O Brasil é um país violento, que se acostumou à violência. É o oitavo mais letal do mundo, mesmo com decréscimo de 6% aferido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública em 2021. Registra números de guerra no Nordeste e no Norte – 35,5 e 33,5 homicídios por 100 mil habitantes -, quase 3 mil feminicídios e mais de 100 mil estupros denunciados no ano passado. Convive cotidianamente com agressões e assassinatos relacionados a raça e gênero, extermínio de índios, operações policiais desastradas, tiros a esmo que perfuram e matam crianças. Continue lendo “Um país violentado”
Seu santo nome em vão
Dizem que Deus é brasileiro. Talvez dissidente, diante do farto uso de seu nome em vão. Está no preâmbulo da Constituição de 1988 – “sob a proteção de Deus” – , a mesma que define o Brasil como estado laico. Abre as sessões dos parlamentos e decora com o crucifixo de seu filho milhares de repartições públicas país afora. Mas nunca antes Ele foi tão explorado como nos tempos de Jair Bolsonaro. Do slogan do presidente às participações cada vez mais frequentes em cultos de campanha, em pleno horário de trabalho, de preferência associados a motociatas, o “mito” não se envergonha de abusar do Senhor. Algo, decididamente, nada divino. Continue lendo “Seu santo nome em vão”
O absurdo novo normal
Talvez por impotência ou desesperança, as barbaridades oficiais – que se multiplicam exponencialmente com a proximidade das eleições – parecem ter criado um certo torpor. Absurdos são tratados como o novo normal. E, embora aparentemente firmes, as instituições que deveriam assegurar o sistema de contrapesos da República falham – por vezes, acintosamente -, deixando desassistidos o cidadão que as financia com seus impostos e todos os brasileiros que necessitam das políticas públicas, até para comer. Hoje, nada funciona. Continue lendo “O absurdo novo normal”
Oposição ressuscita Bolsonaro
A Câmara dos Deputados deve referendar nesta semana a bilionária PEC eleitoral aprovada a toque de caixa pelo Senado, com o apoio irrestrito da oposição, que parece não medir esforços para melhorar as chances de reeleição do presidente Jair Bolsonaro. Brincam com fogo ao ressuscitar quem sempre fez pouco caso da miséria e há meses ameaça incendiar o país em caso de derrota nas urnas. Continue lendo “Oposição ressuscita Bolsonaro”
Combinação perversa
Com a costumeira empatia zero, o presidente Jair Bolsonaro usou uma menina de 11 anos, vítima de estupro, para criticar o direito ao aborto legal. Bem que tentou desviar as atenções do escândalo envolvendo o seu ex-ministro da Educação, por quem ele já colocou a cara no fogo, e agora, arrependido, só põe a mão. Mas desta vez não deu muito certo. No meio da tarde da sexta-feira, a suspeição de que ele interferiu nas investigações o empurraram para as cordas. Continue lendo “Combinação perversa”
Supremo inimigo
André Mendonça, ministro apadrinhado pelo presidente Jair Bolsonaro para o STF, decidiu legislar. Na sexta-feira, baixou normas para a Petrobras e estabeleceu alíquota única de ICMS sobre os combustíveis a ser praticada por todos os estados. Monocraticamente. A intervenção para agradar o chefe ocorreu na mesma semana em que veio à tona a esdrúxula proposta de emenda constitucional que confere ao Parlamento o poder de anular decisões do Supremo que não tenham aprovação unânime. Ou seja: se valesse a emenda bolsonarista apoiada pelo Centrão e assinada pelo deputado mineiro Domingos Sávio, do mesmo PL do presidente, ela, ironicamente, impediria o capachismo de Mendonça. Continue lendo “Supremo inimigo”
Improvisos bilionários
A notícia estampada no portal do Estadão parecia inacreditável. Para conter os riscos de apagões, o governo federal contratou às pressas – sem licitação e por R$ 3 bilhões ao ano -, quatro navios-usina turcos geradores de energia a gás, que até agora, meses depois do pico da crise, não entraram em operação. Mais: as linhas de transmissão previstas para interligá-los ao sistema nacional de energia simplesmente inexistem. Mais ainda: depois das intensas chuvas, os navios são dispensáveis. Ainda assim, por contrato, os brasileiros vão continuar pagando a conta até 2025. Continue lendo “Improvisos bilionários”
Os sabujos
