O silêncio seletivo de Lula

Por dois anos consecutivos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva travou uma cruzada contra o Banco Central e seu então presidente, Roberto Campos Neto. Os aumentos sucessivos da taxa Selic foram alvos de críticas contundentes por parte do chefe do Executivo, que via nas decisões do Copom um viés político, contrário aos interesses do país. Para Lula, a política monetária mantida sob Campos Neto não refletia os fundamentos da economia brasileira e estaria a serviço do governo anterior. Continue lendo “O silêncio seletivo de Lula”

Lidiane lançou seu livro

Em 2013, Lidiane, uma leitora voraz, que desde a pré-adolescência lia um livro atrás do outro, sem parar, voltou a estudar. Havia deixado a escola, como tantas, tantas, tantas brasileiras, ao ter filho ainda jovem demais, com apenas 18 anos. Quando o primogênito, Luiz, estava com uns 12 anos, e a segunda filha, Izabella, com uns 5 ou 6, foi à luta.    Continue lendo “Lidiane lançou seu livro”

Memórias que o tempo não apaga

Naquele tempo, este que vos escreve entrava na sede do Corínthians, no Parque São Jorge, caminhava até o Rio Tietê e mergulhava na “piscina”. Para ser mais preciso, no cocho. Um cercado de madeira, vazado, destinado aos banhistas, por onde passavam as águas do rio. E a Marginal Tietê? Não existia. Continue lendo “Memórias que o tempo não apaga”

Dedo na ferida

Leio que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, está tomando bordoada dos bolsonaristas do Congresso — ou seja, a maioria dos representantes do eleitorado nacional. O motivo é que ele pôs o dedo na ferida da desigualdade econômica e social do país e dos privilégios dados graciosamente pelo Parlamento ao pessoal da cobertura, em detrimento dos que vivem nos andares abaixo e da arraia-miúda que dorme nas calçadas, sem ter para onde levar a vida que lhe destinaram as elites desde o berço, ou antes dele. Continue lendo “Dedo na ferida”

Quando janeiro chegar

A base do governo esfarelou-se, virou peça de ficção. Exemplo disso foi sua humilhante derrota na Câmara dos Deputados, na noite de  segunda-feira. Sessenta por cento dos 346 votos favoráveis ao requerimento de urgência para o projeto de lei que derruba o novo decreto do IOF vieram de parlamentares da base aliada de Lula — inclusive de partidos com cargos ministeriais. Com apenas 96 votos contrários, o governo deu uma demonstração do seu real tamanho e do quanto está isolado no Parlamento. Continue lendo “Quando janeiro chegar”

O clima

Não rolou um clima, então não teve golpe. Se tivesse rolado o clima, então teríamos um golpe. Com outras palavras, é o que disseram os golpistas confessos Augusto Heleno e Jair Bolsonaro, com a cara mais limpa deste mundo, ante o olhar duro de seu interrogador, que queria saber se afinal iam dar ou não um golpe de estado após a reeleição perdida em 2022. Continue lendo “O clima”

Congresso só quer gastar mais

Menos hábil e capaz do que a imagem que vendia de si, Hugo Motta (Republicanos-PB), chegou a dar a pinta de se equilibrar entre afagos ao presidente Lula e os opositores do governo. Durou pouco, como bem sabiam os safos políticos do Centrão, que, após deixarem o jovem presidente da Câmara viver seus dias de glória, atrelaram-lhe o cabresto. Mas o fizeram com tanta voracidade que o tiro pode ter acertado a culatra. Continue lendo “Congresso só quer gastar mais”

A polarização cansou

Logo após a vitória britânica na Segunda Batalha de El Alamein, durante a Segunda Guerra Mundial, Winston Churchill pronunciou uma frase que entrou para a História: “Este não é o fim. Nem sequer o começo do fim. Mas é, talvez, o fim do começo.” A sentença do então primeiro-ministro inglês pode ser adaptada à interpretação dos dados da última pesquisa Quaest. O cansaço do eleitorado com Lula e Bolsonaro não significa, ainda, o fim da polarização que ditou a política brasileira nos últimos sete anos — mas marca o início de seu esgotamento político. Continue lendo “A polarização cansou”

Quem inventou o amor

O baiano de Salvador mas carioca de quase a vida inteira Dorival Caymmi cantou que não foi ele, nem tampouco a mulher que ele amava, que inventou o amor. Sua certeza era de que quem inventou o amor não foi ele, nem ninguém. Continue lendo “Quem inventou o amor”

Maior barraco

 

Um barraco de proporções escalafobéticas acabou com o casório da dupla Trump-Musk, sem que o casal tivesse tido um minuto de sossego para celebrar debaixo dos lençóis sua noite de núpcias.  Continue lendo “Maior barraco”

Independência ou morte

Ora, por que não ir ao Guarujá? Se estão lá o apartamento, comprado há décadas, os queridos parentes, e amigos jornalistas? Resposta: porque os anos passaram. Nos bons tempos, em certas sextas-feiras, fim de tarde, minha Haydée e sua irmã Dena chegavam com nosso carro e paravam na porta do Estadão/JT. Este narrador assumia o volante. Continue lendo “Independência ou morte”

Réus ao vivo

Os oito acusados do núcleo central da ação sobre tentativa de golpe de Estado, entre eles o ex-presidente Jair Bolsonaro, começam a ser interrogados no Supremo Tribunal Federal a partir das 14 horas desta segunda-feira. Ao contrário do que ocorreu nas oitivas das testemunhas, as sessões serão transmitidas ao vivo pela TV Justiça. Há controvérsias sobre a decisão: por um lado, isso confere transparência ao processo, por outro, espetaculariza o julgamento, com holofotes disputados por todos – juízes, advogados e réus. Continue lendo “Réus ao vivo”

Entre o ideal e o real

A eleição do prefeito do Recife, João Campos, de 31 anos, à presidência do Partido Socialista Brasileiro (PSB) marca um raro movimento de renovação no campo da esquerda brasileira. Filho do ex-governador Eduardo Campos e bisneto de Miguel Arraes, João representa uma geração que, apesar de enraizada em uma tradição política, demonstra sensibilidade às transformações estruturais da sociedade contemporânea. Sua ascensão simboliza, portanto, mais do que uma mudança etária: indica a possibilidade de uma virada de paradigma em uma esquerda marcada pelo envelhecimento de suas lideranças e, principalmente, idéias. Continue lendo “Entre o ideal e o real”