O bom filho

Seja devido aos últimos anos de desgoverno ou pela bem-vinda ausência de Jair Bolsonaro no pós-eleição, Luiz Inácio Lula da Silva já é presidente. Nem diplomado, nem empossado, mas presidente de fato, reconhecido no mundo e cobrado no Brasil como tal. Incensado por seus acertos, a exemplo do discurso de estadista na COP27, e execrado pelos erros, como os de contrapor controle fiscal ao combate à pobreza – discurso amenizado por ele em Portugal – ou de pegar carona de jatinho com um amigo do setor privado. Como ele próprio concluiu em terceira pessoa no discurso da vitória, Lula não pode errar. Continue lendo “O bom filho”

Vira o disco

Duas semanas depois da eleição, passa da hora de virar o disco. Tanto dos derrotados quanto dos vitoriosos. Ainda que poucos reclamem da ausência de Jair Bolsonaro, ao presidente da República não cabe sumiço total, por maior que seja sua ojeriza à labuta. E o lamento de seus fiéis, entre o surreal e o hilário, já deu. No caso de Luiz Inácio Lula da Silva, seria conveniente que o eleito e o seu eclético time tomassem tento: governo não é campanha, e transição é só o que a palavra exprime – transição. Continue lendo “Vira o disco”

Sem panos quentes

Acusados de ativismo político e excessos, o Supremo Tribunal Federal e o Tribunal Superior Eleitoral foram implacáveis para impedir arreganhos golpistas, garantir a democracia e seu ápice: a voz do voto. Uma batalha dura, não raro com inimigos anônimos escondidos nas baixarias da deep web, e que ainda não se encerrou. Aqueles que insistem na imposição da minoria depois de perder as eleições, orientando o caos e atormentando a vida do país, terão de prestar contas à Justiça, sob pena de se normalizar a rejeição ao resultado das urnas – um precedente gravíssimo. Continue lendo “Sem panos quentes”

Bolsonaro continua sendo um risco

O café meio morno servido nos palácios do Planalto e no Alvorada esfriou de vez. Primeiro presidente da República da história do país a não se reeleger, Jair Bolsonaro já vinha experimentando o dissabor do isolamento político há algum tempo, embora entre um turno e outro da eleição tenha conseguido adoçar uns e outros com armações que pareciam capazes de inverter o jogo. Deu tudo errado. Mas nos longos 60 dias que separam a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva da posse, a pouca tinta que sobra na caneta de Bolsonaro pode causar estragos. Continue lendo “Bolsonaro continua sendo um risco”

Quem tiver mais votos leva

Luiz Inácio Lula da Silva é o favorito. Ganhou o primeiro round e, de acordo com as pesquisas de intenção de voto, se manteve à frente em uma disputa surreal, na qual nada – nem as mentiras em série e as seguidas tentativas do adversário de melar o pleito – mexeu com a estabilidade dos números. Mas o embate nas urnas será duro – e o final da tarde deste domingo, tenso, aflitivo. Continue lendo “Quem tiver mais votos leva”

Simone Tebet faz a diferença

A sete dias do fim de uma disputa agressiva e desigual, na qual Jair Bolsonaro distribui dinheiro a rodo ao arrepio da lei, investe pesado no discurso religioso e nas fake news, a peleja eleitoral continua sendo liderada por Luiz Inácio Lula da Silva, vitorioso no primeiro round. Separados por uma margem estreita, ambos foram para o vale-tudo nos programas de rádio e tevê e nas redes sociais. Tentam expor músculos, exibem apoios. Sabem que a conquista do eleitor indeciso se dará nos detalhes. Continue lendo “Simone Tebet faz a diferença”

Sem nocaute

O primeiro confronto direto entre os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro foi mais civilizado do que se previa, com provocações, mas sem sangue. Ninguém ganhou – e Lula venceu. O petista não podia perder, enquanto Bolsonaro, 6 milhões de votos atrás do adversário, tinha de ir além de seu espetáculo de mentiras para vencer e convencer. Não conseguiu. Continue lendo “Sem nocaute”

