“Governos não decidem, por meio de atos de vontade política, quais serão as taxas de crescimento futuro de uma economia – só os ingênuos, ou arrogantes, pensam assim.”
É necessário reconhecer que há algo que funciona, e extremamente bem, no governo Dilma: o marketing. O marketing do governo Dilma é ainda melhor do que o de seu antecessor e criador. O país não anda, não se faz reforma alguma, não se aproveita para nada que preste a mais extravagante maioria parlamentar que um presidente já teve. Não há planejamento, não há rumo – desperdiçam-se as oportunidades, numa situação momentaneamente confortável, de se avançar.
A mulher foi eleita em cima da imagem de mãe do PAC; o PAC é ficção, está tudo empacado, as obras não andam, há uma total indigência gerencial – mas o ibope dela não pára de subir.
Ninguém pagou um tostão de tudo o que foi roubado, no governo anterior e neste; ninguém foi julgado pela roubalheira toda – e no entanto a imagem da presidente é de uma grande faxineira.
Ainda bem que ainda existem as pessoas que escrevem a verdade dos fatos, como a frase entre aspas acima, que mostra que Dilma e seu governo são ingênuos, ou arrogantes. Na verdade, ingênuos, arrogantes e incompetentes. Marketing fora, é só ingenuidade, arrogância e incompetência.
Aí vai a 52ª. compilação de notícias e análises que comprovam a incompetência do governo Dilma Rousseff. Foram publicadas entre os dias 11 e 17/5/2012,
As más notícias da Economia
* Os limites da política econômica voluntarista, construída com puxadinhos e expedientes improvisados
“Há algumas semanas a economia brasileira vem passando certos sinais de desarrumação. Não dá mais, por exemplo, para continuar afirmando que a inflação não é problema. O avanço do IPCA de abril, de nada menos que 0,64% (foi de 0,21% em março), e, mais do que isso, o nível de difusão dessa alta (63%) mostram que ela não pode ser atribuída apenas à estocada dos preços dos cigarros – como sugeriu nesta quinta-feira (10/5) o ministro da Fazenda, Guido Mantega.
“A primeira prévia do IGP-M de maio também apontou uma guinada forte dos preços no atacado (de 1,15%). E, como o atacado de hoje tende a ser o varejo de amanhã, em consequência desse fator alguma inflação adicional está encomendada. A força das remarcações no atacado, por sua vez, reflete em alguma medida a escalada das cotações do dólar no câmbio interno, de 6,5% nas últimas cinco semanas, induzidas por ação do Banco Central.
“A ânsia por puxar pela desvalorização do real parece ter impedido o governo Dilma de entender que, nos dois últimos anos, a indústria ficou muito mais dependente das importações. Para enfrentar custos crescentes dos fatores de produção, sobretudo da mão de obra, o setor industrial recorreu mais pesadamente às importações de matérias-primas, insumos, peças e conjuntos. A alta do dólar no câmbio interno criou um custo adicional de produção que está sendo repassado quase automaticamente para os preços finais. (…)
A presidente Dilma enfrenta agora a perspectiva de não poder entregar, pelo segundo ano consecutivo, o crescimento econômico anual prometido, desta vez entre 4,0% e 4,5%. O discurso oficial ainda conta com essas projeções. Mas o mercado, consultado semanalmente pelo Banco Central por meio de sua Pesquisa Focus (que atinge cerca de 100 instituições), já trabalha com crescimento do PIB para 2012 de só 3,2%. Mas um punhado de analistas passou a projetar números inferiores a 3,0%. O mau desempenho da indústria, reafirmado por um punhado de estatísticas de origens diversas, parece confirmar essa percepção.
“Em outras palavras, o comportamento insatisfatório do setor produtivo vai mostrando os limites da atual política econômica voluntarista da presidente Dilma, construída com sucessão de puxadinhos e expedientes improvisados. Parece mais difícil agora esticar a alta do dólar e derrubar os juros para elevar a competitividade da indústria. Essa desarrumação foi enfaticamente desmentida pelo ministro Guido Mantega nesta quinta (10/5). Mas está cada vez mais difícil confiar nas declarações dele, ultimamente contrariadas pelos fatos. O último objeto dos reiterados desmentidos do ministro foram as mudanças nas cadernetas. Mantega argumentava que não havia o que alterar nas regras das cadernetas, porque não detectara migração significativa de aplicações dos fundos de renda fixa para elas. Agora, insiste em que a alta do dólar no câmbio interno não provoca inflação relevante.” (Celso Ming, Estadão, 11/5/2012.) * O BC muda, e aumenta o risco da economia como um todo
“O sistema de metas de inflação mudou, na visão do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Ele acha que a crise fortaleceu o sistema de metas, tanto que este ano os Estados Unidos e o Japão adotaram o modelo explicitamente. Ao mesmo tempo, mudou a interpretação de como ele deve funcionar. ‘A estabilidade de preços é condição necessária mas não é condição suficiente’, diz o presidente do BC. (…)
“Essa reflexão ele fez num momento em que há muita dúvida sobre se o Banco Central atual tem autonomia para elevar os juros se necessário for. Uma coisa, certamente, não mudou: a inflação continua desafiadora. (…) Produtos afetados pelo dólar, os bens duráveis, ajudaram a puxar o índice para baixo. Estão em deflação de 2,65%. Os serviços, que são preços que não sofrem concorrência externa nem são afetados pelo dólar, estão em alta de 8%. O governo se esforçou para que o dólar subisse – com imposto à entrada de capital e restrição às importações – e a moeda americana teve alta de 7% nos últimos 30 dias. Isso significa que os produtos impactados pelo moeda americana podem ficar mais caros agora.
“A alta do dólar e um possível reajuste no preço da gasolina tornam mais difícil para o presidente do BC cumprir o que promete desde o início de seu mandato, que é levar a inflação para o centro da meta no fim de 2012. A inflação no Brasil está em torno de 5%, com perigo de aumentar mais no segundo semestre. A meta é 4,5%. Nos Estados Unidos, a meta é 2%. No Japão, 1%. Na Europa, 2%. (…)
“O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, deixou claro o que todo mundo já tinha notado: mudou a forma de o BC se comunicar. Ele será mais direto ao falar com o mercado. Quanto mais transparência, melhor. O que preocupa é a sensação de que o BC procura novas interpretações para esconder o fato de que é mais leniente com a inflação. ‘O Dionísio Dias Carneiro tinha uma frase que dizia: o BC deve ser o primeiro dos pessimistas e o último dos otimistas. Nosso Banco Central atual é o contrário disso. Ele gosta de tomar mais risco. Isso significa aumentar o risco da economia como um todo’, – disse a economista Monica de Bolle, da Galanto Consultoria.” (Míriam Leitão, O Globo, 11/5/2012.)
