Más notícias do país de Dilma (156)

É fantástico: ao lado do presidente dos Correios, Wagner Pinheiro, um deputado estadual do PT de Minas, membro do diretório nacional do partido, Durval Ângelo, faz a seguinte afirmação – gravada em vídeo: “Se hoje nós temos a capilaridade da campanha do Pimentel e da Dilma em toda Minas Gerais, isso é graças a essa equipe dos Correios”.

Mais adiante, o deputado pede ao presidente dos Correios que informe à direção nacional do partido “a grande contribuição que os Correios estão fazendo nas campanhas”. “A Dilma tinha em Minas Gerais, em alguns momentos, menos de 30%. Se hoje nós estamos com 40% em Minas Gerais, tem dedo forte dos petistas dos Correios. Então, queremos que você leve à direção nacional do PT, que eu também faço parte do diretório, mas também à direção nacional da campanha de Dilma a grande contribuição que os Correios estão fazendo.”

Esse uso aberto, escancarado, escandaloso de uma instituição do Estado brasileiro como agente da campanha de reeleição de Dilma Rousseff veio a público em reportagem de Andreza Matais e Fábio Fabrini, primeiro no portal estadao.com.br na terça, 30 de setembro, e depois no jornal O Estado de S. Paulo da quarta-feira, 1º de outubro.

Eis o vídeo.

A mesma dupla de repórteres havia revelado, no Estadão do dia 19 de setembro, que “os Correios abriram uma exceção para o PT e distribuíram em São Paulo panfletos da presidente Dilma Rousseff sem chancela ou comprovante de que houve postagem oficial. A estampa, prevista em norma da própria estatal, serve para demonstrar que houve pagamento para o envio, de forma regular, da propaganda eleitoral.”

Depois da divulgação do discurso em que o deputado petista se orgulha de estar usando a máquina dos Correios para ajudar na campanha da presidente da República à reeleição, a assessoria de Aécio Neves divulgou que a campanha do candidato do PSDB contratou os Correios no dia 25 de agosto para a distribuição de 5,6 milhões de correspondências a 100% dos endereços domiciliares de cidades de Minas. Pelo contrato, o material deveria chegar à casa dos eleitores em até dez dias, o que não ocorreu. O PSDB diz que juntou mil declarações de destinatários que dizem não terem recebido as correspondências.

É fantástico, é escandaloso, é criminoso. Mas o mais fantástico ainda é a defesa feita tanto pelo deputado Durval Ângelo quanto pelo presidente da empresa estatal, Wagner Pinheiro: com a maior cara de pau, os dois disseram que os funcionários dos Correios petistas trabalham por Dilma, mas não usam a máquina dos Correios! Trabalham por Dilma fora do horário do trabalho – e pronto!

“Nos Correios de Minas há um coletivo petista há 30 anos, chamado Núcleo Petista Ecetista. O encontro foi feito à noite, fora do expediente, no comitê central do (Fernando) Pimental (candidato do PT ao governo de Minas)”, explicou o deputado Durval Ângelo!

É um trágico exemplo do mal que 12 anos de governo do PT fez ao país. Uso da máquina pública, agora, não é mais uso da máquina pública.

Meu Deus do céu e também da terra!

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José Casado escreveu no Globo um precioso artigo sobre a estratégia de Dilma Rousseff de se apresentar como a grande inimiga da corrução. A íntegra está mais abaixo, mas vale adiantar esse trecho especialmente brilhante:

“A candidata Dilma Rousseff propagou a mais nova promessa do seu sigiloso programa de governo: um ‘pacote’ de medidas anticorrupção, com lei específica ‘para transformar em crime a prática de caixa 2’. No domingo repetiu a oferta, inscrita num caderno a que recorreu durante todo o debate na Rede Record. Eleição tem dessas coisas. Candidatos desafiam a imaginação dos eleitores com todo tipo de promessa — de pontes onde não existem rios até ferrovias sem trens. Em maio, por exemplo, Dilma inaugurou trecho da Transnordestina, cujos trilhos continuam sem tráfego ferroviário. A linha havia sido inaugurada duas vezes por Lula na campanha para eleger Dilma em 2010. Desta vez, a presidente-candidata inovou. Ao prometer ‘transformar em crime a prática de caixa 2’, anunciou a intenção de fazer algo que existe há mais de 28 anos.”

Aliás, sobre Dilma e corrupção, reportagem de Maria Lima e Eduardo Bresciani no Globo revelou ao país mais uma mentira de Dilma Rousseff. Nos últimos dias, a presidente que já mentiu até sobre seu currículo e sobre suas idas ao estádio do Mineirão andou dizendo que foi ela que demitiu o ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto Costa. Durante o debate na TV Record, no domingo, 28 de setembro, Dilma declarou que demitira Costa: “Na verdade, uma coisa tem que ficar bem clara! Quem demitiu o Paulo Roberto fui eu.”

Na ocasião, como bem lembraram os repórteres do Globo, os adversários não chegaram a questionar Dilma sobre o fato de que não cabe ao presidente da República nomear ou demitir diretores da Petrobrás.

Pois bem: na reportagem publicada pelo Globo na quinta, 2 de outubro, mostra-se o que diz ata da reunião do Conselho de Administração da Petrobrás que escolheu o sucessor de Paulo Roberto Costa na Diretoria de Abastecimento. E na ata os representantes do governo no Conselho não só registram que foi o diretor quem renunciou ao cargo como ainda fazem questão de elogiar a atuação de Costa na cúpula da estatal.

Dilma não demitiu Paulo Roberto. Dilma só mentiu mais uma vez.

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Rolf Kuntz brindou os leitores do Estadão com esta conclusão perfeita: “Tolerância é a grande marca da candidata Dilma Rousseff: tolerância à inflação, ao desarranjo das contas públicas, à estagnação da economia brasileira, aos desaforos dos parceiros bolivarianos e pro-bolivarianos e, é claro, ao terrorismo internacional.”

Mas o povo brasileiro também é muito tolerante. Tolera Dilma e sua magnífica incompetência. Tolera as mentiras de Dilma. Nada menos de 40% dos eleitores, segundo as pesquisas, querem continuar tolerando esse desgoverno por mais 4 anos.

Aí vai a 156ª compilação semanal de notícias e análises que comprovam os malefícios e a incompetência do lulo-petismo como um todo e do governo Dilma Rousseff em especial. Elas foram publicadas entre os dias 26 de setembro e 2 de outubro.

Uma campanha de mentiras e baixaria

* O “dedo dos petistas” nos Correios impulsiona a campanha de Dilma. Quem garante é um deputado do PT. Está gravado

“Numa reunião com dirigentes dos Correios em Minas Gerais, com a presença do presidente da empresa pública, Wagner Pinheiro, o deputado estadual Durval Ângelo (PT-MG) afirmou que a presidente Dilma Rousseff só chegou a ‘40%’ das intenções de votos em Minas Gerais porque ‘tem dedo forte dos petistas dos Correios’. Um trecho gravado da reunião, realizada na quinta-feira passada (25/9), foi obtido pelo Estado. ‘..Se hoje nós temos a capilaridade da campanha do [Fernando] Pimentel [candidato do PT ao governo de Minas] e da Dilma em toda Minas Gerais, isso é graças a essa equipe dos Correios.’ O deputado diz, ainda, que ‘a prestação de contas dos petistas dos Correios será com a vitória do Fernando Pimentel a governador e com a vitória da Dilma’.

Todo discurso é acompanhado pelo presidente dos Correios, Wagner Pinheiro, que não se manifesta no trecho ao qual o Estado teve acesso. Pinheiro está sentado à mesa ao lado do deputado Durval Ângelo e não o interrompe. O parlamentar, que integra o Diretório Nacional do PT e é coordenador político da campanha de Pimentel, pede ao presidente dos Correios que informe à direção nacional do partido sobre ‘a grande contribuição que os Correios estão fazendo’ nas campanhas.

“‘… A Dilma tinha em Minas Gerais, em alguns momentos, menos de 30%. Se hoje nós estamos com 40% em Minas Gerais tem dedo forte dos petistas dos Correios. Então, queremos que você leve à direção nacional do PT, que eu também faço parte do diretório, mas também à direção nacional da campanha da Dilma, a grande contribuição que os Correios estão fazendo.’ E prossegue: ‘Muitos companheiros tiraram férias, licença, que têm como direito, ao invés de estarem com suas famílias passeando, estão acreditando no projeto.’

“O deputado diz, na gravação, ter uma ‘parceria antiga com gigantes que representam os Correios’ e cita nominalmente o diretor regional dos Correios em Minas Gerais, Pedro Amengol, o assessor do gabinete da diretoria, Lino Francisco da Silva, e o gerente regional de vendas dos Correios, Fábio Heládio, os três ligados ao PT. ‘‘…No dia da reunião que nós tivemos no hotel [da qual participou Pimentel], o Helvécio [Magalhães, coordenador da campanha do petista] falou: ‘Vou reunir com a equipe ainda esta semana e vamos liberar a infra-estrutura. E, se hoje nós temos a capilaridade da campanha do Pimentel e da Dilma em toda Minas Gerais, isso é graças a essa equipe dos Correios.’’

“O deputado contou que várias reuniões foram realizadas no Estado por funcionários dos Correios para trabalhar pelas campanhas: ‘Os Correios trabalharam com as 66 mesorregiões [de Minas]. Fizemos reuniões em todas e nas macrorregiões, regiões assim como Governador Valadares, com 40 cidades, assim como 30 cidades do Sul, em Viçosa tinha 70 cidades. Onde eu tive perna eu fui acompanhando.’

“Na última semana, o Estado revelou que os Correios abriram uma exceção para entregar, sem chancela, 4,8 milhões de folders da campanha de Dilma Rousseff no interior de São Paulo. A chancela ou estampa digital serve como comprovação de que o material entregue pelos carteiros foi realmente postado nos Correios e distribuído de forma regular, mediante pagamento. Dez partidos de oposição também foram beneficiados com a exceção para enviar 927,7 mil unidades sem chancela.” (Andreza Matais e Fábio Fabrini, Estadão, 1º/10/2014.)

* Aécio acusa Correios de boicotar PSDB; Marina diz que há ‘uso político’ da estatal

“O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, acusou nesta quarta-feira os Correios de boicotar em Minas Gerais correspondências eleitorais do partido. As campanhas de Aécio e do candidato tucano ao governo do Estado, Pimenta da Veiga, vão fazer hoje representações ao Tribunal Regional Eleitoral em Minas e ao Ministério Público Federal em Brasília pedindo que a estatal seja investigada.

Anteontem (30/9), o Estado revelou um vídeo em que o deputado estadual Durval Ângelo (PT) afirma que a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, só chegou aos ‘40%’ das intenções de voto em Minas Gerais porque ‘tem dedo forte dos petistas nos Correios’. O parlamentar fez o comentário em uma reunião da qual participou também o presidente da empresa, Wagner Pinheiro.

Ao comentar ontem (1º/10) o caso, a candidata do PSB, Marina Silva, reafirmou a defesa do fim da reeleição. ‘Por isso que eu sou contra a reeleição, porque cria uma situação de aparelhamento, de uso político das instituições públicas. Uma confusão entre o partido e o governo. Esse tipo de prática deve ser condenada pela sociedade e, principalmente, pela Justiça Eleitoral’, afirmou após visita à comunidade de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo.

“Ontem (1º/10), a assessoria de Aécio informou que a campanha contratou os Correios no dia 25 de agosto para a distribuição de 5,6 milhões de correspondências a 100% dos endereços domiciliares de cidades do Estado.

“Pelo contrato, o material deveria chegar à casa dos eleitores em até dez dias, o que não teria ocorrido segundo a campanha tucana. O PSDB diz que juntou mil declarações de destinatários que dizem não terem recebido as correspondências.

“‘Estão querendo fraudar as eleições em Minas Gerais. Os Correios chegaram a cometer a imprudência de, em um ofício, dizer que, ‘se não chegou, vamos enviar novamente’. Como enviar novamente se não havia outra remessa a ser enviada?’, disse Aécio em visita a Governador Valadares (MG). ‘Acho que aí há um ato falho que aponta para o caminho de uma fraude. Se comprovada a fraude, é algo absolutamente grave.’

“Segundo o PSDB, o boicote teria por objetivo prejudicar as candidaturas de Aécio e Pimenta no Estado, o segundo maior colégio eleitoral do País e principal reduto eleitoral do presidenciável tucano.

“Pesquisa Ibope/Estado/TV Globo divulgada anteontem (30/9) mostrou que a petista lidera a disputa presidencial no Estado, com 36% das intenções de voto, ante 31% de Aécio e 17% de Marina Silva (PSB). Na disputa estadual, o candidato do PT, Fernando Pimentel, aparece com chance de vitória em 1º turno, com 45%, ante 25% de Pimenta.

“Além da suspeita de boicote às correspondências, as representações do PSDB com pedido de Ação de Investigação Judicial Eleitoral seriam destinadas também à apuração da atuação de funcionários dos Correios nas campanhas do PT em Minas.

“Pela manhã, em Mogi das Cruzes (SP), Aécio acusou o PT de querer vencer as eleições ‘no grito’ e chegou a falar em ação criminal na Justiça contra o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, o presidente dos Correios e superintendentes da estatal. ‘Queremos a criminalização de todos os responsáveis por essa ação perversa de um partido.’

“A notícia do Estado foi mostrada ontem (1º/10) no último programa eleitoral na TV de Pimenta da Veiga. ‘Os Correios pertencem ao povo brasileiro, não ao PT’, afirma uma atriz da propaganda.

“O líder da bancada do PPS na Câmara dos Deputados, Rubens Bueno (PR), encaminhou na quarta-feira representação ao Ministério Público Federal contra Dilma. O PPS, aliado da candidata Marina Silva (PSB), questiona o uso dos Correios pela campanha presidencial petista.

“Para o deputado, há uma ‘campanha aberta’ conduzida pela empresa em favor da atual presidente, o que caracterizaria crime de improbidade administrativa.

“Na semana passada, o Estado revelou que os Correios autorizaram a distribuição de 4,8 milhões de folders da campanha de Dilma em São Paulo. Outras dez siglas de oposição também receberam a mesma autorização para 927,7 mil panfletos.” (Marcelo Poertela, Pedro Venceslau, Ricardo Chapola, Daiene Cardoso, Isadora Peron, Ana Fernandes e Elizabeth Lopes, Estadão, 2/10/2014.)

* Campanha de Dilma é um vale-tudo emocional, sem qualquer relação com a lógica ou os fatos

“Dá para compreender: eleição tem muito de emoção, de modo que as campanhas, dominantemente de rádio e TV, precisam apelar para o sentimento dos eleitores. Mas vale enganar, especialmente, as pessoas mais desinformadas?

“Pessoal que trabalha com Dilma tem dito que muitas afirmações feitas pela presidente, como a que os banqueiros querem dominar o Banco Central para tirar a comida do povo, são ‘coisa de campanha’. Reparem: o pessoal faz essa ressalva para os eleitores mais informados, líderes de setores, formadores de opinião ou, para usar a linguagem de Lula, a elite rica.

“Supondo que vale a ressalva, fica assim, portanto: a campanha tem umas mentirinhas para pegar o voto daquela turma que, vocês sabem, não é muito esperta; mas no governo será diferente, mais razoável e menos emocional.

“Se for isso, a conclusão é inevitável: campanha é uma licença para mentir; e não se trata ‘apenas de propaganda’, mas de propaganda enganosa.

“Muita gente diz que nos Estados Unidos é pior. Não é. Sobram lá os ataques pessoais, assim entendidos como a crítica feita diretamente à pessoa do candidato, não tanto a suas posições. Por exemplo: dizer que o adversário é incompetente, falso e sem moral.

“Acontece. Cada campanha assume os riscos desses ataques. Sim, riscos, porque muitas vezes produzem efeito contrário. De todo modo, os candidatos não têm como escapar de posições definidas sobre os grandes temas nacionais e internacionais. Trata-se de uma cobrança do ambiente político.

“Considerem os debates pela televisão, aliás, uma invenção da democracia americana. As regras são mínimas, em geral, selecionando apenas o assunto central, por exemplo, diplomacia ou economia. Os mediadores, jornalistas, têm ampla liberdade para perguntar e reperguntar, para gastar tanto tempo quando considerem necessário para esclarecer uma posição.

“Aqui, por exigência dos candidatos, nisto apoiados pela legislação eleitoral, não por acaso feita pelos próprios políticos, as regras são colocadas de modo a criar menos riscos para os participantes. Falando francamente: são regras para permitir que os candidatos se escondam nas generalidades e não sejam cobrados por isso.

“Fica, pois, assentado que campanha é assim mesmo, um vale-tudo emocional, sem relação com os fatos e com a lógica, e, sobretudo, não constitui um compromisso de governo. Eis uma idéia generalizada por aqui.

“Trata-se de um dano para a democracia. Primeiro, porque coisas de campanha acabam sendo coisas de governo. O candidato passa o tempo todo fugindo de temas como reforma da Previdência, da legislação trabalhista ou ineficiência do serviço público — e não terá como introduzi-los no governo, mesmo porque logo haverá outra eleição.

“Segundo, essas campanhas não formam opinião geral ou consensos ou mesmo maiorias sobre políticas de governo. Surgiu assim uma geração de líderes de campanha, tão vagos e tão indefinidos como suas propagandas de rádio e TV. No governo, esses líderes tratam de empurrar com a barriga, atender clientelas organizadas e não criar caso com ninguém.

“Por isso, aliás, acontecem alianças que parecem estranhas, mas que, na verdade, são muito lógicas, pois estão todos na geleia geral.

“Claro, não é todo mundo igual. Há níveis e escalas. Marina, por exemplo, foi surpreendentemente clara, para os padrões vigentes, quando propôs a independência do Banco Central ou a flexibilização da legislação trabalhista. Verdade que precisou depois ‘amenizar’ a última proposta, mas foi um avanço.

“Pequeno. Por exemplo, ninguém discutiu a sério, em todo o período eleitoral, um tema crucial para a produtividade da economia brasileira: a terceirização do trabalho.

“E a campanha da presidente Dilma está no lado oposto, no lado do máximo vale-tudo: banqueiro é ladrão de comida, os ricos querem expulsar os pobres dos aeroportos, a imprensa é contra o povo, as empresas querem matar os seus trabalhadores para ter mais lucro, ter uma colaboradora acionista de banco é grave falta pessoal.

“Já ter aliados na cadeia ou perto disso é perseguição política do Judiciário das elites.

“Classificar isso de esquerda, progressista ou popular, é até injusto com as doutrinas socialistas ou trabalhistas. Cai mesmo no lado dos bolivarianos. E se é tudo coisa de campanha, é pior ainda: um falso bolivarianismo seria o quê?” (Carlos Alberto Sardenberg, O Globo, 2/10/2014.)

Herança maldita para quem vier em 2015

* O próximo presidente – seja quem for, inclusive Dilma – herdará um legado de grandes encrencas na economia

“Este governo deixará uma herança maldita para o próximo, que pode ser ele mesmo. Disso discorda apenas o atual governo.

“É um legado de encrencas econômicas, grandes e pequenas, algumas de solução complicada que tendem a se complicar ainda mais.

“Para enfrentá-lo são necessárias duas posturas preliminares. A primeira é reconhecer a existência das distorções. A seguinte é assumir responsabilidades. São exigências que se sobrepõem: quando não há esse reconhecimento também não se reconhece a responsabilidade sobre elas.

“O sintoma de que a economia passa por problemas de saúde é do conhecimento geral. Se fosse uma ficha médica, lá estaria anotado o crescimento mísero do PIB que não passará da média de 1,63% nos últimos quatro anos (inclusive este), acompanhado por uma inflação excessiva, investimento em queda livre, desarranjo crescente nas contas públicas, rombo nas contas externas e uma indústria enfraquecida.

“Diante desse quadro, a atitude básica do governo Dilma é a de que não há o que fazer, porque o centro da crise está fora do alcance das políticas públicas, na medida em que foi gerado pelos problemas globais. No entanto, esse balanço não é o resultado da crise externa, como tanto se ouve do ministro da Fazenda. É consequência das escolhas de política econômica que não levaram em conta a conjuntura de crise, uma vez que havia o entendimento de que a economia brasileira vinha relativamente imunizada contra os efeitos da retração global: ‘Chega aqui como uma marolinha’– havia se gabado o presidente Lula.

“Os estímulos ao consumo foram excessivos, os investimentos pararam e a competitividade do setor produtivo caiu. Além disso, o governo deixou que as despesas públicas disparassem, que a inflação passasse do ponto e depois fosse combatida com instrumentos inadequados como o represamento de tarifas e do câmbio. O resultado é a desarrumação dos fundamentos da economia, agravada pela crise de confiança.

“Na semana passada, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, pareceu apontar para uma virada ao avisar que uma derrubada dos juros, essencial para a redução dos custos das empresas, passará por um aperto da política fiscal (administração das contas públicas). Mas ele não estará mais à frente do Ministério no próximo governo. E, até agora, da presidente Dilma só se ouviram críticas aos que pedem mais austeridade.

“De todo modo, o novo governo não enfrentará só a herança de uma economia desarrumada, num momento de crise global ainda não superada. Terá pela frente uma conjuntura com duas novas adversidades impostas pela economia internacional e outras três impostas pela dinâmica interna.

“Da economia global virá uma temporada de baixa prolongada dos preços das commodities, que pesam cerca de 50% nas exportações; e relativa escassez de moeda estrangeira, na medida em que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) passará a retirar dólares da economia.

“Além do raquitismo dos investimentos, a economia interna terá de lidar com mais duas limitações: incertezas no suprimento de energia elétrica e escassez relativa de mão de obra, especialmente a qualificada. São fatores escassos mesmo com esse PIB mirrado. E tanto mais escassos ficarão quanto maior vier a ser o avanço do PIB.” (Celso Ming, Estadão, 26/9/2014.)

