A corrupção venceu

Reescrever a história é algo desejado por todos os que aparecem mal na fita. E não é invenção nacional o fato de instituições de estado reforçarem a guerra para emplacar qual versão vai prevalecer na memória da maioria, especialmente em um país desmiolado. Mas nestes tempos furiosos de redes sociais e de “verdade alternativa” – terminologia inventada na era Donald Trump -, as alterações das “narrativas” endossadas por políticos de todo porte e supremos ministros são tantas e tão rápidas que daqui a pouco vai se dizer que nunca existiu corrupção no Brasil, que o mensalão e o petrolão foram invencionices, que Jair Bolsonaro jamais mentiu ou foi negacionista e que Lula é santo. Continue lendo “A corrupção venceu”

Em São Paulo, um terceiro turno

Pretende-se que a disputa pela prefeitura de São Paulo assuma a feição de um terceiro turno entre Lula e Bolsonaro. Já na largada o próprio presidente da República empenhou-se em confiná-la a uma luta do bem contra o mal, dando ares de uma “Frente Ampla” à chapa Guilherme Boulos/Marta Suplicy. É um exagero de retórica de Lula, com o objetivo de perpetuar a polarização calcificada, marca registrada da política brasileira pós 2018. Em nada a chapa lembra a aliança Lula-Alckmin da última disputa presidencial. Continue lendo “Em São Paulo, um terceiro turno”

De olho gordo na Vale

Lula e a esquerda nacional-desenvolvimentista jamais engoliram a privatização da Vale, uma das maiores mineradoras do mundo e maior empresa privada brasileira. Seu valor de mercado só é inferior ao da Petrobras. A Vale é um exemplo de privatização bem sucedida, assim como a do setor de telecomunicações e a da Embraer. Seus números são insofismáveis: em 1998, primeiro ano após sua privatização, seu lucro líquido era de apenas R$ 750 milhões. Dez anos depois, ele passou a ser superior a R$ 21 bilhões. Continue lendo “De olho gordo na Vale”

Com a pá virada

Em uma casa bagunçada, cadeiras de pernas pro ar não causam espanto, cozinha acumulando louça suja e lixo espalhado também não. Isso deve explicar os motivos pelos quais a mixórdia cotidiana do país não mais nos assombra. É fato que o emprego cresceu e a inflação cedeu, afastando, pelo menos por ora, desastres maiores na economia – e não temos mais de nos confrontar com o negacionismo e a truculência diária do ex Jair Bolsonaro. Ainda assim, quase tudo parece fora do lugar: a potência verde Brasil, com credenciais para influir no mundo, aposta fichas em combustíveis fósseis, parlamentares só pensam em dinheiro, virando a cara para quem os elegeu, o juiz da democracia usa poderes autoritários. Continue lendo “Com a pá virada”

O Brasil sai atrás

As duas palavras do momento na economia mundial são nearshoring e friendshoring. Elas ganharam visibilidade em 2023 e dizem respeito à remodelagem das cadeias produtivas, em decorrência de fatores geopolíticos, principalmente do conflito entre Estados Unidos e a China. Continue lendo “O Brasil sai atrás”

O que Lula mandar, faremos todos

Narizes tortos e desavenças internas, aplausos pela maestria da articulação. Desde que Marta Suplicy atendeu ao pedido do presidente Lula para voltar ao PT e ser candidata a vice do psolista Guilherme Boulos, seu retorno tem motivado sentimentos antagônicos entre os petistas. Independentemente do erro ou acerto da alternativa, a movimentação escancara que, mesmo detentor da Presidência da República, o PT de Lula tem dificuldades de se impor. Parece padecer da mesma síndrome que arrasou com a representatividade do antigo adversário PSDB. Repete os mesmos candidatos, frustrando o surgimento de novas lideranças. Continue lendo “O que Lula mandar, faremos todos”

