Em cadeia nacional de rádio e televisão, Jair Bolsonaro encaminhou à Câmara dos Deputados o pedido de seu próprio impeachment. Levou 4 minutos para ler o texto.
Como, bem ao contrário de Bolsonaro, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, é um político responsável, maduro, vai fazer com o pedido do presidente da República o mesmo que já fez com outros três pedidos de abertura de processo de impedimento: nada.
Vai deixá-lo guardado numa gaveta, junto com os demais.
Neste momento de gravíssima crise com a pandemia do novo coronavírus, não tem sentido a Câmara tocar um processo de impeachment. Tem medidas mais urgentes para tomar.
Lá por setembro, outubro, novembro – quando o pior da pandemia já tiver passado, conforme as projeções dos especialistas –, aí então será a hora de começar o processo.
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Jair Bolsonaro escolheu para apresentar aos brasileiros a mais veemente, inequívoca, apavorante comprovação de que não tem qualquer condição de liderar o país num dia especialmente inadequado.
Exatamente nesta data histórica de 24 de março de 2020, em que insistiu em dizer com todas as letras que a Covid-19 é “uma gripezinha, um resfriadinho”, o governo do Japão e o Comitê Olímpico Internacional (COI) anunciavam que, pela primeira vez na História da humanidade, uma Olimpíada será adiada por um ano, devido à pandemia que já matou até aqui mais de 18 mil pessoas e infectou 400 mil em 175 países e territórios.
Antes do novo coronavírus, antes da “gripezinha”, os jogos que reúnem atletas de todo o planeta haviam sido cancelados três vezes. A primeira, durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). As outras duas, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Adiada, nunca jamais em tempo algum. Só agora, por causa daquilo que Jair Bolsonaro chama de “gripezinha”.
É, não teve sorte na escolha do dia em que durante 4 minutos desfiou a mais absurda série de idiotices, mistificações, mentiras, loucuras para os brasileiros em rede nacional.
No mesmo 24 de março, o governo da Índia, o segundo país mais populoso do mundo, decretava quarentena completa por 21 dias. Com 1,3 bilhão de habitantes, a Índia contabilizava nesta terça-feira história 519 casos de contaminação e 10 mortos.
No Brasil, de 200 milhões de habitantes, já eram 46 mortos e 2.201 casos confirmados, segundo os dados oficiais do próprio Ministério da Saúde do desgoverno Bolsonaro. Quase 5 vezes mais mortos que na Índia, cerca de 4 vezes mais contaminados que na Índia, país que tem mais de 6 vezes a população do Brasil.
Isso usando os dados oficiais – quando qualquer pessoa relativamente bem informada sabe que os números oficiais brasileiros são muito subestimados, porque o país fez pouquíssimos testes.
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Escrevo pouco depois de Bolsonaro ter feito seu pronunciamento, ainda sob o choque da tempestade de idiotices despejada sobre nossas cabeças. No devido tempo, vou ler atentamente as análises, as considerações que os colegas farão.
Assim de imediato, tenho muito mais perguntas que certezas.
Claro: ele quis jogar para o colo dos governadores, da política de forma ampla e genérica e da imprensa a responsabilidade pela crise econômica que virá, a recessão que será inevitável, e será em escala planetária.
É um político pequenino, menor, raquítico, liliputiano. Jamais seria capaz de unir, de conclamar para a união, de liderar, de apontar caminhos – e então é natural que insista na ruptura, na disputa, na divisão nós x eles. É natural que tente jogar a responsabilidade – irresponsável absoluto que é – sobre os outros.
Não fala para o país – sempre falou para seu pequeno público, seu feudo, as corporações que defende.
Então OK: falou para os 30% que já são dele mesmo. Mas por que riscar no chão a marca de que não quer mesmo saber dos demais 70% da população?
Tenho muitas perguntas, muita curiosidade. Quem redigiu aquele pronunciamento pavoroso? Quem ele consultou antes de gravar aquilo diante do teleprompter e da nação? Quem disse que concordava? O Rasputin da Virgínia? O Heleno que foi estafeta de Silvio Frota? Não acredito que o general Ramos tenha apoiado.
Muita curiosidade, muitas perguntas.
Mas uma certeza: #AcabouBolsonaro.
Metido a besta, metido a forte, Cavalão, Bolsonaro na verdade é um covarde.
Não teve a coragem de imitar Jânio e fingir renunciar para ver o que iria acontecer.
Em vez de apresentar carta de renúncia, apresentou o pedido de impeachment.
