Tinha uma cabeçada demolidora. Lisboa já não seria bem um pátio das cantigas. Mas ainda havia restos de Vascos Santanas nas leitarias de Alcântara e nas tascas da Madragoa. O atávico leão da Estrela já era. Lisboa tinha agora um SLB campeão europeu que pintava a cidade de vermelho. Continue lendo “O comunista inveterado”
Um bando de frustrados sexuais
Jorge de Sena dizia que, por vezes, os franceses nos tiram o ar todo com um sublime soco no estômago. Falava de literatura e poderia muito bem estar a falar da beleza celerada de um verso de Rimbaud. Pego-lhe nas palavras para começar a falar da beleza celerada de Paul Gégauff, poeta dos argumentos dos filmes da Nouvelle Vague que construíram o torpe imaginário da minha geração. Continue lendo “Um bando de frustrados sexuais”
Brigitte Bardot casou virgem
Brigitte Bardot é a antítese – antítese marxista, mesmo – de Marilyn Monroe. O léxico de BB nem sequer incluía a palavra “sexo”; já o léxico de Marilyn não precisava de mais nenhuma. Continue lendo “Brigitte Bardot casou virgem”
A camisa limpinha de Robert Redford
Isso do nada se cria, nada se perde, tudo se transforma também tem os seus limites. Lavoisier, está visto, não conhecia Robert Redford, que é, digamos, um William Holden dos últimos 50 anos do cinema americano. Continue lendo “A camisa limpinha de Robert Redford”
Insultos
Tiros de canhão ou finos punhais, os insultos, na velha e clássica Hollywood, deram histórias saborosas. Conto.
metade de Garbo é muito melhor do que um Mayer inteiro Continue lendo “Insultos”
O vício é que educa
Os filmes só amam os livros quando os amam com segredo e reserva. Não me venham falar do Clube dos Poetas Mortos, execrável exibição circense do acto e do prazer da leitura. Confesso que tenho uma aversão parecida às sessões de leitura de poesia. Continue lendo “O vício é que educa”
Esta mãe morta parece apenas que dorme
Quando vemos, num filme, uma personagem que dorme, sabemos que estamos a ver um actor a fingir que dorme. Em A Palavra, de Dreyer, há uma mãe morta, num caixão aberto. Está morta, dizem, mas para a filha, criança inocente, e para o tio louco, esta mãe morta parece apenas que dorme. Continue lendo “Esta mãe morta parece apenas que dorme”
O homem que vai morrer
Toda a morte no cinema tem os paroxismos do “Adagio” de Albinoni. Um aviso: estou a pensar na morte dos actores, na verdadeira morte de cada um deles, que é o último filme que fazem. Continue lendo “O homem que vai morrer”
Um bocado bruto de realidade
Ainda hoje, a meio de um filme, quando acordo sobressaltado do delicioso embalo de sono de um minuto, fico ali a pensar que estou a ver no ecrã a mais pura realidade, que aquelas sombras não são actores, mas sim pessoas a viver mesmo o que, por isso, tão bem representam. Continue lendo “Um bocado bruto de realidade”
Não era rico, era monopolista
O cinema não me deu tudo. O tempo que julgo ver nos filmes talvez seja a ideia de tempo que lhes dou eu por já a levar da vida. Dos 10 aos 15 anos, no liceu, com excepção das aulas, todo o tempo foi meu. De um total anual de 8.760 horas, 7.880 gozei-as como e quando quis, senhor e dono de 90% do meu tempo. Não era rico, era monopolista. Continue lendo “Não era rico, era monopolista”
Os tiros fizeram do carro um passador
Quando a conheci, já ela morrera há sessenta anos. Conheci a Bonnie que Clyde amou, em 1994, na mansão de um big shot do cinema, em Beverly Hills. Sábado e sol de Maio, duas bandas de jazz, vastos relvados, as mesas sob toldos protectores. Podia ser a festa do crisma do filho de Michael Corleone, no Godfather part II. Continue lendo “Os tiros fizeram do carro um passador”
O Al Capone que Brian De Palma não filmou
Entrou em Alcatraz e o director da prisão não voltou a ter sossego. Choviam telefonemas e visitas. Al Capone era, em 1934, o que ontem foi um O. J. Simpson e hoje é o caso BES. Continue lendo “O Al Capone que Brian De Palma não filmou”
O charlatão gentil
Foi um charlatão, ápodo que se dá a certos homens de talento. Orson Welles, deslumbrado, filmou-o em F for Fake. Chamemos-lhe, como ele se auto-baptizou, Elmyr de Hory. Continue lendo “O charlatão gentil”
Ninguém é profeta na sua terra
Fui um libertário. Não era só pôr flores na cabeça como vinha nas fotografias autorizadas de Woodstock. Despi-me, como ainda não sabíamos que se tinham despido em Woodstock, para irmos, boys and girls, tomar banho nus e de meia-noite, mais ou menos por ali onde agora José Eduardo dos Santos tem o seu Futungo. Continue lendo “Ninguém é profeta na sua terra”
Na beleza de um, a beleza do outro
Ela meteu-lhe os dedos à boca e salvou-lhe a vida. É bom que se saiba que eles se amaram. Podem não se ter amado em géneros, mas fosse qual fosse o amor que se tiveram, Elizabeth Taylor e Montgomery Clift amaram-se. O coup de foudre aconteceu-lhes em A Place in the Sun, filme encandeado pela beleza dos rostos deles. Continue lendo “Na beleza de um, a beleza do outro”