Os últimos sete dias não foram especialmente cheios de boas notícias para a presidente Dilma Rousseff. Na sexta, 5 de setembro, os portais dos grandes jornais começaram a trazer as revelações feitas ao Ministério Público pelo ex-diretor da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, sobre o mar de lama instalado, durante os três governos petistas, na maior empresa brasileira.
“Em resumo, durante oito anos – de 2004 a 2012 – os contratos da maior empresa brasileira com grandes empreiteiras eram usados como fonte de propina para funcionários, partidos e políticos. Uma espécie de mensalão 2.0”, escreveu Dora Kramer no Estadão. “Desta vez, no entanto, o acusador envolve em sua rede de relações gente grande da República: os presidentes da Câmara e do Senado, ministros de Estado, senadores, governadores e até o ex-presidente Luiz Inácio da Silva com quem, segundo ele, costumava se reunir frequentemente.”
“Pelo que já se sabe, o que Costa narra aos seus inquiridores é que a operação montada dentro da Petrobrás reproduz o mecanismo do mensalão, em volume bem maior, com os mesmos partidos da base governista – PT, PP e PMDB -, que tiveram dirigentes condenados e presos”, escreveu João Bosco Rabello no Estadão. “Por isso, nos meios políticos , o esquema da Petrobrás é tratado como uma extensão do mensalão, por reproduzir meios, fins e personagens envolvidos em desvios de recursos públicos para financiamento de campanhas e também para enriquecimento pessoal.”
Em editorial, O Globo afirmou: “Não se podia esperar que o mesmo grupo do PT responsável pela operação fraudulenta repetiria o delito e, talvez, até em maiores dimensões. Se, no primeiro mensalão, aproveitou-se um aparelho sindical petista montado na diretoria do Banco do Brasil a fim de bombear recursos da instituição estatal para a lavanderia de Marcos Valério, desta vez a estatal saqueada foi a Petrobrás. E o destino dos recursos surrupiados, segundo depoimentos sigilosos vazados, feitos ao Ministério Público por Paulo Roberto Costa, ex-diretor da empresa, foi o mesmo: políticos da base governamental, especificamente do PT, PMDB e PP.”
E o que tem a dizer sobre isso a gerente competente que há 12 anos manda em quem manda na Petrobrás? O Estadão sintetizou em editorial: “A presidente fez a respeito do esquema (de roubalheira na Petrobrás) afirmações, estas sim, de estarrecer. Pelo cinismo, em primeiro lugar. ‘Eu não tinha a menor idéia de que isso ocorria dentro da empresa’, sustentou, de cara lavada. A ex-ministra de Minas e Energia e ex-titular da Casa Civil do governo Lula – e, nessa condição, presidente do Conselho de Administração da Petrobrás, a sua mais alta instância decisória – não pode se passar por nefelibata, vivendo nas nuvens.”
Dilma vive nas nuvens. Bom dia, ela diz – e logo se contradiz.
Dilma se enrola, se contradiz, se desmente.
Como escreveu Dora Kramer: “São tantos os vaivéns e tão grande a quantidade de dissimulações com as quais a presidente Dilma Rousseff precisa lidar ao mesmo tempo, que ela não está mais conseguindo manter as aparências. Os fatos não correspondem aos atos, as palavras não guardam relação com as evidências, as perguntas vão para um lado, as respostas caminham no sentido oposto – isso quando fazem algum sentido. Cai em contradição a ponto de desmentir a si mais de uma vez na mesma conversa.”
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Ainda na quinta-feira, 4 de setembro, Dilma Rousseff tinha inovado: fritou publicamente o ministro da Fazenda, Guido Mantega. “Governo novo, equipe nova”, afirmou ela, ao ser questionada se Mantega permaneceria num eventual segundo mandato.
No domingo, 7 de setembro, talvez por conselho de marqueteiro, para tentar despistar as atenções do mar de lama sob seus pés na Petrobrás, Dilma Rousseff renovou a demissão pública de seu ministério.
No Globo, José Casado sintetizou: “Nunca antes ‘na história dos anos recentes deste país’, como ela diz, um presidente insistiu em anunciar o fim de seu governo com tanta antecedência e de forma, para alguns, vexatória. Dilma inovou ao criar 39 ministros-zumbi na Esplanada a um trimestre do fim do mandato, sem razões práticas e objetivas. Se queria sinalizar uma ‘nova política’, não funcionou. Se pretendia uma recomposição com o empresariado, como deseja Lula, iludiu-se porque a principal característica de Mantega foi — e continua sendo — cumprir ordens. Dilma raramente delegou, sempre interferiu na condução da política econômica. É da sua lavra a economia que está aí, recessiva e com alta inflação. Foram suas as principais decisões que levaram as contas nacionais ao obscurantismo, como adverte o Tribunal de Contas da União no mais recente relatório: ‘O acompanhamento e o controle têm-se tornado verdadeiros desafios aos órgãos de fiscalização e à sociedade (…) mudanças metodológicas e transações atípicas cada vez mais complexas vêm contribuindo para reduzir a transparência e dificultar o entendimento (…) A estabilidade macroeconômica é um bem público, conquistado à custa de um forte ajuste fiscal suportado por toda a sociedade brasileira em um passado recente. A preservação da percepção de solvência do setor público é crucial para minimizar eventuais expectativas negativas quanto ao controle do endividamento público.’
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A teimosia renitente, bovina, mulística de Dilma Rousseff em insistir numa política econômica que levou o país a ter crescimento pífio ou menor que zero, inflação alta e contas públicas desarranjadas resultou em que, na terça, dia 9, a Moody’s – uma das principais agências de classificação de risco de investimentos do mundo – anunciou ter reduzido de estável para negativ a a perspectiva da nota de crédito do Brasil. Isso significa, na prática, um aviso de que o chamado rating poderá ser rebaixado já na próxima avaliação.
Em suma: a agência está dizendo para os investidores do mundo inteiro que está menos seguro botar dinheiro no Brasil. Isso é sério demais, tem reflexos importantes em toda a economia.
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São notícias tristes, todas essas – a roubalheira sem fim na Petrobrás, a criação de ministério zumbi, a ameaça de rebaixamento do rating do Brasil. Ruins, péssimas.
Mas, além dessas más notícias, digamos, extraordinárias, há também os números ruins de toda semana, claro:
* Subiu para 47,1% proporção de consumidores que consideram a situação ruim, segundo a Sondagem do Consumidor da Fundação Getúlio Vargas (FGV);
* A atividade da indústria de São Paulo recuou 1,2% em julho, segundo o IBGE;
* O Brasil teve a maior redução na população economicamente ativa entre os países do G-20, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT);
* A inadimplência dos consumidores voltou a acelerar e subiu 5% em agosto, segundo a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL);
* Os analistas reduziram a previsão de crescimento do PIB pela 15ª semana consecutiva; agora, a previsão é de uma alta de 0,48%, segundo a pesquisa semanal do Banco Central; este ano
* O emprego industrial teve a quarta queda consecutiva: caiu 0,7% na passagem de junho para julho, segundo o IBGE.
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Mas o pior de tudo é que boa parte dos brasileiros é tão teimosa, tão bovinamente, mulisticamente teimosa quanto a mulher que nos desgoverna há três anos e nove meses. Se as mais recentes pesquisas de opinião estiverem certas, há o perigo real de termos mais quatro de incompetência, desgoverno, roubalheira, inflação alta, crescimento pífio ou então recessão mesmo.
Credo em cruz!
Aí vai a 153ª compilação semanal de notícias e análises que comprovam os malefícios e a incompetência do lulo-petismo como um todo e do governo Dilma Rousseff em especial. Elas foram publicadas entre os dias 5 e11 de setembro.
Os escândalos na Petrobrás
* Ex-diretor da Petrobrás delata propina para políticos do PT, PMDB e PP
“O delator Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás, citou ao menos três dezenas de deputados e senadores, um governador e um ministro como beneficiários de um esquema de propinas na estatal. Pelas informações preliminares, os políticos são de cinco partidos, incluindo do PT e do PMDB, os dois maiores do Congresso.
“ Ele afirmou que as maiores empreiteiras do País – das quais revelou os nomes, inclusive de diretores–, formaram um cartel dentro da Petrobrás. Contou que os políticos e as agremiações recebiam o equivalente a 3% de comissão sobre o valor de cada contrato firmado durante sua passagem pela estatal (2004 a 2012), conforme antecipou ontem (5/9) o portal www.estadao.com.br
“O ex-diretor da Petrobrás citou também o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB- AL), num episódio envolvendo o fundo de pensão dos Correios
“Nos depoimentos que tem prestado desde sexta-feira da semana passada (29/8) como parte da tentativa de um acordo de delação premiada, Costa disse que teve pagamento de propina na operação de compra da refinaria de Pasadena, nos EUA. O negócio passou a ser investigado por duas CPIs no Congresso após o Estado revelar em março que a presidente Dilma Rousseff votou a favor da compra da refinaria quando presidia o Conselho de Administração da Petrobrás. O aval do colegiado garantiu a realização do negócio, que, segundo o Tribunal de Contas da União, causou prejuízo de US$ 792 milhões à estatal. Inicialmente, o alvo de Costa na delação era abrir o esquema de corrupção das empresas
“ Mas ele passou a mencionar os políticos beneficiados com propinas. Segundo o ex-diretor, partidos eram beneficiários de recursos desviados por meio de comissões em contratos arranjados. ‘Todo dia tinha político batendo na minha porta’, contou. Num depoimento, citou uma conta de um ‘operador do PMDB’ em um banco europeu. Por causa da citação a parlamentares, que têm prerrogativa de foro no STF, os depoimentos serão remetidos para a Procuradoria-Geral da República.
“Costa apontou nomes de outros dirigentes da Petrobrás que teriam recebido dinheiro do esquema. O ex-executivo contou que os desvios nos contratos da estatal envolviam desde funcionários do terceiro escalão até a cúpula da empresa, durante os oito anos em que foi diretor de Abastecimento. Ele chegou e se manteve no cargo com o apoio de um consórcio de partidos: PT, PMDB e PP. O ex-diretor falou ainda sobre as atividades de sua empresa, a Costa Global, de ‘consultoria e assessoria’, à qual passou a se dedicar depois que deixou a Petrobrás. A PF e a Procurado- ria suspeitam que ele abriu as portas para fornecedores da Petrobrás por meio da Costa Global. Todos que tiveram relações coma empresa estão intimados a entregar cópias de contratos. Desdeodia29deagosto, Costa está depondo ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal no Paraná em regime de delação premiada. Os depoimentos têm sido longos. No primeiro dia foram mais de quatro horas.
“Costa é alvo da Operação Lava Jato, da PF, que desmantelou trama de lavagem de dinheiro e corrupção na Petrobrás e em outros órgãos públicos. Costa e seu parceiro, o doleiro Alberto Youssef, estão presos. Youssef não quis fazer delação porque teria de ficar ao menos três anos em regime fechado, mesmo contando tudo o que sabe
“Calcula-se que Costa poderia pegar pena superior a 50 anos de cadeia se respondesse a todos os processos derivados da Lava Ja- to – já é réu em duas ações penais, uma sobre lavagem de dinheiro desviado da Petrobrás, outra sobre ocultação e destruição de documentos, e é investigado em vários outros inquéritos. Angustiado com a possibilidade de não sair tão cedo da prisão, ele decidiu delatar como operava a rede de malfeitos na Petrobrás. O acordo prevê que, em troca de revelações, Costa deverá sofrer uma pena tão reduzida, que se aproxima do perdão judicial.
“Nos próximos dias, quando esgotara bateria de depoimentos, ele já deverá ganhar a liberdade co- mo prevê o pacto. Mas terá de permanecer em seu apartamento, em Ipanema, no Rio, com uma tornozeleira eletrônica. O ex-diretor faz relatos diários na Custódia da Polícia Federal em Curitiba. A PF filma as sessões. Procuradores da República lacram os depoimentos que, depois, são criptografados (textos com abreviaturas e siglas) e enviados à Procuradoria Geral da República, em Brasília. O número de políticos citados foi mencionado por Costa nos primeiros depoimentos, mas pode crescer até o fim da delação. A investigação mostra que o esquema de lavagem movimentou R$ 10 bilhões em quatro anos, com ramificações na Petrobrás, no Ministério da Saúde e em partidos como PT, PP, PMDB e SDD.
“A PF descobriu também que Youssef, suposto controlador da UTC Participações, intermediou a liberação de um super precatório do governo Roseana Sarney (PMDB), do Maranhão. Para liberar R$ 120 milhões para a Constran, vinculada à UTC, integrantes da Casa Civil de Roseana teriam recebido ‘malas pretas’ com propina. O juiz federal Sérgio Moro suspendeu o pagamento do título. Quando o caso do precatório foi revelado pela ex-contadora do doleiro Meire Poza, a assessoria de Roseana repudiou a citação ao seu governo. Ontem, o advogado Cássio Norberto, que atuava na defesa de Costa, deixou o caso, mas não disse o motivo. ‘Oportunamente irei falar. O momento é de cautela.’” (Andreza Matais, Ricardo Brito e Fausto Macedo, Estadão, 6/9/2014.)
* Depoimentos do ex-diretor da Petrobrás causam tensão nos comitês de Dilma e Marina
“A revelação de parte do conteúdo dos depoimentos do ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa provocou, ontem à noite, muita tensão nos comitês das campanhas da presidente Dilma Rousseff (PT) e da ex-senadora Marina Silva (PSB). Numa série de depoimentos iniciados semana passada, o ex-diretor apontou o envolvimento de deputados e senadores, governadores e de pelo menos um ministro com os desvios de dinheiro de contratos da estatal com grandes empresas.
“Costa denunciou pelo menos 25 políticos vinculados a cinco partidos (PT, PMDB, PP, PR e PTB). A maioria é de parlamentares federais em campanha pela reeleição. Outros ocupam cargos executivos no governo federal e em governos estaduais. Costa apontou, entre outros, um ‘operador do PMDB’, político fluminense, atribuindo-lhe o papel de intermediário de aliados do governo em negociações com empresas fornecedoras de bens e serviços à Petrobrás. A atuação desse político se estenderia à distribuição de propinas a partir de contas no exterior.
“Costa aceitou fazer acordo de delação premiada e, desde então, passou a dar detalhes aos procuradores federais sobre a estrutura de corrupção e lavagem de dinheiro entre políticos e empresas contratadas pela Petrobrás em negócios intermediados pelo doleiro Alberto Youssef. O ministro Thomas Traumann, da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), que viria ao Rio ontem, desistiu da viagem e ficou em Brasília para monitorar os desdobramentos da situação. A presidente Dilma Rousseff e o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil), por sua vez, reuniram-se à noite no Palácio da Alvorada.
“- A crise é séria – desabafou um assessor do Planalto.
“Em São Paulo, o comando da campanha de Marina convocou ontem uma reunião de última hora. Assessores e colaboradores chegaram ao comitê da candidata sem esconder um certo clima de tensão. Marina, que inicialmente não participaria, chegou ao local depois do vazamento de informações sobre a delação premiada de Costa. Oficialmente, o assunto da reunião foi a estratégia para rebater ataques dos adversários. No partido, chegou-se a prever que Marina poderia cancelar compromissos de campanha no fim de semana, mas os eventos acabaram sendo todos mantidos.
“ Ao final da reunião, perguntada sobre o assunto, Marina desconversou:
“- Não li a matéria.
“Diante da insistência dos jornalistas que queriam saber se há envolvimento de políticos do PSB, a candidata apenas comentou:
“- Vou ler a matéria.
“Walter Feldman, coordenador-geral da campanha, falou sobre a expectativa do PSB:
“- Este deve ser o grande assunto da eleição daqui para a frente.
“O ex-presidente Lula, que participou de encontro estadual do PT paulista, também comentou o possível envolvimento de petistas na corrupção denunciada por Costa:
“- Dentre nós, se alguém cometer algum erro, que pague.
“Com o depoimento iniciado na quarta-feira da semana passada, Costa deixou os procuradores com a impressão de que o mecanismo de cobrança e partilha de propinas em contratos da Petrobrás funcionou para políticos e partidos aliados ao governo como uma espécie de continuação do mensalão. As investigações já atingiram parlamentares da base governista e podem respingar também na campanha do PSB. Um dos principais focos da investigação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal são contratos de empreiteiras com refinaria a Abreu e Lima, em Pernambuco.
“A refinaria foi o centro de uma queda de braço entre petistas e socialistas durante a criação de duas CPIs da Petrobrás no Congresso Nacional no primeiro semestre. O PSB se opôs fortemente à inclusão das obras da refinaria entre os alvos de uma das comissões de inquérito.
“Durante uma década, Costa foi responsável direto por empreendimentos importantes da estatal. O maior foi o Abreu e Lima, onde a empresa gastou nove vezes mais do que previa inicialmente – depois de mais de uma centena de aumentos de preços nos contratos originais, a refinaria deverá ser inaugurada a um custo estimado em US$ 20,1 bilhões, recorde mundial no setor.
“Segundo o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, todos os nomes dos políticos mencionados por Costa serão enviados ao Supremo Tribunal Federal (STF). O procurador-geral não quis confirmar nomes e nem mesmo o número de políticos mencionados. Ele argumenta que o sigilo faz parte do acordo de delação premiada, que pode ou não ser mantido até o final da apuração das novas acusações.
“- Todos os termos da delação premiada serão encaminhados ao Supremo. Cabe ao Supremo decidir o que é e o que não é (consistente) – disse Janot ao Globo.
“O relator do caso no STF é o ministro Teori Zavascki. Na primeira etapa da investigação, bem antes do início das negociações com Costa, o ministro decidiu abrir inquérito contra os deputados André Vargas (sem partido-PR) e Luiz Argôlo (SD-BA) e o senador Fernando Collor (PTB). Relatório da Polícia Federal aponta que os três receberam vantagens da organização de Youssef. Pelas investigações da polícia, Youssef pagou um voo em um jato para André Vargas.
“O vôo teria custado mais de R$ 100 mil. Vargas teria ajudado o Labogen, um laboratório comprado por Youssef, com o Ministério da Saúde. Argôlo já admitiu que recebeu entre R$ 180 mil e R$ 200 mil, mas negou qualquer ligação com os negócios do doleiro. Collor teria sido agraciado com R$ 50 mil em oito parcelas. Vargas e Argôlo já estão sendo processados por quebra de decoro.
“Os depoimentos de Costa mas estão sendo encarados com reserva pelos procuradores. Ao final de cada interrogatório, as declarações são criptografadas e guardadas num computador sem internet. Os depoimentos começaram semana passada e ainda não há prazo para conclusão da nova etapa da Operação Lava-Jato. Segundo uma autoridade que está à frente do caso, a cautela é necessária porque as informações podem comprometer o processo eleitoral.
“- A eleição é daqui a um mês. Essa investigação vai durar muito mais tempo. É um caso complexo, que exige muito cuidado. Temos que checar todas as informações – disse o investigador, que pediu para não ter o nome revelado.
“Pelo acordo de delação premiada, o ex-diretor terá que apresentar provas ou indicar aos investigadores os caminhos para comprovar cada uma das acusações. Segundo uma das autoridades que está à frente do caso, só ao final da apuração será possível definir os benefícios a serem concedidos a Costa. A redução das penas depende da comprovação das denúncias.
“Pelas investigações da Polícia Federal, empreiteiras com contratos com a Petrobrás fizeram pagamentos suspeitos ao doleiro Alberto Youssef e a Paulo Roberto Costa a partir de transações com empresas laranjas. Ainda na primeira fase, a Receita Federal apontou o repasse de mais de R$ 90 milhões de empreiteiras com contratos com a refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, para a MO Consultoria, empresa de Youssef, entre 2009 e 2013.
“A suspeita é que, a partir daí, o dinheiro teria abastecido campanhas eleitorais de deputados, senadores, governadores e até de um ministro. Um dos supostos chefes da estrutura de desvio seria Paulo Roberto. Durante as investigações, a polícia recebeu a informação de que o ex-diretor mantinha US$ 23 milhões em 12 contas na Suíça. O dinheiro foi bloqueado e o ex-diretor passou a ser investigado por autoridades suíças pelo crime de lavagem de dinheiro.” (Jailton de Carvalho, Simone Iglesias, Luiza Damé e José Casado, O Globo, 6/9/2014.)
* Delação de ex-diretor da Petrobrás gera tensão na campanha de Dilma
“A 28 dias da eleição, as revelações feitas pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa, em depoimento à Polícia Federal, colocaram em alerta o Palácio do Planalto e o comando da campanha da presidente Dilma Rousseff. Após Costa denunciar um esquema de desvio de dinheiro da Petrobrás, beneficiando cinco partidos, incluindo o PT e o PMDB, petistas temem que o tema da corrupção domine a disputa de agora em diante e ressuscite no eleitorado a memória do mensalão.
“Em depoimentos à Polícia Federal na tentativa de fechar um acordo de delação premiada, Costa citou como beneficiários de um esquema de propinas na estatal o ex-governador Eduardo Campos, morto em acidente aéreo em 13 de agosto, e políticos de partidos aliados à presidente Dilma, de acordo com a revista Veja. Na lista estão o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB), a governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB), e o secretário de Finanças do PT, João Vaccari Neto.
“São listados ainda seis senadores e pelo menos 25 deputados federais, entre os quais os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), como antecipou o portal www.estadao.com.br, e da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), os senadores Romero Jucá (PMDB-RR) e Ciro Nogueira (PP-PI) e os deputados Cândido Vaccarezza (PT-SP) e João Pizzolatti (PP-SC) e o ex-ministro das Cidades Mário Negromonte.
“A suspeita é de que o esquema – com pagamento de uma comissão de 3% sobre o valor de cada contrato da Petrobrás assinado durante a passagem de Costa pela estatal (2004 a 2012) – abastecia as campanhas eleitorais. A reportagem da revista não traz detalhes nem documentos que comprovem a participação dos políticos mencionados.
“Embora o discurso oficial no comitê da reeleição de Dilma seja o de minimizar as denúncias feitas por Costa, sob o argumento de que ele não apresentou provas, ministros e dirigentes do PT admitem que o escândalo pode empurrar a presidente para a defensiva no momento em que sua principal adversária, a ex-ministra Marina Silva (PSB), parou de crescer, como indicam as mais recentes pesquisas de intenção de voto.
“Dilma foi surpreendida na sexta-feira (5/9) com o teor da delação premiada de Costa. Ela pediu informações ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, ainda na sexta-feira, mas ele não teve acesso ao depoimento do ex-diretor, preso pela Polícia Federal no rastro da Operação Lava Jato.
