Água não vira vinho. Portanto, embora a Câmara dos Deputados tenha aprovado por elogiável unanimidade o popular projeto do governo Lula de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, a índole da Casa legislativa é mais próxima daquela que votou majoritariamente na obscena PEC da Blindagem. E novas traquinagens estão previstas já para os próximos dias, tais como a retomada da proposta de anistia a golpistas e até perdão antecipado para o filho do ex, deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que continua nos Estados Unidos conspirando contra o Brasil. Continue lendo “Água não vira vinho”
O futuro nas mãos do Senado
O sepultamento unânime da PEC da Blindagem na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, depois de o despautério ter sido aprovado por larga maioria na Câmara, recuperou duas premissas políticas: a força da pressão popular e a magnitude da Casa revisora no sistema bicameral. A voz das ruas, ainda que imbatível, exige mobilização permanente e improvável, o que torna a eleição do Senado ainda mais decisiva. Tão ou mais importante do que a de presidente da República, embora a disputa ao Planalto roube a energia e a atenção dos eleitores. Continue lendo “O futuro nas mãos do Senado”
Sem blindagem e sem anistia
Sem cerimônia para o escárnio, a maior parte das excelências da Câmara dos Deputados não para de agir contra o país. Não bastasse a aprovação da PEC da Blindagem, popularizada como PEC da Bandidagem, insistem na anistia para golpistas, rebatizada como PL da dosimetria, que, em vez de perdão, propõe reduzir as penas daqueles que atentaram contra o Estado. Um engodo travestido de “pacificação” que, além de não acalmar os ânimos do bolsonarismo, que só admite o ex livre da cadeia e elegível, insulta os brasileiros, majoritariamente contrários à anistia, mesmo que limitada aos ignaros úteis do 8 de janeiro. Continue lendo “Sem blindagem e sem anistia”
Sem virar a página
Se a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro e de militares de alta patente tem dimensão histórica em um país que jamais puniu quem atentou contra o Estado, ela está longe de fechar um ciclo na política brasileira. Ao contrário. Não há qualquer indicativo de recuo dos golpistas ou de que o digladio entre os extremos, que há anos emperra o país, vá arrefecer. À direita e à esquerda. Continue lendo “Sem virar a página”
A Pátria rejeita anistia
7 de Setembro de 2021. No palanque da Avenida Paulista, o então presidente Jair Bolsonaro exorta a desobediência à Justiça e dispara contra o ministro do STF Alexandre de Moraes: “Só saio [da Presidência] preso, morto ou com vitória” – e “quero dizer aos canalhas que eu nunca serei preso”. Inelegível, em prisão domiciliar, atado a uma tornozeleira eletrônica e prestes a ser condenado por tentativa de golpe, o ex que se divertia com coro dos fiéis – “Imbrochável! Imbrochável!” -, aposta agora em uma anistia abjeta, rejeitada pela maioria do país. E, como biruta ao vento, coloca fichas em alternativas excludentes, até um tanto bizarras. Continue lendo “A Pátria rejeita anistia”
Autorização para conspirar
A semana que começa com a contagem regressiva para o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e outros sete réus por tentativa de golpe foi precedida por mais um movimento patético do filho zero três do capitão, auto exilado nos Estados Unidos, de onde conspira contra o Brasil. Remeteu um ofício à Câmara dos Deputados no qual reivindica exercer remotamente o mandato, “denunciando” que o país vive “sob regime de exceção”. Uma peça composta sob medida para engordar os argumentos dos advogados do ex em tribunais internacionais. Continue lendo “Autorização para conspirar”
Entre a intenção e o gesto
Em um país binário, onde os extremos políticos constroem a bel prazer as verdades, é difícil crer que 66% dos eleitores entrevistados pela Genial/Quaest neguem ser lulistas ou bolsonaristas. Muito menos que 84% defendam que governo e oposição se unam contra o tarifaço de Donald Trump, conforme apurou a Atlas/Bloomberg, Os dados até animam centristas, mas eles tendem a não se confirmar quando o papo é eleições. Na hora do voto, não sobra espaço para as candidaturas moderadas. Continue lendo “Entre a intenção e o gesto”
O delírio do conspirador
