Marina verá 2100.
Meu Deus do céu e também da terra, e eu que sou do tempo em que 2001 era um futuro distante?
Como é que diz o samba? “O que será daqui para o ano 2000?”
Nara gravou em Samba Encabulado, o disco dela de 1983; é de Pandeirinho, letra e música.
Como será daqui para o ano 2000?
Como será o nosso querido Brasil?
Como será o morro sem os barracôes?
Como será o Rio sem as tradições?
Será que no ano 2000 as escolas de samba irão desfilar?
Será que haverá carnaval? Será?
Daqui para o ano 2000 só Deus sabe como será
E o povo do Brasil verá
Como será?
***
Arthur C. Clarke e Stanley Kubrick começaram a discutir um projeto em conjunto em 1964. 2001 – Uma Odisséia no Espaço é de 1968, o ano em que cheguei a São Paulo.
Uns 20 ou 30 anos depois, vi uma matéria numa revista mostrando quantos detalhes do futuro de 2001 tinham sumido na poeira da História: a PanAm, o telefone com imagem…
E agora chega Marina, que verá 2100.
Quem fez a afirmação, categoricamente, foi o Dâni, o amigo-irmão do Carlos, o segundo a chegar à maternidade. (O primeiro, claro, tinha sido o avô.) Disse, categoricamente: “Vocês já pensaram que Marina vai ver 2100?”
Claro. A chance é grande. A expectativa de vida é cada vez maior. Marina tem todas as chances de ser uma senhorinha de 87, serelepe, ativa, produtiva, em 2100.
Esse Dâni, tio de coração, é todo cheio de boas histórias. Contou que outro dia um amigo estava lendo a Veja, e uma das filhinhas dele chegou perto e passou o dedo numa foto. Deve ter levado um susto, uma grande decepção, tadinha, ao ver que, ao contrário do que acontece na tela dos telefones ou dos tablets, a foto não se amplia, não se mexe.
André, tio-avô, comprou um kit para dar de presente a Marina quando ela fizer 15 anos. Já havia feito isso com filhos de outros parentes – e é uma idéia danada de boa, que me deixou com inveja. Foi hoje ao jornaleiro e comprou Estadão, Folha, as revistas semanais com o papa Francisco na capa, a Playboy, a 4 Rodas, um monte de coisas. Fez um embrulho caprichado, a ficar lacrado – quando tiver 15 anos, Marina poderá saber como era o mundo no dia 15 de março de 2013.
Quando a bola quica, a gente rebate, e eu, que vivi de jornal praticamente a vida inteira, rebati: “Ela vai perguntar: jornal? O que era isso?”
***
“O que restará para sonhar no ano 2000?”
Acho que o Millôr tem um poema com este verso.
Restará algo para Marina sonhar em 2100?
Logo que Fernanda nasceu, surgiu um filme chamado Jonas Que Terá 25 Anos no Ano 2000. A partir do título do filme – que não ficou muito conhecido, feito por um realizador suíço, Alain Tanner –, meu amigo Pedro França passou a brincar que planejaríamos uma grande festa em 2000 para comemorar os nossos 50 anos e os 25 de Fernanda e das demais crianças da safra 1975.
Claro que no ano 2000 ninguém se lembrou disso.
O futuro tem uma capacidade fantástica de virar passado depressa demais.
Pedro França pode estar agora olhando para Marina. Suely e Sandra certamente estão. Devem chamado Regina para ver junto. Estarão lá todos eles rindo de nós, dos nossos temores, e sorrindo para nós, felizes com nossa felicidade.