“Insatisfeita, Dilma convocou uma reunião de emergência, à noite, com o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, no Palácio da Alvorada, para avaliar o impacto das denúncias em sua campanha. Em São Paulo, neste sábado, 6, ela conversou com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Auxiliares de Dilma a orientaram a demonstrar compromisso com a apuração dos fatos, para neutralizar a agenda negativa. Foi por isso que, em entrevista neste sábado, 6, em São Paulo, a presidente afirmou que vai aguardar as explicações necessárias para tomar medidas efetivas. ‘Eu gostaria de saber direitinho quais são as informações prestadas nestas condições. Eu te asseguro que tomarei todas as providências cabíveis. Agora, não com base em especulação’, insistiu.
“O diagnóstico no Planalto é o de que as acusações de Costa, se comprovadas, causarão um terremoto político na base aliada do governo, mas também na campanha de Marina Silva (PSB) devido à inclusão de Eduardo Campos na lista. Podem derrubar, ainda, a estratégia do PT de colar nos rivais o carimbo de ‘inimigos da Petrobrás’.
“Em Maceió, ontem (6/9), o vice-presidente da República, Michel Temer, que é presidente nacional do PMDB, afirmou que o caso não fere o partido ‘enquanto instituição’. ‘O PMDB, enquanto instituição, não tem nada a ver com isso’, afirmou. ‘A chamada delação premiada tem esses problemas, lança nomes. Ainda bem que está no STF. Quem vai conduzir isso é um ministro da melhor qualificação moral, intelectual e profissional’, disse, referindo-se ao ministro Teori Zavascki, que deve homologar o acordo de delação premiada.
“Temer também avaliou que as novas denúncias terão efeito ‘zero’ sobre a campanha de Dilma. ‘Não tem nada a ver com ela. O depoente, ou delator, até se mostra irritado com a atuação da Dilma, pelo que vi’, afirmou.
“Dilma presidiu o Conselho de Administração da Petrobrás na época da compra da refinaria de Pasadena (EUA). À PF, Costa disse que houve pagamento de propina nesse negócio, que causou prejuízo de US$ 792 milhões à empresa, de acordo com o Tribunal de Contas da União. Em março, o Estado revelou que Dilma votou a favor da compra da refinaria, quando comandava o conselho da estatal. Ela alegou que só aprovou a transação porque recebeu relatório ‘falho’ sobre o assunto.” (Vera Rosa, Andreza Matais e Ricardo Galhardo, Estadão, 7/9/2014.)
* É assim: durante oito anos – de 2004 a 2012 – os contratos da maior empresa brasileira com grandes empreiteiras eram usados como fonte de propina para funcionários, partidos e políticos. Uma espécie de mensalão 2.0”
“O efeito da delação do ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa no resultado das eleições realmente é o menor dos problemas diante do conteúdo do que ele tem revelado à polícia e ao Ministério Público na última semana.
“A preocupação deve pertencer a quem precise arcar com as consequências. O importante para o País é que uma situação dessa gravidade produza consequência à altura.
“Em resumo, durante oito anos – de 2004 a 2012 – os contratos da maior empresa brasileira com grandes empreiteiras eram usados como fonte de propina para funcionários, partidos e políticos. Uma espécie de mensalão 2.0.
“Desta vez, no entanto, o acusador envolve em sua rede de relações gente grande da República: os presidentes da Câmara e do Senado, ministros de Estado, senadores, governadores e até o ex-presidente Luiz Inácio da Silva com quem, segundo ele, costumava se reunir frequentemente.
“Quando Roberto Jefferson denunciou o esquema do mensalão, numa entrevista à Folha de S.Paulo, a primeira reação dos acusados foi desmentir e tentar desqualificar a denúncia. Até que veio a CPI dos Correios.
“Escaldado, no início deste ano o governo não deixou que prosperassem as duas comissões de inquérito instaladas no Congresso para investigar os negócios da Petrobrás. Lula mesmo aconselhou o PT a ‘ir para cima’ da oposição a fim de evitar a repetição do episódio.
“Agora a coisa é mais complicada. Enquanto a história estava no âmbito do Congresso saiu tudo como planejado. Deputados e senadores da base governista prestaram-se à farsa de maneira obediente. A ponto de deixarem que depoimentos de ex-diretores, presidente e ex-presidente da Petrobrás tivessem perguntas e respostas previamente combinados.
“No dia 10 de junho, no intervalo entre uma prisão e outra, Costa foi à CPI. Fez uma defesa ardorosa da lisura ética vigente na empresa e disse o seguinte: ‘Pode se fazer uma auditoria por 50 anos na Petrobrás que não vai se achar nada de ilegal porque não há nada de ilegal’. Suas excelências mais que depressa se deram por satisfeitas.
“Teria ficado tudo por isso mesmo se dias depois o juiz Sérgio Moro não tivesse mandado prender Paulo Roberto Costa de novo. Ele havia ficado na cadeia durante 59 dias, foi solto por ordem do ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, e preso em 19 de junho por ter escondido a existência de uma conta na Suíça e um passaporte português.
“Em dois meses Costa se convenceu de que poderia ir pelo mesmo caminho de Marcos Valério, condenado a 40 anos de prisão. Quando quis fazer acordo de delação premiada, o operador do mensalão não tinha mais nada a oferecer à Justiça porque o esquema já estava desvendado.
“No dia 22 de agosto, o ex-diretor da Petrobrás decidiu fazer o acordo. Com o processo no início, não havendo ninguém denunciado, era o momento propício para ele oferecer o que os investigadores precisavam: os autores e as provas dos crimes.
“Por isso é que as coisas agora ficam mais complicadas para o lado dos acusados. Os desmentidos serão difíceis. Para que obtenha o benefício da redução da pena ou mesmo o perdão judicial, Paulo Roberto Costa terá necessariamente de fornecer informações verdadeiras, comprovadas, que sirvam para provar a materialidade e a autoria dos crimes.
“Por menos do que isso não sairá da prisão. Depois que forem encerrados os interrogatórios e apresentadas as provas o Ministério Público examinará e cruzará todos os dados. Em seguida, dará seu parecer sobre a concessão do benefício que será maior ou menor dependendo da contribuição que a delação tiver dado para a elucidação do caso, cabendo a decisão final ao ministro Teori Zavascki.” (Dora Kramer, Estadão, 7/9/2014.)
* “O que Costa narra aos seus inquiridores é que a operação montada dentro da Petrobrás reproduz o mecanismo do mensalão, em volume bem maior”
“A história política no Brasil não deixa dúvidas quanto aos danos eleitorais provocados por denúncias de corrupção, especialmente aquelas com elementos que lhes dotam de consistência, ainda que dependente de investigações mais aprofundadas.
“Não só nas campanhas esse efeito se verifica. Atinge também governos já eleitos, com maior ou menor intensidade, durante ou após seus mandatos, como no impeachment de Fernando Collor e no mensalão, que enterrou o sonho de reeleição no primeiro turno acalentado pelo PT, para ficar nos exemplos recentes.
“A campanha atual, já nos seus 30 dias finais, é alcançada pelas primeiras consequências de uma investigação sob condução judicial, que o governo tentou a todo custo, com êxito, sustar na instância parlamentar, obstruindo a CPI da Petrobrás.
“As informações prestadas pelo ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa, sob o regime da delação premiada, tem potencial devastador e sua influência na eleição começa agora. O dano só poderá ser medido após conhecida a extensão de suas denúncias.
“Pelo que já se sabe, o que Costa narra aos seus inquiridores é que a operação montada dentro da Petrobrás reproduz o mecanismo do mensalão, em volume bem maior, com os mesmos partidos da base governista – PT, PP e PMDB -, que tiveram dirigentes condenados e presos.
“Por isso, nos meios políticos , o esquema da Petrobrás é tratado como uma extensão do mensalão, por reproduzir meios, fins e personagens envolvidos em desvios de recursos públicos para financiamento de campanhas e também para enriquecimento pessoal.
“O processo do mensalão foi conduzido pelo ex-ministro Joaquim Barbosa com base em valores amplamente comprovados, o que reduziu significativamente o montante real desviado. Foi uma opção por trabalhar judicialmente com o que efetivamente se tinha e não com aquilo que se sabia, mas que demandaria mais tempo para materializar.
“Por essa razão, o que desponta das investigações na Petrobrás, tem dimensão muito maior que o escândalo de compra de apoio parlamentar. Já vinha sendo chamado de ‘o verdadeiro mensalão’ nos ambientes políticos da capital.
“É bastante provável que o temido depoimento de Costa, finalmente iniciado, atinja em cheio a candidatura governista, ampliando o apoio à candidata do PSB, Marina Silva.
“A menos que a menção do ex-diretor a Eduardo Campos se desdobre em revelações graves sobre o ex-governador, a partir da refinaria de Abreu e Lima.
“A campanha, já influenciada pelo acidente aéreo de Campos, pode recomeçar pela segunda vez, para vertigem geral de partidos e candidatos.” (João Bosco Rabello, Estadão, 7/9/2014.)
* “Dilma mandou diretamente na Petrobrás enquanto foi ministra das Minas e Energia e chefe da Casa Civil. Manda, hoje, via ministro Edison Lobão, das Minas e Energia”
“A exemplo de Lula no caso do mensalão, em 2005, quando Dilma dirá que foi traída e pedirá desculpas aos brasileiros pelo escândalo do mar de lama que entope os dutos da Petrobrás , ameaçando tragar a maior empresa do continente? No mínimo, é o que se espera dela, ex-ministra das Minas e Energia, ex-presidente do Conselho de Administração da Petrobrás e presidente da República em final de mandato.
“Digamos que Dilma compete com Lula para ver quem foi mais feito de bobo por seus subordinados. A auxiliar de mais largo prestígio nos oito anos de Lula no poder, a presidente eleita sem jamais ter sido, sequer, síndica de prédio, Dilma foi surpreendida, assim como o seu mentor , pelo escândalo do mensalão — o pagamento de propina a deputados federais para que votassem conforme a vontade do governo .
“Foi surpreendida de novo quando chefiou a Casa Civil da Presidência da República e ficou sabendo que um dos seus funcionários confeccionara um dossiê sobre o uso de cartões corporativos pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e sua mulher, dona Ruth. Dilma pediu desculpas ao casal. O autor do dossiê conseguiu manter-se na órbita do serviço público.
“Outra vez, Dilma foi surpreendida pela suspeita de malfeitos praticados por Erenice Guerra, seu braço-direito na Casa Civil e, mais tarde, sucessora no comando do ministério. Na ocasião, Dilma estava em campanha pela vaga de Lula. Para evitar danos à sua candidatura, Erenice pediu demissão. Dali a dois anos, a Justiça a inocentou por falta de provas de que roubara e deixara roubar.
“Quase ao término do seu primeiro ano de governo, batizada por assessores de “a faxineira ética”, Dilma degolou seis ministros de Estado. Pesaram contra eles acusações de corrupção publicadas pela imprensa. De lá para cá, ministérios e cargos públicos foram entregues por Dilma aos ex-ministros degolados ou a grupos políticos ligados a eles. A “faxineira ética” baixou à sepultura.
“Por ora, Dilma está atônita e se recusa a falar sobre o mais novo escândalo que bate à sua porta. Paulo Roberto Costa, chamado de Paulinho por Lula, preso em março último pela Polícia Federal como um dos cérebros da quadrilha acusada de roubar a Petrobrás, começou a contar o que sabe — ou o que diz saber. Em troca, quer o perdão judicial para não ter que amargar até 50 anos de cadeia.
“Dilma sabe muito bem quem é Paulinho, nomeado por Lula em 2004 para a diretoria de Abastecimento da Petrobrás. Saiu dali só em 2012. No período, compartilharam decisões, algumas delas, responsáveis por prejuízos bilionários causados à Petrobrás. Dilma mandou diretamente na empresa enquanto foi ministra das Minas e Energia e chefe da Casa Civil. Manda, hoje, via ministro Edison Lobão, das Minas e Energia.
“Lobão foi citado por Paulinho como um dos políticos integrantes da mais nova e ‘sofisticada organização criminosa’ da praça, juntamente com mais seis senadores, 25 deputados federais e três ex-governadores. A organização superfaturava licitações da Petrobrás e desviava dinheiro para um caixa que financiava campanhas de políticos da base de apoio ao governo. Por suposto, nem Lula nem Dilma sabiam disso.
“O que é mais notável: entra campanha e sai campanha da Era PT, e os adversários do governo são acusados por Lula e Dilma de se valerem da Petrobrás como arma política. Pois bem, debaixo do nariz deles, seus camaradas usaram a Petrobrás como arma para enriquecer.” (Ricardo Noblat, O Globo, 8/9/2014.)
* Petistas usam na Petrobrás o mesmo do mensalão aplicado no Banco do Brassil., a fim de drenar dinheiro público para políticos da base do governo
“Foi o próprio Roberto Jefferson, deputado federal pelo PTB fluminense, que batizou o esquema de ‘mensalão’ ao denunciar, em entrevista à Folha de S.Paulo, a distribuição de dinheiro sujo entre parlamentares do governo. Transcorria 2005. Sete anos depois, o STF começaria a lavrar as primeiras condenações de mensaleiros. Entre eles, poderosos como o ex-ministro José Dirceu. O próprio Jefferson terminaria preso, por ter sido um deles.
“Não se podia esperar, entretanto, que o mesmo grupo do PT responsável pela operação fraudulenta repetiria o delito e, talvez, até em maiores dimensões. Se, no primeiro mensalão, aproveitou-se um aparelho sindical petista montado na diretoria do Banco do Brasil a fim de bombear recursos da instituição estatal para a lavanderia de Marcos Valério, desta vez a estatal saqueada foi a Petrobrás. E o destino dos recursos surrupiados, segundo depoimentos sigilosos vazados, feitos ao Ministério Público por Paulo Roberto Costa, ex-diretor da empresa, foi o mesmo: políticos da base governamental, especificamente do PT, PMDB e PP. Ressalve-se que, ao aceitar fazer delação em busca do prêmio da redução de pena, Paulo Roberto terá de provar tudo o que diz. Da primeira lista de beneficiários, constam 25 deputados federais, seis senadores, três governadores e um ministro. Virão mais nomes. Entre os destaques, a cúpula do Congresso — Henrique Alves e Renan Calheiros —, Edison Lobão, das Minas e Energia; Sérgio Cabral e o falecido Eduardo Campos.
“Fora do campo parlamentar, está na lista de Costa o indefectível João Vaccari Neto, sucessor na tesouraria do PT de Delúbio Soares, mensaleiro em fase de cumprimento de pena. Vaccari seria o intermediário entre Costa e empreiteiros, conhecida fonte de dinheiro de corrupção.
“A história do novo mensalão parece mais longa. Colocado numa ‘geladeira’ na estatal durante a gestão tucana, Paulo Roberto, chamado de ‘Paulinho’ por Lula, assumiu a diretoria de Abastecimento da Petrobrás em 2004 e lá ficou até 2012. Atravessou dois mandatos de Lula, quase completos, e a primeira fase de Dilma no Planalto. Lula deverá repetir o ‘nada sei’ do primeiro mensalão. Dilma, embora ministra de Minas e Energia e da Casa Civil de Lula, e presidente do Conselho de Administração da estatal, já afirmou ontem o mesmo. Outros diretores precisarão ser ouvidos, a começar por José Sérgio Gabrielli, ex-presidente, símbolo do lulo-petismo na estatal.
“A ordenha criminosa de dinheiro público, agora por meio da cobrança de ‘por fora’ de empreiteiras e/ou superfaturamento de contratos assinados com a estatal, abasteceria o doleiro Alberto Youssef, o Marcos Valério deste mensalão. Lavado, o dinheiro chegaria aos políticos. As minas de ouro exploradas seriam a bilionária refinaria Abreu e Lima e a caríssima unidade de refino comprada em Pasadena.
“O conhecido lema de certa esquerda de que ‘os fins justificam os meios’ justificou mais delinquências no governo do que se pensava.” (Editorial, O Globo, 9/9/2014.)
* Tudo o que pesa sobre a Petrobrás agora aconteceu quando o PT estava no governo federal
“A crise da Petrobrás já é a maior desde o estouro do mensalão. O que aconteceu, até agora, mesmo sem saber a evolução, criou uma zona de sombra sobre negócios públicos que assusta pela dimensão. O ex-diretor Paulo Roberto Costa esteve nos governos Lula e parte do governo Dilma em uma diretoria poderosa, assumiu a presidência várias vezes. Hoje, na cadeia, conta o que sabe.
“É doloroso para qualquer brasileiro ver a maior empresa do país, com sua história, tradição e competência, mergulhada nas águas profundas das comissões cobradas em negócios superfaturados e em distribuição de propinas. Há uma grande chance — e tomara que ela se confirme — de que não seja generalizado, mas um foco de corrupção, felizmente detectado pela Polícia Federal.
“A empresa é a empresa. Continua fazendo seu trabalho, pesquisas futuristas no Cenpes, os embarcados passam duas semanas seguidas no meio da mar, as plataformas continuam achando novas reservas de petróleo, e novas formas de prospectá-lo. A Petrobrás não pode ser confundida com o que andou acontecendo de obscuro nas transações cujos fios aparecem agora.
“As histórias que começam a aparecer são tenebrosas e evidentemente não estão circunscritas a dois diretores. Provavelmente, há o concurso de mais gente dentro da empresa e políticos fora da estatal. Uma empresa deste tamanho tem um volume tão assombroso de contratos, fornecedores, compras, que só um sistema de muita transparência, vigilância e prestação de contas pode proteger o contribuinte e os acionistas dos desvios. Quando é um caso isolado, resolve-se com demissões; quando é um foco que parece ter se espalhado pela cúpula do poder em Brasília, é um escândalo a ser investigado, julgado e punido exemplarmente; quando é uma corrupção endêmica, é desesperador. Os sinais não confirmam a terceira, e pior, hipótese.
“Até agora, todos os indícios são de um foco de negociatas, e o avanço, com a delação premiada de Paulo Roberto Costa, é a lista dos beneficiados. É preciso até mais do que as declarações dele, mas é bom lembrar que se o que o faz falar é a esperança de redução da pena — de não virar um Marcos Valério, que em breve estará sozinho na cadeia — ele precisará dizer a verdade.
“A Petrobrás tem outro problema derivado das opções de política energética feitas pelo governo, e que a essa altura parece o de menos. Mas produziu um aumento do nível de endividamento em relação à geração de caixa que a leva para o caminho da redução da classificação de risco, com danos pesados, inclusive aumento do custo dos financiamentos externos. Isso pode ser corrigido se no próximo governo — ou no próximo mandato — houver alteração dos rumos adotados até agora. Não é fácil, no entanto, pelo impacto desse ajuste na inflação.
“Política equivocada resolve-se com uma transição para uma nova diretriz. O que realmente pesa sobre o país neste momento é algo muito pior. Pela informação de Rodrigo Rangel, na Veja, o que Costa teria dito até agora envolveria três governadores, seis senadores, um ministro de Estado e 25 deputados. Na lista, estão os presidentes das duas Casas do Legislativo Federal. Como um dos governadores não pode mais se defender, e seu nome permanece como um dos pivôs eleitorais, todo o cuidado é pouco na divulgação das acusações.
“A grande esperança em relação ao mensalão era que o difícil processo trouxesse um constrangimento aos corruptos e corruptores. Pelo visto, parece não ter sido suficiente. Se o que está sendo dito for confirmado, o país passará por outro período de exposição das vísceras, e o que se espera é que a Procuradoria da República e o Supremo Tribunal Federal se dediquem da mesma forma como se dedicaram ao caso do mensalão.
“Até agora, de concreto, tem-se o ex-diretor preso e falando dentro do processo de delação premiada, e alguns negócios muito mal explicados, como a compra da refinaria de Pasadena por um preço muito maior do que havia sido comprada tempos antes, e outra refinaria que teve seu custo inicial multiplicado.
“Diante do que já se sabe, a presidente não pode acusar seus adversários políticos de ameaçarem a estatal. O que pesa sobre a Petrobrás agora aconteceu nos três últimos mandatos presidenciais.” (Míriam Leitão, O Globo, 9/9/2014.)
* Ora, ora: se quisesse, Dilma Rousseff, gerente rigorosa que diz ser, poderia ter posto em prática as ‘medidas cabíveis’ no devido tempo. Agora as providências não são mais de sua alçada: cabem à polícia e à Justiça
“À presidente Dilma Rousseff não restava outra saída a não ser dizer o que disse no primeiro momento a respeito do que transpirou de parte dos depoimentos do acordo de delação premiada feito pelo ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa.
“Descontada a (remota) hipótese de ocorrerem novos vazamentos até o fim dos interrogatórios e a conclusão do inquérito pela Polícia Federal, será preciso mesmo aguardar a divulgação do que ela chamou de ‘dados oficiais’.
“A saber, os depoimentos propriamente ditos com todos os autores e as provas dos crimes que Costa precisa entregar para livrar não só a si de longa estada na cadeia, mas também os familiares de punições criminais.
“A impropriedade, talvez decorrente da necessidade de uma reação qualquer no calor dos fatos, está na segunda parte da declaração de Dilma. A presidente afirmou que só depois de conhecer os referidos dados tomaria as ‘medidas cabíveis’.
“Ora, ora, quais medidas? A não ser a demissão de um ou outro atual ocupante de cargo no Executivo, tais providências estão fora do alcance da presidente. Nessa altura, encontram-se sob a jurisdição da polícia, do Ministério Público (MP) e da Justiça. Pedir mediante ofício acesso às informações é objetivamente inútil porque elas não podem ser oficialmente fornecidas.
“O governo sabe perfeitamente disso. Pede, não leva e com esse movimento de pura cenografia pretende dar ao que foi até agora publicado o caráter de mero boato e ganhar tempo até as eleições, contando que os prazos não levem o MP a se pronunciar sobre o conteúdo do material fornecido por Paulo Roberto Costa antes de divulgados os resultados do pleito.
“A presidente não pode demitir senadores, deputados, ex-ministros, governadores, ex-governadores. Ao mesmo tempo não pode negar nem se livrar do fato de que os até agora citados são todos seus aliados e que o esquema denunciado funcionou ao tempo em que ela foi ministra das Minas e Energia, ministra da Casa Civil.
“O delator promete à promotoria provas de que o propinoduto por ele operado permeou os dois governos de seu antecessor e criador, Luiz Inácio da Silva. Gerente rigorosa, as ‘medidas cabíveis’ Dilma Rousseff, se quisesse, poderia ter posto em prática no devido tempo. Agora as providências não são mais de sua alçada.
