Se se interessava por filmes quando era criança, perguntaram-lhe. Com aquela voz torta e áspera que era a dele, John Ford disse: “Not really, e agora também não, mas é uma boa maneira de ganhar a vida.” Continue lendo “Elogio de John Ford”
Por Sérgio Vaz e Amigos
Se se interessava por filmes quando era criança, perguntaram-lhe. Com aquela voz torta e áspera que era a dele, John Ford disse: “Not really, e agora também não, mas é uma boa maneira de ganhar a vida.” Continue lendo “Elogio de John Ford”
Já tinha visto Os 4 Cavaleiros do Apocalipse, estranho filme de Vincente Minnelli. Sabia da guerra no mato de Angola, mas fome, peste e morte? Os meus 17 anos só tinham olhos para o gira-discos novo, comprado com o primeiro salário colonial. Curtia Black Sabbath numa varanda semi fechada. Continue lendo “Se hoje fosse sábado”
Olhamos para o colo gordo de Hitchcock e é tentador pensar que ele podia ter sentado uma ou outra Lolita nesse regalado conforto. É verdade, dava-se com Nabokov, pai de todas as Lolitas. Telefonavam-se e carteavam-se. Que se saiba, Nabokov nunca lhe pediu que adaptasse a sua Lolita ao cinema. Continue lendo “Lolita e Hitchcock”
As vedetas. Por mais que queiramos ser-lhes indiferentes, desprezá-las até com aquele ligeiro véu de nojo do “já estou muito acima disso”, se tropeçamos numa, é logo um desassossego. Desatamos a correr para o “feicebuque” e para o instagram, que é um mimo. Continue lendo “No quarto de Marguerite”
Queria ter asas e voar, mas não é Ícaro nem o Jardel da canção do Rui Veloso quem quer. E ainda assim tive uns aviões na vida. Misturam-se com filmes. Continue lendo “Nas asas do anjo”
Gosto do estrangeiro, do homem e da mulher sós, sem ninguém que lhes fale a língua. Gosto do francês de Aljezur, da implacável alemã, patroa do recepcionista que eu fui num hotel do Lobito, do zairense da Caparica, mais expatriado do que o Chewbacca do Star Wars. Continue lendo “O estrangeiro”
O escritor Jack Kerouac tinha uma cara suficientemente boa para cinema. Bem podia ter sido o que Montgomery Clift sofridamente foi em From Here to Eternity. E, não tivesse já morrido, até podia ser a cara de um dos recrutas de Stanley Kubrick em Full Metal Jacket. Tinha uma bela cara de homem, maçãs do rosto coradas a audácia e dúvidas. Continue lendo “Carta a Marlon Brando”
Kafka, nome impossível de duas consoantes e uma vogal; Kafka, lengalenga infantil a que só um insidioso F evita a ridícula cacofonia, protagonizou uma inimaginável paixão. O autor de A Metamorfose amou à maneira dos filmes a que tanto ia, como mostra Hanns Zischler no documentário Kafka goes to the movies. Continue lendo “F?”
Volto a falar de Jules et Jim, filme em que François Truffaut se deu ao único verdadeiro luxo na vida de um homem, o de ser, ao mesmo tempo, fiel e infiel. A quem? Não interessa? Interessa e já lá vamos. Continue lendo “Turbilhão de vida”
A mulher americana começara a tomar a pílula havia quatro anos, faltavam outros quatro para que Maio de 68 pusesse De Gaulle com as calças a arder. Em 1964, Truffaut filmava Jules e Jim, história de um ménage à trois, gentil e pudico como todos os ménages à trois. Continue lendo “Ménage à trois”
Uma jovem leitora perguntou e eu respondo: o que nos empurra para a morte é a mudança, a mudança que já não precisa de nós. O passado, todo esse mundo maravilhoso em que vivemos e aprendemos, deixou de interessar aos mundos que vieram a seguir a nós. Continue lendo “A uma jovem leitora”
Um segundo de honestidade pode ser a perdição de qualquer homem. Foi com este princípio filosófico e ético que Preston Sturges escreveu e realizou The Great McGinty. Continue lendo “A perna é melhor que o braço”
Já é uma lenda. Imprima-se a lenda. Continue lendo “007 contra Steve Jobs”
Com despudor e venialidade, em crónica anterior, exibi a língua de Sarita Montiel. Uma língua, por elástica que seja, não é, dizem-me, assunto nobre. Vinha penitenciar-me e tropeço em Immanuel Kant. Continue lendo “Quem quer filmar Kant?”
Talvez não se lembrem da cena. Guardei-a na mais esconsa gaveta da minha mente. Al Pacino e Ellen Barkin entram no apartamento dele. Ela dá-lhe um empurrão ofegante. “What?”, diz ele, com a brutal economia do inglês que os americanos falam. Continue lendo “Um mar de sangue”