O monstro gentil foi uma fraqueza, um interlúdio lírico. O monstro, para ser monstro, é besta, ectoplásmico, garras e lâminas. O monstro é feio, o monstro é mau. Continue lendo “O fígado de Prometeu”
O mais belo dos filmes
Ao João Bénard, ao Manuel Cintra Ferreira
A porta abre-se para a direita, os violinos entram pela esquerda e a madura silhueta de uma mulher recorta-se contra a luz do deserto. A mulher, passos hesitantes, dançados, vai da porta para a varanda tosca, a câmara atrás dela. Continue lendo “O mais belo dos filmes”
O murro americano
Sentemo-nos, então, na escadaria da Assembleia, aos gritos pelo cinema europeu, a contestar que o cinema seja só americano. Continue lendo “O murro americano”
O coelho de Brigitte Bardot
O pé descalço emociona sempre. Nada é mais pobre do que o sumário pé descalço. Minto. O pé descalço, na sua prístina nudez, também nos atira aos olhos com a sumptuária excentricidade do milionário, o exotismo de uma Cleópatra. Continue lendo “O coelho de Brigitte Bardot”
Uma carta para Greta Garbo
A mulher muito bela pode ser uma lua cheia de solidão. Um dia, veio à América o verdadeiro casal real britânico, Vivien Leigh e Laurence Olivier. Hollywood queria que Leigh fosse a Scarlett de E Tudo o Vento Levou. Continue lendo “Uma carta para Greta Garbo”
Uma Europa edénica, lúbrica
Olho para a nossa Europa, a Europa da férula Merkel e sai-me a improvável lembrança de Marilyn, da nua foto do calendário. Desempregada, quando Marilyn fez a foto não tinha fama nem carreira, só mesmo a sua enxuta nudez. Continue lendo “Uma Europa edénica, lúbrica”
Dar a volta por cima
Vi António das Mortes no cinema Flamingo, no Lobito. A autoria é do sincrético Glauber Rocha, tão matador de cangaceiros que fez um filme para matar Corisco, outro para matar Coirana. Continue lendo “Dar a volta por cima”
A sede de Ingrid Bergman
Nunca esperou que, de madura, a fruta lhe caísse no colo. Era já actriz na Suécia quando um produtor lendário, David O. Selznick, a trouxe para Hollywood. Continue lendo “A sede de Ingrid Bergman”
Um patriótico desmaio
E se a Pátria desmaiasse? Proponho que Portugal inteiro desmaie. Imagine-se o ensurdecedor estrondo do tombo de dez milhões de inanimados portugueses. Continue lendo “Um patriótico desmaio”
Sangue no Deserto
Quem é que disse que os westerns se dividiam em três tipos: os de imagens, os de ideias, e os de imagens e de ideias? Só pode ter sido Godard. E agora me lembro: foi justamente num texto sobre um western de Anthony Mann, O Homem do Oeste, que ele, aliás, considerava um exemplo do western de imagens e ideias. Continue lendo “Sangue no Deserto”
A alegria epiléptica
É afrodisíaca mesmo que quem a sinta não saiba quem raio seja Afrodite. Falo da grande alegria, daquela que já não cabe no corpo, dessa alegria que nos estremece, enche e esvazia os pulmões. A alegria convulsa. Continue lendo “A alegria epiléptica”
Cemitérios, tabuletas e epitáfios
Sempre pensei que, a haver epitáfios imbatíveis, sairiam certamente da pena de grandes escritores. Mas andei a ver, ouvir e ler e, zás, lá se foram as minhas certezas. Os epitáfios que alguns actores escolheram para si mesmos são desarmantes e de uma (ai, como é que se diz?!) derisão que me fez rir, bater palmas. Continue lendo “Cemitérios, tabuletas e epitáfios”
Os profissionais
Distraio os nervos: será Vítor Gaspar o herói moderno? O herói antigo era Hércules. Tinha a lúdica argúcia de um Ulisses. Há um século, o herói era cinematográfico e vinha com a abnegação de um John Wayne. Por vezes, disfarçava o idealismo com o cínico desinteresse de um Humphrey Bogart. Continue lendo “Os profissionais”
O esplendor dos filmes japoneses na Liberdade
Uma menina de quatro anos ia ao cinema, sem saber o que era cinema. O grande carro preto importado – o táxi – partia da Rua da Cantareira, onde a família morava e trabalhava. No banco da frente, o pai, de terno e gravata. Atrás, bem penteadas e vestidas, a mãe e as duas irmãs. Continue lendo “O esplendor dos filmes japoneses na Liberdade”
O Bem e o Mal
O pai morrera e ele nunca mais almoçava. O caixão era paupérrimo, uma coisa dickensiana ao lado da qual caminhava a aflita dor da mãe. O futuro Charlot vinha atrás da urna do pai e do pranto da mãe. Para distrair a fome, ia mimando, caricatural, o sofrimento materno. Continue lendo “O Bem e o Mal”