“Mas, digamos que nunca tenha ouvido falar de nada que ensejasse a necessidade de abrir algum tipo de investigação interna. Poderia tê-lo feito inclusive sobre os dois casos ocorridos no governo Fernando Henrique (afundamento de uma plataforma e troca de títulos da Repsol) que sempre cita como exemplos de episódios obscuros que não foram devidamente investigados.
“Ao assumir a Presidência da República, pôs no comando da Petrobrás Graça Foster, uma funcionária de carreira, profissional respeitada e de acordo com o que disse ontem a presidente na entrevista ao Estado, extremamente ‘minuciosa’.
“No convívio diário da companhia, uma gestora com essa característica dificilmente deixaria de perceber algum indício da existência de um esquema daquela magnitude. No entanto, o que se viu não foi a iniciativa do governo de investigar. Muito ao contrário.
“Dificultou o quanto pôde o envio de informações ao Tribunal de Contas da União, recorreu a todos os métodos ao seu alcance para impedir que as comissões de inquérito do Congresso fizessem um trabalho sério e durante todo o tempo atribuiu aos inimigos, aos pessimistas, aos detratores da estatal, aos não patriotas o desejo de investigar.
“Se a Petrobrás, como afirma e repete a presidente da República, prima pela lisura, não há melhor prova que um certificado de correção resultado de uma investigação limpa e rigorosa. Estaria dada a resposta sem tergiversações nem espaços para ilações outras.” (Dora Kramer, Estadão, 9/9/2014.)
* Dilma exagera na desfaçatez ao dizer que, se houve desvio na Petrobrás, ‘a sangria estancou’. Como fazê-lo, se ela nem sabe onde o sangue jorra?
“Desde os anos 50 do século passado, quando a campanha ‘o petróleo é nosso’ resultou na concessão do monopólio de extração e refino de óleo cru à Petrobrás, para isso criada, a esquerda brasileira passou a defendê-la com unhas e dentes. Como se a estatal fosse o mais valioso patrimônio do povo brasileiro. Será que ainda é?
“Após a publicação neste jornal da entrevista que o ex-diretor de Gás e Energia da empresa Ildo Sauer deu ao Broadcast Político, serviço da Agência Estado, há, no mínimo, controvérsias a respeito de tal afirmação. Investigado pelo Tribunal de Contas da União, com os bens bloqueados por ter participado da diretoria da petroleira na época em que esta adquiriu metade do controle acionário da refinaria da belga Astra Oil em Pasadena, no Texas, o especialista reconheceu que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ‘intensificou o uso político da Petrobrás’. Sauer não pertence ao chamado Partido da Imprensa Golpista, o PIG, denominação pejorativa com que os petistas definem jornalistas abelhudos que revelam falcatruas cometidas pela ‘companheirada’ no poder. Tampouco é da oposição ‘revanchista’, que vive procurando pelo em ovo para destronar os populistas desse poder. Ao contrário, ele foi, isso sim, o principal assessor de Lula em petróleo e gás na primeira campanha presidencial vitoriosa deste, razão pela qual foi alçado à diretoria na empresa.
“Sauer relatou que, com o advento do presidencialismo de coalizão no Brasil, ‘no governo Fernando Henrique’, passaram a comandar a empresa ‘despachantes de interesses’, a serviço de ‘contratistas, partidos e políticos’. A versão do técnico padece de imprecisão, mas isso não importa tanto. Acontece que a troca de cargos no Executivo por apoio político no Legislativo teve início antes, desde a promulgação da Constituição de 1988, por culpa da qual a negociata passou a ser chamada de ‘governabilidade’, o que tornou o Congresso um balcão de negócios e os cargos em ministérios, autarquias e estatais, moedas de troca.
“Isso não tem relevância porque o técnico, que não é simpatizante do PSDB, não citou casos em que o mau uso por ele denunciado de bons empregos na cúpula da Petrobrás tenha sido flagrado e investigado nos governos Sarney, Collor, Itamar ou Fernando Henrique. Não se pode dizer o mesmo das três gestões federais do Partido dos Trabalhadores (PT) – duas sob a batuta de Lula, com Dilma Rousseff ministra de Minas e Energia, depois chefe da Casa Civil e presidente do Conselho de Administração da estatal, e o mandato dela mesma. Comparado com a roubalheira na Petrobrás nestes 12 anos, o ‘mar de lama’ que levou Getúlio ao suicídio se reduz a uma reles pocinha.
“Quem tiver alguma dúvida está convidado a ler o noticiário sobre a delação premiada que um ex-colega de Sauer na cúpula da petroleira, Paulo Roberto Costa, tenta obter da Justiça em troca de delatar todos os outros detentores de benefícios durante sua mais que temerária gestão na Diretoria de Abastecimento. Segundo testemunhos, o delator era carinhosamente chamado de Paulinho por Lula em pessoa. E ainda que este volte a exercitar sua recente e conveniente amnésia, desconhecendo pessoas de cuja intimidade notoriamente privou, é indesmentível que o indiciado e preso pela Polícia Federal operou sob a chefia de alguém de alta confiança do ex-presidente da República, José Sérgio Gabrielli, e ao lado da atual presidente da estatal, Graça Foster, que Dilma trata como Gracinha. Não é?
“Os meios de comunicação já informaram que o preso, ora em alto destaque, dispõe da nada módica quantia de US$ 23 milhões em contas sigilosas na Suíça. Isso equivale a quase US$ 1 milhão por vez das 24 nas quais foi distinguido com a subida honra de substituir Gabrielli num dos mais acalentados sonhos de consumo de qualquer executivo que se preze no País: o maior poder na maior das empresas pátrias.
“O secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, disse que a revelação feita pela Veja resulta do ‘desespero’ da oposição ante a perspectiva de perder a eleição. Mas, conforme as pesquisas, Dilma é que está ameaçada por Marina Silva, que, se a eleição fosse hoje, a venceria. Essa bravata confirma que a lógica aristotélica não foi sua disciplina favorita no seminário. Ele já tentou desmentir João Daniel, irmão de Celso, de que teria levado malas de dinheiro de Santo André para a sede nacional do PT. Fez o diabo para apagar suas impressões digitais no escândalo do tráfico de influência de que foi acusada Rosemary Noronha, amiga de Lula. E recentemente, acusado pelo motorista Ferreirinha de tê-lo ameaçado para evitar que este contasse que carregava pacotes de dinheiro para o presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, jurou que apenas lhe aconselhou prudência.
“Mas sua chefe o superou em desfaçatez ao dizer que, se houve desvio na Petrobrás, ‘a sangria estancou’. Como fazê-lo, se ela nem sabe onde o sangue jorra? E não seria algo como: será proibido roubar se o furto anterior não tiver de ser punido? Ela distorce fatos por estar certa de que o eleitor crerá em tudo o que ela contar em troca da mais Bolsa Família. Como escreveu Ricardo Noblat, em sua coluna no Globo, ela foi, como Lula, surpreendida pelo escândalo do mensalão. Ignorou a suspeita de ‘malfeitos’ atribuídos a Erenice Guerra, seu braço direito na Casa Civil. E se pediu desculpas a Fernando Henrique e à mulher, Ruth, sobre quem foi produzido um dos dossiês falsos chamados pelo delegado Romeu Tuma Jr. de ‘assassinatos de reputações’, nunca puniu os autores.
“Agora Dilma quer utilizar a delação do ex-enfant gaté do PT para tornar obrigatório o financiamento público de campanhas e forçar o plebiscito para reformar a política. Nada disso tem que ver com a roubalheira na Petrobrás. É apenas uma tentativa de deixar os gatunos impunes e, em vez de puni-los, lhes transferir a posse do petróleo que, em tese, seria nosso.” (José Nêumanne, Estadão, 10/9/2014.)
* Dilma, ex-ministra de Minas e Energia, ex-titular da Casa Civil e presidente do Conselho de Administração, diz, de cara lavada, cinicamente, que não sabia de nada!
“A presidente Dilma Rousseff considera ‘estarrecedor’ que um servidor de carreira da Petrobrás – o seu diretor de abastecimento e refino entre 2004 e 2012, Paulo Roberto Costa – tenha sido o mentor do megaescândalo de corrupção na estatal que começou a emergir em março último, com a prisão dele e de seu sócio Alberto Youssef, o doleiro suspeito de branquear R$ 10 bilhões. Costa, como se sabe, conseguiu ser solto, mas voltou para a cadeia em junho, quando se descobriu que mantinha US$ 23 milhões em contas na Suíça, o que poderia induzi-lo a fugir do País. Em fins de agosto, para não ser condenado às penas a que de outro modo estaria exposto e, ainda, obter perdão judicial, ele começou a contar ao Ministério Público e à Polícia Federal o que seria a versão integral da roubalheira.
“No último sábado (6/9), a imprensa divulgou quantos – e, em um caso, quais – seriam os políticos e autoridades que ele teria acusado de receber propinas equivalentes a 3% do valor de contratos firmados com empresas participantes da tramoia. Na segunda-feira (8/9), na sua vez de ser ouvida por este jornal na série de entrevistas com os candidatos ao Planalto, a presidente fez a respeito do esquema afirmações, estas sim, de estarrecer. Pelo cinismo, em primeiro lugar. ‘Eu não tinha a menor idéia de que isso ocorria dentro da empresa’, sustentou, de cara lavada. A ex-ministra de Minas e Energia e ex-titular da Casa Civil do governo Lula – e, nessa condição, presidente do Conselho de Administração da Petrobrás, a sua mais alta instância decisória – não pode se passar por nefelibata, vivendo nas nuvens.
“Não bastasse a massa de informações sobre a empresa a que tinha acesso por força dos cargos que ocupava no aparato estatal mesmo antes de vir a comandá-lo, as questões relacionadas a energia, em geral, e ao petróleo, em especial, sempre interessaram de perto a ex-mestranda em economia pela Unicamp. Depois, presidente da República, colocou no comando da Petrobrás uma servidora de carreira, cuja lealdade à amiga próxima decerto faria com que compartilhasse com ela histórias do cotidiano da companhia que talvez não comentasse nem sequer com os membros da diretoria executiva por ela nomeados. Por último, o serviço de inteligência do Executivo federal sempre poderia ser acionado para seguir de olhos bem abertos o que se passava na maior empresa brasileira.
“É praticamente impossível escapar à conclusão de que Dilma, a detalhista, não quis saber do enraizado sistema de fraudes que, ao beneficiar políticos da base aliada do Planalto, contribuía objetivamente para consolidar a agigantada coligação eleitoral de nove partidos com a qual espera se reeleger. No limite, a presidente não teria querido que se soubesse. A sua outra afirmação estarrecedora foi a de ‘garantir (o termo é dela) que todas as sangrias que pudessem existir estão estancadas’. Podem estar, mas, aí sim, pode-se dizer com absoluta certeza que ela não tem nada com isso. Suspeitas sobre ‘malfeitos’ na Petrobrás se sucediam havia pelo menos três anos. Paulo Roberto Costa deixou a empresa em março de 2012, mas já em agosto tinha montado uma consultoria que funcionava como uma cópia da chave com a qual, anos a fio, abrira as portas dos gabinetes mais procurados da estatal.
“Assim como o então diretor, o novo consultor continuou a manter desenvoltos negócios, por exemplo, com a Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, tida pelos conhecedores como um poço sem fundo de maracutaias. Era para custar R$ 5,6 bilhões. Deverá custar R$ 41,5 bilhões. A estimativa inicial, desdenhou Costa numa entrevista, era uma ‘conta de padeiro’. O fato é que Dilma, podendo fazê-lo, não moveu um dedo para suturar as veias abertas da Petrobrás. Elas continuavam a verter, com toda probabilidade, até a Polícia Federal desencadear a Operação Lava Jato que levou à prisão, entre outros, a empreendedora dupla Costa & Youssef e à decisão do primeiro de delatar o esquema que chefiava em benefício de empreiteiras e políticos governistas. Já a presidente da República, quando podia coibir o assalto aos cofres da Petrobrás, não o fez. Agora, pelo menos demonstre algum respeito pela inteligência do público.” (Editorial, Estadão, 10/9/2014.)
* São tantas dissimulações que Dilma desmente a si própria na mesma conversa
“São tantos os vaivéns e tão grande a quantidade de dissimulações com as quais a presidente Dilma Rousseff precisa lidar ao mesmo tempo, que ela não está mais conseguindo manter as aparências.
“Os fatos não correspondem aos atos, as palavras não guardam relação com as evidências, as perguntas vão para um lado, as respostas caminham no sentido oposto – isso quando fazem algum sentido. Cai em contradição a ponto de desmentir a si mais de uma vez na mesma conversa.
“Foi o que aconteceu na entrevista ao Estado, nesta segunda-feira (8/9), em que admitiu o que até então negava a respeito da Petrobrás. ‘Se houve alguma coisa, e tudo indica que houve, posso garantir que as sangrias estão estancadas’, disse ela a propósito da existência (ou não) de um esquema de desvio de recursos para beneficiar empreiteiras, funcionários, partidos e políticos.
“Até então vinha tratando as revelações feitas na imprensa sobre os depoimentos no acordo de delação premiada do ex-diretor da empresa Paulo Roberto Costa como informações às quais não poderia dar crédito por não terem chancela oficial.
“Diante da insistência dos jornalistas, recuou para o condicional ‘se’ e em seguida fez duas afirmações em que se contradisse. A primeira: ‘tudo indica que houve’. A que ‘tudo’ se referia a presidente? Ao que saiu publicado no fim de semana ou a informações de que dispunha sobre acontecimentos a respeito dos quais ela afirmara não ter tido a ‘menor idéia’ de que ocorriam na companhia?
“A segunda afirmação: ‘Posso garantir que as sangrias estão estancadas’. Ora, se a presidente Dilma Rousseff diz que nunca ouvira falar de que nada irregular acontecia na Petrobrás, como pode assegurar que as tais sangraduras (depreende-se, de dinheiro público) estejam estancadas? Se houve o saneamento foi porque ela cumpriu a contento a sua obrigação de zelar pela probidade. Mas aí, para ter tomado essa providência, terá necessariamente de ter tido o conhecimento que nega. E sonegou esse dado à nação.
“Mais adiante, quando os entrevistadores voltaram ao assunto para lembrar-lhe o que ela havia dito momentos antes, Dilma negou de maneira peremptória: ‘Eu não disse isso. Por favor, sou presidenta da República. Não posso fazer uma coisa dessas. Baseado em informações da imprensa não posso condenar ou perdoar ninguém’.
“De fato. Mas não se trata de perdão nem de condenação. O que a presidente disse está gravado e registrado. Pode não ter tido a intenção de dizer. No entanto, disse.
“O problema de certas narrativas é a necessidade de adaptá-las aos fatos quando eles começam a criar pernas, se desconectam das falas e os dois desobedientes saem por aí produzindo atos falhos.” (Dora Kramer, Estadão, 10/9/2014.)
* A origem dos males da Petrobrás é uma perversa combinação de fisiologismo com ideologia
“Vamos deixar de lado a privatização da Petrobrás. Só o pastor Everaldo defendeu a tese e ele tem 1% nas pesquisas de intenção de voto. Se quase ninguém acha viável essa idéia, não convém perder tempo com ela, ao menos por ora. Mas há uma questão inadiável: como dirigir uma estatal desse tamanho?
“Reparem no nome: é estatal, não governamental. Faz diferença. Governos mudam a cada quatro anos, o Estado é sempre o mesmo. Se aceita a preliminar de que o Estado brasileiro deve ter uma companhia de petróleo, não decorre daí que o governo de plantão pode administrá-la como bem entender.
“Sim, o governante é eleito pelo povo para aplicar determinado programa político. Mas assim como esse programa não pode, por exemplo, estatizar a imprensa, também o governo eleito, o Executivo, não pode, pelo outro lado, decidir vender a Petrobrás.
“O monopólio do petróleo, que é da União, está na Constituição. A Petrobrás foi criada por lei do Congresso Nacional como um estatal no ramo do petróleo, mas não é mais a titular do monopólio. Perdeu essa condição por uma emenda constitucional votada em 1997.
“Eis um ponto curioso, portanto: o Congresso pode, mediante emenda constitucional, abolir o monopólio do petróleo e manter a Petrobrás como estatal operante. Ou o contrário: pode fechar a Petrobrás e manter o monopólio, contratando outras empresas para extrair o óleo.
“Nada disso está na pauta, mas um dia estará. De todo modo, para qualquer lado que se vá, trata-se de questão estratégica, a ser decidida por ampla maioria do Congresso Nacional. São objetivos do Estado brasileiro, não do governo deste ou daquele partido.
“Por isso, a Constituição e as leis precisam proteger o Estado da ação de maus governos. Há governos incompetentes e mal intencionados, não é mesmo?
“Além disso, o bom senso sugere que administrar uma multinacional de petróleo, seja privada ou estatal, não é coisa para amadores. Como se faz no mundo privado? Os donos, os controladores da companhia estão no conselho de administração (ou de diretores) e daí definem os objetivos estratégicos. E contratam no mercado os executivos que vão tocar o negócio, segundos os parâmetros definidos pelo conselho.
“Em tese, é isso que acontece com a Petrobrás. O governo eleito, representando a União, a controladora, nomeia membros para o conselho de administração. E este escolhe os diretores executivos.
“Mas algo, evidentemente, saiu muito errado nos últimos anos. Não é possível que uma companhia séria cometa tantos erros e perca tanto dinheiro em tantos negócios mal feitos.
“A origem do problema é uma perversa combinação de fisiologismo com ideologia. Fisiologia, como se dizia antigamente, é a ação dos partidos que se apropriam do aparelho do Estado para beneficiar os correligionários, amigos e apoiadores com cargos e/ou negócios. Governar é nomear e demitir — ainda se diz por aí.
“A ideologia, no caso, é a de esquerda, que considera essencial o controle das estatais para, digamos, colocá-las ‘a serviço do povo’.
“Juntem esses partidos e dá na Petrobrás de hoje. Lula, quando presidente, mandou a Petrobrás construir muitas refinarias, considerando isso um objetivo estratégico. E a construção dessas magníficas obras caiu nas mãos, quer dizer, nos bolsos do pessoal da fisiologia.
“Errado duas vezes. A companhia não tinha capacidade financeira nem operacional para tocar tanta coisa ao mesmo tempo, mesmo que não houvesse erros técnicos e desvio de verbas.
“Como proteger a Petrobrás desses malfeitos? Controle mais rígido das decisões do conselho de administração, nomeação obrigatória de conselheiros representantes do Congresso, por exemplo, e de executivos de fora do governo, todos com responsabilidades definidas, além regras de gestão, inclusive para contratação dos executivos. Um presidente contratado no mercado internacional, com mandato, não seria mais eficiente para tocar os objetivos definidos pelo Estado?
“Em resumo, regras formais de governança e controle externo. A empresa terá objetivos estratégicos definidos politicamente. Mas a gestão deve ser independente dos interesses partidários do governo de plantão.
“Vale também para o Banco Central. O objetivo, controlar a inflação, sustentar crescimento, deve ser fixado no âmbito político. A gestão, independente, do governo e dos interesses privados e partidários.
“O Banco Central da Inglaterra contratou seu presidente, o canadense Mark Carney, numa seleção internacional. Publicou edital definindo as competências e recebeu inscrições.
“E podem reparar: onde há inflação controlada, melhor desempenho econômico e, sobretudo, juros menores, há um banco central independente, do governo.” (Carlos Alberto Sardenberg, O Globo, 11/9/2014.)
Os ministros mortos-vivos
* Dilma declara que o prazo de validade de Mantega no Ministério da Fazenda expira em 31 de dezembro
“A presidente Dilma Rousseff parece que só pega no tranco. Ao que tudo indica, foi preciso que o seu criador, Luiz Inácio Lula da Silva, desse enfáticos sinais de que se cansara de aconselhá-la a se achegar ao empresariado que quer vê-la pelas costas para a criatura se tocar. Até ele, o do ‘nunca antes neste país’, já há tempos via com clareza e crescente desconforto a sua recusa ao imperativo eleitoral de mudar o disco arranhado dos seus êxitos na gestão da política econômica – limitados, na narrativa dilmista, apenas pela ‘crise externa’ e negados apenas pelo ‘pessimismo’ desinformado ou de má-fé.
“Finalmente, a realidade conteve a soberba. E, pela primeira vez, a candidata admitiu que a economia brasileira anda devagar, quase parando. ‘Eu gostaria que o Brasil estivesse crescendo num ritmo mais acelerado’, disse, ao discursar anteontem (3/9) em um evento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em Belo Horizonte. E pela primeira vez também fez uma promessa diferente da modalidade mais do mesmo para o segundo mandato que um dia, não faz muito, ela imaginava conquistar de uma tacada só. ‘Obviamente, novo governo, novas e necessariamente atualização (sic) das políticas e das equipes’, enunciou, como quem declara que o prazo de validade do economista Guido Mantega no Ministério da Fazenda expira em 31 de dezembro, ainda que o dela vá até 1.º de janeiro de 2019.
“Obviamente, como ela diria, não há como saber se acredita no que disse – ou melhor, se, acreditando, terá a determinação e a competência para não repetir, caso as urnas lhe derem uma segunda chance, a coleção de erros que esfiaparam a sua credibilidade a ponto de 8 em cada 10 eleitores desejarem mudanças na condução do governo. Desde logo, porém, é de recear que a ‘atualização’ venha a ser tão trôpega como o fraseado a que ela recorreu para formulá-la, no pedregoso português que é um de seus vícios insanáveis. O outro, de que não consegue se livrar nem quando se trata de ganhar votos, como se viu nos debates pela televisão, é a mistura de enfado e impaciência que exibe diante de opiniões que não ecoam as suas próprias. Isso importa porque tal característica de personalidade, a julgar por estes quatro anos que se aproximam do fim, condiciona a sua conduta e pesa nas suas decisões como presidente da República.
“A Dilma confeccionada em estúdio, para figurar no horário eleitoral, é outra coisa. Assim também o Brasil que desfila ao longo dos 11 minutos ao seu dispor duas vezes por dia, três vezes por semana, graças à opulenta coligação de nove partidos que os recursos de poder do Planalto lhe permitiram arregimentar. ‘Hollywoodiano’ foi como a rival Marina Silva qualificou o País da propaganda dilmista – sem contar os dois dentes frontais que a afortunada sertaneja Marinalva Gomes Filha ganhou, além de um upgrade no fogão a lenha, para aparecer ‘produzida’ ao lado da presidente. Ela pode maquiar os fatos, mas os seus críticos não podem brigar com eles. Os mais recentes desta campanha sucessória marcada indelevelmente pelo imponderável sugerem que está dando resultados o embelezamento publicitário da paisagem social brasileira e do desempenho do ‘poste’ que Lula fincou em Brasília há quatro anos.
