Jair Bolsonaro, o Capitão das Trevas, o adorador de torturadores, torturou os brasileiros nesta sexta-feira, 24/4, com cerca de 45 minutos de um dos mais patéticos, absurdos, ridículos, vexaminosos pronunciamentos da História do Brasil.
O discurso de Bolsonaro foi de deixar Dilma Rousseff parecendo um dos grandes oradores da República, ao lado de um Ruy Barbosa, um Carlos Lacerda, um Juscelino Kubitschek.
Com a verve bem-humorada que os caracteriza, os brasileiros logo botaram nas redes sociais tentativas de interpretar o que o Capitão das Trevas quis dizer.
“Pelo que entendi, o superintendente da PF estava com problema no aquecedor da piscina. Aí ele chamou o INMETRO, que decidiu trocar os taxímetros do RJ por causa da Marielle, que recebeu a ligação do porteiro, segundo a qual o Paulo Guedes daria uma facada no Bolsonaro, porque o 04 passou o rodo no condomínio”.
Agora falando sério, como dizia a canção do Chico:
Os cientistas políticos, os analistas – como Mary Zaidan, aqui perto de mim, neste momento escrevendo seu artigo de domingo para o Blog do Noblat – estão fazendo, com toda competência, a exegese do discurso.
Não é minha praia, e portanto não vou tentar entrar nela. Mas gostaria de falar de alguns detalhes da cena patética desta sexta-feira que parecia apropriadíssima para ser 13 e de agosto, o mês do desgosto.
Em 45 minutos da demonstração de que é mesmo, indubitavelmente, um idiota despreparado, o presidente da República, useiro e vezeiro em criar crises a cada semana, não citou uma única vez sequer a pandemia que é a maior catástrofe sanitária em um século, o maior cataclisma planetário desde a Segunda Guerra Mundial, e, no Brasil, só nas 24 horas que antecederam o pronunciamento, matou 357 pessoas.
A pandemia da Covid-19, que até o momento do pronunciamento já havia matado 3.670 e atingido 52.995 – e isso são os números oficiais, sabidamente inferiores aos reais – não importa nada para Bolsonaro, o adorador dos torturadores. Todas as atitudes de Sua Excelência em relação ao novo coronavírus são para negar sua importância, sua força, sua letalidade.
Como um terraplanista, como um avestruz, Bolsonaro enfia a cabeça na areia para não enxergar nada que pareça a realidade da pandemia. Não é à toa que a imprensa internacional o classifique como um dos chefes de Estado da ‘Ostrich Alliance’: os líderes que negam a ameaça do coronavírus, como disse o comunistíssimo Financial Times.
Para se contrapor a um único homem, que, seis horas antes, às 11 da manhã, havia exposto, com aquele jeito calmo dele, até mesmo elegante, alguns dos crimes cometidos pelo chefe, o presidente Jair Bolsonaro convocou todos os seus ministros e o vice-presidente para ficarem junto dele, de pé, na Sala do Palácio do Planalto em que fez seu pronunciamento.
No meio da pandemia de coronavirus, Jair Bolsonaro, o Capitão das Trevas, obrigou aquelas duas dezenas de pessoas a ficaram ali grudadinhas, juntinhas – num atentado mortal a todas as recomendações da Organização Mundial de Saúde, dos médicos, dos cientistas do mundo todo!
Inclusive, é claro, o recém nomeado ministro da Saúde, Nelson Reich, perdão, Treich, que assistiu a tudo com uma cara mezzo de zumbi, mezzo de morto mesmo, mezzo de pazzo.
Sim – houve a fantástica performance solo de Paulo Guedes, o outro dos dois que eram no início os super-ministros de Bolsonaro. Guedes era o único de máscara anti-pandemia. O único sem paletó. E estava sem sapatos, só de meias.
Nas redes sociais, após a cena, havia quase tantas menções à figura de Guedes quanto à coisa em si, o discurso, o significado dele, o significado deste dia maluco e histórico.
Sobre Paulo Guedes há uma questão seriíssima, 200 trilhões de vezes mais séria do que saber por que raios ele estava de máscara, sem paletó e sem sapatos, que é a preocupação geral de saber se ele será o próximo defenestrado por Bolsonaro, o militar terrorista e insubordinado que, psiquiatricamente doente, adora demitir ministros.