* “A intenção da candidata à reeleição é dobrar a aposta e persistir nos mesmos erros, na vã esperança de que o desempenho da economia no segundo mandato acabe por lhe dar razão”

“Aos trancos e barrancos, o governo chega ao primeiro turno da eleição presidencial com a economia fazendo água por todos os lados. Apesar do represamento do câmbio e dos preços de energia elétrica e combustíveis, a inflação em 12 meses rompeu o teto de tolerância da meta. Em queda há 17 semanas, a mediana das expectativas de crescimento do PIB em 2014 já não passa de mísero 0,3%. Com o saldo da balança comercial praticamente zerado, o déficit em conta corrente deste ano deverá ser de mais de US$ 80 bilhões, ou 3,5% do PIB. E, na esteira de um longo processo de perda de credibilidade do registro das contas fiscais, o resultado primário do setor público em 2014, extirpado de receitas e despesas não recorrentes, deve ser inferior a 0,5% do PIB. Mesmo quem nunca nutriu ilusões sobre o que esperar deste governo jamais imaginou que o desastre pudesse atingir tais proporções.

“O que é especialmente desanimador é que não se vê, no discurso da presidente Dilma Rousseff, o mais tênue sinal de disposição para corrigir o rumo da política econômica, à luz dos equívocos cometidos nos últimos anos. A impressão que se tem é de que a intenção da candidata à reeleição é dobrar a aposta e persistir nos mesmos erros, na vã esperança de que o desempenho da economia no segundo mandato acabe por lhe dar razão.

“O que o Planalto contemplava era poder conduzir a campanha da reeleição no mundo encantado de João Santana, ao largo de qualquer discussão mais séria sobre o desempenho da política econômica. Mas a rápida deterioração do quadro econômico, as críticas dos demais candidatos e o assédio da mídia vêm tornando essa estratégia cada vez mais difícil. E deixando claro que a presidente não tem qualquer proposta articulada de reorientação da política econômica, para fazer face às dificuldades que vêm sendo enfrentadas.

“É o que ficou evidente na entrevista concedida por Dilma no programa Bom Dia, Brasil, da Globo, que foi ao ar na manhã de segunda-feira (22/9). Instada pelos entrevistadores a esclarecer como pretende reverter o quadro de estagnação e inflação alta, se reeleita, a candidata gastou nada menos do que oito minutos numa resposta repleta de evasivas, subterfúgios e rodeios, da qual pouco ou nada se salva.

“Na resposta, a presidente se aferra ao diagnóstico turrão – e conveniente – de que não há nada de errado com sua política econômica e que tudo decorre da crise econômica mundial. Como ‘a situação do mundo está extremamente problemática’, o País ‘está na defensiva em relação à crise internacional’, empenhado em ‘proteger emprego, salário e investimento’. Não houve a mais leve menção ao fato de que, não obstante esse suposto empenho, o investimento está em queda há quatro trimestres.

“Pressionada pelos entrevistadores a ser mais específica, Dilma revela, afinal, que sua idéia é ‘apostar numa retomada’. E apressa-se em esclarecer que, ‘na retomada, você muda a sua política econômica de defensiva para ofensiva’ e que ela pode, ‘na retomada, gastar menos para sustentar emprego, salário e investimento’. Mas logo recua: ‘Só que investimento eu tenho de manter’. Se não, ‘eu comprometo emprego e salário’.

“‘Então o que nós achamos?’, indaga Dilma. ‘Nós achamos que a gente tem de ver como é que evolui a crise’, pois, ‘se ela evoluir para uma situação um pouco melhor’, o País ‘pode entrar numa outra fase, que precisa menos estímulos’, ‘pode ficar mais entregue à dinâmica natural da economia e pode, perfeitamente, passar por uma retomada’. Parece difícil de acreditar, mas não foi mais do que isso que a candidata a presidente que, com folga, lidera as pesquisas de intenção de voto no primeiro turno tinha a dizer sobre como pretende lidar com os sérios desafios de política econômica que o País tem pela frente.

“Se o leitor não assistiu à entrevista, pode recorrer ao site do programa, onde estão disponíveis tanto o vídeo como a transcrição. É imperdível.” (Rogério L. Furquim Werneck, economista, Estadão e O Globo, 26/9/2014.)

* Não adianta Dilma negar: o Brasil precisa de um ajuste fiscal, sim, sério, firme, bem feito

“Sim, o Brasil precisa de um ajuste fiscal. Sério, firme e bem feito. Pioraram todos os indicadores das contas públicas, as despesas têm crescido mais do que as receitas, a dívida pública aumentou, o superávit primário se estiolou, e o déficit nominal cresceu. Entes públicos têm débitos entre si, e as estatísticas das contas do governo precisam ser refeitas para se restabelecer a credibilidade.

“Em dezembro de 2010, último mês do governo Lula, a dívida bruta do governo central era de 53,35% do PIB. Em julho deste ano, último dado disponível do governo Dilma, havia crescido seis pontos, para 59,49%. No período, o déficit nominal, que inclui o pagamento de juros da dívida, saltou de 2,48% para 3,84% do PIB. Já o superávit primário, que exclui os juros, caiu de 2,7% para 1,22%. E isso apesar dos inúmeros truques, pedaladas e alquimias contábeis.

“O que mais surpreende no aumento da dívida bruta e do déficit é que o governo Dilma Rousseff é o que mais arrecada desde o início do Plano Real. Olhando apenas para os números do governo federal, a arrecadação tributária subiu de 23,74% do PIB, em 2010, para 25,54%, em 2013, segundo cálculos do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT). Uma alta de 1,8 ponto em apenas três anos, o que dá uma média de 0,6 ponto anual.

“No governo Fernando Henrique, a arrecadação federal aumentou 2,56 pontos em oito anos, de 20,55% do PIB, em 1994, para 23,11%, em 2002. Uma média de 0,32 ponto por ano. Já o governo Lula subiu em uma média anual de 0,08 ponto percentual, de 23,11%, em 2002, para 23,74%.

“Os números colocam em risco o grau de investimento do país. Pela agência Standard & Poor’s, o Brasil já sofreu rebaixamento e está a apenas um nível do grau especulativo. A permanência do baixo crescimento, inflação alta e piora fiscal eleva o risco de novo corte.

“O governo fala muito da queda da dívida líquida. Realmente caiu, de 39,15% para o mínimo de 33,13% e está agora em 35,35%, mas esse é um indicador que perdeu credibilidade nos últimos anos. Nele o governo calcula tudo o que deve e desconta o que tem de ativos. Enquanto fez isso apenas com as reservas cambiais fazia sentido, mas hoje registra também os mais de R$ 400 bilhões que tem a receber do BNDES, que é um ativo sem liquidez.

“No mundo inteiro as estatísticas de endividamento do setor público são olhadas pelo conceito de dívida bruta, que é muito mais alta, de 59%. E pior: a dívida do Brasil é cara demais comparada a outros países. Paga 11% de juros ao ano. Portanto, não faz sentido essa frase que a presidente Dilma tem dito sobre o Brasil ter uma das menores dívidas do mundo. Porque ela está comparando dois conceitos: a nossa dívida líquida com a dívida bruta de outros países.

“O cenário para as contas públicas fica mais desafiador por causa da inflação alta. O aumento da taxa Selic pelo Banco Central vai aumentar também a despesa do governo com juros e vai dificultar a queda do déficit nominal. Para fechar as contas este ano, o governo está forçando a todo custo um leilão de telefonia 4G, mesmo sabendo que uma das principais empresas do setor, a Oi, não vai poder participar pelo seu alto endividamento e apesar da holding que controla a Nextel no Brasil ter entrado em recuperação judicial nos EUA. Isso para fazer com a receita da concessão o mesmo que fez com a venda de Libra no ano passado: elevar os recursos imediatos para melhorar o resultado fiscal.

“Somente este ano, o governo contabiliza três meses consecutivos de déficit primário, entre maio e junho. O rombo em julho foi de R$ 4,7 bilhões, o pior resultado para esse mês da série histórica. Sim, o Brasil precisa de um ajuste fiscal.” (Míriam Leitão, O Globo, 27/9/2014.)

* Tolerância é a grande marca de Dilma: ela tolera a inflação, o desarranjo das contas públicas, a estagnação da economia, os desaforos dos parceiros e, agora, também o terrorismo do Estado Islâmico

“Tolerância é a grande marca da candidata Dilma Rousseff: tolerância à inflação, ao desarranjo das contas públicas, à estagnação da economia brasileira, aos desaforos dos parceiros bolivarianos e pro-bolivarianos e, é claro, ao terrorismo internacional. Depois do humilhante desempenho de sua chefe em Nova York, o chanceler Luiz Alberto Figueiredo tentou limpar o vexame. Não houve sugestão, segundo ele, de diálogo com o Estado Islâmico. De acordo com o ministro, a presidente propôs diálogo ‘no âmbito da comunidade internacional’ para solução dos problemas da Síria e do Iraque. O esforço do diplomata foi inútil. Não havia como desmentir o óbvio. Depois de lamentar ‘enormemente’ os bombardeios, a presidente recomendou a busca do entendimento entre os ‘dois lados’. Talvez por falha de comunicação, ou por diferença de fuso horário, um dos ‘lados’ estava ocupado em cortar a cabeça de mais um refém. O decapitado foi um francês, porque o destinatário principal da mensagem, nesse caso, era a França. O presidente François Hollande talvez devesse ter dialogado. Mas dialogar, nesse caso, significaria obedecer.

“As demais tolerâncias da presidente Dilma Rousseff, a começar pela tolerância aos próprios erros, também foram expostas em sua passagem pelos Estados Unidos. Apresentando-se como chefe de Estado e de governo, mas agindo principalmente como candidata, ela aproveitou seu discurso na ONU e o contato com a imprensa para alardear os feitos da administração petista e condenar qualquer ensaio de seriedade no combate à inflação e a outros problemas, nunca plenamente reconhecidos, da economia brasileira.

“Nova York foi apenas um palanque especial para a campanha. Lá, como no Brasil, a candidata continuou falando sobre a inflação como se a variação dos preços nunca tivesse ficado acima da meta, isto é, acima de 4,5%, e a gestão das contas públicas fosse a mais prudente e austera. Na mesma semana foi anunciado o uso de R$ 3,5 bilhões do Fundo Soberano para fechar as contas de 2014. A idéia foi logo defendida pela candidata, mas criticada até por funcionários da equipe econômica. O uso desse dinheiro, argumentam esses críticos, envolverá a venda – com a consequente desvalorização – de grande volume de ações do Banco do Brasil. Mas essa discussão só ocorre porque faltou no governo o debate, muito mais importante, sobre como cuidar direito das contas públicas.

“A arrecadação de agosto, embora anabolizada com R$ 7,13 bilhões do Refis – o programa de refinanciamento de dívidas tributárias – foi insuficiente para mudar o panorama fiscal. A arrecadação de janeiro a agosto, R$ 771,79 bilhões, foi apenas 0,64% maior que a de igual período de 2013, descontada a inflação. Há alguns meses o pessoal da Receita ainda projetava um crescimento real de 3% neste ano. Agora se estima 1% e esse resultado ainda vai depender de mais anabolizantes, como novos pagamentos do Refis, dividendos, bônus de concessões e até o dinheiro do Fundo Soberano.

“O fiasco da arrecadação é explicável em boa parte pelo baixo nível de atividade econômica. Ao divulgar os valores acumulados em oito meses, o pessoal da Receita chamou a atenção, em seu relatório, para alguns dos ‘principais fatores’. De janeiro a agosto a produção industrial foi 2,7% menor que a de um ano antes. As vendas de bens e serviços, no varejo, 0,09% inferiores. O valor das importações, em dólares, 1,2% mais baixo que o dos mesmos oito meses de 2013.

“Sem poder negar esses e outros números muito ruins, a presidente Dilma Rousseff e seus ministros atribuem a paradeira econômica do Brasil à situação internacional. Em outras palavras, os problemas vêm de fora, porque o governo cuida muito bem da economia nacional. Mas também essa conversa é desmentida seguidamente pelos fatos. A economia americana cresceu no segundo trimestre em ritmo equivalente a 4,6% ao ano. Além disso, o produto interno bruto (PIB) do período de abril a junho foi 2,9% maior que do mesmo trimestre do ano anterior. As economias peruana, colombiana e chilena continuam com desempenho muito melhor que o da brasileira, apesar de alguma desaceleração – e todas com inflação muito menor. Nem é preciso citar os casos da China e de outras potências da Ásia.

“Nem o governo federal projeta para este ano um crescimento econômico acima de 0,9%. Esse número foi divulgado há poucos dias pelo Ministério do Planejamento, juntamente com a revisão de receitas e despesas orçamentárias do quarto bimestre. No mercado, a projeção do aumento do PIB já havia caído para 0,3%.

“A inflação, depois de hibernar por alguns meses, saiu novamente da toca. Na sexta-feira o IBGE divulgou sua nova pesquisa do Índice de Preços ao Produtor (IPP). O aumento, em agosto, foi de 0,48%. Foi a primeira alta desde fevereiro. A elevação acumulada em 12 meses é pequena, 2,5%, mas a aceleração é clara e já havia sido indicada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em sua coleta dos preços por atacado. A reação dos preços ao consumidor também é evidente. Nas quatro últimas coletas, o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), também da FGV, passou por 0,12% em 31 de agosto e 0,21%, 0,39% e 0,43% nas pesquisas seguintes. Os números são atualizados semanalmente, mas sempre com base num período equivalente a um mês. O IPCA-15, prévia do índice oficial produzido pelo IBGE, bateu em 0,39% no período encerrado no meio de setembro. Em 12 meses a alta acumulada chegou a 6,62%.

“A candidata continua recusando, no entanto, qualquer ação séria para conter a alta de preços. Ações sérias poderiam incluir uma administração melhor das contas públicas, com menor gastança e menor distribuição de benefícios fiscais e subsídios. Em caso de necessidade, o Banco Central poderia elevar os juros básicos, mantidos em 11%. A presidente rotula essas políticas como recessivas. É uma fala surrealista, num cenário de estagnação com inflação. Mas há quem pareça acreditar.” (Rolf Kuntz, Estadão, 27/9/2014.)

* “O governo Dilma Rousseff meteu os pés pelas mãos na economia de forma inteiramente soberana e voluntária”

“O governo petista, iniciado em 2003, contou com quatro maravilhosas turbinas, todas alheias à sua vontade.

“A primeira teve a ver com bancos. Com o sistema (privado e público) totalmente saneado, depois de um conserto caro e trabalhoso, o crédito mais que dobrou, de 2003 até nossos dias, ultrapassando 55% do PIB, sem deterioração da qualidade dos ativos (mercê de boa regulação). A expansão foi principalmente no crédito pessoal, e graças ao consignado, o endividamento familiar dobrou, como proporção da renda, sem aumentos substanciais no comprometimento dos salários.

“A segunda foi fiscal. Com as contas em ordem, ficou mais fácil reduzir a taxa de juros, independentemente das oscilações próprias do ciclo econômico, até 7,25% anuais para a Selic. Nesse caminho, o efeito sobre o valor dos ativos, ao menos até 2008, foi espetacular: o conjunto das empresas que compõem o Ibovespa valia R$ 2 trilhões às vésperas da crise, partindo de R$ 294 bilhões em dezembro de 2002.

“A terceira foi externa, e na verdade foi a combinação de dois ventos, um que vinha da China e outro dos bancos centrais dos países desenvolvidos. Não houve crise bancária na periferia, exceto de forma efêmera, por maior ‘aversão a risco’, no começo de 2009, nada mais. Não foi uma ‘marolinha’, deu trabalho ao BC, mas durou menos que um ano e depois disso choveu capital para dentro do Brics, cujas reservas aumentaram para US$ 5,2 trilhões em 2014 contra US$ 1,7 trilhão em 2006.

“O fato novo, tratando de assuntos cambiais, é que o nível de reservas do país é tão gigantesco que um déficit em conta corrente elevado, como o de agora, parece perder importância. O poderio do BC em sua intervenção na taxa de câmbio resulta em que esta parece ter se tornado, finalmente, conforme o desejo de muitos, um preço público fixado conforme a folga que a inflação oferece, que, infelizmente, não é muita.

“A quarta e mais importante de todas as turbinas é a da demografia, com amplos efeitos na desigualdade e no mercado de trabalho. A maior criação do bônus demográfico é a ‘nova classe média’, em torno da qual se criou certa mitologia. O enredo é simples: nos anos 1960, o país era uma pirâmide e apenas 15% da população total trabalhava, uma época em que o grosso da população estava abaixo dos 14 anos. Verificou-se, desde então, uma enorme redução na taxa de fertilidade e assim, para resumir, a passagem do tempo foi fazendo a ‘base da pirâmide’ se tornar a ‘copa da árvore’.

“Os efeitos sobre a desigualdade podem ser vistos da seguinte forma: nos anos 1990, um domicílio com um casal, cada qual ganhando dois salários mínimos, e cinco filhos em idade escolar pertencia à classe D ou pior. Na segunda metade dos anos 2000 essa mesma família tinha sete pessoas trabalhando, e uma renda combinada que a colocava firmemente na classe C. Bastou as crianças crescerem. Se o avô viesse morar com a família, traria sua renda de aposentado e a opção de fazer um crédito consignado, elevando as possibilidades de consumo da família para níveis impensáveis dez anos antes. Eis a mágica da classe média: demografia e crédito, com alguma ajuda do salário mínimo. Nada disso tem a ver com o Bolsa Família, que tem sua utilidade para o que se passa dois extratos mais para baixo, na região da pobreza.

“Diante dessas poderosas turbinas, a pergunta que não quer calar é como foi que a administração Dilma Rousseff conseguiu desarrumar a economia. Certamente, não foi um único erro, os desastres aéreos sempre compreendem diversos desacertos combinados com infelicidades e surpresas. No caso em tela, só é possível inocentar as surpresas.

“O maior dos equívocos é o de sempre, a desordem nas contas públicas. Diretamente, descontada a maquiagem, ou via bancos públicos ou obrigações não reconhecidas, a situação fiscal se tornou crítica, por simples opção ideológica.

“Se alguma surpresa houve foi descobrir petróleo, o sonho extrativista de todos os caudilhos, que, todavia, se mal administrado, pode se tornar uma maldição. Na verdade, a opção por um modelo fortemente nacionalista, impondo grandes obrigações de investimento à Petrobrás, combinado ao represamento de preços, enfraqueceu brutalmente a empresa.

“De forma análoga, a mesma filosofia de favorecer o Estado e apertar o setor privado prevaleceu nas áreas de energia e infra-estrutura, com resultados igualmente ruins. O governo se empenhou em indispor-se com o capital. Como querer que haja investimento?

“As perdas de valor nas empresas públicas listadas são impressionantes, e apenas se cogita sobre as perdas ocultas que são as que ocorrem em empresas públicas não listadas, ou decorrentes de obrigações pelo Tesouro assumidas e não ainda reconhecidas.

“Adicione-se à mistura um retorno aos anos 1960 em matéria de protecionismo e exigências de conteúdo nacional, e lá se vai, para baixo, a produtividade. O valor adicionado gerado em média pelo trabalhador brasileiro era 19% do que produzia um americano em 2000. Caiu para 18% em 2012. A China passou de 6% a 17% no mesmo período.

“A inflação acordou, a política monetária teve de ser revertida, e se instaurou um clima de forte desconfiança, sobre a qual tudo o que se pode dizer é que há merecimento. Parecendo confirmar o diagnóstico, mas apenas depois de se sentir ameaçada na eleição, a presidente demitiu o Ministro da Fazenda, mas ainda não disse coisa alguma sobre o que fará para reverter esse quadro.

“É difícil de explicar, exceto pela demografia, como o desemprego se mantém baixo e os salários continuam a crescer com recessão e estagnação da produtividade. A oferta de trabalho tem crescido menos que a demanda, coisa inédita entre nós: entra menos gente no mercado de trabalho a cada dia, e sai mais gente do que no passado. Há certa perplexidade sobre isso, mas as empresas registram continuadas dificuldades de contratar, daí o medo em demitir, mesmo com a economia fraca, e assim vão se apertando.

“A idéia de que há uma crise externa culpada de tudo é uma fraude grosseira. O Brasil não carrega as feridas de 2008 que o mundo desenvolvido ainda está curando, e estamos nos beneficiando da política monetária deles. O investimento direto estrangeiro está acima de US$ 60 bilhões anuais desde 2009, por que será? Será este o impacto da crise sobre o país?

“Diante das turbinas acima descritas, e dos erros cometidos, deve ser claro que o governo Dilma Rousseff meteu os pés pelas mãos na economia de forma inteiramente soberana e voluntária.” (Gustavo Franco, economista, O Globo e Estadão, 28/9/2014.)

* Os agentes econômicos sabem como é o governo Dilma. Por isso é que morrem de medo da reeleição

“O mercado sempre teve medo do desconhecido, mas agora ele reage ao conhecido. Isso inverte a reação natural dos investidores, que costumam detestar as incertezas que as mudanças trazem. Neste caso, porém, a bolsa cai e o dólar sobe quanto mais forte fica a candidatura oficial. A Petrobrás derrete porque os acionistas temem as escolhas e a política de preços que arruinaram as contas da empresa.

“O quadro econômico é muito ruim, com inflação alta e baixo crescimento, e a presidente Dilma nada esclarece sobre como vai corrigir o rumo. Isso aumenta a dúvida. A Petrobrás teve que engolir a construção de uma refinaria como a de Abreu e Lima, apesar de os técnicos da empresa terem alertado que acima de R$ 10 bilhões ela seria inviável. Teve que aceitar a compra ruinosa de uma refinaria como a de Pasadena. E hoje se sabe que havia razões que até a razão desconhecia para decisões tão equivocadas. A empresa tem sido submetida a uma política de preços que piora a relação da sua dívida com o fluxo de caixa. Evidentemente, tudo isso junto assusta os investidores.