“As novas pesquisas do Ibope e do Datafolha indicam que o bastião de Dilma resistiu à primeira arremetida do ‘furacão Marina’. Dizia-se há pouco que a sua ascensão teria gás para prosseguir pelo menos até o primeiro turno, dado o tempo presumivelmente escasso entre a irrupção de seu nome e a inevitável estabilização de sua popularidade. Os números de agora põem em xeque o prognóstico. No Ibope, os quatro pontos ganhos por Marina desde a sondagem anterior foram neutralizados pelos três da presidente, que assim manteve a liderança, embora no limite da margem de erro. No Datafolha, continuam empatadas. A presidente, por sinal, parece ter mais eleitores convictos (61% das intenções declaradas) do que a oponente (50%). O seu pesadelo é o segundo turno: entra pesquisa, sai pesquisa, Marina segue favorita. E ela, Marina, com o seu voluntarismo, parece crer que ganhar a eleição é um fim em si – e não a condição necessária, porém insuficiente, para governar.” (Editorial, Estadão, 5/9/2014.)
* “Dilma não admite erros e se esquiva de responder pelo baixo crescimento. Apenas culpa o mundo”
“É pouco dizer ‘novo governo, novo time’, como fez a presidente Dilma para responder às dúvidas sobre como serão resolvidos os inúmeros problemas criados pelos erros da sua política econômica. O país não cresce, a inflação está no limite máximo, os indicadores fiscais perderam a credibilidade e acumulam-se as dívidas cruzadas entre entes do setor público.
“Qualquer que seja a pessoa a envergar a faixa presidencial, a política econômica terá que mudar, e uma difícil agenda de ajustes terá que ser iniciada em janeiro de 2015. As escolhas equivocadas da presidente Dilma na economia e na energia deixarão uma herança amarga para quem assumir, mesmo que seja ela mesma. Como serão desarmadas as bombas que ficaram destes quatro anos, em que prazo, e com que grau de perícia?
“Os erros começaram antes do atual mandato presidencial, mas a persistência nas escolhas aprofundou o desajuste que já contaminou o ano de 2015, visto por todos os analistas como período em que a correção necessária de rumos reduzirá a possibilidade de crescer.
“Os dois oponentes competitivos da presidente Dilma têm dito mais sobre política econômica do que a candidata à reeleição que insinuou que o ministro Guido Mantega não permanecerá. Isso coloca o ministro em aviso prévio. Pode ser visto como esperança de mudança, mas essa informação é insuficiente para tranquilizar quem acompanha o que se passa na economia. Até porque há dúvidas mais agudas, como a da permanência ou não do secretário do Tesouro, Arno Augustin, com quem a presidente tem uma simbiose conhecida. E é da fábrica de Arno que têm saído as idéias mais perigosas, como as alquimias e pedaladas nos números da contabilidade pública. Claro, tudo contou com a aquiescência do ministro da Fazenda, mas a fonte do poder do secretário é a presidente, que o fez inclusive ir além de suas fronteiras e espalhar confusões na área de energia.
“É deliberado o silêncio da presidente-candidata sobre economia e energia, setores nos quais ela é especialista e, portanto, tem fortes convicções. Perguntada sobre os problemas, ela defende seu governo ou culpa o mundo. Disso só se pode concluir que tudo permanecerá como está. Ou então ela teria que reconhecer os erros e apontar soluções para os problemas que criou. Dilma não tem dado ao eleitor o conforto de saber o rumo do seu próximo mandato, caso o receba das urnas. Conseguiu a proeza de representar mais incertezas do que os que postulam a sua cadeira. Há inconsistências em todos os programas, mas tanto Marina Silva quanto Aécio Neves têm dado mais informações sobre os rumos que pretendem seguir, caso eleitos, do que a candidata que governa o Brasil.
“A afirmação de que o Brasil é vítima de um mundo em crise não resiste ao crivo dos dados e fatos da economia internacional. Os países centrais não vivem um momento brilhante, mas já passaram por momentos piores. Não há justificativa externa para tão baixo desempenho.
“A precária situação das empresas do setor de energia não é resultado apenas de um ano com estresse hídrico. Desde a edição da Medida Provisória 579, que reduziu os preços da energia, o setor vem acumulando desequilíbrios. Ela foi imposta de forma autoritária, sem que os alertas sobre a complexidade do setor fossem considerados. O tema foi politizado para ser usado no período eleitoral, mas esse palanque prévio ruiu antes de ser inaugurado. O quadro piorou pela barbeiragem de deixar as empresas distribuidoras expostas ao mercado de curto prazo quando tudo indicava que os preços subiriam. Elas não escolheram ficar expostas ao preço do mercado à vista. Leilões que deveriam conciliar oferta e demanda fracassaram porque o governo estabeleceu um preço-teto irreal; os ofertantes preferiram não vender a energia e as distribuidoras entraram em 2014 descontratadas.
“Especialistas na área aconselharam o uso de medidas de economia de energia e de eficiência energética ainda no período chuvoso para poupar água nos reservatórios. O governo não fez isso e ainda adiou para o ano que vem o mecanismo já negociado de bandeiras tarifárias que induziria à redução do consumo nestes momentos de uso intensivo das termelétricas. Todos esses erros pesarão no bolso do consumidor nos próximos anos. As más notícias foram adiadas.” (Míriam Leitão, O Globo, 7/9/2014.)
* “Demitir o ministro Mantega parece significar substituí-lo por outro que aceite fazer o que ele fez: defender bovinamente a política que lhe foi ditada por Dilma”
“Já foi difícil arrancar da presidente Dilma a promessa (ou o compromisso) de que, se conduzida a um segundo mandato, providenciaria mudanças na sua política econômica e na equipe que a gerencia. Mas ficou nisso.
“Ninguém ficou sabendo o que pode mudar, nem na política nem na equipe. Sai a tal Nova Matriz Macroeconômica, reconhecidamente perdedora. Mas entra o que no lugar? Saem o ministro Guido Mantega, como a presidente Dilma ontem reconfirmou, e outros figurões mais. Mas quem entra no lugar?
“Ninguém sabe. A candidata presidente não apresentou nenhum programa de política econômica, nem para fins eleitorais. Não chega nem sequer a imitar seu ex-dirigente Leonel Brizola que, no seu tempo, apontava o indicador para a sua própria cabeça e dizia: ‘O programa está aqui’.
“Mesmo com a falta desse gesto, sabe-se que ela pensa e age do mesmo jeito. Durante estes quase quatro anos, foi ela própria o programa e os executores do programa. Os ministros da área econômica e a direção do Banco Central foram extensões do que quis fazer. Assim, demitir o ministro Mantega, ainda que a pedido, parece significar substituí-lo por outro que aceite fazer o que ele fez: defender bovinamente a política que lhe foi ditada.
“Como a defesa automática de tudo não serviu para muita coisa – porque o que está aí está com tantos furos que precisa ser mudado -, então qual é o diagnóstico? A única justificativa para a sucessão de crescimentos mirrados do PIB foi a de que, em todos esses anos, a economia foi vítima da crise global.
“Essa mesma crise global não explica a inflação acima do teto da meta, porque, nos países de economia madura, a inflação ronda o rés do chão. A escalada interna de preços teve de encontrar outra justificativa: foi atribuída ora ao aumento dos preços das commodities, ora à seca ou, até mesmo, à Copa do Mundo.
“Enfim, como explicar a necessidade de mudar se não há mau desempenho da economia?
“Em 2002, o então candidato Lula não se constrangeu a engavetar as críticas que seu partido fazia então à ‘política neoliberal’ e às inspirações do chamado Acordo de Washington que marcaram a administração do seu antecessor. Assinou a Carta ao Povo Brasileiro e optou por uma política igualmente ortodoxa. Mas a presidente Dilma seria capaz de algo equivalente? Ou tudo o que faria seria dobrar a aposta, com outras pessoas e algum ajuste?
“O que dá para dizer é que, se não houver mudança substancial, o risco de um desastre, que até hoje não aconteceu, tende a aumentar. Não basta capitalizar-se eleitoralmente com a condução a um segundo mandato. As contas públicas estão fortemente desequilibradas, o investimento vem em queda livre, a inflação beira o descontrole, o nível de confiança nunca foi tão baixo e os preços dos principais produtos de exportação (as commodities) começaram um período de baixa que tende a prolongar-se, sabe-se lá até quando.
“Enfim, a pergunta sem resposta é: conhecendo-se quem é a presidente Dilma e seu estilo centralizador de governar, até que ponto dá para acreditar na sua disposição de mudar essa política econômica emperradora e de colocar em marcha as reformas tão cobradas nos debates e nas ruas?” (Celso Ming, Estadão, 9/9/2014.)
* “Nunca antes ‘na história dos anos recentes deste país’, como ela diz, um presidente insistiu em anunciar o fim de seu governo com tanta antecedência e de forma, para alguns, vexatória”
“Governos têm prazo de validade constitucional. A presidência Dilma Rousseff tem mais 112 dias de duração, a partir de hoje. A novidade é que, daqui para a frente, ela pretende administrar o país com 39 ex-ministros.
“Dilma, virtualmente, anunciou o fim do seu governo na semana passada, quando subtraiu do poder quem está ministro. ‘Alguns poderão ficar, outros eu irei trocar’ — confirmou no domingo (7/9), em entrevista numa varanda do Palácio da Alvorada, em Brasília.
“Numa poltrona, dentro do palácio, estava Guido Mantega, 65 anos de idade, dos quais um terço dedicado à militância no Partido dos Trabalhadores. Ele está há uma década no poder na Esplanada dos Ministérios: ficou um biênio no Planejamento e acaba de completar oito anos e quatro meses na Fazenda.
“A última conversa com Dilma sobre sua permanência na Fazenda data do primeiro trimestre. Na época, Lula fazia eco às críticas de empresários à condução da economia. Mantega foi ao palácio e pediu para sair. Alegou razões familiares e insinuou abril como época propícia, quando se tornaria o mais longevo ministro da Fazenda. Dilma recusou, deixando Mantega surpreendido e Lula pasmado, como ele relatou em reuniões de cúpula do PT.
“Agora, diante das ameaças na disputa eleitoral, a candidata fez a presidente realizar uma proeza política: há cinco dias seguidos, Dilma demite em público Mantega e 38 ministros.
“Nunca antes ‘na história dos anos recentes deste país’, como ela diz, um presidente insistiu em anunciar o fim de seu governo com tanta antecedência e de forma, para alguns, vexatória.
“Lula demitiu ministros e foi demitido por um, Marina Silva. Dispensou Cristovam Buarque da Educação quando ele estava em viagem ao exterior. Telefonou e o demitiu, mas numa conversa privada. Buarque resgatou seu mandato de senador e foi para a oposição, onde permanece.
“Dilma inovou ao criar 39 ministros-zumbi na Esplanada a um trimestre do fim do mandato, sem razões práticas e objetivas. Se queria sinalizar uma ‘nova política’, não funcionou. Se pretendia uma recomposição com o empresariado, como deseja Lula, iludiu-se porque a principal característica de Mantega foi — e continua sendo — cumprir ordens. Dilma raramente delegou, sempre interferiu na condução da política econômica. É da sua lavra a economia que está aí, recessiva e com alta inflação.
“Foram suas as principais decisões que levaram as contas nacionais ao obscurantismo, como adverte o Tribunal de Contas da União no mais recente relatório: ‘O acompanhamento e o controle têm-se tornado verdadeiros desafios aos órgãos de fiscalização e à sociedade (…) mudanças metodológicas e transações atípicas cada vez mais complexas vêm contribuindo para reduzir a transparência e dificultar o entendimento (…) A estabilidade macroeconômica é um bem público, conquistado à custa de um forte ajuste fiscal suportado por toda a sociedade brasileira em um passado recente. A preservação da percepção de solvência do setor público é crucial para minimizar eventuais expectativas negativas quanto ao controle do endividamento público.’
“Mantega sustentou a vaidade de um recorde de permanência na Fazenda. Dilma agora parece desejar que ele escreva um novo capítulo na sua biografia: 112 dias arrastando correntes na Esplanada dos Ministérios.” (José Casado, O Globo, 9/9/2014.)
* Levar a atual política às ‘últimas consequências’, como o ministro Mantega disse que a presidente Dilma fará, não é promessa. É ameaça.
“A economia está sem ministro da Fazenda, em crise, com os mais importantes economistas rebelados contra o Banco Central, e uma agência de risco pondo a nota do país em perspectiva negativa. Nada disso é por acaso ou fruto da natural efervescência eleitoral. A situação está grave mesmo e, como tenho dito aqui, não por causa do mundo, mas por erros cometidos internamente.
“Tudo o que envolve o abaixo-assinado contra o Banco Central é fato inédito. Mesmo em um governo que tem o hábito de culpar o mensageiro pelos alertas sobre os riscos que o país enfrenta, o Banco Central se mantinha como um oásis de sensatez, local que preferia usar os argumentos para convencer seus críticos. Mas, no caso do economista Alexandre Schwartsman, a decisão foi de entrar na Justiça contra o crítico. Entre os que protestaram contra a atitude do BC estão desde ex-presidentes do órgão em governos diferentes, até economistas que ocuparam cargos na diretoria em períodos em que o PT já dirigia o país. Ontem (9/9), após a pressão, o BC desistiu de recorrer da ação.
“A maneira como foi conduzido o episódio do lay-off do ministro da Fazenda acabou se transformando em um movimento com dois resultados negativos. Primeiro, o país, numa situação difícil, tem agora um ministro completamente desacreditado no cargo. Ele ficará lá contando o tempo para sair e ainda faltam quase quatro meses para o fim do mandato. Segundo, a vantagem que se teria com a mudança no Ministério da Fazenda, que é infundir confiança de que os erros da política econômica seriam corrigidos, foi anulada quando a presidente Dilma disse que Guido Mantega só sairá porque quer. Ou seja, não é um movimento que indica que num segundo mandato — se eventualmente ela o receber das urnas — haja uma correção de rumos. E o país precisa é dessa correção, antes que seja tarde.
“O alerta de ontem (9/9) da Moody’s foi um movimento menos eloquente do que o feito pela Standard & Poor’s em março. A S&P rebaixou a nota do Brasil alertando que estava acontecendo o que os meses seguintes confirmaram: baixo crescimento e deterioração fiscal. A Moody’s, que na época manteve a perspectiva, agora a trocou para negativa. Não é um rebaixamento, mas um aviso de que pode vir a tomar essa decisão. Seja como for, uma agência rebaixou a nota e a outra disse que pode fazê-lo. Por menos que gostemos das classificadoras de riscos — e por mais que saibamos dos erros que elas cometeram — a alocação de recursos dos grandes fundos de investimento são determinados por essas notas; e o custo dos empréstimos dos entes públicos e privados do Brasil também é determinado pela nota. Pela S&P, o Brasil está apenas um degrau acima da linha que separa o grau de investimento do grau especulativo.
“A perspectiva de crescimento para o PIB deste ano caiu pela 15ª semana consecutiva, de acordo com o Boletim Focus, para 0,48%. Já há instituições, na verdade, prevendo alta de apenas 0,1%. Os números do terceiro trimestre ainda não mostraram vigor na recuperação, e a equipe de estudos econômicos do Itaú Unibanco, chefiada pelo ex-diretor do Banco Central Ilan Goldfajn, não descarta a possibilidade de uma nova retração, que seria a terceira trimestral seguida. Isso prolongaria o estado de recessão.
“Parte da reação da economia virá se melhorar o grau de confiança em que os problemas serão enfrentados e superados. Por isso, o eleito este ano, mesmo sendo a atual presidente, deve usar bem a força das urnas. Elas dão à pessoa eleita, mesmo que já esteja no poder, a chance de aproveitar a lua de mel e anunciar medidas que recuperem a confiança. Quem mais precisa convencer que mudará é sempre quem já está no poder, por isso a presidente Dilma desperdiçou uma bala na agulha quando avisou, na hora errada, que tiraria o ministro e, dias depois, para se corrigir, disse que ele só sai porque quer. O que se quer é que o país saia da situação de estagnação com inflação alta, piora do quadro fiscal e déficit em transações correntes.
“Levar a atual política às ‘últimas consequências’, como o ministro Mantega disse que a presidente Dilma fará, não é promessa. É ameaça.” (Míriam Leitão, O Globo, 10/9/2014.)
A inflação
* IPCA volta a ultrapassar o teto da meta
“Com nova alta das tarifas de energia elétrica, passagens aéreas mais caras e custos com empregados domésticos mais elevados, o índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acelerou para 0,25% em agosto, informou ontem (5/9) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“O resultado fez com que a taxa em 12 meses ficasse em 6,51%, voltando a romper o teto da meta perseguida pelo governo, que é de 4,5% e dois pontos de tolerância para mais ou para menos. Mesmo assim, uma alta mensal nessa magnitude já era esperada por analistas.
“A previsão, porém, é que a inflação continue ganhando força este mês. O economista-chefe da Icatu Vanguarda, Rodrigo Alves de Mello, espera alta de 6,6% em 12 meses até setembro, para só depois desacelerar. ‘A alimentação tem mostrado piora na coleta. As passagens aéreas tendem a subir bastante em setembro e há sazonalidade menos favorável de vestuário.’
“Após as quedas registradas em itens ligados à Copa do Mundo, que levou a inflação a ficar praticamente estável em julho (0,01%), alguns itens voltaram a subir, como passagens aéreas (10,16%) e alimentação fora do domicílio (0,71%).
“As diárias de hotéis, por sua vez, recuaram 10,13%, impedindo alta mais intensa do índice. ‘No caso dos hotéis, ainda não foi devolvida toda a alta provocada pela Copa, e não sabemos se vai’, afirmou Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de índices de Preços do IBGE.
“Mas os principais vilões da inflação em agosto não tiveram nada a ver com o evento esportivo. Com reajustes em Belém, Vitória, São Paulo e Brasília e aumento de impostos em Campo Grande e Goiânia, as tarifas de energia elétrica, mais uma vez, figuraram entre os maiores impactos. A elevação foi de 1,76%.
“No ano, a conta de luz já está 11,66% mais cara, praticamente anulando a queda de 15,66% observada no ano passado.
“A energia foi seguida pelo item empregado doméstico, que ficou 1,26% mais caro em agosto. Cada um deles contribuiu com 0,05 ponto porcentual na inflação mensal.
“‘Se, de um lado, a alta de energia elétrica sugere que parte dos preços represados estão sendo liberados, a alta persistente de empregados domésticos evidencia que o componente estrutural da inflação recente, que são os preços de serviços, ainda persiste’, observou o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito.
“Em agosto, os serviços subiram 0,59%, acima do índice geral. Para Perfeito, o dado mostra que os efeitos da política monetária, via aumento dos juros, ainda não se fez sentir sobre o emprego e a renda.
“Outros gastos com o lar pesaram, como condomínio e aluguel. Gasolina e automóvel novo também ficaram mais caros, enquanto o início do segundo semestre letivo foi marcado por reajustes em cursos diversos, como idiomas.
“A taxa de água e esgoto, que vinha garantindo alívio à inflação, desta vez subiu 146%. Reajustes no Rio, em Vitória e em Fortaleza, além da menor adesão ao programa de descontos a quem reduz o consumo de água em São Paulo, contribuíram para a alta.
“Já os alimentos continuaram ficando mais baratos. A queda de 0,15% foi puxada pelos itens consumidos no domicílio, como batata-inglesa, tomate, óleo de Soja, feijão carioca, feijão-preto, farinhas de trigo e Mandioca, entre outros produtos importantes na mesa dos brasileiros. Carne e leite, por conta de problemas no pasto, estão entre os poucos que exibiram alta em agosto.
“Segundo Eulina, a safra recorde de grãos no Brasil e em outros países tem tornado o momento favorável. Mesmo assim, ela ponderou que nem todas as famílias sentem, de fato, um alívio no bolso. ‘Nem sempre isso é percebido, porque os preços já estão num patamar relativamente alto. A relação forte com o bolso da população em geral é em que nível de preço está a cesta de consumo de cada um’, disse. Em 12 meses, os alimentos acumulam alta de 7»53%.” (Idiana Tomazelli, com Flávio Leonel, Estadão, 6/9/2014.)
* “Represando os reajustes, o consumidor consome mais, o produtor produz menos e a economia sente os efeitos”
“As declarações feitas ontem (5/9) pela presidente DiIma Rousseff, durante visita a Expointer, em Esteio (RS), defendendo a políticas de reajuste de preços administrados, em especial nos combustíveis, foi questionada por especialistas do setor.
“No evento, Dilma negou haver pressão excessiva do governo sobre os preços administrados, e disse que atrelar os reajustes de combustíveis aos preços do mercado interno protegem o consumidor, na medida em que impede bruscas oscilações do mercado externo.
“— No meu governo, tivemos reajustes de 31% dos preços nas refinarias, acima, portanto, do IPCA — disse a presidente. Para Rogério Freitas, sócio da Teórica investimentos, porém, a excessiva interferência do governo desequilibra o mercado, afetando a economia como um todo.
“— Represando os reajustes, o consumidor consome mais, o produtor produz menos e a economia sente os efeitos. O custo da produção deve se nortear pelos preços externos e não pelos internos. O IPCA não forma preço, ele é resultado da variação de preços. Assim, toda a interferência é danosa, pois desequilibra as duas pontas do mercado: o da oferta e o da demanda. À época do presidente Fernando Henrique, essa política era mais coerente, pois se baseava em uma fórmula de reajuste que levava em conta a média trimestral das variações dos preços internacionais que passava a ser aplicada no mercado interno — diz Freitas. O economista Julio Hegidus, da consultoria Lopes Filho, concorda.
“— Não há mágica no mercado de combustíveis. Os barris de petróleo são cotados no exterior, como todas as commodities. O Brasil é um exportador de óleo bruto e ainda um grande importador de refinado, na medida em que não temos a quantidade de refinarias necessárias para atender a demanda doméstica. Assim, essa oscilação acaba trazendo grandes impactos à balança comercial — diz.
“— É preciso que o governo se comprometa com maior transparência na política de reajuste de combustíveis que hoje impacta a Petrobrás, uma empresa que deve prestar contas não só à sociedade, como aos seus próprios acionistas. É preciso previsibilidade que permita capitalizar a empresa, para fazer face aos grandes investimentos previstos. A política de reajuste de combustíveis não pode continuar sendo uma caixa preta, assim como a Petrobrás não pode continuar sendo um instrumento de política econômica.” (O Globo, 6/9/2014.)