* A interferência do governo abala a credibilidade do BC
“Mais transparente e democrático, o BC precisava de algo que tornasse mais previsível sua mais nobre tarefa: garantir o poder de compra da moeda, controlar a inflação. Em junho de 1999 foi criado o sistema de metas de inflação, pelo qual o governo define a meta (hoje de 4,5%, com tolerância de 2% para cima e para baixo) e o BC trata de cumpri-la com total autonomia, sem nenhuma interferência política.
“Pois bem, autonomia e sistema de metas sofrem, hoje, questionamentos, abalos de credibilidade. A percepção de interferência da presidente Dilma Rousseff em reuniões do Copom que definem a taxa Selic e a opção do governo pelo crescimento econômico, quando confrontado com a aceleração da inflação, têm enfraquecido o sistema de metas e conduzido a autonomia do BC ao descrédito. Hoje é unânime no mercado financeiro a convicção de que o BC abandonou o centro da meta (4,5%) e tenta salvar o teto (6,5%). O banco nega a interferência de Dilma e reafirma sua ‘total autonomia na condução da política monetária’. Mas as palavras cada vez mais se distanciam de suas ações.
“Recuperar a credibilidade não necessariamente implica elevar a taxa Selic na próxima reunião do Copom. Ela pode até cair, se a inflação ceder e a avaliação técnica indicar ser essa a melhor decisão. O que não cabe é o BC agir de forma a alimentar a percepção de interferência política e de que abandonou o sistema de metas. Seria um retrocesso na escalada de mudanças nos últimos anos, que têm contribuído, e muito, para a estabilidade da economia.
“Quem estudou o novo modelo de gestão do BC chega à mesma conclusão: a estabilidade da economia é sempre maior quando é menor a incerteza sobre o comportamento do BC em suas intenções. Por isso é fundamental manter a autonomia operacional e o sistema de metas, que reforçam a previsibilidade e inibem ações de quem especula para gerar lucro fácil. Hoje a autonomia é mera formalidade, uma concessão do governante, não consagrada em lei. FHC a respeitou, Lula também, mas com Dilma ela passou a ser questionada. Quando isso ocorre, portas se abrem à especulação e à volatilidade de preços.
“Dilma tem sido elogiada pela coragem de enfrentar forças políticas do atraso, partidos corruptos e seus representantes no Congresso. Se ela realmente não interfere nas decisões do BC, como tem reafirmado, que desfaça de vez essas desconfianças e tome a iniciativa de enviar proposta ao Congresso formalizando a autonomia do BC em lei. Faça o que FHC e Lula deixaram de fazer. Se ela confia na qualidade e na competência dos diretores que escolheu e nomeou, deixe com eles a tarefa de definir juros e proteger o País contra a inflação. O Congresso já foi mais resistente à ideia. Hoje, nem tanto.” (Suely Caldas, Estadão, 13/5/2012.)
* O governo acredita que a força de sua vontade simplifica a gestão da economia
“A política macroeconômica voltou a ser pautada pelo voluntarismo. O governo parece convencido de que basta a força de sua vontade para que as mazelas da economia sejam rapidamente corrigidas, uma a uma. O câmbio pode ser tão depreciado quanto se queira, as taxas de juros, reduzidas à vontade e o crescimento do PIB, acelerado ao sabor das conveniências políticas. Já era tempo de o país ter aprendido que as coisas não são tão simples. E que experiências voluntaristas desse tipo não passam de surtos coletivos de autoilusão, fadados a enfrentar uma conta salgada no final, quando a inexorável coerência entre as variáveis macroeconômicas se restabelece de forma socialmente perversa. Mas a verdade é que, entre nós, tal aprendizado se tem mostrado bem mais difícil do que se esperava. (…)
“Inconformado com a perspectiva de mais um ano de crescimento do PIB abaixo de 3%, com desempenho pífio da indústria de transformação, o governo decidiu sair em campo para acertar as coisas a seu modo. Já há algum tempo, o regime de câmbio flutuante havia sido convertido num arranjo de câmbio fixo, no qual o governo tentava impedir que a taxa caísse abaixo de R$ 1,60. Nos últimos meses, contudo, o governo tem recorrido a todo tipo de intervenção para, a qualquer custo, manter o câmbio acima de R$ 1,90.
“Do lado das taxas de juros, o Planalto parece convicto de que agora tem condições de dar solução definitiva ao problema. Não só prolongou – já não se sabe até quando – o vigoroso movimento de redução da Selic que teve início em agosto, como desencadeou cruzada nacional pela redução de spreads bancários, com palavras de ordem em discurso de 1 de maio, determinações férreas a bancos públicos e admoestações a bancos privados. (…)
“Salta aos olhos que a rápida depreciação do câmbio e a redução imprudente da taxa básica de juros, com efeitos amplificados pela substancial diminuição concomitante de spreads cobrados por bancos públicos – compelidos a expandir crédito e municiados de novas transferências diretas de recursos do Tesouro -, configuram ambiente propício a agravamento do quadro inflacionário em 2013. (…)
“O curioso é que, enquanto sobra voluntarismo na condução da política macroeconômica, falta determinação na gestão de outras áreas cruciais. O PAC continua entravado. Na esteira da sucessão de escândalos do ano passado, boa parte das cadeias de comando que acionam o investimento público teve de ser desmantelada. E, justo agora, quando, a duras penas, estava tentando remontá-las, o governo se viu às voltas com novas dificuldades, decorrentes da instalação da CPI do caso Cachoeira-Delta. Como a Delta é a maior empreiteira do PAC e tem obras em nada menos que 25 estados, foi preciso montar às pressas uma deprimente operação de contenção de danos. Que, tudo indica, não será capaz de impedir que, mais uma vez, os programas de investimento sejam seriamente afetados.” (Rogério Furquim Werneck, O Globo, 11/5/2012.)
* Medidas apressadas, efeitos negativos
“Medidas tomadas pelo governo para recuperar a economia com uma pressa excessiva têm um resultado contrário ao esperado. Seja na taxa de crescimento, seja na desvalorização da moeda nacional e na expansão do crédito. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, queixa-se do insuficiente crescimento do volume do crédito. E, agora, como já é costume, o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, volta a exprimir a mesma queixa – embora num passado recente os documentos do BC clamassem por política de redução do ritmo de expansão de crédito, especialmente para as pessoas físicas.