Sin perder la ternura

O golpe de 8/1 não deu certo porque os golpistas perderam o tempo da história meio ano antes. Felizmente, para a democracia, não souberam fazer quando tinham a faca e o queijo na mão. Os comandos das Forças Armadas já estavam embarcados de cuia e mochila na aventura, mas assim mesmo o grande plano (urdido desde 2015 por Villas Bôas) fracassou. Continue lendo “Sin perder la ternura”

Fim da lua de mel

Camilo Santana e Izolda Cela assumiram o comando do Ministério da Educação em meio a enormes expectativas, quando chegavam ao fim os quatro anos de prioridades distorcidas pela visão ideológica do bolsonarismo. Neste período, também ocorreu uma alta rotatividade em cargos estratégicos da pasta, com políticas públicas erráticas. E vieram à tona denúncias de verbas sendo desviadas para pastores evangélicos. Continue lendo “Fim da lua de mel”

Não é a economia, estúpido!

Tem-se de barato que a economia é o eixo propulsor da aprovação de governos e, consequentemente, principal indicador da preferência eleitoral. A crença, resumida por James Carville, estrategista da campanha presidencial de Bill Clinton versus George W. Bush, na  frase de efeito “It’s the economy, stupid!”, parece ter perdido tração de 1992 para cá. Possivelmente turbinado pelas redes sociais, o ódio parece ditar mais do que o bolso nas intenções de voto. Lá fora e por aqui. Continue lendo “Não é a economia, estúpido!”

Feliz Ano Novo

 O novo ano promete. 

Tem briga já escalada para o STF, entre os prós e os contra a sem-vergonhice do marco temporal para esbulhar mais uma vez os povos originários e donos ancestrais da terra brasilis Continue lendo “Feliz Ano Novo”

O fracasso do 8 de janeiro

Em seu mais recente livro, Como Salvar a Democracia (Cia das Letras), Steve Levitsky e Daniel Ziblatt fazem uma comparação entre a reação dos Estados Unidos à invasão trumpista do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, e a do Brasil em relação à intentona bolsonarista de 8 de janeiro de 2023. Sua conclusão é surpreendente: “O Brasil rechaçou a sua mais recente ameaça à democracia, ao contrário dos Estados Unidos”. Continue lendo “O fracasso do 8 de janeiro”

Lula escolhe começar o ano na fogueira

O fim de um ano e o início de outro nos remete a balanços, listas de resoluções, virada de página, renovação de esperanças, alegria e festa. Portanto, é quase incompreensível que o governo Lula tenha optado por agir na contramão: em vez de comemorar o primeiro quarto de seu mandato, que se completa amanhã, preferiu lançar uma Medida Provisória no mínimo polêmica para aumentar a arrecadação, confrontando o Congresso Nacional. E concentrar forças para um ato de desagravo pelo 8 de janeiro para, segundo o presidente, “lembrar ao povo que houve uma tentativa de golpe, que foi debelado pela democracia deste país”. Definitivamente não parece ser a melhor maneira de começar um novo ano. Continue lendo “Lula escolhe começar o ano na fogueira”

Façanhas

Não foi nadando de braçada, mas correndo aos trancos e barrancos que o ministro da Fazenda e o presidente da República — sem esquecer (tenho que ser justo) os presidentes da Câmara e do Senado — conseguiram fazer os principais projetos econômicos do quinto governo petista cruzarem a reta de chegada ao apagar das luzes de 2023. Continue lendo “Façanhas”

A melhor notícia do ano

O tráfego intenso no Congresso Nacional em torno das pautas econômicas desviou a atenção de um dos maiores êxitos do país neste ano: o crescimento expressivo da cobertura vacinal infantil. Os índices de imunização ainda não voltaram ao patamar ideal, mas são uma reação contundente ao negacionismo bolsonarista, que estimulou, não raro com mentiras escabrosas, os movimentos antivacinas. Continue lendo “A melhor notícia do ano”