaster, em Paris. Mas punham os pés no mesmo chão que Arletty pisara a caminho da prisão. Coppola aceitara uma entrevista comigo, e Lucas apareceu como bónus, cada bolso dele a valer um milhão de dólares, frisou Francis. Continue lendo “O amor alemão”
É só fumaça
Bardamerda pró fascista. Se fosse vivo, e o saudoso almirante lhe cedesse os direitos da inocente frase, o patrão Harry Warner, um dos irmãos fundadores da Warner Bros, teria como se defender do jovem crítico politizado. Continue lendo “É só fumaça”
O futuro é um vício
Conheço muito bem o futuro. E desta vez desminto o título desta coluna: não foi o cinema, foi a vida que me ensinou o futuro. Continue lendo “O futuro é um vício”
Um copo e duas gotas
Estou disposto a cantar os mil e um beijos na boca que foram dados por causa de uma flûte de champanhe. Mais do que vir aqui pagar essa dívida libidinosa da humanidade, deixem que me ajoelhe e reze a outra flûte, a flûte ideológica. Continue lendo “Um copo e duas gotas”
Último suspiro e um caixão
Só se pode matar quem é mesmo bom. Explico-me recorrendo à única ciência universal: a de que o cinema é que explica a vida. Continue lendo “Último suspiro e um caixão”
A cabra e a confiança
O cronista Nelson Rodrigues não tem culpa nenhuma, mas a cabra vadia tomou conta de nós. Nelson teria gostado muito de Samuel Goldwyn, se o tivesse conhecido. Judeu nascido Gelbfisz na Polónia, passou a Goldfish em Inglaterra e fez-se Goldwyn e produtor em Hollywood. Ora Goldwyn não queria cá saber da cabra vadia: nunca se deixou atormentar pela dúvida que hoje nos corrói a confiança. Continue lendo “A cabra e a confiança”