O extravagante Reino Brasil

Com salário de R$ 9,5 mil, o “digital influencer” Jair Renan Valle Bolsonaro, do alto de seus 25 anos, virou auxiliar parlamentar sênior do senador Jorge Seif (PL-SC). A nomeação, estampada no Diário Oficial da União do dia 8 de março, segue o padrão do clã, cujo sobrenome frequenta contracheques públicos há 30 anos, com mais de uma centena de parentes, amigos do peito e familiares desses amigos. Ainda que mais escancarados do que a maioria, os Bolsonaros não são exceção. Os cargos de livre nomeação em todas as esferas públicas são cabides de emprego para parentes e cupinchas, imoralidade enraizada na política brasileira, independentemente de partido ou ideologia. Continue lendo “O extravagante Reino Brasil”

Jóias das arábias

A sabedoria popular recomenda não mexer no mau cheiro sob pena de piorar o fedor. O caso das jóias das arábias, presente do príncipe saudita para o casal Bolsonaro, comprova o dito. Quanto mais se sabe da espantosa história apurada pelo Estadão, mais complicada fica a posição do ex. Bolsonaro, que não vê ilegalidade no mimo, jamais escondeu sua preferência pelos sauditas nas negociações envolvendo a Petrobras, até para a privatização da estatal brasileira. Uma relação que além da “afinidade” com o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman envolve bilhões de dólares. Continue lendo “Jóias das arábias”

Miséria eterna

Santo Amaro do Maranhão: 16.129 habitantes. Apenas 4,2% têm trabalho remunerado, 60% deles recebendo até meio salário mínimo. O município, na rabeira entre os mais pobres do país, paga R$ 4 mil por mês para cada um de seus 11 vereadores. O absurdo se repete em mais da metade das cidades brasileiras, 32,5% delas – 1.704 das 5.570 – incapazes de arcar com suas despesas funcionais, sobrevivendo de repasses federais e estaduais. A 237 quilômetros da capital São Luís, a Santo Amaro maranhense é só uma ponta da indecente teia de gastos públicos que abastece privilegiados e eterniza a miséria. Continue lendo “Miséria eterna”

O mesmo enredo

Ao contrário da máxima de que no Brasil o ano só começa depois do carnaval, em 2023 o país acordou muito antes e em ritmo acelerado. Para o bem e para o mal. De um lado e de outro da insuportável rixa que há anos nos rege. Continue lendo “O mesmo enredo”

Basta de Bolsonaro

Dia sim outro também o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cita Jair Bolsonaro. Nos discursos, nas entrevistas, em conversas informais. Até na Casa Branca, no encontro com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. Uma fixação que direciona os holofotes para o ex que não mais produz luz própria e, ao mesmo tempo, ofusca o brilho das ações do seu próprio governo. Uma equação simples e perversa: o governo vai bem, mas Lula joga contra si – de propósito ou não. Continue lendo “Basta de Bolsonaro”

Golpe no golpe

Mesmo com todas as trapalhadas, não há dúvidas quanto à veracidade das várias tentativas de golpe de Estado pró-Jair Bolsonaro, com provável planejamento ou aval dele e de sua turma. Mas desde que veio à tona a primeira das diferentes versões para a trama golpista protagonizada pelo ex-presidente, o ex-deputado Daniel Silveira e Marcos Do Val, a motivação para a denúncia feita pelo senador permanece obscura. As hipóteses variam de esperteza máxima à destrambelhada burrice, passando por excesso de pressão ou piração. Continue lendo “Golpe no golpe”

Só pode ser piada

Valdemar da Costa Neto, dono do PL, não tem nem terá importância na história política do país. No máximo, talvez possa ser lembrado pela fidelidade a diferentes senhores, de Itamar Franco a Luiz Inácio Lula da Silva, desembocando em Jair Bolsonaro. Agora, se lançou em nova frente: manter os bolsonaristas, mesmo rifando o ex-presidente. Sua mais recente aposta – nem que seja só para tumultuar – tem nome e, principalmente, sobrenome: Michelle Bolsonaro 2026, lançada por ele na sexta-feira. Continue lendo “Só pode ser piada”

