Não é banal que alguém assuma, em juízo, a autoria de um crime. Muito menos planos para “neutralizar” os vencedores da eleição de 2022 e o magistrado tido como algoz do bolsonarismo. Interrogado na quinta-feira, o general da reserva Mário Fernandes admitiu que escreveu o plano para matar o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, o vice Geraldo Alckmin e o ministro da Suprema Corte Alexandre Moraes, intitulado “Punhal Verde Amarelo”. Era “pensamento digitalizado”, minimizou, cravando mais uma pérola nos fartos anais do cinismo nacional. No mínimo, considerou a Justiça tola. Continue lendo ““Pensamento digitalizado””
Em nome do pai
Seja pelo mérito ou pelo momento da ação, as medidas cautelares impostas na sexta-feira ao réu Jair Bolsonaro deram um nó nos defensores e apoiadores do presidente Lula e do ex. As reações de um lado e de outro foram de idas e vindas. Ainda que as redes sociais tenham sido tomadas por memes criativos (e divertidos), políticos governistas que de início aplaudiram, recuaram. E aliados bolsonaristas, à exceção dos mais radicais, optaram por ditos protocolares, cientes do custo que as sanções de Donald Trump ao Brasil impôs a eles. Continue lendo “Em nome do pai”
O caos como método
O Brasil não tem qualquer importância para Donald Trump. Tampouco o ex Jair Bolsonaro. Mas ambos, Brasil e Bolsonaro, servem bem ao diversionismo do monstro laranja, cuja tática tem se repetido: dirige as atenções para onde quer espalhando estrume pelo ventilador; provoca corre-corre e medo; adia, avança e volta atrás em suas ameaças. Usa o caos para esconder seus erros, sua incompetência, sua péssima gestão. Continue lendo “O caos como método”
Congresso só quer gastar mais
Menos hábil e capaz do que a imagem que vendia de si, Hugo Motta (Republicanos-PB), chegou a dar a pinta de se equilibrar entre afagos ao presidente Lula e os opositores do governo. Durou pouco, como bem sabiam os safos políticos do Centrão, que, após deixarem o jovem presidente da Câmara viver seus dias de glória, atrelaram-lhe o cabresto. Mas o fizeram com tanta voracidade que o tiro pode ter acertado a culatra. Continue lendo “Congresso só quer gastar mais”
Réus ao vivo
Os oito acusados do núcleo central da ação sobre tentativa de golpe de Estado, entre eles o ex-presidente Jair Bolsonaro, começam a ser interrogados no Supremo Tribunal Federal a partir das 14 horas desta segunda-feira. Ao contrário do que ocorreu nas oitivas das testemunhas, as sessões serão transmitidas ao vivo pela TV Justiça. Há controvérsias sobre a decisão: por um lado, isso confere transparência ao processo, por outro, espetaculariza o julgamento, com holofotes disputados por todos – juízes, advogados e réus. Continue lendo “Réus ao vivo”
Falsos arautos
Os conceitos de democracia e liberdade têm sido sistematicamente abusados à direita e à esquerda, ambos os campos metidos a donos de todas as virtudes. Os dois lados são ostensivos pregadores da liberdade, mas desqualificam qualquer um que a use para criticá-los. Nada é tão simbólico disso quanto o recente episódio envolvendo o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro, filho zero três do ex, em missão anti-Brasil nos Estados Unidos de Donald Trump. Continue lendo “Falsos arautos”
O que está ruim sempre pode piorar
A maré não está para otimistas. Nem os incorrigíveis como eu, que se esforçam para crer em bonança depois da tempestade, têm conseguido escapar das tormentas destes tempos. Com um agravante: o que está ruim sempre pode piorar. Lá fora e por aqui. Não bastassem as intempéries externas – o insano extermínio de palestinos, a guerra de Putin na Ucrânia ou os desmandos do monstro laranja -, temos sido inundados por desvarios do Congresso, que, somados a derrapadas do Supremo e à incompetência governamental, acabam por afogar possibilidades de dias melhores. Provas disso são a aprovação do “PL da devastação” e a proposta disfuncional de unificação das eleições em curso no Senado. Continue lendo “O que está ruim sempre pode piorar”
De ponta-cabeça
Nada nem ninguém boicota mais Lula e o seu governo do que o próprio presidente e os seus. Tudo parece combinado para dar errado. A ponto de, literalmente, virar o mundo de ponta-cabeça, como dizem os paulistas. Continue lendo “De ponta-cabeça”
