É preciso tirar Jair Bolsonaro da Presidência da República. Já. O quanto antes. O mais rápido possível.
Muita gente boa tem argumentado que não é o momento de mexer com isso, já que o Brasil está mergulhado na pavorosa crise do novo coronavírus e, por causa dela, está se afundando numa crise econômica que será completamente sem precedentes.
Parecem argumentos razoáveis. Têm sido apresentados por vozes conhecidas pelo bom-senso, pelo apego à razão, à inteligência.
O editorial de O Estado de S. Paulo desta terça-feira, 28/4, resume com perfeição essa linha de pensamento:
“O Brasil, não nos esqueçamos, vive os efeitos devastadores da pandemia de covid-19. É nesse problema, e em nenhum outro, que o País deve concentrar toda a sua energia neste momento. Enquanto Bolsonaro cuida de seus interesses pessoais, os brasileiros têm de lidar com a escalada de mortes e de desemprego causada pelo coronavírus.
“Felizmente, há autoridades, como a maioria dos governadores de Estado, que estão conscientes de seu papel nesta hora crítica. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, a quem cabe dar seguimento a pedidos de impeachment, demonstrou exemplar espírito público ao dizer que ‘todos esses processos (impeachment e Comissões Parlamentares de Inquérito) precisam ser pensados com muito cuidado’, que ‘devemos ter paciência e equilíbrio, e não açodamento’ e, o mais importante, que o coronavírus ‘deve ser nossa prioridade’.
Oxalá o exemplo desses líderes políticos responsáveis frutifique. No momento, o único oportunista que deve ser combatido sem tréguas é o coronavírus.”
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Aí é que está.
De fato, a grande questão neste momento é o coronavírus. É preciso concentrar os esforços na luta contra o coronavírus, na luta, ao menos, para diminuir a aceleração da pandemia.
Para isso, é preciso tirar Jair Bolsonaro. Já. O quanto antes – e por dois motivos básicos. Primeiro, porque, estando lá, ele só atrapalha a luta contra a pandemia, como já bem demonstrando insistentemente, insistentemente, insistentemente, repetidamente, repetidamente, repetidamente.
Em segundo lugar, porque o Brasil precisa de alguém na Presidência da República para liderar e coordenar os esforços da máquina pública contra a pandemia.
E estamos em falta, estamos absolutamente em falta de alguém assim na Presidência da República.
Aquilo que está lá, o Capitão das Trevas e da Morte, só se preocupa com consigo mesmo, com a possibilidade de sua reeleição, com a volta ao trabalho, ao fim da quarentena – e com a defesa dos filhos zeros acossados por suspeitas graves de graves crimes.
Ele não está nem aí para a pandemia, para os mais de 5 mil brasileiros mortos, os cerca de 60 mil doentes, a dor das famílias.
– “E daí? Lamento. O que quer que eu faça? Sou Messias, mas não faço milagres”, zurrou ele, no exato dia em que chegamos a 5 mil mortos – número oficial, embora todos saibamos que há gigantesca, imensa, mastodôntica subnotificação, e o número real deva ser várias vezes maior.”
Não, não adianta dizer, como disse o governador do Maranhão, Flávio Dino, que não é preciso fazer milagre – basta que ele governe. Porque ele não sabe governar – simples assim. Disso ele não entende nada, como já provou e comprovou insistentemente ao longo destes 16 meses.
Não vai mudar agora. Não vai mudar nunca.
Como militar, foi um insubordinado, um terrorista, que queria explodir bombas para defender aumento dos soldos da corporação. Como parlamentar, foi um zero à esquerda, que de vez em quando botava a cabeça para fora do fundo do plenário, do fundo da baixaria do baixo clero, ou para defender corporações próximas à sua ou para falar alguma frase bombástica na tentativa de chamar a atenção da mídia, como aquelas defendendo os torturadores, defendendo a morte do então presidente Fernando Henrique Cardoso.
