Na semana que se seguiu à destrambelhada declaração da presidente da República em Durban, na África do Sul, os jornais mostraram duas fascinantes reações de brasileiros comuns, gente que nem a gente, à escalada da inflação.
A declaração da presidente – é sempre bom lembrar dela – foi a seguinte:
“Não concordo com políticas de combate à inflação que olhem a redução do crescimento econômico. (…) esse receituário que quer matar o doente em vez de curar o doente, ele é complicado, você entende? Eu vou acabar com o crescimento do país.”
Arcangelo Sforcin Filho, no Fórum de Leitores do Estadão, escreveu uma frase que não chega a ser novidade – a comparação já foi feita por economistas e jornalistas econômicos –, mas é contundente, forte, cortante como peixeira de baiano: “Aceitar ‘um pouco de inflação’ é o mesmo que estar um pouco grávida ou dizer a um alcoólatra que beba somente uma dose de pinga por dia.”
Augusto Melo, dono da Nello’s, uma tradicional cantina de Pinheiros, em São Paulo, tomou uma decisão tão contundente, forte, quanto a frase do leitor. Depois que a caixa de tomates de 20 quilos, que custa normalmente entre R$ 20 e R$ 35 no mercado atacadista, chegou a R$ 180, ele tirou o tomate do cardápio – e o tomate, na cozinha italiana, todos sabemos, é tão fundamental quanto o arroz e o feijão nos PFs dos bares e restaurantes populares brasileiros.
Em editorial, O Globo escreveu: “A previsão de que 2013 seria um ano em que o Banco Central precisaria ter sangue frio se confirma, e é até mais ampla: o próprio país precisa manter os nervos sob controle, pois, como esperado, a inflação deverá superar o teto da meta de 6,5%, e o BC faz o possível para retardar ao máximo o aumento da taxa básica de juros, hoje em 7,25%.”
O leitor e o dono de restaurante são boas amostras de que está difícil manter os nervos sob controle.
Nestes últimos dois anos e três meses, o governo tem dado mais importância à queda dos juros e às desonerações seletivas de impostos, na tentativa de ficar livre dos pibinhos, do que à alta da inflação. Contra a inflação, tem usado artifícios, quebra-galhos, puxadinhos, como segurar artificialmente o preço da gasolina e pedir a ajuda de prefeitos das duas maiores metrópoles do país para não aumentar as passagens de ônibus.
Como economistas e jornalistas que cobrem economia dizem e repetem, não adianta segurar artificialmente a inflação, porque, como água morro abaixo, ela acabará explodindo.
Quanto tempo será que vai levar até o governo apelar para o desastre absoluto de tabelar o preço do tomate?
Aí vai a 93ª compilação de notícias e análises que comprovam a incompetência do lulo-petismo como um todo e do governo Dilma Rousseff em especial. Foram publicadas entre os dias 29 de março e 4 de abril.
A inflação
* A inflação está perigosamente andando no teto da meta. E o governo erra
“A inflação está alta, o governo passa mensagens ambíguas sobre que prioridade tem o combate à inflação na política econômica; há dúvidas sobre a autonomia do Banco Central, e parte da alta de preços tem sido camuflada ou adiada. Mesmo assim, a taxa vai estourar o teto da meta no trimestre que começa semana que vem. E é esta a maior ameaça ao crescimento.
“A presidente pode ficar brava com a maneira como a sua frase foi noticiada, mas o que ela disse foi exatamente isso: ‘eu não concordo com políticas de combate à inflação que olhem a questão da redução do crescimento econômico’. Essa era o final de uma declaração que ela havia começado dizendo que era o ministro da Fazenda quem falava sobre a inflação e que terminou criticando ‘o remédio que mata o paciente’.
“Três erros. Primeiro: o Banco Central é o responsável pelo cumprimento das metas de inflação, e o ministro da Fazenda deve cuidar da política fiscal, suporte indispensável de qualquer estabilidade. Segundo: é exato o oposto do que a presidente disse. O que deveria causar a ela incredulidade é a possibilidade de manter o crescimento num ambiente de alta de inflação. E terceiro, em inflação não usar remédio é que ameaça o paciente.
“Por sua natureza, a inflação, quando sobe, consome renda e capacidade de consumo, desorganiza a economia, aumenta a incerteza e isso leva à retração dos investimentos. Uma inflação baixa e previsível é o melhor ambiente para a construção de um projeto de crescimento.
“Mas isso o governo sabe. Tanto que o relatório de inflação de ontem (28/3) diz exatamente isso. ‘O Copom ressalta que a evidência internacional, no que é ratificada pela experiência brasileira, indica que taxas de inflação elevadas geram distorções que levam a aumentos de riscos e deprimem os investimentos.’ Diz também que ‘taxas de inflação elevadas subtraem o poder de compra dos salários’.
“Não adianta escrever isso e entrar no terceiro ano repetindo que não é realista levar a inflação de volta a 4,5% como fez ontem de novo, reproduzindo o mesmo raciocínio da primeira ata do Copom do governo Dilma. O fato é que nos anos Dilma a inflação ficou mais alta, e o Banco Central aceita que ela se acomode em ponto perto do teto da meta. Os economistas que defendem o governo gostam de lembrar que está havendo choques de preços — a seca dos Estados Unidos do ano passado, por exemplo. Sim, tem havido choques de preços. É por isso que tem que se voltar com a meta para o centro, para que o espaço de flutuação cumpra o seu papel de absorver esses impactos. Se ficar sempre no teto, ou acima, o choque levará para cada vez mais alto o índice de preços. De um relatório a outro, a previsão da inflação do ano pelo Banco Central — cenário de referência — aumentou quase um ponto percentual. Ele registra isso e repete que é devido aos ‘choques’.
“Parafraseando João do Vale em Carcará, a inflação é ‘um bicho que avoa que nem avião’. Por isso, é preciso ser contida e quanto mais cedo melhor, porque ela é um predador, como sabemos. Não está fora de controle, mas está alta demais em que qualquer descuido a fará fugir ao controle e subir.
“Não adianta muito garantir que a estabilidade é um valor em si para o governo, se nos seus atos — e várias palavras — ele demonstra o oposto. A inflação tem estado constantemente acima do centro da meta, e isso apesar das medidas tomadas de postergação de correções de preços que servem apenas para mascarar o problema.
“A pedido da coluna, a analista Adriana Molinari calculou quanto seria a inflação sem alguns dos truques do governo. Em fevereiro, por exemplo, teria sido de 1%, o que elevaria a taxa anual para 7,08%. Um desses truques é postergação de aumentos, como o de ônibus, o outro é o da redução da energia, que todos sabem que será neutralizado em grande parte pelo uso das térmicas. O economista Elson Teles, do Itaú Unibanco, acha que alimento em casa deve estar em 15%, em doze meses, neste mês de março. O país está atravessando um período em que naturalmente alimento pesa muito pela alta dos preços de legumes, verduras e frutas.
“Independentemente das explicações localizadas, das altas sazonais, o fato é que a inflação está perigosamente andando no teto da meta e, na prática, poderia já ter estourado. O risco é alto. E quando o governo tem que passar um dia inteiro explicando uma declaração é que ela foi infeliz.” (Míriam Leitão, O Globo, 29/3/2013.)
* A presidente poderia aprender algumas coisas, se lesse o relatório do Banco Central
“A economia brasileira crescerá 3,1% neste ano, com inflação de 5,7%, muito acima dos 4,8% projetados no fim de 2012, segundo as novas estimativas do Banco Central (BC). Os preços continuarão subindo bem acima da meta, de 4,5%, pelo menos até o primeiro trimestre de 2015, de acordo com o Relatório de Inflação, um panorama divulgado a cada três meses pelo BC. Rico de informações e projeções sobre a economia nacional e os mercados globais, esse estudo seria, no entanto, mais completo, e muito mais realista, se incluísse uma seção especial sobre as intervenções desastradas da presidente Dilma Rousseff na política de contenção de preços. A última interferência notável ocorreu na quarta-feira, véspera da publicação do relatório. O palavrório estabanado da presidente, numa entrevista em Durban, na África do Sul, provocou tensão no mercado financeiro, seguida de explicações oficiais, desmentidos e uma reação irada da própria Dilma.
“‘Foi uma manipulação inadmissível de minha fala’, disse a presidente, numa vã tentativa de atribuir a outras pessoas o próprio erro. Não houve manipulação. Durante o dia todo as emissoras de televisão reapresentaram a desastrada fala presidencial sobre a ‘política superada’ de combate à inflação. Sua declaração foi interpretada, como era de esperar, como condenação do uso dos juros no combate à inflação. Nenhuma outra interpretação seria mais compatível com o discurso habitual de quem apresenta como conquista do governo a redução dos juros básicos.
“O presidente do BC, Alexandre Tombini, foi mobilizado para cuidar do estrago. Em entrevista ao Broadcast, serviço de informação em tempo real da Agência Estado, ele tentou desfazer o ‘mal-entendido’. Afirmou o compromisso da presidente com o combate à inflação como ‘um valor em si’, negou a tolerância à inflação e acrescentou uma explicação tão importante quanto tardia: ‘De inflação fala a equipe econômica. Em relação à política de juros fala o BC’. Mas esta é a mais perfeita negação do comportamento habitual da presidente e também do ministro da Fazenda. Sobram razões para ninguém levar a sério, desde o começo do atual governo, o discurso oficial sobre a autonomia do BC.
“O escorregão presidencial já seria bastante grave, e até grotesco, se o episódio tivesse terminado na quarta-feira. Seria difícil, no entanto, apagar em tão pouco tempo as impropriedades ditas em tom professoral pela presidente da República. Ela tentou provar seu ponto de vista apontando o contraste do baixo crescimento econômico do ano passado com a inflação próxima de 6%. Segundo ela, a alta de preços decorreu de um fator externo e fora do controle do Brasil – a alta das cotações das commodities. Qual teria sido o crescimento – esta é a pergunta implícita – se os juros tivessem subido?
“É uma argumentação ingênua, incrivelmente inepta e desmentida no Relatório de Inflação divulgado ontem. Ao mencionar a resistência da inflação, o documento cita a alta de preços do setor de serviços (8,66% nos 12 meses até fevereiro), ‘a maior dispersão recentemente observada’ nos aumentos de preços ao consumidor, além de ‘pressões sazonais e pressões localizadas no segmento de transportes, entre outros fatores’.
“Faltou acrescentar: o encarecimento dos serviços e a dispersão dos aumentos são claros indícios de inflação de demanda, sustentada por fatores também citados no relatório, como a geração de emprego e renda e a expansão do crédito (moderada, segundo o BC, mas nem tanto). Falta uma ressalva. Não se pode chamar de ‘recente’ a dispersão dos aumentos, há muito tempo destacada pelos analistas independentes.
“Para completar, o relatório contesta a oposição simplória entre crescimento econômico e combate à inflação. Segundo o documento, a evidência internacional, ratificada pela experiência brasileira, aponta distorções graves resultantes da inflação elevada. Essas distorções aumentam os riscos e deprimem os investimentos, encurtando os horizontes de planejamento das famílias, empresas e governos e reduzindo a confiança dos empresários. Em suma, taxas altas de inflação ‘reduzem o potencial de crescimento da economia’ e as possibilidades de geração de emprego e renda. Esse relatório seria uma leitura instrutiva para a presidente.” (Editorial, Estadão, 29/3/2013.)
