No dia em que fez 4 anos e 1 mês, o sábado de Aleluia, Marina ouviu três vezes em seguida Paul McCartney cantar “Blackbird”. Concentrada, focada. Acho que não seria exagero se eu usasse o adjetivo mesmerizada.
Ouviu e viu. Coloquei para ela a faixa de um DVD – a apresentação de Paul McCartney em Glastonbury, que está no DVD The McCartney Years.
Já tinha deixado preparado o DVD no momento exato em que ele começava a cantar “Blackbird”, sozinho no palco, tocando violão. Quando nos sentamos para ver um pouco de DVD (ela tinha escolhido, mais uma vez, a Coleção de Curtas do Disney), falei que queria mostrar pra ela uma coisa, muito rápida, bem rápida mesmo – e apertei o play.
Ela ouviu 15 segundos e falou que aquela era a música do filme O Poderoso Chefinho.
Eu sabia que tinha tocado “Blackbird” em O Poderoso Chefinho. Minha filha tinha me contado que, na sexta, tinham ido ver o filme, e que “Blackbird” tem importância na história. Por isso é que eu tinha me preparado para apresentar para ela a canção cantada pelo autor. Mas temia um pouco a reação dela. Marina costuma ser bem firme em demonstrar suas vontades, e poderia simplesmente responder à minha sugestão com um “Eu não quero”, como volta e meia faz quando ofereço um filme que ainda não conhece.
Mas não se negou a ver o que eu queria mostrar.
Ouviu 15 segundos do DVD, falou que aquela era a música do filme que ela havia visto na véspera – e ficou em absoluto silêncio, prestando total atenção. Do mesmo jeito com que ela vê os desenhos de que gosta com a gente, ou os DVDs de música do Palavra Cantada, Barbatuques, Tiquequê. Concentração absoluta.
Tinha pedido para se sentar entre a avó e o avô no sofá, o que não é muito usual aqui em casa: em geral, fico no meu cadeirão, ela fica encostadinha no canto direito do sofá, e a avó à esquerda dela. Estava num momento de grude explícito.
No meio da primeira audição de “Blackbird”, encostou a cabecinha no ombro da avó. Os olhos estavam o mais abertos que poderiam estar – eyes wide open.
Quando a canção terminou, perguntei se queria de novo. Disse que sim de primeira, sem qualquer comentário.
Mary olhava para mim acima do rosto da pequena, com uma expressão tipo – mas que coisa é essa?
Marina ouviu a canção pela segunda vez, olhando com os olhos grandes abertíssimos.
Quando terminou, botei a pausa – e ela então falou: – “Mais uma vez, a última”.
***
Marina é de fato um ser musical. Dificilmente seria diferente, já que a música está no DNA do pai, da mãe, dos avós, mas é uma total delícia ver como é a relação dela com essa arte maravilhosa.
No meio das brincadeiras, é extremamente comum Marina cantar – ou um trecho de música conhecida, ou de “melodias” que ela vai inventado na hora.
A avó, deliciada, deslumbrada, comentou depois que quem gosta especialmente de música em geral é gente feliz.
Deo gratias.
17/4/2017
Na foto feita pela avó, a menina dança.
Vovô caminhando e cantando.