Como presidente da República, é um nada, um zero à esquerda, um criador de crises, que atrapalha o funcionamento da máquina estatal. O sujeito que derruba o ministro da Saúde no meio da mais grave crise sanitária dos últimos 100 anos porque ele fazia um trabalho competente – e o substitui por uma múmia paralítica que, nesta terça-feira, confessou, candidamente, não saber por que a pandemia está acelerando a mil hora no país.
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Não tem qualquer sentido esperar mais alguns meses para iniciar o processo de impeachment. Isso parece a princípio razoável, mas é louco, é suicida. É exatamente porque estamos mergulhados na crise sanitária e mergulhando mais e mais na crise econômica que é preciso acelerar a saída desse pustema, para que o país tenha enfim um presidente da República.
Em 17 de março morreu a primeira vítima no Brasil. Em 40 dias o total passou de 5 mil.
O país precisa de um presidente da República que ajude. O Brasil tem que se livrar de um presidente da República que só atrapalha.
É urgente. É urgente demais da conta.
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Certo: 33% dos brasileiros, segundo recentíssima pesquisa do Datafolha, ainda apóiam o governo Bolsonaro. Acham que o governo está ótimo ou bom – mesmo depois que ele se desfez da máscara do lutador contra a corrupção, ao forçar a saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça para proteger os filhotes das investigações da Polícia Federal.
Verdade.
Mas 45% dos brasileiros querem o impeachment, contra 48% que não querem. Virtual empate, dada a margem de erro.
O zero três tuitou que só há no país, hoje, manifestações populares pró-Bolsonaro – não há manifestação nas ruas contra ele.
Verdade: as pessoas inteligentes estão em casa, na quarentena. Só vão às ruas os idiotas, os imbecis. Os que se pautam pelo “primarismo do pensar, a grosseria do sentir, o extremismo da emoção, o simplismo e o fanatismo das conclusões”, na expressão do psicanalista Paulo Sternick, em artigo em O Globo desta terça, 28/4.
Não estou sozinho. Estão comigo 45% dos brasileiros. Em apenas 16 meses, já são 45% dos brasileiros. Em apenas 16 meses, já lá se foram 31 pedidos de impeachment. Só para comparar, contra aquela criatura que veio depois de Lula, e que governou o país durante intermináveis 68 meses, houve 68 pedidos de impeachment. A média atual é muito maior. O sujeito nos obriga a admitir que há alguém no mundo que consegue ser pior do que a criatura – algo que eu acreditava ser absolutamente impossível.
Não vai ser fácil. Claro. Não vai ser nada fácil. Mas temos que tirar o sujeito de lá.
A reportagem que transcrevo abaixo reforça o que digo.
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Bolsonaro justifica seu impeachment sozinho, afirma ‘Financial Times’
Célia Froufe, O Estado de S.Paulo, 28/4/2020
O jornal britânico de economia Financial Times escreveu nesta terça-feira, 28, um editorial em sua versão online sobre a autodestruição do “Trump Tropical”. De acordo com a publicação, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, está abrindo o caminho para seu próprio impeachment e ilustrou dizendo que, no romance “O Médico e o Monstro”, agora chegou a vez de o monstro governar.
O periódico salientou que desde o retorno da democracia ao País, em 1985, todos, exceto um presidente, terminaram suas carreiras de forma ignominiosa. “Dois sofreram impeachment, dois foram manchados por acusações de corrupção, um foi preso e outro desencadeou uma crise financeira. Somente Fernando Henrique Cardoso, um centrista que governou de 1995 a 2002, tem sua reputação intacta”, citou.
Para o veículo britânico, depois de demitir o ministro da Justiça Sérgio Moro na sexta-feira passada, Bolsonaro parece agora determinado a se juntar a seus antecessores no “salão presidencial de horrores” – na realidade, Moro pediu demissão, alegando que estava claro que o presidente não o queria mais no cargo. O ‘FT’ lembrou que Moro foi o segundo ministro-chave a sair em oito dias, já que Bolsonaro havia demitido o popular ministro da Saúde na semana anterior por resistir aos seus esforços de minimizar a pandemia de coronavírus.