“Mercado não é meia dúzia de malévolos especuladores, como imagina o estereótipo. Por mais que alguns agentes tenham grande capacidade de formação de preços, o que na verdade fica refletido nesse sobe e desce é a soma das decisões dos poupadores querendo se proteger. São milhões de investidores em ações, e mais ainda em fundos, com as mais variadas carteiras. Isso sempre acontece em época de incerteza. O curioso agora é que o incerto é a permanência e não a mudança. Isso derruba uma das frases mais consolidadas, a de que o mercado é conservador e detesta mudança.

“O que leva, portanto, os investidores a temerem a permanência, já que ela tem a vantagem de ser terreno conhecido? É exatamente o grau de incerteza sobre como vai ser enfrentada a crise da economia brasileira que estava ontem estampada, mais uma vez, no Relatório de Inflação do Banco Central. Ele está prevendo um crescimento de 0,7% para este ano e uma inflação que só estará mais próxima do centro da meta no terceiro trimestre de 2016.

“Perguntada exaustivamente sobre o baixo desempenho da economia brasileira, a presidente-candidata repetiu sempre que o mundo está em crise e que todos os países estão em dificuldades. É truque de marketing que saiu pela culatra, porque aumentou a dúvida sobre sua capacidade de resolver o que sequer admite como crise. Há problemas no mundo, de fato, mas outros países estão em situação melhor do que a do Brasil. Os sinais de recuperação da economia americana alimentam a tendência de fortalecimento do dólar. E o Brasil está pior do que outros países. As projeções de crescimento feitas pelo Focus e Bloomberg, compiladas pelo BC, registram que o mundo deve crescer 2,5% este ano; os Estados Unidos, 2,1%; a zona do euro 0,8%; os Brics, 5,2%; e a América Latina, 1,7%. Nós, 0,3%. Se for usada a projeção do BC, fica em 0,7%.

“E temos também, na comparação com esses mesmos países, taxas de inflação maiores. O Banco Central registrou no relatório que nos próximos trimestres a inflação permanecerá elevada por causa de “realinhamentos de preços internos e externos; administrados e livres”. Confirma assim o que tem sido dito sobre o fato de que há preços represados.

“As ações das estatais estão em queda, principalmente as do setor de energia, exatamente pela perspectiva de manutenção de decisões gerenciais que provocaram prejuízos. As estatais elétricas estão em situação complicada, com déficits e dívidas. A Petrobrás ontem caiu 11% porque o que os minoritários têm medo é de nada mudar. Mesmo se, por milagre, tudo de obscuro que houve na companhia deixasse de existir, o que ficou de todo esse episódio é a demonstração de uma grave crise de governança. O conselho de administração de nada sabe, o ex-presidente diz que ele é apenas comunicado do nome dos seus diretores e ninguém se responsabiliza por erros que custaram bilhões à companhia. Logo, a Petrobrás é mal administrada, para dizer o mínimo.

“Não deixa de ser curiosa essa reação às avessas do mercado: em vez de temer o que desconhece, a reação é ao risco de manutenção de tudo como está. Se a presidente Dilma tivesse apresentado alguma proposta para corrigir os problemas que seu governo criou, o quadro poderia ser diferente neste momento.” (Míriam Leitão, O Globo, 30/0/2014.)

* Dilma encontrou uma situação de bonança ao assumir, em 2011. Quem assumir em 2015 – e pode ser ela mesma – encontrará uma economia em frangalhos

“O discurso oficial é o de que a política econômica está certa e que não haverá mudança de rumos, caso se confirme a reeleição da presidente Dilma Rousseff.

“No entanto, o novo governo não encontrará uma situação de bonança como a encontrada pela presidente Dilma em 2011. Ao contrário, o quadro lhe será adverso.

“A atividade econômica não terá mais o empuxo produzido por uma evolução do PIB de 7,5% no ano anterior, como aconteceu em 2010. Terá de vencer a inércia imposta pelo PIB devagar-quase-parando, ao ritmo de 0,3% a 0,5%. Nem a indústria estará avançando a 10,1% ao ano. Os investimentos não vão sendo desengavetados à velocidade de 21,8% ao ano.

“O superávit primário (sobra de arrecadação para amortização da dívida) não se projetará ao nível dos 3,1% do PIB e a situação fiscal ainda enfrentará esqueletos sabe-se lá de que proporções.

“Os juros básicos (Selic), hoje nos 11% ao ano, não estão muito mais altos do que em 2010, quando fecharam a 10,75%. No entanto, naquele ano, a inflação, também próxima da atual (5,91%), não ostentava atraso tão grande nos preços administrados nem um câmbio tão aflito. O Banco Central (BC) agora atua com déficit de credibilidade e não terá as mesmas condições para administrar as expectativas do mercado.

“O mundo já não mais regurgitará abundância nunca vista de recursos, graças à atuação expansionista dos grandes bancos centrais, que agora começam a enxugar os mercados do excesso de moeda. A Vale do Rio Doce não contará mais com a tonelada de minério de ferro a caminho dos US$ 200 nem o agronegócio desfrutará da exuberância de preços das commodities agrícolas. A Petrobrás exibirá em 2015, como já está exibindo agora, um caixa arrasado e uma dívida que deverá exceder os R$ 250 bilhões.

“Quando recebeu a faixa verde-amarela do presidente Lula, Dilma tinha à sua disposição um setor elétrico relativamente equilibrado, que, no entanto, hoje opera a custos galopantes, e, mais que tudo, incertezas na área de suprimento. O nível de confiança dos empresários e do consumidor era elevado e não esse fundo de poço em que está agora.

“Ah, sim, a situação do emprego está melhor agora do que há quatro anos. Hoje, apenas 50 em cada mil pessoas estão à procura de trabalho. Em 2010, eram 67 em mil. Mas essa situação de pleno-emprego com uma economia estagnada não é propriamente um fator positivo para quem pretende um crescimento econômico de pelo menos 3% ao ano. Há hoje escassez de mão de obra especializada e estocadas nos custos trabalhistas, como até o BC, tão pouco crítico da atual política econômica, vem admitindo.

“Diria o ministro Guido Mantega: apesar das dificuldades, bem menores do que as descritas acima, a situação da economia brasileira não é tão trágica como pintada pelos pessimistas de sempre; só precisa de alguns ajustes.

“Se for só isso, se não houver uma virada da política econômica em direção ao fortalecimento dos fundamentos, aumentará a probabilidade de que as finanças públicas em deterioração se deteriorem mais ainda e levem ao rebaixamento da qualidade da dívida brasileira. As pressões no câmbio crescerão sabe-se lá até que ponto. A inflação tenderá a escalar e os índices de confiança afundarão. E, a partir daí, não haverá remédio senão mudar os rumos da política econômica.” (Celso Ming, Estadão, 2/10/2014.)

O desastre em Nova York

* A noção de Estado do atual governo é zero

“Realmente o governo brasileiro não dá a mínima para o Brasil. Interessa-lhe única e exclusivamente a plataforma de poder, a máquina para fazer política, assegurar empregos e outros que tais cujos detalhes o fim da fase do segredo de Justiça poderá esclarecer.

“Tivessem algum apreço pelo País, a presidente Dilma Rousseff e os que a cercam teriam pensado duas vezes (ou quantas fossem necessárias) antes de levar um discurso de cunho partidário à abertura da Assembléia-Geral da ONU, evitando também no campo internacional a proposição de ‘diálogo’ com gente que não conversa, degola.

“À presidente da República não parece ter ocorrido nem por um minuto que estaria ali na representação de um País e seu posicionamento no mundo. Foi à Organização das Nações Unidas com o mesmo espírito com que se dirige a um encontro do PT, à biblioteca do Palácio da Alvorada, ao canteiro de obras do Rio São Francisco ou onde grave sua participação no horário eleitoral da televisão ou recite a cantilena sobre a história do partido que salvou o Brasil.

“Ainda que fosse tudo verdade, que tudo caminhasse àquelas maravilhas por ela contadas, que o dito combate à corrupção não se expressasse em repetidas operações ‘abafa’, que o País tivesse sido inventado há 12 anos, não caberia à presidente aproveitar-se da tribuna da ONU para produzir cenas às câmeras de João Santana.

“Não é bom nem imaginar qual terá sido a avaliação dos chefes de Estados ali presentes diante de uma presidente exclusivamente concentrada em enaltecer a si de maneira provinciana e, sobretudo, sectária na medida em que não falou como porta-voz do Estado brasileiro, uma instituição permanente, preferindo se colocar como porta-bandeira de uma corrente partidária em episódio transitório que se encerra dentro de um mês.

“A presidente já havia deixado de lado a compostura quando chancelou o uso da mentira na campanha e aceitou vocalizar indelicadezas contra uma adversária. Na ONU, não desencarnou da candidata. No dia a dia, deixou em segundo plano suas funções. Ocupada com seus afazeres eleitorais, há tempo não recebe embaixadores que esperam para apresentar suas credenciais a fim de exercer a representação dos respectivos países. Já são 28, noticia O Globo.

“Poderia até ser um exemplo menor, mera falta de cortesia, se o constrangedor discurso nas Nações Unidas não tivesse deixado patente que o governo brasileiro só tem olhos e põe realmente as mãos à obra quando o assunto é eleitoral.” (Dora Kramer, Estadão, 26/9/2014.)

* Da desastrosa, patética passagem de Dilma por Nova York sobram danos para o Brasil

“Entre as marcas fortes destes 12 anos de administração petista, inclui-se a partidarização da política externa. Assim, tão logo Lula assumiu, a nova diplomacia brasileira começou a trabalhar contra as negociações com os americanos em torno da Alca, Aliança de Livre Comércio das Américas, sob aplausos do nacional-populismo já reinstalado no continente — Venezuela e Argentina, seus representantes mais proeminentes. De fato soterrou-se aquele projeto de integração Norte-Sul, e a diplomacia companheira fez o país mergulhar em outra direção, na política Sul-Sul, equivocada, como sabido.

“A patética participação da candidata-presidente Dilma Rousseff na 69º Assembléia Geral da ONU mostrou outra faceta preocupante da “petização” da diplomacia brasileira: seu uso eleitoreiro, apenas para afeito da campanha da reeleição de Dilma. Neste caso, dizer que o Barão do Rio Branco enrubesce na tumba não é um bordão surrado.

“Antes de representar o Brasil no discurso de abertura da assembléia, Dilma participou da Cúpula do Clima, com um providencial vestido vermelho, em óbvia obediência aos marqueteiros da campanha. Da tribuna da ONU, Dilma continuou no script eleitoreiro, ao fazer um discurso de prestação de contas de seu governo e dos oito demais anos de PT no Planalto, sem qualquer interesse para os representantes dos países.

“Teve o mesmo objetivo a desastrada crítica, feita de forma mais clara em entrevistas, à ação militar da coalizão liderada pelos americanos contra o Estado Islâmico, grupo sectário tão radical e violento que foi desligado da al-Qaeda. Inspirada no antiamericanismo, agora com fins eleitoreiros, Dilma fez a inaceitável defesa dos jihadistas assassinos do EI, com base no conhecido discurso já usado sobre a guerra no Iraque — correto em si —, de que é necessário “dialogar”, em vez de sacar armas.

“Fez uma inacreditável confusão. O EI não é um Estado, mas um bando armado, fanático, já conhecido por degolar jornalistas e, agora, um turista, filmar as atrocidades e colocá-las na internet como peça de propaganda. Esqueceu-se a diplomacia companheira que da coalização participam países árabes, o que aumenta a legitimidade da operação.

“Da desastrosa passagem por Nova York sobram danos para o Brasil. Além do descrédito semeado por Dilma, há um novo distanciamento em relação aos Estados Unidos, cuja economia se recupera e pode compensar as perdas nas exportações nacionais causadas pela debacle Argentina. Outro dano é o virtual fim do projeto de obtenção do assento no Conselho de Segurança, elevando o status político brasileiro ao peso que o país já tem na economia mundial. Não se pode mesmo dar poder de veto no CS a quem protege sectários.

“É uma imagem emblemática a cena do assessor especial da presidência Marco Aurélio Garcia, liderança petista, aboletado na bancada brasileira na assembléia geral. Simbolizava a tutela da política externa pelo partido.” (Editorial, O Globo, 26/9/2014.)

* Após quatro anos no poder, Dilma continua atuando como uma debutante inexperiente e desajeitada

“A participação do Brasil na Cúpula do Clima das Nações Unidas, ocorrida em Nova York no dia 23, é uma boa mostra de como o Palácio do Planalto lida com as questões internacionais.

“A presidente Dilma Rousseff tem sérias dificuldades em distinguir o âmbito nacional do internacional. Não tira mais o chapéu de candidata. E os quatro anos no poder parece que não foram suficientes para fazê-la compreender que o cargo de presidente da República exige seriedade, circunspecção, estudos e aplicação – ao contrário, ela continua atuando como uma debutante inexperiente e desajeitada.

“Seu discurso na Cúpula esteve pautado pelo horizonte temporal do PT no poder – a matraca dos 12 anos -, o que, seguramente, não deve ter feito muito sentido aos ouvidos da plateia. ‘Nos últimos 12 anos, temos tido resultados extraordinários. (…) O Brasil, portanto, não anuncia promessas. Mostra resultados.’ Mais adiante, a uma plateia cada vez menos interessada – não é fenômeno restrito ao Brasil o desinteresse por tudo aquilo que soe a programa eleitoral gratuito -, a candidata Dilma recarregou a artilharia eleitoreira: ‘Tamanho crescimento da produtividade – referia-se, como não podia deixar de ser, às safras dos últimos 12 anos – só é possível com muita pesquisa e inovação, muito investimento e intenso apoio do governo federal’.

“Não é segredo para ninguém que a competitividade do agronegócio brasileiro e o consequente aumento de produtividade não se baseiam no ‘intenso apoio do governo federal’. Baseiam-se na pesquisa e inovação da Embrapa – cuja existência, empenho e eficiência são muito anteriores ao PT sonhar em chegar ao poder – e no empreendedorismo do campo brasileiro, que não diminuiu o seu ímpeto mesmo diante de um governo que menospreza a iniciativa privada. É daí que vieram os resultados.

“Em entrevista após o discurso, Dilma foi questionada a respeito do recente aumento do desmatamento da floresta amazônica. Atuando mais uma vez como se estivesse num debate eleitoral – e como se fosse legítimo fugir da questão tratando eufemisticamente os fatos -, disse apenas: ‘Agora deu um aumentozinho, em 2014 vamos continuar reduzindo’. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o ‘aumentozinho’ foi de 29%: a taxa de desmatamento de agosto de 2012 a julho de 2013 (5.891 km²) cresceu 29% em relação ao período anterior.

“Mas não foi apenas a fala de Dilma que fez o Brasil destoar na Cúpula do Clima das Nações Unidas. Por um motivo ainda não bem explicado – tem-se atualmente no País um governo que, com a sua falta de comunicação linear, se esforça para que em tudo pareça haver motivos ocultos -, o governo brasileiro não assinou a Declaração de Nova York sobre Florestas, na qual outros 32 países afirmaram a disposição de reduzir pela metade o desmatamento até 2020 e zerá-lo até 2030. O texto pedia também o esforço global para restaurar mais de 350 milhões de hectares de florestas, o que, segundo o documento, ‘poderia trazer benefícios climáticos consideráveis e diminuir a pressão sobre as florestas primárias’.

“O governo brasileiro não assinou o compromisso e se justificou dizendo que ‘não foi convidado a se engajar no processo de preparação’ da declaração. No entanto, de acordo com Charles McNeill, conselheiro de política ambiental do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (Pnud), ‘houve esforços para chegar às pessoas do governo brasileiro, mas não houve resposta’.

“Segundo a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, o governo brasileiro não assinou a declaração porque seu conteúdo colidiria com as leis relativas ao desmatamento na Amazônia. Se essa for de fato a razão pela qual o governo brasileiro não assinou a Declaração de Nova York, vislumbra-se mais uma confusão do governo, como se no País houvesse leis que obrigassem a desmatar – pois só assim a declaração feriria a legislação brasileira.

“Ou será que, às vésperas das eleições, o governo da candidata Dilma foge de toda e qualquer decisão que possa gerar algum ruído eleitoral?” (Editorial, Estadão, 26/9/2014.)

* “A presidente Dilma comportou-se na ONU como se estivesse em campanha. Aliás, a intenção era essa, transformar o lugar em palanque”

Ao contrário de Lula, que fazia o maior sucesso no exterior, onde recebeu o apelido de ‘o cara’, dado por Barack Obama, a presidente Dilma não se saiu bem esta semana na ONU. Primeiro, foi muito criticada por ter levado para a abertura da Assembléia Geral um discurso eleitoreiro, de candidata, mais do que de chefe de nação, ao exaltar sem qualquer pudor feitos de seu governo, como diminuição da fome, redução da desigualdade social etc., etc. Comportou-se como se estivesse em campanha. Aliás, a intenção era essa, transformar o lugar em palanque, de onde, por meio de gravação, se dirigiria ao público daqui. Com isso, porém, ela teria enfraquecido nossas antigas pretensões a uma vaga no Conselho de Segurança da organização. Também não pegou bem na Cúpula do Clima da mesma ONU o Brasil ter se recusado a assinar o acordo que prevê o desmatamento zero até o ano de 2030, alegando que não foi consultado sobre sua elaboração. Outro motivo seria o fato de que a meta contraria o nosso Código Florestal, que autoriza o corte legal na Amazônia. Pode ser, mas entre os ambientalistas a decisão foi considerada um retrocesso.

“Houve ainda a posição simplista em relação ao terceiro tema abordado pela nossa candidata-presidente na sua viagem diplomática: o bombardeio, sob liderança dos EUA, dos alvos do Estado Islâmico (EI) na Síria. No momento em que era decapitado pelos jihadistas mais um refém, provavelmente o quarto, ela preferiu condenar energicamente a ação americana. Depois de afirmar que ‘o Brasil é contra todas as agressões’, como se pudesse ser a favor, ela apresentou sua sugestão, um palpite absolutamente infeliz, para pôr fim à guerra: o diálogo com os terroristas, ou seja, com o grupo que chama de ‘mensagens de sangue’ as atrocidades que pratica, filma e depois coloca o vídeo macabro na internet. É difícil imaginar a cena: a vítima ajoelhada aguardando a execução, o carrasco em pé ao lado, com o rosto coberto e a faca na mão, e o mensageiro da paz propondo ao verdugo, ansioso por acabar seu trabalho:

“— Senhor jihadista, não corta ainda, não. Vamos conversar. Sei que podemos nos entender.

“Seria risível, mas é trágico.

“O delator Paulo Roberto Costa fez mais uma revelação estarrecedora: confessou que recebeu US$ 23 milhões de empreiteira no exterior para facilitar contrato com a Petrobrás, além de US$ 1,5 milhão em propina para não atrapalhar a compra da refinaria de Pasadena. E olha que o doleiro Alberto Youssef, o outro homem-bomba, mal começou a falar. Vem muito mais coisa por aí. Aguardem. Por muito menos, numa época em que escândalo político ainda escandalizava, não era rotina, o país ficou conhecido como ‘mar de lama’. Bons tempos.” (Zuenir Ventura, O Globo, 27/9/2014.)

* “Onde está o interesse do Brasil? Falta estratégia, parece política externa adolescente”

“Os ventos mudaram, a presidente Dilma não. Ela é uma mulher de opiniões fortes, pouco paciente com os caminhos lentos da diplomacia. Foi assim no primeiro mandato, vai ser assim no segundo se for reeleita. Nem na campanha, a presidente incorporou as sutilezas da linguagem diplomática sugeridas pelo Itamaraty para seu discurso na abertura da Assembléia Geral da ONU, uma espécie de sessão de gala do Parlamento do mundo. Ela, exatamente igual a todos os líderes internacionais, usou o cenário imponente como palanque para mandar recados ao público interno e sair bem na foto ao lado dos poderosos. Só que na hora de analisar as crises do mundo, chutou o balde: intervenções militares acentuam a barbárie, disse. No geral é verdade, mas Dilma botou tudo junto e misturado, do califado dos bárbaros do Estado Islâmico à crise na Ucrânia, da derrubada de Kadafi na Líbia à guerra de Israel contra Gaza. Perdeu a pontaria e a voz saiu desafinada, deixou o Brasil na companhia só de Venezuela e Cuba, o discurso teve repercussão internacional zero. Até o Irã, tradicional vilão na narrativa ocidental, foi mais sutil nas críticas, pediu uma moldura legal para os bombardeios.

“‘Onde está o interesse do Brasil? Falta estratégia, parece política externa adolescente’, critica um diplomata.

“Os ataques liderados pelos EUA na Síria estão longe de ter apoio unânime. No Iraque, é mais fácil justificar, o país pediu a ajuda internacional para conter a expansão dos jihadistas. Na Síria, a intervenção não tem a necessária autorização do Conselho de Segurança, ajuda a eternizar no poder o ditador Bashar al-Assad após patrocinar uma guerra com 200 mil mortos e a chance de a coligação internacional acabar com o Estado Islâmico é quase nula. Faltam botas no chão, dizem os especialistas, papel reservado aos ainda reticentes países árabes vizinhos ou aos rebeldes da área, uma misturada de grupos nada organizados ou treinados. As alianças são frágeis, a piada nos corredores da ONU é que os bombardeiros da Arábia Saudita não dispararam bombas com medo de destruir instalações pagas por eles mesmos.