* “Se depender do governo e de seus interesses eleitorais, haverá muito combustível para a inflação”
“Contrariando as profecias do governo, a inflação deu um repique, voltou a subir e atingiu 0,25% em agosto, ponto inicial de uma nova escalada, segundo projeções do setor financeiro. A taxa prevista para setembro é 0,41% e o ano será fechado, pelos cálculos correntes, com um resultado acima de 6%, pouco pior que o de 2013, de 5,91%. Como no ano passado, a inflação declinou durante algum tempo e em seguida ganhou impulso. Neste ano, o ponto mais baixo, de 0,01%, foi atingido em julho. Na quarta-feira (3/9), os dirigentes do Banco Central (BC) decidiram por unanimidade manter em 11% a taxa básica de juros, a Selic, seu principal instrumento de política anti-inflacionária. Foram prudentes e tomaram a decisão mais segura – criticada, como sempre, por líderes empresariais defensores da tolerância à inflação.
“O número oficial de agosto foi pouco maior que o previsto, uma semana antes, pelos economistas consultados pelo BC na pesquisa Focus. A mediana de suas estimativas havia ficado em 0,22%. Talvez algum ministro ou funcionário do governo acreditasse, de fato, numa forte redução das pressões inflacionárias, depois da acomodação dos indicadores a partir de maio. No mercado financeiro e nas consultorias, a maior parte dos economistas previu uma evolução parecida com a de 2013, quando a inflação chegou a 0,03% em julho e em seguida embicou para cima.
“Afinal, nenhum grande fator inflacionário foi eliminado, mesmo com a elevação dos juros em abril. Os consumidores ficaram mais cautelosos e menos dispostos, mas o crédito permaneceu em expansão, aumentos salariais continuaram superando os ganhos de produtividade e, acima de tudo, as contas públicas pioraram a cada mês, porque a gastança prosseguiu e a receita decepcionou.
“A queda dos preços por atacado foi apontada pelos mais otimistas como um prenúncio de inflação domada. Mas previsões desse tipo são geralmente baseadas em uma confusão. Oscilações de mercado podem pressionar alguns preços por algum tempo, mas só alimentam a espiral inflacionária quando há condições especiais para isso – excesso de crédito ou de gasto público, por exemplo. Errou, no passado recente, quem atribuiu a inflação brasileira à elevação dos preços das commodities no mercado internacional. Essa elevação afetou também outros países, mas poucos tiveram inflação tão alta quanto a do Brasil. Errou também – e a explicação é a mesma – quem previu o fim das pressões inflacionárias quando os preços das commodities caíram por alguns meses.
“De julho para agosto a inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), passou de 0,01% para 0,25%, num salto considerável, embora o custo de alimentos e bebidas tenha diminuído 0,15%. O custo do vestuário também recuou, com variação negativa de 0,15%. Os outros sete grandes componentes do índice aumentaram.
“O quadro parece menos mau quando se examina a porcentagem de itens com variação positiva. Esse indicador, conhecido como coeficiente de difusão, diminuiu de 59% em julho para 55% em agosto. Mas isso se explica basicamente pela queda dos preços de muitos alimentos e bebidas e também do vestuário. No caso dos alimentos, só a lista das ‘principais quedas’ apontadas no informe oficial do IBGE inclui 24 produtos. Seria irrealista apostar na continuação dessa tendência ainda por muito tempo.
“Em agosto, a alta do IPCA acumulada em 12 meses bateu em 6,51% e superou pela segunda vez no ano o limite de tolerância, de 6,5%. O governo tem prometido manter a inflação dentro dessa margem. A insistência nessa promessa, e em nada mais sério, confirma a desistência de buscar a meta efetiva, de 4,5%. A meta real do governo tem sido e continua a ser qualquer número até o limite de 6,5%. É um número muito alto pelos padrões internacionais.
“Se depender do governo e de seus interesses eleitorais, haverá muito combustível para a inflação. Desde agosto o Tesouro abandonou o precário represamento e voltou a soltar grandes volumes de dinheiro para os programas oficiais. É hora de investir em votos.” (Editorial, Estadão, 6/9/2014.)
A economia estagnada
* “As promessas do atual governo perderam o sentido, as explicações fracassaram”
“‘O Brasil está em recessão técnica’, disse-nos o IBGE na semana passada. Para os iniciados, recessão técnica é nada mais do que a constatação de que a atividade econômica do País se retraiu pelo segundo trimestre consecutivo. Para os incautos, ‘recessão técnica’ é um péssimo termo para expressar as mazelas que nos afligem. Lembra ‘parada técnica’, aquela regra que a Fifa inventou e que vimos na Copa, quando a temperatura excedia os 32° e os jogadores precisavam parar para dar aquela respirada, aquela hidratada, para então retornar ao campo a pleno vapor.
“A economia brasileira não há de voltar ao campo a pleno vapor. Há quatro anos a coitada tenta se reerguer e dá de cara com os obstáculos que o governo impõe, inadvertidamente. Inadvertidamente porque pensa estar fazendo o melhor para o País e se recusa a perceber que nada funcionou até agora. Culpa a ‘crise externa’ – ainda que os EUA estejam se recuperando e a China, crescendo -, secas e caprichos da natureza. Culpa até a Copa das Copas: ‘Foi a falta de dias úteis’, diz Guido Mantega, e ecoa a presidente Dilma Rousseff.
“Por certo, o mundo não está fácil. Problemas geopolíticos são muitos, das ameaças de Vladimir Putin às investidas do movimento islâmico Isis. A Europa está à beira de tornar-se um novo Japão: economia que não cresce, risco de deflação ou de queda generalizada dos preços. Nada disso, entretanto, tem impedido nossos pares de crescer. Podem até não estar se expandindo no ritmo que gostariam, mas crescem ainda assim. Afora as Argentinas e Venezuelas do mundo – casos escrachados de má gestão econômica -, os demais países emergentes têm conseguido contornar os problemas globais com alguma destreza. Não o Brasil. O Brasil do investimento que ‘ia se recuperar’, mas que caiu 11% no segundo trimestre de 2014. Brasil, país da poupança de míseros 14% do PIB, montante que não dá nem para o começo dos ambiciosos planos de desenvolvimento do atual governo.
“As políticas do governo deram errado. E agora? Como sair do atoleiro criado pelas supostas boas intenções que resultaram no pior resultado para a atividade desde 2009, ano das sequelas da maior crise financeira internacional do século? Essas são as questões que o próximo governo deverá enfrentar. Não nos iludamos: os próximos quatro anos hão de ser dedicados a consertar os estragos provocados pela má condução econômica do atual governo. A infra-estrutura, o resgate da competitividade da economia brasileira, as reformas estruturais relativas à estrutura tributária e ao mercado de trabalho ficarão para depois. Não importa o que digam os candidatos hoje. A verdade inconveniente é que nenhum esforço para resolver os problemas estruturais do País resultará em algo se a estabilidade macroeconômica – hoje desmontada – não estiver consolidada.
“Promessas sobre o que um ou outro fará para melhorar a saúde, a educação, a segurança nada significam se o País não voltar a crescer com inflação baixa, o que só pode ocorrer se a política fiscal for aprumada e a política monetária, resgatada. A política monetária, como comentei recentemente em entrevista para este jornal, é a parte fácil. Difícil mesmo é desembaralhar os balanços do Tesouro, das empresas do setor elétrico, do BNDES, da Caixa Econômica Federal. Sem isso, não há saneamento fiscal possível. Por onde começar? Confesso que não sei.
“O que sei é que as promessas do atual governo perderam o sentido, as explicações fracassaram e não há mais espaço, tempo ou paciência para aguentar o discurso enfadonho que nos levou à ‘recessão técnica’. O PT teve a sua era e deixou seu legado – uma melhora passageira da distribuição de renda. Passageira porque não souberam fazer a economia crescer e pouco se importaram com a inflação em alta. Repetem à exaustão que o mercado de trabalho está bem, mas a verdade é que o país que encolhe perde empregos, mais cedo ou mais tarde. Se nem sempre é vantajoso mexer em time que está ganhando, em time que está perdendo essa é uma necessidade premente. Está na hora de mexer.” (Monica Baumgarten de Bolle, economista, Estadão, 5/9/2014.)
* “Repetir que a atividade econômica está em recuperação e que a inflação está sob controle não melhora as coisas”
“Guido Mantega, o ministro da Fazenda demitido pela presidente Dilma quatro meses antes do fim do mandato, não admite que se use o termo estagflação para descrever o atual estado de saúde da economia brasileira.
“Pode-se até evitar o palavrão, mas não se pode negar a combinação de um crescimento econômico no chão com uma inflação na chaminé. Vai ser a referência que estará na cabeça do eleitor, esclarecido ou não, no dia 5 de outubro, dia de comparecer às urnas.
“O ministro ainda diria que não passam de cricas impertinentes aqueles que cobram esse grãozinho a mais acima do teto da meta, que ele acredita ser provisório. O problema é que, muito antes de ter chegado onde chegou, a inflação passou a produzir estragos no orçamento do consumidor, o que tem consequência.
“Repetir que a atividade econômica está em recuperação e que a inflação está sob controle, como ontem (5/9) assegurou o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, não melhora as coisas. Quando olha para o PIB mirrado, diz que o comportamento da economia global não ajuda. Mas é incapaz de admitir o efeito positivo quando o assunto é inflação. Nas economias maduras, o avanço dos preços ronda o nível zero e, nessas condições, deveria trabalhar a favor da contenção nos preços por aqui. Se, ao contrário, estamos com uma das inflações mais altas entre os países emergentes é porque as consequências das mazelas internas chegam com mais força do que os fatores externos eventualmente favoráveis.
“O investimento, que é produção futura, está em queda livre. E há pela frente um alentado programa de recomposição dos preços administrados, hoje fortemente atrasados.
“A baixa dos preços dos alimentos e bebidas poderá prosseguir, mas dificilmente continuará a contribuir para o recuo da inflação em 12 meses. E a escalada dos serviços, que havia dado certa trégua em julho, voltou a acelerar: avançou 0,59% depois do recuo de 0,05% em julho. Mesmo que a inflação feche o ano abaixo do teto da meta, não dá para contar com a convergência para 4,5% antes de 2016. O levantamento semanal feito pelo Banco Central (BC) com cerca de 100 instituições (Pesquisa Focus) apontava na semana passada inflação de 6,27% em 2014 e de 6,29% em 2015.
“Sustentam essa conclusão premissas de peso. No contra-ataque à inflação, a administração da economia deixou apenas o Banco Central, que pode pouco. A política fiscal, que já não ajudava, agora trabalha contra. A administração das contas públicas, que já era desleixada e descumpridora de metas, virou um deus-dará. Se houver neste ano algum superávit primário (sobra de arrecadação para pagar a dívida), será irrelevante.
“A âncora cambial, por sua vez, ainda está lá, mas tem seus dias contados. Este é outro preço administrado cujo realinhamento o governo terá de permitir.
“Não haverá tão cedo condições para que o Banco Central derrube os juros básicos (Selic), hoje nos 11,0% ao ano. Se houver uma mexida, a partir do ano que vem, não será para baixo, e sim para cima. Mas aí a diretoria do BC já não será a mesma e a conversa pode ser outra.” (Celso Ming, Estadão, 6/9/2014.)
* A inflação ganha impulso, a estagnação continua
“A calmaria passou, a inflação voltou a subir, bateu em 0,25% em agosto e a taxa de 12 meses, 6,51%, superou de novo o limite de tolerância, imprópria e teimosamente rotulado como ‘teto da meta’. A meta, um ponto sem teto, continua em 4,5%, onde sempre esteve a partir de 2005. Também continua a estagflação, mistura tóxica de preços em alta com produção emperrada ou em queda. Depois de noticiada a recessão no primeiro semestre, o governo e cidadãos de boa vontade – muitíssimo boa – andaram comemorando os números da atividade industrial em julho. Deveriam esperar um pouco mais, para evitar um provável desperdício de foguetes e de champanhe.
“A festejada reação apontada pelo IBGE, um crescimento de 0,7%, veio depois de uma contração de 1,4% em junho. A atividade nem retornou, portanto, ao nível de maio. Além disso, a produção acumulada no ano ficou 2,8% abaixo da calculada para o período de janeiro a julho de 2013. Em 12 meses a queda foi de 1,2%. Só uma reação bem mais forte, nestes últimos meses, poderá impedir uma nova queda anual. Os dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) podem até parecer animadores, mas a boa impressão logo desaparece quando o quadro é examinado com mais atenção.
“Pelos cálculos da CNI, as horas de trabalho na produção aumentaram 2,6% de junho para julho e o uso da capacidade instalada subiu 0,6 ponto porcentual, atingindo 81%. Mas o aumento da atividade é em parte explicável pelo menor número de folgas depois de encerrada a Copa da Fifa. A advertência, incluída no informe divulgado pela entidade, foi realçada pelo gerente executivo de Política Econômica da confederação. A expectativa, segundo ele, ainda é de resultado negativo para a indústria neste ano. Apesar do aumento em julho, o indicador de horas de trabalho ainda ficou 2,3% abaixo do de julho de 2013. Além disso, o nível de emprego continuou em queda, com redução de 0,2% de junho para julho. A massa real de salários também caiu 0,2%.
“A diminuição do emprego industrial é uma das tendências mais preocupantes observadas na economia brasileira nos últimos dois anos ou pouco mais. A criação de postos de trabalho tem dependido principalmente do setor de serviços e da administração pública. Isso é uma clara indicação de perda de qualidade e de produtividade da maior parte do emprego gerado no país. Essa tendência é perfeitamente compatível, também, com a prolongada estagnação da economia, compensada parcialmente só pelo bom desempenho do agronegócio.
“Os primeiros dados de agosto são também negativos. No mês passado, a produção de autoveículos foi 22,4% menor que a de um ano antes, segundo informou na quinta-feira a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). O número acumulado de janeiro a agosto, 2,08 milhões, foi 18% inferior ao de igual período de 2013. Na mesma comparação, o licenciamento de veículos diminuiu 9,7%.
“As vendas internas de máquinas agrícolas e rodoviárias também recuaram, embora a agropecuária continue saudável e o governo continue exibindo a construção de estradas como grande realização. Até agosto, as vendas no atacado recuaram 18,9% em relação ao nível de um ano antes. O valor das exportações de veículos e máquinas agrícolas, US$ 8 bilhões, também despencou no ano e diminuiu 27,2%. No mês passado, o número de empregados nas montadoras, 148,9 mil, foi bem menor que o de um ano antes (157,6 mil) e inferior até ao de agosto de 2012 (149,8 mil).
“Por enquanto a produção prevista para o ano é 5,4% menor que a de 2013, segundo o presidente da Anfavea, Luís Moan.
“Até agora, o novo lance do Banco Central (BC) para reanimar a economia deu em nada. Com a liberação de recursos dos depósitos compulsórios, o setor financeiro passou a dispor de mais dinheiro para emprestar a consumidores e a empresas. Parte da liberação foi destinada explicitamente ao setor automobilístico, mas nada ou quase nada aconteceu. Segundo o governo, os bancos estão sendo excessivamente conservadores e dificultando os negócios.Grandes bancos até anunciaram redução dos juros, mas sem efeito sensível. Parte do problema, segundo as avaliações conhecidas até agora, está do outro lado do balcão. Consumidores e empresas parecem, neste momento, menos dispostos a correr atrás de novos empréstimos, embora os dados do BC ainda mostrem alguma expansão do crédito.
“De toda forma, o governo insiste num jogo de possibilidades limitadas, com estímulos especiais – tributários e financeiros – dirigidos a alguns setores selecionados. O destaque, naturalmente, continua sendo a indústria automobilística. Esse tipo de aposta obviamente fracassou nos últimos quatro anos, embora alguns segmentos da indústria tenham aproveitado os incentivos para vender mais e ganhar um dinheiro extra. Mas o resultado geral para a economia é bem visível nas taxas de crescimento do produto interno bruto (PIB). A expansão foi de 2,7% em 2011, 1% em 2012 e 2,5% em 2013. A recessão do primeiro semestre deste ano combinou muito bem com esses antecedentes. Mas a história vai além, porque a queda do investimento compromete o potencial de expansão econômica.
“Mas o resto do mundo, insiste a presidente Dilma Rousseff, está em situação muito pior. Empenhada na campanha, ela deve continuar sem tempo para ler jornais. O presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, acaba de anunciar um corte de juros e emissão de dinheiro para animar a economia. Segundo previsões do banco, a economia da região deve crescer 0,9% neste ano e 1,6% no próximo, com inflação abaixo de 1% e risco de deflação. Quadro ruim, sem dúvida. E no Brasil? Segundo pesquisa do BC de 29 de agosto, as projeções indicam crescimento de 0,52% neste ano e 1,10% em 2015, com inflação sempre acima de 6%. Na zona do euro, o desafio é elevar a inflação até 2% e movimentar a produção. No Brasil, cortar a inflação sem jogar mais para baixo uma economia já arrasada. Alguém devia contar isso à presidente.” (Rolf Kuntz, Estadão, 6/9/2014.)
* “Por mais que demonstre que não saiba ou que não goste de ler os indicadores econômicos, é improvável que Dilma acredite no que dizem ela própria e seu ministro da Fazenda”
“Do ponto de vista da administração da economia, o governo Dilma deu errado. Não chega a ser um desastre, mas é máquina que funciona mal e precariamente.
“A atividade econômica está paralisada, o investimento desabou, a inflação segue rondando a cumeeira, o crescimento potencial parece abaixo de 2,0% ao ano, o gerenciamento das contas públicas é caótico, o rombo externo preocupa, as distorções na área energética se acumulam e as avaliações sobre a confiança despencaram.
“No entanto, a presidente Dilma e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, seguem afirmando que não há nada de errado, que o País só não cresce mais porque o resto do mundo está em crise e porque os bancos nativos vêm segurando o crédito.
“Afirmam, ainda, que a inflação está sob controle; que, apesar da relutância do empresário em liberar seu espírito animal, o investimento não tardará; e que o desalento da hora está sendo espalhado pelos analistas e pela imprensa que faz o jogo do quanto pior, melhor…
“Por mais que demonstre que não saiba ou que não goste de ler os indicadores econômicos, é improvável que Dilma acredite no que dizem ela própria e seu ministro da Fazenda. Então, por que não reconhece logo os erros dessa política perdedora? Por que não aponta com mais clareza do que tem feito para as inevitáveis correções de rumo, pedidas até mesmo pelo ex-presidente Lula e, mais do que isso, por que insiste nessa retórica enganadora que joga contra seus objetivos eleitorais? Por quê?
“Pretender converter o mercado financeiro e os empresários para as causas não pode ser o objetivo dessa renitência. Está difícil de encontrar algum deles que aplauda e que demonstre alguma confiança no que poderia ser a continuação do que está aí.
“Imaginar que esse discurso tenta fazer a cabeça do povão, também não leva para muito longe. É uma vasta parcela da população movida a bolso, que parece relativamente satisfeita com o Programa Bolsa Família e com a alta generosa do salário mínimo. Não seria ela que se sentiria traída caso ouvisse manifestações de mudanças na política econômica.
“Há, sim, as classes remediadas, as mais antigas e as recém-chegadas que, de alguma maneira, são formadoras de opinião. Mas também elas não se deixariam influenciar negativamente pelo reconhecimento dos erros cometidos.
“Os intelectuais de esquerda fizeram lá sua opção e não vão mudá-la tão cedo. Não acreditam no mantra oficial, mas não precisam disso para manter seus pontos de vista. Mas, então, por que o discurso segue sendo a lengalenga nada convincente? Ah sim, porque tem a militância, a cujo ativismo o ex-presidente Lula e o secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, sabem dar valor. Não se pode desmobilizá-la.
“Durante todos estes anos, esses brigadistas acreditaram na eficácia da Nova Matriz Macroeconômica e não podem agora ser desmentidos. Essa militância foi habituada à práxis do ‘bateu, levou’ e à recomendação do ‘não deixe nada sem resposta’, mesmo no irrespondível. É complicado para ela desfazer, de repente, palavras de ordem. Admitir que é preciso rever e reconstruir tanta coisa implica reconhecer erros, o que traria o risco de desmobilizá-la.
“Quem tiver outra explicação para esta insistente anomalia levante a mão e se manifeste.” (Celso Ming, Estadão, 7/9/2014.)
* O modelo que este governo persegue é todo baseado em pontos inconsistentes: o estímulo ao consumo e o populismo tarifário
“São várias as inconsistências no modelo econômico perseguido pelo atual governo. Os resultados desastrosos obtidos até agora legam um enorme desafio para a administração que se iniciará em 2015, seja qual for. De acordo com as pesquisas, o eleitor parece já ter percebido que há muitos problemas por corrigir. Torçamos, então, que os candidatos da oposição estejam preparados para enfrentá-los.
“A principal inconsistência está em estimular forte e seguidamente o consumo e achar que tudo o mais se resolve como uma decorrência natural, especialmente o crescimento dos investimentos e da produção industrial.
“Estimular o consumo interno além da conta é o mesmo que penalizar a poupança. Assim, quanto mais rápido for o crescimento que se deseja, mais o país dependerá de poupança de fora para financiar suas necessidades de investimento.
“O mundo tem favorecido como nunca a absorção de poupança por países como o Brasil. Só que a única maneira de o ingresso de poupança materializar-se é via financiamento de déficits externos equivalentes. Para esses déficits ocorrerem, a taxa de câmbio tende a diminuir, fazendo com que os setores que comercializam com o exterior, notadamente a indústria, importem mais em detrimento da produção local. Para júbilo governamental, os salários da indústria tendem simultaneamente a crescer, só que acima da produtividade, inviabilizando os negócios.
“Para entender isso melhor, é só pensar na China, que tem o modelo oposto. Lá se poupa muito e ele é voltado para atender ao consumo de produtos industrializados dos demais países. Investe-se muito nesses setores e se exportam grandes volumes de capitais e produtos, estes a preços cada vez menores.
“A exemplo da Austrália, exportamos commodities agrícolas e minerais para os asiáticos e importamos produtos industriais deles. O que não se pode é achar que, nesse quadro, a indústria será forte um dia em nosso país, a não ser por exceção, como no caso da Embraer.
“Quando o governo diz que fortalecer a indústria é um de seus principais objetivos deixa dúvidas no ar. Ou parece não entender do assunto, o que é pior. Acaba intervindo na economia para tentar compensar os segmentos prejudicados, com medidas que são vistas pelos industriais como não sustentáveis, e estas, além de custar caro, não produzem os efeitos desejados. A queda, desde 2008, na razão entre investimento e PIB, na produção industrial e no próprio crescimento do PIB está aí para confirmar isso. O governo culpa o cenário externo adverso, pura conversa fiada, como demonstrou Alexandre Schwartsman na ‘Folha de S.Paulo’ de 13 de agosto. O crescimento médio da produção industrial mundial passou a ficar maior do que no Brasil já há algum tempo.
