Verão interruptus

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Já devia estar preso há muito. Eu. Ques­tões de off-shore. Fale­mos de tama­nho. Há o tama­nho da abun­dante sen­su­a­li­dade de Kath­leen Tur­ner em Body Heat. Wil­liam Hurt toca-lhe e queima-se todo. Não é tama­nho que se com­pare com o tama­nho da ile­ga­li­dade que abrasa o meu passado. Continue lendo “Verão interruptus”

Pessoa e Godard

zzmanuel01Hollywood foi para Godard o que o sexo foi para Fer­nando Pes­soa: nunca expe­ri­men­tou. Não foi por falta de von­tade, e houve até um dia em que, como Pes­soa a colar a ansi­osa boca à boca de Ofé­lia, Godard bei­jou Hollywood no canto dos lábios. Continue lendo “Pessoa e Godard”

O beijo de Maureen O’Hara

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O beijo que Mau­reen O’Hara e John Wayne deram em The Quiet Man é o arqué­tipo de todos os bei­jos. Os do cinema e os que na vida mais se pare­cem aos do cinema. Lembro-o, e que­ria ser eu a dá-lo hoje, por ter aca­bado de ouvir que mor­reu Mau­reen O’Hara, a mais ruiva, a mais irlan­desa, a mais for­di­ana das actrizes. Continue lendo “O beijo de Maureen O’Hara”

Se hoje fosse sábado

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Já tinha visto Os 4 Cava­lei­ros do Apo­ca­lipse, estra­nho filme de Vin­cente Min­nelli. Sabia da guerra no mato de Angola, mas fome, peste e morte? Os meus 17 anos só tinham olhos para o gira-discos novo, com­prado com o pri­meiro salá­rio colo­nial. Cur­tia Black Sab­bath numa varanda semi fechada. Continue lendo “Se hoje fosse sábado”

Lolita e Hitchcock

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Olha­mos para o colo gordo de Hit­ch­cock e é ten­ta­dor pen­sar que ele podia ter sen­tado uma ou outra Lolita nesse rega­lado con­forto. É ver­dade, dava-se com Nabo­kov, pai de todas as Loli­tas. Telefonavam-se e carteavam-se. Que se saiba, Nabo­kov nunca lhe pediu que adap­tasse a sua Lolita ao cinema. Continue lendo “Lolita e Hitchcock”

No quarto de Marguerite

As vede­tas. Por mais que quei­ra­mos ser-lhes indi­fe­ren­tes, desprezá-las até com aquele ligeiro véu de nojo do “já estou muito acima disso”, se tro­pe­ça­mos numa, é logo um desas­sos­sego. Desa­ta­mos a cor­rer para o “fei­ce­bu­que” e para o ins­ta­gram, que é um mimo. Continue lendo “No quarto de Marguerite”

O estrangeiro

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Gosto do estran­gei­ro, do homem e da mulher sós, sem nin­guém que lhes fale a lín­gua. Gosto do fran­cês de Alje­zur, da impla­cá­vel alemã, patroa do recep­ci­o­nista que eu fui num hotel do Lobito, do zai­rense da Capa­rica, mais expa­tri­ado do que o Chew­bacca do Star Wars. Continue lendo “O estrangeiro”

Carta a Marlon Brando

O escri­tor Jack Kerouac tinha uma cara sufi­ci­en­te­mente boa para cinema. Bem podia ter sido o que Mont­go­mery Clift sofri­da­mente foi em From Here to Eter­nity. E, não tivesse já mor­rido, até podia ser a cara de um dos recru­tas de Stan­ley Kubrick em Full Metal Jac­ket. Tinha uma bela cara de homem, maçãs do rosto cora­das a audá­cia e dúvidas. Continue lendo “Carta a Marlon Brando”

F?

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Kafka, nome impos­sí­vel de duas con­so­an­tes e uma vogal; Kafka, len­ga­lenga infan­til a que só um insi­di­oso F evita a ridí­cula caco­fo­nia, pro­ta­go­ni­zou uma ini­ma­gi­ná­vel pai­xão. O autor de A Meta­mor­fose amou à maneira dos fil­mes a que tanto ia, como mos­tra Hanns Zis­ch­ler no docu­men­tá­rio Kafka goes to the movies. Continue lendo “F?”