Não conheço nenhum americano que beba Pernod. Só ele, já velho, para desenjoar do mar de whisky e tequila em que passara anos a boiar. Apresento-vos Robert Mitchum, um rio tranquilo. Talvez, por isso, podia beber sem limites. O realizador Sydney Pollack diz que Bob bebia o dia todo sem que o nível de consciência e comportamento se alterasse. Continue lendo “Era um homem”
A indetectável Hedy Lamarr
Volto à cama onde deixei Hedy Lamarr. Fumávamos com ela o posterior cigarro que sempre se fuma quando na nossa baixa humanidade se inscreve uma certa branca e irredutível alegria. Continue lendo “A indetectável Hedy Lamarr”
E o cinema fumou
Devemos-lhe o mudo sobressalto do primeiro orgasmo que o cinema filmou. Bastaria para ter um halo de aventureira santidade sobre a cabeça. Um igualzinho ao de Nossa Senhora, e não me leva a Senhora a mal, que a humanidade que somos tanto quer a felicidade no céu como na terra. Continue lendo “E o cinema fumou”
O morto de domingo
Hitchcock matou muita gente. Não me venham dizer que isso não faz dele um criminoso da pior espécie. Continue lendo “O morto de domingo”
Como é que choro?
Voltamos sempre às mesmas discussões. Há sempre a remota hipótese de o PCP estar enganado e a Coreia do Norte não ser uma democracia. E mesmo que uma inesperada maioria da Assembleia da República fuja com o rabo à seringa, uma injecção de “Estado de Direito” no regime de Luanda era coisa que os nossos irmãos angolanos agradeceriam. Outra velha e amena discussão é a da qualidade artística de Hollywood. Continue lendo “Como é que choro?”
Louvor do tráfico
Ao escrever no Expresso, não faço mais do que dar aos jornais o que os jornais me deram a mim. Quando era adolescente, com aspirações a James Dean, vi em Luanda filmes que não devia ver. Não por serem proibidos. Sucede que os lugares em que me sentava eram os de alguém que não tinha ido. Continue lendo “Louvor do tráfico”
A freira e o pecado
Rose Pacatte tem uma cara redonda, diria até bonacheirona, se o sufixo não fosse desgraciosamente aumentativo. Rose tem essa cara saudável e sorridente que eu já disse e umas brancas mãos papudinhas. É, perceberam bem, uma gordinha luminosa. E ficam agora a saber que Rose Pacatte é freira. Americana e católica. Continue lendo “A freira e o pecado”
Já viste a Mona Lisa?
E se a história do cinema fosse só a recorrente variação da mais famosa tela do mundo? Imaginem que estão a falar com Daniel Arasse, historiador de arte francês, falecido em 2003. Mesmo morto é um provocador. “Já viste a Mona Lisa?”, diz ele, avisando-me: “Deixa-me descrever o quadro e não te admires do monte de coisas que vais admitir nunca ter visto.” Continue lendo “Já viste a Mona Lisa?”
Cavaleiro de copas
Vejo cinema de forma errada. Fui ver Cavaleiro de Copas e minutos depois já nem me lembrava que era de Terrence Malick, porque o filme já era meu. A crítica queixou-se da ausência de história, de narrativa. E eu ali, enterrado na cadeira, esgazeado com o excesso de histórias a entrelaçarem-se, como mil fios de sisal a fazer uma corda grossa e boa para amarrar o raio da narrativa fugidia. Continue lendo “Cavaleiro de copas”
Aldeia em fogo
Podemos recordar 1913 de muitas maneiras. Nesse ano, Apollinaire escreveu um ensaio, “Os Pintores Cubistas, Meditações Estéticas”, que logo nos diz em que alvoroço artístico andava a Europa. Freud publicou “Totem e Tabu”. Era um mundo antigo à procura de sensações novas. Continue lendo “Aldeia em fogo”
O gládio e a pena
Vi os Oscars e veio-me à cabeça escrever sobre Norman Mailer. Melhor, lembrei-me da amante dele, Carole. Continue lendo “O gládio e a pena”
O actor bebé
Ando a tentar lembrar-me do que me disse a Virgem Maria quando eu nasci. É provável que não me tenha dito nada, o que me deixa meio ofendido, porque, mal tinha nascido, Marcello Mastroianni ouviu-a dizer: “És daqueles que vai ficar bebé para sempre e tornar-se actor.” Continue lendo “O actor bebé”
Vice-versa
Dorothy Parker escreveu poesia, contos e também muita sátira. Bichos-caretas como eu, que conheçam um terço da história da New Yorker, sabem que ela foi uma das almas, não necessariamente penadas, dessa famosa revista. Continue lendo “Vice-versa”
A morte cansada
Não vou falar dele, mas vou dizer o nome dele: Ronald Reagan. Para os leitores bebés do Expresso que andam na casa dos 30, acrescento que, além de presidente, Reagan foi também actor. Continue lendo “A morte cansada”
Cheiras muito a Quinta Avenida
Oito da manhã ou oito da noite, com Dorothy Dandridge todas as horas eram sensuais. Continue lendo “Cheiras muito a Quinta Avenida”