“O segundo grande eixo da inconsistência governamental é o populismo tarifário, prática em que estamos perfeitamente alinhados com a Argentina (veja raulvelloso.com.br). Para agradar aos eleitores, estimular o consumo e ajudar a indústria, o governo tenta jogar para baixo, na marra, preços críticos da economia, como os pedágios, as tarifas urbanas, e os preços de eletricidade e petróleo, despejando uma ducha de água fria sobre aqueles que deveriam ser cortejados — os investidores privados. As contas decorrentes dessas práticas lamentáveis são gigantescas, e estão sendo empurradas para o próximo mandato, sem aviso à população. Em energia elétrica, por exemplo, é da ordem de R$ 50 bilhões, o que equivale a dois anos de gasto com o Bolsa-Família. Um escândalo!
“Outra grande inconsistência está no principal motor do modelo, os gastos correntes, especialmente com gigantescas transferências previdenciárias e assistenciais, que crescem a mil por hora e vão ‘engolir’ o PIB em breve. Para viabilizá-los, a carga tributária tem de crescer sempre e os investimentos em infra-estrutura cair, o que suga o sangue das veias da economia, especialmente da indústria, menos competitiva, e tem óbvios limites. E como o DNA do governo é estatal e anti-qualquer-lucro, parece que estimula os investimentos privados em infra-estrutura, mas na prática os penaliza. Anuncia que fez isso e aquilo, mas de fato pouco acontece. Ao final, ninguém cobra nada, como no caso da segunda rodada de concessões rodoviárias, de 2007/08, que, segundo matéria na mídia há alguns dias, continua travada.
“Qualquer coisa que relembre racionamento de energia é proibida no vocabulário governamental, pois foi criticando a gestão FH nesse e noutros aspectos que o atual governo chegou ao poder. Só que a oferta de energia — onde o governo interfere de A a Z — não cresce conforme o governo determina, por incompetência, escassez de recursos e por desestimular os investidores privados sérios. A seca deste ano, que se encaixa na normalidade climática, acaba sendo usada como bode expiatório. Enquanto isso, estimulado pela redução tarifária extemporânea sob a MP 579 e pelo adiamento da inclusão dos custos atuais na conta de luz, o consumidor residencial mantém seus hábitos de consumo de energia como se estivéssemos num mar de rosas.” (Raul Velloso, economista, O Globo, 8/9/2014.)
Os números ruins da semana
* Sobe para 47,1% proporção de consumidores que consideram a situação ruim
“A Sondagem do Consumidor, realizada mensalmente pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), revela que a proporção dos consumidores que consideram boa a situação atual diminuiu de 16,7% para 12,5% em agosto, enquanto subia de 41% para 47,1% a dos que a consideram ruim. Já o indicador que mede o grau de satisfação dos consumidores com a economia recuou 13,6% em relação a julho, passando de 75,7 para 65,4 pontos – pior resultado desde abril de 2009.
“Isso no que se refere à avaliação dos consumidores sobre a situação atual da economia. Assim, o Índice da Situação Atual (ISA) caiu 5,1%, para 107,2 pontos, o menor nível desde maio de 2009, quando esse índice estava em 103 pontos.
“Segundo a coordenadora da pesquisa na FGV, Viviane Seda, a análise desfavorável sobre o ritmo atual de abertura de vagas de emprego influenciou negativamente a percepção do brasileiro sobre a economia como um todo. E essa avaliação dos consumidores sobre a economia geral pesou cerca de 60% para o resultado negativo do ISA.
“O receio de perda do emprego afeta, para menos, tanto a propensão para consumir no momento quanto a disposição para assumir dívidas de mais longo prazo, com a aquisição de carros e de casa própria, por exemplo – o que tem repercutido negativamente, como se sabe, nesses mercados.
“Esse receio com relação ao futuro influi também, negativamente, nas expectativas dos consumidores, refletida no Índice de Expectativas (IE). Assim, a parcela deles que projeta uma melhora da economia para os próximos meses diminuiu de 22,9% para 22,1% e a dos que estão prevendo piora do estado geral da economia aumentou de 28,4% para 30,3%.
“No caso das expectativas, o resultado pode ter sido influenciado não só por aquele receio, já mencionado, de perda do emprego, como por incertezas relacionadas com o resultado final da eleição presidencial. O índice diminuiu 1,1%, ficando em 100,1 pontos, ante 101,2 pontos em julho.
“Em agosto do ano passado, o IE aumentara em relação a julho: 110,1 pontos ante 107 pontos. De lá para cá, ele veio sempre caindo, em cada mês, na comparação com o mês imediatamente anterior – considerado, sempre, com ajuste sazonal.
“Na verdade, ‘a confiança do consumidor diminui e decepciona aqueles que esperavam a reversão da tendência de queda iniciada em 2012’, observa Viviane Seda.” (Editorial, Estadão, 5/9/2014.)
* Indústria de São Paulo recuou 1,2% em julho, segundo o IBGE
“A atividade da indústria de São Paulo, maior parque industrial do país, mostrou queda de 1,2% em julho em relação a junho, e recuo de 5,8% na comparação com julho do ano passado. Os dados constam da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física Regional (PIM-PF Regional), divulgada nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“Ainda segundo o instituto, no acumulado de janeiro a julho deste ano, a atividade industrial de São Paulo caiu 5,2% – sendo que, no acumulado em 12 meses até julho, o recuo na produção industrial no Estado foi de 2,7%.” (Alessandra Saraiva, valor.com.br, 5/9/2014.)
* Brasil teve a maior redução na população economicamente ativa entre os países do G-20
“O Brasil é a economia do G-20 que registrou a maior queda no número de pessoas que de fato são economicamente ativas no último ano. Dados divulgados pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) revelam que o Brasil tem o quinto menor índice de desemprego entre os países do G-20.
“Mas o País é um dos exemplos, ao lado de Argentina, Espanha e Estados Unidos, de economias que viram essa taxa cair não por causa de um maior número de vagas no mercado, mas por uma queda na taxa de participação na população economicamente ativa.
“O índice de desemprego representa a parcela da população que está sem trabalho. Mas, ainda assim, está em busca um emprego. Aqueles que nem trabalham nem buscam uma vaga não são contabilizados.
“O informe da OIT foi preparado para a reunião dos ministros do Trabalho do G-20 nesta semana na Austrália. A constatação da entidade é de que o mundo perdeu uma década em termos da luta contra o desemprego e a crise será sentida pelo menos até 2018.
“Segundo o informe, a taxa de desemprego no Brasil no primeiro trimestre deste ano foi de apenas 4,9%, a quinta menor entre os países que fazem parte do G-20. A taxa está muito distante dos 25,3% de desemprego na Espanha e 24% na África do Sul. Mas o que chama a atenção da OIT é que, em março de 2014, 60,8% da população participava do mercado de trabalho. Em 12 meses, o índice recuou 1,6%, a maior queda entre todas as economias avaliadas. Em mercados como o do México, Coreia do Sul e África do Sul, a taxa de participação aumentou em até 1%.
“De fato, a taxa de brasileiros que estavam empregados foi de 57,8%, com uma redução de 1,2% em comparação ao mesmo período de 2013. A queda também é a maior entre todas as economias do G-20.
“Para a próxima década, porém, o crescimento populacional no Brasil pode ajudar. Entre 2010 e 2020, a previsão é de que o País tenha uma expansão de sua população de 1,3% ao ano. Mas, entre 2020 e 2030, o aumento seria de apenas 0,6%.
“No restante do mundo, a OIT alerta que os indicadores tímidos de crescimento na economia foram insuficientes para reverter a crise no trabalho. Para a entidade, a crise que assolou o mundo em 2008 poderá começar a ser superada apenas em 2018. O número de pessoas empregadas nos países em 2008 – cerca de 450 milhões de pessoas – somente voltaria a ser registrado em 2018.
“Para a OIT, o atual modelo de crescimento não favorece a criação de postos de trabalho. Para que isso ocorra, a entidade vai apelar aos ministros que adotem políticas para aumentar a demanda e o consumo interno de suas economias.
“Mas, por enquanto, o que se registra são salários estagnados ou até uma redução da renda do trabalhador. A desigualdade em diversos mercados aumentou e, mesmo onde há um aumento do salário, ele não acompanha a produtividade.
“Entre os emergentes, a alta salarial que não ficava abaixo de 5,6% a cada ano desde 2010 registrou em 2013 perda de força. No ano passado, o aumento de renda foi de 4,9% entre os emergentes e, na China, a expansão foi nula. Nos países ricos, a elevação foi de mero 0,3%, gerando uma média de 1,9% no G-20, a mais baixa desde 2009.
“Além do número de desempregados, a OIT alerta que 447 milhões de trabalhadores nas economias emergentes do G-20 não ganham nem mesmo para sobreviver. A taxa é metade do número que se registrava em 1991. Mas, ainda assim, representa um desafio social.
“A OIT ainda aponta que metade de todos os trabalhadores do mundo são pobres ou estão no limite da linha da pobreza, cerca de 837 milhões de pessoas no mundo em desenvolvimento.” (Jamil Chade, Estadão, 9/9/2014.)
* Inadimplência dos consumidores volta a acelerar e sobe 5% em agosto
“A inadimplência voltou a acelerar em agosto e pelo menos 55 milhões de consumidores estavam inscritos no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) no mês passado, segundo dados divulgados ontem pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). Os calotes aumentaram 5,09% na comparação com agosto de 2013. Em julho, a expansão da inadimplência tinha sido de 4,43%. Em relação a julho deste ano, a inadimplência em agosto subiu 0,28%. Para a CNDL, o resultado reforça a tendência de crescimento até o fim de 2014 das dívidas em atraso devido à alta da inflação, o encarecimento do crédito e a deterioração da confiança de empresários e consumidores.
“Para a economista da CNDL, Marcela Kawauti, o fato de os atrasos superiores a 90 dias representarem 91,97% das dívidas dos consumidores em agosto revela as dificuldades crescentes dos brasileiros em honrar seus compromissos. Os atrasos, na avaliação da economista, ficam mais longos à medida em que a confiança dos consumidores recua. ‘As pessoas já estão desconfiadas em relação ao seu futuro, até mesmo em termos de emprego. Além disso, há uma questão cultural do brasileiro se endividar até o limite, ficando sem folgas no orçamento’, disse.
“A quantidade de parcelamentos em atraso também cresceu em agosto, com expansão de 6,13% em relação ao mesmo mês do ano passado. Em julho, o ritmo de crescimento era de 5,29%. Na comparação mensal, a quantidade de atrasos subiu 0,35% em agosto ante julho deste ano.
“Entre os compromissos vencidos entre 181 e 360 dias, a expansão em agosto foi de 5,18% em relação ao oitavo mês de 2013. Em contrapartida, os atrasos inferiores a 180 dias recuaram na mesma comparação, indicando que os consumidores em débito não conseguiram quitar suas dívidas e acabaram entrando no primeiro grupo, de atrasos mais longos.
“Apesar de os dados de agosto de inadimplência terem acendido uma ‘luz amarela’ para as empresas e o comércio, segundo Marcela Kawauti, o Brasil não está próximo de uma crise de atrasos generalizados. ‘Não projetamos nenhuma alteração de conjuntura no próximo período. Por isso, a inadimplência deve continuar no patamar atual (crescimento de 5% ao ano) até o fim de 2014’.
“Mais uma vez, os setores de água e luz (16,98%) e de comunicação (11,38%) apresentaram os maiores crescimentos no número de clientes inscritos no SPC na comparação com agosto do ano passado. ‘As pessoas estão deixando de pagar até mesmo contas básicas para consumir. No caso de telefonia, internet e TV paga, os dados mostram que muitos consumidores estão sendo convencidos a contratarem serviços que não podem pagar’, avaliou.
“Houve crescimento da inadimplência em seis das sete faixas etárias analisadas, com exceção dos devedores entre 18 e 24 anos, que registraram queda anual de 5,94% no período. ‘A razão da queda da inadimplência entre os jovens é o adiamento da entrada no mercado de trabalho e o aumento do tempo de estudo deles, o que faz com que o consumo de itens mais caros como carro e imóveis também fique atrasado’, explica Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil.” (Eduardo Rodrigues, Estadão, 9/9/2014.)
* Analistas reduzem previsão para o PIB pela 15ª semana e prevêem expansão de 0,48% este ano
“Em mais um golpe nas expectativas para o desempenho da economia brasileira, os analistas do mercado financeiro reduziram pela 15ª vez a projeção para o crescimento do país. De acordo com a pesquisa feita pelo Banco Central com os economistas das principais instituições, a aposta caiu de 0,52% para 0,48%. É mais um reflexo dos recentes números ruins do Brasil.
“Os especialistas reagiram ao fato de o IBGE anunciar que o país tem um quadro de recessão técnica, ou seja, a economia encolhe há dois trimestres. Ao reformularem suas estimativas, aumentaram ainda a previsão para a retração da indústria — setor mais afetado pela crise — de 1,7% para 1,98. O segmento da economia também não deve ter uma recuperação em 2015 como a esperada antes. A expectativa para o crescimento do setor no ano que vem caiu de 1,7% para 1,5%.
“Com esse quadro mais pessimista, os economistas acham que o Banco Central não aumentará tanto os juros no ano que vem. A projeção para a taxa básica (Selic) no fim de 2015 caiu de 11,75% ao ano para 11,63% ao ano. Números “quebrados” (que não são altas ou baixas de 0,25 ponto percentual) mostram que o próprio mercado está dividido em relação aos próximos passos do Comitê de Política Monetária (Copom).
“Na quinta-feira, um quadro poderá ser melhor desenhado pelos analistas já que o Copom divulgará a ata da reunião da semana passada. Na última quarta-feira, a cúpula do BC decidiu manter a taxa básica nos atuais 11% ao ano. E deu sinais de que não mexerá nos juros por um bom tempo.
“No mercado, especulava-se que a autoridade monetária poderia até indicar corte da taxa básica no ano que vem por causa do desalento em termos de crescimento econômico. Alguns negócios foram fechados sob essa hipótese.
“Após o BC suprimir a expressão ‘neste momento’ do seu comunicado na decisão de manter a Selic em 11% a.a., na semana passada, a divulgação da ata do Copom nesta quinta-feira ganhará relevância. O documento poderá trazer novas indicações sobre as próximas decisões de política monetária. Nesse sentido, o acompanhamento da atividade doméstica, também se faz importante”, afirmou Octavio de Barros, diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, em relatório enviado a clientes.
“No entanto, a decisão de indicar que a taxa ficaria imóvel foi tomada antes de o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado oficialmente no sistema de metas, voltar a furar o limite máximo do objetivo imposto pelo governo. Atualmente, o índice acumula uma alta de 6,51% nos últimos 12 meses. A meta é de 4,5% com uma margem de tolerância de 2 pontos percentuais.
“A pressão recente da inflação também bateu nas estimativas para o ano. A aposta para o IPCA voltou a subir e passou de 6,27% para 6,29%. Os analistas preveem um peso maior das tarifas de serviços públicos no orçamento das famílias.
“A projeção para a inflação dos chamados preços administrados subiu de 5,05% para 5,1%. No ano que vem, a expectativa é muito pior: alta de 7% nas tarifas para compensar cortes feitos no passado para conter a inflação.” (Gabriela Valente e Eliane Oliveira, O Globo, 9/9/2014.)
* Emprego industrial tem quarta queda consecutiva
“O emprego na indústria acumula resultados negativos e caiu 0,7% na passagem de junho para julho na série livre de influências sazonais, informou ontem (10/9) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi a quarta taxa negativa consecutiva levando a uma retração acumulada de 2,4% no período.
“Na comparação com julho de 2013, o emprego industrial recuou 3,6%, a queda mais intensa desde novembro de 2009 (-3,7%). Além disso, trata-se do 34º resultado negativo consecutivo nesta base de comparação. O emprego na indústria acumula ainda quedas de 2 6% no ano e retração de 2,2% em 12 meses, até julho.
O número de horas pagas pela indústria, descontadas as influências sazonais, caiu 0,3% em julho ante junho, segundo o IBGE. Trata-se do terceiro resultado negativo seguido. No ano, o indicador acumula queda de 3,1%. Em 12 meses, a retração é de 2,6%.
“Comparado a julho de 2013, o indicador recuou 4,2%, a perda mais intensa desde outubro de 2009 (-5,3%). Nesta base, segundo o IBGE, as taxas foram negativas em todos os 14 locais pesquisados com destaque para São Paulo (-5,4%), a principal influência negativa. Vale mencionar também os impactos negativos assinalados por Paraná (-7,0%), Rio Grande do Sul (-5,3%), Região Nordeste (-3,4%) e Minas Gerais (-3,2%).
“Ainda na comparação contra igual mês de 2013, o órgão revelou que o número de horas pagas pela indústria caiu em 16 dos 18 ramos pesquisados, com destaque para meios de transporte (-8,0%) produtos de metal (-9,1%), máquinas e equipamentos (-7,1%), máquinas e aparelhos eletroeletrônicos e de comunicações (-8,9%) calçados e couro (-8,7%), vestuário (-5,6%) e alimentos e bebidas (-1,7%). Já os setores de produtos químicos (1,9%) e de minerais não-metálicos (1,5%) assinalaram os impactos positivos nesse mês.
“O valor da folha de pagamento real dos trabalhadores da indústria caiu 2,9% em julho ante junho, segundo o indicador ajustado sazonalmente, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta quarta-feira, 10. No ano, o índice registra avanço de 0,6%, enquanto em 12 meses sobe 0 1%.” (Idiana Tomazelli, Agência Estado, 11/9/2014.)
* O governo Dilma diz que seu grande sucesso é a geração de empregos. Uma balela, como mostram os números
“A balela oficial sobre as maravilhas do mercado de emprego, repetida com insistência e até com arrogância pela presidente Dilma Rousseff e por sua trupe, foi mais uma vez desmentida por dados oficiais sobre a redução do emprego na indústria. Em julho, o pessoal empregado diminuiu 0,7% – na quarta queda mensal consecutiva – e ficou 3,6% abaixo do registrado um ano antes. A principal fonte de empregos de qualidade, a indústria, continua encolhendo, como têm comprovado as principais fontes governamentais de informação, a começar pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O aumento da produção industrial de junho para julho, 0,7%, nem foi suficiente para compensar a queda anterior, de 1,4%, e repor a atividade no nível de maio.
“As condições de emprego no setor são hoje piores do que na crise mundial de 2008-2009, segundo o técnico Rodrigo Lobo, da Coordenação de Indústria do IBGE. Segundo a pesquisa, a ocupação no setor chegou a um ponto 7,3% inferior ao do pico, atingido em julho de 2008. Caiu a um degrau até mais baixo que o de junho de 2009, quando a queda havia chegado a 7%. Naquele momento, a economia brasileira começava a sair da recessão iniciada no ano anterior.
“De janeiro a julho o emprego industrial ficou 2,6% abaixo do registrado nos primeiros sete meses do ano passado. Em 12 meses, a queda chegou a 2,2%. Nesse período, o número de horas pagas diminuiu 2,6%, mas a folha de pagamento real, isto é, descontada a inflação, ainda cresceu 0,1%. Apesar da crise, o custo da mão de obra ficou quase estável, com pequeníssima alta, numa evolução só explicável pela escassez de mão de obra com alguma qualificação.
“Ao longo da crise e apesar das demissões, o peso da folha de pessoal aumentou e continuou pressionando o custo de produção e a capacidade competitiva das empresas. Durante anos, como já foi mostrado várias vezes, o salário industrial cresceu bem mais que a produtividade. Essa foi a tendência observada em vários setores – um fator de pressão inflacionária, segundo o Banco Central, e um entrave ao poder de competição e ao crescimento, num país cada vez mais dependente de ganhos de produtividade para avançar. A expansão econômica baseada na incorporação de contingentes importantes de mão de obra está esgotada, segundo indicam respeitados analistas, e só aumentos significativos de eficiência elevarão o potencial produtivo do País.
“O emperramento da indústria é indisfarçável, especialmente a partir de 2011. A produção industrial cresceu 0,4% naquele ano, diminuiu 2,3% em 2012 e aumentou 2,1% em 2013, sem sequer voltar ao nível de dois anos antes. De janeiro a julho deste ano, ficou 2,8% abaixo dos meses correspondentes de 2013. A oferta de vagas também se reduziu, embora os empresários, no início, tenham procurado manter os quadros. O emprego industrial se elevou 1% em 2011, recuou 1,4% no ano seguinte e diminuiu mais 1,1% em 2013. De janeiro a julho de 2014 recuou 2,6% em relação ao ano anterior.
“Soam grotescas, diante desses dados, as declarações da presidente e de seu séquito a respeito da criação de postos de trabalho no Brasil. Para começar, a taxa de desemprego divulgada mensalmente é verificada em apenas seis áreas metropolitanas. Uma taxa pior foi apontada mais de uma vez pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, com cobertura de 3.500 municípios, mas o último relatório dessa série foi o do primeiro trimestre. Foi apontado um desemprego de 7,1%.
“Em segundo lugar, os números de contratos formais divulgados pelo Ministério do Trabalho confirmam: a criação de vagas tem sido concentrada nos serviços, em geral de baixa produtividade e remuneração modesta, e no setor público. Segundo esses dados, provenientes da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), o número de empregos formais em 2013 foi 3,14% maior que em 2012, com aumento de 1,49 milhão. Quase dois terços, 64,5%, foram criados em serviços (558,6 mil) e na administração pública (403 mil). É esse o grande sucesso do governo Rousseff na geração de empregos.” (Editorial, Estadão, 11/9/2014.)
As contas públicas desarranjadas
* Dívida do Tesouro com o FGTS sobe 77,5% e já chega a R% 16,1 bilhões
“Em meio às dificuldades do governo federal em atingir a meta do superávit primário, o Tesouro Nacional passou a segurar ainda mais os recursos que deveriam ser repassados ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). O valor retido atingiu R$ 16,165 bilhões em junho de 2014, segundo balanço do FGTS. O montante já equivale a 25% do patrimônio líquido atual do fundo e é 77,5% maior que o registrando em igual período de 2013.
“O aumento da dívida preocupa o Conselho Curador do FGTS, pois, caso não seja sanado, poderá afetar a destinação de recursos do fundo para programas de infra-estrutura e habitação nos próximos anos. A maior parte do total represado, R$ 8,848 bilhões, provém da contribuição da multa adicional de 10% nas demissões sem justa causa de trabalhadores com carteira assinada. Essa rubrica teve um salto de 98,4% na comparação entre junho de 2014 e junho de 2013.
