O silêncio conivente de Lula

Em seu périplo pela África, o presidente Lula acertou em cheio quando anunciou que o Brasil fornecerá recursos para a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), acusada de ter funcionários atuantes na ação do Hamas contra Israel. Bingo! Continue lendo “O silêncio conivente de Lula”

Um pré-Carnaval pra lá de quente

Se é verdade que o país só começa a funcionar depois do Carnaval, a semana passada foi a exceção que comprova a regra. Brasília, em temperatura máxima, lançou fagulhas para todos os cantos. Da abertura do ano legislativo, com o presidente da Câmara Arthur Lira soltando fogo pela boca em direção ao Planalto, ao escancaramento da nefasta trama golpista do ex Jair Bolsonaro e seus militares lambe-botas. Ao mesmo tempo, foi uma semana de ouro para o presidente Lula, que tabelou com governadores de São Paulo, Rio e Minas Gerais, e domou Lira. Continue lendo “Um pré-Carnaval pra lá de quente”

A corrupção venceu

Reescrever a história é algo desejado por todos os que aparecem mal na fita. E não é invenção nacional o fato de instituições de estado reforçarem a guerra para emplacar qual versão vai prevalecer na memória da maioria, especialmente em um país desmiolado. Mas nestes tempos furiosos de redes sociais e de “verdade alternativa” – terminologia inventada na era Donald Trump -, as alterações das “narrativas” endossadas por políticos de todo porte e supremos ministros são tantas e tão rápidas que daqui a pouco vai se dizer que nunca existiu corrupção no Brasil, que o mensalão e o petrolão foram invencionices, que Jair Bolsonaro jamais mentiu ou foi negacionista e que Lula é santo. Continue lendo “A corrupção venceu”

Com a pá virada

Em uma casa bagunçada, cadeiras de pernas pro ar não causam espanto, cozinha acumulando louça suja e lixo espalhado também não. Isso deve explicar os motivos pelos quais a mixórdia cotidiana do país não mais nos assombra. É fato que o emprego cresceu e a inflação cedeu, afastando, pelo menos por ora, desastres maiores na economia – e não temos mais de nos confrontar com o negacionismo e a truculência diária do ex Jair Bolsonaro. Ainda assim, quase tudo parece fora do lugar: a potência verde Brasil, com credenciais para influir no mundo, aposta fichas em combustíveis fósseis, parlamentares só pensam em dinheiro, virando a cara para quem os elegeu, o juiz da democracia usa poderes autoritários. Continue lendo “Com a pá virada”

O que Lula mandar, faremos todos

Narizes tortos e desavenças internas, aplausos pela maestria da articulação. Desde que Marta Suplicy atendeu ao pedido do presidente Lula para voltar ao PT e ser candidata a vice do psolista Guilherme Boulos, seu retorno tem motivado sentimentos antagônicos entre os petistas. Independentemente do erro ou acerto da alternativa, a movimentação escancara que, mesmo detentor da Presidência da República, o PT de Lula tem dificuldades de se impor. Parece padecer da mesma síndrome que arrasou com a representatividade do antigo adversário PSDB. Repete os mesmos candidatos, frustrando o surgimento de novas lideranças. Continue lendo “O que Lula mandar, faremos todos”

Não é a economia, estúpido!

Tem-se de barato que a economia é o eixo propulsor da aprovação de governos e, consequentemente, principal indicador da preferência eleitoral. A crença, resumida por James Carville, estrategista da campanha presidencial de Bill Clinton versus George W. Bush, na  frase de efeito “It’s the economy, stupid!”, parece ter perdido tração de 1992 para cá. Possivelmente turbinado pelas redes sociais, o ódio parece ditar mais do que o bolso nas intenções de voto. Lá fora e por aqui. Continue lendo “Não é a economia, estúpido!”

Lula escolhe começar o ano na fogueira

O fim de um ano e o início de outro nos remete a balanços, listas de resoluções, virada de página, renovação de esperanças, alegria e festa. Portanto, é quase incompreensível que o governo Lula tenha optado por agir na contramão: em vez de comemorar o primeiro quarto de seu mandato, que se completa amanhã, preferiu lançar uma Medida Provisória no mínimo polêmica para aumentar a arrecadação, confrontando o Congresso Nacional. E concentrar forças para um ato de desagravo pelo 8 de janeiro para, segundo o presidente, “lembrar ao povo que houve uma tentativa de golpe, que foi debelado pela democracia deste país”. Definitivamente não parece ser a melhor maneira de começar um novo ano. Continue lendo “Lula escolhe começar o ano na fogueira”