Efeito zero

Desde 1989, quando o país inaugurou os dois turnos para cargos majoritários – prefeitos, governadores e presidente da República -, o roteiro da segunda etapa é semelhante. Os dois finalistas buscam apoio dos derrotados, tentam ocupar as ruas. Aumenta-se a intensidade das agressões, guerreia-se com todas as armas, incluindo denúncias vazias, dossiês falsos e todo tipo de mentiras – as tais fake news, para não destoar do anglicismo da moda. Continue lendo “Efeito zero”

Os “mais humildes”

Conquistar os pobres. Essa é a ordem no QG bolsonarista para tentar reverter os mais de seis milhões de votos de vantagem de Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro turno. Tarefa dificílima para um governo que não criou qualquer política pública para redução da pobreza, tendo apostado exclusivamente na distribuição pré-eleitoral de dinheiro para atrair os votos desse público. Uma estratégia que, pelo menos até aqui, se demonstrou pouco eficaz. Continue lendo “Os “mais humildes””

A democracia venceu

Depois de dois anos inoculando o vírus da desconfiança no sistema eleitoral, descendo a lenha nas urnas eletrônicas até para uma plateia internacional, o presidente Jair Bolsonaro se viu acariciado por elas. Colheu muito mais votos do que se esperava no primeiro turno. Continue lendo “A democracia venceu”

Simone Tebet 2026

Na noite deste domingo o Brasil vai saber se já tem ou não um novo presidente da República eleito; se a peleja termina hoje ou daqui a quatro semanas. Com Luiz Inácio Lula da Silva se mantendo em média 10 pontos à frente do presidente Jair Bolsonaro desde o início da disputa, o país assistiu a uma campanha polarizada (não raro bipolar), agressiva, recheada de mentiras, notícias falsas, xingamentos e ameaças à democracia, mas sem oscilações importantes na preferência do eleitorado. A única novidade foi a senadora Simone Tebet – vitoriosa, mesmo sem chances de disputar a final. Continue lendo “Simone Tebet 2026”

Perto do fim

O país entra hoje no último mês ou na última semana do seu pior período eleitoral desde a redemocratização, com perigos e consequências ainda imprevisíveis. Pode não acontecer nada – ou tudo de ruim. Continue lendo “Perto do fim”

O governo Bolsonaro acabou

O governo Bolsonaro acabou. Com a impossibilidade da reeleição materializada pela candidatura empacada em uma rejeição de 52%, o presidente começa a assistir ao desembarque. Nesta quinta-feira, o golpe furou o casco de vez: Ciro Nogueira (PP), o todo-poderoso ministro da Casa Civil, presidente do Progressistas (PP) e integrante da coordenação da campanha de Jair Bolsonaro, simplesmente abandonou o barco. Continue lendo “O governo Bolsonaro acabou”

Bolsonaro não trabalha

O Brasil está sem presidente da República. Nada a ver com a viagem de Jair Bolsonaro a Londres e Nova York ou com a mediocridade de seu governo, mas pelo fato de que ele, definitivamente, não trabalha. Se já demonstrava não gostar do batente, no modo reeleição ele dedica menos de 5% do tempo às tarefas presidenciais. Não se trata de denúncia ou algo que precise investigação – está lá na agenda oficial. Na última semana, seus compromissos como primeiro mandatário do país se limitaram a pouco mais de duas horas. Continue lendo “Bolsonaro não trabalha”

A política que mata

O Brasil é um país violento. Responde por 20,4% dos homicídios do planeta embora abrigue apenas 2,7% da população mundial, segundo dados do Escritório das Nações Unidas para Crimes e Drogas (Unodoc). Em números absolutos, lidera o macabro ranking de mais de 48 mil homicídios contra os 40,6 mil do segundo colocado, a Índia, com os seus 1,3 bilhão de habitantes. Continue lendo “A política que mata”