* Uma cachacinha para o alcoólatra
“Aceitar ‘um pouco de inflação’ é o mesmo que estar um pouco grávida ou dizer a um alcoólatra que beba somente uma dose de pinga por dia.” (Arcangelo Sforcin Filho, Fórum dos Leitores, Estadão, 31/3/2013.)
* Inflação dos alimentos afeta mais os mais pobres
“O aumento dos preços dos alimentos ao longo dos últimos meses vem tirando o fôlego e comprometendo a capacidade de compra de um grupo em especial: o consumidor de baixa renda. Para esse segmento, base da festejada ‘nova classe média’, a inflação pesa mais.
“O indicador que mede a variação de preços em 12 meses para as famílias com ganho mensal de até 2,5 salários mínimos, em fevereiro, foi de 6,94%, nível superior ao da média dos brasileiros, que registrou 6,04%.
“A diferença da inflação por classe de renda ocorre, na verdade, desde julho do ano passado. A Fundação Getúlio Vargas (FGV), que calcula o Índice de Preços ao Consumidor – Classe 1 (IPC-C1, a chamada inflação da baixa renda) e o Índice de Preços ao Consumidor – Disponibilidade Interna (IPC-DI), vem registrando o deslocamento.
“Isso acontece porque os preços dos alimentos adquiridos pelos consumidores de rendimento mais baixo dispararam. Para a população mais pobre, 30% do salário são destinados às compras de supermercado, enquanto para a média dos brasileiros os alimentos representam 20% das despesas. Nos 12 meses encerrados em fevereiro, último indicador divulgado, a inflação dos alimentos variou 13,94% no IPC-C1 e 12,29% no IPC-DI.
“A inflação para a baixa renda passou a ser mais sentida neste início de ano, com o fim de alguns programas de incentivo ao consumo, como a isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados para bens duráveis. Mas o maior peso vem dos alimentos e a tendência, segundo o economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre)da FGV, é que a alta de preços desses produtos perca o fôlego daqui para frente. Com isso, diz Braz, a baixa renda pode ter um alívio nos próximos meses.” (Fernando Nunes, Estadão, 1º/4/2013.)
* “A mistura inflamável de inflação com reeleição”
“A previsão de que 2013 seria um ano em que o Banco Central precisaria ter sangue frio se confirma, e é até mais ampla: o próprio país precisa manter os nervos sob controle, pois, como esperado, a inflação deverá superar o teto da meta de 6,5%, e o BC faz o possível para retardar ao máximo o aumento da taxa básica de juros, hoje em 7,25%.
“O presidente do BC, Alexandre Tombini, esteve ontem (terça, 3 /4) no Senado e repetiu o discurso clássico de que o compromisso da instituição é com a meta de 4,5%. Não poderia ser diferente. E que o ‘instrumento de política monetária’, os juros, será usado para fazer a taxa de inflação convergir para a meta, assim que o BC considerar necessário. Por suposto. À medida que o tempo passa, porém, e depois que governo e PT anteciparam a campanha eleitoral de 2014, análises de cenários econômicos precisam levar em consideração as urnas. E parece evidente que o governo Dilma, a esta altura, não se lançará num combate à inflação com o vigor necessário. É revelador, neste sentido, que o presidente do BC, quando Dilma, na África do Sul, depois de defender a prioridade do crescimento sobre o controle da inflação, tentou consertar a derrapagem, tenha previsto que também em 2014 a inflação estará acima dos 5%.
“Nos quatro anos de governo, Dilma terá mantido os preços rodando bem acima da meta, que é de 4,5%, com dois pontos de margem de tolerância, acima e abaixo. Reforçam-se os temores de que, na prática, o governo reviu a meta, criando uma nova, na faixa dos 5,5%, taxa muito elevada em escala mundial, mais ainda para uma economia com conhecidos mecanismos de indexação (contratos de aluguel, etc). O irônico é que os ‘desenvolvimentistas’ sempre justificaram a inflação como contrapartida de um crescimento vigoroso. Mas este não existe.
“O governo Dilma vive o grande dilema político-eleitoral: agir logo para cortar o fôlego da inflação e correr o risco de aumentar o arsenal da oposição, ou deixar como está e esperar o primeiro ano de um segundo mandato para fazer um ajuste com firmeza, como o executado por Lula/Palocci em 2003.
“É grande a tentação de manter o mercado de trabalho aquecido, o desemprego pouco acima de 5%, considerado a principal explicação para os altos índices de popularidade da presidente. Mesmo que a pressão sobre o custo dos empregadores ajude a inflação e reduza a produtividade da indústria, já em queda.
“Se não é simples o cenário econômico-eleitoral à frente do Planalto, também preocupa o de 2015. Defensores do governo acusam os críticos da leniência com a inflação de quererem condenar o pobre que passou a tomar banho com sabonete de marca a voltar ao sabão em barra.
“Mas isso também acontecerá pela perda de poder aquisitivo que a inflação já impõe às famílias de renda mais baixa.” (Editorial, O Globo, 3/4/2013.)
O Brasil não está enchergano bem
* ‘Nós pega o peixe e entrega ao pastor’, reza a norma culta do governo popular
“Há uma grita injustificada no caso das provas semianalfabetas do Enem. Não dá para entender tanta indignação. Há anos o governo popular vem preparando o Brasil para a grande revolução educacional, pela qual a norma culta se norteará pelo português falado nas assembléias do PT.
“Como se sabe, depois de uma blitz progressista da presidente Dilma Rousseff e do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, livros didáticos passaram a ensinar que é certo escrever ‘nós pega o peixe’, entre outras formulações revolucionárias. Alguns especialistas teriam argumentado que o certo seria ‘nós rouba o peixe’, mas isso já é discussão interna deles.
“Numa das redações que levaram nota máxima no Enem, o candidato escreveu ‘enchergar’ – com ‘ch’ em vez de ‘x’. Não há reparo a fazer, está perfeito o critério. Depois de três anos deixando o Enem à mercê dos picaretas, pois estava muito ocupado com sua agenda eleitoreira, Haddad elegeu-se prefeito.
“Um fenômeno desses jamais aconteceria num país que enxerga – só num país que “encherga”. Está corretíssima, portanto, a observação por parte do estudante da nova norma culta.
“Os que vêem algum erro nisso não sabem acompanhar as velozes mudanças da língua, comandadas pela nova elite. O relato de Dilma Rousseff sobre seu encontro com o papa Francisco também mereceria nota máxima no Enem. Contou a presidente: ‘Ele estava me ‘dizeno’ que espera uma presença grande dos jovens (na Jornada da Juventude), na medida em que ele é o primeiro papa, ele é várias coisas primeiro’. Os corretores progressistas do Enem só dariam nota 1.000 a uma construção dessas porque não existe 1.001.
“O novo recorde de aprovação que acaba de ser batido pelo governo e pela ‘presidenta’ só comporta duas explicações possíveis: ou o Brasil está ‘enchergando’ bem, ou o Brasil está ‘enchergano’ bem. Qualquer das duas hipóteses, porém, garante imunidade total à ‘presidenta’ (que também é várias coisas primeira). Ela pode passear de helicóptero sobre as enchentes de Petrópolis e depois pousar, como uma enviada do Vaticano, para rezar pelas vítimas.
“Os desabrigados de dois anos atrás na mesma região continuam sem as casas prometidas pelo governo popular. Há famílias morando em estábulos. Alguns quilômetros serra abaixo, casas oferecidas pelo governo popular para removidos de áreas de risco foram inundadas pelas últimas chuvas. Moradias do programa Minha Casa Minha Vida oferecem como bônus minhas goteiras, minhas rachaduras na parede.
“O povo deve estar ‘enchergano’ tudo isso, porque acolhe o helicóptero de Dilma como um disco voador em missão turística e reza com ela na igreja local, pedindo proteção a não se sabe quem.
“A aprovação popular ao estilo governamental de Dilma é comovente. Quem distribui as verbas federais contra enchentes é o ministro da Integração, Fernando Bezerra Coelho – aquele que mandava cerca de 80% do dinheiro para Pernambuco, por acaso seu domicílio eleitoral. As enxurradas podem levar casas e povoados inteiros, mas nada arranca Bezerra do cargo.
“A cada nova intempérie, é ele quem surge para rechear os comícios chorosos de Dilma com cifras voadoras, que servem basicamente para drenar as manchetes. Ainda de Roma, a chefa suprema da nação declarara que tomará ‘medidas drásticas’ para remover os teimosos que insistem em morar em áreas de risco. O Brasil merece isso tudo.
“A população culta também está ‘enchergano’ bem. Todos chocadíssimos, batendo panela contra o pastor acusado de homofobia – nomeado para presidir a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Quem manda na Câmara? Quem fica caçando votos dos evangélicos, distribuindo vantagens a seus líderes, como o famigerado Ministério da Pesca? ‘Nós pega o peixe e entrega ao pastor’, reza a norma culta do governo popular. Quanto maior o rebanho, melhor a boquinha. Comissão de Direitos Humanos é troco.
“Evidentemente, uma redação do Enem que enxergasse, com ‘x’, que o Brasil e suas instituições estão emprenhados de ignorância pela indústria do populismo levaria nota zero. A revolução petista não tolera esses arroubos elitistas. Prefere receita de miojo.” (Guilherme Fiúza, Época, edição que circulou a partir de 30/3/2013.)
* “Dilma é um artefato urdido pelo PT, por especialistas em marketing, um cabeleireiro de origem japonesa, cirurgiões plásticos e consultores de estilo”
“Nas reuniões clandestinas dos anos 1960, Vera Silvia Magalhães, brincando, sugeria como agenda: quem somos, onde estamos e para onde vamos? No início desta campanha presidencial, creio que seria razoável abordar esse tema, desde que se desçam, passo a passo, os degraus da abstração.
“Na nossa jovem democracia, os governos levam enorme vantagem na partida: arrecadam fortunas dos empresários amigos e gastam fortunas do Tesouro com propaganda sobre realizações e personalidade do governante. As despesas da viagem de Dilma Rousseff a Roma, por exemplo, deveriam ser computadas nos gastos de campanha.
“Como candidata montada em milhões de reais, Dilma é um artefato urdido pelo PT, por especialistas em marketing, um cabeleireiro de origem japonesa, cirurgiões plásticos e consultores de estilo. A rigidez dos ombros, o cansaço no andar indicam que está sobrecarregada pela máscara afivelada ao seu corpo. E algumas frases desconexas revelam que gostaria de deixar de fazer sentido, como os garotos que escreveram receita de Miojo ou o hino dos Palmeiras em suas composições no Enem.
