Salve o papa!

A notícia é alvissareira: na sexta-feira, 23, ainda que sob pressão, o Brasil endossou resolução da OEA que critica o regime de Daniel Ortega e pede democracia na Nicarágua. O aval ao documento é uma bem-vinda virada da política externa de Lula, que há 40 dias se negou a assinar declaração semelhante da Comissão dos Direitos Humanos da ONU. Responde também ao papa Francisco depois de o pontífice apelar ao presidente brasileiro para que ele interceda pela libertação do bispo de Matagalpa, dom Rolando Álvares, condenado a 26 anos como “traidor da pátria”. Resta saber a extensão da mudança: se chegará às demais ditaduras latinas – Cuba e Venezuela – ou se a posição é pontual, para o papa ver.  Continue lendo “Salve o papa!”

O golpe nas quatro linhas

Estado de sítio decretado “dentro das quatro linhas”. Está lá escrito no documento extraído pela Polícia Federal do celular do tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro. Pelo que se sabe até agora – e ainda falta muito a ser esclarecido -, as tais quatro linhas popularizadas pelo ex para dizer que agia dentro dos limites da Constituição se aplicam melhor às suas opções golpistas. Continue lendo “O golpe nas quatro linhas”

Aqui jaz o Brasil

Os números são indecentes. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fala de um passivo de 14 mil obras inacabadas. Sem os exageros ditados pela conveniência do petista, o Tribunal de Contas da União aponta 8.603 empreendimentos abandonados, 41% das 21 mil obras públicas existentes no país. Sob qualquer ótica, o balanço indica uma realidade inconteste: o Brasil é um cemitério de obras públicas. Enterra dinheiro do pagador de impostos e perpetua a pobreza enquanto irriga votos e enche os bolsos dos privilegiados de sempre.

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Ele não é mais aquele

Ao fim de uma semana em que quase foi eletrocutado com um choque de realidade, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reinventou a roda ao pregar o princípio basilar da política: a necessidade de “conversar com quem não gosta da gente, que não votou na gente”. O dito, óbvio até para leigos, destoa na boca de alguém tão experiente, tido e havido como um craque nessa arte. Em sua defesa, pode se dizer que a frase carrega um tom de mea-culpa para um Lula errático que tem metido os pés pelas mãos e hoje não dialoga com ninguém. Continue lendo “Ele não é mais aquele”

Lula voltou?

Um descontraído churrasco no Palácio do Alvorada encerrou a semana em que a Câmara dos Deputados mostrou ao governo o quão afiadas podem ser suas garras. Ali, entre cortes de picanha – fetiche do presidente -, aliados comemoraram: o Lula voltou!, aplaudindo a decisão de ele assumir as rédeas das negociações com o Congresso. Cinco meses depois! Continue lendo “Lula voltou?”

O custo da vingança

Os desacertos de Luiz Inácio Lula da Silva – cujo cérebro tem sido irrigado por bílis – depois de quatro anos de desgoverno de Jair Bolsonaro, que agora se posta como ingênuo injustiçado, podem até servir ao interesse eleitoral de ambos. Mas Bolsonaro já foi. Cabe a Lula dar o tom e o ritmo, fazer valer o amplo apoio que conseguiu arrebanhar e que vem diminuindo aceleradamente. Antes de tudo, o presidente deveria compreender que o modo vingativo empaca seu governo, tendo como consequências a cruel eternização do subdesenvolvimento e o aprofundamento da desigualdade. Continue lendo “O custo da vingança”

Uma chance para a democracia

Eleitores das 581 cidades turcas vão às urnas neste domingo em uma das mais acirradas disputas presidenciais já vistas naquele país. Levemente à frente nas pesquisas, Kemal Kilicdaroglu, candidato que aglutinou cinco partidos oposicionistas, ameaça o atual mandatário Recep Tayyip Erdogan, no poder há 20 anos. Além de mudar a história da Turquia, sua eventual vitória pode significar uma lufada de democracia em um mundo cada vez mais dominado por líderes autocratas. Continue lendo “Uma chance para a democracia”

O Agro que não é pop

A preferência de parcela significativa do agronegócio por Jair Bolsonaro não é novidade. E não há qualquer mal nisso, desde que os alhos não se confundam com os bugalhos. Mas foi o que se viu no quiproquó do Agrishow. E com agravantes. Continue lendo “O Agro que não é pop”

