Tarcísio encarna Bolsonaro

O governador de São Paulo Tarcisio de Freitas mudou de estilo e de tom. Em uma só semana, casou três movimentos na mesma direção: vazou sua pretensão – algo que ele nega – de trocar seu atual partido, o Republicanos, pelo PL do padrinho Jair Bolsonaro; enviou para a Assembleia Legislativa um projeto de criação de escolas cívico-militares, tema caro ao público do ex, e abandonou a persona moderada que lhe assegurou trânsito no eleitorado avesso às paixões extremas. Continue lendo “Tarcísio encarna Bolsonaro”

O avesso da pele e a distopia cabocla

Vencedor do prêmio Jabuti de 2021, o mais importante da literatura brasileira, e traduzido em 16 idiomas, o livro O Avesso da Pele, de Jefferson Tenório, é a mais recente vítima da onda distópica que varre o mundo e se instalou no Brasil. Tudo começou quando viralizou nas redes sociais o vídeo de uma diretora de uma escola de Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul, acusando o livro de conter palavras de “baixo calão”, atentatórias à moral e aos bons costumes. Continue lendo “O avesso da pele e a distopia cabocla”

Como Poeira ao Vento

Cuba jogou a toalha. Diante da brutal escassez de alimentos, o governo cubano formalmente pediu ajuda humanitária à ONU para fazer frente ao seu programa de leite subsidiado para crianças de até sete anos. O programa, adotado nos anos 60, sempre foi uma das vitrines da Cuba de Fidel Castro e era símbolo dos avanços sociais promovidos pelo regime fidelista. Em nome de tais avanços, justificava-se o modelo de partido único, a repressão e a supressão das liberdades públicas e individuais Continue lendo “Como Poeira ao Vento”

Legado da morte

Um recorte que me chamou a atenção no velório do outro domingo na Paulista foi a referência a Israel, com direito a fala de um dos discurseiros e a bandeiras israelenses agitadas pelo gado assistente. Continue lendo “Legado da morte”

O eleitor em último lugar

O Senado deve se debruçar a partir desta semana sobre o novo Código Eleitoral, que, mais uma vez, traz à baila o fim da reeleição e a coincidência de datas das eleições federais, estaduais e municipais, além de mudanças na regulação de prestação de contas e nas inelegibilidades. A matéria, examinada pela Câmara em 2021, de repente ganhou urgência extraordinária, com o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) decidido a votá-la ainda no primeiro semestre, como se fosse de extrema relevância para o país. Esforço inútil, que não aperfeiçoa o sistema e só ratifica o quão distante os representantes estão dos eleitores. Continue lendo “O eleitor em último lugar”

A educação como refém da disputa política

Por quatro anos a educação foi palco de uma guerra cultural intensa. Prioridades distorcidas das gestões do MEC, no governo Bolsonaro, trouxeram inúmeros prejuízos ao processo de aprendizagem dos alunos. Com a posse da nova gestão no Ministério da Educação, imaginava-se que esse tempo ficaria para traz. Reconhecia-se a qualificação do novo ministro e de sua secretária executiva para focar na verdadeira agenda educacional: ensino integral, novo ensino médio, alfabetização na idade certa, e ensino profissionalizante articulado com o ensino médio. Continue lendo “A educação como refém da disputa política”

O Brasil ainda está no esgoto

É aviltante que o Brasil, nona economia do mundo, tenha 37,5% de sua população sem esgotamento sanitário adequado. São 49 milhões de brasileiros condenados ao subdesenvolvimento e suas consequências na saúde e expectativa de vida. Não faltam recursos, mas eles se perdem na ausência de políticas públicas mais abrangentes, desinteresse político e nos ralos da corrupção.  Continue lendo “O Brasil ainda está no esgoto”

Lula deve um pedido de desculpa aos judeus

Poucas vezes um presidente do Brasil foi tão infeliz e grosseiro com outro povo como Lula com a sua declaração, na qual comparou a morte de palestinos em Gaza com o Holocausto dos judeus na Segunda Guerra Mundial. Criou uma crise diplomática desnecessária – a ponto de o governo israelense considerar o presidente brasileiro persona non grata – e ofendeu a memória de seis milhões de judeus que perderam suas vidas nas câmaras de gás dos campos de concentração nazistas. Continue lendo “Lula deve um pedido de desculpa aos judeus”

