Ervas daninhas

É fundamental investigar a autoria intelectual, a organização, o financiamento, os apoios e omissões da frustrada tentativa de golpe de Estado dos bolsonaristas radicais no último domingo. Mas não basta. Para além dos inquéritos, julgamentos e punições, será preciso extirpar ervas daninhas sem prejudicar as plantas sadias; tocar para frente e, ao mesmo tempo, impedir novas urdiduras. Sem anistia. Continue lendo “Ervas daninhas”

Perdeu, mané

O grande dia dos bolsonaristas fiéis se revelou um verdadeiro fiasco. Como loucos alucinados – embora regiamente financiados e bem mandados -, os convocados vandalizaram os prédios-sede do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal e da Presidência da República, conseguindo exatamente o oposto do pretendido: as instituições republicanas e a democracia se fortaleceram. Continue lendo “Perdeu, mané”

Começou

Ano novo, vida nova! Mais um início, chances de dias melhores. Para além da embriaguez de otimismo e esperança – vícios danados e deliciosos que não nos largam -, me pego a comemorar não o futuro, mas o passado recente: o fim do governo Bolsonaro. Uma sensação de alívio, mesmo momentânea, visto que não será nada fácil dar tratos à bola quando tantos ainda insistem na planura da Terra.

É nessa arena que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá de mostrar o seu melhor jogo, colocando a frente ampla em campo, mesmo a contragosto de muitos dos seus.

Continue lendo “Começou”

Com o pé esquerdo

Boa parte das pessoas se sente envergonhada ou no mínimo constrangida quando não faz o que diz, descumprindo promessas ou compromissos firmados. Na política, a regra é o inverso. Contam-se nos dedos aqueles que honram a palavra empenhada – mão que não inclui nem o presidente da República que sai nem o que entra na próxima semana. Jair Bolsonaro encerra seu período no sentido avesso ao prometido, estimulando ações golpistas e sem impor a propagandeada agenda liberal, e Luiz Inácio Lula da Silva provoca desconfianças antes mesmo de assumir. Continue lendo “Com o pé esquerdo”

Fétidos poderes

As relações entre os poderes Executivo e Legislativo costumam ser pouco ou quase nada republicanas. Não raro, mal cheirosas. Por aqui, o toma lá dá cá começou ainda no Império e funciona a todo vapor desde a Velha República. O tempo passou, o mundo mudou, e as moedas continuam as mesmas: farta distribuição de cargos e de dinheiro público. É esse binômio podre e o poder que ele confere aos seus operadores que estão por trás de toda a celeuma envolvendo o acintoso orçamento secreto, a PEC da Transição, as mudanças na Lei das Estatais e a formação do novo governo. Continue lendo “Fétidos poderes”

O odioso preço da governabilidade

Na próxima quarta-feira o STF volta a se debruçar sobre as emendas do relator, vulgo orçamento secreto. Abjeto, imoral e inconstitucional, o arranjo que permite distribuir bilhões dos impostos dos cidadãos sob o cobertor do anonimato é tratado com impressionante normalidade no meio político. Por criadores e beneficiários – o presidente Jair Bolsonaro e os parlamentares do Centrão sob o comando do presidente da Câmara Arthur Lira -, e pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. No caso de Lula, a promessa feita na campanha de detonar o mecanismo morreu na praia da governabilidade, em nome da qual o país, há décadas, institucionaliza absurdos. Continue lendo “O odioso preço da governabilidade”

Contagem regressiva

A piada fez sucesso nas redes sociais na sexta-feira, 1º de dezembro – “Hoje começa o aviso prévio mais esperado dos últimos 4 anos” -, exibindo a ansiedade de muitos para o adeus definitivo ao presidente Jair Bolsonaro. Só faltou o complemento: não tem direito a aviso prévio quem abandona o local de trabalho. Brincadeiras à parte, o presidente se ausenta do ofício para o qual foi eleito em 2018. Não faz falta alguma ao país, a não ser aos militantes da direita emergente, parte extrema dela tremulando como biruta ao vento.  Continue lendo “Contagem regressiva”