“Ainda que, em março, a expansão do crédito para as famílias, nos 12 últimos meses, registrasse 20,3% (mais que o limite que o BC considerava razoável), no primeiro trimestre foi de apenas 3,2%, embora represente 15,8% do PIB. O que o ministro da Fazenda e o presidente do BC parecem esquecer é de que o baixo ritmo de crescimento do crédito resulta de boa parte das medidas que adotaram. Ao forçar uma redução das taxas de juros, por meio do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal – num momento em que a insolvência atinge valor preocupante -, as autoridades tinham de saber que, para enfrentar uma concorrência dessas, as instituições financeiras privadas se mostrariam muito mais exigentes quanto à qualidade dos créditos outorgados. Com efeito, a elevação da inadimplência as obriga a manter reservas maiores, o que está reduzindo as disponibilidades para fazer novos empréstimos.
“Mas o governo, ao pedir maior expansão do crédito às famílias para aumentar a demanda doméstica, parece não ter levado em conta os efeitos sociais dessa política, com a expansão da classe C. É que o aumento da renda dos trabalhadores, depois de uma elevação do salário mínimo e com o efeito da revisão de todos os outros níveis salariais, gera um novo patamar de poder aquisitivo. Este se reflete num forte aumento do endividamento, não apenas para a aquisição da casa própria (que vai exigir a compra de numerosos bens para equipá-la), mas também de outros bens de consumo duráveis que são pagos com uma prestação aparentemente reduzida.
“Os bancos enfrentam mutuários altamente endividados, aos quais não podem oferecer créditos quando outras prestações estão atrasadas. Paralelamente, a provisória desvalorização do real reduz fortemente o efeito deflacionista dos produtos importados. Faltou ao governo consultar os sociólogos…” (Editorial, Estadão, 12/5/2012.)
* Em resumo, é assim: há limites para austeridade, há limites para o crescimento e há limites para o voluntarismo
“’A austeridade não é uma fatalidade’, disse o novo presidente da França no dia de sua vitória, domingo passado. Os gregos, que votaram nesse mesmo dia, parecem estar de acordo, assim como muitos outros europeus. A frase de efeito de François Hollande não é incorreta, mas precisa ser situada no contexto do drama em que se debate a Europa desde 2007. Com particular intensidade desde que, há exatos dois anos, os ministros da Fazenda europeus viraram o segundo fim de semana de maio acertando a forma de evitar um então iminente calote grego, e o efeito contágio que isso teria sobre outros países da região – e sobre seus bancos. (…)
“Por certo, há limites para a austeridade, que podem ser de natureza econômica ou político-social, e que sempre dependem do contexto específico de cada país. Mas também é verdade que há limites para o crescimento, que são ou deveriam ser conhecidos. Governos não decidem, por meio de atos de vontade política, quais serão as taxas de crescimento futuro de uma economia – só os ingênuos, ou arrogantes, pensam assim. Em resumo, há limites para austeridade, há limites para o crescimento e há limites para o voluntarismo. Nenhum deles é uma fatalidade. Ainda bem. (Pedro Malan, economista, Estadão, 13/5/2012.)
* Dólar sobe, ameaça inflação, BC não reage, analista fala em barco sem leme
“Sob o clima de pânico que tomou conta dos mercados financeiros internacionais, o dólar comercial cruzou ontem (segunda, 14/5) a importante barreira de R$ 2 pela primeira vez em quase três anos. (…) Com a rápida escalada, o câmbio passou a acumular uma valorização de 6,47% frente ao real neste ano, o maior avanço entre as 16 principais moedas do mundo. Economistas manifestam uma preocupação crescente com o câmbio, o que pode ter impactos sobre a inflação e a política de corte de juros. E questionam se o governo brasileiro e o Banco Central (BC) não podem ter ido longe demais em suas intervenções na cotação da moeda em março e abril.
“Ontem, o dólar comercial valorizou-se no mundo inteiro. (…) Mas o avanço foi maior em relação ao real. Segundo Nathan Blanche, especialista de câmbio da Tendências Consultoria, isso seria resultado da ‘muralha’ criada contra a entrada de dólares no país, por meio de medidas como o aumento o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). ‘Quando o governo parou de intervir no câmbio, a moeda estava em R$ 1,90. O mercado entendeu que esse era o patamar que o governo queria a moeda. O dólar está agora a R$ 2. A impressão é, portanto, de um barco sem leme’, diz Blanche.
“Já Sidnei Nehme, analista da NGO Corretora, avalia que o governo alardeou uma ‘guerra cambial’ que pode não se confirmar e levar o dólar a R$ 2,20 nos próximos meses. ‘Para conter o dólar, o governo precisaria agora rever suas intervenções, o que significaria desmentir a ‘guerra cambial’, a ‘enxurrada’ e o ‘tsunami’. Isso teria um preço politico desgastante perante a comunidade financeira mundial.’
“Segundo Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora, mesmo com esse eventual desgaste, o governo precisa intervir no dólar para impedir os impactos sobre inflação. Ele cita operações como swap cambial (equivalente a uma venda de dólares no mercado futuro), venda de divisas à vista e via leilões no mercado a termo. ‘Para mim, a surpresa não chega a ser a valorização rápida do dólar frente ao real, mas a surpreendente ausência da autoridade monetária vendendo moeda para conter essa rápida alta’, avalia Velho.
“O ministro da Fazenda, Guido Mantega, reafirmou ontem (segunda, 14/5) que a alta do dólar não preocupa o governo, pois torna a indústria brasileira mais competitiva. No entanto, nos bastidores da equipe econômica, técnicos admitem que a disparada da moeda americana decorrente da recente turbulência na Europa já provoca alguma ansiedade pelo impacto na inflação, que deu sinais de alta em abril.” (Bruno Villas Bôas, Gabriela Valente e Martha Beck, O Globo, 15/5/2012.)
