– Ô Mitre, eu já escrevi 400 linhas e ainda não cheguei ao fulcro do assunto.
O autor da frase ainda não era tão conhecido naquele tempo quanto é hoje, mas já era grande, e bom de serviço: eram os anos 80, aí entre 1980 e 1984, e Celso Ming era um dos melhores, mais preparados jornalistas econômicos do país. O que, aliás, continua sendo.
O Mitre a quem se dirigia é Fernando Mitre, então redator-chefe do Jornal da Tarde, ainda na sua fase gloriosa. Como tantos bons chefes de redação antes e depois dele, Mitre queria que seu jornal conseguisse aquela proeza dificílima de falar de economia não em economês, mas em português compreensível para qualquer pessoa alfabetizada. E então incumbia Celso Ming de traduzir para os simples mortais alfabetizados as complexas questões econômicas.
Não me lembro qual era o tema daquela vez, qual era o abacaxi que Mitre queria que Celso descascasse, mas certamente era um pacote econômico daqueles cabeludos.
Mitre olhou para Celso Ming com aquela cara de Mitre – por mais sério que Mitre tente parecer, e ele sempre tenta parecer sério, a gente tem a permanente impressão de que ele está gozando o interlocutor – e falou algo do tipo:
– Ué – então jogue as 400 linhas no lixo e comece pelo fulcro do assunto.
Dezembro de 2010
Se alguém de memória boa se lembrar da frase exata, prometo corrigir o texto.
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