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É claro, é óbvio que estou me apegando a um fato, a uma foto, uma imagem, que tem importância, sim, claro, mas é, como diria o Demétrio Magnoli, a espuma da questão. A questão em si, disse, com toda propriedade, o Demétrio Magnoli, no Em Pauta das 20h da sexta-feira, meio que repetindo o que Mary havia dito 24 horas antes na cozinha da nossa casa de confinados, é o que a Polícia Federal sabe que Jair Bolsonaro tenta desesperadamente esconder.
Claro, a questão em si, o fulcro da questão, the heart of the matter, é esta: o que raios a PF sabe que o Capitão das Trevas precisa tanto tentar esconder a ponto de levar à demissão o ministro Sérgio Moro, que tem mais apoio popular que ele mesmo?
Afinal de contas, que raio de crime cometeram os Zeros à Esquerda – eles, que são tão fanaticamente, radicalmente à direita – que é preciso fazer tanto esforço para esconder?
Na cozinha aqui de casa, na quinta à noite, Mary dizia coisas bastante parecidas com essas que Demétrio Magnoli falou – com carradas de razão, para de novo citar verso do Chico – na noite de sexta. – “Não é rachadinha, não”, dizia ela. “Tem que ser coisa muito mais grave. Deve ser coisa relacionada com milicianos, Marielle, alguma coisa muito grande, muito grave.”
Mary Zaidan e Demétrio Magnoli têm carradas de razão. A questão é mesmo esta. E o país ficará sabendo qual é a questão – a não ser que os militares dêem um golpe de Estado e promulguem um novo AI-5 fechando o Congresso e o Supremo Tribunal Federal e botando censores nas redações de O Globo, O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo e etc etc etc.
Mas eu estou querendo falar de um aspecto da espuma. Da periferia da questão em si.
Estou querendo falar apenas do discurso de Jair Bolsonaro, o Capitão das Trevas, o adorador de torturadores.
O discurso de Jair Bolsonaro para tentar desmentir o ex-ministro Sérgio Moro tem tudo para passar para a História como um momento memorável, importante, impactante – um dos momentos mais vergonhosos da História.
Pelo que foi dito – aquele tatibitate, aquele bolsonarês capaz de transformar o dilmês em uma oratória digna de um Cícero, um Churchill, um Kennedy. (Epa, cara, aí você exagerou, hein? É verdade, exagerei mesmo… Deve ser a cachaça…)
O discurso de Bolsonaro é um dos momentos mais vergonhosos da História pelo discurso em si, pelas palavras, pelo tatibitate, pela exibição de pobreza mental, intelectual. Por ser uma demonstração cabal de que, se houvesse psicotécnico para candidatos à Presidência, o país não teria que estar tendo que enfrentar a necessidade de iniciar um processo de impeachment.
É um dos momentos mais vergonhosos da História pela mis-en-scène, pela encenação – aquelas duas dezenas e tanto de pessoas de pé, amontoadas, juntinhas, no meio da epidemia de coronavírus.
É um dos momentos mais vergonhosos da História porque o presidente da República passou 45 minutos falando de coisas como a piscina do Palácio da Alvorada, a quantidade de garotas que seu filho 04 comeu, a feiúra da sogra e outras abobrinhas – e não se lembrou de mencionar que o país, assim como o resto do planeta, enfrenta a doença mais letal que já houve desde a gripe espanhola da segunda década do século passado.
Jair Bolsonaro, o Capitão das Trevas, o adorador de torturadores, não liga a mínima para a vida das pessoas.
Ele só quer que a Polícia Federal não chegue aos crimes que seus fedelhos de merda cometeram.
Jair Bolsonaro demonstrou à exaustão, durante torturantes mais de 45 minutos que, mais que das Trevas, é o Capitão da Morte.
24 e 25/4/2020
Um lembrete: esta série de textos e compilações não tem periodicidade fixa.
Até quando o país aguenta um Jim Jones na Presidência? (10)
59% ainda não perceberam, mas é preciso tirar Bolsonaro da Presidência (9)
Vai ficando provável que ele não consiga terminar o desgoverno em 2022 (8).
Ou o Brasil se livra de Bolsonaro, ou não tem mais Brasil (7).
Ou o Brasil se livra de Bolsonaro, ou não tem mais Brasil. (6)
Ou a democracia pára Bolsonaro, ou Bolsonaro pára a democracia (5)
Palmas para Sergio Vaz!!!!!!!
Perfeito, Servaz. Quanto a patota reunida para a patacoada, ele poderia ter dispensado pelo menos o da Saúde, que seguramente tinha mais o que fazer. Impeachment já!