“Dilma viajou para ser fotografada ao lado do papa Francisco e dizer: ‘O papa é argentino, mas Deus é brasileiro’. Nada melhor para uma campanha: posar ao lado do papa, brincar com a rivalidade com os argentinos, voltar para Brasília ainda mais popular do que saiu. A opção pelo luxo, na Via Veneto, no momento em que a Igreja fala de humildade não importa. Uma coisa é a Igreja, outra é o governo democrático popular, sem escrúpulos pequeno-burgueses, na verdade, sem escrúpulos de ordem alguma. Não importa que os estrangeiros vejam na sua frase uma certa dificuldade nacional de superar o complexo de inferioridade. Tudo isso é problema para a minoria que não tem peso nos índices de popularidade. O povo está satisfeito, as pesquisas são favoráveis e é assim que se pretende marchar para 2014.
“Lula e José Dirceu foram heróis da vitória em 2002. Dirceu hoje trabalha para empresas junto ao governo. Lula viaja prestando serviços às empreiteiras. Lembram um pouco a desilusão dos jovens rebeldes no filme O Muro, de Alan Parker, inspirado na música de Pink Floyd. Um dos ídolos da rebeldia juvenil aparece no final melancolicamente vestido como porteiro de hotel, chamando táxis, ganhando gorjetas.
“Lula fazia discursos contra o amoralismo do capital, a influências das empreiteiras, e aquelas frases de comício: um sonho sonhado junto não é sonho… Confesso que aplaudia e admito uma dose de romantismo incompatível com a minha idade. Muitos ídolos do rock, pelo menos, morreram de overdose. Na esquerda brasileira, passaram a trabalhar para a Delta ou viajar a soldo da Odebrecht. A popularidade do governo intimida e os candidatos de oposição não fazem um contraponto, mas se definem como uma variação melódica.
“Ao deixar o luxuoso Hotel Excelsior, em Roma, Dilma afirmou, ante as mortes em Petrópolis, que era preciso tomar medidas mais drásticas para tirar as pessoas das áreas de risco. Levar para onde? Não se construiu uma única casa popular em Petrópolis. No Morro do Bumba, em Niterói, alguns moradores foram transferidos para um quartel da PM depois da tragédia que matou 48 pessoas em 2010. Os 11 prédios do PAC construídos para abrigá-los estão caindo, antes de inaugurados. Há fendas nas paredes e vê-se que os construtores usaram material barato. Cerca de R$ 27 milhões foram para o ralo. Deus está vivo e bem no Morro do Bumba. Se fossem para os novos prédios, a armadilha cairia sobre a cabeça dos desabrigados.
“Quem tem boca (no governo) vai a Roma. Depois é preciso dar uma olhada na Serra Fluminense, verter aquelas lágrimas de praxe, no melhor ângulo e na melhor luz, para as inserções na TV. A mãe do PAC deveria visitar as obras destinadas ao Morro do Bumba com o carinho com que as mães visitam os filhos no presídio, os que deram errado mas nem por isso são esquecidos.
“O governo costuma dizer que a oposição mais consistente é a da imprensa. Essa é sua desgraça e sua sorte. O incessante turbilhão das notícias obriga a imprensa a mover-se sem parar para cobrir o que acaba de acontecer. Sobra pouco tempo para retirar esqueletos do armário e voltar aos personagens de nomes bizarros que povoam os escândalos nacionais. A única maneira de quebrar a hegemonia perversa que contribuiu para devastar moralmente o Congresso, estreitar nossa política externa, confinar a economia nos limites do consumismo é fortalecer uma oposição real. Ela não se pode ater ao horizonte de uma só eleição. Precisa trabalhar todos os dias, imediatamente após a contagem dos votos.
“Em política não existem eleições ganhas antecipadamente. Mas é preciso não contar com milagres. Mesmo eles só favorecem os que estão de pé, os que cedo madrugam. As pesquisas dizem que a maioria dos brasileiros está contente com o governo Dilma. A sensação de bem-estar impulsiona-os a aprovar o governo e ignorar as profundas distorções que impõe ao País.
“Não é a primeira nem a última vez que a minoria se coloca contra uma onda de bem-estar fundamentada apenas no aumento do consumo. No passado éramos bombardeados com a inscrição ‘Brasil, ame-o ou deixe-o’. Agora ninguém se importa muito se você ama ou deixa o País.
“O mecanismo de dominação é consentido. Nosso universo se contraiu e virou um mercado onde tudo se compra e se vende, secretarias negociam ilhas, ex-presidentes cobram dívidas de empreiteiras e, na terra arrasada do Congresso, o pastor Marco Feliciano posa fazendo uma escova progressiva. Parafraseando Dilma, são necessárias medidas mais drásticas para tirar essa gente de lá.
“A única arma à nossa disposição é o voto. A ausência de uma oposição organizada e aguerrida é uma lacuna. Quando há uma base social para a oposição, dizem os historiadores, ela acaba aparecendo dentro do próprio governo. E aparece discreta, suave, como discretos e suaves são os que se lançam agora diante da milionária máquina topa-tudo do PT.” (Fernando Gabeira, Estadão, 29/3/2013.)
* O governo está desmoralizando os fatos”
“Estamos assistindo a uma nítida deterioração das instituições, quando ninguém teme mais nada, pois todos descobriram que delitos e corrupção ‘não têm bronca’, não têm ‘pobrema’. Como disse Lula uma vez: ‘Dossiê?… Ah, o povo pensa que é doce de batata…’
“Este governo está desmoralizando os fatos. Os acontecimentos não acontecem, se diluem, morrem. Dilma anuncia medidas modernizantes, aeroportos, estradas de ferro, hidrovias, infra-estrutura – mas tudo morre na praia; a burocracia sindicalista não permite.
“Até aquele Paulinho da Força (com vários processos) consegue paralisar a reforma portuária… É espantoso.
“Estive há pouco na Europa. Todos os países estão desesperados por problemas insolúveis. Espanha com 25 por cento de desempregados, a Itália com um ridículo palhaço levado a sério, a Holanda (até ela) está sem caixa, a América sob chantagem da direita, a Coreia um país psicótico sob um gordo louco, a primavera árabe morta e por aí vai…
“Na imprensa mundial o Brasil é tratado como uma ex-esperança, atual vexame. Até o drama de Chipre vai nos beneficiar com ingresso de capitais. Estamos jogando fora a imensa sorte que temos, por causa de imbecis com dogmas vergonhosos que não existem mais. Estamos antes do muro de Berlim. Esses canalhas desprezam a sociedade e acham que o Estado tem de nos tutelar.
“Mas, até quando esse ‘chove-não-molha’ vai aguentar?
“Por que a besta do Brasil não prospera, por que continua atrás dos Brics, atrás da América Latina, por que até a Petrobrás caiu para a metade, saqueada pela porcada magra sindicalista? Por quê? Temos grana entrando, temos um governo com maioria total no Legislativo, sem oposição, sem nada. Por que não vamos para frente? Por quê, porra? Os diagnósticos são iguais no mundo todo: uma presidente rachada ao meio por fissuras ideológicas e dominada pela fome eleitoral do PT, a fim de virar um partido mexicano como o PRI. Os europeus têm inveja e desprezo por nós, porque eles querem sair da crise e não conseguem e nós temos tudo para nos salvar e não queremos…” (Arnaldo Jabor, Estadão e O Globo, 2/4/2013.)
A máquina cada vez mais inchada
* Dilma prepara a sua quinta estatal, a “Hidrobrás”
“O governo Dilma Rousseff prepara a criação de mais uma estatal, que terá a tarefa de cuidar dos portos fluviais, hidrovias e eclusas do País. Projeto dos ministérios do Planejamento e dos Transportes prevê a formação de uma nova empresa, que assumirá as funções, nessa área, do Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes (Dnit). Caberá a ela projetar, construir, operar, manter e restaurar a estrutura de navegação em rios, hoje muito abaixo de suas possibilidades e do potencial do País.
“Se levada adiante, a nova estatal será a quinta de Dilma em menos de três anos de governo – seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, também criou cinco, mas em oito anos. A presidente já incorporou à administração federal a Infraero Serviços, a Amazônia Azul Tecnologias de Defesa e a Agência Brasileira Gestora de Fundos Garantidores e Garantias (ABGF, apelidada de Segurobrás), além da Empresa Brasileira de Planejamento e Logística (EPL), esta última para planejar e articular ações na área de Transportes. As companhias se somam a dois ministérios – a Secretaria de Aviação Civil e a Secretaria da Micro e Pequena Empresa -, adicionados por Dilma às 37 pastas herdadas de Lula.
“Ainda em gestação, a ‘Hidrobrás’ teria dupla vinculação, reportando-se tanto ao Ministério dos Transportes quanto à Secretaria de Portos da Presidência (SEP), responsável hoje pelos terminais marítimos. A principal justificativa para a criação é que, sob o guarda-chuva do Departamento Nacional de Infra-estrutura (Dnit), os portos fluviais e hidrovias ficam em segundo plano, pois a autarquia concentra suas atividades na gestão da imensa malha rodoviária.” (Fábio Fabrini, Estadão, 4/4/2013.)
* Nos altos níveis, não se comanda com eficiência mais de sete subordinados
“Já que a principal qualificação da presidente Dilma Rousseff é a excelência gerencial, pelo menos na propaganda oficial, analisemos seu governo à luz da organização de sua estrutura administrativa, agora que mais uma secretaria com status de ministério, a da Micro e Pequena Empresa, foi criada. São 24 ministérios, mais dez secretarias ligadas à Presidência e cinco órgãos com status de ministério, ao todo 39 ministérios, um recorde na História do país, além de uma dimensão que está dentro do que se conhece como ‘coeficiente de ineficiência’, definido em estudo, já relatado aqui na coluna, de três físicos da Universidade Cornell, Peter Klimek, Rudolf Hanel e Stefan Thurner, depois de analisarem a composição ministerial de 197 países.
‘O estudo chegou à conclusão de que os governos mais eficientes têm entre 19 e 22 membros. O Brasil estaria no mesmo nível de ineficiência ministerial do Congo (40); do Paquistão (38); de Camarões, Gabão, Índia e Senegal (36), entre outros. O empresário Jorge Gerdau, que atua como consultor do governo para melhorar sua gestão, perdeu a paciência com a situação e disse em recente entrevista que ‘tudo tem o seu limite. Quando a burrice, ou a loucura, ou a irresponsabilidade vai muito longe, de repente, sai um saneamento. Nós provavelmente estamos no limite desse período’.
‘Para Gerdau, o país poderia ter apenas uma meia dúzia de ministérios, que são os que realmente a presidente Dilma controla diretamente. Os demais ‘ministros’ raramente estão com a presidente, e alguns nunca foram recebidos por ela em audiência nesses mais de dois anos governo. Napoleão Bonaparte concordava com Gerdau e dizia que nos altos níveis não se comanda com eficiência mais de sete subordinados.” (Merval Pereira, O Globo, 3/4/2013.)
A máquina inchada e desfaxinada
* O comitê reeleitoral que funciona no Planalto reabilita os que haviam sido demitidos por improbidade
“Na segunda-feira (1º/4), o presidente do chamado Partido da República (PR), senador Alfredo Nascimento, levou o correligionário César Borges, um dos vice-presidentes do Banco do Brasil e ex-governador da Bahia, ao principal gabinete do comitê reeleitoral da presidente Dilma Rousseff, conhecido como Palácio do Planalto. Não se quer dizer com isso que a sede do governo do País nada mais seja hoje em dia do que a sede da campanha de Dilma. Mas nada do que ali se faça importa tanto quanto as ações destinadas a manter a presidente no posto até 1.º de janeiro de 2019. É o que explica a reaparição no coração do poder do chefe do PR, o mesmo que Dilma, na sua decantada fase ética, expurgou da administração federal.