A melhor notícia do ano

O tráfego intenso no Congresso Nacional em torno das pautas econômicas desviou a atenção de um dos maiores êxitos do país neste ano: o crescimento expressivo da cobertura vacinal infantil. Os índices de imunização ainda não voltaram ao patamar ideal, mas são uma reação contundente ao negacionismo bolsonarista, que estimulou, não raro com mentiras escabrosas, os movimentos antivacinas. Continue lendo “A melhor notícia do ano”

Perder para ganhar

A política quase nunca é o que parece. A semana passada foi exemplar para comprovar o dito. Tinha-se na conta que, ao derrubar mais de uma dezena de vetos presidenciais em uma única sessão, o Congresso Nacional teria imposto uma derrota fragorosa ao governo Lula, que, ao contrário, chegou na sexta-feira sorridente, dividindo vitórias com o Parlamento. Perdeu onde sabia que perderia e ganhou onde precisava. E ainda escreveu na história um feito e tanto: a aprovação de um novo sistema tributário, empacado há quase quatro décadas. Para tal, fez-se política – com “p” maiúsculo e minúsculo.

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Sabatina dupla piora o que já é ruim

Na quarta-feira, 13, o Brasil vai assistir a mais uma invencionice política: uma sabatina conjunta dos indicados pelo presidente Lula ao Supremo Tribunal Federal, Flávio Dino, e para a Procuradoria-Geral da República, Paulo Gonet. O formato surreal, dizem, teria sido decidido pelo presidente da Comissão de Constituição e Justiça, senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), para auxiliar o governo, atenuando a pressão da oposição bolsonarista que gosta de Gonet e odeia Dino. Sob todos os aspectos, é mais um absurdo – e não são poucos os absurdos – que subverte o dever e a responsabilidade do Senado. Continue lendo “Sabatina dupla piora o que já é ruim”

Este é um país que vai pra trás

Reestatização de refinaria no Ceará, aprovação do marco legal das usinas eólicas em alto-mar com “jabutis” que obrigam a contratação das super poluentes térmicas a carvão, condicionantes à liberdade de imprensa. Esses são apenas alguns exemplos de retrocessos recentes do Executivo, Legislativo e Judiciário, que se somam aos do setor privado, desde sempre e cada vez mais dependente de incentivos, regalias e privilégios. Ainda que existam avanços aqui e acolá, a exemplo da queda do desmatamento na Amazônia e da reforma tributária, que só será plena em 2032, o Brasil, definitivamente, anda para trás. Continue lendo “Este é um país que vai pra trás”

O Brasil na guerra de Maduro

A diplomacia brasileira e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva têm pela frente um teste de fogo. Nada a ver com as guerras da Rússia na Ucrânia ou de Israel versus Hamas, nas quais Lula tentou, sem sucesso, algum protagonismo. Agora, o perigo mora ao lado. O desafio e a saia justíssima envolvem o companheiro Nicolás Maduro e sua pretensão de “retomar” para a Venezuela a Essequiba, região que ocupa dois terços da Guiana. Sem descartar invasão por terra, ar e mar. Continue lendo “O Brasil na guerra de Maduro”

Gororoba municipal

A um ano da eleição municipal, os partidos dos principais cabos eleitorais do país – o PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PL do ex – não refletem o vigor da disputa do ano passado, quando Lula obteve 50,9% dos votos e Jair Bolsonaro, 49,1%. Ainda que a polarização continue viva no ambiente digital, com lulistas e bolsonaristas se esbofeteando, nas maiores capitais do país os acordos políticos têm falado mais alto do que a gritaria das redes, e os partidos nem de um nem do outro têm, até então, candidatos competitivos.  Continue lendo “Gororoba municipal”

Tudo por dinheiro

Como em um passe de mágica, a instrução normativa nº 2, de apenas dois parágrafos, aprovada pela Comissão Mista de Orçamento do Congresso, autorizou que quase um terço – R$ 4 bilhões dos R$ 12,5 bilhões reservados no orçamento de 2024 para emendas de bancadas dos estados – migrem para o Fundo Eleitoral. Somados aos R$ 961 milhões que o governo havia fixado para esse fim, o financiamento público para as eleições municipais do ano que vem baterá todos os recordes: R$ 5 bilhões. Dinheiro que deveria ir para hospitais, postos de saúde, escolas, obras de infraestrutura… Continue lendo “Tudo por dinheiro”