Já devia estar preso há muito. Eu. Questões de off-shore. Falemos de tamanho. Há o tamanho da abundante sensualidade de Kathleen Turner em Body Heat. William Hurt toca-lhe e queima-se todo. Não é tamanho que se compare com o tamanho da ilegalidade que abrasa o meu passado. Continue lendo “Verão interruptus”
Pessoa e Godard
Hollywood foi para Godard o que o sexo foi para Fernando Pessoa: nunca experimentou. Não foi por falta de vontade, e houve até um dia em que, como Pessoa a colar a ansiosa boca à boca de Ofélia, Godard beijou Hollywood no canto dos lábios. Continue lendo “Pessoa e Godard”
A década que coloriu o cinema
Ao longo dos anos 60, a década que segundo muita gente mudou tudo, houve um fenômeno fascinante no cinema e outro igualmente fascinante, e um tanto parecido, num tipo de música popular. Continue lendo “A década que coloriu o cinema”
O beijo de Maureen O’Hara
O beijo que Maureen O’Hara e John Wayne deram em The Quiet Man é o arquétipo de todos os beijos. Os do cinema e os que na vida mais se parecem aos do cinema. Lembro-o, e queria ser eu a dá-lo hoje, por ter acabado de ouvir que morreu Maureen O’Hara, a mais ruiva, a mais irlandesa, a mais fordiana das actrizes. Continue lendo “O beijo de Maureen O’Hara”
O riso e a perninha de Astaire
Não sei se é rir ou dançar. É disso que eu mais gosto e esqueçam lá ler e escrever. Pode ler-se a dançar, como as elegantes pernas de Leslie Caron mostram no An American in Paris e a rir escreveu o argumentista Michael Arlen, em Hollywood. Continue lendo “O riso e a perninha de Astaire”
Elogio de John Ford
Se se interessava por filmes quando era criança, perguntaram-lhe. Com aquela voz torta e áspera que era a dele, John Ford disse: “Not really, e agora também não, mas é uma boa maneira de ganhar a vida.” Continue lendo “Elogio de John Ford”
Se hoje fosse sábado
Já tinha visto Os 4 Cavaleiros do Apocalipse, estranho filme de Vincente Minnelli. Sabia da guerra no mato de Angola, mas fome, peste e morte? Os meus 17 anos só tinham olhos para o gira-discos novo, comprado com o primeiro salário colonial. Curtia Black Sabbath numa varanda semi fechada. Continue lendo “Se hoje fosse sábado”
Lolita e Hitchcock
Olhamos para o colo gordo de Hitchcock e é tentador pensar que ele podia ter sentado uma ou outra Lolita nesse regalado conforto. É verdade, dava-se com Nabokov, pai de todas as Lolitas. Telefonavam-se e carteavam-se. Que se saiba, Nabokov nunca lhe pediu que adaptasse a sua Lolita ao cinema. Continue lendo “Lolita e Hitchcock”
No quarto de Marguerite
As vedetas. Por mais que queiramos ser-lhes indiferentes, desprezá-las até com aquele ligeiro véu de nojo do “já estou muito acima disso”, se tropeçamos numa, é logo um desassossego. Desatamos a correr para o “feicebuque” e para o instagram, que é um mimo. Continue lendo “No quarto de Marguerite”
Morre o crucificado
Foi no estertor do século XV. À bruta, Hans II integrou a Suécia na união que já reunia a hegemónica Dinamarca e a Noruega. Foi rei da fria Escandinávia. Continue lendo “Morre o crucificado”
Nas asas do anjo
Queria ter asas e voar, mas não é Ícaro nem o Jardel da canção do Rui Veloso quem quer. E ainda assim tive uns aviões na vida. Misturam-se com filmes. Continue lendo “Nas asas do anjo”
O estrangeiro
Gosto do estrangeiro, do homem e da mulher sós, sem ninguém que lhes fale a língua. Gosto do francês de Aljezur, da implacável alemã, patroa do recepcionista que eu fui num hotel do Lobito, do zairense da Caparica, mais expatriado do que o Chewbacca do Star Wars. Continue lendo “O estrangeiro”
Carta a Marlon Brando
O escritor Jack Kerouac tinha uma cara suficientemente boa para cinema. Bem podia ter sido o que Montgomery Clift sofridamente foi em From Here to Eternity. E, não tivesse já morrido, até podia ser a cara de um dos recrutas de Stanley Kubrick em Full Metal Jacket. Tinha uma bela cara de homem, maçãs do rosto coradas a audácia e dúvidas. Continue lendo “Carta a Marlon Brando”
F?
Kafka, nome impossível de duas consoantes e uma vogal; Kafka, lengalenga infantil a que só um insidioso F evita a ridícula cacofonia, protagonizou uma inimaginável paixão. O autor de A Metamorfose amou à maneira dos filmes a que tanto ia, como mostra Hanns Zischler no documentário Kafka goes to the movies. Continue lendo “F?”
Turbilhão de vida
Volto a falar de Jules et Jim, filme em que François Truffaut se deu ao único verdadeiro luxo na vida de um homem, o de ser, ao mesmo tempo, fiel e infiel. A quem? Não interessa? Interessa e já lá vamos. Continue lendo “Turbilhão de vida”