“Apadrinhado – também ele – pelo ainda presidente Lula, Nascimento foi reconduzido ao apetitoso Ministério dos Transportes, com seus R$ 10 bilhões de recursos, que ocupara de 2007 a 2010. Durou até julho de 2011, quando sucumbiu, com outros 27 integrantes da pasta, a denúncias incontestáveis de corrupção no setor, a começar do Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes (Dnit). O PR foi o primeiro partido a ser ‘faxinado’ por Dilma, mas o seu titular não mereceu a mesma primazia – antes dele, caíra em desgraça o todo-poderoso ministro da Casa Civil, Antonio Palocci. Para o lugar de Nascimento, a presidente promoveu o secretário executivo do Ministério, Paulo Sérgio Passos. E ali provavelmente permaneceria não fosse o fato de Dilma se dispor a ‘fazer o diabo’ pela reeleição.
“Passos agradava a Dilma, mas não ao PR, a que é filiado. Os republicanos o consideravam ‘escolha pessoal’ da presidente, não uma demonstração de que o partido, apesar de tudo, continuava representado no primeiro escalão. Depois de dois meses de resistência, ela capitulou diante de Nascimento. Para garantir o minuto e 10 segundos do PR, duas vezes por dia, no horário eleitoral – e para impedir que esse tempo possa beneficiar o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB, se sair candidato, ou, não seria de excluir, o senador tucano Aécio Neves -, a presidente entregou a Nascimento a cabeça de Passos.
“Dilma bateu o pé, no entanto, em relação ao sucessor. Apesar dos protestos de boa parte da bancada federal da agremiação (34 deputados e 4 senadores), que reivindicava o cargo para um dos seus, fechou questão em torno do nome de César Borges, a ser empossado hoje. O engenheiro que ascendeu na política baiana se integrando ao feudo de Antonio Carlos Magalhães (1927-2007) contou agora com o apoio do governador petista do Estado, Jaques Wagner. Borges tem biografia para ser um bom ministro, ainda mais tendo recebido carta branca da presidente para mexer no Dnit. Mas isso não altera o essencial: o uso da Esplanada dos Ministérios como moeda de troca no mercado eleitoral.
“Antes de Nascimento, com efeito, Dilma reabilitou o cacique pedetista Carlos Lupi, atingido por uma vassourada quando titular do Trabalho. Há pouco, o posto foi entregue ao seu liderado Manoel Dias, secretário-geral do PDT. Para afagar o PMDB em dois Estados cruciais, nomeou o ex-governador fluminense Wellington Moreira Franco para a Secretaria da Aviação Civil e o presidente do partido em Minas, deputado Antonio Andrade, para a Agricultura. E uma nova pasta, a da Micro e Pequena Empresa, acaba de ser criada para atrair o ex-prefeito paulistano Gilberto Kassab aos palanques dilmistas de 2014. O titular do 39.º Ministério será o vice-governador paulista Afif Domingos, correligionário de Kassab no PSD.
“Lula disse certa vez que, se governasse o Brasil, Cristo ‘teria de se aliar a Judas’. A esta altura, ninguém dirá que Dilma faltou à aula naquele dia. Já não se trata de suas alianças com partidos e personagens promíscuos. Quanto a isso, ressalte-se apenas que não é a tal da governabilidade que move a presidente, mas a ânsia de seguir no Planalto. O que mostra a que extremos Dilma leva à prática, sem disfarçar, as lições de seu mentor é a prontidão para premiar – por nenhum outro motivo a não ser aquele – políticos como Alfredo Nascimento e Carlos Lupi, acusados de participação em ‘malfeitos’ e por isso removidos de sua equipe.” (Editorial, Estadão, 3/4/2013.)
Tudo errado nas decisões sobre a Economia
* “Aquela senhora está tornando impossível investir no Brasil”, diz o grande investidor
“O economista James B. Rogers ou Jim Rogers, como prefere ser chamado, é um dos emblemáticos investidores americanos das últimas décadas. Prestes a fazer 71 anos, Rogers se juntou ao amigo George Soros nos anos 70 para fundar o Quantum Fund. (…)
“Rogers é figura constante no noticiário econômico da TV e jornais dos Estados Unidos. Ele está pessimista em relação às perspectivas para os Estados Unidos, o Chipre e toda a zona do euro e mais crítico do que nunca em relação ao Brasil. ‘Aquela senhora está tornando impossível investir no Brasil’, diz, referindo-se à presidente Dilma Rousseff.
“Em entrevista por telefone concedida de Santiago, no Chile, Rogers disse que o Brasil poderia ser aquele país promissor que muitos imaginaram. Mas não é, por causa dos erros do governo, especialmente no que diz respeito a tentar controlar a entrada de capitais. ‘Ela (Dilma) está tornando ilegal investir no Brasil”, critica, dizendo ainda que não investe mais no País – nem pretende voltar a fazê-lo tão cedo.” (…)
Diz ele: ‘Ela (a presidente da República) poderia parar de impedir capital novo de entrar no País. Aquela senhora que governa o País está promovendo guerra cambial, tornando impossível investir no Brasil, tornando ilegal para os estrangeiros investirem no País. Ela coloca obstáculos para chineses e coreanos, aqueles que são grandes clientes do Brasil. Ela tem de tornar o País mais acessível! Ela tem de parar com o controle da moeda. Ela não está ajudando o Brasil, está prejudicando. Deveria haver uma abertura maior do País, uma abertura maior para o capital. Desse modo, o Brasil poderia ser um dos grandes países do mundo. Mas esta senhora é uma das muitas pessoas que têm impedido que o Brasil seja uma das principais economias do mundo.’” (Luciana Xavier, Estadão, 29/3/2013.)
* Ligeireza e irresponsabilidade do governo
“O uso de manobras contábeis pelo governo federal para a obtenção de um superávit primário mais aceitável já se tornou costumeiro, mas esse ‘truque’ pode estar sendo levado longe demais. No ano passado, para cumprir a meta reduzida de 2,38% do PIB – a meta anterior era de 3,1% -, o governo utilizou R$ 12,4 bilhões do Fundo Soberano e se apropriou antecipadamente de parte dos R$ 28 bilhões de dividendos das empresas estatais, alegando que, para isso, há previsão legal. Pode ser, mas, no caso dos dividendos, eles devem ser pagos de acordo com os lucros apurados de forma confiável, o que não ocorreu, pelo menos com relação ao balanço do BNDES do segundo semestre de 2012.
“Na ânsia de fazer a conta chegar ao resultado prometido, o Conselho Monetário Nacional, às vésperas da virada do ano, permitiu que o BNDES lançasse em seu balanço um quarto das ações que possuía em carteira sem atualizar o seu valor de referência, isto é, sem levar em conta as grandes oscilações das cotações desses papéis no mercado. Isso inflou o lucro do BNDES em R$ 2,38 bilhões, o que foi útil para o governo, mas pode ter consequências negativas para a instituição. Essa prática lança dúvidas sobre a correção de seu balanço e pode limitar a sua capacidade de captar recursos no exterior. Com o mercado externo menos acessível, o Tesouro Nacional poderá ser obrigado a repassar um volume ainda maior de recursos para a instituição, que no ano passado recebeu nada menos do que R$ 55 bilhões.
“O truque não passou despercebido pela auditora independente, que, em seu parecer sobre o balanço do banco, fez constar uma ressalva sobre essa forma de contabilização desigual do valor das ações. De fato, os lançamentos deveriam obedecer a um só critério, de acordo com os padrões contábeis internacionalmente aceitos, isto é, todas as ações que representam participação do banco em outras empresas deveriam ser lançadas pelo seu valor de mercado no momento de fechamento do balanço, independentemente da oscilação de suas cotações. A abertura de exceção para que um quarto dos papéis seja contabilizado de outra maneira é inteiramente discrepante das melhores práticas contábeis.
“Não por acaso, as ações contabilizadas de ‘forma especial’ são as mais afetadas pela desvalorização das cotações na Bovespa. Com a duplicidade de critérios, o banco pode pagar mais dividendos ao Tesouro, engordando o superávit primário.
“Essas circunstâncias foram levadas em conta pela agência de classificação de risco Moody’s, que rebaixou a nota do BNDES e do BNDESPar em dois degraus, passando-a de A3 para Baa2. Como motivos para sua decisão, a Moody’s mencionou a ‘deterioração da qualidade de crédito intrínseca e, particularmente, o enfraquecimento de suas posições de capital de nível l’. Essas razões podem ser discutíveis, mas inegavelmente criam um obstáculo à tomada de crédito no mercado internacional.
“Procurado pela reportagem do Estado, o BNDES, por meio de sua assessoria de imprensa, negou que a ressalva feita pela auditora independente represente ‘qualquer impedimento para a emissão externa’. O banco afirma ainda ser o ‘emissor brasileiro com melhores condições de custos, após o governo brasileiro’. Como o BNDES não realizou qualquer operação no mercado externo em 2012, não dá para ter comprovação prática disso.
“Fontes do mercado e do próprio governo admitem que a maquiagem do balanço torna mais difícil a colocação de papéis do BNDES. Além disso, há restrições regulamentares que investidores institucionais, como fundos de pensão, devem obedecer para a aquisição de papéis de instituições cujos resultados sejam colocados em dúvida.
“Ainda que os obstáculos venham a ser superados em negociações com investidores externos, o custo para o banco tende a ser maior. O mais lamentável em tudo isso é a ligeireza e a irresponsabilidade com que o governo agiu para obter um resultado a curto prazo, desprezando normas fundamentais para assegurar a credibilidade do balanço de uma instituição do porte e da importância do BNDES.” (Editorial, Estadão, 1/4/2013.)
* Com este governo, o país desistiu de ter política externa própria – inclusive no comércio
“Beira a monotonia insistir em que o Brasil, na presidência de Dilma Rousseff, desistiu de ter política externa própria, inclusive no terreno econômico. O processo de satelitização de Brasília em relação a Buenos Aires é sem precedentes na história da diplomacia brasileira. Resulta, em parte, da reconhecida ojeriza da presidente ao Itamaraty, o que abre mais espaço para o miolomolismo de seus assessores diretos na área externa. Isso a despeito de sucessivos revezes: na pretendida mediação iraniana, na diplomacia hoteleira em Honduras, na trapalhada paraguaia, etc. A ênfase continua a ser em laços estreitos com o bolivarianismo, agora pós-chavista, e o neoperonismo na versão Fernández de Kirchner. Mas não se deve deixar de levar em conta a maleabilidade do Palácio dos Arcos às imposições do Planalto. Em outros tempos, a instituição ofereceu maior resistência às pressões dos donos do poder.