* O ministro da Fazenda vê tudo cor de rosa
“Os brasileiros têm motivos para otimismo, apesar da crise global, e podem esperar um crescimento econômico maior que o do ano passado e inflação em queda, segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Alguns efeitos da crise, como a desvalorização do real, são até benéficos para a indústria nacional e para a geração de empregos, de acordo com sua avaliação. O País está mais preparado que em 2008 para enfrentar o choque externo e, além disso, o mercado interno continuará sustentando a expansão da atividade, afirmou o ministro numa entrevista exclusiva à Agência Estado. Ele tem motivos para exibir alguma tranquilidade, principalmente quando compara a situação do Brasil com a de países mais desenvolvidos, sobrecarregados pela dívida pública e atolados em sérias dificuldades fiscais. A situação desses países, segundo o ministro, se agravou nos últimos anos, por causa de políticas de ajuste estritamente recessivas. Um pouco menos de otimismo, no entanto, seria mais tranquilizador para quem examina com algum cuidado a situação brasileira e os principais obstáculos ao desenvolvimento nacional.
“O ministro da Fazenda está certo quando aponta o mercado interno como um ativo importante e uma vantagem do Brasil na comparação com muitos outros países. Exagera de forma perigosa, no entanto, ao insistir num roteiro de crescimento econômico baseado somente nesse mercado. A palavra ‘somente’ é justificável, quando se examina o desempenho da economia nacional nos últimos anos. A contribuição das exportações e importações de bens e serviços para a expansão da economia vem sendo negativa, principalmente por causa da baixa competitividade do setor industrial.
“O ministro, no entanto, mostra-se pouco preocupado com isso. Quanto ao poder de competição, deverá melhorar, segundo calcula, graças à valorização do dólar. Ele, a presidente Dilma Rousseff e as torcidas do Flamengo e do Corinthians estão satisfeitos com o dólar próximo de R$ 2,00. A depreciação do real, insiste, é boa para a indústria, porque barateia seus produtos em moeda estrangeira. O efeito inflacionário, de acordo com o ministro, será limitado, até porque as cotações dos produtos básicos têm caído no mercado internacional e devem pressionar menos os preços internos.
“Essa argumentação deixa de lado questões importantes, mas é, ao mesmo tempo, reveladora. Ao falar sobre competitividade industrial, o ministro quase se limita a mencionar o câmbio, como se outros fatores fossem irrelevantes. Ele só vai um pouco adiante ao apontar a possibilidade de novos setores serem beneficiados pela desoneração da folha de pagamento, iniciada no ano passado. É muito pouco. As desvantagens do produtor brasileiro, quando se trata de competição internacional, são muito mais amplas, mas o ministro da Fazenda e seus colegas muito raramente enfrentam esse fato. Ele também se refere na entrevista à continuidade dos investimentos públicos, como se de fato o governo federal fosse um importante investidor em infraestrutura e outros itens essenciais à eficiência produtiva. Mas esse não é o caso e não há sinal de reconhecimento desse fato.
“Além do mais, a redução dos preços das commodities, nos últimos meses, limitou severamente o aumento da receita de exportações – apenas 2% maior que a de um ano antes, de janeiro a abril – e diminuiu de 35% o superávit comercial. As importações, no entanto, foram 4,8% maiores que as de janeiro a abril de 2011 e essa é uma das consequências do crescimento baseado exclusivamente no mercado interno.
“O ministro falha, portanto, por exibir uma visão muito restrita das vantagens da economia brasileira e dos obstáculos ao crescimento equilibrado. Ao menosprezar esses obstáculos – e também o risco de inflação – ele mais uma vez confirma um padrão de governo marcado pela visão limitada e pela acomodação diante dos obstáculos. É fácil criticar os europeus pela ênfase excessiva nas políticas de ajuste recessivo. Muito mais difícil, para o governo brasileiro, tem sido o reconhecimento do próprio imobilismo, quando se trata de reformas para elevar o potencial de crescimento econômico do País.” (Editorial, Estadão, 16/5/2012.)
* Voluntarismo, protecionismo, intervencionismo, ineficiência
“Quatro países sul-americanos cresceram bem mais que o Brasil, no ano passado, com taxas de inflação muito menores. Resultados melhores que os brasileiros foram alcançados também por economias emergentes da Europa. No Brasil, empresários desconhecem ou menosprezam esses dados e se mostram dispostos, mais uma vez, a embarcar na aventura de ‘um pouco mais de inflação’ para conseguir um pouco mais de crescimento – como se prosperidade e estabilidade fossem objetivos incompatíveis. (…)
“O voluntarismo, o protecionismo, a ineficiência do governo, o intervencionismo e a engorda do setor público são cada vez mais sensíveis. Sem compromisso com a reforma do péssimo sistema tributário, o governo se limita a remendos. Sua incompetência gerencial se reflete na incapacidade de conduzir programas e projetos para o aumento da produtividade geral do País. De vez em quando, empresários cobram reformas relevantes. Mas brigam a maior parte do tempo pela redução dos juros e pela correção do câmbio, como se isso resolvesse os problemas de competitividade. Obviamente não resolve. Quanto ao voluntarismo, será bem-vindo enquanto resultar em domesticação do Banco Central, reserva de mercado e formas variadas de protecionismo. O passado, em alguns países, é tão difícil de enterrar quanto um vampiro.” (Rolf Kuntz, Estadão, 16/5/2012.)
* Dilma promete fazer reforma. Até agora, só fez puxadinhos
“A presidente Dilma avisa que vai parar de discutir as reformas, que nunca saem, e que vai agir. Ela está carregada de razão. O único risco é que, como outras tantas iniciativas do seu governo, essa ação não passe de mais um item da política de puxadinhos, feita com improvisos e meias soluções, apenas para dar a impressão de que o governo faz alguma coisa.” (Celso Ming, Estadão, 17/5/2012.)
* Os números comprovam: não é o valor do dólar que garante exportações. Falta é estratégia de comércio exterior
“A análise da balança comercial nos quatro primeiros meses do ano mostra que não é mesmo o valor do dólar que garante as exportações. As vendas brasileiras tiveram aumento pífio, apesar da desvalorização cambial. Os números dizem também que o comércio foi afetado pela política protecionista argentina e pela desaceleração da China, que diminuiu o preço do minério de ferro. O Brasil continua dependente de poucos produtos.
“De janeiro a abril, o superávit comercial do Brasil caiu 35% em relação ao mesmo período de 2011. Só não recuou mais porque os Estados Unidos aumentaram a compra do nosso petróleo. A desaceleração chinesa derrubou o preço do minério de ferro, e a Argentina criou barreiras que impediram a entrada do produto brasileiro no país. Mesmo com a desvalorização do real, as exportações, pela média diária, subiram só 2% no período, e as importações cresceram 4,8%. O superávit caiu de US$ 5 bilhões para US$ 3,3 bilhões. (…)
“O Brasil ainda não tem uma estratégia de comércio exterior. O governo não parece ter entendido a eloquência desses números. O país continua tendo uma política comercial pouco ofensiva. Se a China tiver uma queda forte no crescimento será o suficiente para um resultado negativo na balança comercial.” (Míriam Leitão, O Globo, 17/5/2012.)
