Quando esteve há pouco (este texto é de 1987) na pequena e bela cidade mineira de Tiradentes, gravando para o Fantástico o videoclip de sua nova música “O Velho Francisco”, Chico Buarque de Hollanda foi abordado por um velho senhor que fez questão de apertar sua mão e de anunciar, orgulhoso: “Eu sou comunista”. Continue lendo “O jovem Francisco”
Raios laser na selva
A imensa maioria segue um ritmo de produção industrial, linha de montagem, de um LP por ano, ou até mais que isso. Gasta-se, assim, muito vinil para encher as lojas de produtos mal-acabados, francamente dispensáveis ou apenas medíocres. Raríssima exceção a uma regra quase geral, Paul Simon lapida suas obras com o cuidado e a competência de um mestre exigentíssimo. Continue lendo “Raios laser na selva”
A obra extraordinária de Dorival Caymmi
Dorival Caymmi está-se preparando para lançar músicas novas: “estão no forno” – segundo sua própria expressão – três valsas.
Esta notícia foi dada em 1969.
Em 1972, perguntaram a Dorival Caymmi por aquelas valsas. Ele respondeu “Tenho idéia de juntar as três valsas, mas ainda não encontrei as letras que quero. São três andamentos em que eu quero colocar uma letra, um assunto só para três estados de espírito de uma pessoa, três tempos de uma valsa. Esse é meu assunto, mas ainda não consegui.” Continue lendo “A obra extraordinária de Dorival Caymmi”
Pablo Milanés, indispensável
Pablo Milanés foi ver Coração Brasileiro, o show de Elba Ramalho, no Canecão do Rio. Gostou muito: “É belíssimo. Tem muita coisa cubana nos arranjos”. Continue lendo “Pablo Milanés, indispensável”
Renato Teixeira conclui: sua música não é triste
Renato Teixeira ouviu seu novo disco e chegou à conclusão de que sua música, afinal, não é triste.
É um rótulo que muitas pessoas usam, quando se referem à música de Renato Teixeira: triste. Ou fossenta, ou pra baixo. Continue lendo “Renato Teixeira conclui: sua música não é triste”
Joplin e Satie, num disco original
No lado A, duas peças de Erik Satie – Satie, o compositor erudito, que exerceu influência sobre Debussy, Ravel e Stravinsky, um músico sofisticado, amigo de Jean Cocteau e Pablo Picasso, autor de uma obra que surgiu em meio às experiências impressionistas e cubistas na refinada França do início do século. Continue lendo “Joplin e Satie, num disco original”
A agradável surpresa que veio de Angola
Numa de suas viagens a Angola, uns quatro anos atrás, quando estava numa cidade que os colonizadores portugueses chamavam de Nova Lisboa, e hoje se chama Uambo, o compositor Martinho da Vila foi procurado por um jovem músico angolano, “um menino ainda”, como ele diz hoje. Ficaram amigos. Continue lendo “A agradável surpresa que veio de Angola”
O belo som do Paranga, com cheiro de interior
O show deveria ficar duas semanas no Lira Paulistana. O teatro lotado em todas as apresentações, no entanto, fez o grupo Paranga permanecer também a semana passada, e mais esta, a quarta semana consecutiva, até o domingo, dia 3 (de julho de 1983), sempre às nove da noite, com o espetáculo de lançamento do seu primeiro LP, Chora viola, canta coração. Continue lendo “O belo som do Paranga, com cheiro de interior”
Dylan Volume 2 – O press-release do disco Infidels
Infidels – infiéis, pagãos; o gentio, os que não acreditam. O título do novo (em 1983) LP de Bob Dylan, o seu 25º álbum oficial (não contando as coletâneas, as participações especiais, nem os quase cem discos piratas feitos à revelia do artista e da gravadora), sugere que o compositor, depois de ter sido o porta-voz de uma geração que contestava os valores do sistema, Continue lendo “Dylan Volume 2 – O press-release do disco Infidels”
Raul, com a força instintiva e rebelde do jovem Elvis
Raul Seixas pede aos iluminadores que dirijam as luzes para a platéia, que grita seu nome compassadamente. Observa a multidão, e diz: “Que beleza. E todo o mundo aqui é rocker? Long live rock’n’roll”. Em seguida, didaticamente, explica: “Praticamente o rock’n’roll começou em 41 com um cara chamado Arthur ‘Big Boy’ Crudup, que fez a cabeça de uma criança chamada Elvis Presley. Esse rapaz pela primeira vez na história transformou o blues em rock’n’roll. E a coisa era mais ou menos assim:” – e então Raul, acompanhado pelo piano de Miguel Cidras e pela guitarra de Tony Osanah, canta “So glad you’re mine”, de Arthur Crudup. Continue lendo “Raul, com a força instintiva e rebelde do jovem Elvis”
Clara Nunes, muito mais do que “uma cantora de samba”
No começo de sua carreira em disco, Clara Nunes teve de lutar para não ser cantora de boleros. Conseguiu. Mas muito mais ainda ela lutaria, depois, para não ser considerada apenas “cantora de samba”, “cantora de macumba”, “cantora-candomblé”. Morreu sem que muita gente se tenha dado conta de que ela foi muito mais que isso. Continue lendo “Clara Nunes, muito mais do que “uma cantora de samba””
Levaram 14 anos para lançar Bookends no Brasil
A indústria fonográfica brasileira é capaz de lançar hoje (o texto é de 1982) discos que acabaram de chegar às lojas de Nova York ou Londres. Muitos modismos passageiros, muitas obras sem nenhum valor ou significado tocam nas nossas FMs apenas alguns dias depois de chegarem às rádios americanas. Continue lendo “Levaram 14 anos para lançar Bookends no Brasil”
Adoniran vai continuar por aqui
Sempre foi inquieto, impaciente, avesso à repetição e à rotina. Desde os tempos de criança, primeiro em Valinhos, onde nasceu e brincou “nas ruas da infância, já que naquele tempo não tinha jardim de infância”, e depois em Jundiaí, onde o enfiaram “a muque” num grupo escolar (as expressões entre aspas são dele mesmo). Continue lendo “Adoniran vai continuar por aqui”
O belo disco de uma Nara alegre e segura
Nasci para Bailar, 16º LP solo de Nara Leão em 18 anos de carreira, é uma perfeita seqüência do excelente Romance Popular, seu disco do ano passado (1981). Já naquele disco, Nara havia perseguido (e alcançado) um clima alegre, jovial, forte, cheio de energia e vitalidade. Continue lendo “O belo disco de uma Nara alegre e segura”
O tempo em que Fagner era superstar na gravadora
Raimundo Fagner ainda não conseguiu vender mais discos do que Roberto Carlos – uma das muitas ambições do ambicioso cantor. Ainda não conseguiu chegar à marca de um milhão de cópias vendidas por disco – objetivo que ele pretendia alcançar já com o LP de 1980. Continue lendo “O tempo em que Fagner era superstar na gravadora”