“Em meio ao clima de expectativas positivas quanto a um possível acordo comercial entre os EUA e a União Europeia (UE), pode ser detectado algum otimismo, em círculos empresariais nos EUA e no Brasil, em relação a ressuscitar a ideia de um acordo comercial entre o Brasil e os EUA. Tal otimismo está baseado em ilusões, com a intensidade do desejo prevalecendo sobre a realidade dos fatos.
“A longa história das fracassadas negociações para alcançar a integração hemisférica é conhecida. A Área de Livre Comércio das Américas (Alca) foi objetivo importante para sucessivos governos dos EUA pelo menos desde o início da década de 1990. De Brasília, o projeto foi encarado com desconfiança por duas razões principais. No plano político, havia relutância quanto ao alinhamento a Washington e às possíveis limitações à diplomacia brasileira em escala global. No plano econômico, foi percebido bem cedo que o governo norte-americano não estava preparado para convencer os ‘interesses especiais’ nos EUA, preponderantemente no setor agrícola, a fazer as concessões que seriam a contrapartida às possíveis concessões brasileiras no que se refere à proteção de bens industriais e às regras associadas a temas como propriedade intelectual, investimento direto, serviços e compras públicas.
“Era como se Washington pretendesse generalizar a estratégia de negociação adotada no Nafta, definida com base na maior competitividade da agricultura dos EUA em relação à mexicana. Mas, nas negociações da Alca, o Brasil era demandeur em agricultura e punha a agricultura norte-americana na defensiva.
“O outro tema econômico de interesse do Brasil era a limitação do escopo para o uso de medidas discricionárias de defesa comercial, tema que os EUA insistiam em que deveria ser tratado no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC).
“Essas dificuldades já haviam emergido claramente no governo FHC. Com a posse do governo Lula, houve ênfase redobrada nas limitações políticas à integração hemisférica. A Alca virou anátema num quadro em que foi fortalecida a ‘política externa de massas’. No plano econômico, a insistência dos EUA em retirar da mesa de negociações tanto subsídios agrícolas quanto defesa comercial, para tratamento na OMC, levou à proposta brasileira de fazer o mesmo com os temas não tradicionais. A Alca ficou tão ‘light’ que se dissolveu no ar. Mas o funeral foi protelado até 2005.
“A argumentação dos que acreditam que houve mudança significativa nas condições que ditaram o fracasso da Alca em 2005 está calcada em argumentos políticos e econômicos. No terreno político, alega-se que a consolidação do País como potência regional e seu avanço para tornar-se potência mundial teriam eliminado o risco de ‘cristalização da assimetria de poder entre EUA e Brasil’. O diagnóstico deixa de lado a óbvia fragmentação que marca hoje a América Latina, entre o bloco chegado às diversas vertentes do populismo (Argentina, Bolívia, Brasil, Equador e Venezuela) e os países que têm adotado políticas mais consequentes: Chile, Colômbia, México e Peru. Também não parece razoável subestimar as fricções quanto à liderança regional entre Brasil e México. E as pretensões brasileiras em relação à diplomacia global têm sido marcadas por recorrentes decepções.
“Por outro lado, e mais importante, não é possível perceber mudança significativa quanto à desconfiança do governo em relação a uma aproximação política aos EUA. Tal desconfiança talvez pudesse ser minorada pela ação de diplomatas profissionais, mas, com o Itamaraty perdendo espaço para o Planalto, isso se tornou bem pouco provável.
“No terreno econômico, os argumentos estão centrados na ideia de que a ascensão da China teria tornado menos relevante o problema da concorrência norte-americana. E de que um possível acordo EUA-UE poderia atenuar o protecionismo agrícola nos EUA. Os argumentos não se sustentam. De fato, a concorrência chinesa tende a tornar mais entranhadas as resistências protecionistas da indústria brasileira. E, sendo a Europa notoriamente ineficiente na agricultura, é difícil perceber como um futuro acordo EUA-UE poderá contribuir para abrir o mercado agrícola norte-americano.
“Os fatos mostram que o relançamento das negociações da Alca é muito improvável. A despeito dos desejos.” (Marcelo de Paiva Abreu, economista, Estadão, 1º/4/2013.)
* Com tanta desarrumação, vai ser difícil depois botar ordem na economia
“A economia brasileira está sob processo de implacável desarrumação.
“É a sucessão de pibinhos que, provavelmente, continuará este ano com um avanço da atividade econômica não superior a 3%.
“É também a alta resistente e espalhada da inflação que, nos dois primeiros trimestres deste ano, perfurará o teto de 6,5% em 12 meses, incluída aí a faixa de escape de 2 pontos porcentuais. Tão ou mais preocupante, o governo não se dispõe a combater a inflação com a arma mais poderosa que possui, que é a política monetária (política de juros). Ao contrário, o combate à inflação voltou a ser feito por expedientes antigos e notoriamente ineficientes, como o represamento de preços e tarifas (caso dos combustíveis e da condução) e desonerações tributárias (como a da cesta básica e a dos veículos).
“E é, ainda, a rápida deterioração das contas externas, sobretudo do Comércio Exterior, cujo superávit chegou aos US$ 40 bilhões em 2007, vai sendo esvaziado rapidamente. Neste ano, dificilmente passará dos US$ 9 bilhões – algumas projeções apontam para apenas US$ 4 bilhões.
“Os desequilíbrios transparecem de outras avaliações. O governo gasta demais, como o Banco Central vem denunciando e nesta terça-feira foi novamente objeto de avaliações de seu presidente, em depoimento na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado Federal. Isso não é tudo, porque a transparência vem sendo sacrificada pelo uso de truques contábeis.
“Embora contemplada com seguidos incentivos, a indústria mostra desempenho modorrento. Isso acaba de ser confirmado pelo IBGE, a partir dos levantamentos de fevereiro. Há um notório descompasso entre consumo e oferta, repetidas vezes denunciado pelo Banco Central, que desemboca nos maus resultados das contas externas. O mercado de trabalho está excessivamente aquecido e desequilibrado, o que concorre para a exacerbação da demanda, para elevar custos do setor produtivo e para a desenvoltura da inflação, principalmente no setor de serviços.
“Informações sobre o apagão logístico estão todos os dias na TV e nos jornais. O governo parece ter-se dado conta de que é preciso puxar o investimento. Mas é lento demais e pouco eficiente. O setor privado parece algo mais propenso a investir, como mostra o melhor resultado do setor de bens de capital (máquinas e equipamentos), mas segue com o breque de mão puxado. Teme o excessivo intervencionismo do governo e a falta de determinação em combater o custo Brasil, que mina a competitividade do setor privado.
“Até recentemente, o governo pretendia compensar a baixa capacidade de competir do setor produtivo com doses alentadas de desvalorização cambial (alta do dólar) que garantissem o encarecimento do produto importado. Mas deu marcha a ré nessa empreitada quando percebeu as avarias que apareceram na inflação.
“A presidente Dilma não mostra disposição para a arrumação da economia. Não só porque seu conceito de ordem difere do partilhado pela maioria dos analistas, mas também porque se julga segura pelas pesquisas de avaliação de seu governo. Como estratégia eleitoral, a presidente pode estar certa. Mas, lá na frente, ficará mais difícil colocar a casa em ordem.” (Celso Ming, Estadão, 3/4/2013.)
* Avançamos rumo a um desastre comercial
“Com indústria empacada, custos em alta, infra-estrutura em frangalhos e consumo acelerado, o Brasil avança para um desastre comercial. Quase todas as grandes crises brasileiras, desde o começo do século passado, foram detonadas por problemas nas contas externas. Desta vez, os primeiros sinais de alerta surgiram em 2007, antes da recessão global. Os maus resultados de 2013 mostram a continuação de uma tendência. Além disso, os números oficiais contam apenas uma parte da história. Sem a contabilidade criativa da Petrobrás, o déficit acumulado nos primeiros três meses teria sido maior que os US$ 5,15 bilhões registrados oficialmente. Falta incluir nas contas US$ 1,8 bilhão de importações de combustíveis. Depois, a instalação de uma plataforma foi inscrita como exportação (no valor de US$ 802 milhões), por uma esquisitice do regime aduaneiro aplicado ao setor de petróleo.
“Os problemas importantes vão muito além da estranha contabilidade da Petrobrás. As distorções que ela causa acabam neutralizadas com o tempo e com alguma informação. Os desajustes de maior consequência afetam todo o sistema produtivo e têm sido agravados por uma política econômica equivocada. Um dos mais visíveis e mais comentados é o sistema tributário, cheio de distorções e mal administrado. Esse item aparece em posição destacada em toda análise da competitividade brasileira, sempre acompanhado pela infra-estrutura deficiente, pela baixa qualificação da força de trabalho, pela ineficiência do setor público e por mais uma série de desvantagens comparativas. A tudo isso se soma a perda de capacidade produtiva da Petrobrás, refletida no forte aumento da importação de combustíveis.
“Erros de diagnóstico e ações oficiais mal planejadas têm agravado o quadro. A maior parte dos incentivos fiscais tem favorecido muito mais o consumo que a produção. O crédito oficial tem beneficiado especialmente algumas estatais, com destaque para a Petrobrás, e alguns grupos privados escolhidos para ser vencedores. Não se vê, nessa política, nenhuma preocupação séria com a eliminação de gargalos estruturais, com a melhora das condições gerais de competitividade e com o envolvimento de mais empresas na exportação.
“Incentivos fiscais mal concebidos, parciais e voltados principalmente para o consumo estimulam mais a importação que a produção interna, além de comprometer a arrecadação sem consertar o sistema tributário. Incentivos têm sido renovados de tempos em tempos – é o caso do IPI sobre automóveis – sem criar um horizonte para o planejamento.
“Incapaz de cuidar das principais questões, o governo tem aumentado as barreiras para proteger a indústria. Assim favorece mais a sustentação de preços altos do que a adoção de planos de investimento e de modernização. Mas o protecionismo tem efeito limitado, por causa do escasso poder de competição da indústria. O Brasil poderia importar muito mais, com uma economia mais aberta, e ao mesmo tempo exportar muito mais, se o governo se preocupasse com os níveis gerais de eficiência.
“No primeiro trimestre deste ano, a exportação foi 3,1% menor que a de um ano antes e, a importação, 11,6% maior, considerando-se a média dos dias úteis. Esse descompasso se manifestou já em 2007, quando a receita comercial aumentou 16,1% e a despesa, 31,5%. A tendência foi interrompida em 2009, com o impacto da crise, e retomada em 2010. Em 2011 as vendas cresceram pouco mais que as compras (26,8% contra 24,7%) e no ano passado a deterioração se intensificou. O Brasil importou quase o mesmo que no ano anterior, 1,4% a menos, enquanto a exportação encolheu 5,3%.
“Alguns analistas apontam a valorização do real como grande problema do comércio exterior e da indústria, mas em 2012 o dólar subiu e o saldo comercial piorou. É perda de tempo concentrar a atenção no câmbio quando todos os fatores estruturais deixam o produtor brasileiro em desvantagem. Nem o competitivo agronegócio é imune a esses fatores. O setor é eficiente, mas suas cargas ficam empacadas no caminho dos portos.” (Editorial, Estadão, 3/4/2013.)