* Não se justifica a notável complacência do governo diante do protecionismo argentino
“Não há justificativa razoável para que o governo argentino, no bojo de uma ofensiva protecionista que vem merecendo censura de grande número de países, adote medidas que tenham como objetivo eliminar o déficit comercial com o Brasil. Os benefícios políticos da relação próxima entre Brasília e Buenos Aires não devem ser postos à prova pela escalada do protecionismo argentino nem por desdobramentos de decisões precipitadas quanto a investimentos estrangeiros na Argentina, como no caso da YPF.
“As reações de autoridades brasileiras às iniciativas argentinas violam qualquer suposição razoável sobre racionalidade na defesa dos interesses nacionais brasileiros. É notável a complacência tanto no caso da YPF – com a Petrobrás em posição exposta – quanto no do protecionismo. O banzo em relação à vertente do varguismo com afinidades peronistas é perceptível. A recente menção da presidente Dilma, na posse do ministro Brizola Neto, à sua juventude, fazendo paralelo com João Goulart, quando tomou posse na mesma pasta em 1953, é correta. Já a ênfase na ‘visão’ e no ‘grande peso político’ de Goulart não tem respaldo na história. É curioso que um governo que tem Lula como ícone – autêntico líder sindical – busque amparo em tais reminiscências do sindicalismo oficial. O reajuste do salário mínimo de 100%, proposto por Goulart em 1954, levou à sua demissão e, relutantemente endossado por Vargas, foi elemento importante na crise política que levaria o presidente ao suicídio.
“Por muito tempo as comparações entre Argentina e Brasil sublinharam a maior população brasileira e a maior renda per capita argentina. É verdade que, em 1928, a renda per capita argentina era cerca de quatro vezes a brasileira. Ainda em 2000, era o dobro. Esse quadro mudou: em 2010 já era menor do que a brasileira (Atlas, Banco Mundial). Hoje, a economia brasileira é cerca de cinco vezes a economia argentina. Fica cada vez mais difícil aceitar que o rabo abane o cachorro. As duas maiores economias do Mercosul devem se sentar à mesa e criar as condições para que o balanço de benefícios e custos do Mercosul continue a ser significativamente favorável aos dois países.” (Marcelo de Paiva Abreu, economista, Estadão, 14/5/2012.)
As Malvinas de Dilma
* Briga de governos com bancos é a “quarta onda”. Sempre tem onda em período eleitoral
”O atual embate entre o governo e os bancos privados foi batizado por dirigentes do setor financeiro de ‘quarta onda’, levando em conta as relações dessas instituições com o setor público nos últimos dez anos. Pelo ineditismo — e com a presidente da República na linha de frente — a onda atual é considerada a mais arrebatadora, embora ao longo do tempo as relações entre o governo e os bancos privados tenham gerado intensos debates, quase sempre vinculados a períodos pré-eleitorais.
“A primeira onda ocorreu em 2002, quando o então candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva citou o tema em sua campanha e criou um grupo de trabalho para estudar ações para diminuir o spread (diferença entre os custos de captação dos bancos e o que cobram de juros nos empréstimos a empresas e pessoas físicas).
“Para os banqueiros, a segunda onda começou em maio de 2003, quando o então vice-presidente José Alencar passou a se queixar dos juros altos. Sempre que podia, Alencar alfinetava o sistema financeiro e o próprio Banco Central (BC), devido à elevada taxa de juros. O discurso de Alencar foi encampado pelo ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.
“No fim de 2006 — na terceira onda — o ministro da Fazenda, Guido Mantega, lançou um pacote para reduzir o spread que não surtiu efeito e foi tachado de ‘manobra diversionista’ pelo economista-chefe da Febraban à época, Roberto Troster, que acabou deixando a entidade por causa de sua declaração. Troster mantém seu ponto de vista em relação às tentativas do governo de baixar o spread, que no Brasil supera 30%, o que põe o país na 137ª posição do ranking mundial. ‘Essa briga da presidente Dilma com os bancos é inédita, mas ela não conseguirá baixar o spread, porque os bancos não têm margem para reduzir. É mais uma onda que passará sem que os problemas estruturais do sistema sejam resolvidos’, disse Troster. ‘Esse embate ocorre sempre em ano de eleição.’” (Eliane Oliveira, O Globo, 13/5/2012.)
* Em vez de uma política consistente, o governo resolve baixar os juros na marra
“É verdade que, em muitos países, juros muito baixos, por muito tempo, e muito dinheiro disponível levaram a bolhas e excessos de gastos públicos e privados. O momento, portanto, é de maior prudência. Não decorre daí que é melhor ter crédito caro e limitado. E, se for para escolher o problema, é melhor a abundância do que a falta de crédito.
“Vamos reparar, portanto: o mundo está num período de crescimento baixo, com inflação também baixa e juros no chão. Que, neste momento, o Brasil tenha crescimento muito baixo e, ainda assim, juros altos e inflação acima da meta é um baita sinal negativo. Como isso pode ter acontecido? Quais são as causas dessa anomalia?
“Em vez de responder a essas questões com uma política consistente, o governo resolve atropelar bancos, incluindo os públicos, para forçar a queda dos juros, na marra. Parece que os juros são altos por causa da ganância dos bancos e porque os governos anteriores, incluindo o de Lula, não tinham vontade de reduzi-los.
“Reparem: até a presidente Dilma iniciar a campanha, os bancos públicos cobravam juros ‘normais’, quer dizer, parecidos com aqueles praticados nas instituições privadas. De um dia para outro, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal descobrem que podiam cobrar bem menos.
“Quer dizer que antes estavam inteiramente errados? Ora, sendo bancos públicos, era preciso que viessem a público para explicar por que não reduziram essas taxas antes e ficaram tanto tempo punindo o público com juros excessivos. Nem os bancos, muito menos o governo, deram as explicações.
