A tempestade política provocada pela enxurrada de gravações das delações de 78 ex-executivos e altos funcionários da Odebrecht parece ter mandado para terceiro ou quarto plano a notícia de que a atividade econômica avançou pelo segundo mês consecutivo em fevereiro, segundo anunciou o Banco Central na segunda-feira, 17/4.
O Estadão sequer registrou a informação em sua primeira página. Deu matéria, claro, mas sem chamada na primeira.
A poeira da crise política é mesmo espessa.
Mas o fato é que o IBC-Br, que funciona como uma espécie de prévia do PIB oficial, calculado pelo IBGE, cresceu 1,31% em fevereiro ante o mês anterior.
E não foi só isso: o Banco Central revisou o número de janeiro, que passou de negativo em 0,26% para positivo em 0,62%.
Dois meses seguidos de crescimento da atividade econômica em relação ao mês anterior. O Brasil não via isso há muito, muito, muito tempo.
E não foram só os números do Banco Central que apresentaram melhora.
Também o IBGE fez uma revisão dos números das vendas de varejo de janeiro, que tinham sido de menos 0,7% e passaram a ter um crescimento de 5,5% em relação a dezembro. Também o setor de serviços teve o índice revisto de menos 2,2% para mais 0,2%.
Nos dois casos, tanto o do índice de atividade medida pelo Banco Central quanto o das vendas do comércio varejista pelo IBGE, houve mudanças metodológicas.
Mas o que importa mais é que os números são bons.
Em seu artigo no Globo desta terça, 18/4, Míriam Leitão diz que “ainda não é a retomada do crescimento”. “A recuperação do PIB perdido nos dois últimos anos será lenta”, ela escreve.
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No mês que vem completa-se um ano que Dilma Rousseff foi afastada da Presidência da República.
Faz quase um ano que escrevo aqui, umas duas vezes por mês, que a recuperação da economia seria lenta, necessariamente lenta, obrigatoriamente lenta.
Em 9 de junho do ano passado, escrevi aqui:
“Vai melhorar. Não há dúvida, é certeza: vai melhorar. Já começam a aparecer os primeiros sinais. São ‘vários sinais de melhora nas expectativas’, escreveu Míriam Leitão no Globo na terça, dia 7.”
Em 17 de junho, escrevi:
“Desmontar as bases de uma política econômica que vinha sendo seguida ao longo de cerca de dez anos não é tarefa fácil. Há uns dez anos os governos lulo-petistas vinham direcionando a política econômica para o fundo do poço. Tiveram, com cinco anos, 4 meses e 12 dias de desatino, de alucinação sob o comando de Dilma Rousseff, absoluto sucesso: enfiaram o Brasil na sua mais grave crise econômica (para não falar das crises política e moral). (…)
“Desmontar isso, reverter o processo, alterar o curso, fazer uma curva absoluta, uma curva de U, de 180 graus, isso leva tempo. Se e quando é possível, no mínimo leva muito tempo.
“Imagine-se um transatlântico que navega na maior velocidade permitida rumo ao Sul, ao fundo do mapa – e que, de repente, tem a tripulação trocada, e a nova tripulação acha melhor que se rume para o Norte, para o alto. Não dá para fazer depressa uma curva radical em um transatlântico, em um país gigante, continental, como o Brasil, o cavalo de pau que se dá (com muito risco) em uma moto 60 cilindradas.
“Leva tempo.”
Repito essas afirmações feitas há dez meses apenas e tão somente porque elas eram óbvias, evidentes, claríssimas – e porque continuam valendo hoje.
Ao escrever agora que “a recuperação do PIB perdido nos dois últimos anos será lenta”, Míriam Leitão está apenas reafirmando o que já se sabia desde que o novo governo assumiu e passou a fazer na economia exatamente o contrário do que os governos lulo-petistas fizeram e deixaram o país no fundo do poço da maior crise econômica de sua história.
Logo depois de reafirmar isso, que a recuperação será lenta, ela escreve:
“O que começa agora a aparecer são os primeiros sinais de que o pior está passando. O IBC-Br foi o dado mais eloquente.”
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Para ajudar a lembrar desses “primeiros sinais de que o pior está passando”, transcrevo aí abaixo a reportagem do Estadão e a coluna de Míriam Leitão sobre o IBC-Br de fevereiro.
Prévia do PIB tem alta de 1,31% em fevereiro
Por Fabrício de Castro, Maria Regina Silva, Thaís Barcelos e Francisco Carlos de Assis, Estadão, 18/4.
A atividade econômica avançou pelo segundo mês consecutivo no Brasil, indicaram dados divulgados ontem pelo Banco Central. Favorecido por mudanças metodológicas no cálculo, o índice de atividade da instituição, o IBC-Br, subiu 1,31% em fevereiro ante o mês anterior, após ter registrado alta de 0,62% em janeiro. Com isso, o indicador atingiu 135,42 pontos, o maior nível desde dezembro de 2015.