A desorientação na área de energia
* Novas regras do governo fazem Eletrobrás fechar 2012 com perda de R$ 6,9 bilhões
“Fortemente afetada pelo novo marco regulatório do setor elétrico, a Eletrobrás registrou o pior resultado de sua história no ano passado. Foi também o maior prejuízo na história das empresas de capital aberto brasileiras em qualquer período trimestral, segundo levantamento da consultoria Economática.
“As mudanças promovidas pelo governo geraram uma perda contábil de R$ 10 bilhões para a companhia. Com isso, o prejuízo líquido foi de R$ 6,879 bilhões em 2012, revertendo o lucro líquido de R$ 3,733 bilhões registrado no ano anterior. No quarto trimestre, o prejuízo líquido foi de R$ 10,499 bilhões.
“A Eletrobrás teve de recalcular todos os seus ativos, antes avaliados pelo valor contábil, pelo critério de valor novo de reposição, mesmo aqueles cujos contratos estão longe do prazo de vencimento. Sem o efeito da renovação das concessões, a empresa calcula que teria tido lucro de R$ 3,2 bilhões no ano passado.” (Anne Warth e Laís Alegretti, Estadão, 29/3/2013.)
* As empresas estatais da área de energia são, como as demais, ineficientes
“Nessa fase de adaptação do setor elétrico ao conjunto de providências tomadas pelo governo por meio da Medida Provisória (MP) 579, com o objetivo de reduzir as tarifas cobradas do consumidor, o Instituto Acende Brasil (IAB) realizou um estudo – que merece atenção – para aferir a rentabilidade e a produtividade do trabalhador de empresas de geração, transmissão e distribuição de energia. Com base em indicadores precisos, o trabalho deixa claro que as empresas sob o controle do Estado vêm tendo um desempenho bem inferior, na média, ao das concessionárias do setor privado, tanto em termos econômico-financeiros como operacionais. Acima de considerações ideológicas, a análise busca identificar os fatores determinantes da baixa performance das estatais do setor elétrico e propõe políticas voltadas para o aprimoramento do sistema, que passam, necessariamente, pela despolitização dessas companhias, uma precondição muito difícil de ser preenchida.
“Pode-se dizer que muitas das mazelas de estatais do setor elétrico são comuns ao setor público brasileiro em geral, como a distribuição de cargos de gestão por critérios políticos, o empreguismo, a burocracia, etc. Ocorre, porém, que, como sociedades de economia mista, muitas estatais elétricas abriram o capital e foram ao mercado buscar recursos para capitalizar-se e investir. Assim, na medida em que tais empresas se mostrarem ineficientes, negligenciando o retorno aos acionistas, perderão a capacidade de captar recursos.
“‘A sustentabilidade das empresas estatais que atuam no mercado depende de seu desempenho econômico-financeiro. Tal desempenho não é um luxo; é uma questão de sobrevivência. Empresas deficitárias encolhem e, no limite, vão à falência’, nota o estudo. A diferença com relação às estatais do setor elétrico é que o governo central as socorre antes que quebrem, e as federaliza quando são estaduais. Assim, o Tesouro Nacional é levado a carregar o seu peso por anos a fio, a não ser que se decida privatizá-las, opção que o atual governo tem descartado. Casos típicos são os da Cepisa (PI) e da Ceal (AL), que serão ‘reestruturadas’ pela Eletrobrás.
“Verifica-se nos rankings elaborados pelo IAB, abrangendo geradoras e distribuidores, que só duas estatais – Cemig (MG) e Copel (PR), controladas por governos estaduais – apresentam resultados comparáveis aos das maiores do setor privado. Quanto às empresas de geração e transmissão, o critério é o de produtividade por trabalhador, saindo-se relativamente bem aquelas duas estatais, além da Cesp, controlada pelo governo paulista. A Chesf e Furnas, do Sistema Eletrobrás, têm desempenho algo melhor, mas todas as demais estão muito abaixo da média.
“A baixa rentabilidade e a ineficiência das estatais não preocupam somente os investidores. A sociedade como um todo é prejudicada pela elevação dos custos, pelo baixo crescimento da renda e, principalmente, pelo ônus que elas representam para as contas públicas. Isso não significa, porém, que as estatais elétricas tenham menos prestígio por serem fonte de empregos e manejadas por políticos que apoiam o governo para atender seu eleitorado.
“‘Além de sobrepor interesses partidários e de curto prazo à gestão, o pior legado das indicações políticas acaba sendo a falta de competência dos indicados para os cargos, o que acarreta perdas substanciais para a sociedade’, disse Claudio Sales, presidente do IAB (O Globo, 24/3). O estudo salienta, porém, que as estatais não estão fadadas à ineficiência, embora haja fatores que tornam muito difícil mudar a situação atual. Para isso, seria necessário recrutamento profissional de diretores e conselheiros; divulgação tempestiva e transparente de resultados; definição de indicadores confiáveis; metas de gestão e prestação periódica de contas.
“Os analistas, porém, são pessimistas quanto à adoção dessas recomendações. A MP n.º 579 poderia ser a oportunidade para uma mudança de padrão, obrigando as estatais a cortar custos e a adotar critérios profissionais de gestão. No entanto, em sua avaliação, a perda de receitas em decorrência da MP pode representar apenas mais prejuízos.” (Editorial, Estadão, 30/3/2013.)
* Uso eleitoral da tarifa, expropriação de caixa de agentes, interferências regulatórias retroativas…
“As recentes declarações da presidente da República sobre a correlação entre inflação e crescimento – que foram imediatamente interpretadas pelo mercado como riscos à autonomia do Banco Central para aplicar suas políticas de combate à inflação – são exemplos dos efeitos que o risco de interferência política e eleitoral impõe à realidade econômica. Desta vez o palco foi a macroeconomia, mas o setor elétrico tem sido submetido a uma saraivada de ingerências da mesma natureza emanadas do mesmo governo e seus aliados.
“Em artigo que publiquei neste Estadão no dia 10 de março, tratei de alguns efeitos ligados à implementação truculenta da Medida Provisória n.º 579/2012 (depois convertida na Lei n.º 12.783/2013 e que tratou da antecipação da renovação de concessões de eletricidade), entre os quais chamou a atenção a Resolução n.º 3 do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). Aliás, o CNPE é um órgão que deveria se ocupar de diretrizes de longo prazo, e não deveria ter atropelado a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e seus ritos regulatórios.
“A resolução acima representa uma ameaça de expropriação do caixa das geradoras de energia ao impor que elas passem a arcar com parte do custo do acionamento de todo o parque termoelétrico nacional, custo que será medido em bilhões em 2013.
“Por que a resolução foi emitida de forma tão abrupta, sem audiência pública? Porque o governo se viu diante de cenário aterrorizante para seus objetivos eleitoreiros: a queda propagada de 20% da conta de luz seria comprometida pelo altíssimo custo conjuntural do uso termoelétrico que deveria ser repassado aos consumidores. Afinal, são os consumidores que se beneficiam desse acionamento termoelétrico.
“Para agravar ainda mais a situação, o mercado foi surpreendido com a suspensão da liquidação das transações do mercado de curto prazo de energia elétrica referentes a janeiro de 2013 e que deveria ter sido implementada pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) em 12 de março. Uma das causas para essa suspensão era a possibilidade de alterar retroativamente a alocação anual da energia (sazonalização) feita pelos geradores. A alteração retroativa da sazonalização, felizmente, acaba de ser bloqueada pela Aneel, após audiência pública, com base, inclusive, nas contribuições da CCEE e de técnicos da própria Aneel.
“No meio de tanto desrespeito a regras e de tamanha confusão institucional, é preciso registrar que ainda há instituições e profissionais sérios. Em primeiro lugar, a CCEE reafirmou sua missão técnica e consolidou sua posição de destaque como uma das poucas instituições que se blindam de usos políticos há mais de uma década.
“E em segundo, mas em não menos importante lugar, alguns técnicos da Aneel e parte de sua diretoria também merecem crédito por terem emitido um sinal de que o passado ainda é previsível. Na palavra dos próprios técnicos, a suspensão da liquidação traria ‘consequências comerciais e financeiras severas, de resultados imprevisíveis’ e ‘efeitos extremamente perversos aos agentes e à credibilidade do sistema’. E em relação à manutenção da sazonalização, merece registro o fato de que três diretores da agência reguladora contrariaram o relator e apontaram que essa revisão retroativa geraria riscos de criação de um ambiente de insegurança e de instabilidade regulatória.
“Uso eleitoral da tarifa, expropriação de caixa de agentes, interferências regulatórias retroativas… São muitas as pressões sobre reguladores e outras instituições do setor elétrico que emergem de interesses políticos e econômicos de curto prazo, sem o menor compromisso com a manutenção de um setor elétrico sustentável.
“Portanto, ficam aqui os votos para que esses atores, a exemplo deste último episódio, resistam a tais pressões e nos deem razões para crer que ainda há luz no fim do túnel. O setor elétrico precisa sair dessa fase de trevas que o mundo político lhe vem impondo.” (Claudio J. D. Sales, presidente do Instituto Acende Brasil, Estadão, 3/4/2013.)
Descaso na educação
* Relatório mostra que institutos federais sofrem com evasão, falta de professores e infra-estrutura precária
“Aposta do governo no ensino profissionalizante, os institutos federais enfrentam problemas de evasão, baixo índice de conclusão, falta de professores e infra-estrutura insuficiente. Em cursos destinados a jovens e adultos que não terminaram a escola na idade adequada – segmento chamado de Proeja -, o abandono chegou a 24%. Em cursos técnicos de nível médio feitos por quem já possui certificado de ensino médio e está em busca de formação profissional, a evasão alcançou 19%. A rede federal tem também déficit de profissionais: faltam 7.966 professores, o equivalente a 20% do total previsto, e 5.702 técnicos de laboratório – 24,9% do quadro de pessoal.
“O diagnóstico é resultado de uma auditoria realizada pelo Tribunal de Contas da União (TCU), entre agosto de 2011 e abril de 2012. Há duas semanas, o relatório foi aprovado no plenário da Corte, com a recomendação de que o Ministério da Educação (MEC) elabore plano de combate à evasão, inserção profissional dos estudantes e redução do déficit de professores, com incentivos para que docentes trabalhem longe das capitais.
“Segundo os auditores, o ‘principal fator que põe em risco a qualidade dos serviços educacionais’ é o déficit de professores e técnicos. O levamento mostrou que as maiores carências atingiam os institutos do Acre (40,1%), de Brasília (40,1%), Mato Grosso do Sul (38,2%), Amapá (35,3%) e São Paulo (32,7%). ‘Uma das causas do déficit observado de professores é a baixa atratividade da carreira. Apurou-se em pesquisa que a remuneração é fonte de insatisfação para 68% dos professores’, diz o relatório.
“Os auditores constataram que metade dos alunos tinha pelo menos um ano de atraso no curso. O ministro-relator, José Jorge, chamou a atenção para o que interfere na aprovação e evasão: deficiência de aprendizado nas etapas anteriores, baixa renda das famílias e a infra-estrutura dos institutos.” (Demétrio Weber e Vinicius Sassine, O Globo, 30/3/2013.)