“Vai ver que a redução efetiva e duradoura dos juros depende de outros fatores além da determinação da presidente. E, se for isso, todo esse barulho pode levar a duas consequências. Ou essa derrubada estaria mais no barulho do que na realidade dos clientes (muitos já reclamando das condições difíceis para obter as novas taxas). Ou os bancos públicos vão mesmo derrubar suas taxas de modo amplo e geral, o que os levará, no mínimo, a uma perda de rentabilidade e, no limite, a prejuízos. Não nos esqueçamos: Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, conduzidos politicamente, já quebraram mais de uma vez. Só o governo FHC gastou cerca de R$ 15 bilhões, dinheiro nosso, dos contribuintes, para salvar esses dois bancos.” (Carlos Alberto Sardenberg, Estadão, 14/5/2012.)
* “Reduzir os juros a fórceps vai gerar apenas mais inflação”
“A cruzada do governo pela queda da taxa de juros representa um fim nobre, mas com instrumentos inadequados. Ninguém pode celebrar as enormes taxas cobradas pelos bancos. Mas o governo erra feio na escolha dos alvos. (…)
“O governo prefere comprar uma briga com os bancos, e mandar o setor baixar as taxas na marra. E ai de quem reclamar! O governo é dono de 40% do mercado por meio dos bancos públicos, e ainda conta com outros mecanismos de pressão. Aqui aproveito para fazer um alerta contra o risco autoritário. O governo, com postura arrogante, teria exigido dos bancos uma retratação pública após uma nota da Febraban criticando as medidas estatais. Que país é este que não permite mais o contraditório? Os bancos não podem mais discordar das medidas do governo? Reduzir os juros a fórceps vai gerar apenas mais inflação.(…)
“O crédito no Brasil vem crescendo a taxas perto de 20% ao ano. Como não tivemos reformas estruturais, é claro que isso vai bater na inflação em algum momento. Na verdade, a inflação já está acima do centro da meta, que já é bastante elevado. E o crescimento econômico vem caindo. Corremos o risco de ter estagflação ou então uma bolha de crédito no país, fomentada pelo próprio governo e seu banco central subserviente (seu presidente se entrega quando chama Dilma de ‘presidenta’ em nota oficial). Depois não vai adiantar culpar os ‘loiros de olhos azuis’ e os banqueiros gananciosos pela crise…” (Rodrigo Constantino, economista, O Globo, 15/5/2012.)
A CPI, o BNDES e a Delta
* O perigo de recordes de trapalhadas, de incompetência e de má gestão de recursos públicos
“O governo agirá muito bem se evitar qualquer participação, ao lado do Grupo J & F ou de qualquer outro, na compra da Delta Construções, acusada de irregularidades em contratos com o setor público. O risco existe, embora a presidente Dilma Rousseff, segundo fonte do Palácio do Planalto, seja contrária ao envolvimento do governo na operação. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) detém 31,4% do capital do frigorífico JBS, controlado pela holding J & F. Ontem, a diretoria do banco divulgou nota para negar participação no negócio com a Delta, mas sua explicação de nenhum modo é convincente. Ao contrário, é mais um motivo de preocupação.
“‘A iniciativa do negócio’, segundo a nota, ‘partiu exclusivamente da holding da família controladora e é uma decisão privada de natureza empresarial, que não depende da anuência do BNDES e sobre a qual a instituição não foi consultada.’ O banco ‘é acionista apenas da JBS, empresa do setor de proteína animal’, e não se tornará, portanto, sócio da construtora. Essas alegações perdem toda força quando se examina a carteira do Grupo J & F. O JBS fechou o exercício de 2010 com ativos de R$ 44,7 bilhões e receita líquida de R$ 55,1 bilhões e é, de longe, a maior empresa do grupo e o seu pilar mais importante. Todas as demais empresas controladas pelo J & F, somadas, são muito menores que o frigorífico.
“O BNDES é, portanto, um componente importante do Grupo J & F, mesmo sendo acionista apenas de uma de suas empresas controladas. O poder financeiro da holding depende substancialmente do JBS e isso faz enorme diferença quando se trata de avaliar a participação do governo na compra da Delta Construções. A nota do BNDES é, portanto, preocupante por dois motivos. O primeiro é a participação de um banco público no principal pilar do pretendente a comprador de uma empresa acusada de irregularidades. O segundo é uma hipótese quase cômica. Se o negócio for consumado, esse banco nem sequer terá influência sobre a empresa comprada, por não ser sócio da holding compradora. Se a compra ocorrer, o banco será envolvido, portanto, num negócio duplamente ruim.
“Se a Delta for classificada como inidônea, o governo federal terá fornecido recursos públicos para a compra de uma empresa proibida de celebrar contratos com a União, os Estados e os municípios. Será motivo não só para mais uma CPI, mas também para a adição de três itens quase incríveis ao livro Guinness de recordes. No caso, recordes de trapalhadas, de incompetência e de má gestão de recursos públicos.
“Esse imbroglio resulta da combinação de duas séries de erros políticos e administrativos. Do lado do BNDES, há um problema de estratégia. Nada justifica a sua permanência como acionista de uma empresa como o frigorífico JBS, nem sua notória preferência por grandes grupos estatais e privados. O BNDES deveria concentrar-se no apoio à consolidação de empreendimentos, à inovação de processos e produtos, à modernização e à eliminação de gargalos. Mas tomou um caminho diferente e chegou à beira de encrencas muito sérias – quando estudou, por exemplo, o apoio à compra de uma rede estrangeira de supermercados por um grupo nacional.
“A segunda série de erros está ligada à péssima gestão dos financiamentos do setor público. A Delta Construções tornou-se a principal empreiteira de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), entregue no governo anterior à responsabilidade da ministra Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil da Presidência da República.
“Numerosas irregularidades foram identificadas pela Controladoria-Geral da União entre 2007 e 2010, mas a empresa continuou obtendo contratos com o governo federal no ano passado, quando a ‘Mãe do PAC’ já havia assumido a Presidência da República. Ou ela não sabia dos problemas – e como poderia não saber? – ou preferiu menosprezá-los, como se fossem irrelevantes. Falta explicar essa longa história de irregularidades e, mais que isso, de negligência em relação às denúncias. Não se deveria fazer do caso Delta um penduricalho da CPI do caso Cachoeira. Os escândalos da Delta valem por si mesmos uma investigação muito séria. (Editorial, Estadão, 11/5/2012.)