Espólio radical

Derrotados depois de quatro anos de fama, políticos e apoiadores do ex que se aglutinaram sob o rótulo de direita vivem o seu inferno. Parte deles, incluindo os que se sentem traídos ou abandonados, continua querendo incendiar o mundo mesmo após as prisões pela tentativa fracassada de golpe de Estado do dia 8. Outra põe panos quentes, perdoa, inverte e tortura os fatos até chegar a confissões absurdas. Sem qualquer intenção de dar voz a um pensamento de direita civilizada, salutar nas democracias, o que está em disputa é o espólio de Jair Bolsonaro, símbolo do extremismo, com as hordas de radicais que fizeram o sucesso do “mito”.    Continue lendo “Espólio radical”

Ervas daninhas

É fundamental investigar a autoria intelectual, a organização, o financiamento, os apoios e omissões da frustrada tentativa de golpe de Estado dos bolsonaristas radicais no último domingo. Mas não basta. Para além dos inquéritos, julgamentos e punições, será preciso extirpar ervas daninhas sem prejudicar as plantas sadias; tocar para frente e, ao mesmo tempo, impedir novas urdiduras. Sem anistia. Continue lendo “Ervas daninhas”

Perdeu, mané

O grande dia dos bolsonaristas fiéis se revelou um verdadeiro fiasco. Como loucos alucinados – embora regiamente financiados e bem mandados -, os convocados vandalizaram os prédios-sede do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal e da Presidência da República, conseguindo exatamente o oposto do pretendido: as instituições republicanas e a democracia se fortaleceram. Continue lendo “Perdeu, mané”

Começou

Ano novo, vida nova! Mais um início, chances de dias melhores. Para além da embriaguez de otimismo e esperança – vícios danados e deliciosos que não nos largam -, me pego a comemorar não o futuro, mas o passado recente: o fim do governo Bolsonaro. Uma sensação de alívio, mesmo momentânea, visto que não será nada fácil dar tratos à bola quando tantos ainda insistem na planura da Terra.

É nessa arena que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá de mostrar o seu melhor jogo, colocando a frente ampla em campo, mesmo a contragosto de muitos dos seus.

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Com o pé esquerdo

Boa parte das pessoas se sente envergonhada ou no mínimo constrangida quando não faz o que diz, descumprindo promessas ou compromissos firmados. Na política, a regra é o inverso. Contam-se nos dedos aqueles que honram a palavra empenhada – mão que não inclui nem o presidente da República que sai nem o que entra na próxima semana. Jair Bolsonaro encerra seu período no sentido avesso ao prometido, estimulando ações golpistas e sem impor a propagandeada agenda liberal, e Luiz Inácio Lula da Silva provoca desconfianças antes mesmo de assumir. Continue lendo “Com o pé esquerdo”

Fétidos poderes

As relações entre os poderes Executivo e Legislativo costumam ser pouco ou quase nada republicanas. Não raro, mal cheirosas. Por aqui, o toma lá dá cá começou ainda no Império e funciona a todo vapor desde a Velha República. O tempo passou, o mundo mudou, e as moedas continuam as mesmas: farta distribuição de cargos e de dinheiro público. É esse binômio podre e o poder que ele confere aos seus operadores que estão por trás de toda a celeuma envolvendo o acintoso orçamento secreto, a PEC da Transição, as mudanças na Lei das Estatais e a formação do novo governo. Continue lendo “Fétidos poderes”

O odioso preço da governabilidade

Na próxima quarta-feira o STF volta a se debruçar sobre as emendas do relator, vulgo orçamento secreto. Abjeto, imoral e inconstitucional, o arranjo que permite distribuir bilhões dos impostos dos cidadãos sob o cobertor do anonimato é tratado com impressionante normalidade no meio político. Por criadores e beneficiários – o presidente Jair Bolsonaro e os parlamentares do Centrão sob o comando do presidente da Câmara Arthur Lira -, e pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. No caso de Lula, a promessa feita na campanha de detonar o mecanismo morreu na praia da governabilidade, em nome da qual o país, há décadas, institucionaliza absurdos. Continue lendo “O odioso preço da governabilidade”

Contagem regressiva

A piada fez sucesso nas redes sociais na sexta-feira, 1º de dezembro – “Hoje começa o aviso prévio mais esperado dos últimos 4 anos” -, exibindo a ansiedade de muitos para o adeus definitivo ao presidente Jair Bolsonaro. Só faltou o complemento: não tem direito a aviso prévio quem abandona o local de trabalho. Brincadeiras à parte, o presidente se ausenta do ofício para o qual foi eleito em 2018. Não faz falta alguma ao país, a não ser aos militantes da direita emergente, parte extrema dela tremulando como biruta ao vento.  Continue lendo “Contagem regressiva”