* Quando política e educação se misturam, a educação se dá mal
“O estado de deterioração em que se encontram as instalações da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) – criada há mais de cem anos, quando a União estabeleceu as bases do ensino agropecuário no País – mostra como o ensino superior oficial tem sido conduzido. O segundo maior câmpus em extensão de toda a América Latina está caindo aos pedaços.
“No Instituto de Tecnologia, o laboratório do Departamento de Tecnologia de Alimentos está inundado. Os demais laboratórios carecem de sistema de descarte de resíduos químicos e biológicos. As quatro piscinas do parque aquático estão fechadas, o que obriga os alunos de educação física a terem aulas práticas de natação sem cair na água. O tanque para a prática de remo está tomado por lixo. Muitos cursos não contam com infra-estrutura de informática. Instalações tombadas pelo Patrimônio Histórico enfrentam problemas causados pela colocação irregular de aparelhos de ar-condicionado.
“Além disso, o número excessivo de gambiarras na rede elétrica deixa prédios administrativos e alojamentos estudantis expostos a riscos de incêndio. Por falta de segurança, professores e alunos são assaltados à luz do dia. O hotel destinado ao corpo docente não tem água nem luz. A entrada do restaurante universitário não tem cobertura, deixando os usuários debaixo de sol e chuva. E o restaurante anexo está fechado, porque seus funcionários, que são terceirizados, pararam de trabalhar por problemas salariais.
“‘Uma palavra resume a situação da UFRRJ: insalubridade’, disse o professor Humberto Kzure, coordenador do Plano Diretor Participativo da instituição. Com a colaboração de professores, alunos, servidores técnicos e estagiários, há dois anos ele iniciou um diagnóstico dos problemas do câmpus, tendo produzido um detalhado relatório com cerca de mil páginas de texto e fotografias. Com base no relatório, o jornal O Globo publicou extensa reportagem sobre o abandono do câmpus. ‘Não deixamos de reconhecer os problemas. Estamos tentando resolvê-los. Foram décadas de descaso com o ensino público’, afirma a futura reitora da UFRRJ, Ana Maria Dantas Soares, que está na instituição há cerca de 34 anos.
“As instalações da Reitoria estão ocupadas por alunos, que condicionam a saída ao atendimento de suas reivindicações, das quais uma das mais importantes é a realização de uma auditoria externa pelo Ministério Público Federal e pelo Tribunal de Contas da União. Publicados no site do Ministério da Educação (MEC), dados da execução orçamentária da UFRRJ revelam que os valores transferidos pela União para a instituição aumentaram quase 24 vezes, entre 2005 e 2012, passando de R$ 14,8 milhões para R$ 347 milhões. A direção da UFRRJ afirma que os valores foram bem menores, mas o MEC insiste em que as informações em seu site estão corretas.
“Independentemente das divergências sobre o montante das transferências do governo federal, a professora Ana Maria Dantas Soares atribui os problemas da UFRRJ às limitações do Reuni – programa criado em 2007 – quando o ministro da Educação era Fernando Haddad – para ampliar o acesso ao ensino superior, por meio de aumento de vagas e criação de novos cursos. O programa é oportuno, mas em sua implementação prevaleceram os interesses eleitorais e não o bom senso. Em vez de investir em primeiro lugar nas obras físicas, o que era mais lógico, o ministro, preocupado em mostrar resultados, estimulou as universidades federais conveniadas com o Reuni a começar matriculando novos alunos. ‘Se tivéssemos tido a oportunidade de construir prédios, criar os cursos e só depois virem os alunos, tudo bem. Mas não foi assim, pois era um projeto de governo, e não de Estado’, observa a professora Ana Maria Dantas Soares.
“Infelizmente, o que vem ocorrendo com a UFRRJ não é um caso isolado. Em várias outras universidades criadas ou expandidas pelo governo do presidente Lula os cursos foram oferecidos antes que as instalações físicas estivessem prontas e a infra-estrutura técnica instalada. Isso é o que acontece quando política e educação se misturam.” (Editorial, Estadão, 1º/4/2013.)
Outras más notícias na Economia
* Balança comercial tem o pior primeiro trimestre desde 2001
“A balança comercial brasileira registrou déficit de US$ 5,150 bilhões no primeiro trimestre deste ano, informou ontem o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Foi o primeiro resultado negativo nos três primeiros meses do ano desde 2001, quando as importações superaram as exportações em US$ 404 milhões. Já em março, após dois meses seguidos de déficits (US$ 4,036 bilhões em janeiro e US$ 1,278 bilhão em fevereiro), a balança teve superávit de US$ 164 milhões, mas o saldo foi o pior desde março de 2001, quando ficou negativo em US$ 276 milhões.
“As exportações realizadas no período de janeiro a março somaram US$ 50,839 bilhões. Pela média diária exportada, houve uma redução de 3,1% em relação ao mesmo período de 2012. As importações atingiram US$ 55,989 bilhões, com alta de 11,6% na comparação com o primeiro trimestre do ano passado. As maiores quedas nas exportações ocorreram com óleos combustíveis, motores e partes para veículos, aviões, petróleo em bruto, fumo em folhas, soja em grão, café, celulose e cobre.
“No primeiro trimestre, as importações de combustíveis e lubrificantes cresceram 35,6%; de bens de capital, 10,7%; e de matérias-primas e intermediários, 9%. Por outro lado, as compras de bens de consumo caíram 0,3%. Os principais países de origem dos gastos do Brasil no exterior foram EUA, China, Argentina, Alemanha e Coreia do Sul.” (Eliane Oliveira, O Globo, 2/4/2013.)
* Preços dos carros sobem, apesar da redução do IPI
“A redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) ajudou a sustentar as vendas da indústria automobilística em 2012, levou milhares de consumidores às revendas, mas pouco contribuiu para deixar os carros mais baratos. Levantamento da consultoria Oikonomia, especializada no mercado automotivo, revela que o preço médio dos carros subiu 10% entre 2009 e 2011.
Em 2012, mesmo com o corte de até sete pontos percentuais no IPI, os preços recuaram só 1,5%. E, entre dezembro e fevereiro, houve altas de até 3,5%. ‘A indústria aumentou continuamente os preços dos carros entre 2009 e 2011, ao ponto de os preços derrubarem as vendas. E, então, se cortou o IPI. Os preços até caíram em 2012, mas pouco. O crédito mais farto, barato e com prazos maiores é que faria diferença’ – diz Raphael Galante, da Oikonomia.
“Considerando os preços médios dos modelos de uma mesma marca nos últimos meses, a consultoria identificou altas expressivas: o preço médio dos modelos da Volkswagen vendidos em fevereiro chegou a R$ 39.075, 3,3% a mais que em dezembro. No caso da General Motors, o preço passou de R$ 40.928 para R$ 42.362, salto de 3,5%.” (Ronaldo D’Ercole, Lino Rodrigues e Márcio Beck, O Globo, 2/4/2013.)
* Decisões casuísticas criam insegurança, complicam o planejamento das empresas
“O governo Dilma acaba de prolongar até o final de dezembro a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis e caminhões.
“Essas prorrogações casuísticas vão se perpetuando sem que ninguém no governo consiga justificá-las. A nota oficial do Ministério da Fazenda avisa que o objetivo é ‘estimular o setor automotivo, um dos principais motores da economia’. Se esses incentivos são sistematicamente prorrogados é porque não passam de expedientes de curto alcance, que não garantem nunca estímulo que assegure futuro sustentável ao setor.
“A decisão implica renunciar à arrecadação de até R$ 2,2 bilhões em relação à que estava nas contas do governo. Não é um empurrão que ajudará na cura de um setor incapaz de competir, porque produz caro demais e somente consegue vender perto de 4 milhões de veículos por ano por desfrutar de reserva de mercado.
“Um dos argumentos de sempre é que a indústria automobilística tem de ser protegida porque, no mundo inteiro, recebe tratamento especial. Assim é nos Estados Unidos, onde a GM, a Ford e a Chrysler estão sempre obtendo favores do Tesouro. E é na França, na Itália, na China, na Coreia do Sul…
“Nada de errado na proteção. O equívoco está em definir essa proteção sem uma política consistente, sem um objetivo estratégico que a sustente. A indústria de veículos no mundo opera dentro de um sistema global de suprimentos, apoiada por tratados comerciais que abrem mercado externo. E não é o que acontece no Brasil, onde vigora uma esquisitice chamada conteúdo local, que tem de prever, também, proteção a ainda mais atrasada indústria argentina de autopeças e que refuga tratados comerciais consistentes.
“Não está claro nem mesmo o objetivo de curto prazo do governo federal com essa decisão. Não deve ser a preservação do emprego, como a Anfavea, a associação que defende os interesses do setor, chegou a argumentar.
“Só no Estado de São Paulo, a indústria de veículos mantém registrados 132 mil trabalhadores e espera bater o recorde histórico de 1980, quando eram 133,6 mil. Não há perspectiva de encolhimento do emprego no setor automotivo. De mais a mais, é o próprio Banco Central que vem advertindo que estamos vivendo uma situação de pleno emprego, que o mercado de trabalho está tão aquecido que concorre para o avanço da inflação.
“Essa também não pode ser mais uma manobra destinada a conter a alta do custo de vida. Os veículos não fazem parte da cesta básica e não será a redução de dois pontinhos de IPI que vai levar o setor a praticar preços mais baixos.
“Caso seja para empurrar a indústria, então cabe perguntar por que repetir a escolha arbitrária de um favorecido quando todo o sistema produtivo enfrenta os mesmos problemas.
“Ao contrário do que alardeia o governo, decisões desse tipo criam insegurança. Impedem o planejamento de longo prazo. A qualquer momento favores assim podem acontecer ou deixar de acontecer.” (Celso Ming, Estadão, 2/4/2013.)
Para lembrar quem pariu Mateus
* O pastor Feliciano assumiu o cargo por acordo com o PT e demais partidos da base
“Temos visto nos dias recentes diversas explicitações do desencontro que afeta a base aliada do governo, inevitável quando se tem uma coligação tão ampla quanto desigual, que abriga nada menos que 14 partidos aliados tão díspares quanto PT, PMDB, PSB, PCdoB, PDT, PP, PR, PTB, PRB, PHS, PTC, PT do B, PMN e PSC. A ofensiva do PT contra o pastor Marco Feliciano, que assumiu a Comissão de Direitos Humanos na Câmara por acordo com o próprio PT e demais partidos da base governista, em troca de o seu partido, o PSC, ter dado apoio à presidente Dilma na eleição de 2010 é apenas o exemplo mais escandaloso de aonde podem levar essas ‘alianças de resultado’.
“Na disputa eleitoral, há quem faça ‘o diabo’ para se eleger, como bem lembrou a presidente Dilma recentemente. Mas depois tem que coabitar com figuras como a do pastor, que também lida com o diabo ao falar de seus adversários. Mas é sintoma da doença grave que atinge o Congresso como um todo a tentativa de tirar o pastor de um cargo que jamais deveria ter ocupado por dizer que seus antecessores da Comissão eram dominados por satanás. Sentir-se ofendido por tal afirmação, feita num púlpito de igreja, é levar a sério o deputado e o pastor, quando deveriam levar mais a sério seus acordos políticos e as alianças partidárias.” (Merval Pereira, O Globo, 4/4/2013.)
