Más notícias do país de Dilma (87)

Foi uma semana e tanto, esta, em que dezenas de pessoas ligadas a coisas como a União da Juventude Socialista e Partido Comunista Revolucionário tentaram impedir que Yoani Sánchez se manifestasse, e o deputado Sabá Machado, vice-líder do PT na Câmara, ocupou a tribuna para reclamar da visita da dissidente àquela casa.

Falando em nome do partido que governa o país há dez anos, Sabá Machado afirmou que o convite a Yoani Sánchez foi um erro que só será reparado se a Câmara oferecer uma recepção de gala ao terrorista italiano Cesare Battisti, que o governo Lula não aceitou extraditar para a Itália, onde foi condenado por crimes de morte.

É como escreveu Augusto Nunes no site de Veja:

“É dos battistis que o PT gosta, confirmou Sibá Machado. São as yoanis que o PT não quer. Enquanto ela conspira contra a democracia mais avançada do planeta, ele luta pela derrubada de uma ditadura feroz. Entre a Itália e Cuba, o PT fica com a ilha-presídio. Entre uma mulher que vive em busca da liberdade e um homem que matou para sufocá-la, os companheiros preferem o homicida. Faz sentido. Os petistas e os battistis nasceram uns para os outros.”

Durante a semana, os jornais informaram, por exemplo, que, mesmo com os bilionários pacotes de estímulo adotados pelo governo, a economia brasileira cresceu apenas 1,35% no ano passado, pelas contas do Banco Central; a produtividade do trabalhador brasileiro caiu ‘dramaticamente’ em 2012, segundo o centro de pesquisas Conference Board, e, na América Latina, o Brasil só perde para a Bolívia; em menos de um ano e meio, Petrobrás perdeu 60% do que ganhou na megacapitalização de setembro de 2010; os trabalhadores que investiram dinheiro do FGTS na Petrobrás já perderam 12% só nestes primeiros 50 dias do ano.

Já o governo anunciou oficialmente, com grande espalhafato e fanfarras, que erradicou a pobreza extrema no país. Na Ilha da Fantasia em que vive o governo tudo é possível. Como disse Rolf Kuntz em artigo no Estadão: “O papa Bento XVI anunciou a intenção de se isolar depois de abandonar o Vaticano. Dificilmente estará mais distante do mundo num convento do que estaria no Palácio do Planalto.”

Aí vai a 87ª compilação de notícias e análises que comprovam a incompetência do lulo-petismo como um todo e do governo Dilma Rousseff em especial. Foram publicadas entre os dias 15 e 21 de fevereiro.

Dez anos de PT no governo

* Quando as coisas dão errado, o governo Dilma se vê sem espaço para atribuir parte dos erros à administração anterior

“Na próxima semana, o PT deve comemorar em grande estilo dez anos de conquista da Presidência. Não é pouco. A festa é mais do que justa. Foi um decênio marcado por alto grau de continuidade. A junção do governo de Dilma ao de Lula foi sem costura.

“Um alto grau de continuidade entre dois governos tem muitas vantagens. Mas, aos poucos, o Planalto vem se dando conta de que também tem suas desvantagens. Quando as coisas dão errado, o governo se vê sem espaço para atribuir parte dos erros à administração anterior. Não faltam bons exemplos. Alguns óbvios. Outros, nem tanto.

“A presidente Dilma Rousseff tem plena consciência de que um quadro sério de falta de energia elétrica lhe seria fatal, tendo em vista o papel central que vem desempenhando, há exatos dez anos, nas intervenções do governo no setor. Não teria com quem partilhar os custos de uma falha grave nessa área.

“A interminável sequência de más notícias sobre a Petrobrás também merece atenção. Em face do enorme desgaste político, o governo tem tentado conter os danos, dando discreto alento à narrativa favorável que se vê em parte da mídia. Os problemas da empresa vinham do governo anterior. E, só no ano passado, puderam ser detectados e enfrentados pelo atual governo, com a nomeação da nova presidente da Petrobrás.

“É até uma boa história. Mas incompleta. O que ainda falta explicar é que, durante sete dos oito anos do governo Lula, a presidente Dilma Rousseff ocupou nada menos que a presidência do Conselho de Administração da Petrobrás. E não se pode dizer que era função puramente figurativa. Afinal, se tratava da maior sociedade anônima do País. É mais do que sabido que a presidente se dedicou à função com seu empenho habitual. E, tendo chegado à presidência do Conselho como ministra de Minas e Energia, fez questão de manter a posição quando passou a responder pela Casa Civil.

“É preciso também ter em mente que boa parte das dificuldades que vêm sendo enfrentadas pela Petrobrás decorre da sobrecarga que foi imposta à empresa pelas impensadas regras de exploração do pré-sal. Todas elas concebidas no governo passado, sob a estrita tutela de Dilma Rousseff.

“Outra narrativa conveniente, e também incompleta, é a que vem pautando a racionalização do emperramento do investimento público. A alegação é que, surpreendida com as irregularidades detectadas nos programas de investimento de certas áreas, como o Ministério dos Transportes, a presidente se viu obrigada a fazer uma ‘faxina’. E levou muito tempo para conseguir remontar toda a estrutura burocrática requerida para fazer o investimento acontecer. O que falta explicar é como irregularidades desse vulto escaparam por tantos anos, no governo Lula, à eficiência com que Dilma Rousseff teria gerido os programas de investimento público que compunham o PAC.

“Na condução da política econômica, o continuísmo assumiu um contorno especialmente problemático. Havia até boas coisas a preservar. Mas o que o atual governo decidiu manter, ao conservar intacta a equipe do eixo Fazenda-BNDES, foi o vale-tudo da última fase do período Lula, que contava com o apoio entusiástico da candidata Dilma Rousseff. A presidente está colhendo o que plantou. Não pode se queixar da perda de credibilidade da política econômica que hoje se vê.” (Rogério Furquim Werneck, economista, O Globo e Estadão, 15/2/2012.)

“Governos espetaculares fazem espetáculos”

* Governo faz um tipo de marquetagem sobre a seca que chega a ser um deboche

“Desde o ano passado o semiárido nordestino atravessa uma grave seca. Na Bahia, Sergipe, Alagoas e Maranhão, 75% dos municípios estão em estado de emergência. No Ceará, são 177 em 184. Lá, as chuvas do ano passado ficaram em metade da média habitual e neste ano estão abaixo do terço (55,1 milímetros contra 161,8). Há 136 municípios dependendo de carros-pipa para atender perto de um milhão de pessoas. Em algumas cidades as escolas dependem do socorro de vizinhos.

“Os investimentos feitos na região mostraram-se insuficientes para enfrentar uma calamidade natural que, segundo os meteorologistas, tende a se agravar. Estima-se que as chuvas deste ano serão poucas.

“A mais vistosa ação do governo federal tem sido um filme de um minuto que a Secom botou nas televisões da região. Nele, ‘Chambinho do Acordeon’, feliz e sorridente, anda pela caatinga informando que ‘a seca sempre vai existir, mas o sertanejo vai poder se defender cada vez mais dela’. Cantando louvores aos investimentos feitos pelo governo, informa que ‘o sertanejo é um cabra forte, só precisa de apoio, e vai ter cada vez mais’.

“Os sertanejos que estão sem o abastecimento de carros-pipa não precisam de propaganda. O que lhes falta é água. Esse tipo de marquetagem no meio de uma seca chega a ser deboche. Para falar sério, o aparelho de autoglorificação da doutora Dilma deveria anunciar, ao fim de cada clipe, quanto gastou na marquetagem e quantos carros-pipa ela pagaria.

“Durante a seca de 1998, Lula visitou o interior do Ceará acompanhado de José Genoino, cuja família morava em Jaguaruana. Culpou a desatenção dos tucanos e prometeu rios de mel. Nas palavras de Nosso Guia: ‘O sofrimento do povo nordestino só vai acabar no dia que a gente tiver políticas de investimento para tornar esta terra produtiva. E essas políticas o PT tem’. Qual era? ‘O Fernando Henrique veio ao Ceará na campanha de 1994 e prometeu transpor as águas do rio São Francisco. Mas até agora não trouxe sequer um copo de água. Ele foi mentiroso e vai mentir de novo prometendo a obra para ganhar voto’. Em 2003, eleito, Lula prometeu: ‘Nesses quatro anos, 24 horas por dia serão dedicadas para fazer aquilo em que acredito: a transposição das águas do rio São Francisco’. Ficou oito anos, a doutora Dilma juntou mais dois e depois de dez anos o ‘copo de água’ ainda não apareceu.” (Elio Gaspari, O Globo e Folha de S. Paulo, 17/2/2013.)