Acho que nunca tinha visto minha filha tão feliz. Nem o Carlos tão bobo de felicidade. (Incrível como ele soube segurar Marina pra tirá-la do colo da Fê pra colocá-la, com a maior suavidade, no bercinho ao lado da cama; eu não tinha essa cancha para segurar a Fê.) E eu que achava que daquele mato não saía mais cachorro…
Saiu uma Marina pequetita, mignon, como a avó materna – e já houve quem garantisse, de pé junto, que o nariz é do Carlos, mas a boca é da Fernanda. Mary, a avó de coração, foi mais longe: disse que a boca é de Vaz. Os dedos da mão, o avô reparou, são longos – bons para teclado. Vó Mary reparou que são dedos longos como a da vó Maria Luísa.
Inês, a tia de coração, está vindo aí daqui a uns poucos dias. Vamos ver o diagnóstico insuspeito dela.
Sonhe muito, Marina; sonhe até 2100 ou mais.
15 de março de 2013
P.S.: Não coube no texto, mas é preciso fazer um registro: enquanto Fê e Marina estavam na sala pós-parto, inacessíveis, Carlos, Dâni e eu fomos ali do lado no McDonald’s da esquina de Paulista com Joaquim Eugênio de Lima. Dâni garantiu que aquele foi o segundo McDonald’s do Brasil. Deve ser verdade. Mas é absoluta verdade que Carlos e Dâni e Fê frequentaram aquele mesmíssimo McDonald’s quando eram crianças. Fê, levada aqui pelo paiê. Um dia levo Marina lá.
A VIDA É ESPERANÇA.
A ESPERANÇA É SONHO.
MARINA É ESPERANÇA ATÉ 2100.
VIVA MARINA.
MARINA NELES.
Marina.
Marina não tem tempo de pensar.
em nada.
sem tempo.
muito ocupada.
então disse
pensem por mim
preocupem-se por mim
e ficou em paz.
e deixou
perguntas
sonhos
anseios
à sua plateia
que aplaude
uma planta
saudável
feliz.
Apreensíveis,
um avô
um pai
uma mãe
apreensivos
de felicidade
mas Marina não tem tempo de pensar
anda muito ocupada
com a beleza da vida
Muito lindo o texto, Sérgio, muito mesmo!
Boa, David! Boa, Miltinho! Obrigado, Kaká!
Sérgio
Parabéns, Sérgio!
Não sei com quem a Marina se parece, mas a Fernanda é a sua cara. Saúde à mãe e à bebê, felicidades ao casal! Nada como um bebezinho na família (e bebês sempre me emocionam, é a fase que eu mais gosto. Acho que renovam as esperanças, são o milagre da vida).
Belo texto.
Abraços!
Obrigado, Jussara querida!
Um abraço!
Sérgio
Fêzinha disse uma vez que de uns tempos para cá tudo na vida do pai dela vira texto. É verdade. E ainda bem. Maravilha de texto. Claro que chorei, mas no trecho em que só se podia chorar. Claro que me enchi de alegria nos lugares de se encher de alegria. Mais claro ainda: estou feliz demais. Convencida – e olha lá que sou das bastante céticas – de que a Suely está aqui entre nós, prestando uma atenção enorme; vendo se a gente está fazendo tudo direitinho, pronta para nos ensinar. E feliz o tanto que todos nós estamos felizes.
Para Marina, com um beijo:
Cantada por um pai apaixonado que viveu há muitos e muitos anos, mas cujo sentimento é o mesmo dos pais e avôs de hoje – com uma pequena diferença: a voz inigualável…
http://youtu.be/hTdwFYxv_ro
Nancy
If I don’t see her each day, I miss her
Gee what a thrill, each time I kiss her
Believe me, I’ve got a case
On nancy, with the laughing face
She takes the winter and makes it summer
And summer could take some lessons from her
Picture a tomboy in lace
That’s nancy with the laughing face
Have you ever heard mission bells ringing
Well she’ll give you the very same glow
When she speaks you would think it was singing
Just hear her say hello
I swear to goodness, you can’t resist her
She’s mighty sweet, and wait till you see her sister
No angel could replace
Nancy, with the laughing face
http://youtu.be/hTdwFYxv_ro