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Eis o texto:
“Desde quando resgatamos nossos irmãos em Wuhan, na China, em uma operação coordenada pelos Ministérios da Defesa e das Relações Exteriores, surgiu para nós um sinal amarelo. Começamos a nos preparar para enfrentar o coronavírus, pois sabíamos que mais cedo ou mais tarde ele chegaria ao Brasil. Nosso ministro da Saúde reuniu-se com quase todos os secretários de Saúde dos estados para que o planejamento estratégico de combate ao vírus fosse construído e, desde então, o doutor Henrique Mandetta vem desempenhando um excelente trabalho de esclarecimento e preparação do SUS para atendimento de possíveis vítimas. Mas, o que tínhamos que conter naquele momento era o pânico, a histeria. E, ao mesmo tempo, traçar a estratégia para salvar vidas e evitar o desemprego em massa. Assim fizemos, quase contra tudo e contra todos. Grande parte dos meios de comunicação foram na contramão. Espalharam exatamente a sensação de pavor, tendo como carro chefe o anúncio de um grande número de vítimas na Itália, um país com grande número de idosos e com um clima totalmente diferente do nosso. Um cenário perfeito, potencializado pela mídia, para que uma verdadeira histeria se espalha-se pelo nosso país. Contudo, percebe-se que, de ontem para hoje, parte da imprensa mudou seu editorial. Pedem calma e tranquilidade. Isso é muito bom. Parabéns, imprensa brasileira. É essencial que o equilíbrio e a verdade prevaleça, entre nós. O vírus chegou, está sendo enfrentado por nós e brevemente passará. Nossa vida tem que continuar. Os empregos devem ser mantidos. O sustento das famílias deve ser preservado. Devemos, sim, voltar à normalidade. Algumas poucas autoridades estaduais e municipais devem abandonar o conceito de terra arrasada, como proibição de transporte, fechamento de comércio e confinamento em massa. O que se passa no mundo tem mostrado que o grupo de risco é o das pessoas acima dos 60 anos. Então, por que fechar escolas? Raros são os casos fatais de pessoas sãs, com menos de 40 anos de idade. 90% de nós não teremos qualquer manifestação caso se contamine. Devemos, sim, é ter extrema preocupação em não transmitir o vírus para os outros, em especial aos nossos queridos pais e avós. Respeitando as orientações do Ministério da Saúde. No meu caso particular, pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado pelo vírus, não precisaria me preocupar, nada sentiria ou seria, quando muito, acometido de uma gripezinha ou resfriadinho, como bem disse aquele conhecido médico daquela conhecida televisão.
Enquanto estou falando, o mundo busca um tratamento para a doença. O FDA americano e o Hospital Albert Einsten, em São Paulo, buscam a comprovação da eficácia da cloroquina no tratamento do Covid-19. Nosso governo tem recebido notícias positivas sobre este remédio fabricado no Brasil e largamente utilizado no combate à malária, lúpus e artrite.
Acredito em Deus, que capacitará cientistas e pesquisadores do Brasil e do mundo na cura desta doença Aproveito para render as minhas homenagens a todos os profissionais de saúde. Médicos, enfermeiros, técnicos e colaboradores que, na linha de frente nos recebem nos hospitais,. Nos tratam e nos confortam. Sem pânico ou histeria, como venho falando desde o início, venceremos o vírus e nos orgulharemos de estar vivendo neste novo Brasil, que tem tudo, sim, para ser uma grande Nação. Estamos juntos, cada vez mais unidos, Deus abençoe nossa pátria querida.
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Tenho tentado registrar aqui textos importantes sobre como o descalabro total está levando o país a ter seu terceiro processo de impeachment em um período curtíssimo de 30 anos. Assim, transcrevo a nota oficial que Davi Alcolumbre (DEM-AP) e Antônio Anastasia (PSD-MG), presidente e vice-presidente do Senado Federal, distribuíram apenas 75 minutos após o final do pronunciamento de Bolsonaro.
É também um texto histórico:
“Neste momento grave, o País precisa de uma liderança séria, responsável e comprometida com a vida e a saúde da sua população. Consideramos grave a posição externada pelo presidente da República hoje, em cadeia nacional, de ataque às medidas de contenção ao covid-19. Posição que está na contramão das ações adotadas em outros países e sugeridas pela própria Organização Mundial da Saúde (OMS). Reafirmamos e insistimos: não é momento de ataque à imprensa e a outros gestores públicos. É momento de união, de serenidade e equilíbrio, de ouvir os técnicos e profissionais da área para que sejam adotadas as precauções e cautelas necessárias para o controle da situação, antes que seja tarde demais. A Nação espera do líder do Executivo, mais do que nunca, transparência, seriedade e responsabilidade. O Congresso continuará atuante e atento para colaborar no que for necessário para a superação desta crise.”
24/3/2020
Um lembrete: esta série de textos e compilações não tem periodicidade fixa.
Ou a democracia pára Bolsonaro, ou Bolsonaro pára a democracia (5)
Ou a democracia pára Bolsonaro, ou Bolsonaro pára a democracia (4)
Ou a democracia pára Bolsonaro, ou Bolsonaro pára a democracia (3)
Ou a democracia pára Bolsonaro, ou Bolsonaro pára a democracia (2)
Ou a democracia pára Bolsonaro, ou Bolsonaro pára a democracia (1)
Sem querer desfazer do 50 Anos, esse texto ficaria muito bem na página 2 do Estadão. O sujeito é mesmo um desqualificado, e vai continuar assim.
Comentário, segunda parte. Mesmo sem ter de momento uma avaliação das minudências da fala destrambelhada, você, Sérgio Vaz, deu o tom definitivo da trágicobaboseira. O sujeito não tem condições de dirigir nem um carrinho de pipoca. É muita desgraceira coronavirus e bolsopraga ao mesmo tempo.