O silêncio conivente de Lula

Em seu périplo pela África, o presidente Lula acertou em cheio quando anunciou que o Brasil fornecerá recursos para a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), acusada de ter funcionários atuantes na ação do Hamas contra Israel. Bingo! Continue lendo “O silêncio conivente de Lula”

Um pré-Carnaval pra lá de quente

Se é verdade que o país só começa a funcionar depois do Carnaval, a semana passada foi a exceção que comprova a regra. Brasília, em temperatura máxima, lançou fagulhas para todos os cantos. Da abertura do ano legislativo, com o presidente da Câmara Arthur Lira soltando fogo pela boca em direção ao Planalto, ao escancaramento da nefasta trama golpista do ex Jair Bolsonaro e seus militares lambe-botas. Ao mesmo tempo, foi uma semana de ouro para o presidente Lula, que tabelou com governadores de São Paulo, Rio e Minas Gerais, e domou Lira. Continue lendo “Um pré-Carnaval pra lá de quente”

USP 90 anos: a eterna missão de formar líderes

Noventa anos depois de sua fundação, em 25 de janeiro de 1934, a Universidade de São Paulo tem diante de si o mesmo desafio de quando engatinhava. Formar uma nova safra de lideranças para um Brasil em intensa transformação, em decorrência das grandes mudanças que o planeta atravessa. Essa sempre foi a sua vocação. Continue lendo “USP 90 anos: a eterna missão de formar líderes”

A corrupção venceu

Reescrever a história é algo desejado por todos os que aparecem mal na fita. E não é invenção nacional o fato de instituições de estado reforçarem a guerra para emplacar qual versão vai prevalecer na memória da maioria, especialmente em um país desmiolado. Mas nestes tempos furiosos de redes sociais e de “verdade alternativa” – terminologia inventada na era Donald Trump -, as alterações das “narrativas” endossadas por políticos de todo porte e supremos ministros são tantas e tão rápidas que daqui a pouco vai se dizer que nunca existiu corrupção no Brasil, que o mensalão e o petrolão foram invencionices, que Jair Bolsonaro jamais mentiu ou foi negacionista e que Lula é santo. Continue lendo “A corrupção venceu”

Em São Paulo, um terceiro turno

Pretende-se que a disputa pela prefeitura de São Paulo assuma a feição de um terceiro turno entre Lula e Bolsonaro. Já na largada o próprio presidente da República empenhou-se em confiná-la a uma luta do bem contra o mal, dando ares de uma “Frente Ampla” à chapa Guilherme Boulos/Marta Suplicy. É um exagero de retórica de Lula, com o objetivo de perpetuar a polarização calcificada, marca registrada da política brasileira pós 2018. Em nada a chapa lembra a aliança Lula-Alckmin da última disputa presidencial. Continue lendo “Em São Paulo, um terceiro turno”

De olho gordo na Vale

Lula e a esquerda nacional-desenvolvimentista jamais engoliram a privatização da Vale, uma das maiores mineradoras do mundo e maior empresa privada brasileira. Seu valor de mercado só é inferior ao da Petrobras. A Vale é um exemplo de privatização bem sucedida, assim como a do setor de telecomunicações e a da Embraer. Seus números são insofismáveis: em 1998, primeiro ano após sua privatização, seu lucro líquido era de apenas R$ 750 milhões. Dez anos depois, ele passou a ser superior a R$ 21 bilhões. Continue lendo “De olho gordo na Vale”

Com a pá virada

Em uma casa bagunçada, cadeiras de pernas pro ar não causam espanto, cozinha acumulando louça suja e lixo espalhado também não. Isso deve explicar os motivos pelos quais a mixórdia cotidiana do país não mais nos assombra. É fato que o emprego cresceu e a inflação cedeu, afastando, pelo menos por ora, desastres maiores na economia – e não temos mais de nos confrontar com o negacionismo e a truculência diária do ex Jair Bolsonaro. Ainda assim, quase tudo parece fora do lugar: a potência verde Brasil, com credenciais para influir no mundo, aposta fichas em combustíveis fósseis, parlamentares só pensam em dinheiro, virando a cara para quem os elegeu, o juiz da democracia usa poderes autoritários. Continue lendo “Com a pá virada”