O dono da luz

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Já uma vez aqui con­tei que Orson Wel­les, con­vi­dado para rea­li­za­dor, des­co­nhe­cia a gra­má­tica cine­ma­to­grá­fica e não teve ver­go­nha de ir falar com os velhos cine­as­tas. E disse que Wel­les foi ter com o melhor direc­tor de foto­gra­fia de Hollywood, uma com­pe­tên­cia téc­nica e artís­tica que, fosse ele marujo, sal­va­ria o Tita­nic. Disse e menti. Continue lendo “O dono da luz”

É Robert Altman e são cinco da manhã

MASH, o filme que me faz aqui falar de Alt­man, é de 1970. E foi nesse ano que eu o vi em Luanda, no cinema São Paulo, ape­sar do IMDB o dar como estre­ado em Por­tu­gal ape­nas em Setem­bro de 74. Que se lixe, em Angola estreou antes. Estreou logo. E eu vi-o, com o puto Toni­nho, que rece­bia bilhe­tes à borla do “Pro­vín­cia de Angola”, e os par­ti­lhava com os ami­gos — e nesse dia tocou-me a mim. Continue lendo “É Robert Altman e são cinco da manhã”

Há tipos que andam na rua e não são eles

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Bogart inven­tou uma per­so­na­gem para si mesmo. A per­so­na­gem com que se ves­tia era um tipo arro­gante, muni­ci­ado de res­pos­tas inso­len­tes. Mesmo nos dias civis, em que não tinha de arras­tar os pés para o estú­dio, Bogart saía à rua den­tro dessa pele. Continue lendo “Há tipos que andam na rua e não são eles”

Quatro colunas de mármore

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É bem pos­sí­vel que no cora­ção de toda a besta se esconda um lírio. Não sei. Mas sei que, ainda a guerra não esta­lara, Hitler con­vi­dou Raoul Walsh a visi­tar Ber­lim. Walsh, irlan­dês, cató­lico, rijo a fil­mar homens, estava em Lon­dres, a con­vite de W. R. Hearst, patrão dos jor­nais e inves­ti­dor no cinema ame­ri­cano. Meteu-se no avião e ala. Continue lendo “Quatro colunas de mármore”

Nossa Senhora salvou o Citizen Kane

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Dei­xem lá agora Orson Wel­les e pres­tem aten­ção a Joe Breen. Filho de cato­li­cís­si­mos irlan­de­ses, edu­cado numa boa escola cató­lica de Fila­dél­fia, che­gou a ser um inó­cuo repór­ter, fun­ci­o­ná­rio público até. Mas não foi isso, nem ter-se casado com a namo­ra­di­nha da escola, a quem fez seis lin­dos filhos, que o fez pas­sar à his­tó­ria. Continue lendo “Nossa Senhora salvou o Citizen Kane”

Um rugido de fim de império

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Há um filme sobre o rugido dos anos 20. James Cag­ney e Humph­rey Bogart vivem-no no Roa­ring Twen­ties, de Raoul Walsh. O rugido, pri­meiro rugido impe­rial da Amé­rica, que aca­bara de ganhar essa Grande Guerra que agora faz cem anos, traz a Lei Seca e con­tra­bando, jazz, coris­tas e avi­dez, a pro­li­fe­ra­ção do auto­mó­vel e da urbana morte a tiro. Continue lendo “Um rugido de fim de império”

Deitada na cama, um telefone ao lado

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Conhecia-a por­que o João Bénard a conhe­cia. O João, meu direc­tor, falava dela e, sem a ver­mos, já a vía­mos. Deliciava-nos com as excen­tri­ci­da­des dela, assustava-nos com as fúrias dela. Eram os anos 80, estava eu na Cine­ma­teca Por­tu­guesa, que era como se fosse irmã gémea da Cine­ma­teca Francesa. Continue lendo “Deitada na cama, um telefone ao lado”