“Por que o apoio internacional? ‘É a política interna, estúpido…’ A adaptação da célebre frase do assessor de Clinton serve para explicar o apoio do Parlamento à participação britânica nos ataques contra jihadistas no Iraque, um ano após ter rejeitado o pedido de David Cameron de atacar a Síria. ‘Os votos na Câmara dos Comuns têm muito pouco a ver com a política externa’, diz James Strong, da London School of Economics. Os bombardeios dos Rafales da França, restritos ao Iraque, já tiraram do coma político François Hollande — até então com 13% de aprovação — repetindo o fenômeno ocorrido na época da intervenção francesa no Mali, o outro único bom momento do presidente socialista. Nos EUA não é muito diferente: Obama passou três anos resistindo a entrar no conflito na Síria e vendo a aprovação do governo em queda livre, mas às vésperas da eleição legislativa de novembro autorizou os ataques, após alertas de que os candidatos democratas andavam mal. E tem mais, se um milagre acontece e militarmente dá tudo certo, ainda é necessária uma solução política para estabilizar a região, e negociações do gênero não estão no radar.

“Então por que Dilma não tem razão? Chefes de Estado não fazem improvisos em discursos para o mundo — seja no microfone da tribuna ou em entrevistas. A presidente brasileira defendeu negociação com os bárbaros do Estado Islâmico, lamentou a intervenção liderada pelos EUA, tudo isso meia hora antes de mais um vídeo de cabeças cortadas ser divulgado. O ministro das Relações Exteriores traduziu as palavras da presidente: ela se referia a uma negociação com a comunidade internacional mas, não por acaso, esta era a tarefa em curso nos corredores do prédio às margens do Hudson.

“Na entrevista à revista Política Externa, dada em 19 de setembro, Dilma defende uma reaproximação com os EUA e a participação brasileira no Conselho de Segurança, mas em poucas frases na ONU torpedeia a estratégia diplomática desenhada por ela uma semana antes. ‘Como dar um norte à política brasileira se a presidente rouba a bússola?’, desespera-se um itamarateca.

“Dilma não tem críticas à participação do Brasil no mundo durante o seu mandato. ‘Vai ser mais do mesmo. Para os que defendem uma presidente mais engajada na política externa, vai ser um desapontamento’, diz Anthony Pereira, do Instituto Brasil no King’s College, ao ler a entrevista. Dilma, no texto, responde às acusações de ideologização das relações internacionais. Com razão, defende a tese de que a política externa de um país vive a tensão entre os objetivos permanentes de uma política de Estado com as ênfases e as prioridades do governo no poder. O erro é atrapalhar o trabalho de construção da credibilidade do Brasil na cena internacional com palavras fora de ordem, discursos atravessados, posições improvisadas.” (Helena Celestino, O Globo, 28/9/2014.)

* Na ONU, Dilma sacramentou a diplomacia partidária que vem carcomendo a credibilidade brasileira

“O vexame que a presidente Dilma Rousseff fez o País passar perante uma audiência mundial, ao utilizar a tribuna da ONU para fazer campanha eleitoral, não resultou apenas de reles cálculo marqueteiro. É a consequência natural de uma visão distorcida do que vem a ser o interesse nacional, deliberadamente confundido com o interesse do partido ao qual Dilma pertence. Logo, ao defender na ONU as supostas realizações da era lulo-petista, como se elas qualificassem o Brasil no cenário internacional, Dilma sacramentou a diplomacia partidária que vem carcomendo a credibilidade brasileira. Essa crença de que a política externa do País não pode ser ‘apenas uma política de Estado’ foi reafirmada pela presidente, com essas exatas palavras, em entrevista à revista Política Externa, a propósito de seus planos para as relações exteriores, caso seja reeleita.

“Na conversa, Dilma afirmou que ‘aprisionar a política externa em um só modelo’ – isto é, a diplomacia de Estado, e não de partido – ‘denota uma atitude conservadora por parte dos que não querem mudar nada’. Para ela, as estratégias diplomáticas são, ‘antes de tudo’, uma ‘escolha da sociedade, que se faz periodicamente por meio de eleições’. Com isso, a presidente reafirma, com a maior clareza possível, que a política externa legítima é aquela ditada pelo partido vencedor das eleições – e os que a isso se opõem são desde logo ‘conservadores’ que ‘não querem mudar nada’.

“É evidente que o partido legitimado pelas urnas pode e deve implementar seu programa nos diversos aspectos da administração pública, aí incluída a atuação internacional. No entanto, isso é muito diferente de obrigar a diplomacia brasileira a atuar como braço do PT, alinhando o Brasil a países párias e a ditaduras, somente porque estes compartilham da ideologia companheira, e amarrando o País a compromissos que o impedem de fazer acordos comerciais que o tornariam mais competitivo no mercado internacional. A julgar pelo entusiasmo com que Dilma defendeu esse modelo na entrevista, no entanto, pode-se esperar que ele seja até mesmo aprofundado no eventual segundo mandato.

“Indiferente à realidade, em autêntico estado de negação, Dilma disse que as ‘novas prioridades da política externa brasileira produziram resultados extraordinários’ – orgulhando-se do desastroso desempenho comercial de seu mandato, que recentemente obrigou o governo a incluir a exportação fictícia de plataformas de petróleo para ajudar a conta a fechar no azul. Na construção da triunfante narrativa petista, Dilma diz que essa performance ‘extraordinária’ não se deve apenas à demanda internacional por commodities, ‘mas fundamentalmente porque o Brasil, com sua nova política externa, adaptou-se bem às profundas mudanças que ocorreram, e ainda ocorrem, na geoeconomia e na geopolítica mundiais’.

“Tal ‘adaptação’ resumiu-se ao aprofundamento das chamadas relações ‘Sul-Sul’ – política que justifica a prioridade dada a parceiros que ou têm pouca relevância ou demonstram escasso apreço à democracia. Essa estratégia representou ganhos pífios para o Brasil, mas alimentou o discurso petista contra os países ricos. Assim, para Dilma, o ‘resultado mais expressivo’ dessa diplomacia foi o ‘claro e substancial aumento do nosso protagonismo mundial’.

“A despeito dessa megalomania companheira, no entanto, Dilma dá pouca ou nenhuma importância para a diplomacia formal, e o maior exemplo disso é o contínuo sucateamento do Itamaraty. São abundantes as reclamações de diplomatas a respeito das restrições orçamentárias – causadas em parte pelo fracasso da estabanada política de multiplicação de representações diplomáticas promovida pelo governo Lula.

“Além disso, enquanto reivindica para o Brasil um lugar entre os protagonistas globais, Dilma descuida dos rituais mais elementares das relações internacionais. Só isso explica o chá de cadeira que a presidente está dando a 28 embaixadores estrangeiros que estão há meses esperando que ela os receba para lhe apresentar suas credenciais, formalidade necessária para que eles sejam reconhecidos oficialmente como representantes de seus países.” (Editorial, Estadão, 30/9/2014.)

Os escândalos na Petrobrás

* Dilma foi informada em 2009 sobre indícios de irregularidades graves nas obras da refinaria de Pernambuco

Documentos obtidos pelo Globo revelam que a presidente Dilma Rousseff foi informada em 2009 sobre ‘indícios de irregularidades graves’ nas obras da refinaria Abreu e Lima, quando era ministra da Casa Civil. Na época, ela pediu para a Controladoria Geral da União (CGU) apurar o caso, mas o processo acabou arquivado sem punir ninguém.

“A CGU apenas requereu informações da Petrobrás sobre os indícios de superfaturamento apontados em auditorias do Tribunal de Contas da União (TCU) e mandou o processo ao arquivo em janeiro de 2014, sem qualquer avanço. Outro processo havia sido arquivado pela CGU em 2012. Ontem, o Palácio do Planalto afirmou ao GLOBO que a CGU ‘acompanha’ as deliberações do TCU e as providências adotadas pela Petrobrás.

“A CGU deu duas justificativas para arquivar o processo que tem como origem informações levadas a Dilma. A primeira foi o ‘avanço físico’ das obras em Pernambuco, com 80% da refinaria construída até o dia do arquivamento. A outra foi uma nota informativa elaborada pela área técnica da CGU responsável por acompanhar os processos da Petrobrás.

“Na nota, consta a informação de que a CGU tem apenas três servidores — ‘incluindo o chefe de divisão’ — para planejar e executar ações de controle da Petrobrás, da Agência Nacional de Petróleo (ANP) e da Secretaria de Petróleo do Ministério de Minas e Energia. Por isso, auditorias em obras como Abreu e Lima não recebem prioridade, diz a área técnica. O documento foi elaborado em 7 de janeiro de 2014. O arquivamento do processo ocorreu dois dias depois.

“Em campanha pela reeleição, Dilma adotou o discurso de que precisa ter acesso às denúncias do ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa, preso no Paraná, para adotar medidas administrativas. Também costuma exaltar o trabalho da CGU, que passa por uma crise de desinvestimento e falta de pessoal, exposta pelo próprio ministro, Jorge Hage. O esquema de Costa passava por contratos de Abreu e Lima. Quando teve a oportunidade de investigar, o governo de Dilma em nada avançou.

“A suspeita de irregularidades graves informada à então ministra se referiam a um dos primeiros apontamentos feitos pelo TCU, ainda na fase de terraplanagem. O consórcio de empreiteiras responsável teria se beneficiado de um superfaturamento de R$ 59 milhões, segundo auditoria.

“O TCU enviou ofícios tanto para o presidente da Comissão de Infra-estrutura do Senado, senador Fernando Collor (PTB-AL), quanto para a ministra Dilma, em julho de 2009. Em agosto do mesmo ano, Collor enviou ofício a Dilma sobre o tema. No mês seguinte, a Casa Civil repassou o caso à CGU para a abertura de processo. O arquivamento ocorreu em janeiro de 2014. Com a polêmica sobre o voto favorável de Dilma à compra da refinaria de Pasadena, no Texas, e novas denúncias contra a estatal, a CGU desarquivou o caso em 15 de maio. Não se sabe qual encaminhamento foi dado desde então.

“Outro processo sobre a refinaria teve tramitação semelhante na CGU. Em 2010, o então presidente da Comissão Mista de Orçamento, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), repassou ao governo informações sobre irregularidades apontadas pelo TCU. Dois anos depois, foi tudo ao arquivo. Assim como no outro caso, em maio último o processo foi desarquivado.

“O órgão de controle da Presidência tem demorado a levar adiante investigações. No caso de Pasadena, a CGU abriu investigação em dezembro de 2012. Trocou correspondências com a Petrobrás por seis meses, e o processo ficou parado até abril de 2014, quando foi apensado a um novo.

“O Palácio do Planalto afirmou que a CGU tem investigações em andamento sobre a Petrobrás. Em relação à refinaria de Pasadena, diz que o relatório está ‘em conclusão’ e poderá resultar ‘na apuração de responsabilidades de agentes públicos e empresas’. Sobre Abreu e Lima, afirmou apenas que a CGU ‘acompanha as deliberações do TCU em relação às obras e as providências adotadas pela Petrobrás’. O Planalto destacou que há investigações em andamento sobre a atuação da Petrobrás em ‘diversas frentes’.

“Em nota, a CGU informou que os processos que instaurou em 2009, 2012 e 2013 não eram auditorias. Os processos, segundo a CGU, foram abertos apenas para monitorar o atendimento pela Petrobrás do que fora determinado pelo TCU.

“‘Em razão da elaboração de novos acórdãos do tribunal em 2013, a CGU arquivou os processos de monitoramento anteriores (por estarem desatualizados) e autuou novos processos, incorporando o diagnóstico atualizado do TCU. Assim, não houve prejuízo para o trabalho de monitoramento feito pela CGU ou perda de continuidade no objeto pretendido’, diz a nota.” (Vinícius Sassine, Eduardo Bresciani e Luíza Damé, O Globo, 26/9/2014.)

* Ex-diretor diz ter recebido US$ 23 milhões de empreiteira para facilitar contratos com a Petrobrás

“Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás, disse ter recebido US$ 23 milhões (R$ 55,2 milhões) de uma empreiteira para facilitar contratos dessa empresa com a estatal. O ex-diretor deu a informação num dos cem depoimentos que já prestou depois de assinar o acordo de delação premiada, revelou ao Globo um dos investigadores da Operação Lava-Jato. O ex-diretor também confessou ter recebido US$ 1,5 milhão (R$ 3,6 milhões) para ‘não atrapalhar’ a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, transação que resultou em prejuízos para a Petrobrás.

“Os US$ 23 milhões estão bloqueados em 12 contas bancárias na Suíça e deverão ser repatriados ao Brasil ao longo dos processos abertos a partir de descobertas da Lava-Jato, investigação sobre supostas fraudes dos grupos de Costa e do doleiro Alberto Youssef, entre outros acusados. Costa contou ainda que a comissão de US$ 1,5 milhão que recebeu por conta da refinaria Pasadena foi paga por um intermediário de um dos grupos envolvidos no negócio. O nome de quem pagou a propina está sendo mantido em sigilo.

“A série de depoimentos de Costa começou em 29 de agosto e terminou semana passada. Ao todo, o ex-diretor prestou cem depoimentos a procuradores da força-tarefa que estão à frente das investigações. Depois de fazer um amplo painel sobre a corrupção na Petrobrás, Costa foi chamado para explicar detalhes de cada uma das delações que fez em troca de redução de pena. Os depoimentos foram criptografados e enviados ao ministro Teori Zavascki, relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal. Na próxima semana, o ministro deverá decidir se abre ou não inquérito contra os parlamentares acusados pelo ex-diretor.

“Costa denunciou a empreiteira ao explicar o papel que teve na intermediação de contratos dela com a Petrobrás. Ele apontou os contratos onde teriam ocorrido as irregularidades e indicou como recebeu os US$ 23 milhões.

“Costa revelou um detalhe que deixou os procuradores surpresos. Ele disse que recebeu os US$ 23 milhões sem a habitual ajuda do doleiro Alberto Youssef. Teria sido uma ‘comissão por fora’, sem que o doleiro soubesse. Ele e Youssef operavam juntos. Costa fazia a intermediação de contratos e Youssef se encarregava da movimentação do dinheiro. Mas alguns negócios de Costa eram tocados por duas filhas e dois genros.

“Antes mesmo da prisão de Costa, os investigadores já tinham recebido informações sobre pagamentos da empreiteira ao ex-diretor na estatal.

“Costa decidiu fazer acordo de delação premiada no final de agosto, depois que PF e Ministério Público fecharam o cerco sobre os negócios das filhas e dos genros. Ele teve receio de ver as filhas presas e resolveu abrir o jogo. A confirmação das denúncias poderá livrar Costa de futuras penas de prisão.” (Jailton de Carvalho, O Globo, 26/9/2014.)

* A refinaria em Pernambuco, que começou a ser construída em 2007 para operar a partir de 2011, é um poço sem fundo de lama

“Os políticos andam especialmente nervosos nestes dias – e não é porque está se entrando na reta final da campanha para as eleições de 5 de outubro. A inquietação vem do que e quando o megadoleiro Alberto Youssef contar da história escabrosa do envolvimento de ilustres representantes da elite do poder em falcatruas para ninguém pôr defeito. Preso há seis meses graças à Operação Lava Jato, da Polícia Federal – que apanhou também o ainda mais notório diretor de abastecimento da Petrobrás entre 2004 e 2012, Paulo Roberto Costa -, Youssef é suspeito de ter branqueado algo como R$ 10 bilhões. A dinheirama percorria os conhecidos caminhos dos contratos superfaturados, tráfico de influência, pagamento de propinas e remessas para o exterior. O próprio Costa despachou para a Suíça uma bolada de US$ 23 milhões.

“Imitando o petrocrata, que teria identificado uma trintena de figurões do governo e do Congresso Nacional que se esbaldaram no interminável carnaval de corrupção, o seu amigo e parceiro Youssef também achou que era o caso de fechar um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal no Paraná, onde está detido. Réu em nada menos de nove ações, foi convencido pela família a entregar a clientela não na esperança de ser libertado, o que motivou Costa, mas de não encanecer na cadeia. É o máximo que pode pretender, porque descumpriu a promessa de mudar de vida quando fez um acerto do gênero há 10 anos, no escândalo do Banestado – e isso não ficará de graça. Na quarta-feira, ao se divulgar que ele prestou o primeiro do que decerto será um extenso rol de depoimentos, um surto de tremedeira percorreu gabinetes políticos e escritórios executivos.

“Como se o jogo tivesse sido combinado, nesse mesmo dia o Tribunal de Contas da União (TCU) apresentou as conclusões de uma auditoria em quatro contratos assinados pela Petrobrás com consórcios liderados por gigantes do ramo da construção pesada, como as empreiteiras Camargo Corrêa, OAS e Odebrecht, relativos a obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. A instalação, que começou a ser construída em 2007 para operar a partir de 2011, é um poço sem fundo de lama. O projeto foi um presente que o então presidente Lula pretendeu dar para o caudilho venezuelano Hugo Chávez, que só entrou no negócio com a sua assinatura, ficando tudo mais por conta do Brasil, aos diligentes cuidados de Paulo Roberto Costa. Ainda sem data para ficar pronta, a obra é um portento de dinheiro desviado. Era para custar US$ 2,5 bilhões. Já engoliu US$ 20 bi – e a contagem continua.

“Agora, a mais recente perícia do TCU aumentou em R$ 367 milhões a lambança de gastos superfaturados. Os citados consórcios se beneficiaram, segundo o órgão, de ‘desequilíbrio econômico e financeiro em desfavor da Petrobrás’, do que haveria ‘fortes indícios’, assim como no caso de ‘pagamentos indevidos’ às construtoras. ‘Os pesos adotados na fórmula de reajustes dos contratos’, relatou o ministro José Jorge, ‘não retratariam a variação dos custos de produção decorrente da inflação no período.’ Os reajustes mais gravosos ocorreram no quesito mão de obra, com variações da ordem de 70% a 80%. Daquele total, a estatal já desembolsou R$ 242 milhões. Os R$ 125 milhões restantes seriam pagos até maio do próximo ano. Mas o TCU aprovou uma medida cautelar obrigando a contratante a adotar uma nova tabela de preços para pôr os valores nos seus devidos termos.

“Por dever de ofício e com algum otimismo, o relator disse esperar ‘uma melhoria dos procedimentos internos da Petrobrás relativamente à delimitação das condições de reajustes pactuadas em suas contratações de obras’. O retrospecto dessa dezena de anos em que a maior empresa brasileira foi sendo gradativamente transformada numa extensão do aparato petista de poder desautoriza, porém, prognósticos de purificação cabal dos procedimentos na petroleira. Isso, mesmo tomando pelo valor de face a propalada preocupação com a lisura da atual diretoria executiva, comandada pela presidente Graça Foster. Fica a expectativa de que os efeitos das delações da dupla Costa & Youssef justifiquem o nervosismo de todos quantos empanzinaram o seu patrimônio à custa do País.” (Editorial, Estadão, 26/9/2014.)

* A quadrilha é formada por velhos conhecidos, ladrões e corruptos reincidentes

“A quadrilha que ora está sendo denunciada na Operação Lava Jato, da Polícia Federal (PF), é integrada por gente que participou dos mais importantes escândalos nacionais desde pelo menos 1997, conforme relatou reportagem do Estado. A reincidência desses veteranos mostra que a predação ao erário se tornou para muitos deles um meio de vida – e que eles agiram movidos pela certeza de que a Justiça nunca os puniria para valer.

“O elo entre quase todos os casos é o doleiro Alberto Youssef, principal acusado na Lava Jato. Figura conhecida no mundo dos recentes episódios de corrupção e de desvio de dinheiro público, Youssef enriqueceu ‘sem nunca ter uma atividade lícita’, conforme afirma o Ministério Público Federal. Ele é tido como o coordenador do esquema de lavagem de dinheiro para legalizar recursos obtidos por meio de fraudes e de pagamento de propinas na Petrobrás entre 2009 e 2014. Calcula-se que sua expertise tenha sido usada para branquear algo em torno de R$ 10 bilhões.

“A trajetória de Youssef começou no escândalo do Banestado (Banco do Estado do Paraná), revelado em 2003. Por meio de depósitos de doleiros em contas de laranjas e nas CC5 (contas criadas para facilitar transferências legais para o exterior), o esquema naquele banco público transferia para paraísos fiscais dinheiro oriundo de narcotráfico e de corrupção. O gerente de câmbio que operou os negócios chamou a atenção na época para a ‘permissividade’ do Banco Central, que transformou o Banestado num paraíso de doleiros – entre eles Youssef -, que teriam movimentado R$ 30 bilhões.

“Para não ser condenado à prisão, Youssef fez acordo de delação premiada em 2004, em que admitiu diversos crimes contra o sistema financeiro e os cofres públicos. Mesmo com o compromisso de colaborar com a Justiça e, assim, reduzir a punição, Youssef continuou a atuar. Além de montar uma rede com doleiros, políticos, servidores e empresários para operações de câmbio fraudulentas, suspeita-se que ele tenha tido participação no escândalo do mensalão, por meio da corretora Bônus Banval. Segundo Marcos Valério, pivô do mensalão, o dono da corretora é Enivaldo Quadrado, sócio de Youssef e que também foi preso na Operação Lava Jato.

“A quadrilha que atuou na Petrobrás inclui mais nomes conhecidos de outros escândalos. Um deles é o do doleiro Raul Henrique Srour, que atuou com Youssef no Banestado. Ele é acusado agora de fraudar identidades para realizar operações de câmbio. Srour já havia sido citado pela CPI que investigou o escândalo dos precatórios, em 1997.

“Outra veterana envolvida no caso da Petrobrás é Nelma Kodama, doleira que também é ligada a Youssef. Ela foi investigada na CPI dos Bingos, na CPI dos Correios e na Operação Anaconda, que apurou um esquema de venda de sentenças judiciais.