Está tudo errado nas decisões sobre a economia

* Cada vez que Mantega fala, cai a credibilidade no governo

“O ministro da Fazenda, Guido Mantega, voltou a falar sobre o combate à inflação, recomendou a política de juros como principal instrumento e, mais uma vez, condenou o uso do câmbio para a contenção da alta de preços. Em outras condições, especialmente em países onde o Banco Central (BC) dispõe de uma clara autonomia operacional, aqueles comentários seriam considerados meras obviedades e descartados como irrelevantes. No Brasil, no entanto, são recebidos com atenção e chegam a influenciar, como ocorreu ontem, decisões tomadas no mercado de capitais. A atenção dispensada às palavras do ministro, nesse caso, só se justifica, tecnicamente, porque há dúvidas bem fundadas sobre três pontos essenciais para o entendimento e a avaliação da política.

“Em primeiro lugar, o BC parece hoje muito menos independente do que havia sido até há dois anos e muito mais sujeito à intervenção, disfarçada ou nem tanto, da Presidência da República. Quem comanda, portanto, as decisões sobre juros?

“Em segundo lugar, o próprio governo, em várias ocasiões, confundiu as formas de ação, recorrendo a instrumentos diferentes da política monetária para conter a inflação, ou, mais precisamente, a elevação do índice. O prolongado controle dos preços dos combustíveis é um bom exemplo desse tipo de interferência.

“Em terceiro lugar, as autoridades têm demonstrado uma indisfarçável tolerância à inflação, gerando incertezas sobre a meta realmente escolhida. O alvo efetivo será uma taxa anual de 4,5% ou qualquer ponto até o limite de 6,5%? Em mais de uma ocasião a fala das autoridades tem justificado essa dúvida.

“A própria meta de 4,5%, mantida há oito anos, é bem mais alta que a de outros países, tanto desenvolvidos quanto em desenvolvimento. Esse dado já é um forte indício de tolerância à alta de preços. Além disso, a inflação elevada tem coexistido com baixas taxas de crescimento econômico. Nem a mais comum justificativa – um estímulo adicional à atividade – valeria neste caso.

“O ministro Guido Mantega parece consciente de pelo menos algumas dessas dúvidas, quando se põe, como fez ontem, a falar sobre a política anti-inflacionária. Sempre se acende um sinal de alerta no governo, disse ele, quando a inflação anual supera 4,5%. Se isso for verdade, o sinal deve estar aceso há muito tempo. Fica difícil, nesse caso, explicar por que a inflação chegou a 6,5% no fim de 2011 e a 6,15% nos 12 meses terminados em janeiro deste ano.

“Se todas as palavras do ministro fossem precisas, seria igualmente difícil dar conta da política de juros. O BC iniciou uma série de cortes no fim de agosto de 2011, manteve essa política durante meses, no ano seguinte, e há algum tempo tem mantido a taxa básica em 7,25%. Oficialmente, dirigentes e técnicos do BC continuam à espera de um recuo ‘espontâneo’ da inflação, isto é, de uma alta menor de preços mesmo sem um aperto monetário. Mas é difícil conciliar também esse dado com a história do sinal de alerta.

“O ministro da Fazenda começou a falar sobre inflação, juros e câmbio há algumas semanas, depois de divulgada a inflação de janeiro, de 0,86%. Se o governo insistisse em manter os juros em 7,25%, especulou-se no mercado financeiro, o BC poderia intervir no câmbio para baratear o dólar. Isso afetaria os preços vinculados ao comércio internacional e ajudaria a conter o índice de inflação. Mas o resultado seria ruim para a indústria, porque encareceria os bens exportáveis e favoreceria a importação. Essa tática seria contrária à política de depreciação cambial defendida pelo ministro da Fazenda.

“Ao recomendar um combate à inflação baseado nos juros, o ministro Guido Mantega pode estar abrindo caminho para uma nova mudança da política monetária. Essa hipótese foi considerada no mercado financeiro. Mas suas declarações podem ser também uma tentativa de estimular uma alta de juros no mercado, antes mesmo de qualquer decisão de política monetária.

“Isso pode ser uma forma de terceirizar, espertamente, as funções do BC. O resultado pode ser também uma confusão maior na sinalização ao mercado, com maior perda de credibilidade para o governo. É esperar para ver.” (Editorial, Estadão, 16/2/2013.)

* As declarações de Mantega dão a impressão de que o governo não sabe o que quer

“Na manhã de sexta-feira (15/2), em entrevista a jornalistas brasileiros em Moscou, onde se encontrava para participar da reunião dos líderes do Grupo dos Vinte (G-20), o ministro da Fazenda, Guido Mantega, fez nova declaração surpreendente.

“Disse que ‘são os juros, e não o câmbio, o principal instrumento de controle da inflação no Brasil’. O surpreendente não é o conteúdo da afirmação, porque é exatamente isso que se espera da política de juros. Surpreendente é quem a fez e os motivos que o levaram a fazê-la.

“As questões de fundo são sobejamente conhecidas: a inflação no Brasil mudou de patamar e agora paira acima dos 6% ao ano; o Banco Central vem repetindo em seus documentos que, tão cedo, não pretende usar sua política de juros (política monetária) para domar os preços; e, meses depois de ter puxado as cotações do dólar para a altura dos R$ 2,10, reconhecidamente para dar mais competitividade à indústria, o Banco Central pareceu ter alterado o objetivo do câmbio, passando a usá-lo mais para combater a inflação. (O impacto anti-inflacionário do câmbio se dá quando há redução das cotações do dólar em moeda nacional – valorização cambial –, que contribui para derrubar os preços dos produtos importados.)

“As novas declarações do ministro Mantega passam a impressão de que o governo brasileiro não sabe o que quer. Não sabe se aciona o câmbio para dar prioridade ao incremento da competitividade à indústria ou se para o controle da inflação. Por outro lado, também não sabe se a derrubada dos juros básicos (Selic) é uma decisão sem retorno ou se, a qualquer momento, pode ser revertida para reconduzir para a meta a inflação que se acerca perigosamente do teto.

“Outra hipótese é a de que a episódica divergência entre Fazenda e Banco Central possa ter se acirrado, a ponto do ministro Mantega ter desautorizado o uso do câmbio para combater a inflação. Mas, caso seja assim, como explicar a decisão tomada sexta-feira pelo Banco Central, de voltar a recomprar dólares no câmbio interno para impedir novas baixas da moeda estrangeira e, assim, atuar na direção apontada por Mantega?

“Mais complicado é tentar explicar o que de fato pretende o governo. O nível de tolerância com a inflação inegavelmente cresceu. Tanto o Banco Central como o resto do governo Dilma parecem conformados tanto com a sucessão de pibinhos como com essa inflação acima dos 6,0% ao ano – aparentemente, os índices de aprovação popular do governo Dilma seguem elevados.

“Uma das possibilidades é que o Banco Central volte atrás no que escreveu e se disponha novamente a puxar pelos juros. Caso isso se confirme, ainda será preciso saber se essa decisão será para valer. Se for, os juros seriam acionados até que a inflação volte para os trilhos. Mas, se o que se pretende for somente um efeito cosmético, destinado a agir temporariamente sobre as expectativas, será somente um jeito de ganhar tempo, sabe-se lá para quê.

“De todo modo, as condições dos fundamentos da economia brasileira seguem em deterioração, mas não a ponto de provocar uma ruptura no atual arranjo. E, ao que tudo indica, é o que basta para que tudo permaneça mais ou menos como está. Até quando? Até (ou se) um choque qualquer desequilibrar tudo e for preciso rever as coisas.” (Celso Ming, Estadão, 17/2/2013.)

* “A história mostra que a megalomania do BNDES já trouxe prejuízos suficientes. Já era hora de mudar a estratégia”

“O Brasil está precisando fazer uma revisão da sua política econômica e dizer como pretende atingir seus objetivos e quais são eles. Vários países estão tentando sair da crise do baixo crescimento apostando em aumento de produtividade e inovação. O Brasil vem repetindo os mesmos erros e convivendo de forma condescendente com inflação e perda de dinamismo.

“O vigoroso discurso do presidente Barack Obama na terça-feira foi seguido de atitudes: sua bancada no Congresso está se preparando para uma nova lei de taxação de gases de efeito estufa e o acordo transatlântico de comércio e investimento foi anunciado no dia seguinte. Partiu-se do anúncio à ação imediatamente.

