Aos 48 dias de vida, Marina fez hoje sua primeira visita. Quer dizer, sua primeira visita a uma casa que não a sua. Já havia ido ao consultório do pediatra, mas isso não é bem uma visita, né?
Na verdade, hoje Marina fez algumas estréias, algumas primeiras vezes. Foi pela primeira vez a uma loja, pertinho de casa, levada de carrinho pela mãe, que precisou passar numa ótica.
E pela primeira vez saiu à noite.
A primeira visita de Marina foi à minha casa.
Fiquei feliz feito pinto no lixo. E também um tanto zonzo.
Me lembrei da frase gostosa que o Fernando Henrique gosta de usar: é muita honra para este pobre marquês.
Mas, para ser bem sincero, devo dizer que não foi uma visita apenas em honra do pobre, zonzo avô que sequer marquês chega a ser. Foi mezzo isso, mas mezzo pragmática também: a mãe de Marina precisava dar uma passada numa loja ali pertinho, para comprar presente para um chá de bebê que acontece neste sábado. (Todas as amigas da mãe de Marina tiveram e/ou estão tendo filhos. É um grande baby boom, como disse ela mesma – não Marina, mas a mãe dela.)
Senti imenso orgulho pela confiança em mim demonstrada pela mãe de Marina: deixar o tesouro a meus cuidados. É bem verdade que ela passou menos de meia hora longe de Marina, comprando o presente, e além disso eu não estava sozinho: a bisavó de coração, Dona Lúcia, estava aqui também.
Mesmo assim, não pude deixar de notar que meu peito estava um tanto estufado de orgulho.
Marina chegou dormindo. O sono dos anjos, o sono dos justos. Para minha grande surpresa, quando nos encontramos na garagem do prédio, a mãe me deu para segurar não os teréns que as mães carregam quando saem com seus bebês – mas a própria Marina. Confesso que tremi nas bases, pensei na catástrofe: e se eu deixo ela cair? (Era apenas a segunda vez que eu segurava minha neta no colo.) Mas respirei fundo e fui em frente.
Quando entramos em casa, pedi para que houvesse fotos, é óbvio.
Tinha preparado uma caminha com lençol limpo sobre a colcha da cama, dois travesseiros protetores de cada lado. (A rigor inúteis, porque ela não se mexe tanto assim.) Marina chegou dormindo, continuou dormindo no meu colo, continuou dormindo na minha cama.
Gostou da cama!
Foi uma dificuldade acordá-la para mamar.
Mas afinal acordou, mamou, ficou os 15 minutos protocolares no colo da mãe na vertical para arrotar. Aí então a mãe a colocou na caminha em cima da minha cama e saiu para menos de meia hora longe da filha – que para ela seguramente deve ter parecido várias horas.
Durante o tempo em que a mãe esteva fora, Marina ficou acordadíssima. Zoiões imensos abertos, inspecionando tudo – enquanto a bisa e o vô literalmente babavam e falavam aquele papo de vô babante.
Na sua primeira visita a uma casa dos outros, Marina mamou duas vezes (sendo que a segunda foi em dois turnos, se ela vier a gostar de política, ou em dois tempos, se ela vier a gostar de esportes), e teve a fralda trocada três vezes.
Chegou a avó, vinda do trabalho. Pegou no colo, babou. Marina estava cercada pela mãe e mais três…
Era muita excitação, muita novidade para um único dia, e então ela chorou.
Obviamente, me ofereci para ir junto com ela no banco de trás do carro da mãe na volta para casa. Sua primeira saída à noite.
Marina chorou de fazer dó, muita, imensa dó, em metade do caminho (um caminho nada longo). Desajeitadissimamente, e tentando obedecer às instruções da mãe, coloquei a chupeta perto da boca dela. Ela não é muito de pegar chupeta, mas pegou, e dormiu!
Quando entramos na sala da casa dela e o pai veio correndo ver como estavam as coisas, Marina dormia.
Minha filha, que tem umas coisas que parecem muito comigo, me pediu desculpas por ter me feito ir até a casa dela.
Mas como, pedir desculpas, se eu tive o privilégio de ser a primeira pessoa visitada por Marina, e ainda tive a oportunidade de ver que ela parava de chorar e dormia?
É aquela tal coisa. Ser visitado por Marina, e, ao botar, desajeitadissimamente, uma chupeta na boca de Marina, ver que ela parava de chorar, ah, não tem preço.
Ah, um P.S.: Pode ter sido apenas impressão, mas pensei ter ouvido Marina me confidenciar, baixinho, que ficava muito feliz por eu – ao contrário do pai dela – insistir em manter meus discos. “Vô, vou querer saber quem toca o baixo”, acho que ela me disse.
Outro P.S.: Este texto é de uma bobagem sem fim. Mas como não ficar bobo com a criatura que faz minha filha feliz como eu nunca tinha visto?
3 de maio de 2013
O texto não é uma bobagem sem fim. É um dos melhores do vovô babão.Pra mim é o fim de tantas bobagens.
Linda a Marina, linda, linda! Minha esperança para o Brasil, passa por Marinas. Maior ainda a esperança ao saber que esta Marina não vem só, com ela uma revolução, um grande baby boom da esperança, renovada e contraposta a uma geração cansada, desiludida e sofrida.
Tenho certeza que além de perguntar sobre o baixo ela revelou ao avô e ao mundo:
“E ela lhes disse. É preciso dizer-lhes tudo de novo!
E ela lhes disse bem devagarinho, para que não esqueçam nunca: – Meu nome é es-pe-ran-ça!”
Eu da minha parte, confesso-me invejoso (quero um neto ou neta, tento faz), continuo minha cruzada de esperança no melhor dos mundos: Marinas neles!
E a vida, como cantou o Gozanguinha: é bonita, é bonita, e é bonita!
EM TEMPO (melhor que PS)
Na foto, na qual Marina ampara o avô, notei a direita da cabeça, na estante,no alto, uma coleção dos “Pensadores”.
Pelo jeito o “munheca” não conseguiu fazer um escambo.
Parece que o Sérgio é avô e tem uma netinha que se chama Marina; está certo?
Se está, espero que esteja, fico muito satisfeito e envio-lhe um abração e um beijinho para a Marina.
E fiquei muito contente por ver a sua foto com a menina!
Coisa boa ler esse texto, Sérgio!
Muito carinhoso e bonito, não bobo!
E, você tem razão, eu também nunca tinha visto a Fê tão feliz. Aliás, o pai também.Os pais da Marina estão irradiando felicidade e, consequentemente, todos os que estamos em volta, não poderíamos deixar de sorrir cada vez que vemos a princesinha Marina.
Abração
Sérgio, pela foto, notamos que o único risco corrido pela Marina foi ter se ensopado com a baba do vovô…
Querido, você me emocionou mesmo, lágrimas nos olhos e tudo. Seu texto não tem nada de bobo, e tem tudo de lindo!
Sérgio, realmente é Marina é de babar. Ser Avô, avó, é a coisa mais linda e gostosa do mundo. Por que não babar se podemos?
Haydée.
Queridas Inês, Katia e Haydée, caríssimos Miltinho, José Luís e Valdir, obrigadíssimo pelas mensagens!
Inês, agora, com esta sobrinha linda, o Brasil vai te chamar ainda mais forte…
Sérgio