meu pai já tinha preparado o café. o menino comeu rápido e já saiu. ele nunca fica à mesa até o fim da refeição porque lá fora sempre há algo que o atrai. continuamos sentados, eu e meu pai. Continue lendo “A Espécie Humana. Capítulo 5”
A Espécie Humana. Capítulo 4
os homens, pai, são muitos animais e muitas são suas ordens e suas famílias e suas espécies e subespécies. Continue lendo “A Espécie Humana. Capítulo 4”
A Espécie Humana. Capítulo 3
antes de o sol chegar, ainda na semi-obscuridade, percebi que meu pai estava sentado na cama, um colchão no largo chão do sótão. a luz ia chegando lentamente, as sombras se desmanchavam. Continue lendo “A Espécie Humana. Capítulo 3”
A Espécie Humana. Capítulo 2
há verdades
espalhadas pelo mundo.
umas escondidas e outras iluminadas e num pedestal. Continue lendo “A Espécie Humana. Capítulo 2”
A Espécie Humana. Capítulo 1
o entardecer silenciou as vozes do mundo. os últimos pássaros teimosos se aninham em seus berços de galhinhos e plumagem. no meio do silêncio eu espero. Continue lendo “A Espécie Humana. Capítulo 1”
A Espécie Humana. Capítulo 0
pode o velho conviver com o adulto que ele foi um dia? ou com o menino?, cuja lembrança já está quase de todo apagada! Continue lendo “A Espécie Humana. Capítulo 0”
Um romance, um capítulo por semana
Para quem gosta de escrever, transformar o material escrito em livro sempre foi um grande problema. Dependia-se da boa ou má vontade dos editores, ditadores que, antigamente, funcionavam como árbitros da estética e hoje são, quase sempre, apenas fazedores de dinheiro. Continue lendo “Um romance, um capítulo por semana”
O diabo existe?
Na manhã seguinte, durante o café:
Vovô, o diabo existe? Continue lendo “O diabo existe?”
Réquiem para todas as ausências
O último homem está caído ao chão. É sua última queda. A custo encostou-se a uma pedra. Seu corpo dói. O respirar é aflito. Olha as pernas e os pés mas vê apenas ossos e uma pele suja. Continue lendo “Réquiem para todas as ausências”
Varsóvia, dia 14 de abril, 17 horas
Liuxa, quatro anos, trepado nos ombros do pai, observa o cortejo. Homens e mulheres vestidos com roupas coloridas, desfilam dançando e rindo. Liuxa não sabe o porquê da festa. Não entendeu o que disse o tio, ao falar de vinte anos de independência. Continue lendo “Varsóvia, dia 14 de abril, 17 horas”
Em algum lugar em todos os lugares
Não se pode dizer que naquele preciso momento houvesse consciência. Não se pode. Não se deve admitir que houvesse memória. Não. Se houver necessidade de um termo que informe sobre o estado daquele exato instante, o único que se aproximaria vagamente é o de noção. Talvez houvesse noção. Noção de existência? Continue lendo “Em algum lugar em todos os lugares”
Presidiária
Tudo pode ser dito, tudo pode ser contado, até porque desde que eu saí de casa é como se eu tivesse saído de uma cela, já que passei as duas últimas semanas de cama, aquela febre fervida, aquela raiva contida, aqueles olhos ardendo, sugestões de chás de camomila e erva cidreira, doses maciças de analgésicos. Continue lendo “Presidiária”
A revelação da minha vida
Dobrei a esquina para a Rua Araújo, com o coração aos pulos. Logo aprenderia que essa expressão – coração aos pulos – morreu com os antigos folhetins literários. Mas, naquela época, eu não sabia disso. Continue lendo “A revelação da minha vida”
O Sermão do Planalto
Confusão e sono. Sono e dor. Dor e ruídos. Ruídos e dormência.
João tentou levantar a perna insensível mas não conseguiu, sentiu que não conseguia. Pensou, no meio do nevoeiro, pensou com dificuldade que, se respirasse muito fundo, conseguiria levantar a perna morta. Respirou mas ouviu zumbidos, estalos que rebentavam e luziam ante seus olhos inchados e meio cegos. Continue lendo “O Sermão do Planalto”
A chave do lado de dentro
O homem fez sinal, o motorista parou o táxi, abriu a porta e pegou a mala que a mulher lhe estendeu.
O homem olhou a mulher, olhar demorado, beijo rápido, o motorista fechou a porta do táxi, ele foi, ela ficou. Continue lendo “A chave do lado de dentro”