“O primeiro movimento é decorrente da convicção defendida pelo presidente de que a superseca no Meio-Oeste e o superfuracão Sandy do ano passado exigem mais atitude no combate às mudanças climáticas. O segundo intensifica os acordos comerciais para aumentar a criação de empregos e elevar os fluxos de comércio.

“No Brasil, enquanto isso, os empréstimos subsidiados do governo são distribuídos para empresas amigas para que elas sejam grandes. Não importa que práticas ambientais tenham ou que viabilidade financeira tenham. O jornal Valor Econômico de sexta-feira (15/2) trouxe a confirmação: o BNDES não verá a cor dos R$ 750 milhões que depositou na LBR Lácteos Brasil, a gigante de leite que pretendia criar. A empresa deu entrada com um pedido de recuperação judicial e fará uma reestruturação. A nova companhia não será a gigante que se pretendia, os investidores, entre eles o BNDES, não recuperarão seu dinheiro, e os novos diretores dizem que tudo é culpa da estrutura tributária do país. Dizem que o governo deu isenção de PIS/Cofins na cadeia do leite, e eles ficaram com créditos de R$ 500 milhões a receber que não têm como descontar. Espanto que não se soubesse disso há um ano atrás quando o banco estatal apostava na sua nova criatura.

“A história mostra que a megalomania do BNDES já trouxe prejuízos suficientes. Já era hora de mudar a estratégia. Quanto à Fazenda, em vez de sair distribuindo reduções de impostos aqui e acolá, deveria pôr em prática uma ampla reforma tributária. Obama anunciou que vai propor uma reforma tributária para aumentar a competitividade da economia. Aqui, nas crises recentes, o governo distribuiu reduções do IPI, elevou impostos sobre importados e incentivou bancos públicos a aumentarem a oferta de crédito. Com isso, melhorou as vendas temporariamente, reduziu a competição interna e elevou a inadimplência.

“A inflação ronda o teto da meta apesar de o país ter crescido zero em termos per capita no ano passado. As medidas para enfrentá-la são postergar aumento de ônibus, reduzir taxação ocasional de imposto, evitar alta do dólar. A única medida que tem efeitos mais duradouros é a queda do preço da energia, que será em parte neutralizada pela manutenção das térmicas ligadas durante o ano.

“O combate à inflação está precisando de um bom diagnóstico, ações permanentes e autonomia do Banco Central. Hoje, a impressão geral é que o BC não poderá elevar os juros se precisar. E essa ideia é confirmada cada vez que alguém do Ministério da Fazenda garante, como aconteceu muito nos últimos meses, que os juros não vão subir. Quem tem que julgar isso é o Copom, em reunião de seus membros. Amarrar as mãos do seu melhor lutador é um bom caminho para perder a briga. Os juros podem não subir, mas o que não pode acontecer é o BC ficar com reputação de ser o último a saber.” (Míriam Leitão, O Globo, 17/2/2013.)

* O governo age demais onde não deve e de menos onde deve

“O governo Dilma tem chamado a atenção por seu alto grau de intervenção na economia e nos negócios – apontam tanto analistas daqui quanto do exterior. Há nele, com certeza, alta dose de voluntarismo, que se baseia no princípio de que o governo tudo ou quase tudo pode, bastando, para isso, querer e acionar instrumentos adequados.

“Assim, os juros têm de cair e permanecer lá embaixo, sem prejuízo relevante para a inflação. A moeda precisa ser desvalorizada (alta do dólar) sem vacilação, para dar competitividade ao setor produtivo. O caixa da Petrobrás deve ser acionado, seja para garantir preços dos combustíveis acessíveis ao novo consumidor, seja para fazer política de boa vizinhança com países da América do Sul – como Venezuela, Bolívia e Argentina. Em compensação, a Petrobrás está obrigada a participar de toda licitação de área nova do pré-sal, com ao menos 30% dos investimentos. E terá de conceder reserva de mercado para fornecedores nacionais. Do BNDES, por sua vez, ativado com generosas transferências do Tesouro, se espera que dê suporte a um punhado de empresas eleitas para serem os futuros campeões da área, como o grupos Oi, LBR, JBS-Friboi ou as do Grupo EBX. E as concessionárias de energia elétrica têm de operar com tarifas 20% mais baixas. E, até recentemente, qualquer empresário que aceitasse participar de concorrência para obras de infra-estrutura teria de se conformar com retorno de apenas 6% – ‘porque opera com risco zero’.

‘São exemplos do ativismo governamental, que pode ser entendido também como manifestação de um keynesianismo submetido a processos antropofágicos semelhantes aos propostos pelos modernistas da década de 1920.

“Mas isso não é tudo. O outro lado da mesma moeda é a impressionante passividade também do governo Dilma.

“A inflação, por exemplo, quase sempre provocada por fatores externos, e não por desarranjos internos, convergirá mais ou menos espontaneamente para o centro da meta – mesmo levando-se em conta que os juros permanecerão onde estão ‘por um período de tempo suficientemente prolongado’, como dizem os documentos do Banco Central.

“O crescimento do PIB, de 4,0% a 4,5% ao ano, virá naturalmente – asseguram as autoridades, a despeito dos gargalos de infra-estrutura e da baixa produtividade da mão de obra num mercado que opera em regime de pleno emprego.

“Os investimentos, ora essa, estão garantidos. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) está, é verdade, atrasado ou sujeito a coisas esquisitas, como acontece com as obras da transposição do Rio São Francisco, mas, com um pouco de paciência, chegará a bom termo. Mais cedo ou mais tarde, o relutante ‘espírito animal’ do empresário brasileiro se mobilizará. Ninguém se desespere se o reconhecimento do etanol e do biodiesel como commodities internacionais esteja sendo frustrado pela política de combustíveis. As soluções para os problemas virão a seu tempo.

“O Mercosul está sendo deformado pelos furos e pelas travas impostas pela Argentina. Mas, aí também, é preciso flexibilizar as disposições dos tratados com alguma dose de tolerância para com os hermanos, que passam por poucas e boas…

“Enfim, não é só voluntarismo. É também deixar rolar.” (Celso Ming, Estadão, 19/2/2013.)

O mundo faz comércio, o Brasil fica para trás

* O Brasil está no caminho contrário, de aumentar as barreiras ao comércio e se isolar

“O anúncio do presidente Barack Obama, de fazer uma aliança comercial transatlântica com a Europa e fechar um acordo transpacífico com os países da Ásia, deveria acender a luz vermelha no nosso comércio exterior. O Brasil está no caminho contrário, de aumentar as barreiras ao comércio e se isolar. Há 10 anos o Mercosul negocia com a Europa, mas há poucos avanços a comemorar.

“O prazo para fechar o acordo comercial e de investimentos Norte-Norte, entre Estados Unidos e Europa, é de dois anos. Uma meta agressiva, que dificilmente pode ser cumprida levando-se em conta a complexidade de aprovação por 27 estados-membros. Mas o movimento deve ser entendido pela diplomacia comercial brasileira como o de que o mundo está tentando sair da crise aumentando e não diminuindo o comércio. ‘Esse acordo transatlântico muda tudo. No começo, os Estados Unidos viram a União Europeia como um bloco competidor, mas a crise os uniu. Portanto, haverá agora um aprofundamento da relação Norte-Norte’, diz Joseph Tutundjian, especialista em comércio exterior.

“No ano passado, quando o Brasil elevou para o teto permitido na OMC a tarifa de importação de 100 produtos, o país deu um sinal de que, em vez de apostar em mais liberalização de comércio ou nas negociações multilaterais, estava voltando à natureza defensiva de nossa economia.

“O Brasil foi fechado por tempo demais e nunca se abriu completamente. Bombardeou a possibilidade de um acordo que uniria todas as Américas. Aquela pode ter sido mesmo uma má proposta, mas o fato é que como copresidente o país teria bastante influência no rumo da negociação. A reação foi ideológica, como se um acordo comercial nos submetesse ao controle americano. ‘O tiro de misericórdia, na época, foi dado pelas autoridades brasileiras contra a Alca. A questão é qual foi a estratégia em seguida. Até agora, tem sido de fazer acordos via Mercosul, em que só se pode assinar qualquer documento quando todos concordam. Uruguai e Paraguai são até liberais, mas nada anda porque a Argentina fica contra tudo. Até agora, fizemos três acordos: Israel, Palestina e Egito, o que não é nada’, disse Tutundjian.

“Nas conversas de quase uma década com a União Europeia, o Mercosul reage à abertura de áreas e pede o que não vai acontecer. Um pedido, por exemplo, é o fim do subsídio agrícola que a França não deixará. ‘O Mercosul quer se proteger contra leis de investimento, contra leis trabalhistas, contra a presença de estrangeiros nas concorrências públicas. Desta forma, a negociação não consegue andar. Estamos isolados’, diz o especialista.