“A lista da Lava Jato cita ainda Rafael Angulo, que foi condenado por envolvimento em esquema de remessa ilegal de cerca de US$ 700 milhões ao exterior entre 2004 e 2006, na chamada Operação Curaçau. Angulo também trabalhou para Youssef.

“Outros mencionados são os notórios Carlinhos Cachoeira e Pedro Paulo Leoni Ramos. O bicheiro Cachoeira, preso em operação contra o crime organizado em Goiás em 2012 e que tinha extensas ligações com o mundo político, movimentou dinheiro em uma das empresas de fachada de Youssef, conforme a investigação da Lava Jato.

“Já Pedro Paulo Leoni Ramos, o ‘PP’, foi investigado pela PF em inquérito sobre fraudes em fundos de pensão em 2013 e agora é suspeito em razão de suas relações com Youssef. Um cunhado de ‘PP’, Roberto Figueiredo, também está envolvido na Lava Jato – ele já havia sido preso pela PF na Operação Navalha, que desbaratou esquema de corrupção na contratação de obras do PAC, em 2007.

“É provável que a Lava Jato venha a incluir ainda mais nomes conhecidos do submundo das negociatas – gente que não foi punida quando deveria e que, confiante, parece ter se organizado como uma ampla rede dedicada a roubar o quanto puder dos cofres públicos.” (Editorial, Estadão, 29/9/2014.)

* Dilma disse e repetiu que foi ela que demitiu Paulo Roberto Costa. Documento oficial mostra que é mentira

“Documento oficial da Petrobrás põe em xeque o discurso adotado pela presidente Dilma Rousseff, nos últimos dias, sobre as circunstâncias em que o ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa deixou o cargo. Ao declarar que combate os malfeitos, Dilma sustenta que demitiu Costa em 2012. Ata da reunião que escolheu o sucessor de Paulo Roberto Costa na Diretoria de Abastecimento traz, no entanto, uma versão diferente. No documento, os representantes do governo no Conselho de Administração da Petrobrás não só registram que foi o diretor quem renunciou ao cargo como ainda fazem questão de elogiar a atuação de Costa na cúpula da estatal.

“A ata resume a reunião do Conselho de Administração do dia 2 de maio de 2012, presidida pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Registrado na Junta Comercial do Rio no dia 16 do mesmo mês e publicado no Diário Oficial do estado no dia 28, o documento diz que todo o conselho concordou em registrar em ata elogios ao desempenho do mesmo diretor que, agora, a presidente diz ter demitido.

“‘O presidente do Conselho de Administração, Guido Mantega, em face da renúncia do diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, submeteu o nome do senhor José Carlos Cosenza, indicado pela presidente da Petrobrás, Maria das Graças Silva Foster, para substituí-lo’, informa a ata. Aprovado o novo nome para a direção da Petrobrás, a ata registra: ‘Outrossim, determinou o registro dos agradecimentos do colegiado ao diretor que deixa o cargo, pelos relevantes serviços prestados à companhia no desempenho de suas funções’.

“Preso na Operação Lava-Jato, Paulo Roberto Costa fechou um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal, homologado pela Justiça. No acordo, Costa se comprometeu a revelar detalhes sobre esquema de corrupção na Petrobrás. Ele já prestou cerca de cem depoimentos. Não só apontou o envolvimento de empreiteiras como indicou partidos e políticos que eram beneficiados pelo pagamento de propina a partir de contratos com a Petrobrás.

“Num dos depoimentos, como revelou O Globo, o ex-diretor contou que recebeu US$ 23 milhões, em contas na Suíça, de apenas uma empreiteira. O dinheiro era de propinas que ele recebeu sem que o doleiro Alberto Youssef, outro acusado no esquema de corrupção, ficasse sabendo.

“No último domingo, durante o debate na TV Record, para rebater os ataques de Aécio Neves (PSDB) em um pedido de resposta, Dilma declarou que demitira Costa e que, em seu governo, a Polícia Federal fez as investigações que culminaram na prisão dos envolvidos na Operação Lava-Jato. Os adversários não chegaram a questionar a presidente Dilma sobre o fato de que não cabe ao presidente da República nomear ou demitir diretores da Petrobrás.

“ – Na verdade, uma coisa tem que ficar bem clara! Quem demitiu o Paulo Roberto fui eu. E a Polícia Federal, do meu governo, foi quem investigou todos esses malfeitos, esses crimes e ilícitos. Eu sou a única candidata que apresentou propostas concretas de combate à corrupção, principalmente contra a impunidade, como, por exemplo, tornar o crime de caixa dois crime eleitoral – disse Dilma, durante o debate, sem fazer menção aos agradecimentos que o Conselho de Administração fez a Costa.

“Participaram da reunião do Conselho de Administração, além de Mantega, os conselheiros Francisco Roberto de Albuquerque, Jorge Gerdau Johannpeter, Sergio Franklin Quintella, Silvio Sinedino Pinheiro, Josué Christiano Gomes da Silva – candidato ao Senado em Minas Gerais pelo PMDB -, a presidente Graça Foster, e a ministra do Planejamento, Miriam Belchior.

“Nos últimos dias, a presidente Dilma tem atacado a candidata do PSB, Marina Silva, taxando-a de ‘mentirosa’ por ter declarado que votou a favor da aprovação da CPMF. Mostrando checagem feita pelo GLOBO e que desmentem Marina, Dilma tem colado na adversária a pecha de mentirosa. ‘É muito importante que as pessoas assumam o que fazem. Errar é humano, mas mentir é desvio de caráter’, atacou Dilma anteontem.

“Procurada, a coordenação da campanha de Dilma informou que a decisão de demitir Paulo Roberto Costa da direção da Petrobrás foi da presidenta da República, e essa decisão foi comunicada ao diretor pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. A assessoria enviou ao Globo trecho do depoimento de Paulo Roberto Costa à CPI da Petrobrás no Senado.

“Segundo a campanha, o depoimento do ex-diretor confirmaria o que Dilma declarou sobre a demissão. Disse Costa na CPI: ‘O ministro me falou (…) ‘Nós resolvemos que precisamos ter uma nova pessoa na Diretoria de Abastecimento.’ Eu falei: ‘Ministro, sem problema. Não há nenhum problema. Eu entendo isso.’ E o ministro falou (…): ‘Eu gostaria que você fizesse uma carta de demissão.’ Eu disse: ‘Nenhum problema, eu faço.’ (Maria Lima e Eduardo Bresciani, O Globo, 2/10/2014.)

Dilma Rousseff e a corrupção

* “Nunca antes na história deste país se viu tanta corrupção no governo”

“Nunca antes na história deste país se viu tanta corrupção no governo. O mensalão e o mais recente escândalo do desvio de dinheiro da Petrobrás para o bolso de políticos governistas, exemplos mais luzidios do mar de lama em que o Brasil oficial chafurda, dão a medida de até que ponto os 12 anos de governos do PT degradaram a moral pública. Enquanto isso, Dilma Rousseff proclama na ONU e na propaganda eleitoral os ‘valores’ que transformaram o Brasil num mundo encantado, enfatizando ‘o combate sem tréguas à corrupção’, mediante ‘o fim da impunidade com o fortalecimento das instituições que fiscalizam, investigam e punem atos de corrupção, lavagem de dinheiro e outros crimes financeiros’.

“Punir a corrupção? Recorde-se a tentativa do PT de desclassificar como ‘manipulação política’ a condenação, pelo STF, dos dirigentes do partido que urdiram e executaram o até então maior escândalo de corrupção no governo – a compra de apoio de parlamentares para a formação da ‘base aliada’. Os maiorais petistas condenados por uma corte integrada em sua esmagadora maioria por ministros nomeados nos governos de Lula e de Dilma foram transformados pelo lulo-petismo em injustiçados ‘guerreiros do povo brasileiro’.

“Já quanto ao ‘fortalecimento das instituições que fiscalizam, investigam e punem’, trata-se de mentira ainda mais escandalosa, até por ser uma das mais insistentemente repetidas no ininterrupto discurso eleitoral do PT no poder.

“Fiscalizar e investigar? Dilma declarou recentemente o que pensa: não é função da Imprensa investigar o governo, mas apenas divulgar notícias. Em outras palavras, só deve ser divulgada a notícia que chega pronta na mão do jornalista, não importa a credibilidade da fonte, pois, se tentar verificar se a fonte tem credibilidade, o jornalista já estará fazendo o que não pode: investigando. Depois Dilma tentou se explicar, dizendo que não era bem o que todo mundo havia entendido, mas já havia deixado clara uma de suas afinidades com a ditadura cubana e o bolivarianismo chavista.

“No âmbito do poder público, investigação é o trabalho, por exemplo, da Controladoria-Geral da União, da Advocacia-Geral da União e do Ministério Público (MP). As duas primeiras estão vinculadas ao Poder Executivo. Mas o MP é constitucionalmente autônomo, ou seja, uma potencial fonte de aborrecimentos para o Poder Executivo, em particular quando resolve meter o bedelho em malfeitos dos poderosos de turno. Não é por outra razão que têm sido recorrentes no Congresso as tentativas de impor limitações constitucionais à atuação investigativa do Ministério Público.

“Dilma tem repetido que em seu governo a Polícia Federal (PF) tem ampla autonomia para trabalhar. Mais do que isso, que se hoje é aparentemente muito grande o número de casos de corrupção que chegam ao conhecimento público é porque os governos petistas ampliaram os quadros, forneceram equipamentos e garantiram autonomia à PF para cumprir sua missão. Mais uma vez, há confusão.

“De acordo com dados oficiais do Ministério do Planejamento, conforme informou o Estado dias atrás, está havendo uma redução do número de delegados, peritos, escrivães e agentes da Polícia Federal. Segundo a Federação Nacional dos Policiais Federais, há hoje cerca de 4 mil cargos vagos, quando o ideal seria triplicar o número de servidores da PF. O mesmo Ministério do Planejamento informou, depois, que, no mês passado, foram admitidos nos quadros da Polícia Federal 541 servidores – ou seja, pouco mais de 10% dos cargos que estariam vagos.

“Investigação e fiscalização são frequentemente sinônimos. No âmbito do poder público – sem falar do Poder Legislativo, hoje de joelhos diante do Executivo -, o Tribunal de Contas da União (TCU), órgão auxiliar do Congresso Nacional, tem a responsabilidade constitucional de exercer a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da União. Mas durante seus governos Lula deixou bem claro o que pensa do TCU: só serve para criar obstáculos à execução dos projetos e programas oficiais.

“Em resumo: o PT não gosta de ser fiscalizado e, muito menos, investigado. Qual a credibilidade de Dilma Rousseff, portanto, para falar em ‘combate sem tréguas à corrupção’?” (Editorial, Estadão, 28/9/2014.)

* O governo desmoraliza a independência da Polícia Federal e joga a instituição na fogueira eleitoral

“Logo agora que Dilma Rousseff engrenou no discurso incisivo sobre o combate à corrupção, levando ao centro da campanha um assunto evitado até que o ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa inaugurou o que já se configura o início de uma fila para firmar acordos de delação premiada com a Justiça, a própria presidente e seus aliados começam a pôr em dúvida suas palavras.

“Ao menos no que tange à atuação da Polícia Federal, celebrada como independente e apontada por ela como uma das razões pelas quais há tantos escândalos. Sempre que se toca no assunto, Dilma explica: não há mais corrupção, o que há é mais controle. Como se descobre mais, os crimes aparecem mais. Portanto, os instrumentos de fiscalização estão funcionando direito. PF inclusive. Acima de interesses dessa ou daquela natureza.

“Pois na última semana a instituição já foi alvo de suspeita de agir mediante motivação eleitoral por políticos que, embora atuem no campo da presidente, não compartilham da opinião dela sobre a conduta republicana da PF nem ela parece acreditar nas próprias palavras.

“Por ordem de importância dos porta-vozes, comecemos pelo ex-presidente Luiz Inácio da Silva. Na opinião dele, a divulgação do fato de a polícia tentar há sete meses ouvi-lo (como testemunha) sobre a acusação feita pelo operador do mensalão de que teria intermediado um repasse ilegal de R$ 7 milhões da Portugal Telecom para o PT tem objetivo ‘eleitoral’. A informação é da PF que, por deferência, atua com diplomacia tentando por intermédio do advogado Márcio Thomaz Bastos que Lula atenda ao convite.

“Uma ‘pessoa comum’ – para usar expressão do ex-presidente – já teria sido intimada. O uso eleitoral aí não teria razão para entrar no seu radar caso tivesse atendido à solicitação em fevereiro. Lula alega não ter recebido convite. De fato, pois a PF o está tratando com reverência, mas fazendo o seu trabalho. Não recebe, no entanto, a mesma colaboração.

“No segundo caso temos a inusitada reação do vice-presidente da República, Michel Temer e do presidente do Senado, Renan Calheiros, protestando em nota oficial e mobilizando a presidente da República e o ministro da Justiça para que tomem providências contra a equipe da PF em Imperatriz (MA), que ousou averiguar uma denúncia anônima de que haveria transporte de dinheiro irregular no avião do senador e candidato ao governo do Estado, Edison Lobão Filho.

“A alegação foi a de que a operação visava a prejudicar a candidatura. Ocorre que os policiais não encontraram nada de errado e, assim, deram por encerrado o episódio. Não foram negligentes e não prejudicaram ninguém. Ao contrário. Pode-se dizer até que o senador recebeu um bom atestado e a PF fez o seu trabalho. Mas a cúpula do PMDB interveio em prol de tratamento privilegiado.

“O terceiro personagem é o petista Alexandre Padilha, candidato ao governo de São Paulo. A Polícia Federal iniciou uma operação para investigar fraudes em licitação na secretaria especial de saúde indígena, ligada ao Ministério da Saúde. O caso ocorreu quando Padilha era ministro e, embora não esteja entre os investigados, já foi logo tratando de dizer que a investigação só pode ter ‘motivo eleitoral’.

“Em xeque.

“Se as pessoas que estão no governo e conhecem como as coisas funcionam lançam com tanta facilidade suspeitas de que a regra não é a adoção de boas práticas, estão pondo em xeque as garantias que têm dado a presidente ao público e, ao mesmo tempo, levantando desconfiança sobre o trabalho realizado pela Polícia Federal.

“A corporação sabe em que fogueira a jogaram quando o governo diz, para atender aos parceiros, que vai ‘investigar a fundo’ a origem da denúncia anônima, e a PF responde em sóbria nota que é um órgão de Estado que não ‘persegue, não intimida, nem se deixa intimidar’.

“Agora, para agradar ao PMDB, a presidente se contradiz e deixa a Polícia Federal à exposição mais insidiosa do sol e da chuva.” (Dora Kramer, Estadão, 28/9/2014.)

* Na semana em que caciques do PT foram acusados de pedir dinheiro para campanha aos operadores de maracutaias na Petrobrás, Dilma propõe lei contra o caixa 2. Lei contra o caixa 2 existe há 28 anos

“Quarta-feira passada (24/9) em Nova York, a presidente da República usou a Assembléia Geral da ONU para exaltar, entre outras coisas, o ‘combate à corrupção, lavagem de dinheiro e outros crimes financeiros’ no seu governo.

“Nos dias seguintes, a candidata Dilma Rousseff propagou a mais nova promessa do seu sigiloso programa de governo: um ‘pacote’ de medidas anticorrupção, com lei específica ‘para transformar em crime a prática de caixa 2’. No domingo repetiu a oferta, inscrita num caderno a que recorreu durante todo o debate na Rede Record.

“Eleição tem dessas coisas. Candidatos desafiam a imaginação dos eleitores com todo tipo de promessa — de pontes onde não existem rios até ferrovias sem trens. Em maio, por exemplo, Dilma inaugurou trecho da Transnordestina, cujos trilhos continuam sem tráfego ferroviário. A linha havia sido inaugurada duas vezes por Lula na campanha para eleger Dilma em 2010.

“Desta vez, a presidente-candidata inovou. Ao prometer ‘transformar em crime a prática de caixa 2’, anunciou a intenção de fazer algo que existe há mais de 28 anos.

“Está na lei 7.492, entre as definições de crimes contra o sistema financeiro nacional. Em 23 palavras o artigo 11 sentencia de forma cristalina sobre recursos financeiros ‘não contabilizados’, o popular caixa 2: ‘Manter ou movimentar recurso ou valor paralelamente à contabilidade exigida pela legislação: Pena — Reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.’

“O texto pode ser consultado na página da Casa Civil da Presidência (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/l7492.htm). Se Dilma quiser, pode telefonar ao ex-presidente José Sarney, que sancionou a lei na segunda-feira 16 de junho de 1986. Caso persista na dúvida, deveria resgatar o voto da ministra Cármen Lúcia na sessão de terça-feira 9 de outubro de 2012 do Supremo Tribunal Federal.

“Ela julgava caciques do Partido dos Trabalhadores acusados no mensalão. A defesa do tesoureiro do PT Delúbio Soares alegou que o dinheiro era ‘caixa 2, de campanha’. A ministra, que na época também presidia o Tribunal Superior Eleitoral, respondeu incisiva: ‘Me causou especial atenção a circunstância de que a defesa, quer na defesa escrita, quer na apresentação na tribuna desta Casa, afirmou o ilícito. E que o dinheiro arrecadado não tinha sido comprovado (…) Acho estranho e muito, muito grave, que alguém diga, ‘houve caixa 2’. Caixa 2 é crime! É agressão contra sociedade brasileira!’

“O desfecho do caso é conhecido. Não se conhecem as razões pelas quais Dilma decidiu reintroduzir o mensalão e a puída tese do caixa 2 na reta final do primeiro turno.

“Pode ter sido ato impensado no calor da peleja por uma nobre causa — autopreservação. Afinal, há 28 semanas seguidas seu governo vive sobressaltado por revelações sobre traficâncias na Petrobrás, estatal que ela tentou controlar nos últimos 12 anos.

“Ainda assim, é difícil compreender a essência da evocação do crime de caixa 2. Sobretudo, pela ocasião: Dilma se propôs a fazer uma lei que existe há mais de 28 anos na mesma semana em que caciques do PT foram acusados de pedir dinheiro para sua campanha presidencial (2010) aos operadores de maracutaias petroleiras.

“Só pode ser mera coincidência.” (José Casado, O Globo, 30/9/2014.)

* “Novas” propostas de Dilma contra a corrupção já tramitam no Congresso, sem que o governo tenha movido uma palha para aprová-las

Na defensiva por conta das denúncias de corrupção que envolvem a Petrobrás, a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição pelo PT, lançou na semana passada um pacote com cinco iniciativas contra a impunidade em que ao menos três delas correspondem, integral ou parcialmente, a propostas que já tramitam no Congresso Nacional. E, em nenhum momento, a petista se empenhou para aprová-las por meio de seus aliados no Parlamento.

“A primeira delas é a que modifica a Lei das Eleições para, segundo Dilma, tornar crime a prática de caixa dois. Atualmente, a conduta é punível apenas com a desaprovação das contas do partido ou candidato e, em caso de comprovado abuso de poder econômico, pode levar ao cancelamento do registro da candidatura ou à cassação do diploma do eleito.

“O atual primeiro-vice-presidente do Senado, o petista Jorge Viana (AC), apresentou, em julho do ano passado, logo após o início das manifestações de rua que tomaram conta do País, uma proposta que torna crime, punível com pena de cinco a dez anos de prisão, usar recursos em campanha fora da contabilidade formal.

“O texto foi remetido para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, mas ainda não teve sequer um relator indicado para analisar o mérito da matéria. Se aprovada na comissão, poderia seguir diretamente para a Câmara, caso não houvesse recurso de senadores para levá-la ao plenário da Casa.

“Uma segunda proposta anunciada por Dilma prevê punir com rigor agentes públicos que apresentem enriquecimento sem justificativa ou que não consigam comprovar a origem dos ganhos patrimoniais.

“Um projeto com esse mesmo teor foi apresentado, no dia 31 de outubro de 2007, na Câmara pelo deputado petista Praciano (AM). A proposta de Praciano prevê pena de prisão de cinco a 12 anos para este crime, mais pagamento de multa. A pessoa que contribuir para a prática do crime também pode incorrer na mesma pena.

“A presidente também propôs a criação de uma nova estrutura do Judiciário, a fim de aperfeiçoar o julgamento de autoridades que detenham foro privilegiado. Uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), apresentada em novembro de 2011 pelo deputado Ronaldo Fonseca (PR-DF), integrante da base aliada, se assemelha à sugestão feita por Dilma. A PEC, que está parada na CCJ da Câmara, estabelece preferência para julgamento de crimes que tramitam em regime de foro privilegiado.

“As outras duas propostas de Dilma não têm projetos em tramitação, o que significa que ela terá de encaminhar, caso reeleita, os textos para o Congresso Nacional: a de criação de um novo tipo de ação judicial – a ação civil pública de extinção de domínio – que permita declarar a perda de propriedade ou bens fruto de atividade ilícita e outra iniciativa que altera a legislação processual para acelerar o julgamento de processos judiciais que digam respeito a desvio de recursos públicos.

“Mesmo sendo um dos temas mais discutidos durante a campanha, Dilma foi, até agora, a única candidata entre os principais presidenciáveis a apresentar propostas para aumentar o rigor e a eficácia no combate à corrupção. Até o momento, tanto a candidata do PSB, Marina Silva, quanto o tucano Aécio Neves somente abordaram o assunto criticando denúncias de irregularidades durante o mandato da petista.” (Ricardo Brito, Estadão, 2/10/2014.)

As contas públicas desarranjadas

* Relatório do governo omite R$ 2,4 bilhões em previsões de gastos este ano

“O relatório do quarto bimestre — no qual o governo informa os ajustes que fará nas contas públicas até o fim do ano para garantir a realização do superávit fiscal primário (economia para o pagamento de juros da dívida pública) — omite pelo menos R$ 2,4 bilhões em despesas que precisam ser pagas este ano, segundo análise de técnicos da Consultoria de Orçamento da Câmara. Além disso, o relatório subestima o déficit da Previdência Social, como informou o Globo esta semana.