O bom filho

Seja devido aos últimos anos de desgoverno ou pela bem-vinda ausência de Jair Bolsonaro no pós-eleição, Luiz Inácio Lula da Silva já é presidente. Nem diplomado, nem empossado, mas presidente de fato, reconhecido no mundo e cobrado no Brasil como tal. Incensado por seus acertos, a exemplo do discurso de estadista na COP27, e execrado pelos erros, como os de contrapor controle fiscal ao combate à pobreza – discurso amenizado por ele em Portugal – ou de pegar carona de jatinho com um amigo do setor privado. Como ele próprio concluiu em terceira pessoa no discurso da vitória, Lula não pode errar. Continue lendo “O bom filho”

Vira o disco

Duas semanas depois da eleição, passa da hora de virar o disco. Tanto dos derrotados quanto dos vitoriosos. Ainda que poucos reclamem da ausência de Jair Bolsonaro, ao presidente da República não cabe sumiço total, por maior que seja sua ojeriza à labuta. E o lamento de seus fiéis, entre o surreal e o hilário, já deu. No caso de Luiz Inácio Lula da Silva, seria conveniente que o eleito e o seu eclético time tomassem tento: governo não é campanha, e transição é só o que a palavra exprime – transição. Continue lendo “Vira o disco”

Sem panos quentes

Acusados de ativismo político e excessos, o Supremo Tribunal Federal e o Tribunal Superior Eleitoral foram implacáveis para impedir arreganhos golpistas, garantir a democracia e seu ápice: a voz do voto. Uma batalha dura, não raro com inimigos anônimos escondidos nas baixarias da deep web, e que ainda não se encerrou. Aqueles que insistem na imposição da minoria depois de perder as eleições, orientando o caos e atormentando a vida do país, terão de prestar contas à Justiça, sob pena de se normalizar a rejeição ao resultado das urnas – um precedente gravíssimo. Continue lendo “Sem panos quentes”

Bolsonaro continua sendo um risco

O café meio morno servido nos palácios do Planalto e no Alvorada esfriou de vez. Primeiro presidente da República da história do país a não se reeleger, Jair Bolsonaro já vinha experimentando o dissabor do isolamento político há algum tempo, embora entre um turno e outro da eleição tenha conseguido adoçar uns e outros com armações que pareciam capazes de inverter o jogo. Deu tudo errado. Mas nos longos 60 dias que separam a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva da posse, a pouca tinta que sobra na caneta de Bolsonaro pode causar estragos. Continue lendo “Bolsonaro continua sendo um risco”

Quem tiver mais votos leva

Luiz Inácio Lula da Silva é o favorito. Ganhou o primeiro round e, de acordo com as pesquisas de intenção de voto, se manteve à frente em uma disputa surreal, na qual nada – nem as mentiras em série e as seguidas tentativas do adversário de melar o pleito – mexeu com a estabilidade dos números. Mas o embate nas urnas será duro – e o final da tarde deste domingo, tenso, aflitivo. Continue lendo “Quem tiver mais votos leva”

Simone Tebet faz a diferença

A sete dias do fim de uma disputa agressiva e desigual, na qual Jair Bolsonaro distribui dinheiro a rodo ao arrepio da lei, investe pesado no discurso religioso e nas fake news, a peleja eleitoral continua sendo liderada por Luiz Inácio Lula da Silva, vitorioso no primeiro round. Separados por uma margem estreita, ambos foram para o vale-tudo nos programas de rádio e tevê e nas redes sociais. Tentam expor músculos, exibem apoios. Sabem que a conquista do eleitor indeciso se dará nos detalhes. Continue lendo “Simone Tebet faz a diferença”

Sem nocaute

O primeiro confronto direto entre os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro foi mais civilizado do que se previa, com provocações, mas sem sangue. Ninguém ganhou – e Lula venceu. O petista não podia perder, enquanto Bolsonaro, 6 milhões de votos atrás do adversário, tinha de ir além de seu espetáculo de mentiras para vencer e convencer. Não conseguiu. Continue lendo “Sem nocaute”

Efeito zero

Desde 1989, quando o país inaugurou os dois turnos para cargos majoritários – prefeitos, governadores e presidente da República -, o roteiro da segunda etapa é semelhante. Os dois finalistas buscam apoio dos derrotados, tentam ocupar as ruas. Aumenta-se a intensidade das agressões, guerreia-se com todas as armas, incluindo denúncias vazias, dossiês falsos e todo tipo de mentiras – as tais fake news, para não destoar do anglicismo da moda. Continue lendo “Efeito zero”