“Se olharmos o fato de que o comércio com os Estados Unidos murchou na última década e que as exportações brasileiras estão se concentrando em alguns poucos produtos, a maioria, commodities, está na hora de o Brasil mudar a estratégia de comércio. Em vez de ser defensivo, é o momento de ser mais ofensivo e estratégico.

“O acordo transpacífico, sobre o qual o presidente Obama falou, vem sendo costurado há mais tempo e, por natureza, é mais pulverizado. Só que, desta vez, está se fazendo uma lista de países com os quais fechar a negociação. Austrália, Nova Zelândia, Cingapura, Malásia, Vietnã e, do lado da América do Sul, Peru e Chile foram incluídos. ‘Precisamos nos mexer, sem achar que vamos determinar os rumos do mundo. O fato é que muitos países compram commodities de nós, mas quem compra aviões, celulares e sapatos do Brasil são os Estados Unidos. A economia americana é um pólo de alta tecnologia ao qual deveríamos estar mais ligados. Estamos totalmente na contramão, com medidas como o IPI do carro importado e a elevação de alíquotas’, disse Joseph Tutundjian.

“O Brasil experimentou a política de mercado interno fechado no passado, e o resultado foi o oposto do que se queria. O governo imaginava que, protegidas, elas investiriam, ficariam fortes e poderiam, no futuro, competir com o produto importado. O que houve foi que elas se acomodaram e perderam competitividade. O comércio nos dois fluxos aumenta renda, emprego, atividade econômica e força as empresas a investirem em inovação e produtividade. O risco é, de novo, o Brasil parar de evoluir enquanto o mundo se move.” (Míriam Leitão, O Globo, 15/2/2013.)

* Se quisesse ficar bem longe do mundo, o Papa Bento XVI poderia morar no Palácio do Planalto

“O fim da crise global poderá ser o marco de mais um fracasso brasileiro. Enquanto governos mais sérios tentam criar os alicerces de uma nova fase de prosperidade, Brasília continua discutindo a guerra cambial e brigando no Fundo Monetário Internacional (FMI) para adicionar alguns pontos de porcentagem a seu poder de voto. Nenhum país poderoso mudará sua política monetária ou fiscal para evitar reflexos no câmbio, nem a limitada redistribuição de votos afetará os rumos do FMI ou servirá ao desenvolvimento brasileiro. Economias emergentes e em desenvolvimento já têm votos mais que suficientes para exercer um respeitável poder de barganha. Mas só as autoridades brasileiras parecem acreditar num bloco dos Brics ou agem como se houvesse um alinhamento automático de países do Norte e do Sul. Pior para o Brasil. Quando o mundo entrou em recessão, em 2008, o País parecia um time promissor a caminho da primeira divisão. Poderá estar no rumo da terceira, quando o mundo rico voltar a crescer e a China tiver avançado em seus ajustes.

“Nesse momento, os emergentes mais dinâmicos e governados com mais seriedade, incluídos alguns latino-americanos, já estarão ocupando seus lugares para a nova etapa de prosperidade. No meio da crise, uma economia mundial mais dinâmica está sendo forjada, com programas de reformas e novos pactos comerciais entre blocos e países de todas as regiões.

“A recém-anunciada negociação de um acordo de comércio e investimentos entre Estados Unidos e União Europeia, os dois mercados mais ricos e mais desenvolvidos, é parte desse esforço de remodelação. As conversações entre países desenvolvidos e em desenvolvimento para a criação de uma Parceria Trans-Pacífico são um empreendimento aparentemente menos ambicioso. Mas essa iniciativa se soma a várias outras manobras para integração das economias da Ásia e do lado ocidental das Américas – com riscos evidentes para o comércio brasileiro, já afetado na vizinhança pela forte concorrência da China e de outras potências orientais.

“O presidente Barack Obama citou as duas negociações em seu pronunciamento sobre o estado da União. Houve reações divergentes em Brasília. Alguns diplomatas apontaram o projeto comercial de americanos e europeus como um novo estímulo para a busca de acordos relevantes ou, no mínimo, para a conclusão das conversações entre Mercosul e União Europeia. Mas também houve quem menosprezasse a novidade e até duvidasse da formação do megabloco do Atlântico Norte.

“Quanto a um ponto, pelo menos, parece haver coincidência de opiniões no governo: qualquer nova iniciativa do Brasil e de seus parceiros regionais dependerá da solução de problemas do Mercosul. Em termos concretos, o Brasil está amarrado aos problemas da Argentina e, portanto, às ambições políticas e às trapalhadas econômicas da presidente Cristina Kirchner. Nenhum acordo de livre-comércio será celebrado pelo bloco, ou por qualquer de seus sócios, enquanto a Casa Rosada estiver comprometida com a ala mais protecionista dos empresários argentinos. Por enquanto, no domínio dos Kirchners, há apenas o aprofundamento das políticas em vigor. As barreiras comerciais permanecem, o controle de preços se amplia (já com problemas de abastecimento interno) e as estatísticas oficiais continuam sendo feitas à moda da casa.

“Mas a presidente Dilma Rousseff e seus estrategistas internacionais parecem aceitar como natural, sábia e confortável a vinculação da diplomacia e dos interesses comerciais do Brasil a políticas desse tipo. Aceitaram o golpe contra o Paraguai e apoiaram a admissão da Venezuela no Mercosul pela porta dos fundos. A maior potência industrial da América do Sul depende, para fixar suas metas internacionais, da disposição de um governo vizinho populista, trapalhão e desacreditado internacionalmente. Basta a opinião desse governo, diante da passividade brasileira, para determinar os caminhos e descaminhos do Mercosul. Criado para servir à integração regional e facilitar a inserção de quatro países na economia global, o bloco transformou-se num trambolho, um entrave a qualquer esforço mais sério e mais ambicioso de diplomacia econômica.

“O Mercosul limitou-se a acordos com economias em desenvolvimento, nem sempre no alto das prioridades comerciais, e orientados frequentemente por preconceitos ideológicos. Nem os acordos com parceiros sul-americanos, os mais próximos, serviram de forma equilibrada à economia brasileira. Nem mesmo contribuíram para dificultar o ingresso crescente de produtos fabricados na Ásia. Essa invasão tem ocorrido mesmo no interior do bloco, onde o protecionismo argentino tem deslocado produtos brasileiros em favor de mercadorias fabricadas no Oriente.

“Com o fracasso da Rodada Doha, o Brasil perdeu sua principal aposta no jogo das negociações. Nada sobrou além de um regionalismo de baixo retorno e de um terceiro-mundismo de centro acadêmico. A América do Sul ainda é o principal destino das exportações brasileiras de manufaturados, mas até nesse terreno o País tem dificuldade para competir.

“Sem a rodada global, os governos mais adultos negociam acordos bilaterais e regionais. Esses acordos podem até complicar o sistema multilateral, mas são o jogo disponível neste momento – e o Brasil está fora. Nada mudará enquanto o governo confundir política internacional com passeata e subordinar sua diplomacia a interesses imaginários de blocos inexistentes, a começar pelo Brics. Se olhasse mais para o mundo, esse governo estaria de fato muito mais preocupado com as vantagens e desvantagens comparativas do Brasil e menos empenhado na retórica inútil da guerra cambial.

“O papa Bento XVI anunciou a intenção de se isolar depois de abandonar o Vaticano. Dificilmente estará mais distante do mundo num convento do que estaria no Palácio do Planalto.” (Rolf Kuntz, Estadão, 16/2/2013.)

* Em 20 anos, Brasil só fechou três acordos de comércio – e só um está em vigor

“Israel, Palestina e Egito. E apenas o primeiro está em vigor. Esse é o saldo de acordos de livre-comércio selados pelo Brasil desde 1991, quando se tornou membro do Mercosul. Nessas duas décadas, houve uma explosão de acordos bilaterais e regionais no mundo. Para os analistas de política comercial, os números mostram que o Brasil ficou para trás.

“O anúncio na semana passada das negociações entre Estados Unidos e União Europeia para formar a maior zona de livre-comércio do planeta aumentou a pressão sobre o governo brasileiro, que adota uma postura cautelosa na área comercial por conta do tamanho e da complexidade da economia local. ‘Nesse período, o mundo se mexeu muito, inclusive na nossa região’, diz Soraya Rosar, gerente executiva da unidade de negociações internacionais da Confederação Nacional da Indústria (CNI). ‘O Brasil está fora das grandes cadeias produtivas.’