“A avaliação de receitas e despesas da União no relatório, na visão desses técnicos, é uma verdadeira peça de ficção. Nos gastos ‘esquecidos’, eles apontam R$ 1,9 bilhão relativo ao repasse que a União faz aos estados como compensação da Lei Kandir, que isenta de ICMS as exportações de produtos primário e semi-industrializados. Já outros R$ 500 milhões são parte do pagamento que o Tesouro Nacional deveria fazer ao FGTS pelo recolhimento da multa de 10% que é paga pelas empresas em casos de demissão sem justa causa.

“Segundo os técnicos, a equipe econômica adiou de 2013 para 2014 uma parte dos R$ 3,9 bilhões que são pagos anualmente pela Lei Kandir. No ano passado, só foram ressarcidos R$ 2 bilhões. No entanto, a proposta orçamentária deste ano só prevê o pagamento dos R$ 3,9 bilhões do ano de 2014.

“— O total de R$ 1,9 bilhão que restou de 2013 não está na projeção. Isso significa que a despesa deste ano será maior ou que o governo vai novamente adiar parte do pagamento para 2015 — explicou um integrante da consultoria.

“Quanto ao FGTS, o Tesouro fez um acordo com o Conselho Curador do Fundo para pagar valores referentes à multa de 10% que estavam atrasados. O total acertado para 2014 era de R$ 900 milhões, mas o Orçamento só prevê R$ 400 milhões.

“Outro problema, apontam os técnicos, está nas despesas com abono e seguro-desemprego, projetadas em R$ 43 bilhões para 2014. Ele lembram que, no ano passado, esse gasto somou R$ 44 bilhões.

“— Se houve aumento do salário mínimo este ano, como é que o governo vai gastar menos em 2014? Isso é muito difícil — questionou o técnico.

“Algo semelhante ocorre com a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), cujas despesas previstas para o ano foram reduzidas em R$ 4 bilhões, de R$ 13 bilhões para R$ 9 bilhões, no relatório bimestral. Os técnicos destacam que os desembolsos com a CDE, que subsidia a desoneração das contas de luz e o uso de energia térmica no país, devem atingir R$ 9 bilhões antes do fim do ano, mas o quadro do setor elétrico continua difícil em função da falta de chuvas. Por isso, é pouco provável que a despesa com esse subsídio se limite a R$ 9 bilhões.

“Também há problemas na estimativa de receitas, pois algumas dificilmente devem se confirmar. Um exemplo está na rubrica operações com ativos (que inclui a venda de imóveis da União), estimada em R$ 3,2 bilhões. Essas operações entram na projeção de arrecadação desde 2005, mas só rendem valores residuais.

“Os especialistas apontam ainda uma superestimativa nas receitas com royalties do petróleo. Isso porque, segundo levantamento feito junto ao Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), a arrecadação com royalties e compensações financeiras até agosto foi de R$ 27,8 bilhões, sendo que a estimativa do governo é de que esse número chegue a R$ 47,9 bilhões até o fim do ano.

“- Teria que conseguir arrecadar R$ 20 bilhões em quatro meses. O calendário de pagamento de royalties muda pouco ao longo do ano. É pouco provável que se consiga isso. Essa arrecadação está superestimada em cerca de R$ 5 bilhões — disse o integrante da consultoria da Câmara.

“O governo vem enfrentando dificuldades para fechar as contas devido ao fraco desempenho da economia, o que prejudicou a arrecadação. Ao mesmo tempo, as despesas estão elevadas e o governo evita fazer cortes, especialmente em 2014, que é um ano eleitoral. O compromisso da equipe econômica é realizar um superávit primário de R$ 99 bilhões, ou 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país). No entanto, até julho essa poupança está em apenas R$ 24,7 bilhões. O Tesouro foi procurado para comentar o assunto, mas não se manifestou.” (Martha Beck, O Globo, 27/9/2014.)

* “Lula e Dilma criaram 15 ministérios – caros e inúteis – simplesmente para abrigar a enorme base aliada sequiosa por manipular verbas públicas em favor de seus partidos”

“A presidente Dilma Rousseff assumiu o compromisso de economizar R$ 80,8 bilhões este ano para pagar juros e amortizar a dívida pública, cujo valor já ascende a R$ 2,169 trilhões. Até julho, seu governo economizou só R$ 15,2 bilhões e precisa reter R$ 65,6 bilhões nos próximos cinco meses para cumprir o compromisso. Parodiando Dilma, “nem que a vaca tussa” será possível alcançar essa meta, que ela própria definiu por determinação legal. Se a média mensal até agora ficou em R$ 2,2 bilhões, economizar até dezembro R$ 13,1 bilhões a cada mês, só mesmo com poderes mágicos ou milagrosos que a presidente não tem (se tivesse, gastaria todos para derrotar adversários nesta eleição).

“E aí? O que faz a equipe do demitido ministro da Fazenda para fechar as contas? Busca desesperadamente paliativos: reduziu em R$ 4 bilhões a verba destinada a subsidiar a tarifa das distribuidoras de energia; perdoa juros e multa para estimular empresas a pagarem dívidas tributárias vencidas (o chamado Refis); cruza os dedos e torce por uma receita gorda no leilão de telefonia móvel com tecnologia 4G; e planeja sacar R$ 3,5 bilhões do Fundo Soberano, zerando seu saldo. Além de cortar investimentos aqui e ali, desacelerando programas sociais como o Minha Casa, Minha Vida. Os gastos cotidianos da gigante máquina pública, que poderiam ser evitados com uma boa reforma administrativa, foram preservados, ou melhor, até aumentaram neste ano eleitoral.

“Nos quatro anos de Dilma, a lengalenga do superávit primário se repete. Para impressionar investidores, o governo começa o ano fixando metas fiscais que (sabe) não vai conseguir entregar e termina o ano tirando do baú remendos e artifícios mirabolantes e desacreditados para fechar as contas. De tanto abusar, o truque caiu em descrédito e o descrente investidor privado parou de investir. Diante do fiasco do resultado de 2013 (mesmo com truques, o superávit ficou em 1,9% do PIB, abaixo da meta de 2,3%), Dilma convocou sua equipe e ordenou: em 2014 a meta fiscal será a possível, e nada de truques para engordá-la.

“A meta baixou para 1,9% do PIB, mas não evitou a continuidade da farsa. Faltando três meses para acabar o ano, mais uma vez o governo busca desesperadamente uma forma de conseguir dinheiro para fechar as contas. Só que o arsenal de manobras esgotou, murchou e secou. A ausência da Oi no leilão da telefonia celular 4G, nesta terça-feira, pode reduzir em R$ 3 bilhões os R$ 8 bilhões que o governo contava arrecadar para reforçar o superávit. Os R$ 3,5 bilhões do Fundo Soberano estão aplicados em ações do Banco do Brasil e a transferência para ajudar na meta fiscal exigiria uma contorcionista manobra contábil, já usada nos últimos dias de 2012, sem nenhuma transparência, e que causou críticas virulentas e enorme estrago à imagem do governo. Se repetida agora, o tiro pode sair pela culatra.

“O Orçamento da União não é elástico. Além de rubricas fixas e permanentes (Previdência, saúde, educação e outras) que o engessam, a expansão da receita tributária depende do crescimento da economia, que no governo Dilma foi medíocre. A saída seria economizar na parcela flexível do Orçamento, mas nestes quatro anos ocorreu justamente o contrário: os gastos correntes cresceram acima da inflação. E por quê?

“Além da corrupção e do desperdício de dinheiro, há uma causa estrutural na expansão dos gastos públicos que candidatos preocupados com a população pobre (como todos se dizem) deveriam atacar com urgência: o tamanho gigante da máquina pública e seus 39 ministérios, por onde escorrem negócios suspeitos para favorecer partidos políticos, ineficiência e condenável multiplicação da burocracia. FHC deixou 24 ministérios, Lula e Dilma criaram mais 15 – caros e inúteis – simplesmente para abrigar a enorme base aliada sequiosa por manipular verbas públicas em favor de seus partidos. Governar com 15 ministérios é o quanto basta para tornar o Estado eficiente, sobrar dinheiro para a área social e expandir a rede de esgoto e água limpa.

“Dilma já disse que vai manter os 39. Só não explicou por quê.” (Suely Caldas, Estadão, 28/9/2014.)

* Contas públicas têm déficit recorde de R$ 14,5 bilhões, no pior mês de agosto desde 2001

“Com a divulgação das contas do setor público consolidado (governo central, Estados, municípios e estatais, com exceção da Petrobrás e Eletrobrás) em agosto, o governo bateu vários recordes negativos. Segundo o Banco Central, em agosto houve déficit primário de R$ 14,460 bilhões, o maior saldo negativo desde dezembro de 2008, quando ficou negativo em R$ 20,951 bilhões, e também o desempenho mais fraco para o mês da série histórica, iniciada em dezembro de 2001. Esta também é a primeira vez que o BC registra déficit no resultado do setor público por quatro meses consecutivos.

“O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Tulio Maciel, destacou que o superávit primário de R$ 10,2 bilhões no acumulado dos oito primeiros meses do ano foi o pior da série – o esforço fiscal do setor público caiu 81,11% no acumulado do ano. No mesmo período do ano passado, o superávit primário estava maior, em R$ 54,013 bilhões ou 1,71% do PIB. O resultado verificado este ano até agora é o pior desde 2002. A série histórica do BC para esse indicador teve início em dezembro de 2001.

“O esforço fiscal no acumulado deste ano foi feito com a ajuda de um superávit de R$ 1,524 bilhões do Governo Central (0,05% do PIB). Os governos regionais (Estados e municípios) apresentaram um saldo positivo de R$9,121 bilhões (0,27% do PIB). Enquanto os Estados registraram superávit de R$ 5,286 bilhões, os municípios alcançaram um resultado positivo de R$ 3,835 bilhões. As empresas estatais registraram um déficit de R$ 440 milhões entre janeiro e agosto deste ano (0,01% do PIB).

“Em 12 meses, as contas do setor público consolidado acumulam um superávit primário de R$ 47,498 bilhões até agosto, o equivalente a 0,94% do Produto Interno Bruto (PIB). Maciel disse que o resultado é o pior para o período como proporção do PIB. Segundo os dados do BC, o indicador recuou de 1,23% em julho para 0,94% no mês passado, na quarta queda consecutiva dessa proporção. O superávit em 12 meses está abaixo da meta de 1,9% do PIB definida pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega.

“Nesta segunda-feira (29/9), o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton, reconheceu que há o risco de a política fiscal se tornar expansionista este ano, apesar de ter mantido no Relatório Trimestral de Inflação que as projeções de inflação contemplam um cenário de neutralidade. ‘O que estou reconhecendo é que nós trabalhamos com a hipótese de neutralidade para a política fiscal este ano. Estou afirmando que as evidências apontam que essa hipótese não se confirmará’, argumentou ontem (30/9).

“Em julho, o resultado havia sido negativo em R$ 4,715 bilhões. Em agosto do ano passado, houve déficit de R$ 432 milhões. O resultado primário consolidado de agosto ficou pior do que as estimativas dos analistas do mercado financeiro ouvidos pela Agência Estado, que iam de um déficit de R$ 12,4 bilhões a um superávit de R$ 4 bilhões, com mediana negativa de R$ 5 bilhões.

“O setor público consolidado gastou R$ 17,016 bilhões com pagamento de juros em agosto. Houve redução em relação ao gasto de R$ 27,996 bilhões registrado em julho deste ano e também ante os R$ 21,871 bilhões vistos em agosto do ano passado.

“Maciel observou que apesar do déficit primário alto, os dados fiscais também têm notícias boas. As despesas com juros, segundo ele, tiveram redução significativa. Como proporção do PIB, a despesa de juros no ano atingiu 4,93% do PIB, o melhor desde julho de 2013.

“O Governo Central (Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central) teve no mês passado um gasto com juros de R$ 16,581 bilhões. Já os governos regionais registraram despesa com esta conta de R$ 150 milhões, e as empresas estatais tiveram gastos de R$ 286 milhões.

“No acumulado dos oito primeiros meses do ano, o gasto com juros do setor público consolidado somou R$ 165,259 bilhões, o equivalente a 4,93% do Produto Interno Bruto (PIB). No mesmo período do ano passado, o gasto com juros foi de R$ 163,358 bilhões ou 5,18% do PIB. Já nos últimos 12 meses encerrados em agosto, a despesa chegou a R$ 250,757 bilhões ou 4,97% do PIB.” (Célia Froufe e Victor Martins, Estadão, 1º/10/2014.)

* “O pior de tudo é essa atitude negadora do governo federal de repetir que está tudo bem, que a meta fiscal acabará sendo cumprida”

“A forte deterioração das contas públicas ainda não é um desastre porque, afinal, o balanço mostra um superávit, no período de 12 meses terminado em agosto, de 0,94% do PIB. Mas alguém despencou do 12.º andar, está à altura do 5.º e diz que o ventinho na cara é refrescante.

“Afinal, o pior de tudo é essa atitude negadora do governo federal de repetir que está tudo bem, que a meta fiscal acabará sendo cumprida, que são os pessimistas que estão vendo coisas ou, então, que a quebra da confiança é fenômeno apenas eleitoral.

“Difícil saber se é técnica de negação, se é autoengano ou as duas coisas juntas. De todo modo, já se sabe que não dá para levar a sério declarações assim do governo. Pois, na segunda-feira, o ministro da Fazenda não atribuiu a ações do exterior o tombo de 11% nas ações preferenciais da Petrobrás?

“Tudo se passa como se o governo Dilma já tivesse desistido de cumprir qualquer promessa. Só pensa na consagração das eleições, que se encarregaria da redenção final, na base do ‘lavô tá novo’, como diz o dito popular.

“O Banco Central tem repetido que interessa apenas o superávit estrutural, conceito só usado nos seus documentos oficiais. Os resultados mostram que a deterioração crescente das contas públicas está ficando estrutural, porque já não pode ser revertida à base de truques.

“O secretário do Tesouro, Arno Augustin, que se notabilizou pelo emprego das técnicas de contabilidade criativa, segue garantindo um final feliz: ‘Mantemos a meta porque há muitos eventos que ocorrerão nesses meses’. Enfim, é ter paciência e esperar.

“As evidências apontam para o contrário. Não há nenhuma indicação de que a atividade econômica esteja preparando reação vigorosa. Sem avanço do PIB, a arrecadação deve continuar fraquejando. As receitas especiais continuam se frustrando. O leilão de telefonia 4G, por exemplo, realizado ontem, do qual o governo esperava uma receita de R$ 8 bilhões, só rendeu R$ 4,9 bilhões.

“Em todos esses meses, a programação do Refis (pagamento de impostos atrasados da Receita Federal) também vai ficando aquém das metas. Em agosto, não passou dos R$ 7 bilhões, cerca de R$ 3 bilhões abaixo do programado. E nada altera o determinismo aritmético para um resultado positivo. Nos oito primeiros meses do ano, as receitas do governo central cresceram 7,4% e as despesas, 12,6%, em relação ao mesmo período de 2013.

“No mais, continuam acontecendo coisas estranhas. Só em agosto, as despesas com seguro-desemprego e abono salarial atingiram R$ 9,7 bilhões, numa conjuntura de pleno-emprego. É uma rubrica que cresce a uma velocidade de 115%.

“Como ainda ontem (30/9) afirmou o vice-presidente da Moody’s, uma das três mais importantes agências de avaliação de risco de títulos, ‘é clara a deterioração da dívida pública brasileira’. E, por falar em agências de avaliação de risco, aumenta a probabilidade de que a dívida brasileira seja rebaixada.

“Vai ficando claro que não basta sentar sobre o cofre e adiar o pagamento de contas (pedaladas). Dada a relação entre receitas e despesas acima apontada e diante da falta de reação do governo, não há reversão à vista.” (Celso Ming, Estadão, 1º/10/2014.)

* “O malandro Zé Carioca talvez pudesse viver de expedientes e de criatividade. Tesouros nacionais dependem de políticas mais sérias”

“O rombo das contas públicas aumentou de novo em agosto, com a gastança ainda em crescimento e a receita prejudicada pela distribuição de benefícios fiscais mal planejados. O déficit geral do setor público, em todos os níveis de governo, chegou a R$ 155,05 bilhões no ano, sugando o equivalente a 4,62% do Produto Interno Bruto (PIB). Em 12 meses, o buraco chegou a R$ 203,26 bilhões, ou 4,03% do PIB. Nos dois períodos, o resultado foi pior que o da maior parte dos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), embora a presidente Dilma Rousseff e seu ministro da Fazenda, Guido Mantega, insistam em proclamar o Brasil como exemplo de boa gestão das finanças governamentais.

“Depois dos números muito ruins de agosto, o governo terá enorme dificuldade para alcançar a meta fiscal definida para o ano. A promessa, ainda mantida, é alcançar um superávit primário de R$ 99 bilhões para todo o setor público – União, Estados, municípios e estatais. Segundo o plano, o governo central deverá contribuir com um resultado primário de R$ 80,8 bilhões. O superávit primário é o dinheiro separado para o pagamento dos juros da dívida.

“Em agosto, pelo quarto mês consecutivo, o governo central foi incapaz até de salvar esse dinheiro. Segundo o Ministério da Fazenda, a administração central – Tesouro, Previdência e BC – fechou o mês com um déficit primário de R$ 10,42 bilhões, o pior resultado para agosto em 18 anos. No cálculo do BC, o resultado é pior – um buraco de R$ 11,95 bilhões. A diferença é de método. Nesta segunda conta, o saldo primário corresponde à necessidade de financiamento.

“O relatório do governo central, preparado pelo Tesouro, dá uma idéia clara do desastre fiscal de 2014. De janeiro a agosto foi acumulado um superávit primário de apenas R$ 4,67 bilhões, valor correspondente a apenas 0,14% do PIB estimado para o período. Falta, portanto, conseguir em quatro meses um resultado positivo de R$ 76,13 bilhões para alcançar a meta de R$ 80,8 bilhões fixada para o governo central. Segundo o secretário do Tesouro, Arno Augustin, esse resultado ainda é possível. Desde o meio do ano ele vem prometendo saldos melhores nos meses seguintes.

“Mesmo o pífio resultado conseguido até agosto só foi obtido graças a receitas especiais. Em oito meses, o Tesouro contabilizou dividendos de R$ 15,89 bilhões pagos por estatais. Bônus de concessões totalizaram R$ 2,73 bilhões. Em agosto, entraram R$ 7,1 bilhões de pagamentos do novo Refis, o programa de parcelamento de dividas tributárias. Essas doses de anabolizantes foram insuficientes para compensar os grandes problemas do ano – gasto excessivo e receita prejudicada pela crise e pelas desonerações. Por isso, o superávit primário acumulado em oito meses foi 87,8% menor que o contabilizado um ano antes.

“De janeiro a agosto, o governo central obteve receita líquida de R$ 661,75 bilhões, 6,4% maior que a de igual período de 2013, em termos nominais. Mas a despesa total, de R$ 657,08 bilhões, foi 12,6% superior. De um ano para outro, a diferença entre os valores gastos foi quase o dobro do aumento da arrecadação. O Tesouro ainda teve um resultado primário de R$ 38,72 bilhões, 48,2% menor que o de 2013, mas positivo. Esse valor foi quase anulado pelo déficit da Previdência, de R$ 34,02 bilhões. Os gastos com pessoal cresceram 6,9%; os desembolsos do FAT, 12,8% e as despesas de capital, 27,4%, em ritmo ainda insuficiente para compensar os atrasos nos programas federais de investimento.

“Com a economia ainda muito fraca, o governo dependerá de receitas especiais. Mas até esse tipo de arrecadação poderá decepcionar. Em agosto, os pagamentos do Refis foram muito inferiores à soma esperada. O governo apostava em algo na faixa de R$ 13 bilhões a R$ 14 bilhões. O leilão de telefonia 4G, ontem (30/9), rendeu R$ 4,98 bilhões ao Tesouro. Um dia antes ainda se falava em R$ 8,2 bilhões. O malandro Zé Carioca talvez pudesse viver de expedientes e de criatividade. Tesouros nacionais dependem de políticas mais sérias.” (Editorial, Estadão, 1º/10/2014.)

* O resultado desastroso de agosto mostra que acendeu a luz vermelha nas contas públicas

“Difícil atravessar o mar vermelho das contas públicas sem que isso tenha consequências na economia. Tudo é inédito: o maior déficit primário, o quarto déficit consecutivo, o menor superávit primário acumulado no ano. Não há como esconder, não há truques possíveis: o Brasil está vivendo o seu pior momento de deterioração fiscal desde que começou a atual série de dados do Banco Central.

“O país já tinha se acostumado com a queda do superávit primário e o não cumprimento da meta este ano. O objetivo fiscal vem sendo reduzido nos últimos anos. E, mesmo assim, só tem sido atingido com os conhecidos truques, alquimias e pedaladas. Ontem ficou claro que acabou a mágica. Os efeitos especiais não escondem mais o tamanho da encrenca fiscal.

“Os sinais de piora são preocupantes, mas o debate político se passa como se a grande questão fosse saber se a candidata Marina Silva votou ou não na CPMF. Ora, quem não foi contraditório em relação à CPMF que atire a primeira pedra. O PT votou contra e quando chegou ao poder lutou para mantê-la; o PSDB criou o imposto e foi ele mesmo que o derrubou, quando virou oposição.