* O desperdício de dinheiro público, a Delta e o capitalismo de companheiros
“Atingida pelo escândalo da descoberta do esquema mafioso de Carlinhos Cachoeira, a empreiteira Delta, campeã de obras no PAC, entrou em rota para o colapso. Sem crédito nos bancos, a empresa começou a repassar contratos — o de participação na reforma do Maracanã foi um deles —, e tornou-se questão de tempo a falência. Sem credibilidade junto a bancos e governos não há empreiteira que resista. A surpreendente decisão do grupo J&S de comprar a construtora poderia ser motivo de alívio, por salvar empregos. Mas gerou problemas para o governo federal, ao levantar suspeitas de envolvimento político em um negócio que teria sido desenhado, acusa-se, para salvar o dono da empreiteira, Fernando Cavendish. (…)
“A operação se candidata a ser exemplo de distorções causadas toda vez que o Estado resolve interferir no mercado privado a fim de induzir o crescimento de empresários escolhidos para serem os tais ‘campeões nacionais’. No setor de frigoríficos, agora em destaque devido à polêmica em torno da Delta, o BNDES já empatou — e perdeu — dinheiro público.
“Nos últimos 30 anos fortaleceu-se no Brasil, ao lado do grande aparato financeiro estatal, um forte braço sindical envolvido em bilionários investimentos, os fundos de pensão de estatais. Previ, Petros e outros atuam no alto mundo dos negócios, algumas vezes juntos com o BNDES. A escolha dos investimentos não é transparente, até porque os fundos, por lei, são entidades privadas. E o BNDES, por sua vez, não se notabiliza por ser translúcido. Se todo este cenário for analisado de um plano mais elevado, constata-se que há no Brasil instrumentos para a prática daquilo que os americanos chamam de ‘crony capitalism’, capitalismo entre amigos ou, mais adequado para o Brasil, ‘capitalismo de companheiros’. O Ministério Público Federal do Rio deseja barrar o negócio, porque há evidências de fraudes cometidas pela Delta no relacionamento com Cachoeira. O mesmo pedido é feito pelo deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) à Procuradoria-Geral da República. Falta mesmo projetar luz sobre toda esta história.” (Editorial, O Globo, 12/5/2012.)
A CPI e os mensaleiros
* Facções do PT insistem em manipular a CPI
“Continuam as manobras de facções radicais do PT, ligadas aos mensaleiros, para usar a CPI do Cachoeira com objetivos sem qualquer relação com o escândalo da montagem pelo contraventor goiano de uma rede de influência em todos os poderes da República. Uma das intenções é constranger o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, por ser ele o responsável pelo encaminhamento da denúncia do Ministério Público Federal contra os envolvidos no esquema de troca de dinheiro sujo — inclusive público — por apoio parlamentar ao governo, na primeira gestão de Lula.
“Estes grupos começaram a pressionar Gurgel quando, no estouro do escândalo, com a descoberta da proximidade entre Carlinhos Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (GO), foi noticiado que o procurador-geral recebera em 2009 o inquérito da Operação Las Vegas, da PF, e nada fizera. Nele já havia registros da afinidade da dupla. Instalada a CPI, as facções partiram para tentar uma convocação de Gurgel ou convite. Não importava, contanto que o procurador-geral da República comparecesse perante os holofotes da comissão, para certamente ouvir toda sorte de provocações de representantes dos mensaleiros. (…)
“Como o objetivo é político e de constrangimento pessoal, não adiantou, também, Gurgel explicar, antes do depoimento do delegado, que, por lei, ele não pode falar acerca de inquéritos sobre os quais se pronunciará como procurador da República. Também é de fundo político-ideológico a definição por esta facção radical, minoritária no PT, de um segundo alvo na CPI: a imprensa independente. O fato de Cachoeira ter sido fonte de denúncias publicadas pela revista Veja contrárias a interesses do grupo leva à tentativa de conversão da comissão num exótico tribunal de julgamento do jornalismo profissional.
“Parece uma forma de buscar alguma vantagem no tapetão político depois que as tentativas institucionais de manietar a imprensa se frustraram. Dilma, como Lula, se mantém distante dessas aventuras, numa demonstração de maturidade. (…)
“Fariam melhor os radicais se gastassem tempo e energia fazendo a CPI funcionar para de fato mapear as conexões do crime organizado dentro do Estado brasileiro.” (Editorial, O Globo, 11/5/2012.)
Incompetência, ineficiência
* Para termos as 6 mil creches prometidas, só falta um pequeno detalhe: construir as creches.
“Só falta um detalhe para os brasileiros poderem festejar a construção de 6 mil creches até o fim de 2014, uma promessa de campanha repetida várias vezes pela presidente Dilma Rousseff e reafirmada em seu discurso do Dia das Mães. Esse detalhe é muito simples: o governo precisa apenas tomar as providências necessárias para a realização das obras. Mas deve fazê-lo com rapidez, porque a presidente já cumpriu quase um ano e meio de mandato e esse programa, como tantos outros anunciados pela administração federal, continua emperrado. Sem mudanças muito sérias na gestão de programas e projetos, a construção de creches e pré-escolas será um fracasso tão grande quanto as obras da Copa, outro compromisso reiterado nos últimos dias.
“O quadro já seria bem melhor se o Proinfância, lançado em 2007, na gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tivesse avançado um pouco mais rapidamente. Foram aprovadas a partir daquele ano 4.035 obras para atendimento a crianças em idade pré-escolar. Em março de 2012 o Ministério da Educação anunciou já terem sido entregues 221 inteiramente concluídas. Esse número equivale a 5% das aprovadas para inclusão no programa de financiamentos. O total subiria para 258, se fossem contadas 37 unidades com obras muito próximas da conclusão, mas isso ainda representaria só 6,4% dos projetos aprovados. Em 2007, ano de lançamento do Proinfância, o presidente Lula comprometeu o Brasil com a realização da Copa do Mundo e, portanto, com grandes investimentos em estádios, aeroportos, hotéis e sistemas de mobilidade urbana. Os resultados são muito parecidos nos dois casos, mas os pronunciamentos a favor das criancinhas foram mais raros e mais suaves. Faltou um Jerôme Valcke, da Fifa, para receitar um chute no traseiro das autoridades educacionais.
“Para cumprir sua promessa de campanha, a presidente Dilma Rousseff deveria ter dado maior impulso ao Proinfância ou passado a limpo todo o programa para garantir uma execução mais eficaz. A única novidade, no entanto, foi o compromisso de construção de 6 mil creches em quatro anos. Na prática, nenhum efeito sensível.