O Brasil é uma ditadura comandada pelo supremo juiz Alexandre de Moraes, Jair Bolsonaro é vítima de perseguição política e Donald Trump é um estadista. Sandices desse porte dominam as falas do bolsonarismo e tendem a se tornar ainda mais delirantes com a proximidade do julgamento do ex por tentativa de golpe, marcado para ter início no dia 2 de setembro. Até lá, o filho Eduardo, deputado federal que abandonou o mandato para conspirar contra o Brasil nos Estados Unidos, continuará embalado no desatino de que pressões podem fazer o Judiciário recuar no processo contra o seu papai. Parece não ver que cada tiro que dá fura mais os seus pés. Continue lendo “O delírio do conspirador”
“Pensamento digitalizado”
Não é banal que alguém assuma, em juízo, a autoria de um crime. Muito menos planos para “neutralizar” os vencedores da eleição de 2022 e o magistrado tido como algoz do bolsonarismo. Interrogado na quinta-feira, o general da reserva Mário Fernandes admitiu que escreveu o plano para matar o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, o vice Geraldo Alckmin e o ministro da Suprema Corte Alexandre Moraes, intitulado “Punhal Verde Amarelo”. Era “pensamento digitalizado”, minimizou, cravando mais uma pérola nos fartos anais do cinismo nacional. No mínimo, considerou a Justiça tola. Continue lendo ““Pensamento digitalizado””
Em nome do pai
Seja pelo mérito ou pelo momento da ação, as medidas cautelares impostas na sexta-feira ao réu Jair Bolsonaro deram um nó nos defensores e apoiadores do presidente Lula e do ex. As reações de um lado e de outro foram de idas e vindas. Ainda que as redes sociais tenham sido tomadas por memes criativos (e divertidos), políticos governistas que de início aplaudiram, recuaram. E aliados bolsonaristas, à exceção dos mais radicais, optaram por ditos protocolares, cientes do custo que as sanções de Donald Trump ao Brasil impôs a eles. Continue lendo “Em nome do pai”
O caos como método
O Brasil não tem qualquer importância para Donald Trump. Tampouco o ex Jair Bolsonaro. Mas ambos, Brasil e Bolsonaro, servem bem ao diversionismo do monstro laranja, cuja tática tem se repetido: dirige as atenções para onde quer espalhando estrume pelo ventilador; provoca corre-corre e medo; adia, avança e volta atrás em suas ameaças. Usa o caos para esconder seus erros, sua incompetência, sua péssima gestão. Continue lendo “O caos como método”
Congresso só quer gastar mais
Menos hábil e capaz do que a imagem que vendia de si, Hugo Motta (Republicanos-PB), chegou a dar a pinta de se equilibrar entre afagos ao presidente Lula e os opositores do governo. Durou pouco, como bem sabiam os safos políticos do Centrão, que, após deixarem o jovem presidente da Câmara viver seus dias de glória, atrelaram-lhe o cabresto. Mas o fizeram com tanta voracidade que o tiro pode ter acertado a culatra. Continue lendo “Congresso só quer gastar mais”
Réus ao vivo
Os oito acusados do núcleo central da ação sobre tentativa de golpe de Estado, entre eles o ex-presidente Jair Bolsonaro, começam a ser interrogados no Supremo Tribunal Federal a partir das 14 horas desta segunda-feira. Ao contrário do que ocorreu nas oitivas das testemunhas, as sessões serão transmitidas ao vivo pela TV Justiça. Há controvérsias sobre a decisão: por um lado, isso confere transparência ao processo, por outro, espetaculariza o julgamento, com holofotes disputados por todos – juízes, advogados e réus. Continue lendo “Réus ao vivo”
Falsos arautos
Os conceitos de democracia e liberdade têm sido sistematicamente abusados à direita e à esquerda, ambos os campos metidos a donos de todas as virtudes. Os dois lados são ostensivos pregadores da liberdade, mas desqualificam qualquer um que a use para criticá-los. Nada é tão simbólico disso quanto o recente episódio envolvendo o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro, filho zero três do ex, em missão anti-Brasil nos Estados Unidos de Donald Trump. Continue lendo “Falsos arautos”
O que está ruim sempre pode piorar
A maré não está para otimistas. Nem os incorrigíveis como eu, que se esforçam para crer em bonança depois da tempestade, têm conseguido escapar das tormentas destes tempos. Com um agravante: o que está ruim sempre pode piorar. Lá fora e por aqui. Não bastassem as intempéries externas – o insano extermínio de palestinos, a guerra de Putin na Ucrânia ou os desmandos do monstro laranja -, temos sido inundados por desvarios do Congresso, que, somados a derrapadas do Supremo e à incompetência governamental, acabam por afogar possibilidades de dias melhores. Provas disso são a aprovação do “PL da devastação” e a proposta disfuncional de unificação das eleições em curso no Senado. Continue lendo “O que está ruim sempre pode piorar”