“A questão realmente séria é outra. A presidente Dilma, candidata líder das pesquisas, afirmou que o país não precisa de ajuste fiscal e dias depois o Banco Central divulga que em agosto houve déficit primário — ou seja, sem contar as despesas com juros da dívida — de R$ 14,5 bilhões. E este é o quarto resultado negativo. O governo, que se comprometeu a economizar R$ 99 bilhões, só conseguiu economizar 10% disso em oito meses. Foram R$ 10 bilhões, mas com a ajuda de R$ 5,4 bilhões de dividendos e R$ 7,1 bilhões de Refis, que são receitas extraordinárias. Sem esses recursos haveria déficit no ano. O resultado que o próprio governo anunciou como meta não será atingido e desta vez não há mágica que melhore o número.

“O leilão de telefonia para a banda 4G foi feito em um mau momento para o setor, quando duas operadoras — Oi e Nextel — se viram impossibilitadas de oferecer lances. Com isso, a concorrência foi menor e o governo arrecadou apenas R$ 5,8 bilhões, abaixo da meta esperada, de R$ 8,2 bi.

“Alguns economistas já fazem outras contas em que retiram as receitas extraordinárias para se saber o resultado primário efetivo. Só o fato de fazerem isso já demonstra a perda de credibilidade dos dados fiscais do Ministério da Fazenda. Pelos cálculos da Rosenberg Associados, o superávit primário descontado de receitas extraordinárias é de apenas 0,07% do PIB nos últimos 12 meses até agosto. A consultoria calcula que, de janeiro a agosto, as receitas líquidas do governo cresceram apenas 0,2% enquanto os gastos primários — sem contar pagamento de juros — subiram 6%.

“A queda do superávit primário tem três consequências diretas para a economia. Primeiro, ao gastar mais do que o esperado, o governo joga lenha na fogueira da inflação e dificulta o trabalho do Banco Central de controlar os preços. Segundo, o endividamento do setor público aumenta, e isso torna mais próximo o risco de um rebaixamento da nota de crédito do país. Terceiro, ao gastar mais, o governo contribui para a queda da taxa de poupança, e isso é um entrave para a retomada dos investimentos.

“O risco de rebaixamento tem efeito direto no custo das empresas e das entidades públicas no financiamento externo. Além disso, se o Brasil perder o grau de investimento deixará de receber recursos dos investidores institucionais que, por estatuto, ficam fora dos mercados sem esse grau. Com os dados de agosto, o déficit nominal chegou a 4% do PIB e a dívida bruta rompeu a barreira de 60% do PIB.” (Míriam Leitão, O Globo, 1º/10/2014.)

* Brasil é o emergente com o maior déficit externo do mundo, diz FMI

“O Brasil tornou-se, em 2013, a nação emergente com o maior déficit externo do mundo, informou ontem o Fundo Monetário Internacional (FMI), em capítulo do relatório trimestral Panorama da Economia Mundial, divulgado na capital americana. Em oito anos, o país deixou de apresentar saldo positivo nas suas transações com o resto do mundo (que envolvem comércio exterior, fluxo de investimentos, gastos de turistas, empréstimos etc.) para apresentar rombo de US$ 81 bilhões, o equivalente a 3,6% de seu Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) e 0,11% do PIB global. Para o FMI, é hora de o governo agir para reduzir o rombo, antes que consequências negativas se materializem.

“Em 2006, base de comparação escolhida pelo Fundo por ser o último período integralmente livre de abalos que culminariam na crise mundial de 2008, o Brasil apresentou saldo positivo de US$ 13,6 bilhões, ou 1,3% do PIB. Não integrava, portanto, nem a lista de maiores superávits externos (o que também pode se converter em desequilíbrio). Ou seja, as contas estavam equilibradas.

“O Fundo estimou o parâmetro que, superado, tornaria a situação externa de um emergente desconfortável: déficit de 3% do PIB. O Brasil superou o indicador. EUA e Reino Unido, nesta ordem, ocupam os primeiros lugares na lista de maiores saldos vermelhos. Alemanha e China, a de superavitários.

“- O Brasil tinha superávit em 2006 e passou para déficit em 2013. Os níveis de déficit estão próximos ao que encontramos como limite para economias emergentes. Neste sentido, pode ser talvez preocupante. Por esta razão, o Brasil precisará a começar a trabalhar para reduzir desequilíbrios – afirmou o economista Marco Terrones, do Departamento de Pesquisa do FMI, que coordenou a avaliação.

“Vice-diretor do Departamento de Pesquisas do Fundo, Gian Maria Milesi Ferreti disse que, mesmo com o avanço do rombo externo em países como Brasil, Índia, Indonésia, México, Turquia, Canadá e Austrália, o quadro global é positivo. Mas admitiu que o resultado dessas nações não está em linha com os fundamentos das economias:

“- Comparado com os desequilíbrios antes da crise, o que vemos é que, embora tenhamos déficits relativamente grandes em algumas economias avançadas e mercados emergentes, comparados com o que achamos que é apropriado com base nos fundamentos econômicos, esses déficits mantêm-se, em termos absolutos, muito menores do que aqueles que víamos antes da crise. E esta é a base da nossa avaliação, de que o risco global de reversão nas contas correntes diminuiu.

“O Brasil subiu, em 2013, na lista de países com maior nível de endividamento no exterior, pulando da sexta para a terceira posição, atrás apenas de EUA e Espanha, respectivamente. A dívida externa total atingiu US$ 750 bilhões, ou 33,4% do PIB (1,01% do PIB global). O FMI considera o quadro preocupante quando o indicador ultrapassa 40%.

“‘Na maioria dos casos (emergentes), as posições de maior endividamento não foram acompanhadas de ampliação dos investimentos fixos (como infra-estrutura) e crescimento maior’, observa o FMI. A observação é genérica. O relatório do FMI não faz análise detalhada da situação brasileira, mas o país se encaixa perfeitamente no alerta.

“Rombos externos não são necessariamente sintomas de crise e desequilíbrios graves. Mas, nota o FMI, ‘déficits grandes, e os compromissos externos (endividamento) líquidos associados a eles, no entanto, expõem o país a riscos de interrupção abrupta de financiamento ou da rolagem desses compromissos’. Especialmente quando há mudança de humor no mercado, seja por desconfiança com as condições domésticas, seja por mudanças em políticas que afetam o mundo, caso do fim do ciclo de estímulos monetários à economia dos EUA.

“O FMI nota que o Brasil faz parte de um grupo de países na contramão do quadro geral internacional. De forma geral, no período entre 2006 e 2013, os principais desequilíbrios externos no mundo foram reduzidos. Os dez maiores déficits, que somavam 2,3% do PIB global, passaram a representar 1,2%.

“Também houve desconcentração. Se os cinco maiores rombos somavam 80% do déficit em 2006, em 2013 eram menos de 65%. No resultado mais importante do levantamento, os EUA reduziram à metade seu déficit externo, de carona na desaceleração provocada pela Grande Recessão.

“Já a China, que preocupava analistas pelo efeito de distorção do superávit que acumulava para a economia mundial, reduziu seu saldo positivo e cedeu o topo do ranking superavitário à Alemanha. A economia chinesa ampliou no período investimentos domésticos, utilizou política fiscal expansionista e enfrentou desaceleração da demanda externa. No lado do superávit, o grupo dos dez maiores, que acumulava 2,1% do PIB global, hoje amealha 1,5%.

“Em outro capítulo do Panorama, o Fundo advoga que chegou a hora de o setor público dos países investir pesadamente em infra-estrutura. Segundo o FMI, o estoque de capital fixo público como proporção do PIB, uma medida de infra-estrutura, caiu de forma significativa em 30 anos. Países emergentes, afirmou, estão ficando para trás. O organismo tem recomendado ao Brasil sistematicamente que retome este tipo de investimento para melhorar a capacidade de oferta e religar os motores da economia. No relatório, aponta novamente para essa fragilidade, alertando que os efeitos desse tipo de entrave já estão sendo sentidos.” (Flávia Barbosa, O Globo, 1º/10/2014.)

A inflação

* Relatório do Banco Central não indica que vêm aí decisões capazes de reverter a alta da inflação

“No último Relatório Trimestral de Inflação elaborado pela atual diretoria do Banco Central (BC) não há indicação de que estejam a caminho decisões de política econômica capazes de reverter a inflação reconhecidamente renitente e espalhada demais.

“Não há grandes mudanças na postura carregadamente rósea com que o BC e, mais do que ele, o Ministério da Fazenda descrevem o quadro atual. Examinada a conjuntura com a isenção possível, o que se vê é um conjunto de políticas insuficientemente compromissadas com a condução da inflação para a meta.

“A política fiscal (administração de receitas e despesas do governo) é notória e reconhecidamente flácida. A política monetária é ambígua, uma vez que impõe juros altos para, em parte, compensar o expansionismo do crédito e a atuação perdulária dos bancos oficiais, especialmente o BNDES. E a política cambial se mantém intervencionista, também para compensar o jogo contra do resto do governo.

O BC agora reconhece que o avanço do PIB deste ano não passará de 0,7%, nível abaixo do 1,6% apontado no Relatório de junho. Embora tenha contrariado o ministro da Fazenda, ainda parece um número otimista. Equivale a mais do dobro do crescimento de 0,29% apontado pela Pesquisa Focus, levantamento semanal feito pelo próprio BC com cerca de 100 instituições do mercado.

“O Relatório também admite nova revisão para a evolução do investimento (Formação Bruta do Capital Fixo): o recuo deste ano em relação ao ano passado passou de 2,4% para 6,5%. E, no entanto, o governo Dilma mantinha até recentemente a aposta de que o investimento fixo cresceria. Para os 12 meses terminados em junho de 2015, o Relatório de Inflação projeta avanço do PIB de 1,2% e para o investimento, recuo de 2,4%.

“Estes números decepcionantes do investimento são ainda mais preocupantes do que os que medem o desempenho da atividade econômica, na medida em que o investimento de hoje é a indicação do PIB de amanhã.

“Fora do texto do Relatório, o diretor de Política Econômica, Carlos Hamilton Araújo, reconheceu ontem (29/9) que não se confirmou um dos mantras que apareceram nos documentos oficiais e nas entrevistas à imprensa. Durante meses, o BC repetiu que “se criam condições para que o balanço do setor público se desloque para a zona de neutralidade no horizonte relevante para a política monetária”. Tradução: a gastança federal não tem impacto inflacionário.

“Ontem (29/9), Hamilton admitiu que essa projeção não se confirmou. Apesar disso, tanto o Relatório como ele próprio, insistem em que a política fiscal não deverá produzir impacto inflacionário. É a linguagem do bêbado que, depois de prometer com pureza de alma não mais tomar o rumo do boteco, reconhece a contragosto que teve recaídas. Martela em que, “no horizonte relevante”, tudo será diferente. O diabo é que estamos no limiar de outubro e, no horizonte relevante, a diretoria do Banco Central será outra… quem acreditar que conte outra.

“Depois que a presidente Dilma deixou claro que, enquanto estiver na Presidência da República, o Banco Central não terá autonomia, entenda-se que, em última análise, o volume de moeda na economia e, portanto, também seu preço (juros) serão determinados pelo Palácio do Planalto.” (Celso Ming, Estadão, 30/9/2014.)

* IGP-M volta a acelerar em setembro

“Pressionada pelo preço das carnes no atacado e dos serviços ao consumidor, a inflação medida pelo Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M) voltou a subir, após quatro meses seguidos de queda. O IGP-M de setembro fechou em 0,20%, ante deflação de 0,27% em agosto.

“A alta do índice usado para reajustar contrato de aluguel ainda não reflete a desvalorização média de 1,18% do real frente ao dólar registrada este mês, diz o coordenador Adjunto índice de Preços ao Consumidor (IPC) daFundação Getúlio Vargas, André Braz. ‘O efeito do câmbio nos preços, se vier a acontecer, será discreto.’

“Ele aponta dois fatores que devem limitar o impacto do câmbio na inflação. O primeiro é ritmo fraco da economia que não deve sancionar fortes reajustes de preços, especialmente de matérias primas e máquinas.

“O segundo fator limitativo do efeito do câmbio no IGP-M deve ser exercido pela Soja. O grão, cotado em dólar, tem importante peso no indicador e responde por 5%. Como a oferta internacional do grão cresceu por causa da boa safra dos EstadosUnidos, o preço em dólar diminuiu e amorteceu apres-são de alta do câmbio na inflação neste mês. Em setembro, o índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que responde por 6o% do IGP-M, subiuo 13%, ante deflação de 0,45% em agosto. ‘Sem a Soja, o IPA teria subido 0,32% este mês’, diz Braz.

“A aceleração do IPA em setembro foi provocada pelos alimentos processados, cuja variação de preço mais que triplicou de agosto (0,40%) para setembro (1,39%). Só a carne bovina subiu4,66% este mês e acumula alta em 12 meses de 25,49% no atacado e de 18% no varejo.

“‘A alta dos alimentos no atacado não demora a chegar para o consumidor’, diz Braz. Neste mês o IPC-M atingiu 0,42%, após estabilidade em agosto (0,02%). Pressões da alimentação e de serviços explicam a aceleração da inflação ao consumidor. O grupo alimentação tinha encerrado agosto com deflação de 0,11% e fechou este mês com altade 0,40%. Na análise do economista, metade da aceleração do grupo alimentação (0,20 ponto) veio da carne.

“Além dos alimentos, o IPC foi pressionado este mês pela habitação, que tinha subido 0,29% em agosto e atingiu 0,47% em setembro, impulsionada pela energia edespesas de condomínio. Também os grupos educação, recreação e leitura e transportes puxaram para cima o indicador deste mês por causa de reajustes salgados nas passagens aéreas (12,49%) e seguros facultativos (2,38%).JáoÍndice da Construção Civil perdeu fôlego e ficou em 0,16% este mês, ante alta 0,19% em agosto pelo fato de não ter havido dissídios.

“Apesar da reversão do IGP-M de agosto para setembro, em 12 meses o indicador está em 3,54% a menor variação paraigual período desde setembro de 2009 (-0,40%). A perspectiva é que resultado de mensal de outubro supere o de setembro, mas em 12 meses o IGP-M deve continuar desacelerando. Segundo Braz, é pouco provável que em outubro deste ano o IGP-M repita o resultado de 2013 (0,86%).” (Márcia De Chiara, Estadão, 30/9/2014.)

Os números ruins da semana

* Nível de endividamento é o maior desde 2005

“Mesmo com a elevação da taxa básica de juros da economia (Selic) no último ano, o brasileiro continuou a gastar e chegou ao maior nível de endividamento desde 2005, segundo dados do Banco Central. O índice passou de 45,73% em março, último dado divulgado até ontem, para 46% em julho.

“Esses números não eram divulgados desde março por causa da greve dos servidores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A paralisação interrompeu a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), indicador usado pelo Banco Central para chegar ao número de endividamento.

“O peso do endividamento no orçamento das famílias brasileiras, um cálculo que considera o total das dívidas dividido pela renda no período de um ano, ficou relativamente estável, ao passar de 46,02% em junho para os 46% de julho.

“Nesse período de ausência de dados, foi verificado o aumento do nível de endividamento. O índice estava em 45,73% em março, subiu para 45,85% em abril e chegou a 45,95% em maio, continuando a crescer até chegar aos 46% de julho.

“Se forem descontadas as dívidas imobiliárias, de acordo com as informações do Banco Central, o endividamento chega a 28,84% da renda anual em julho, uma queda em relação aos meses anteriores. Em março, a taxa era de 29,45%, em abril, passou a 29,39% e chegou a 29,23% em maio. Em junho, esse índice estava em 29,09%.

“O comprometimento da renda dos brasileiros, que considera valores mensais para a renda e para as prestações pagas aos bancos, ficou em 21,84% em julho, segundo dados divulgados ontem pelo Banco Central. Em junho, estava em 21,85%.

“A divulgação desses dados também estava suspensa desde março por causa da greve do IBGE. Em março, a taxa estava em 21,30%. Subiu para 21,69% em abril e avançou para 21,77% em maio. O recorde para esse indicador foi visto em janeiro de 2012, quando ficou em 22,96%.” (Célia Froufe e Victor Martins, Estadão, 27/9/2014.)

* Balança comercial tem o pior setembro desde 1998

“A balança comercial brasileira fechou setembro com um déficit de US$ 939 milhões, segundo os dados divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Com esse resultado, o saldo acumulado do ano voltou a ficar negativo (US$ 690 milhões), depois de, em agosto, a balança comercial ter ficado superavitária para o período acumulado no ano pela primeira vez em 2014. Até agosto, o superávit de 2014 era de US$ 249 milhões.

“É o maior déficit comercial para o mês desde 1998, quando o saldo negativo havia sido de US$ 1,203 bilhão. A última vez que a balança do mês havia apresentado resultado deficitário foi em 2000 (-US$ 326,7 milhões).

“O resultado de setembro ficou dentro do intervalo das expectativas levantadas pelo AE projeções, de déficit de US$ 1,1 bilhão a superávit de US$ 122 milhões, mas pior do que a mediana negativa de US$ 600 milhões.

“Em setembro, as exportações somaram US$ 19,617 bilhões e as importações totalizaram US$ 20,556 bilhões. Nos nove primeiros meses de 2014, as exportações somaram US$ 173,635 bilhões e as importações, US$ 174,325 bilhões.

“Na quarta semana de setembro houve um déficit de US$ 325 milhões. Na quinta semana, a balança teve um saldo positivo de US$ 142 milhões.

“O superávit da balança comercial brasileira acumula um valor de US$ 3,469 bilhões em 12 meses, de outubro de 2013 até setembro de 2014, segundo dados divulgados pelo MIDC. (Laís Alegretti e Victor Martins, Estadão, 2/10/2014.)

* Emprego na indústria tem sexta queda consecutiva

“Depois da recuperação de julho, a atividade industrial voltou a recuar em agosto. Como resposta ao desempenho mais fraco, as empresas continuaram a demitir. O indicador de emprego na indústria de transformação teve, em agosto, a sexta queda consecutiva, apontam dados divulgados ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O número de postos de trabalho encolheu 0,8% em relação a julho.

“As horas trabalhadas na produção tiveram uma redução do mesmo tamanho, enquanto o nível de utilização da capacidade instalada ficou 0,5 ponto porcentual abaixo de julho (81%).

“Na avaliação da CNI, os indicadores reforçam a trajetória de queda na atividade industrial, que teve um crescimento atípico em julho após quatro meses consecutivos de retração. ‘A base de junho foi muito comprometida pela redução dos dias úteis por causa da Copa’, disse o economista da CNI Fábio Guerra. Apesar de julho também ter tido menos dias úteis, esse efeito não ocorreu em agosto e as horas trabalhadas diminuíram.

“Para a CNI, os principais indicadores industriais devem encerrar o ano em queda. Se a atividade se mantiver no nível atual, o faturamento e as horas trabalhadas na produção devem fechar 2014 com um queda em torno de 3%. O emprego, também pelo chamado efeito carregamento, pode apresentar uma retração de 0,5% esse ano.

“Apesar dos dados negativos de agosto, a indústria fechou o mês com um crescimento de 1,1% no faturamento na comparação com o mês anterior. Mas, no ano, esse indicador já caiu 2,7%.Na comparação com agosto de 2013, sofreu forte retração de 8,8%. ‘Ou seja, as altas de agosto e julho não foram suficientes para recolocar o indicador no patamar em que se encontrava há um ano’, diz a CNI.

“A massa salarial subiu 0,3% em agosto ante julho e 0,5% em relação ao mesmo mês de 2013. No ano, acumula um crescimento de 3%. Segundo Guerra, há uma defasagem em relação ao ritmo da atividade porque os salários ainda têm um grau de indexação na economia. ‘É natural que no primeiro momento,  mesmo que a atividade e o emprego estejam caindo, a massa esteja subindo’, justificou.

“A CNI está revisando suas previsões, mas calcula que o PIB industrial deve cair em torno de 1,7%em 2014,enquanto a economia brasileira deve ter uma expansão em torno de 0,5%.’ A deterioração do setor industrial já vem há algum tempo. Lá fora, o ambiente é de dificuldade de competição e, aqui houve uma acomodação do consumo das famílias. Isso bate no setor industrial’, disse o economista-chefe da CNI, Flávio Castelo Branco.

“Nem mesmo o dólar mais alto anima o setor. ‘O câmbio mais desvalorizado favorece competição com produtos estrangeiros aqui e lá fora. Mas a gente não pode achar que só o câmbio resolve o problema da competitividade brasileira’, afirmou Castelo Branco.

“Segundo ele, a taxa de câmbio já teve relação mais direta com o desempenho do setor industrial. ‘Para o câmbio ter efeito soba atividade produtiva, precisamos deixar passar essa volatilidade de curto prazo e olhar a tendência de médio e longo prazos. Acredito que a gente vai ter mais para o futuro um câmbio mais desvalorizado, por questões domésticas e pela normalização da política monetária do Fed’, afirmou.” (Renata Veríssimo, Estadão, 2/10/2014.)

Os erros na área de energia

* Brasil dá passo para trás e começa a sujar matriz energéticas; só 1,4% do total global é destinado para energia renovável

“Até pouco tempo à frente na defesa da produção de energia de fontes renováveis, como etanol, biodiesel, eólica e solar, o Brasil está a poucos passos de sujar sua matriz energética. É o que aponta um amplo estudo sobre sustentabilidade e economia verde, feito pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e a Febraban, em fase de conclusão. Os motivos da mudança de prioridade, segundo a análise, seriam a descoberta e o início da exploração de grandes reservas de petróleo no pré-sal, o excesso de acomodação com as usinas hidrelétricas, além de aspectos tecnológicos e econômicos.

“O trabalho compara os investimentos globais nas chamadas Novas Energias (NEs) agendados para 2014. Eles somam US$ 214 bilhões e a participação brasileira nesse total é de US$ 3,1 bilhões, 1,4% do total. Na comparação com outros emergentes, como a China, o Brasil fica muito atrás. O país asiático investirá US$ 56,3 bilhões (26%). A Índia também aparece na frente, com US$ 6,1 bilhões (2,8%).