A demissão de Moro é particularmente séria por dois motivos, segundo o jornal. Em primeiro lugar, ele era um herói dos apoiadores conservadores de Bolsonaro. Quando era um juiz conhecido pelo trabalho anticorrupção, ajudou a prender o ícone da esquerda e ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em segundo lugar, Moro alegou ter desistido em protesto contra a decisão do presidente de demitir o chefe de Polícia Federal e substituí-lo por um indivíduo mais flexível, disposto a compartilhar informações sobre as investigações atuais. “Os brasileiros suspeitam que as manobras de Bolsonaro visavam a proteger seus filhos poderosos de processos em investigações que cobriam financiamento ilegal de campanhas e vínculos com paramilitares”, afirmou o Financial Times.
Se comprovadas, as acusações explosivas de Moro podem constituir motivos de impeachment, de acordo com a publicação, que lembrou que eles desencadearam a pior crise política do Brasil desde que Dilma Rousseff sofreu impeachment, em 2016. “Apelidado de ‘Trump dos Trópicos’ por seu domínio das mídias sociais, sua capacidade de estimular apoiadores e seus ataques venenosos aos oponentes, Bolsonaro perturbou a elite do Brasil por desconsiderar a Constituição, demonstrando intolerância por gays, mulheres e negros e indiferença à queima da floresta amazônica”, citou. Mas o mundo dos negócios e os investidores o toleraram como a melhor esperança de retomar a economia após uma forte recessão e anos de má administração e corrupção da esquerda.
O editorial continua, dizendo que o ministro da Economia, Paulo Guedes, apresentou reformas econômicas ousadas e, no ano passado, aprovou a reforma da Previdência para aliviar as finanças públicas. Esse sucesso levou aos investidores um otimismo de que os “adultos da sala”, como são conhecidos os membros mais moderados do governo Bolsonaro, poderiam avançar nas reformas, apesar das perigosas travessuras do presidente – uma espécie de administração à maneira de “O Médico e o Monstro”.
“Agora, como na novela gótica de Stevenson, Hyde assumiu”, trouxe o editorial, em referência ao personagem do monstro, do escocês Robert Louis Stevenson. Qualquer sentimento positivo persistente evaporou-se em meio a uma tríplice crise: um aprofundamento da emergência de saúde pública, uma profunda recessão econômica e uma calamidade política.
Há muito tempo um jogador, Bolsonaro apostou cada vez mais alto em negar a seriedade do coronavírus. O Brasil fez tão poucos testes, conforme a publicação, que os números oficiais não são confiáveis, mas mesmo esses mostram que as infecções estão se espalhando rapidamente. O diário salientou que o pico ainda está por vir e o sistema público de saúde já está com dificuldades. “A economia dependente de commodities está muito vulnerável; o FMI prevê que o PIB encolherá 5,3% este ano, muito pior que a África subsaariana”, comparou.
Até agora, Bolsonaro se mostrou resistente. Por enquanto, seus principais apoiadores permanecem fiéis, mas ex-apoiadores das Forças Armadas estão ficando desconfortáveis com a situação. O Congresso também está começando a flexionar seus músculos. E há rumores de novas saídas de ministros. “Apaixonado por teorias da conspiração, Bolsonaro acusou repetidamente os oponentes de conspirar para derrubá-lo. A realidade é que o presidente do Brasil está justificando seu impeachment sozinho.”
28/4/2020
Um lembrete: esta série de textos e compilações não tem periodicidade fixa.
Um dos momentos mais vergonhosos da História. (11)
Até quando o país aguenta um Jim Jones na Presidência? (10)
59% ainda não perceberam, mas é preciso tirar Bolsonaro da Presidência (9)
Vai ficando provável que ele não consiga terminar o desgoverno em 2022 (8).
Ou o Brasil se livra de Bolsonaro, ou não tem mais Brasil (7).
Ou o Brasil se livra de Bolsonaro, ou não tem mais Brasil. (6)
Meu pedido de aniversário hoje: a saída desse homem terrível da presidência do Brasil! Me dê esse presente,Deus! Meu pensamento positivo para que isso aconteça é o que posso fazer .!Aguardo. Espero que me atenda o mais rápido possível!