“ Dados compilados pela Organização Mundial de Comércio (OMC) mostram que, até 10 de janeiro deste ano, 543 acordos bilaterais ou regionais haviam sido notificados (contando mercadorias e serviços em separado). Desses, 354 estavam em vigor – e pelo menos metade foi estabelecida de 2003 para cá.

“ Essa explosão de acordos bilaterais é uma consequência do fracasso das negociações da Rodada Doha, da OMC, que pretendiam derrubar barreiras ao comércio global, principalmente na área agrícola. ‘Estamos assistindo a substituição de Doha por um processo regional. E, em um mundo que se regionaliza, o Brasil tem poucos acordos’, diz Sérgio Amaral, ex-ministro do Desenvolvimento.

“ Os Estados Unidos possuem hoje 14 acordos de livre comércio em vigor e estão com duas grandes negociações em curso: o acordo com a União Europeia e uma aliança entre os países do Oceano Pacífico, com exceção da China. A UE também tem em vigor 32 acordos, e até mesmo a China, que desperta medo nos países, já assinou 15 tratados.

“Na América do Sul, os acordos proliferaram. Peru e Colômbia seguiram o caminho de Chile e México e selaram, respectivamente, 12 e 11 acordos de livre-comércio, incluindo EUA e UE. Os chilenos abriram o mercado para 21 países, enquanto os mexicanos assinaram 13 acordos, conforme estudo da CNI.

“De acordo com analistas, os países andinos estão colhendo os bons frutos da abertura de mercado. No ano passado, segundo projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI), as economias de Chile, Peru e Colômbia avançaram, respectivamente, 5%, 6% e 4,3%. Já o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deve ter subido 1%.” (Raquel Landim, Estadão, 17/2/2013.)

* Indústria perdeu US$ 14 bilhões ao deixar de exportar

“O ano de 2013 será crucial para o posicionamento dos países no xadrez do comércio mundial. Os emergentes devem tomar a liderança nas vendas, enquanto a crise assola as nações desenvolvidas. Nessa arrancada, o Brasil pode estar fadado a continuar um grande vendedor de commodities (produtos básicos com cotação global, como soja, minério de ferro e petróleo), já que a apatia da indústria faz o país perder cada vez mais espaço em destinos prioritários. Desde o inicio das turbulências, em 2008, até 2011, a falta de agressividade do setor custou US$ 14 bilhões ao país, segundo levantamento feito pelo Globo. O montante eqüivale à fatia do mercado de exportações perdida nesse período nos principais destinos.

“O dado não leva em conta 2012, porque as estatísticas dos outros países ainda não foram fechadas. Por aqui, o total das vendas externas caiu, bem como as exportações do setor industrial. E o cenário tende a piorar neste momento decisivo já que, apesar de ser a sétima maior economia do mundo, o Brasil está em 112º lugar no ranking de investimentos feito pela Agência de Inteligência Americana (CIA). É o pior colocado dos Brics — sigla para o grupo de emergentes formado por Brasil, Rússia, índia, China e África do Sul. Já entre os sul-americanos, só está à frente do Paraguai. O Brasil investe 18,9% do Produto Interno Bruto.

“Com falta de investimentos e, consequentemente, queda de competitividade, o Brasil tem diminuído sua participação no comércio mundial.” (Gabriela Valente, O Globo, 18/2/2013.)

A desorientação na área energética

* Em menos de um ano e meio, Petrobrás perdeu 60% do que ganhou na megacapitalização

“A capitalização da Petrobrás, em setembro de 2010, rendeu R$ 120,4 bilhões à empresa.

“De lá pra cá, pelas contas do consultor Adriano Pires, considerando o prejuízo com a defasagem de combustíveis de R$ 27 bilhões, a estatal já consumiu 60% do caixa injetado na operação. (Ancelmo Gois, O Globo, 21/2/2013.)

* As regras sobre o conteúdo local são atrasadas, viraram dogma, revelam um nacionalismo ultrapassado

“Depois de quatro anos sem realizar leilões de petróleo, o governo anunciou que esse ano a ANP deverá promover três leilões. O primeiro em maio e os outros dois no final do ano. Em maio ocorrerá a 11ª rodada e no final do ano o primeiro leilão de áreas do pré-sal e outro em áreas em terra visando o aumento da oferta de gás natural. Como era esperado o mercado reagiu bem ao anúncio, depois de anos de notícias ruins e todos estão torcendo para que haja continuidade dos leilões ao longo dos próximos anos.

“A nova abertura do mercado de petróleo no Brasil difere bastante da realizada no fim dos anos 90. Naquele momento, a idéia foi de abrir o mercado, garantindo um tratamento igualitário a todas as empresas, através de uma agencia reguladora independente e com isso promovendo a concorrência no setor. Para isso, foi estabelecido o modelo jurídico da concessão e os preços da gasolina e do diesel seguiam a tendência do mercado internacional.

“A nova abertura vem revestida de uma maior intervenção do Estado e de uma Petrobrás enfraquecida, já que foi a empresa a principal prejudicada com o fechamento do mercado e as mudanças no marco regulatório. As regras sobre o conteúdo local são atrasadas, viraram dogma, revelam um nacionalismo ultrapassado e acabam dificultando o aparecimento de empresas nacionais fortes e competitivas. O novo modelo jurídico da partilha trás de volta o monopólio da Petrobrás na operação dos campos do pré-sal, além de dar um tratamento desigual entre a Petrobrás e as demais empresas, pelo fato de que a estatal terá sempre uma participação mínima de 30% nos campos do pré-sal a serem leiloados. Sem falar na criação de mais uma estatal, que teria a missão de gerir os contratos de partilha e poder de veto no comitê gestor dos campos de petróleo. Para completar o quadro intervencionista, os preços da gasolina e do diesel continuam sendo determinados pelo comportamento da inflação e não pela tendência do mercado internacional.

“Finalmente, o governo entendeu que a conta estava ficando muito cara para o Brasil pelo fato de ter fechado o mercado de petróleo, em particular, no momento do anúncio das grandes reservas do pré-sal. Investimentos que poderiam ter sido realizados no Brasil foram para outros destinos como os Estados Unidos, África e Colômbia, provocando, em particular, nos Estados Unidos uma grande revolução com a produção do chamado gás e petróleo não convencional, o que levará o país a voltar a ser um dos maiores produtores mundiais de petróleo e gás natural e a voltar a atrair inúmeras empresas devido a garantia de abastecimento e preços competitivos.

“A volta dos leilões é um avanço, agora só falta o governo restabelecer as boas praticas de mercado que existiam na abertura dos anos 90. Aí, sim, o país voltará a fazer parte da rota dos grandes investimentos das empresas petrolíferas e o setor de petróleo.” (Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-estrutura, O Globo, 18/2/2013.)

* O Brasil precisa de um pouco mais de competência na área da energia

“Se o governo federal deseja fazer programas sociais com eletricidade para beneficiar os pobres, deve fazê-lo na venda, e não na sua geração. Foi isso que o governo Franco Montoro fez em São Paulo, em 1982, estendendo as redes de eletricidade às favelas e cobrando preços reduzidos dos habitantes dessas áreas, por meio de subsídios cruzados, em que os mais ricos pagavam tarifas maiores do que os mais pobres.

“Ao nivelar nos leilões da EPE todas as formas de energia, o governo federal tornou inviável, na prática, o uso de bagaço de cana para gerar eletricidade em grande escala no Estado de São Paulo. Essa energia pode até ser um pouco mais cara do que a das hidrelétricas, porém está perto dos centros de consumo, o que reduz significativamente os custos de transmissão.

“Apesar dos esforços do governo paulista, menos de 20% do potencial do bagaço de cana-de-açúcar – que é comparável à potência da Usina de Itaipu – está sendo utilizado, por causa da falta de interesse do governo federal. O que torna a situação ainda mais paradoxal é que a ideologia da ‘modicidade tarifária’ levou o governo a usar térmicas a gás, cujo custo da eletricidade é cerca de três vezes superior à média nacional.

“Os problemas que enfrentamos na área de energia elétrica não serão resolvidos com medidas intempestivas como a Medida Provisória (MP) 579 e a redução forçada de cerca de 20% nas tarifas, que está tornando o Sistema Eletrobrás e outras empresas geradoras inviáveis. Como foi feita, essa medida tem claramente um conteúdo demagógico e o Tesouro Nacional – ou seja, toda a população brasileira – vai pagar por ela. Vamos ter agora, além da Bolsa-Família, uma ‘bolsa-eletricidade’, que, aliás, vai beneficiar grandes indústrias eletrointensivas.