Amigos da onça

É voz corrente até entre aliados que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem sido o maior opositor de seu governo. Uma injustiça. Ao indiscutível peso de suas declarações reprováveis – e não foram poucas – somam-se disputas fratricidas entre partidários, multiplicação de invasões de terra lideradas pelos companheiros do MST, rechaço do PT ao arcabouço fiscal do ministro Fernando Haddad e à reforma tributária do expert Bernard Appy, quadro de ouro do petismo. O governo hoje tem um regente que varia o tom, às vezes abruptamente, e uma orquestra em permanente e decidido desafino. Continue lendo “Amigos da onça”

A lei? Burle-se a lei

Se o Congresso Nacional resiste em mudar uma determinada lei, faça-se a alteração por decreto; se um estatuto interno desagrada, mexe-se na composição da direção ou do conselho responsável por fixá-lo e pronto. Mesmo não sendo o primeiro e único a lançar mão dessas práticas – o antecessor Jair Bolsonaro as adorava -, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem abusado do expediente, não raro com uma mãozinha do Supremo. Continue lendo “A lei? Burle-se a lei”

A marca de Lula

A desinteligência do mundo binário é mesmo desanimadora. Dito isso, pergunto: alguém consegue explicar por que diabos tantos cobram que Lula tenha uma “marca” nos 100 dias de governo? O que vem a ser uma “marca”? Quantos governos no planeta têm “marca” nessa fase? E não escapa um: os poucos que as têm são tachados de marqueteiros.  Continue lendo “A marca de Lula”

Sob o domínio do improviso

É sempre assim. Do vandalismo golpista de 8 de janeiro à mortandade de Ianomâmis, da seca aguda às enchentes que desabrigam e matam, da violência que pôs o Rio Grande do Norte de joelhos frente ao crime organizado aos brutais assassinatos dentro das escolas, todas as ações governamentais – ainda que necessárias – são improvisos. Não se trata de um problema restrito ao Lula 3, que amanhã chega aos 100 dias. Tampouco ao presidente anterior, cuja missão foi destruir. Sob qualquer batuta, o Brasil só funciona em estado de emergência.  Continue lendo “Sob o domínio do improviso”

Um país sem trégua

O Brasil é um país sem trégua. Sempre que respira um pouco arranja um jeito de abrir o gás para infestar o ambiente. O anúncio do novo arcabouço fiscal – uma ideia engenhosa e simples, embora de difícil execução – atraiu os holofotes e conseguiu aliviar o ambiente no dia em que o ex Jair Bolsonaro, com todo o peso que ele carrega, regressou ao país. Mas se o clima parecia desanuviado, o Congresso Nacional tratou de estragar. Continue lendo “Um país sem trégua”

Lula versus Lula

Luiz Inácio Lula da Silva é o opositor mais efetivo ao governo Lula 3. Antes mesmo de completar 100 dias, age como seu antecessor, que também jogava contra o seu próprio mandato. Além da língua solta, que constrange até aliados, os dois têm como prática eleger culpados para pendurar nas costas deles seus insucessos. Jair Bolsonaro dizia que o STF não o deixava governar. Lula antecipa-se em debitar a conta no Banco Central, que estaria mantendo a taxa de juros em 13,75% só para inviabilizá-lo. Mais do que inverdades, trata-se de oportunismo barato. De ambos. Continue lendo “Lula versus Lula”

A doença do populismo

Com 32.801 domicílios e cerca de 130 mil habitantes, o Sol Nascente, no Distrito Federal, é a maior favela do país, de acordo com o IBGE-2022. Desbancou a Rocinha e o Rio das Pedras, no Rio de Janeiro; está à frente de Beiru (Tancredo Neves), em Salvador, e da paulistana Heliópolis. No entorno da rica Brasília, centro do poder, existem outras 35 favelas com sub-habitações, sem água tratada e coleta de esgoto. A maioria delas resultante da irresponsabilidade de Joaquim Roriz, conhecido como “o governador que dá casa”, que, a partir dos anos 1990, distribuiu lotes a rodo para se eleger e reeleger. Continue lendo “A doença do populismo”