“A segunda maior fatia, R$ 6,635 bilhões, se refere a subsídios para o Minha Casa, Minha Vida sob a forma de descontos no valor dos imóveis e/ou na taxa de juros dos financiamentos. A alta nesse caso foi de 63,5% no mesmo período.
“O FGTS desembolsa 82,5% dos subsídios para as faixas 2 e 3 do programa habitacional (para famílias com renda mensal de até R$ 3.275 e R$ 5.100, respectivamente), enquanto o Tesouro banca 17,5%. No entanto, o FGTS antecipa a parcela do Tesouro mediante a obrigação de um ressarcimento posterior, que não vem ocorrendo desde 2010. O balanço de junho de 2014 mostra ainda que, dentre o restante do saldo devido pelo Tesouro, constam R$ 54,1 milhões de correção monetária pelas antecipações no âmbito do Minha Casa e R$ 623 milhões em outros financiamentos habitacionais.
“O grupo técnico de apoio ao Conselho Curador do FGTS calcula que, caso não haja uma equalização das finanças, haverá um descasamento entre as disponibilidades e as obrigações orçamentárias daqui a três anos, dependendo do andamento das arrecadações e metas de contratações. Os principais afetados seriam os setores de habitação e infra-estrutura, que ficam com 60% e 40% das destinações do fundo respectivamente. Apesar do impacto grave no orçamento, a demora no repasse pelo Tesouro não é ilegal, pois não existe prazo específico determinado por lei para a transferência.” (Circe Bonatelli, Estadão, 6/9/2014.)
* As contas públicas só pioram, e o governo mantém sua contabilidade criativa
“As contas públicas pioram e o ministro da Fazenda tem maior dificuldade, a cada dia, para entregar no fim do ano o resultado fiscal prometido, mesmo com receitas extraordinárias. Apesar de tudo, ainda está em vigor o compromisso de fechar o balanço do governo central – Tesouro, Banco Central e Previdência – com um superávit primário de R$ 80,7 bilhões. Para o setor público, em todos os níveis, a meta foi fixada em R$ 99 bilhões. O superávit primário é a soma destinada ao pagamento dos juros da dívida pública. Na prática, de uma parte dos juros, porque uma parcela dos compromissos tem sido normalmente rolada. Quanto mais improvável o resultado programado, maior a pressão para as estatais ajudarem o governo a fechar as contas com o menor fiasco possível.
“O novo Refis, mais uma versão do programa de refinanciamento de impostos atrasados, é uma das principais apostas do ministro da Fazenda para o reforço de caixa. No primeiro semestre, as estimativas indicavam uma receita de R$ 12,5 bilhões. A projeção subiu para R$ 15 bilhões e em seguida para R$ 18 bilhões.
“As novas contas indicavam até há pouco tempo uma entrada de R$ 13 bilhões já em agosto. O resto seria recolhido nos meses seguintes. Pela avaliação preliminar, o Refis proporcionou, no mês passado, uma arrecadação entre R$ 7 bilhões e R$ 9 bilhões, segundo informou o Estado. Com isso, a meta do segundo quadrimestre deve ter sido frustrada, mas esse ainda seria um problema de menor importância, se o resultado geral do ano fosse menos incerto.
“As decepções vêm-se acumulando há meses. Conhecida a arrecadação de julho, os administradores do Tesouro abandonaram, oficialmente, a expectativa de uma receita, neste ano, 2% maior que a de 2013. A projeção anterior, de crescimento de 3%, havia sido enterrada depois dos maus resultados do primeiro semestre. Nenhuma nova estimativa foi apresentada publicamente depois de divulgados os números de julho.
“Em agosto, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social pagou R$ 3 bilhões de dividendos à União. A Caixa recolheu R$ 2,14 bilhões, mas o governo tentará provavelmente obter mais que isso. O objetivo é recolher neste ano uns R$ 5 bilhões, segundo informaram extraoficialmente, no mês passado, fontes federais. Esse valor é bem maior que o combinado para este ano entre o Ministério da Fazenda e a Caixa.
“A Petrobrás também foi mobilizada para socorrer o Tesouro e ajudá-lo a reforçar o resultado primário. A empresa pagou no primeiro semestre R$ 8,73 bilhões de dividendos e juros sobre capital próprio, 83,6% do lucro do período. A União recebeu cerca de R$ 2 bilhões, o dobro dos R$ 900 milhões do primeiro semestre do ano passado, segundo levantamento da consultoria Economática citado pela Folha de S.Paulo. As dificuldades da Petrobrás, comprometida com um enorme programa de investimentos e prejudicada pelo controle dos preços dos combustíveis são conhecidas internacionalmente.
“A situação do Tesouro ainda se complicou, desde o ano passado, por causa do atraso de transferências e desembolsos – mais um expediente usado para a maquiagem, pelo menos temporária, das contas fiscais.
“Em agosto, o Tesouro aumentou a transferência de recursos à Caixa para o pagamento de benefícios obrigatórios, como o seguro-desemprego. Também repasses ao Banco do Brasil vinham sendo adiados, embora os pagamentos aos beneficiários finais fossem mantidos. O descompasso entre as transferências do Tesouro e os pagamentos efetuados pela Caixa foi detectado pelo Banco Central (BC) e explicações foram pedidas. A discussão do assunto evoluiu de forma perigosa para o governo, porque a Lei de Responsabilidade Fiscal proíbe o financiamento do Tesouro por banco público.
“Não se chegou a definir, oficialmente, se a Caixa estava financiando o Tesouro. Em Brasília, o assunto foi abandonado sem conclusão sobre um possível atropelo da lei, nesse caso. Mas o aperto do Tesouro continua, a situação fiscal se agrava e a contabilidade criativa, tudo indica, vai continuar em uso.” (Editorial, Estadão, 9/9/2014.)
* Fundo de Amparo ao Trabalhador cobra parte dos recursos transferidos ao BNDES, como manda a lei, para cobrir buraco de R$ 13 bilhões
“Com déficit estimado em R$ 13 bilhões neste ano, o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) trava uma guerra com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para resgatar parte dos recursos já transferidos ao banco de forma obrigatória, como manda a Constituição, e aplicados em programas de desenvolvimento econômico.
“O BNDES foi notificado oficialmente de que pode perder uma parte desses recursos. Por lei, 40% da arrecadação do FAT têm de ser transferidos ao banco. A legislação diz que, se houver insuficiência de recursos para o pagamento de seguro-desemprego e abono salarial, o BNDES é obrigado a devolver o dinheiro ao fundo em parcelas. Mas o banco, segundo fontes ouvidas pelo Estado, ameaçou entrar na Justiça para manter esses recursos. E já avisou que, se for mesmo obrigado a repassá-los, precisará de uma nova capitalização do Tesouro Nacional.
“Além da necessidade de cobrir esses pagamentos, outros R$ 2 bilhões seriam usados para programas de geração de emprego e renda.
“O Tesouro está negociando uma saída para cobrir o déficit, mas todas as soluções apresentadas pelo governo envolvem recursos do próprio FAT. Outra proposta seria a venda de títulos públicos em p oder do fundo, mas a avaliação é que o resgate desses papéis agora pode trazer prejuízos por causa das taxas negociadas no mercado financeiro.
“O impasse será discutido hoje (10/9), na reunião extraordinária do Conselho Deliberativo do FAT (Codefat), formado por representantes de governo, trabalhadores e empregadores. A bancada dos trabalhadores espera uma proposta de conciliação do Tesouro para cobrir o déficit de R$ 13 bilhões. A operação envolveria o resgate de até R$ 3,5 bilhões do BNDES, mais R$ 2,5 bilhões de algumas linhas de crédito operadas por bancos públicos e outros R$ 7 bilhões do próprio Tesouro. O Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, apurou que o Tesouro ainda busca encontrar uma fonte orçamentária para garantir as transferências.
“O Codefat, com o apoio do Ministério do Trabalho, exige a recomposição integral da frustração de receitas do fundo por causa das desonerações da folha de pagamento. Por causa dessa ‘bondade’ do governo, a mais nova estimativa é que o FAT deixará de arrecadar R$ 12 bilhões neste ano com PIS/Pasep, segundo fontes. A compensação da frustração dessas receitas – que respondem por 75% de toda a arrecadação do fundo – está na origem da disputa entre FAT e BNDES.
“‘Não tem fórmula mágica para livrar o Tesouro dessa obrigação’, diz Sérgio Luiz Leite, representante da Força Sindical no Codefat. Para fechar as contas em 2013, foi preciso retirar R$ 5,54 bilhões do patrimônio do FAT para cobrir a diferença do rombo de R$ 10,4 bilhões. A injeção do Tesouro foi de R$ 4,83 bilhões. ‘Se continuarmos com essa prática, o FAT perderá liquidez’, diz Leite.
“Além da frustração com as receitas, as despesas do FAT com seguro-desemprego e abono salarial deram um salto nos últimos anos, embora, no período, o desemprego tenha recuado a níveis mínimos. O governo argumenta que a explosão deve-se à política de valorização do salário mínimo e ao aumento da formalização dos trabalhadores. Os pagamentos dos dois benefícios devem consumir R$ 52 bilhões neste ano. No ano passado, os desembolsos somaram R$ 46,6 bilhões. Em 2002, limitavam-se a R$ 7 bilhões.
“Embora integrantes do Ministério da Fazenda neguem, o Broadcast apurou que foi cogitado uso da reserva de contingência do fundo para o pagamento do abono salarial e do seguro-desemprego. Para Luigi Nese, representante da Confederação Nacional de Serviços (CNS) no Codefat, as discussões ainda se concentram em medidas ‘paliativas’. Ao Estado, o BNDES, por meio da assessoria, admitiu que a discussão foi levada ao Codefat. Procurado, o presidente do Codefat, Quintino Severo, representante da CUT, não quis comentar o assunto.” (Adriana Fernandes e Murilo Rodrigues Alves, Estadão, 10/9/2014.)
A ameaça de rebaixamento
* Agência de avaliação de risco ameaça rebaixar nota do País
“O governo não contava com a divulgação da avaliação da agência Moody’s antes do término das eleições presidenciais. Segundo um integrante da equipe econômica, que falou sob condição de anonimato, a revisão da perspectiva do rating do Brasil, de estável para negativa, acabou surpreendendo, pois esperava-se que a agência aguardasse as sinalizações de política do próximo presidente eleito.
“A avaliação é que o sinal negativo da Moody’s, às vésperas do primeiro turno das eleições, coloca mais pressão sobre a política econômica da presidente Dilma Rousseff e reforça as críticas dos candidatos de oposição.
“A agência não quis correr o risco de uma deterioração do quadro da economia depois das eleições, preferindo se antecipar ao colocar a perspectiva do rating brasileiro em ‘rota’ negativa. Teria contribuído para a revisão, segundo outra fonte da área econômica, a demora da presidente Dilma e da sua equipe em dar sinais mais fortes sobre a política econômica em um eventual segundo mandato.
“Embora tenha viés negativo, em um momento delicado para a economia e de pressão eleitoral, a Moody’s não rebaixou a nota do Brasil, como fez a Standard & Poor’s (S&P) em março. Das três grandes agências de rating, a Moody’s era a única que ainda não tinha se posicionado sobre a nota do Brasil. Em julho, a Fitch decidiu manter a nota do Brasil com perspectiva estável, justificando que o País tem forte capacidade de absorção de choques. Recentemente, porém, a ‘trégua’ temporária da Fitch tem sido substituída por uma mudança de tom e um discurso mais forte de críticas à política econômica (leia mais na página B4).
“Integrantes da área econômica avaliam agora que o governo pode ter minimizado a importância dos alertas sucessivos das agências. Como a reação do mercado na época do rebaixamento da S&P não foi de estresse, o governo acabou ficando aliviado, sobretudo porque o movimento ocorreu bem antes do início da campanha. Agora, o cenário é diferente porque a eleição está a todo o vapor, com maior risco de vitória da oposição. Uma corrente avalia que o governo precisa ser mais firme nas sinalizações da política fiscal.
“A Moody’s também revisou para baixo a perspectiva de nota de crédito de bancos brasileiros, como consequência da reclassificação do viés da nota do País. Entre os bancos citados estão BNDES, Caixa, Banco do Brasil, Bradesco, Itaú, Santander, HSBC e Citibank. E pode fazer o mesmo com empresas como a Petrobrás.
“Para o economista Claudio Frischtak, da consultoria Inter.B, os investimentos em infra-estrutura serão os mais afetados, no caso de um rebaixamento. Nesse cenário, haveria uma elevação dos custos dos empréstimos para investimentos. Esse custo é resultado de uma mistura entre o custo da dívida pública brasileira e dos financiamentos privados. ‘Projetos que faziam sentido podem deixar de fazê-lo.’
“Isso pode ser um balde de água fria nos planos dos principais candidatos à presidência da República. Todos apostam em novas concessões e Parcerias Público-Privadas (PPPs) para elevar as taxas de investimento no País.” (Adriana Fernandes, Murilo Rodrigues Alves, com Lu Aiko e Francine de Lorenzo, Estadão, 10/9/2014.)
* A Moody’s mostra o cartão amarelo: ou ajustes de peso na política econômica, ou o rebaixamento
“Embora o governo Dilma sustente que não há nada de especialmente errado com a economia, uma das mais importantes agências de classificação de risco, a Moody’s, nesta terça-feira disse o contrário e advertiu o País com o cartão amarelo.
“A Moody’s é uma das instituições globais cuja função é avaliar a qualidade dos títulos de dívida de um país, de uma instituição ou de uma empresa. Prestam um serviço ao credor que, a partir daí e de outras indicações, examina o grau de risco de calote.
Ontem (9/9), essa agência avisou que todos os títulos de dívida do governo brasileiro estão mais perto do rebaixamento se não houver ajustes de peso na política econômica. Os principais indicadores que apontam para o aumento do risco do crédito do Brasil são a deterioração das contas públicas e a sequência de baixo crescimento econômico que, por sua vez, implica arrecadação insuficiente e menos recursos que poderiam reduzir o endividamento.
“Em junho, o governo Dilma garantira aos diretores da Moody’s que tanto o crescimento mais forte do PIB como as metas fiscais seriam alcançadas. Agora que ficou claro que a promessa não será cumprida, a Moody’s não vacilou. Avisou que vai deixar cair o facão.
“Por enquanto, não há perspectiva de rebaixamento da qualidade da dívida brasileira ao nível de especulação, ou seja, ao nível menos confiável. É que um grande número de bancos e fundos de investimento não pode acolher em sua carteira títulos sobre os quais pairem dúvidas sobre sua qualidade. Menos interesse por um título significa menor procura e, assim, remuneração (juro) mais alta.
“Portanto, o rebaixamento de um título de dívida aumenta o custo financeiro para quem o emite. As consequências para o Brasil não parariam aí. Seria inevitável algum impacto sobre o câmbio (redução da entrada de moeda estrangeira), sobre os investimentos estrangeiros e sobre a capacidade dos bancos brasileiros e das empresas estatais (como Petrobrás, Eletrobrás e BNDES) de levantar empréstimos no exterior.
“A Moody’s não foi a primeira agência a advertir o País. Em março, a Standard & Poor’s reduziu em um degrau a qualidade da dívida do Brasil, última posição antes do grau de especulação.
“O governo brasileiro, este e o que for eleito, tem duas opções. A primeira é ignorar esses avisos, com as alegações de sempre, e não providenciar os ajustes, para não provocar desemprego e tal. Pode argumentar, ainda, que advertências como essa são mais uma tentativa de instituições estrangeiras interferirem no resultado das eleições. Nesse caso, aumentaria o risco de deterioração dos títulos e de toda a economia.
“A outra opção é corrigir o rumo da economia, voltar aos manuais abandonados quando foi adotada pelo governo Dilma a Nova Matriz Macroeconômica e, assim, criar as bases para uma retomada sustentada da atividade econômica.
“Os compromissos assumidos pelos candidatos da oposição, Marina Silva e Aécio Neves, são pela correção de rumos e pela volta à ortodoxia. A presidente Dilma fala em ‘mudanças para melhorar’, mas não disse quais fará nem tampouco qual será sua intensidade.” (Celso Ming, Estadão, 10/9/2014.)
* O viés de baixa dado à nota do país pela Moody’s se justifica por uma série de indicadores preocupantes da economia
“Para confirmar o momento de pouca sorte por que passa a campanha da presidente Dilma — não necessariamente com reflexo em pesquisas —, uma das agências internacionais de avaliação de risco de crédito, a Moody’s, colocou, terça-feira, a economia brasileira com viés de baixa. A nota do país continua Baa2, ainda a dois níveis da perda do status de ‘grau de investimento’, concedido a tomadores de crédito de baixo risco. A novidade é a perspectiva de, numa próxima avaliação, o país cair de patamar.
“Há críticas sólidas à atuação dessas agências. Não previram a crise asiática, no final da década de 90, até foram cúmplices de bancos no lançamento de títulos lastreados em hipotecas ‘podres’ na crise americana. Mas o mercado mundial segue suas avaliações.
“Grandes investidores institucionais, como fundos de pensão americanos, só podem investir em títulos com o carimbo de ‘grau de investimento’. Perder esta nota de risco significa pagar juros mais altos em empréstimos externos e deixar de receber investimentos diretos.
“O impacto político sobre Dilma é direto, porque a reprovação é à sua política econômica, responsável por produzir baixo crescimento por longo período, pessimismo entre os investidores, inflação alta e persistente, bem como maus resultados fiscais, mesmo com o uso de recursos da contabilidade criativa. Em síntese, são estes os fatores que levaram a Moody’s à possibilidade concreta de um rebaixamento. No ano que vem, talvez. Pressupõe-se que todos esperarão o resultado das eleições.
“Os números do Brasil são preocupantes. E não de hoje, porque, em março, outra agência, a S&P, foi mais dura: rebaixou o Brasil.
“A inflação estacionou no elevado patamar de 6,5%, no limite superior de tolerância da meta de 4,5%, e há uma razoável inflação contida no represamento de tarifas públicas: de combustíveis e de energia elétrica, as duas mais importantes.
“A taxa de crescimento, a cada rodada de estimativas de analistas privados (relatório Focus) para este ano, se aproxima de zero. As contas externas estão com um déficit de 3,7% do PIB, já sem que possa ser financiado na totalidade pelos investimentos externos diretos (IED). O balanço de pagamentos fica, então, dependente dos recursos voláteis, para fechar em equilíbrio. É verdade que há reservas de US$ 380 bilhões, porém US$ 93 bilhões se encontram empatados em operações de ‘swap’, para segurar artificialmente o câmbio valorizado, com fins anti-inflacionários, perigoso desvio de função na política cambial.
“A dívida pública bruta já chegou a 60% do PIB, muito acima dos índices de outras economias emergentes. E para coroar todos esses problemas, a política fiscal continua sob suspeita, e não deverá cumprir a meta anual do superávit primário de 1,9%, mesmo com toda a contabilidade criativa. O viés de baixa dado pela Moody’s faz sentido.” (Editorial, O Globo, 11/9/2014.)
É tudo mentira
* “Muito pouco do que está dizendo na campanha faz nexo — resultado inevitável do hábito, desenvolvido já há doze anos, de navegar com o piloto automático cravado na contrafação dos fatos e na falsificação das realidades”
“Governos que mentem para o público o tempo todo acabam mais cedo ou mais tarde mentindo para si mesmos e, pior ainda, acreditando nas mentiras que dizem; o resultado é que sempre chegam a uma situação em que não sabem mais fazer a diferença entre o que é verdadeiro e o que é falso. Eis aí onde veio parar o governo da presidente Dilma Rousseff nestes momentos decisivos da campanha eleitoral. Muito pouco do que está dizendo faz nexo — resultado inevitável do hábito, desenvolvido já há doze anos, de navegar com o piloto automático cravado na contrafação dos fatos e na falsificação das realidades. Entre atender à sua consciência e atender a seus interesses, o governo jogou todas as fichas na segunda alternativa, ao se convencer de que seria muito mais proveitoso tapear o maior número possível de brasileiros com a invenção de virtudes do que ganhar seu apoio com a demonstração de resultados. Não compensa: para que fazer toda essa força se dá para comprar admiração, cartaz e votos com dinheiro falso? Foi o que concluíram, lá atrás, os atuais donos do país. Agora, como viciados em substâncias tóxicas, vivem na dependência da embromação; está muito tarde para mudar, e a única opção é continuar mentindo até o dia das eleições. Sua esperança é que a maioria dos eleitores, como acontece com frequência, ache mais fácil acreditar do que compreender.
“Para se ter uma idéia de onde foram amarrar nosso burro: o estado-maior da campanha de Dilma considerou que sua vitória mais importante no primeiro debate entre os candidatos foi ter escapado ‘de todas as perguntas difíceis’. É triste. Quando a verdade é substituída pelo silêncio, ensina o poeta Ievgeni Ievtushenko, o silêncio torna-se uma mentira — talvez seja, aliás, sua modalidade mais eficiente. A partir daí, vale tudo, e por conta disso os brasileiros têm ouvido as coisas mais extraordinárias por parte do governo. Os candidatos da oposição, sobretudo Aécio Neves, foram publicamente acusados, por exemplo, de já terem decidido fazer uma recessão econômica se forem eleitos; no mesmo momento, comicamente, saíram os resultados da economia nos primeiros seis meses de 2014, mostrando que o Brasil andou para trás nos dois primeiros trimestres do ano. Ou seja: a recessão que os adversários iriam provocar no futuro já está sendo praticada pelo governo Dilma no presente. Na média dos seus quatro anos, por sinal, será o pior desempenho econômico do Brasil desde o presidente Floriano Peixoto.
“Diante dos canais de concreto em ruínas na obra de transposição do Rio São Francisco, que, segundo as mais solenes promessas do ex-presidente Lula, estaria pronta em 2010, depois em 2012 e hoje é um mistério em termos de prazo, Dilma disse em sua propaganda eleitoral que a culpa do atraso é da ‘curva do aprendizado’ — ou seja, pelo que dá para entender, ainda não aprendemos a fazer direito esse tipo de coisa. Ainda? O Canal de Suez está pronto desde 1869, o do Panamá desde 1914; será que já não deu tempo de aprender? A Ferrovia Norte-Sul, que vem sendo construída pelos governos Lula-Dilma desde 2005, e que foi inaugurada mais uma vez em maio, continua fechada ao tráfego de trens, por falta de equipamentos — para piorar, ladrões vêm roubando os trilhos. São os únicos, além das empreiteiras, para quem a ferrovia tem tido alguma utilidade. O programa de formação de mão de obra técnica, descrito como ‘o maior do mundo’, formou até agora mais de 100 000 recepcionistas e manicures — o triplo do número de mecânicos. Em suma: já nem é mais um caso de mau governo. É anarquia.