“As consequências negativas da MP 579 já são evidentes na queda do valor das empresas, que terão, daqui para a frente, mais dificuldades para fazer investimentos, o que, como consequência, vai dar origem a mais ‘interrupções de fornecimento’, na linguagem oficial.

‘Soluções para a crise atual existem.

“No curto prazo, é preciso remover os obstáculos para que a eletricidade do bagaço de cana-de-açúcar possa competir nos leilões da EPE e tomar providências para completar a ligação de centrais eólicas ao sistema de transmissão.

“No longo prazo, é preciso reanalisar o planejamento de novas hidrelétricas – incluindo reservatórios adequados de água – e acelerar medidas de racionalização do uso de eletricidade, que até agora são voluntárias. Não basta, por exemplo, etiquetar geladeiras alertando os compradores sobre quais são os modelos mais eficientes, é necessário proibir a comercialização das geladeiras com alto consumo de energia, como fazem muitos países.

“Um pouco mais de competência na área energética é do que o país precisa agora.” (José Goldemberg, Estadão, 18/2/2013.)

Outras más notícias da Economia

* Produtividade caiu “dramaticamente”, diz relatório; pior que o Brasil, só a Bolívia

“A produtividade do trabalhador brasileiro caiu ‘dramaticamente’ em 2012. A constatação é do centro de pesquisas Conference Board. Levantamento anual diz que o fraco crescimento do PIB e o contínuo aumento do emprego explicam a piora do desempenho nacional no ano passado. ‘O declínio mais dramático na América Latina foi no Brasil, que mostrou queda no nível de produção por pessoa empregada de 0,3% em 2012 após a desaceleração vista em 2010 e 2011″, destaca o relatório.

Com isso, a produtividade média do brasileiro ficou em 184% do desempenho médio de um trabalhador norte- americano. O movimento foi na contramão da tendência global, já que a produtividade média mundial subiu 1,8% no ano, para 26,2% do observado nos EUA.

“A pesquisa argumenta que a piora brasileira é fruto do fraco crescimento econômico somado à contínua melhora do mercado de trabalho. Ou seja, a produtividade caiu porque o número de trabalhadores aumentou em ritmo maior que a produção. Assim, cada empregado acabou produzindo menos que um ano antes. ‘A economia brasileira se deteriorou rapidamente sob a influência da desaceleração global, o que revelou a fraqueza interna que não era visível sob as elevadas taxas de crescimento dos anos anteriores’, destaca o relatório. (Fernando Nakagawa, Estadão, 21/2/2013.)

* Trabalhador que investe dinheiro do FGTS na Petrobrás já perdeu 12% no ano

“A perda dos cotistas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) da Petrobrás está em 11,89% este ano. O desempenho negativo já é praticamente igual ao de todo o ano de 2012, quando a queda foi de 14,1%, de acordo com os dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

“A rentabilidade do FGTS da Petrobrás acompanha o desempenho ruim dos papéis da empresa no mercado acionário. Neste ano, até a última sexta-feira, as ações preferências da companhia caíram 9,48%, e as ações ordinárias recuaram 19,59%. Em 12 meses, a queda está em 22,33% e 35,42%, respectivamente. ‘Os últimos resultados da Petrobrás não atingiram as expectativas de mercado, aí o preço da ação sofre e, consequentemente, o valor da cota do fundo também sofre’, diz Silvio Paixão, professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi).

“Os papéis da petrolífera na BM&FBovespa estão em queda por diversos motivos. Mais recentemente, têm pesado os resultados financeiros ruins. Este mês, por exemplo, a Petrobrás informou que o lucro líquido do ano passado foi de R$ 21,182 bilhões, ou 36% menor do que o verificado em 2011. (Luiz Guilherme Gerbelli, estadão.com.br, 18/2/2013.)

* Índice do BC mostra crescimento de apenas 1,35% no ano passado

“Mesmo com os bilionários pacotes de estímulo adotados pelo governo, a economia brasileira cresceu apenas 1,35% no ano passado pelas contas do Banco Central. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central – Brasil (IBC-Br), considerado uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) calculado pelo IBGE, reflete a evolução da atividade econômica do país e baliza a elaboração da estratégia de política monetária. Em dezembro, o indicador ficou em 0,26%, uma desaceleração frente ao 0,56% de novembro. O número baixo fez o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), cair 1,98%, a maior queda desde 14 de novembro, aos 56.177 pontos, o menor patamar desde o dia 16 daquele mês.

“O indicador foi criado para ser uma referência nas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom). Para chegar a ele, o BC faz ajustes finos, como comparar o número de dias úteis. Numa comparação sem esses efeitos sazonais, o crescimento teria sido de 1,64% em 2012. O número oficial será divulgado em 1º de março pelo IBGE, e as projeções de economistas são em torno de 1%. O crescimento do IBC-Br sem ajuste sazonal deixa o Brasil no 12º lugar entre 20 países que já divulgaram o PIB de 2012, atrás de China (7,8%), Venezuela (5,5%) EUA (2,2%) e à frente dos países europeus, mergulhados em crise.” (Gabriela Valente, Daniel Haidar, Renata Cabral e Nice de Paula, O Globo, 21/2/2013.)

O show de intolerância

* Pior são os petistas que comparam dissidentes a delinquentes, ou ‘bandidos’

“Os militantes que na segunda-feira (18/2) hostilizaram a dissidente cubana Yoani Sánchez nos aeroportos do Recife e de Salvador e na mesma noite impediram a exibição, em Feira de Santana, de um documentário produzido no Brasil de que ela é protagonista decerto nunca leram uma linha da líder revolucionária alemã Rosa Luxemburgo (1871-1919). Eles são exímios, de toda forma, em pôr de ponta-cabeça a máxima que a apartou dos maiores líderes revolucionários de seu tempo, como Lenin e Trotsky. Enquanto estes, fiéis a Marx, consideravam a ditadura do proletariado imprescindível à construção do que seria o edênico sistema comunista, já então, com admirável senso premonitório, ela cunhou a máxima graças à qual se poupou de entrar para a história pela via da ignomínia e da apologia da violência em escala até então sem precedentes. ‘A liberdade’, escreveu, ‘é quase sempre, exclusivamente, a liberdade de quem discorda de nós.’

“Os grupelhos autoritários que tentaram intimidar a filóloga e jornalista Yoani, de 37 anos – a única voz contra a ditadura castrista que se exprime pela internet, no seu blog Generación Y, criado em 2007 -, desfrutariam em Cuba da ‘liberdade’ de concordar com a senil ordem política local. Só há pouco, numa tentativa de adiar o seu desmanche, o castrismo passou a permitir viagens ao exterior sem que os interessados tenham de obter o infame visto de saída da ilha. Graças a isso, Yoani pôde tirar o passaporte que lhe vinha sendo negado sistematicamente. Ela só esteve fora de Cuba de 2002 a 2004, quando morou na Europa. Sendo o que são os seus fanatizados detratores – filiados a organizações patéticas como a União da Juventude Socialista, ligada ao PC do B e admiradora do regime norte-coreano; do Partido Comunista Revolucionário, que almeja ‘dirigir a classe operária’; e do Partido Consulta Popular, pró-MST, que ministra um curso de ‘realidade brasileira’ -, seria nulo o seu risco de punição no feudo dos irmãos Castro.

“Isso porque não há hipótese de que o contato com a realidade cubana viesse a abalar a sua petrificada mentalidade. Antes, seriam capazes de competir com os serviços de segurança do regime no zelo persecutório aos que ousam exercer ‘a liberdade de quem discorda’. Esse lumpesinato político nem precisa ser mobilizado pela Embaixada de Cuba em Brasília para querer sabotar a passagem de Yoani pelo País. A blogueira e colunista do Estado, que só não foi agredida fisicamente na chegada porque estava sob proteção, não se surpreendeu. ‘Com insultos, estou acostumada’, comentou. ‘Tenho a pele curtida contra xingamentos. Isso é o cotidiano na minha vida.’ (Depois de amanhã, ela participará de um evento aberto ao público, ‘Conversa com Yoani’, na sede deste jornal. No mesmo dia será exibido o documentário barrado em Feira de Santana, Conexão Cuba-Honduras, do cineasta baiano Dado Galvão.) Pior são os petistas que não só comungam com o castrismo e a chamada Revolução Bolivariana de Hugo Chávez, mas comparam dissidentes a delinquentes, ou ‘bandidos’.

