Se hoje fosse sábado

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Já tinha visto Os 4 Cava­lei­ros do Apo­ca­lipse, estra­nho filme de Vin­cente Min­nelli. Sabia da guerra no mato de Angola, mas fome, peste e morte? Os meus 17 anos só tinham olhos para o gira-discos novo, com­prado com o pri­meiro salá­rio colo­nial. Cur­tia Black Sab­bath numa varanda semi fechada. Continue lendo “Se hoje fosse sábado”

Lolita e Hitchcock

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Olha­mos para o colo gordo de Hit­ch­cock e é ten­ta­dor pen­sar que ele podia ter sen­tado uma ou outra Lolita nesse rega­lado con­forto. É ver­dade, dava-se com Nabo­kov, pai de todas as Loli­tas. Telefonavam-se e carteavam-se. Que se saiba, Nabo­kov nunca lhe pediu que adap­tasse a sua Lolita ao cinema. Continue lendo “Lolita e Hitchcock”

No quarto de Marguerite

As vede­tas. Por mais que quei­ra­mos ser-lhes indi­fe­ren­tes, desprezá-las até com aquele ligeiro véu de nojo do “já estou muito acima disso”, se tro­pe­ça­mos numa, é logo um desas­sos­sego. Desa­ta­mos a cor­rer para o “fei­ce­bu­que” e para o ins­ta­gram, que é um mimo. Continue lendo “No quarto de Marguerite”

O estrangeiro

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Gosto do estran­gei­ro, do homem e da mulher sós, sem nin­guém que lhes fale a lín­gua. Gosto do fran­cês de Alje­zur, da impla­cá­vel alemã, patroa do recep­ci­o­nista que eu fui num hotel do Lobito, do zai­rense da Capa­rica, mais expa­tri­ado do que o Chew­bacca do Star Wars. Continue lendo “O estrangeiro”

Carta a Marlon Brando

O escri­tor Jack Kerouac tinha uma cara sufi­ci­en­te­mente boa para cinema. Bem podia ter sido o que Mont­go­mery Clift sofri­da­mente foi em From Here to Eter­nity. E, não tivesse já mor­rido, até podia ser a cara de um dos recru­tas de Stan­ley Kubrick em Full Metal Jac­ket. Tinha uma bela cara de homem, maçãs do rosto cora­das a audá­cia e dúvidas. Continue lendo “Carta a Marlon Brando”

F?

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Kafka, nome impos­sí­vel de duas con­so­an­tes e uma vogal; Kafka, len­ga­lenga infan­til a que só um insi­di­oso F evita a ridí­cula caco­fo­nia, pro­ta­go­ni­zou uma ini­ma­gi­ná­vel pai­xão. O autor de A Meta­mor­fose amou à maneira dos fil­mes a que tanto ia, como mos­tra Hanns Zis­ch­ler no docu­men­tá­rio Kafka goes to the movies. Continue lendo “F?”

Ménage à trois

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A mulher ame­ri­cana come­çara a tomar a pílula havia qua­tro anos, fal­ta­vam outros qua­tro para que Maio de 68 pusesse De Gaulle com as cal­ças a arder. Em 1964, Truf­faut fil­mava Jules e Jim, his­tó­ria de um ménage à trois, gen­til e pudico como todos os ména­ges à trois. Continue lendo “Ménage à trois”

A uma jovem leitora

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Uma jovem lei­tora per­gun­tou e eu res­pondo: o que nos empurra para a morte é a mudança, a mudança que já não pre­cisa de nós. O pas­sado, todo esse mundo mara­vi­lhoso em que vive­mos e apren­de­mos, dei­xou de inte­res­sar aos mun­dos que vie­ram a seguir a nós. Continue lendo “A uma jovem leitora”

Um mar de sangue

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Tal­vez não se lem­brem da cena. Guardei-a na mais esconsa gaveta da minha mente. Al Pacino e Ellen Bar­kin entram no apar­ta­mento dele. Ela dá-lhe um empur­rão ofe­gante. “What?”, diz ele, com a bru­tal eco­no­mia do inglês que os ame­ri­ca­nos falam. Continue lendo “Um mar de sangue”