O comunista inveterado

Tinha uma cabe­çada demo­li­dora. Lis­boa já não seria bem um pátio das can­ti­gas. Mas ainda havia res­tos de Vas­cos San­ta­nas nas lei­ta­rias de Alcân­tara e nas tas­cas da Madra­goa. O atá­vico leão da Estrela já era. Lis­boa tinha agora um SLB cam­peão euro­peu que pin­tava a cidade de ver­me­lho. Continue lendo “O comunista inveterado”

Um bando de frustrados sexuais

Jorge de Sena dizia que, por vezes, os fran­ce­ses nos tiram o ar todo com um sublime soco no estô­mago. Falava de lite­ra­tura e pode­ria muito bem estar a falar da beleza cele­rada de um verso de Rim­baud. Pego-lhe nas pala­vras para come­çar a falar da beleza cele­rada de Paul Gégauff, poeta dos argu­men­tos dos fil­mes da Nou­velle Vague que cons­truí­ram o torpe ima­gi­ná­rio da minha geração. Continue lendo “Um bando de frustrados sexuais”

Insultos

Tiros de canhão ou finos punhais, os insul­tos, na velha e clás­sica Hollywood, deram his­tó­rias sabo­ro­sas. Conto.

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metade de Garbo é muito melhor do que um Mayer inteiro Continue lendo “Insultos”

O vício é que educa

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Os fil­mes só amam os livros quando os amam com segredo e reserva. Não me venham falar do Clube dos Poe­tas Mor­tos, exe­crá­vel exi­bi­ção cir­cense do acto e do pra­zer da lei­tura. Con­fesso que tenho uma aver­são pare­cida às ses­sões de lei­tura de poe­sia. Continue lendo “O vício é que educa”

Esta mãe morta parece apenas que dorme

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Quando vemos, num filme, uma per­so­na­gem que dorme, sabe­mos que esta­mos a ver um actor a fin­gir que dorme. Em A Pala­vra, de Dreyer, há uma mãe morta, num cai­xão aberto. Está morta, dizem, mas para a filha, cri­ança ino­cente, e para o tio louco, esta mãe morta parece ape­nas que dorme. Continue lendo “Esta mãe morta parece apenas que dorme”

Um bocado bruto de realidade

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Ainda hoje, a meio de um filme, quando acordo sobres­sal­tado do deli­ci­oso embalo de sono de um minuto, fico ali a pen­sar que estou a ver no ecrã a mais pura rea­li­dade, que aque­las som­bras não são acto­res, mas sim pes­soas a viver mesmo o que, por isso, tão bem representam. Continue lendo “Um bocado bruto de realidade”

Não era rico, era monopolista

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O cinema não me deu tudo. O tempo que julgo ver nos fil­mes tal­vez seja a ideia de tempo que lhes dou eu por já a levar da vida. Dos 10 aos 15 anos, no liceu, com excep­ção das aulas, todo o tempo foi meu. De um total anual de 8.760 horas, 7.880 gozei-as como e quando quis, senhor e dono de 90% do meu tempo. Não era rico, era mono­po­lista. Continue lendo “Não era rico, era monopolista”

Os tiros fizeram do carro um passador

Faye Dunaway and Warren Beatty in Bonnie and Clyde, 1967. (Evere

Quando a conheci, já ela mor­rera há ses­senta anos. Conheci a Bon­nie que Clyde amou, em 1994, na man­são de um big shot do cinema, em Beverly Hills. Sábado e sol de Maio, duas ban­das de jazz, vas­tos rel­va­dos, as mesas sob tol­dos pro­tec­to­res. Podia ser a festa do crisma do filho de Michael Cor­le­one, no God­father part II. Continue lendo “Os tiros fizeram do carro um passador”

Ninguém é profeta na sua terra

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Fui um liber­tá­rio. Não era só pôr flo­res na cabeça como vinha nas foto­gra­fias auto­ri­za­das de Woods­tock. Despi-me, como ainda não sabía­mos que se tinham des­pido em Woods­tock, para irmos, boys and girls, tomar banho nus e de meia-noite, mais ou menos por ali onde agora José Edu­ardo dos San­tos tem o seu Futungo. Continue lendo “Ninguém é profeta na sua terra”

Na beleza de um, a beleza do outro

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Ela meteu-lhe os dedos à boca e salvou-lhe a vida. É bom que se saiba que eles se ama­ram. Podem não se ter amado em géne­ros, mas fosse qual fosse o amor que se tive­ram, Eli­za­beth Tay­lor e Mont­go­mery Clift amaram-se. O coup de fou­dre aconteceu-lhes em A Place in the Sun, filme encan­de­ado pela beleza dos ros­tos deles. Continue lendo “Na beleza de um, a beleza do outro”