“Foi o inesquecível termo empregado pelo então presidente Lula, numa visita a Havana em março de 2010, quando o jornalista cubano Guillermo Fariñas completava 15 dos seus 135 dias em greve de fome pela libertação dos presos políticos da ilha. No Brasil, os manifestantes que chamam Yoani de ‘traidora’ e de ‘agente da CIA’ fazem barulho. O PT faz mais: o bastante para se assegurar de que o governo brasileiro se abstenha de criticar, que dirá condenar, Cuba nos fóruns internacionais sobre violações de direitos humanos. Dirigentes do partido, como o mensaleiro José Dirceu, pagam de bom grado a sua infindável dívida com Fidel por tê-los acolhido – e treinado para o desvario da guerrilha – no tempo da ditadura militar. Já Yoani, no que dependeu dela, começou bem a sua visita. O seu comedimento e manifesto fair-play chamaram desde logo a atenção. Por exemplo, recusando-se a comparar Cuba ao Brasil, mencionou os estrangeiros que, tendo passado duas semanas em um hotel de Havana, ‘explicam para mim como é o meu país’. Mas não deixou de lembrar a frase de um amigo: ‘Os brasileiros são como os cubanos, mas são livres’.” (Editorial, Estadão, 20/2/2013.)

* Algo mais grave do que a ação de minorias fanáticas

“A denúncia publicada pela revista Veja de que o embaixador cubano no Brasil, Carlos Zamora Rodríguez, patrocinara reunião em Brasília para abastecer grupos radicais de ‘informações’ contra a blogueira Yoani Sánchez foi o sinal de que a viagem da cubana dissidente ao Brasil poderia não ser tranquila.

“Para tornar o fato mais grave, participou do encontro Ricardo Poppi Martins, militante petista coordenador de Novas Mídias e Outras Linguagens de Participação, da Secretaria Geral da Presidência, de Gilberto Carvalho. Entre os presentes à reunião, articulada pelo coordenador político da embaixada, Rafael Hidalgo, havia mais representantes do PT, além do PCdoB, da CUT, etc.

“Impossível não estabelecer relação entre a reunião de ‘agitação e propaganda’ patrocinada pelo senhor embaixador cubano em Brasília, na qual foi distribuído pelo menos um CD da ditadura cubana para ajudar a difamar Yoani, e ruidosas e agressivas manifestações feitas por grupelhos na passagem da blogueira principalmente por Recife (PE) e Feira de Santana (BA). (…)

“A tíbia reação do Itamaraty a uma reunião numa embaixada estrangeira para deflagrar uma ação política de sabotagem em território nacional já demonstra o poder dessa gente em Brasília. Ficou evidente, ainda, que se usa a mesma rede de militância existente na internet – a partir de perfis falsos, e-mails de ‘laranjas’ – para disseminar acusações de toda ordem contra Yoani, deixando a impressão digital de uma operação orquestrada. Mais uma vez. Até os cartazes, como registrou a cubana em seu blog Generación Y, brandidos contra ela no desembarque, eram padronizados.

“Nada a estranhar quanto a manifestações. É parte da democracia – que não existe mesmo em Cuba. Lá, ativismo político só a favor. O preocupante é quando esquemas autoritários de militância têm raízes dentro do aparelho de Estado.

“A pressão sobre a blogueira no Brasil expõe algo bem mais grave do que a ação de minorias fanáticas.” (Editorial, O Globo, 21/2/2013.)

* “Os que tentaram impedir Yoani de falar querem esconder o vazio insuportável do regime que adotaram como religião”

“A simples existência de Yoani Sánchez desmascara o arbítrio que se fantasia de democracia participativa. A democracia não se resume ao respeito à vontade da maioria (se é que, em Cuba, a maioria apoia mesmo o regime); a democracia exige igual respeito aos direitos da minoria, mesmo que essa minoria não passe de uma só pessoa. O socialismo que cobra seu preço em liberdade não pode ser chamado de igualitário. O socialismo que faz a História girar para trás, que volta no tempo, que adota uma ordem mais repressiva e mais primitiva que a do liberalismo político, não constitui um avanço, como se diz, mas um retrocesso (quase sempre com traços de selvageria). Quando as massas, embriagadas pela crença de que exercem o poder das multidões, marcham para silenciar os desviantes, a serviço de um governo, o que se tem é o germe do totalitarismo, nunca a libertação.

“Que agora, no Brasil, alguns jovens tenham tentado, aos berros, impedir Yoani de falar é compreensível. Talvez seja até aceitável. Apesar de deselegante, esse tipo de protesto faz parte do código gestual do embate político (este modesto escrevinhador, quando estudante, já participou de manifestações assim, tentando cassar a palavra das autoridades do governo em solenidades públicas). Mas agora a ilusão que move os manifestantes contra Yoani é mais problemática. Eles tentam suprimir a expressão de uma pessoa comum, para que nela ninguém veja o vazio insuportável do regime político que adotaram como religião.” (Eugênio Bucci, Estadão, 21/2/2013.)

* “É dos battistis que o PT gosta. São as yoanis que o PT não quer”

“Em meio à discussão do requerimento encaminhado pelo DEM ao Ministério da Justiça, reivindicado medidas que garantam a segurança da blogueira Yoani Sánchez, o deputado acreano Sibá Machado, vice-líder do PT na Câmara, resolveu explicar o que o partido acha da ditadura dos irmãos Castro ─ e da visita ao Congresso da perigosa cubana. Seguem-se três dos melhores-piores momentos do besteirol em dilmês silvícola:

“’Nós somos favoráveis, é a posição do nosso partido, ao governo cubano. É um governo e um partido que têm procurado uma relação diplomática com todos os países do mundo, inclusive o Irã e a Coreia do Norte, chamando para o caminho da paz e para a solidariedade”.

“’Todos os regimes e sistemas de governo e econômicos do mundo têm os seus ‘a favor’ e ‘contra’, mas não se está desestabilizando nem a democracia cubana, e muito menos a brasileira”.

“’Uma pessoa que discorda do governo de Fidel Castro chega ao nosso país e vira motivo de festa para o PSDB? Desculpe, mas isso é mesquinhez, baixaria, é puxar para baixo e crescer que nem rabo de cavalo na política brasileira”.

“Feito o que chamou de ‘esclarecimento’, Sibá completou o monumento à cretinice com mais uma pirueta mental: ele acha que o convite a Yoani Sánchez foi um erro que só será reparado se a Câmara oferecer uma recepção de gala ao terrorista italiano Cesare Battisti, homiziado no Brasil para escapar da prisão perpétua no país de origem. “Vamos trazer Battisti aqui”, insistiu o porta-voz do PT, que assim justificou a sugestão:

“’Que ele venha também, deem direito também até ao espaço de tribuna para a gente falar sobre esse assunto. Se for para falar de firulas de matérias internas de outros países, temos matéria de sobra para tratar nesta Casa.”

“A reportagem no site de Veja seria apenas mais uma prova de que os idiotas estão por toda parte, e abundam no PT, se o parlamentar do Acre não tivesse discursado em nome do partido (que, nesta quarta-feira, comemorou o 10° aniversário da conquista do Palácio do Planalto). Constrangedoramente tosco, o companheiro que se elegeu suplente de Marina Silva, e virou senador quando a titular se tornou ministra de Lula, pelo menos é sincero. Agora deputado federal, continua revelando o que partido prefere esconder.

“É dos battistis que o PT gosta, confirmou Sibá Machado. São as yoanis que o PT não quer. Enquanto ela conspira contra a democracia mais avançada do planeta, ele luta pela derrubada de uma ditadura feroz. Entre a Itália e Cuba, o PT fica com a ilha-presídio. Entre uma mulher que vive em busca da liberdade e um homem que matou para sufocá-la, os companheiros preferem o homicida. Faz sentido. Os petistas e os battistis nasceram uns para os outros.” (Augusto Nunes, veja.com, 21/2/2013.)

22 de fevereiro de 2013

Volume 70 – Notícias de 21 a 27/9.

Volume 71 – Notícias de 28/9 a 4/10.

Volume 72 – Notícias de 5 a 11/10.

Volume 73 – Notícias 26/10 a 1º/11.

Volume 74 – Notícias de 2 a 8/11.

Volume 75 – Notícias de 9 a 15/11.

Volume 76 – Notícias de 16 a 22/11.

Volume 77 – Notícias de 23 a 29/11.

Volume 78 – Notícias de 30/11 a 6/12.

Volume 79 – Notícias de 7 a 13/12.

Volume 80 – Notícias de 14 a 20/12/2012.

Volume 81 – Notícias de 4 a 10/1/2013.

Volume 82 – Notícias de 11 a 17/1/2013.

Volume 83 – Notícias de 18 a 24/1/2013.