Quinta-feira, 2 de junho: o ministro Kassio Nunes Marques suspende, monocraticamente, a cassação de dois deputados bolsonaristas, peitando decisões colegiadas do TSE. À noite, na sua live semanal, Jair Bolsonaro comemora a liminar dada pelo afilhado, volta a atacar as urnas eletrônicas e as cortes superiores. Sexta-feira, 3: o presidente desembarca no Paraná, domicílio do deputado estadual beneficiado Francisco Francischini (União Brasil), monta mais um palanque e renova ameaças ao TSE: “Vai cassar o meu registro? Duvido que tenha coragem de cassar o meu registro”. O PGR Augusto Aras se faz de morto. E, na velocidade da luz, o presidente da Câmara, Arthur Lira, reempossa Valdevan Noventa (PL-SE). Continue lendo “Os sabujos”
A Grande Mentira
Com rejeição consolidada acima dos 50%, mais precisamente 54%, o presidente Jair Bolsonaro tem baixíssima chance de renovar o seu mandato. Mas sua derrota anunciada esconde uma vitória apavorante: ele está conseguindo inocular o vírus da desconfiança no processo eleitoral – um risco real para a democracia. Continue lendo “A Grande Mentira”
Bolsonaro e o bilionário
O glamour da riqueza sempre encanta, e o homem mais rico do mundo, mesmo sem ter lá muito glamour, deixou a plateia quinto-mundista embasbacada. Na visita da sexta-feira, a encenação foi completa: hotel de luxo, gente elegante, elogios exacerbados do presidente Jair Bolsonaro, que titulou Elon Musk como “mito da liberdade”, e promessas do mega-empresário de inundar o céu brasileiro com satélites de sua Starlink. Não há dúvida de que o encontro foi um golaço para a campanha de Bolsonaro, mas não se pode descartar a hipótese de o regabofe com o bilionário ter o efeito contrário no país da inflação e da miséria. Continue lendo “Bolsonaro e o bilionário”
O Estado de Bolsonaro
Desde 19 de março de 2019, quando mandou o Ibama exonerar José Augusto Morelli, que 7 anos antes o multara por pesca ilegal em Angra dos Reis, o presidente Jair Bolsonaro deixou claro que governaria só para si e os seus. De lá para cá, o uso escancarado do Estado e os desmandos para proteção pessoal, de sua prole e de alguns agregados do peito só cresceram. Continue lendo “O Estado de Bolsonaro”
Estado de golpe
Jair Bolsonaro está vencendo. Tem tido êxito espetacular no seu esforço para estimular desobediência à Justiça, desacreditar o processo eleitoral, desconstruir as instituições e a democracia. Mais do que um golpe pré-contratado para outubro na hipótese de derrota nas urnas, o presidente estabeleceu o “estado de golpe”, cuja vigência acua os demais poderes, atemorizando os que deveriam pôr um ponto final nessa trama de horror. Continue lendo “Estado de golpe”
A desgraça da graça
Gênese da democracia, liberdade é valor intrínseco, inegociável. Está na raiz da evolução humana e ilumina o progresso das civilizações. Nestes tempos de Bolsonaro, nunca ela foi tão surrada, deturpada, vilipendiada. Mais do que usá-la para justificar suas ações autocráticas, como o acintoso perdão concedido a Daniel Silveira, a intenção é que a “defesa da liberdade” possa legitimar o golpe, dando guarida à reação armada de segmentos da população contra a eventual – e provável – derrota eleitoral. É isso que está posto, com todas as falas, gestos e modos. Continue lendo “A desgraça da graça”
Por cima da lei
Na sexta-feira, o presidente Jair Bolsonaro voltou a torrar dinheiro dos impostos dos brasileiros para mais uma motociata, a 13ª em menos de um ano. Indiscutíveis atividades de campanha eleitoral, sem vínculo com qualquer ação de governo que justifique os gastos – segundo a Folha de S.Paulo, os passeios anteriores somaram R$ 5 milhões -, ele continua a fazê-las. Impunemente.
Líderes sem causa
Aconteceu em 1994, na duríssima campanha ao governo de São Paulo. Durante uma entrevista, Mario Covas antecipou que, se eleito, não daria reajuste ao funcionalismo porque o Estado estava quebrado. Sua mulher, Lila, também não dourou pílulas. No debate reunindo esposas de candidatos, disse que aborto não era questão de opinião, mas de saúde pública e foro íntimo. Isso em meio à acirrada disputa com o “Segure na mão de Deus” Francisco Rossi. Covas manteve as posições durante a campanha e depois dela. Foi eleito e reeleito. Continue lendo “Líderes sem causa”