“Além disso, os autores destacam que, embora as fontes renováveis ainda sejam majoritárias na matriz energética do Brasil, respondendo por 79,3% da eletricidade consumida (dos quais 70,6% de origem hidráulica, especialmente grandes hidrelétricas), esse percentual foi bem maior em anos recentes. Em 2011, era de 88,9% e, em 2012, 84,3%.

“‘Num contexto mundial, em que uma prioridade estratégica visando ao desenvolvimento sustentável e ao longo prazo é priorizar o uso de energias renováveis, o Brasil caminha no sentido oposto, no que tange à composição de sua matriz’, diz o estudo.

“Segundo Aron Belinky, do Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV, um dos autores da pesquisa, o grande volume de hidrelétricas construídas no passado ajuda nessa acomodação. Ele cita perda de oportunidade em relação a etanol e biocombustíveis:

“— As hidrelétricas trazem uma tecnologia antiga, dos séculos XIX e XX. Não é tecnologia de ponta do século XXI. Por mais que esse tipo de energia não gere efeito estufa, tem impacto local muito grande junto a comunidades ribeirinhas, vegetação, animais etc. É uma tecnologia com uso limitado, que depende de grandes rios.

“‘O segmento de energias renováveis é um dos que mais têm crescido no mundo em termos de investimentos, enquanto no Brasil praticamente nada tem ocorrido’, diz o estudo.

“O técnico ressaltou que o Brasil entrou no século XXI como um país privilegiado no cenário energético, mas, na última década, essa posição vem mudando. Nesse período, o Brasil contou com políticas públicas voltadas às Novas Energias, com destaque para o Proinfa, que impulsionou a implantação de 131 usinas (60 pequenas centrais hidrelétricas, 52 eólicas, 19 térmicas a biomassa), previstas para gerar 11,1GWh em 2014. A expectativa com base na observação do mercado atual das NEs — que não inclui a solar fotovoltaica — é que as eólicas mantenham um ritmo de contratação anual entre 2GW e 2,5GW.

“Já o setor de biomassa tem maior dificuldade em viabilizar contratações por causa do maior custo médio de usinas de cogeração (R$ 150/MWh contra R$ 130/MWh das eólicas) e menor priorização do governo. Mas há um potencial de geração de eletricidade a partir do bagaço de cana proporcional à evolução da safra e da produção de etanol.

“O secretário de Energia do Ministério de Minas e Energia, Altino Ventura, reconheceu que a participação do Brasil no total de investimentos mundiais é pequena. Mas enfatizou que existe um ambicioso plano decenal para o período 2013-2023.

“— Vamos acrescentar 77 mil megawatts aos 127 mil existentes — disse, acrescentando que a projeção de aumento da produção de etanol, até 2023, é de 5,5% ao ano; de biodiesel, 6,4%.

“Belinky destaca que não há dados comparativos sobre o Brasil porque é a primeira vez que esse tipo de pesquisa é feita. Mas ressalta que o Brasil está prestes a perder o mote da História.” (Eliane Oliveira, O Globo, 28/9/2014.)

* Redução forçada da conta de luz inventada por Dilma teve custo de R$ 61 bilhões, diz TCU

Uma auditoria promovida pelo Tribunal de Contas da União (TCU) concluiu que os efeitos da redução média de 20% das contas de luz, adotada no começo de 2013, estarão esgotados ao fim de 2015, por causa dos custos da medida, bem superiores ao previsto inicialmente, e da conjuntura do mercado. Em acórdão aprovado ontem pelo TCU, o impacto da medida provisória 579/2012 — que determinou a antecipação

da renovação de concessões do setor elétrico — na Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) é estimado em R$ 61 bilhões em 2013 e 2014.

Com base nessas conclusões, o plenário do TCU aprovou por unanimidade um pedido de explicações ao ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, para que ele justifique, no prazo de 15 dias, o cancelamento do leilão de energia previsto para novembro de 2012, que poderia ter amenizado o déficit involuntário das distribuidoras — uma das consequências da MP 579 — e reduzido a necessidade de aportes públicos na CDE. Apenas no ano passado, o governo transferiu R$ 9,9 bilhões à CDE para cobrir

parte de suas necessidades, já que o saldo de R$ 19,7 bilhões que havia na conta no fim de 2012 praticamente foi zerado para bancar indenizações às concessionárias e outras despesas da redução das tarifas e antecipação da renovação dos contratos de concessão.

O relator do processo, ministro José Jorge, classificou de ‘assombrosas’ as cifras relativas aos custos com as mudanças introduzidas no sistema. Segundo seu voto, a MP 579, convertida no ano seguinte na Lei 12.783, ‘foi implementada de maneira precipitada, sem que fossem avaliados os efeitos da conjuntura na redução (das tarifas) pretendida’. A medida foi adotada no momento em que o custo de geração subiu, por conta da escassez de chuvas. Segundo Jorge, para reduzir o valor das tarifas em

R$ 16,8 bilhões ao ano, os gastos da CDE em 2013 foram de R$ 25 bilhões.

— Em 2014, o valor estimado situa-se no patamar de R$ 36 bilhões. Há expectativa de efeitos semelhantes nos anos vindouros, ao passo que o efeito tarifário da medida provisória estará extinto ao final de 2015 — disse Jorge em seu voto.

Nessas contas dos custos da CDE, Jorge inclui o empréstimo de R$ 17,8 bilhões obtido pelas distribuidoras com os bancos, uma vez que esses recursos passam pela Conta. Segundo o ministro, esse empréstimo que será pago entre 2015 e 2017, custará R$ 8,79 bilhões em juros. O ministro não considerou, porém, a previsão de retorno desses recursos no futuro via tarifas.

O ministro recomendou informar o caso à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), para que, ‘se entender conveniente, examine os efeitos dos procedimentos adotados sob a ótica de mercado,

considerando que, praticamente todas as empresas impactadas têm capital aberto e, portanto, sofrem fiscalização da CVM’.

A auditoria do TCU também verificou atrasos de repasses da CDE à Eletrobras, no montante de R$ 3,3 bilhões em junho deste ano, quando a análise foi concluída. Segundo a área técnica do TCU, essa situação coloca ‘em risco o suprimento de energia, tendo em vista que a empresa é detentora de 34% da geração e 50% da transmissão de energia do país’.

O acórdão do TCU determinou aos ministérios da Fazenda e de Minas e Energia esforços para regularizar o pagamento das indenizações às empresas que anteciparam as concessões em 2012 e dos repasses da CDE à Eletrobras. E pediu explicações também ao Ministério de Minas e Energia e à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), além de informar à Casa Civil e à CVM. Procurado, o Ministério de Minas e Energia informou que ainda não havia sido notificado. Hoje, Lobão retorna de um período de férias.

O TCU concluiu que Cemig, Cesp e Copel obtiveram resultados extras de R$ 5,7 bilhões por não terem aderido à proposta de renovação antecipada de concessões. As estatais ficaram com energia disponível para vender no período em que o preço disparou no mercado de curto prazo.” (Danilo Fariello, O Globo, 2/10/2014.)

Dilma contra a imprensa que investiga

* Dizer que jornalista não deve investigar é o mesmo que dizer que papel de centroavante é de não fazer gols

“Dilma Rousseff não pára de nos surpreender. Agora disse que o papel da imprensa não é o de investigar, mas, sim, divulgar as informações que produzem os órgãos do governo.

“Minha surpresa é maior ainda. Dilma apresentou a Lei de Acesso à Informação, depois de longo trabalho da Associação Brasileira do Jornalismo Investigativo. A lei foi impulsionada pelo trabalho do jornalista Fernando Rodrigues, que sugeriu a criação de uma frente parlamentar, monitorou todas as reuniões da comissão da Câmara que analisou o projeto, organizou seminários e trouxe gente de vários países para falar sobre o tema. Por que tanto empenho dos repórteres na aprovação de uma lei de acesso? O próprio nome de sua entidade é uma pista que Dilma não poderia desprezar: jornalismo investigativo.

“Dizer que a imprensa não deve investigar é o mesmo que dizer que um centroavante não deve fazer gols. É uma frase absurda até para quem não conhece bem o futebol. E absurda para quem conhece o papel histórico da imprensa. A geração de Dilma acompanhou o escândalo do Watergate, que encerrou a carreira de Richard Nixon. Ela sabe disso e usou o tema para dizer que sua frase foi interpretada erroneamente. Com um pedacinho de papel na mão, ela tentou consertar o desastre.

“Poderia passar o dia citando casos de importantes investigações da imprensa. Prefiro mencionar os casos de governos que pensam que esse não é o papel dos jornalistas. Vladimir Putin, por exemplo, também acha que o papel da imprensa não é investigar. A jornalista Anna Politkovskaia resolveu investigar o trabalho das tropas russas na Chechênia e foi assassinada. Sua morte chamou a atenção do mundo para a repressão contra a imprensa na Rússia.

“A China expulsa correspondentes estrangeiros com frequência, ora por tentarem entrar em áreas proibidas no Tibete, ora por mencionarem a fabulosa riqueza pessoal dos burocratas que dirigem o país. E o jornal cubano Granma jamais vai investigar de forma independente um desmando do governo porque o castigo é desemprego, prisão e até pena de morte.

“O jornalistas brasileiro Vladimir Herzog foi morto sob tortura durante o regime militar não tanto porque investigou, mas talvez porque só desconfiasse ativamente das notas oficiais da ditadura. No governo do PT não se persegue ou mata jornalista, dirão seus defensores. Mas não deixa de ser inquietante suspeitar que isso não se faça agora só porque a correlação de forças não permite. Um dirigente petista chamado Alberto Cantalice fez uma lista de nove jornalistas que considera inimigos, preocupando as entidades do setor aqui e fora do Brasil.

“A frase de Dilma pode ser considerada um ato falho. Os intelectuais que se mantêm fiéis ao esquema, apesar das evidências de sua podridão, sempre vão encontrar uma forma de atenuar essa barbaridade. E os marqueteiros, um pequeno texto para convencer de que ouvimos mal o que Dilma disse. Os ato falhos, tanto em campanha como fora dela, são extremamente didáticos. No caso, a frase de Dilma revela com toda a clareza o pensamento autoritário da presidente: cabe ao governo produzir as informações e à imprensa divulgá-las ou até criticá-las, o que os jornalistas não podem é buscar os dados por conta própria.

“Numa célebre intervenção sobre a espionagem americana, Dilma contou ter dito a Barack Obama: ‘Quando a pasta de dente sai do dentifrício, não pode mais voltar’. Certas frases, quando escapam, têm o mesmo destino do creme dental: não podem voltar para o tubo, que é o artefato que Dilma queria mencionar ao dizer dentifrício. Espero que Obama a tenha entendido, com a mediação dos intérpretes. Creio que a entendo muito bem quando diz que o papel da imprensa não é investigar.

“O governo petista pôs o Congresso de joelhos e alterou substancialmente a correlação de forças no Supremo Tribunal. Ele considera que a ocupação de todos os espaços vai garantir-lhe não só governar como quiser, mas o tempo que quiser. Porém a imprensa e as redes sociais ainda escapam ao seu controle. E creio que escaparão sempre, pois o País está dividido. O que mantém tudo funcionando é a existência de gente curiosa, que lê, troca informações e gosta de ser informada por órgãos independentes do governo. Mesmo se Dilma for reeleita, com sua truculência mental, uma considerável parte do Brasil que rejeita os métodos e o discurso do PT continua por aí, cada vez mais forte e mais crítica.

“Apesar da alternância democrática, certos governos podem durar muitos anos. Mas creio ser impossível se perpetuarem quando têm a oposição das pessoas que prezam a liberdade.

“Liberdade de quê?, perguntariam. Consumir mais, melhorar a renda não ampliam a liberdade? Ao se impor na Franca, o socialismo de Jean Jaurès e, mais tarde, de Léon Blum dizia que a justiça política tinha de se acompanhar da justiça econômica. Blum era um fervoroso e racional defensor da República. O PT inventou que seus opositores não gostam de pobre em aviões ou em shopping centers, que a oposição ao seu governo é fruto de intolerância classista.

“Exceto um ou outro idiota, ninguém é contra a presença de pobres em aeroportos ou shoppings. O PT deturpou a idéia de República. Em nome de melhorias econômicas, armou o maior esquema de corrupção da História e agora flerta abertamente com a supressão da liberdade de imprensa. Ele usa uma aspiração republicana para sufocar as outras e seu líder máximo, amarfanhado, se veste de laranja para defender de inimigos imaginários a Petrobrás, que o próprio governo assaltou. Suas farsas estão mais grotescas e os atos falhos, mais inquietantes.

“Sou do tempo do mimeógrafo. Ainda que consigam devastar a imprensa e proibir a internet, publicações clandestinas seguirão contando a história. Não faremos comissões futuras para investigar a verdade. Vamos conquistá-la aqui e agora, porque, como diz Dilma, a pasta saiu do dentifrício, ou o dentifrício saiu da pasta. Só não vê quem não quer ou é pago para confundir.

“Estranho, mas não tenho nenhum medo de governos autoritários. Apenas uma sensação de tristeza e preguiça por ter de voltar a esses temas na segunda década do século 21.” (Fernando Gabeira, Estadão, 26/9/2014.)

* Em encontro com blogueiros chapa-branca, Dilma diz que seu discurso na ONU foi distorcido e defende regulação econômica da mídia

A presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, passou mais de duas horas ontem (26/9) com oito blogueiros simpáticos ao governo do PT e criticou duramente a imprensa. Além de dizer que setores da mídia fazem oposição ao Palácio do Planalto, Dilma afirmou que o noticiário distorceu seu discurso na abertura da Assembléia Geral das Nações Unidas. Na abertura da entrevista, transmitida ao vivo pelos canais de comunicação da campanha, a presidente defendeu a regulação econômica dos meios de comunicação e disse que isso não significa controle de conteúdo. Segundo Dilma, a Constituição proíbe a concentração da propriedade dos veículos de imprensa.

“— Regular qualquer segmento tem uma base, que é a base econômica. Concentração de poder econômico dificilmente leva a relações democráticas; leva a relações assimétricas, tanto assimétricas de poder, assimétricas de formação e assimétricas de prepotência, em qualquer área. Não há porque a comunicação ser diferente — afirmou.

“A presidente disse que a regulação dos meios de comunicação será colocada em pauta em um eventual segundo mandato. E essa proposta, segundo Dilma, ‘nada tem de bolivariano’. A presidente defendeu a regionalização da produção e do conteúdo midiático e a diversidade cultural.

“— Mas eu acredito que esses é um dos temas do meu segundo mandato. No Brasil, muitas vezes, tenta se confundir regulação econômica com controle do conteúdo. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Controle de conteúdo é de país ditatorial, não é de país democrático — argumentou.

“Diante dos blogueiros, a presidente deixou claro que pretende partir para um enfrentamento maior com a grande imprensa em um segundo mandato. Provocada, afirmou ainda que mudará de postura e passará a se contrapor ao noticiário:

“— Cheguei a conclusão, na minha campanha, que a verdade vai vencer a mentira. Eu tenho tentado. Agradeço àqueles que me ajudam. Acredito que terá de haver um embate mais sistemático. Vou ter de dar mais respostas. Não pode ser tão bem comportada, me levaram para outro caminho que eu não queria.

“Para Dilma, o palanque eleitoral permite um diálogo direto com a população. Segundo ela, o cargo de presidente não abre esse canal com a sociedade.

“— Tem um detalhe interessante nessa história de eleição. Na eleição, você tem um palanque direto, que é seu, não é filtrado. Veja, eu fiz um discurso na ONU. O meu discurso na ONU foi integralmente distorcido. Isso é uma realidade — afirmou.”

“A presidente voltou a dizer que setores da oposição ao governo pregam ‘o quanto pior melhor’ e, repetindo um mantra do expresidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou que a imprensa assume o papel de oposição.

“— O que temos de ver é que tem no Brasil uma forma de fazer oposição que é uma forma que tem de ser denunciada: que é a forma do quanto pior melhor. Tem uma parte da imprensa que é oposição — disse.

“Na entrevista, a presidente ainda tratou de saúde, de educação e do projeto do trem de alta velocidade, além de defender a Petrobrás. Para Dilma, há pessoas ‘mal intencionadas’ que querem atingir a Petrobrás para enfraquecer a empresa e atender interesses privados internacionais.

“— Há coisas irreversíveis. Ninguém desmonta uma empresa que é a sexta do mundo — afirmou.” (O Globo, 27/9/2014.)

Os erros na política externa

* A ideologização da política externa isolou o país e atrapalhou o comércio exterior

“Não se tem notícia de uma fase como esta dos 12 anos de hegemonia do PT, em que o Itamaraty tenha estado tão distante das formulações da diplomacia do país. Desde 2003, tornou-se impossível qualquer desalinhamento entre ideologia dos inquilinos do Planalto e a política externa, mesmo para defender interesses nacionais estratégicos. O Itamaraty passou a ser guiado pelas visões terceiro-mundistas e antiamericanistas do partido. Não se trata de uma mudança de eixo neutra e isolada, porque estas visões fazem parte de um todo, articulam-se com outras políticas, como o protecionismo, que reativou a tendência ao fechamento da economia, uma das razões da perda de competitividade da indústria.

“O comércio exterior, em boa medida, passou a refletir as opções ideológicas de Brasília. Atreladas ao Mercosul, no qual a visão autárquica do governo brasileiro foi temperada pelo chavismo venezuelano e anabolizada pelo populismo argentino, as exportações brasileiras, principalmente de manufaturados, tiveram perigosamente ampliada a dependência ao bloco de comércio sul-americano. Em 2013, o peso do Mercosul, como destino das exportações, era maior que o do mercado americano: 12% contra 10%.

“Enquanto se sedimentava esta dependência, cresciam as exportações de matérias-primas para a China, de minério de ferro e soja. O resultado foi a mudança de patamar das vendas brasileiras anuais de algo como US$ 100 bilhões para mais de US$ 200 bilhões. E o mercado chinês passou a disputar com a União Europeia qual o principal destino das vendas do Brasil, praticamente empatados em 19% do total das exportações cada um. Não é ruim o crescimento das exportações de matérias-primas. O problemático tem sido, por condicionamento ideológico, o Brasil se manter ligado a um Mercosul em crise, sem explorar as alternativas de acordos bilaterais que existem. O subproduto deste engessamento é a perda relativa de importância do mercado importador americano, ainda o maior do mundo, alternativa para as exportações de bens manufaturados e semimanufaturados barradas no Mercosul (menos aproximadamente quatro pontos percentuais de 2008 ao ano passado).

“Passado o bom tempo para a economia mundial, as exportações brasileiras padecem com a diminuição de ritmo do crescimento chinês — de 10% para 7,5% ao ano. Reduz-se a pressão da China nos mercados, caem — ou sobem menos — as cotações de soja e minério, ajudando a gerar déficits na balança comercial do país, algo há muito tempo não visto. Importações não previstas de petróleo agravaram o quadro. E o cenário piora porque as exportações aumentaram a dependência para com as matérias-primas (de 28,9% do total em 2003 para 46,7% dez anos depois). A radiografia do comércio exterior chama a atenção do próximo presidente para reformas que precisará fazer na economia e a necessidade de gerenciar problemas técnicos sem partidarismos.” (Editorial, O Globo, 27/9/2014.)

3 de outubro de 2014

Outras compilações de provas da incompetência de Dilma e do governo lulo-petista: 

Volume 140: Notícias de 9 a 15/5/2014.

Volume 141: Notícias de 16 a 22/5/2014.

Volume 142: Notícias de 23 e 29/5/2014.

Volume 143: Notícias de 30/5 a 5/6/2014. 

Volume 144: Notícias de 6 a 12/6/2014. 

Volume 145: Notícias de 13 a 19/6/2014.

Volume 146: Notícias de 20 a 26/6/2014.

Volume 147: Notícias de 27/6 a 3/7/2014.

Volume 148:  Notícias de 4 a 10/7/2014.

Volume 149: Notícias de 11 a 17/7/2014.

Volume 150: Notícias de 15 a 21/8/2014. 

Volume 151: Notícias de 22 a 28/8/2014.

Volume 152: Notícias de 29/8 a 4/9/2014.

Volume 153: Notícias de 5 a 11/9/2014.

Volume 154: Notícias de 12 a 18/9/2014.

Volume 155: Notícias de 19 a 25/9/2014.

 

 

 

 

5 Comentários para “Más notícias do país de Dilma (156)”

  1. CONTAGEM REGRESSIVA.
    FALTAM APENAS 90 DIAS PARA O FIM DAS MÁS NOTÍCIAS.
    DAQUI A 3 MESES O BRASIL TERÁ NOVO PRESIDENTE. SEM GOLPE, ELEITO DEMOCRATICAMENTE PELO VOTO.
    ENTRETANTO O PIG NÃO DESCANSARÁ,ESTEJAMOS ATENTOS.

  2. Eu também sinto a falta do Fernando, Miltinho. Infelizmente, ele parou de escrever a crônica semanal para o “Estado de Minas”.

  3. Grandecissimo SerVaz.
    Creio que deixar de escrever para o “Estadode Minas”não impede ao Fernando de de vez em quando enviar um textinho. Afinal ele está nas listas de autores do site.
    Sobre os autores, necessários alguns reparos. O nome do Plinio Vicente, por justiça e mérito deveria ser grafado em negrito e destaque como o dos outros.O nome da Maria Helena está em duplicidade,o que de certo deva ser em nome da excelência dos textos.
    Sigo te seguindo e aos textos que chegam de BH, DF, SP, Roraima, RJ, Portugal, EUA, etc..
    Forte abraço.

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