Um dia, por falta de comparência do mundo tal como o conhecia, vi, como na estreia de um filme, reinaugurar-se a vida. Continue lendo “O mais sonâmbulo dos filmes”
Quando um homem ama uma mulher
“Tu ama-la?” Vão no carro, Butch ao volante, Buzz enfiado no fato de Casper, o fantasminha feliz. Butch ainda tenta uma digressão distractiva: “Quem?” Mas a curiosidade de Buzz é obstinada e infantil: “A senhora que nos cozinhou os hamburgers…” E como é que se explica a uma criança quando é que um homem ama uma mulher. Continue lendo “Quando um homem ama uma mulher”
Nosso Senhor de Hollywood
Gostos discutem-se. Mesmo que, por serem gostos, quase nunca e quase nada valha a pena discuti-los. Pode ganhar-se um debate, mas nunca se ganha a pessoa com quem se debateu. Continue lendo “Nosso Senhor de Hollywood”
A boca viva e carnuda de Binoche
Há filmes que ainda não existem, mas que se está mesmo a ver que serão filmes um dia. Mais tarde do que cedo, receio. Antecipo um. Continue lendo “A boca viva e carnuda de Binoche”
O chinês solitário
Donde saiu o chinês? Filas deles balançam carris e constroem as grandes linhas férreas que hão-de ligar Leste e Oeste. O chinês é uma multidão no cinema americano, longa fila apeada que antecede o primeiro comboio. Continue lendo “O chinês solitário”
E um dia comem-nos
Era em Luanda e tinham nos olhos um aborrecimento escandinavo. No meu Liceu, que agora se chama Mutu Ya Kevela, havia jacarés. Nadavam num tanque fundo e tinham uns bons metros de areia para se aquecerem ao céu aberto do pátio. Continue lendo “E um dia comem-nos”
O cinema alemão é um écrã demoníaco
Houve alguns anos eufóricos em que o cinema alemão não foi só o cinema alemão. Tal como o crash de 29 foi a mãe dos anos dourados do cinema sonoro americano, o cinema alemão nasceu dos escombros e humilhação da I Grande Guerra. Continue lendo “O cinema alemão é um écrã demoníaco”
O fígado de Prometeu
O monstro gentil foi uma fraqueza, um interlúdio lírico. O monstro, para ser monstro, é besta, ectoplásmico, garras e lâminas. O monstro é feio, o monstro é mau. Continue lendo “O fígado de Prometeu”
O mais belo dos filmes
Ao João Bénard, ao Manuel Cintra Ferreira
A porta abre-se para a direita, os violinos entram pela esquerda e a madura silhueta de uma mulher recorta-se contra a luz do deserto. A mulher, passos hesitantes, dançados, vai da porta para a varanda tosca, a câmara atrás dela. Continue lendo “O mais belo dos filmes”
O murro americano
Sentemo-nos, então, na escadaria da Assembleia, aos gritos pelo cinema europeu, a contestar que o cinema seja só americano. Continue lendo “O murro americano”
O coelho de Brigitte Bardot
O pé descalço emociona sempre. Nada é mais pobre do que o sumário pé descalço. Minto. O pé descalço, na sua prístina nudez, também nos atira aos olhos com a sumptuária excentricidade do milionário, o exotismo de uma Cleópatra. Continue lendo “O coelho de Brigitte Bardot”
Uma carta para Greta Garbo
A mulher muito bela pode ser uma lua cheia de solidão. Um dia, veio à América o verdadeiro casal real britânico, Vivien Leigh e Laurence Olivier. Hollywood queria que Leigh fosse a Scarlett de E Tudo o Vento Levou. Continue lendo “Uma carta para Greta Garbo”
Uma Europa edénica, lúbrica
Olho para a nossa Europa, a Europa da férula Merkel e sai-me a improvável lembrança de Marilyn, da nua foto do calendário. Desempregada, quando Marilyn fez a foto não tinha fama nem carreira, só mesmo a sua enxuta nudez. Continue lendo “Uma Europa edénica, lúbrica”
Dar a volta por cima
Vi António das Mortes no cinema Flamingo, no Lobito. A autoria é do sincrético Glauber Rocha, tão matador de cangaceiros que fez um filme para matar Corisco, outro para matar Coirana. Continue lendo “Dar a volta por cima”
A sede de Ingrid Bergman
Nunca esperou que, de madura, a fruta lhe caísse no colo. Era já actriz na Suécia quando um produtor lendário, David O. Selznick, a trouxe para Hollywood. Continue lendo “A sede de Ingrid Bergman”