“Um dos diretores mais influentes da Petrobrás durante o governo do PT, tão graduado que assumiu 24 vezes a presidência da empresa em substituição aos titulares, está na cadeia desde março, entalado em espetaculares denúncias de corrupção; foi figura-chave na tenebrosa compra da refinaria americana de Pasadena e está no centro da investigação sobre as negociatas na construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, um pesadelo cujo custo final pode passar dos 20 bilhões de dólares. Indagada a respeito, Dilma nada respondeu. Preferiu dizer que o grande problema da empresa foi a sugestão, feita no governo Fernando Henrique, de trocar o nome da Petrobrás para ‘Petrobrax’ — apenas uma idéia tola, de vida curtíssima e sem importância nenhuma. E a economia parada? ‘Eu criei 5,5 milhões de empregos’, diz a candidata. Como assim — ‘eu criei’?
“ Uma mentira começa com o ato de fazer o que é falso parecer verdadeiro. Acaba deste jeito: em alucinação.” (J. R. Guzzo, Veja, 10/9/2014.)
A saúde na UTI
* “O governo que recorreu à importação desembestada de médicos da ilha dos companheiros cubanos é o mesmo que, entre 2010 e 2013, fechou quase 13 mil leitos do Sistema Único de Saúde”
“Todas as sondagens de opinião a respeito do governo de Dilma Rousseff indicam que a saúde tem sido a área com a pior avaliação – passa de 70% a parcela dos brasileiros que consideram ruim ou péssima a gestão federal no setor. Essa indisposição mostra que todo o esforço marqueteiro que presidiu o lançamento do programa Mais Médicos, há um ano, não se traduziu, na prática, em melhoria real do atendimento da população mais pobre. A precariedade, como mostrou recente reportagem do Estado, continua a ser a marca da saúde pública no País.
“O Mais Médicos foi apresentado como uma resposta de Dilma às reivindicações dos manifestantes que foram às ruas em 2013. Oficialmente, a intenção era estimular médicos brasileiros a trabalhar em locais em que o atendimento de saúde era raro ou inexistente. No entanto, graças às condições oferecidas – além da ausência quase completa de infra-estrutura para clinicar, os médicos não teriam direitos trabalhistas como 13.º salário e férias -, poucos profissionais brasileiros se interessaram.
“Assim, foram abertas inscrições para médicos estrangeiros, mas estes tampouco se mostraram atraídos pela oferta do governo. O Ministério da Saúde recorreu, então, aos médicos de Cuba – país que tem na exportação de seus profissionais de saúde uma de suas principais fontes de divisas.
“Hoje se sabe que, muito antes do surgimento do Mais Médicos, o governo petista já tinha a intenção de importar médicos cubanos. Por trás da nobreza do programa, portanto, estava uma bem urdida estratégia para ajudar a financiar a ditadura dos irmãos Castro – e, de quebra, emplacar um factoide político-eleitoral.
“A realidade mostra, porém, que nem os médicos cubanos, habituados a atuar em condições adversas, são capazes de realizar seu trabalho de maneira satisfatória diante da crônica falta de suporte no País.
“Na periferia de Salvador, por exemplo, um dos profissionais cubanos é obrigado a atender seus pacientes em uma igreja, porque o posto de saúde onde ele deveria estar trabalhando não tem condições de funcionar. “O lugar não foi pensado para isso, a iluminação é insuficiente”, diz o médico, que não quis se identificar, certamente preocupado com as represálias que possa sofrer. Uma das pacientes desabafou: “Parece piada que, quando a gente enfim tem médico que vai ficar, não tem lugar para ser atendido”.
“Situação semelhante foi encontrada no Grande Recife, onde há muito mais pacientes do que os postos de saúde são capazes de suportar. Com a demora no atendimento, muitos deles desistem de esperar.
“O governo havia prometido também equipar os profissionais com tablets e fornecer sinal de internet nos postos de saúde, para que eles tivessem acesso a material de apoio e pudessem ficar em contato com seus supervisores. No entanto, vários médicos nem sequer receberam o aparelho – há casos em que os profissionais usam os próprios laptops e ainda pagam a internet quando estão em serviço nos postos.
“A falta de tablets, porém, é o menor dos problemas. Comunidades indígenas do Alto Solimões, por exemplo, receberam com festa seus médicos cubanos, mas eles pouco podem fazer diante da falta de remédios e de água potável. Um dos médicos relatou como é difícil conseguir encaminhar seus pacientes para tratamento de média e de alta complexidade. Para encontrar um urologista ou um cardiologista, é preciso encarar três dias de barco até Manaus.
“É inegável que a ausência de médicos em lugares remotos ou periféricos do País é um problema que tem de ser resolvido com a maior brevidade – e os elogios dos pacientes aos profissionais do Mais Médicos, que realizam apenas o atendimento básico, comprovam essa urgência. No entanto, não se pode resolver um problema dessa dimensão apelando a soluções amadoras e paliativas, que só se prestam a angariar simpatia eleitoral enquanto negligenciam o essencial. O governo que recorreu à importação desembestada de médicos da ilha dos companheiros cubanos é o mesmo que, entre 2010 e 2013, fechou quase 13 mil leitos do Sistema Único de Saúde.” (Editorial, Estadão, 8/9/2014.)
Anão diplomático
* Com o PT no governo, os interesses nacionais foram deixados em segundo plano na política externa. E o Brasil sumiu do cenário mundial
“Os resultados da política externa, nos últimos anos, não correspondem à importância que o Brasil tem na região e no mundo. Deve-se reconhecer que houve avanços e alguns êxitos, que ocorreram quando o Itamaraty pôde atuar como principal formulador da política externa. Os retrocessos ocorreram nas áreas em que as políticas tradicionais foram influenciadas por tendências ideológicas e partidárias – caso de Mercosul, integração regional, relações comerciais com a África e o Oriente Médio, estratégia de negociações comerciais, sumiço do Brasil no cenário internacional e perda de credibilidade do Itamaraty, tanto interna quanto externamente.
“Alguns resultados mostram como o interesse nacional foi deixado em segundo plano nos últimos anos.
“ * O financiamento ao porto de Mariel, em Cuba, pelo BNDES subiu a cerca de US$ 950 milhões, de acordo com informações publicadas em Havana. Segundo essas mesmas fontes, o Brasil está negociando novos empréstimos do BNDES no valor de US$ 170 milhões para melhoria dos aeroportos comerciais naquele país. Os financiamentos de projetos no exterior – prática usual nos governos Lula e Dilma a governos autoritários da América Latina e da África – são pouco transparentes, como reconheceu a Justiça Federal, e desviam recursos do BNDES de projetos de infra-estrutura no Brasil.
“ * Durante visita da presidente Dilma à União Africana de Nações, o governo brasileiro anunciou o perdão de US$ 900 milhões de dívidas de 12 países africanos. Só o autoritário Congo se livrou de US$ 352 milhões. Essa decisão abre a possibilidade de novos empréstimos para apoiar grandes projetos de infra-estrutura nesses países, com os mesmos resultados nos próximos anos.
“ * A decisão do governo de pagar agora US$ 434 milhões adicionais ao governo boliviano pela compra do gás natural, como parte de acordo entre Lula e Morales, de 2007. Para ajudar generosamente a Bolívia o gás importado pelo Brasil passou a pagar um adicional por seu conteúdo, contra a opinião da Petrobrás. Técnicos da estatal afirmaram ainda que a Bolívia estava pressionando a Petrobrás a pagar a dívida do gás rico, ameaçando cortar o fornecimento da energia para a termoelétrica de Cuiabá. Longe dos interesses brasileiros, cedemos as pressões e chantagem bolivianas.
“ * Apesar do respaldo de Brasília ao Mercosul, na última reunião presidencial do grupo o Brasil anunciou publicamente que iria propor a ampliação dos acordos comerciais com a Colômbia e o Peru, membros da Aliança do Pacífico. A proposta foi apresentada, mas não foi nem considerada.
“ * O governo brasileiro, que nos últimos anos procurou um papel protagônico no conflito do Oriente Médio, no atual conflito Israel-Hamas teve uma recaída, retirou nosso embaixador e num dos comunicados esqueceu a posição de equilíbrio entre os dois lados e condenou apenas a desproporção da força usada por Israel, deixando de mencionar os ataques ao território israelense por foguetes do Hamas. A reação do governo de Tel-Aviv, por meio do porta-voz do Ministérios do Exterior, veio de forma descortês, atingindo tanto o governo como nosso país, ao acusar a ação do Itamaraty como a de um ‘anão diplomático’ e o Brasil de ‘irrelevante’ no contexto do conflito no Oriente Médio.
“ * A Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), que congrega seis países da África e da Ásia, além de Portugal e Brasil, com o forte apoio do governo brasileiro, decidiu incluir a Guiné Equatorial, rica em petróleo, cujo principal idioma é o espanhol. Sob protestos de entidades de direitos humanos, o Brasil fez ouvidos moucos e, traindo os princípios da CPLP, apoiou a ditadura africana.
“ * Na Argentina, principal parceira do Brasil no Mercosul, a paciência estratégica do governo brasileiro com a presidente Cristina Kirchner está aceitando que as crescentes barreiras protecionistas contra produtos importados afetem de forma ilegal as exportações brasileiras, substituídas descaradamente por bens e equipamentos da China. Trata-se de claro desvio de comércio, contrário aos interesses das empresas brasileiras, que têm encontrado nos últimos anos uma atitude passiva do governo, que deixa de defender os interesses nacionais em nome de uma visão estratégica equivocada com nosso vizinho.
“ * O tratamento dado ao governo brasileiro pela Bolívia no caso do asilo do senador Roger Molina talvez seja um dos exemplos mais simbólicos da fraqueza de nossa política externa imolada no altar das afinidades ideológicas. Depois de concedido o asilo, o governo brasileiro arrependeu-se por pressão do presidente Evo Morales e aceitou o descumprimento das regras internacionais de asilo que obrigam o país a conceder salvo-conduto para a saída do asilado. Depois da fuga de Molina, o governo cedeu a pressões e demitiu o ministro do Exterior para dar satisfação a Morales. Logo após a exoneração, Morales recebeu telefonema informando a demissão do chanceler.
“ * No curso da reunião do Brics houve encontro dos presidentes do grupo com líderes da América Latina em Brasília. Entre todos os chefes de Estado que compareceram à capital federal, o líder cubano Raúl Castro recebeu tratamento especial. Foi o único convidado a hospedar-se na Granja do Torto, onde recebeu diversos colegas para encontros e almoços por nossa conta.
“Tudo isso sem mencionar o arranhão em nossa soberania quando da nacionalização das refinarias da Petrobrás na Bolívia, o desrespeito aos direitos humanos com a devolução a Havana dos pugilistas cubanos que pediram para ficar no Brasil e a suspensão, por questões ideológicas, do Paraguai no Mercosul.
“O Brasil sumiu do cenário e o Itamaraty está à deriva. Busca-se uma política externa pragmática e de resultados.” (Rubens Barbosa, diplomata, Estadão e O Globo, 9/9/2014.)
O lugar de Lula na História
* “Lula, com seu estilo peculiar de fazer política, por onde passou deixou um rastro de destruição”
Na história republicana brasileira, não houve político mais influente do que Luiz Inácio Lula da Silva. Sua exitosa carreira percorreu o regime militar, passando da distensão à abertura. Esteve presente na Campanha das Diretas. Negou apoio a Tancredo Neves, que sepultou o regime militar, e participou, desde 1989, de todas as campanhas presidenciais.
“Quando, no futuro, um pesquisador se debruçar sobre a história política do Brasil dos últimos 40 anos, lá encontrará como participante mais ativo o ex-presidente Lula. E poderá ter a difícil tarefa de explicar as razões desta presença, seu significado histórico e de como o país perdeu lideranças políticas sem conseguir renová-las.
“Lula, com seu estilo peculiar de fazer política, por onde passou deixou um rastro de destruição. No sindicalismo acabou sufocando a emergência de autênticas lideranças. Ou elas se submetiam ao seu comando ou seriam destruídas. E este método foi utilizado contra adversários no mundo sindical e também aos que se submeteram ao seu jugo na Central Única dos Trabalhadores. O objetivo era impedir que florescessem lideranças independentes da sua vontade pessoal. Todos os líderes da CUT acabaram tendo de aceitar seu comando para sobreviver no mundo sindical, receberam prebendas e caminharam para o ocaso. Hoje não há na CUT — e em nenhuma outra central sindical — sindicalista algum com vida própria.
“No Partido dos Trabalhadores — e que para os padrões partidários brasileiros já tem uma longa existência —, após três decênios, não há nenhum quadro que possa se transformar em referência para os petistas. Todos aqueles que se opuseram ao domínio lulista acabaram tendo de sair do partido ou se sujeitaram a meros estafetas.
“Lula humilhou diversas lideranças históricas do PT. Quando iniciou o processo de escolher candidatos sem nenhuma consulta à direção partidária, os chamados ‘postes’, transformou o partido em instrumento da sua vontade pessoal, imperial, absolutista. Não era um meio de renovar lideranças. Não. Era uma estratégia de impedir que outras lideranças pudessem ter vida própria, o que, para ele, era inadmissível.
“Os ‘postes’ foram um fracasso administrativo. Como não lembrar Fernando Haddad, o ‘prefeito suvinil’, aquele que descobriu uma nova forma de solucionar os graves problemas de mobilidade urbana: basta pintar o asfalto que tudo estará magicamente resolvido. Sem talento, disposição para o trabalho e conhecimento da função, o prefeito já é um dos piores da história da cidade, rivalizando em impopularidade com o finado Celso Pitta.
“Mas o símbolo maior do fracasso dos ‘postes’ é a presidente Dilma Rousseff. Seu quadriênio presidencial está entre os piores da nossa história. Não deixou marca positiva em nenhum setor. Paralisou o país. Desmoralizou ainda mais a gestão pública com ministros indicados por partidos da base congressual — e aceitos por ela —, muitos deles acusados de graves irregularidades. Não conseguiu dar viabilidade a nenhum programa governamental e desacelerou o crescimento econômico por absoluta incompetência gerencial.
“Lula poderia ter reconhecido o erro da indicação de Dilma e lançado à sucessão um novo quadro petista. Mas quem? Qual líder partidário de destacou nos últimos 12 anos? Qual ministro fez uma administração que pudesse servir de referência? Sem Dilma só havia uma opção: ele próprio. Contudo, impedir a presidente de ser novamente candidata seria admitir que a ‘sua’ escolha tinha sido equivocada. E o oráculo de São Bernardo do Campo não erra.
“A pobreza política brasileira deu um protagonismo a Lula que ele nunca mereceu. Importantes líderes políticos optaram pela subserviência ou discreta colaboração com ele, sem ter a coragem de enfrentá-lo. Seus aliados receberam generosas compensações. Seus opositores, a maioria deles, buscaram algum tipo de composição, evitando a todo custo o enfrentamento. Desta forma, foram diluindo as contradições e destruindo o mundo da política.
“Na campanha presidencial de 2010, com todos os seus equívocos, 44% dos eleitores sufragaram, no segundo turno, o candidato oposicionista. Havia possibilidade de vencer mas a opção foi pela zona de conforto, trocando o Palácio do Planalto pelo controle de alguns governos estaduais.
“Se em 2010 Lula teve um papel central na eleição de Dilma, agora o que assistimos é uma discreta participação, silenciosa, evitando exposição pública, contato com os jornalistas e — principalmente — associar sua figura à da presidente. Espertamente identificou a possibilidade de uma derrota e não deseja ser responsabilizado. Mais ainda: em caso de fracasso, a culpa deve ser atribuída a Dilma e, especialmente, à sua equipe econômica.
“Lula já começa a preparar o novo figurino: o do criador que, apesar de todos os esforços, não conseguiu orientar devidamente a criatura, resistente aos seus conselhos. A derrota de Lula será atribuída a Dilma, que, obedientemente, aceitará a fúria do seu criador. Afinal, se não fosse ele, que papel ela teria na política brasileira?
“O PT caminha para a derrota. Mais ainda: caminha para o ocaso. Não conseguirá sobreviver sem estar no aparelho de Estado. Foram 12 anos se locupletando. A derrota petista — e, mais ainda, a derrota de Lula — poderá permitir que o país retome seu rumo. E no futuro os historiadores vão ter muito trabalho para explicar um fato sem paralelo na nossa história: como o Brasil se submeteu durante tantos anos à vontade pessoal de Luiz Inácio Lula da Silva.” (Marco Antonio Villa, historiador, O Globo, 9/9/2014.)
12 de setembro de 2014
Outras compilações de provas da incompetência de Dilma e do governo lulo-petista:
Volume 140: Notícias de 9 a 15/5/2014.
Volume 141: Notícias de 16 a 22/5/2014.
Volume 142: Notícias de 23 e 29/5/2014.
Volume 143: Notícias de 30/5 a 5/6/2014.
Volume 144: Notícias de 6 a 12/6/2014.
Volume 145: Notícias de 13 a 19/6/2014.
Volume 146: Notícias de 20 a 26/6/2014.
Volume 147: Notícias de 27/6 a 3/7/2014.
Volume 148: Notícias de 4 a 10/7/2014.
Volume 149: Notícias de 11 a 17/7/2014.
Volume 150: Notícias de 15 a 21/8/2014.
CONTAGEM REGRESSIVA
FALTAM APENAS 111 DIAS PARA O FIM DAS MÁS NOTÍCIAS.
CONTAGEM REPRESSIVA!
O valoroso compilador de notícias fez a repressão em 153 semanas, transcreveu as más notícias, antecedendo-as com seus comentários, aos quais definiu como “murro em ponta de faca”.
Na 153ª semana, finalmente assimilou sua enfim, derrota quanto textualiza:”Mas o pior de tudo é que boa parte dos brasileiros é tão teimosa, tão bovinamente, mulisticamente teimosa quanto a mulher que nos desgoverna há três anos e nove meses. Se as mais recentes pesquisas de opinião estiverem certas, há o perigo real de termos mais quatro de incompetência, desgoverno, roubalheira, inflação alta, crescimento pífio ou então recessão mesmo.
Credo em cruz!”.
Contraditoriamente compila a opinião de Marco Antônio Vila:“O PT caminha para a derrota. Mais ainda: caminha para o ocaso. Não conseguirá sobreviver sem estar no aparelho de Estado. Foram 12 anos se locupletando. A derrota petista — e, mais ainda, a derrota de Lula — poderá permitir que o país retome seu rumo”.
Quem estará com a razão em 05 de outubro? O pessimista compilador, ou o reacionário estoriador?
NOSSO MEDO é que o resultado político seja creditado a boa parte dos brasileiros, imbecis úteis, chamados aqui de bois e mulas, obrigados a uma república representativa onde os representantes das oligarquias e associados ao PIG sustentam uma política de mercado, apenas de mercado!
Credibilidade da democracia.
Com o atual nível de partidarização da grande mídia brasileira, não há solução de curto prazo para que se desfaça esta confusão nefasta.
A cobertura adversa e a desqualificação da politica e dos políticos é sua pauta preferencial.
Nenhuma palavra da mídi sobre o plebiscito popular que transcorreu en tre 1 e 7 de setembro.
Resta torcer para que a democracia representativa brasileira sobreviva a uma grande mídia que, apesar de se apresentar como sua principal defensora, corrói, cotidiana e reiteradamente, seus fundamentos mais caros.
Agora a imprensa nos chama de MULAS. Na verdade somos obrigados a assim sermos cognominados quando elegemos nossos representantes.
Mula por boi, Marina´s neles!
OS PÁSSAROS.
Admiro os jornalistas, exercem humildemente o poder. Alguns golpitas, outros progressistas, outros ainda socialistas, que se iniciaram comunistas, deixaram de ser quando ficaram mais aparentes e notórios.
Costumo comparar os jornalistas aos pássaros e suas espécies, águias, gaviões, abutres, falcões, tucanos, ah os tucanos, pombas e pardais. Entre águias e gaviões creio que Carlos Lacerda foi pontual, entre os abutres destacam-se os Bonners, Sardenbergs e Waacs, falcões assemelham-se a Miriam Leitão de passado relevante agora agora desnudado. Existem pássaros em extinção,os tucanos cassados naturalmente, perdem as penas, mas mantém o bico proeminente, Boris Casoys, Mitres, Josias, Nassifs, Minos Carta, etc… bonitos e coloridos exercem sua influência, são os formadores de opinião. Bajulados e bajuladores exercem o poder no interior das gaiolas da grande mídia.
Os Pardais e Pombas, a exemplo dos Mervais e Azevedos, são pássaros menores que cagam nas nossas cabeças, emporcalham a sociedade, empobrecem a classe e envergonham a profissão, comendo os milhos e milhões dos donos das gaiolas, que acenam com a liberdade de imprensa em defesa da sua extinção.
Existem ainda canários e bem-te-vis voando a esmo, livres e procurando formar opinião, até que sejam engaiolados.
Assim como os pássaros o jornalismo é importante. Idéias, pensamentos e opiniões sobrevoam minha e outras cabeças, podemos entretanto,escolher o que vem dos céus!
A mídia tradicional, como instituição, e o jornalismo, como atividade socialmente relevante no equilíbrio entre as forças que atuam no espaço público, fica mais evidente conforme se intensifica a disputa eleitoral.
É neste período que os principais protagonistas da instituição conhecida como imprensa extrapolam de suas funções mais nobres para atuar como agentes de propaganda a serviço de determinada pauta política.
Em períodos eleitorais como o que atravessamos, pode-se observar com mais clareza a pobreza do solo em que a imprensa hegemônica faz suas colheitas de notícias. Na entressafra de pesquisas de intenção de voto, predomina o jornalismo declaratório, que tenta transformar em informação relevante qualquer coisa que brote desse deserto de ideias.
A imprensa brasileira é frágil: seu ponto mais vulnerável é o fascínio que muitos jornalistas sentem pelo poder, aquela sensação de potência produzida pela proximidade com o brilho dos salões oficiais. Essa fragilidade se agrava nas temporadas de reprodução dos votos, quando os detentores do poder político precisam se expor ao escrutínio público – e usam a imprensa para conduzir suas mensagens.
Estou com sérias duvidas, depende dos pássaros a escolha da presidenta a tomar posse em 01/01/2015.
O momento político.
A certeza de que o PSDB, como oposição tenha perdido sua capacidade de interpretar o país condicionando sua estratégia à agenda da imprensa hegemônica, sairá derrotado em 5 de outubro.
A partir de 1/1/2015 a interpretação da gritaria dos “pitbulls” da mídia e seu discurso obsceno, não terá mais qualquer sentido.
O editor das “más notícias” terá tempo para a produção de textos e boas ideias, que não lhe faltam.