Conhecido como “prévia do BC” para o Produto Interno Bruto (PIB), o IBC-Br serve como parâmetro para avaliar o ritmo da economia brasileira ao longo dos meses. O resultado de fevereiro, que ficou acima do que projetava o mercado financeiro (alta de 0,50%), foi bem recebido pelo governo. Durante evento em Brasília, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, destacou que “já há dados bastante otimistas em relação ao primeiro trimestre”.
Essa melhora da atividade medida pelo IBC-Br nos dois primeiros meses de 2017, no entanto, está em parte ligada a mudanças metodológicas feitas na semana passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em suas pesquisas para os setores de varejo e serviços. As novas metodologias contribuíram para resultados mais favoráveis nos dados do instituto e nos do IBC-Br.
“Os números estão surpreendendo. Devemos ter um primeiro trimestre muito melhor que o previsto. Muito desse desempenho tem a ver com as revisões nas pesquisas de varejo e de serviços do IBGE”, disse o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Camargo Rosa. A previsão atual da instituição é de que o PIB crescerá 0,2% de janeiro a março, mas esse número, de acordo com Rosa, tende a ser revisado para cima.
Para a economista-chefe da Rosenberg Associados, Thaís Zara, os dados do IBC-Br de fevereiro reforçam a percepção de que o País sairá da recessão técnica no primeiro trimestre do ano, com crescimento de ao menos 0,2% e possibilidade de alta em torno de 0,5%. “O dado do IBC-Br de fevereiro veio muito bom, até melhor do que a PMC (Pesquisa Mensal de Comércio) e a PMS (Pesquisa Mensal de Serviços do IBGE) tinham apontado, o que sinaliza que devemos ter um bom primeiro trimestre”, afirmou.
Mais pessimista, o economista Bruno Levy, da Tendências Consultoria Integrada, disse que o avanço da atividade em fevereiro reflete, em parte, ligeira melhora no consumo e, em maior grau, a mudança de metodologias no comércio e nos serviços. “O consumo e os serviços pararam de cair, mas continuam andando de lado. Esse aumento de 1,31% não reflete uma reversão de cenário”, defendeu.
Apesar da melhora em relação a janeiro, o IBC-Br de fevereiro apontou retração de 0,73% na comparação com o mesmo mês do ano passado. No acumulado do primeiro bimestre, a queda é de 0,12% ante os dois primeiros meses de 2016. Os números do BC apontaram ainda que, nos 12 meses encerrados em fevereiro, a atividade econômica sofreu retração de 3,56%.
No trimestre encerrado em fevereiro deste ano, ante o trimestre imediatamente anterior (setembro a novembro de 2016), o IBC-Br apontou alta de 0,76%, na série com ajustes sazonais. Por outro lado, o indicador recuou 0,88% no trimestre de dezembro a fevereiro deste ano ante o período de dezembro de 2015 a fevereiro de 2016.
Os primeiros sinais
Por Míriam Leitão, com Alvaro Gribel, O Globo, 18/4/2017.
A forte alta do IBC-Br, registrado pelo Banco Central, em fevereiro, de 1,3%, não é ainda a retomada do crescimento. O país está tentando neste começo de ano sair da recessão e está conseguindo, mas a recuperação do PIB perdido nos dois últimos anos será lenta. O que começa agora a aparecer são os primeiros sinais de que o pior está passando. O IBC-Br foi o dado mais eloquente.
O Banco Central não apenas registrou essa alta de fevereiro, em relação a janeiro, como revisou janeiro, de negativo em 0,26% para positivo em 0,62%. Uma mudança e tanto. Mais forte ainda foi a revisão que o IBGE fez com as vendas de varejo de janeiro, que saíram de 0,7% de retração para um crescimento de 5,5% em comparação com dezembro. A diferença tão grande é explicada pelo IBGE como sendo resultado de mudança metodológica. O setor de serviços também teve o índice revisto de queda de 2,2% para alta de 0,2%.
A conversa com executivos e empresários mostra sinais mistos de recuperação. O presidente da General Eletric (GE) no Brasil, Gilberto Peralta, ainda enxerga um cenário de fraqueza na economia, mas diz que o grupo cresceu 3,8% no ano passado e pode chegar a 5% este ano. O grande problema, segundo ele, é que além da crise fiscal o país enfrenta uma forte incerteza política, que afeta os investimentos.
— Estamos vendo o país andando de lado, mas a tendência mesmo é de estabilizar. A retomada está demorando porque nós temos uma crise fiscal e uma política. Isso está dificultando. Se não houver surpresas no lado político, começa a recuperar este ano — afirmou.