Lula e Bolsonaro em seus labirintos
Dois temas palpitantes em curso no Congresso Nacional – anistia a golpistas e fraudes no INSS – têm mexido de maneira curiosa com os extremos da política, sendo tratados com polaridade invertida. Lula, que com razão repudia a ideia de anistia, topa apoiar um acordo para reduzir penas de condenados que desejavam derrubá-lo, enquanto o ex Jair Bolsonaro, que dizia só querer defender injustiçados do 8 de janeiro, rechaça a proposta que limita o perdão aos manifestantes. Já no caso do INSS, Lula comporta-se como o grande culpado e Bolsonaro põe fogo, embora os desvios tenham começado na sua gestão e uma eventual CPI possa estourar no seu colo. Continue lendo “Lula e Bolsonaro em seus labirintos”
Boas novas
Mesmo contabilizando uma meia dúzia de jovens performáticos que alcançaram o Parlamento via diatribes nas redes sociais, o Brasil é um país de lideranças envelhecidas. Tanto o presidente Lula, única opção da esquerda há mais de 35 anos, quanto o inelegível Jair Bolsonaro traduzem ideias e práticas do arco da velha, repetidas até pelos ditos novatos no campo à direita, incapazes de dar respostas às demandas mais comezinhas dos cidadãos. As boas novas – e alguma esperança – vêm do Pernambuco, onde o centro reina. Continue lendo “Boas novas”
Insano e calhorda
Criado há 30 anos em total desobediência à lógica, o pequeno município piauiense de João Campos retrata as mazelas de um Brasil disfuncional, ocupado por políticos que condenam o país ao subdesenvolvimento. Para atender a seus 2.970 habitantes, a cidade instalou 12 secretarias municipais em torno da Prefeitura e um Legislativo com 11 vereadores. Vive de transferências da União e é, proporcionalmente, a campeã na destinação de emendas parlamentares na modalidade Pix ou secreta. Nada menos de R$ 11.6 milhões foram enviados para lá pelo generoso Congresso, o que significa R$ 3,9 mil por habitante, mais do que o dobro do salário médio dos 417 trabalhadores locais. Continue lendo “Insano e calhorda”
Eles só pensam naquilo
O dono do PSD, Gilberto Kassab, secretário de Governo de São Paulo, deve ter comemorado os números do Datafolha sobre o seu chefe Tarcísio de Freitas (Republicanos). A pesquisa reforça o que o espertíssimo auxiliar diz há mais de ano: o melhor para o Tarcísio é não trocar o certo pelo duvidoso. Apontado como o melhor nome para preencher o espaço do inelegível Jair Bolsonaro na disputa presidencial, Tarcísio seria derrotado por Lula na corrida pelo Planalto, mas reeleito ao governo paulista com folga se a eleição fosse hoje. Continue lendo “Eles só pensam naquilo”
O Lula liberal e o antipatriota Bolsonaro
Enquanto a economia mundial entrava em colapso com o tarifaço de Donald Trump, que, em um misto de insanidade, maldade e capricho, enterrou o modelo de produção global que consolidou os Estados Unidos como a maior potência do planeta, a sintonia política do Brasil era outra. Ou melhor, mantinha-se a mesma que há tempos expõe o digladio barato entre pólos raivosos, impondo a escolha entre o ruim e o menos pior. Continue lendo “O Lula liberal e o antipatriota Bolsonaro”
O golpe vitorioso de Maduro
Diz-se que o Brasil é um país sem memória, o que facilita a reincidência de eventos danosos na política e na economia. Populismo, tentativa de golpe, corrupção e arrepios fiscais estão aí para provar a tese. Mas a amnésia está longe de ser um fenômeno verde-amarelo – é global. A ponto de o mundo aceitar governos déspotas como o da Hungria de Viktor Orbán e da Turquia de Tayyip Erdoğan, ou a tímida reação à tomada da Criméia por Vladimir Putin, em 2014, ensaio para a absurda invasão da Ucrânia. Continue lendo “O golpe vitorioso de Maduro”
Inferno astral
Jair Bolsonaro completou 70 anos na sexta-feira, dia 21. Na contramão das crenças astrológicas que estabelecem os 30 dias antes do aniversário como os piores, o seu inferno astral está apenas começando. Nesta semana ele deve se tornar réu por tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito – em bom português, golpe de Estado. Quem se der ao trabalho de ler a peça de acusação do procurador-geral da República, Paulo Gonet, verá que dificilmente o ex escapará da Justiça, a não ser por asilo ou fuga. Continue lendo “Inferno astral”