“Em 2011, primeiro ano de governo, R$ 891 milhões foram autorizados no orçamento e R$ 308,3 milhões foram pagos. Mas o ano terminou sem a conclusão de uma única obra. Todo o valor foi empenhado, isto é, formalmente comprometido com a execução de projetos, e R$ 582,3 milhões sobraram para 2012 como restos a pagar. Mas também o desembolso desse dinheiro, assim como o das verbas incluídas no orçamento deste ano, dependerá do ritmo das obras. Como no caso dos projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o cenário é de muita ineficiência, quando se trata de creches e unidades de pré-escola. (Editorial, Estadão, 15/5/2012.)
* O pedágio das rodovias federais é baratinho. Agora, obra, que é bom, nada
“No primeiro grande leilão de concessão de rodovias federais ficou estabelecido que somente depois de seis meses, durante os quais obras emergenciais seriam concluídas, é que as concessionárias poderiam ser autorizadas pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) a cobrar pedágio. Contudo, relatório há pouco divulgado pela Controladoria-Geral da União (CGU), registra que seis das sete rodovias entregues à gestão privada a partir de 2008, passaram a cobrar o pedágio antes de cumpridas plenamente as obrigações exigidas nos contratos. (…)
“Aquele leilão, que abrangeu importantes eixos rodoviários do País, como as Rodovias Fernão Dias e Régis Bittencourt, foi marcado por tarifas que ficaram abaixo do mínimo previsto – era o chamado ‘pedágio de R$ 1’, contrastando com o valor mais elevado cobrado nas rodovias paulistas. O relatório da CGU afirma que a concessão foi feita quando persistiam 38 problemas nas rodovias, incluindo buracos no asfalto, desnível de acostamentos, falta de iluminação, deficiência de sistemas de drenagem, etc. (…)
“Constata-se, porém, que, tanto na rodovia Fernão Dias como na Régis Bittencourt, algumas obras básicas continuam sendo realizadas até hoje. Mondolfo admite que a transferência das rodovias para a administração privada não deve ser encarada como solução final para os problemas. Convém lembrar que, quando foram concedidas as rodovias federais, técnicos do setor advertiram que as tarifas previstas não eram suficientes para que as concessionárias pudessem realizar, em um prazo relativamente curto, todas as obras necessárias para melhorar as condições de tráfego e segurança. Tendo feito do pedágio reduzido o critério básico da licitação, o governo federal pode ter evitado a impopularidade advinda de tarifas mais altas, mas, com isso, adiou a solução de problemas estruturais e de conservação das rodovias.
“Muito diferente tem sido a opção do Estado de São Paulo, que tem preferido fazer as concessões pelo maior valor de outorga, mantida a exigência de padrões de qualidade, sendo o preço do pedágio fixado de acordo com o valor dos investimentos necessários. Isso torna as rodovias autossustentáveis. Com isso, não só o governo arrecada mais, podendo utilizar mais recursos para tocar outros projetos, como garante que investimentos sejam feitos em obras de construção e manutenção nas estradas paulistas, de modo a manter o alto padrão de qualidade que apresentam. Resta esperar que o governo federal, se e quando promover novas licitações de rodovias, leve em consideração a experiência já adquirida.” ((Editorial, Estadão, 15/5/2012.)
E dá-lhe Febeapá
* Quando acusam pagadodeiro, craque e funkeiro de racismo, a coisa tá preta
“Quando um pagodeiro, um jogador de futebol e um funkeiro, fantasiados degorilas e cercados por popozudas de biquíni à beira de uma piscina, se divertem em um clipe do pagode Kong, e são acusados de racismo e sexismo pelo Ministério Público Federal em Uberlândia por ‘unir artistas e atletas em um conjunto de estereótipos contra a sociedade, comprometendo o trabalho contra o preconceito’, a coisa tá preta.
“Alexandre Pires não é só um pagodeiro, é cantor romântico milionário, com carreira internacional, queridíssimo do público. Funkeiro é só um pouco de Mr. Catra, figuraça da cena musical carioca, rapper famoso nacionalmente por suas letras contundentes e suas paródias. E não é só um jogador de futebol: é Neymar. Não por acaso, uns mais e outros menos, são todos negros, ricos e famosos por seu talento, ídolos das novas gerações do Brasil mestiço. Já o procurador é branco, preocupado em proteger os negros para que não façam mal a eles mesmos.
“Assim como a beleza, o preconceito também está nos olhos de quem vê. Quem ousaria associar o genial Neymar, o galã Alexandre e o marrentíssimo Mr. Catra a macacos? Só um racista invejoso. Quem se incomoda com piadas e brincadeiras com jogadores de futebol, pagodeiros, funkeiros e marias-chuteira? Logo vão proibir o Criolo de usar o seu nome artístico. (Nelson Motta, Estadão e O Globo, 11/5/2012.)
18 de maio de 2012
Outros apanhados de provas de incompetência de Dilma e do governo:
Volume 30 – Notícias de 25/11 a 1º/12
Volume 31 – Notícias de 2 a 8/12.
Volume 32 – Notícias de 9 a 15/12.
Volume 33 – Notícias 16 a 29/12.
Volume 34 – Notícias de 30/12/2011 a 5/1/2012.
Volume 35 – Notícias de 6 a 12/1.
Volume 36 – Notícias de 13 a 19/1.
Volume 37 – Notícias de 20/1 a 26/1.
Volume 38 – Notícias de 27/1 a 2/2.
Volume 39 – Notícias de 3 a 9/2.
Volume 40 – Notícias de 10 a 23/2.
Volume 41 – Notícias de 24/2 a 1º/3.
Volume 42 – Notícias de 2 a 8/3.
Volume 43 – Notícias de 9 a 15/3.
Volume 44 – Notícias de 16 a 22/3.
Volume 45 – Notícias de 23 a 29/3.
Volume 46 – Notícias de 30/3 a 5/4.
Volume 47 – Noticias de 6 a 12/4.
Volume 48 – Notícias de 13 a 19/4.
Volume 49 – Notícias de 20 a 26/4.
Volume 50 – Notícias de 27/4 a 3/5.
Volume 51 – Notícias de 4 a 10/5.
Mas claro que melhorou e como melhorou!
Mas pelo lado que comnpete à iniciativa privada que são os publicitários que estão ali para ganhar o seu dinheiro.
Compete a quem contrata os serviços, a definição do que é correto ou não sob o ponto de vista ideológico.
E é claro, se temos um ponto de vista ideológico de esquerda, claro que vamos mentir sempre!
Leiam o blogdojamellow.blogspot.com