Peralta explica que a GE produz bens de capital e as empresas do país já seguraram demais os investimentos. Agora, as encomendas estão voltando, lentamente, até em grandes empresas, como a Petrobras. O que precisa acontecer para que a recuperação seja mais rápida é o governo conseguir destravar as grandes obras de infraestrutura.
— As concessões dos aeroportos foram boas, mas ainda é muito pouco. As possibilidades de investimento são enormes, na ordem de US$ 200 bilhões, em ferrovias, hidrovias, saneamento. A questão é que, hoje, se o grande investidor internacional tiver um projeto com 3% de retorno em Cingapura, e com 10% no Brasil, ele vai para Cingapura. Isso, por causa da insegurança política — afirmou.
Os números do Banco Central reforçaram as projeções de um primeiro trimestre positivo, e isso terá efeito sobre a confiança dos empresários e dos consumidores. Depois de oito trimestres consecutivos de queda, será um alívio ter novamente números do PIB no azul. Ontem, a bolsa teve a maior alta diária desde janeiro e o dólar fechou abaixo de R$ 3,10.
Por outro lado, o quadro político piorou sensivelmente. Uma coisa é viver a expectativa de revelações a serem feitas pela maior empreiteira do país, outra diferente é ter a informação concreta de que oito ministros do governo, inclusive o chefe da Casa Civil, serão investigados por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF). E que uma centena de políticos serão também investigados.
O governo fez reunião até durante o feriado de Páscoa para estabelecer uma estratégia que evite que a tramitação das reformas seja afetada. Como as expectativas na economia dependem do andamento das reformas, é fundamental que o governo faça esse esforço. Mas, na verdade, a reforma da Previdência já foi afetada pelo novo clima em Brasília. As concessões que estão sendo feitas vão reduzir a força das mudanças e elas são o resultado do enfraquecimento político do governo e de sua base. Quanto mais fraco estiver, mais suscetível à pressão por concessões, quanto mais vulneráveis estiverem os políticos, menos interessados estarão de votar pela aprovação de uma reforma impopular, ainda que necessária.
Nesta terça-feira, o Banco Central vai divulgar a Ata do Copom que informará sobre a intenção de manter ou acelerar ainda mais o corte da taxa Selic. Apesar desses sinais bons, como o do IBC-Br de fevereiro, a economia ainda precisa de estímulos monetários para sair da recessão e, mais importante, a inflação está tão baixa que a redução dos juros se justifica e não representa nenhum risco.
18/4/2017
Miriam Leitão pelo visto anda se pautando em Sérgio Vaz fiel defensor do golpe político por razões econômicas.
Vocô caminhando e cantando o PIG.
Estamos assistindo ao desmonte sistemático de uma potência emergente.
A indústria naval já não é mais competitiva. A Petrobras, desmantelada. As empreiteiras multinacionais desmontadas. Agora a carne.
A Siemens e a Alstom estão cheias de corruptores. Nunca passaria pela cabeça dos judiciários alemão, suíço ou francês destruir as empresas.
Meirelles, Pedro Parente, Moro, a PF são agentes internos dessa operação bem sucedida.
Temer e os bandos do ministério e do parlamento que o apoiam são circunstâncias necessárias ao bom andamento da operação, mas apenas circunstâncias locais nada insubstituíveis.
O Brasil deve ser exportador de grãos e importador de valor agregado (daí a necessidade de desmantelar a educação e qualquer forma de pesquisa).
O dinheiro da sociedade (poupando os ricos) deve ser drenado para pagar os juros da dívida e enriquecer os bancos.
Tenho dito.
ESTÁ MELHORANDO (?)
No entanto, mais do que ter saído barato para a empresa, os termos do Acordo de Leniência negociado com a Odebrecht representa um péssimo incentivo para o futuro: uma sinalização de que, no Brasil, o crime sempre compensa.
Funcionou com a Odebrecht, pode funcionar comigo também
Na nota divulgada à imprensa após a celebração dos acordos de leniência com a Odebrecht e a Braskem, um dos integrantes da Operação Lava Jato, o procurador Paulo Galvão expôs a lógica econômica de levar em conta a preservação das empresas na negociação da colaboração premiada. Diz a nota:
Os “compromissos assumidos com o MPF contribuem para inaugurar uma nova cultura de negócios no setor de infraestrutura e uma nova forma de relação entre o setor privado e o setor público, melhor protegida da atuação maléfica dos carteis e da corrupção”. “Aproveita-se o protagonismo das empresas lenientes para que sirvam como catalizadoras da renovação das práticas e aumento da competição nos mercados de atuação”, afirma Galvão. “Com o fortalecimento do mercado, empresas eficientes encontrarão melhores condições de se desenvolver e, por conseguinte, competir no mercado global”.