Há cartazes que valem o filme. Não sei quem ainda se lembra de Joaquin Phoenix a brilhar em Buffalo Soldiers, mas ninguém se atreve a esquecer a frase promocional, “War is hell… but peace is f*#!%!! boring“, cuja ingénua tradução seria “A guerra é o inferno… mas a paz é chata para c*#!%!!”. Continue lendo “Mato quem lhe toque”
Um irretocável desejo de Primavera
A Primavera é como a primeira luz que rompe a escuridão da sala de cinema. Enche-nos da pior das volúpias, a volúpia infantil. Continue lendo “Um irretocável desejo de Primavera”
Warren Beatty travou
Gosto do erro. Warren Beatty travou. Daqui a 20 anos, destes Oscars, lembrar-nos-emos apenas disto: Beatty travou. Ia lançado como uma velha Zundap nas ruas de Luanda da minha infância e – como é que é, mano? – travou. Continue lendo “Warren Beatty travou”
A roçar-se pelo delírio
Aí estão eles, embrulhados na mesma cama: Kennedy, o pai de todos os Kennedys, e Gloria Swanson, a maior diva dos anos 20. Kennedy despachou o marido da Swanson para um dia de pesca no alto mar e mandou Rosa, sua mulher, ter o oitavo filho em Boston, longe de Hollywood. Livres, foi uma cama diária de três anos e não lhes chegava: levaram os lençóis para o cinema. Continue lendo “A roçar-se pelo delírio”
As mãos de um católico
Sei lá se Joseph P. Kennedy gostava de cinema. Sei que nos filmes em que nós vemos sonho, ele viu ouro. Estou a falar do Kennedy pai dos Kennedys e o cinema, 1927, é o mudo dos estúdios de Hollywood dirigidos por judeus, que vendiam roupa em feiras do Relógio, da Rússia à Hungria, antes de desembarcarem na abençoada América. Continue lendo “As mãos de um católico”
O papa apóstata
Só há um papa, Anthony Quinn. O cinema não é só melhor do que a vida, o cinema antecipa a vida. Em As Sandálias do Pescador, filme da minha infância, Quinn fundia a bondade de João XXIII com o intervencionismo de João Paulo II e com o generoso desassombro de Francisco. Quinn era um bispo libertado de um gulag soviético. Chega a papa e salva a humanidade de uma guerra nuclear. Continue lendo “O papa apóstata”
Fujam para Samarra!
Por onde anda a morte? Disfarçada no capachinho de Trump, na rasteira solidez de Putin? Que morte rumina na paz de cemitério da geringonça? A morte será ainda a velha morte, a senhora de branco que, contou ele, uma noite visitou Álvaro Cunhal e logo foi embora? Ou anda por aí a nova morte, a saltitar em discursos de género, em tiroteios niilistas? Será fracturante a nova morte? Continue lendo “Fujam para Samarra!”
As duas noites de um sonhador
Foi em 1973, em Lisboa, onde vim estudar Direito, catorze anos depois de ter sido adoptado por uma África que já só existia em Hollywood e nas nossas tontas e amorosas cabeças coloniais. Continue lendo “As duas noites de um sonhador”
Ela cospe-lhe!
Eu já vi Michelle Pfeiffer lavar os dentes. Al Pacino também. Tanta intimidade requer uma confissão: lembro que tentei encavalitar-me na cadeira da primeira fila com a mesma encantada displicência com que ele se encostava à porta da casa de banho dela. Continue lendo “Ela cospe-lhe!”
Xé, minino
Ouvimos a palavra “ilha” e sacamos logo da pistola que dispara a velha pergunta: “O que levavas para uma ilha deserta?”. Como se as toneladas de areia e solidão de uma ilha, as palmeiras que o vento finta, pudessem ser humanizadas pela bagagem de livros ou filmes, um disco, o ocioso tabuleiro de xadrez do náufrago metafísico. E Trump? Levaria Melania? Feito Robinson Crusoé, sozinho e a água de coco, Trump deixaria entrar na ilha um Sexta-Feira refugiado? Continue lendo “Xé, minino”
Uma bala entre os olhos
O actor Lee van Cleef, em O Bom, o Mau e o Vilão, era senhor do seu tempo e das suas palavras. A lentidão dele enervava o público italiano e o seu silêncio exasperava-o. Nas plateias de Roma, durante a projecção, gritava-se: “Stronzo, estás à espera de quê para falares?” Continue lendo “Uma bala entre os olhos”
A impertinente falha técnica
Crónicas atrás, ignorando-lhe o carpo, metacarpo, pus na minha mão direita o tarso, metatarso, que fui cruamente arrancar ao pé do mesmo lado. Ou seja, meti os pés pelas mãos. Não admira que me tenha estatelado na calçada molhada de Lisboa. Pois bem, podia chover a cântaros ou até cães e gatos, que a actriz e ginasta Debbie Reynolds, com os tarsos, metatarsos que tinha, jamais cairia. Continue lendo “A impertinente falha técnica”
O deleite de Hitchcock
Somos todos Cary Grant. Já vamos a meio do filme e ainda não sabemos em que história estamos enfiados. Nem sequer que personagem andamos a representar. Continue lendo “O deleite de Hitchcock”
Eu vejo pessoas mortas
Como o pequeno Haley Joel Osment, em Sixth Sense, também eu vejo pessoas mortas. Os primeiros mortos entraram-me autocarro dentro, em 1974. Três mortos das noites anteriores de tiros, medo e ódio nas fronteiras raciais dos musseques de Luanda. Continue lendo “Eu vejo pessoas mortas”
Com a bênção de Hemingway
Não eram de se render. Marlene Dietrich não se rendeu a Hitler, Jean Gabin não se rendeu à pata nazi, na Paris ocupada. Juntou-os a América, que ainda não sabia se ia ou não à guerra. Ou talvez tenha sido um involuntário Hemingway a apresentá-los, num selecto clube de Nova Iorque. Continue lendo “Com a bênção de Hemingway”