Havia sangue no asfalto e cadáveres espalhados pela berma, junto ao mato europeu. Sangue e cadáveres desfilavam a 24 imagens por segundo num cine-esplanada do Lobito. Continue lendo “Um fim de semana com Godard”
Entra o urso
Como pode comover-nos o que não nos arranca um sorriso? Shakespeare usou um truque. No The Winter’s Tale, quando a tragédia é já insustentável, entra um urso. Continue lendo “Entra o urso”
O cinema é um lugar perigoso
O produtor Walter Wanger puxou da pistola e, logo ali, em pleno estúdio, espetou um balázio no agente Jennings Lang que tombou redondo, mas não morto. Um só tiro. Por honra da firma. Continue lendo “O cinema é um lugar perigoso”
As pedras de Charlie Chaplin
Foi Chaplin que atirou a primeira pedra. Uma montra imensa estilhaça-se em Atenas, um paralelepípedo da calçada parte a janela de um ministério e é ainda a mão de Chaplin que a lança.
Temo que Robert Redford não se aguente
Confesso: enganei-me. Há três anos, em conversa musculada e gritada com um amigo meu que é economista, jurei que a crise larvar de 2008 era o sonho húmido de um pessimista. Profético, berrei: “Vai passar! Vêm aí tempos de leite e mel.” O meu amigo, teimoso como burro, insistiu. E eu atirei um prato ao chão só para não lhe dar com ele na cabeça. Continue lendo “Temo que Robert Redford não se aguente”
Onde é que se metem os narizes
De boca fechada já tinha havido muitos. A primeira vez que os amantes abriram a boca foi em Flesh and the Devil (*). E não foi para falar, que o filme ainda era mudo.
De Niro não é um animal
O europeu Passos Coelho queixou-se há tempos de um murro no estômago. Com um murro em cheio na cara começa a história de Jake la Motta, em Raging Bull (*). O filme é desse nervoso genial e miudinho chamado Scorsese. Continue lendo “De Niro não é um animal”
Uma agulha no coração
Arrisco uma definição: o cinema é aquilo de que nos lembramos depois de esquecermos tudo o que aprendemos. Continue lendo “Uma agulha no coração”
A voz de Cary Grant
Entra pelos ouvidos. Mas quando não entra por um e sai pelo outro, para onde é que vai a voz de quem fala connosco?
A voz de Cary Grant, quero é falar da voz de Cary Grant. Continue lendo “A voz de Cary Grant”
Um novo sotaque no 50 Anos
O 50 Anos de Textos está ganhando um novo colaborador – e, com ele, um novo sotaque. Aqui já havia o sotaque mineiro de seis dos autores (embora só um dos seis viva hoje nas Minas Gerais, os outros cinco tendo saído, confirmando a velha tese de que Minas exporta mineiros e minérios), o paulista de cinco, o paraense de um e até um leve remanescente da Itália da origem de um. Continue lendo “Um novo sotaque no 50 Anos”
Manuel era um morto
Quando conheci Manuel S. Fonseca ele era um morto e nada me indicou o bem querer que chegaria. Idades, amigos, hábitos, afazeres, nacionalidades diferentes. Continue lendo “Manuel era um morto”
Obrigado, Leon
O que pode significar uma mostra de cinema? Na minha vida, a Mostra de Cinema de São Paulo significou quase tudo. Continue lendo “Obrigado, Leon”
Femme fatale, sombras do gozo
O feminino sempre foi o obscuro da psicanálise. Freud inquietou-se a ponto de esbravejar: “o que quer a mulher?”, impossível resposta, afiançou Lacan, traduzindo a pergunta para um mais possível: O que quer uma mulher? Continue lendo “Femme fatale, sombras do gozo”
Liz
Liz Taylor entrou na minha vida com o nome de Leslie. Era uma moça rica do Norte chique, da Nova Inglaterra; um fazendeiro grandão do Texas foi visitar o pai dela, para comprar cavalos. Leslie encantou-se com o cara. O cara, e eu, e mais milhões de pessoas do mundo inteiro nos apaixonamos perdidamente por ela. Continue lendo “Liz”
Montand, Semprun, o Brasil e eu
Aquilo deve ter sido, sem dúvida, uma coisa louca, inimaginável, emocionante, de arrepiar, de dar taquicardia: no Maracanãzinho lotado, Yves Montand anuncia que vai apresentar “Les Bijoux”, de Baudelaire. Continue lendo “Montand, Semprun, o Brasil e eu”