Volume 84 – Notícias de 25 a 31/1.

Volume 85 – Notícias de 1º a 7/2.

Volume 86 – Notícias de 8 a 14/2.

 

8 Comentários para “Más notícias do país de Dilma (87)”

  1. A filóloga e jornalista Yoani, de 37 anos – a única voz contra a ditadura castrista que se exprime pela internet, no seu blog Generación Y, criado em 2007 -, desfrutariam em Cuba da ‘liberdade’ de concordar com a senil ordem política local.

    O exto do Estadão aqui reproduzido comete uma injustiça: Yoani e seu blog não é a unica voz contrária a ditadura castrista.

    Existem outras vozes!

    Também se pode observar que muitos dos textos postados não condenam a revolução cubana, mas os caminhos que ela tomou em função do isolamento. A própria Yoani Sanchez afirmou, em uma de suas entrevistas no Brasil, que o problema de Cuba é o embargo imposto pelos Estados Unidos, que é usado pelo governo como justificativa para a política de restrições.

    Atuam em Havana e outras cidades pelo menos uma centena de jornalistas, escritores e intelectuais que discutem abertamente a situação criada pelo isolamento do país.

    Vinte deles produzem a revista Voces (Vozes, em português), uma publicação digital de resistência contra o regime castrista.

    Em sua apresentação, os autores qualificam Cuba como “uma nau que soçobra em sua néscia noção de nação” e se declaram empenhados em mostrar sua “desídia ideológica”. Em suas 16 edições, disponíveis na internet, pode-se encontrar textos primorosos, alguns carregando críticas vivas ao governo, todos defendendo a liberdade de expressão.

    O escritor Orlando Luis Pardo Lazo, criador da Voces, é considerado um dos mais importante entre os blogueiros dissidentes que se destacam em Cuba.

    A blogueira pop não é, portanto, a principal representante da dissidência intelectual cubana. É apenas aquela que a imprensa ocidental escolheu como personagem-símbolo em sua campanha ideológica.

    Vozes contra o castrismo porém, não querem que Cuba volte a ser o puteiro do Caribe como em 1959 na época de Fulgêncio Batista.

  2. CUBA
    por Sérgio Vaz na
    sinopse do filme Cuba de Richard Lester, revisto por inspiração da jornalista Yoani.

    “Um país injusto, que servia de balneário e puteiro para americanos”

    “Em suma: o retrato do país que o filme faz é aquele que foi tão difundido pela revolução castrista vitoriosa – até porque era o verdadeiro. Cuba era, até 1959, um país extremamente injusto, em que algumas poucas famílias eram riquíssimas, os funcionários do governo enchiam os bolsos de propinas e a imensa maior parte do povo era pobre. E, sendo a ilha tão bela, e tão pertinho de Miami, servia como um balneário e um puteiro para os americanos endinheirados ou até remediados”.

  3. Yoani Sánchez, a blogueirazinha mercenária

    Um ano atrás escrevi sobre a ‘famosa’ blogueira cubana, comentando a entrevista que ela havia concedido em Havana ao jornalista francês Salim Lamranium, que disse a seu respeito: “On peut observer, qu’elle est juste une oportuniste diletante, qui ne connais meme pas son histoire ou seulement connais comment la manipuler”. Lamranium desmascarou a picareta, espremendo-a elegante e impiedosamente com a força de seus argumentos.

    O destaque principal da Folha de S. Paulo de 18/02/2013 foi dedicado à Yoani, com uma foto que ocupou um quarto (!) da capa do jornal. Já a matéria sobre sua chegada ao Brasil, não passou de um pequeno release chumbrega, de terceira categoria. No mesmo dia, em Feira de Santana, na Bahia, jovens de várias organizações de esquerda fizeram uma recepção hostilizando-a, o que realmente não foi legal. Isto porque, no fundo, fizeram o jogo da direita e da mídia reacionária – principalmente da Veja – que busca transformar uma indignação e uma impetuosidade juvenil em intolerância de ‘porralocas cubanófilos’.

    Vale a pena resgatar parte do que escrevi há um ano: Yoaní saiu de Cuba e foi para a Suíça, onde viveu por dois anos. De repente, decidiu abandonar o “paraíso europeu” e voltar para o ‘inferno cubano’, onde inaugurou um poderoso blog bancado por provedor da Alemanha e traduzido em 18 línguas.

    “Qual o preço de tudo isto?”, perguntou a ela o jornalista francês. A blogueira saiu pela tangente e disse que “são amigos e admiradores que bancam sua atividade” ‘intelectual’ de descrever Cuba, seu país de origem, ‘como um inferno’. O entrevistador retruca: “Muitas pessoas acham difícil acreditar nisso, pois nenhum outro site do mundo, nem mesmo os das mais importantes instituições internacionais, como a ONU, o Banco Mundial, o FMI, a OCDE, a União Europeia, dispõe de tantas versões de idioma. Nem o site do Departamento de Estado dos EUA, nem o da CIA, conta com semelhante variedade”.

    Yoaní recebeu de jornalões e instituições internacionais conservadores e anti-cubanos, em um ano de blog, o equivalente a 250 mil euros de prêmios, mais um salário de US$ 6 mil mensais para produzir lixo anti-cubano em seu blog “Generation Y”. Mais: Obama, o homem ‘mais poderoso e ocupado do mundo’, ligou para ela, certa feita, e conversaram longamente sobre as relações entre Cuba e EUA, um levantando a bola para o outro.

    A blogueira famosa é considerada pela direita internacional uma defensora dos direitos humanos em seu país. Mas, de acordo com parecer de abril de 2011 da Anistia Internacional (que pode ser tudo, menos conivente com Cuba), “no continente americano, [Cuba] é o país que menos viola os direitos humanos, ou que melhor os respeita”.

    O impressionante é que nem a FSP, nem o Estadão, nem a Veja, nem a Globo se interessa em saber quem paga as viagens de Yoani por 12 países, com absolutamente tudo pago – a ela, ao marido e ao filho! Bom, se alguém ainda duvida que Yoani Sánchez é, na realidade, uma blogueirazinha mequetrefe da CIA e da SIP (Sociedade Intereamericana de Imprensa) – clube dos barões da mídia das Américas – é porque acredita em Papai Noel.

    Emerson Leal – Doutor em Física Atômica e Molecular e vice-presidente do PPL de SP.
    Email: depl@df.ufscar.br

    FEV/2013

    P.S. – Alguns dados do informe de 2009 do insuspeito Banco Mundial sobre Cuba:

    1. “Cuba é internacionalmente reconhecida por seus êxitos no campo da Educação e da Saúde, com um serviço social que supera o da maior parte dos países em desenvolvimento e, em certos setores, comparável ao dos países desenvolvidos. 2. Desde a Revolução cubana de 1959 (…) o país criou um sistema de serviços sociais que garante o acesso universal à Educação e à Saúde. Este modelo permitiu que Cuba alcançasse uma alfabetização universal, a erradicação de certas enfermidades, o acesso geral à água potável e a salubridade pública de base, uma das taxas de mortalidade infantil mais baixas da região e uma das maiores expectativas de vida. 3. Atualmente, o serviço social de Cuba é um dos melhores do mundo em desenvolvimento, como documentam numerosas fontes internacionais, entre elas a Organização Mundial de Saúde, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e outras agências da ONU, e [do próprio] Banco Mundial. Segundo os índices de desenvolvimento do mundo em 2002, Cuba supera amplamente a América Latina e o Caribe, e outros países com renda média nos mais importantes indicadores de Educação, Saúde e Salubridade Pública”.

    Além de Cuba ser o primeiro país das Américas a acabar com o analfabetismo, sua taxa de mortalidade infantil em 2009 era de 4,8 por mil, mais baixa até que a dos EUA. Antes da Revolução de 1959, a expectativa de vida era de 58 anos. Hoje é de quase 80! E Cuba tem duas vezes mais médicos que a Inglaterra. Pois é, a mídia e Yoaní Sánchez calam-se sobre isto.

    Imaginem um pais de dimensões como as do Brasil, riquesas naturais abundandantes governado por um par de ditadores castristas?
    Teríamos uma imprensa calada, mas um povo saudável, educado, mente e corpo sãos.
    Não seríamos certamente esta socidade violenta, que vai a Bolívia matar jovens de 14 anos sob a desculpa de assistir a uma partida de futebol.

    A violência no futebol tem precedentes no enaltecimento de fatos e atitudes deprimentes e vergonhosas como as protagonizadas pelo jogador Almir em 1966, com a aprovação da torcida do Flamengo em número de 100 mil pessoas.

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