5 de abril de 2013
Outros apanhados de provas da incompetência de Dilma e do governo:
Volume 75 – Notícias de 9 a 15/11.
Volume 76 – Notícias de 16 a 22/11.
Volume 77 – Notícias de 23 a 29/11.
Volume 78 – Notícias de 30/11 a 6/12.
Volume 79 – Notícias de 7 a 13/12.
Volume 80 – Notícias de 14 a 20/12/2012.
Volume 81 – Notícias de 4 a 10/1/2013.
Volume 82 – Notícias de 11 a 17/1/2013.
Volume 83 – Notícias de 18 a 24/1/2013.
Volume 84 – Notícias de 25 a 31/1.
Volume 85 – Notícias de 1º a 7/2.
Volume 86 – Notícias de 8 a 14/2.
Volume 87 – Notícias de 15 a 21/2.
Volume 88 – Notícias de 22 a 28/2.
Volume 89 – Notícias de 1º a 7/3.
Volume 90 – Notícias de 8 a 14/3.
OS TOMATES E A INFLAÇÃO!Não sou economista!Plantei uns tomateiros no quintal!
Um aumento forte no preço de produtos básicos da alimentação no ano passado (feijão e milho, basicamente) e de hortifrutigranjeiros (em destaque, o tomate, para variar.
Mesmo sabendo se tratar de fenômeno temporário, agentes permanentemente com sérias dificuldades em suas mentes voltam a clamar pela elevação das taxas de juro como remédio eficaz para conter os preços dos legumes, frutas e hortaliças, em geral.
O crescimento atual da inflação é fruto de um choque de oferta devido à baixa produção agrícola no ano passado.
Para entender os aumentos recentes, é preciso aceitar o fato de termos sofrido um importante choque de oferta, que começou com a queda da produção agrícola no ano passado. A safra terminada não foi das melhores, não houve a produção esperada de grãos.
Em segundo lugar, tivemos pressões externas de aumento de preços. E houve a correção do câmbio, absolutamente necessária para salvar a indústria.
Tivemos uma queda na quantidade dos cereais e nos seus subprodutos, mas a pressão fundamental decorreu das perdas na colheita de verduras e frutas no começo de 2013, em razão de um verão extremamente chuvoso, o que dificultou a safra e, de forma ainda mais dramática, o transporte.
ORA, ORA, OS TOMATES!
“e o tomate, na cozinha italiana, todos sabemos, é tão fundamental quanto o arroz e o feijão nos PFs dos bares e restaurantes populares brasileiros”.
dono da Nello’s, tradicional cantina de Pinheiros, em São Paulo, tomou uma decisão tão contundente, ele tirou o tomate do cardápio.
O tomate é um exemplo, com crescimento de 35% do preço e cuja demanda depende da nossa cultura, mais do que dos níveis de renda.
Nossas mães e avós aprenderam a cozinhar com o tomate, o que torna difícil tirá-lo do nosso regime. Logo, para conseguir reduzir o consumo, seria preciso fazer os preços subirem enormemente para as pessoas substituírem o molho de tomate em suas receitas. Quando cai a oferta de tomate, só existe uma quantidade fixa para atender a essa demanda obrigatória. Os preços sobem, mas 90 dias depois começa a haver a recuperação da oferta, e o preço volta.
Como a expectativa também de uma pequena desvalorização do câmbio, tudo indica que haverá uma redução no crescimento desses preços. É preciso sempre lembrar que inflação não é preço alto: inflação é crescimento de preços.
Há uma boa probabilidade de o governo estar certo, e a inflação arrefecer um pouco. Brasília resiste a aumentar a taxa de juros, por esperar uma pressão menor sobre os preços.
Aumentar a taxa de juros agora só provocaria o travamento da produção e o desemprego que alguns economistas pedem alegremente, desprezando os enormes custos sociais decorrentes.
É lamentável que alguns economistas e analistas repuxem o “cabo de guerra”, continuem a pensar na salvação da lavoura de uma taxa de juros “neutra”, elevada à categoria de divindade!
Por isso só as mentes com sérias dificuldades consigo mesmas podem defender ou imaginar que uma elevação da taxa de juros baixará o preço do tomate.
Não sou economista!Plantei uns tomateiros no quintal!
Golpistas de araque
Por Nelson Motta
Reproduzido do Globo, 29/3/2013
Zé Dirceu e Rui Falcão não devem ter notado, mas a mesma pesquisa do Ibope que deu 76% de aprovação à presidente Dilma revelou que 38% dos entrevistados acham o noticiário da mídia favorável ao governo, 34% consideram neutro, e só 11% avaliam como negativo. Que imprensa golpista de araque é essa que trata tão bem o governo petista? E ainda precisa ser controlada? Mais de 500 emissoras de televisão, 11 mil rádios, 5 mil revistas e centenas de jornais, sem contar os incontáveis sites e blogs, inúmeros mantidos por verbas oficiais, são a prova viva da liberdade e pluralidade de opinião no Brasil.
Qualquer proposta de real democratização da mídia começa pela proibição de que políticos controlem meios de comunicação. E para isto nem é preciso uma nova lei, basta aplicar com rigor a que está em vigor, e juízes que obriguem Sarney, Renan, Collor, Jader Barbalho e todos os políticos – e seus parentes e laranjas – que têm rádios, jornais e televisões, a cumpri-la.
Na Venezuela, a Globovisión, ultima rede de televisão que ainda fazia a possível oposição a Chávez, jogou a toalha e foi vendida a um empresário chavista. Na Argentina, os empresários kirchneristas já dominam a maior parte dos meios de comunicação. E tanto a mídia governista platina como a bolivariana faturam a parte do leão das verbas oficiais de publicidade, que crescem a cada ano. É esse “controle social” que eles sonham para o Brasil.
Calúnia e difamação
Mas mesmo se um dia essa sonhada “Lei Dirceu” for discutida, já será tarde demais: a internet será acessível a todos e incontrolável, dando à liberdade de informação e opinião um poder que tornará qualquer tentativa de controlar jornais, revistas e televisões tão defasada quanto inútil.
Não há conflito de opinião, calúnia ou difamação, em qualquer mídia, que não possa ser resolvido na Justiça, onde cada um responde pelo que diz e faz. Já são muitos, serão cada vez mais, os mentirosos e difamadores que pagam pesadas indenizações e são obrigados a humilhantes retratações públicas.
Mas nenhuma Lei de Meios teria evitado a denúncia, a cobertura, o julgamento e a condenação do mensalão.
***
Nelson Motta é jornalista
Seca histórica destrói economia rural no Nordeste.Estiagem prolongada põe à prova rede de proteção aos mais pobres disseminada nos governos Lula e Dilma.
(Bruno Boghossian, Angela Lacerda, Tiago Décimo e Carlos Nealdo – O estado de S. Paulo)
Na terça-feira passada, em visita a Fortaleza (CE), a presidente Dilma Rousseff afirmou que, graças às ações de seu governo e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, “a face da miséria nessa região não foi acentuada tão perversamente pela estiagem”. Para o professor João Policarpo Lima, do Departamento de Economia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a aposentadoria rural e projetos como o Bolsa Família e o Bolsa Estiagem dão às famílias do campo, de fato, uma alternativa à produção agrícola quando as condições climáticas ficam desfavoráveis, mas a quebra de safras e a morte de rebanhos provocam efeitos duradouros na economia local.
“A população pobre do semiárido fica menos vulnerável às secas, mas isso não significa que a população como um todo esteja imune, pois a economia entra em colapso e a população fora dessa cobertura fica desempregada ou perde suas outras fontes de renda”, afirma Lima. “Essa situação de hoje é menos ruim do que era há 40 anos, quando não havia programas de transferência de renda e apenas as frentes de emergência eram acionadas, de forma clientelística.”
AS TOMATADAS!
CULPA É DO TOMATE…
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Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania
De uns dias para cá, o tomate – bem como quem o planta – tornou-se o inimigo público número um. E os valentes da pátria levantaram-se para enfrentar o vilão escarlate.
Definitivamente, pois, há que conhecer a nova ameaça.
De origem latino-americana, primo das berinjelas, das pimentas e dos pimentões, rubro como convém à demonização, o tomate conquistou a humanidade há séculos e hoje é plantado e consumido nos quatro cantos da Terra.
Quem poderia imaginar que um dia se tornaria o arauto da desgraça nacional…
Aumentou uma vez e meia de preço, no Brasil. Estamos ou não estamos perdidos?
O tomate é um perigo. Não se sabe, até hoje, se é fruta ou legume. Logo aparecerá algum radical de ultradireita acusando-o de ser gay.
Esse perigo vermelho é o grande desafio à humanidade. Derrotado, implantar-se-á a paz mundial.
Se o que escrevi até o parágrafo anterior lhe parece ridículo, saiba que em ridicularia não chega nem perto do noticiário
Elevar o tomate à categoria de indicador econômico é deixar da cor dele qualquer um que tenha sido abençoado pela natureza com mais de dois neurônios.
Mas, pensando bem, se os neoliberais criaram um índice “Big Mac”, por que o tomate não poderia se tornar mais um parâmetro do estado das economias?
Ver o espetáculo circense que se tornou a alta sazonal de preço de um vegetal deve ter sido a verdadeira causa-mortis de Margareth Tatcher. Morreu de vergonha do ponto a que chegou a doutrina que vendeu ao mundo um dia.
Contudo, se a fruta-legume de coloração sanguínea for o grande inimigo da pátria, estamos bem.
Como por certo gastamos muito mais energia elétrica do que tomate, nosso problema é pequenininho. A redução de preço de uma compensou de monte a alta do outro.
A carne também andou caindo. Ontem comprei um quilo de filé mignon por R$ 23,69. Chegou a custar quase R$ 50, mas preços sazonais sobem e caem.
Aqui ou na Suíça.
Mas preço baixo não levanta cruzadas de donos de restaurante ou donas-de-casa ou põe âncoras de telejornal de olhos vermelhos para falar de si.
Tenho medo de explicar e ser xingado. Alguém pode achar que estou fazendo pouco de sua inteligência, mas não resisto a explicar que o nível de preço em que estão o tomate ou a carne decorre de um fenômeno chamado sazonalidade.
Sazonalidade = produtos sujeitos a imprevistos maiores na produção que caem muito ou sobem muito de preço de acordo com a época do ano.
Sim, claro, a inflação não está tão baixa. Mas tipificar a alta extraordinária – no sentido de fora dos padrões de altas de preço – do tomate como característica generalizada da economia não passa da mais legítima vigarice.
Margareth Tatcher deve ter morrido de vergonha de como os seguidores de seus ideais se transformaram em verdadeiros picaretas.
Pode-se não gostar de suas ideias, mas ela ao menos acreditava no que dizia. Ao contrário dos caluniadores do tomate.
Aposto que, se tivesse proferido últimas palavras, Margareth teria dito aos barulhentos mascates do neoliberalismo de hoje em dia:
“Parem de pisar no tomate, rapazes!”